sábado, 15 de fevereiro de 2025

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Deadpool (II)

Conforme ameaçado semana passada, hoje, mais uma vez, é dia de Deadpool no átomo, dessa vez para falar dos filmes!

Acreditem ou não, a primeira tentativa de se fazer um filme de Deadpool começaria antes mesmo do lançamento do primeiro filme dos X-Men no cinema, em maio de 2000, quando a Artisan Entertainment procuraria a Marvel e negociaria contratos para a produção de vários filmes estrelados por personagens na época considerados do "segundo time" da editora, dentre eles, o Marcenário Tagarela. O projeto passaria por alguns percalços, principalmente de ordem financeira, e, quando a Artisan foi comprada pela Lions Gate, em 2003, passou para a New Line Cinema, que já produzia os filmes do Blade. Em fevereiro de 2004, a New Line anunciaria que David S. Goyer e Ryan Reynolds, ambos de Blade Trinity, que estrearia em dezembro daquele mesmo ano, seriam, respectivamente, o diretor e roteirista e o protagonista do filme, com o executivo da New Line Jeff Katz declarando que Reynolds era o único ator apropriado para o papel. Quando o anúncio foi feito, entretanto, a Fox, que havia arrematado os direitos dos X-Men no famoso leilão que a Marvel fez de seus personagens no cinema, e já havia produzido dois filmes com a equipe mutante, se opôs, alegando que, como Deadpool era um personagem do universo dos X-Men, os direitos pertenciam a ela, o que fez com que o projeto fosse engavetado.

A Fox não tinha planos imediatos de fazer um filme estrelado por Deadpool, mas, em março de 2005, Katz iria trabalhar lá, e convenceria os demais executivos a assinar um pré-contrato com Reynolds, para que ele interpretasse o personagem caso algum dia o filme fosse realizado. Isso faria com que o estúdio decidisse usar o personagem como coadjuvante em X-Men Origens: Wolverine, que estrearia em 2009. Como infelizmente é comum nesses casos, o Deadpool do filme teria muito pouco a ver com o dos quadrinhos além do nome e do fato de ser um mercenário - Deadpool, inclusive, morria no filme, mas, diante da reação negativa das plateias de teste, a Fox decidiria filmar uma cena pós-créditos na qual é revelado que ele não morreu, e inseri-la no filme pouco antes da estreia.

A reação negativa generalizada à forma como o personagem foi retratado no filme motivaria a Fox a começar a pré-produção de um filme estrelado por Deadpool, mais fiel aos quadrinhos, com Reynolds mais uma vez no papel e Lauren Shuler Donner como produtora. Rhett Reese e Paul Wernick, de Zombieland, seriam contratados em janeiro de 2010 para escrever o roteiro, e, em junho, Robert Rodriguez seria convidado para dirigir, dizendo que só aceitaria após ler a versão final do roteiro. Em outubro, mesmo com o roteiro ainda não estando finalizado, Rodriguez informaria à Fox não ter interesse em dirigir, e o estúdio pensaria no sueco Adam Berg, mas acabaria optando, em abril de 2011, por Tim Miller, que faria sua estreia na direção de um longa-metragem, após ser responsável pelos efeitos especiais dos dois primeiros filmes dos X-Men e pela direção de um comercial do game DC Universe Online e do curta-metragem de animação vencedor do Oscar Gopher Broke. Após a contratação de Miller, Reynolds assinaria contrato para também ser produtor do filme.

Todo o projeto quase seria engavetado no final de 2011, após o lançamento de Lanterna Verde, também com Reynolds, que seria um enorme fracasso de público e crítica. Desde o início, Reynolds teve muita dificuldade para convencer a Fox de que um filme do Deadpool só daria certo se fosse inapropriado para menores (classificação R, de acordo com o sistema dos Estados Unidos), e, após o insucesso de Lanterna Verde, um pânico dominaria os executivos, que imaginavam que o desempenho de um filme de super-heróis que crianças não poderiam assistir seria ainda pior. Após diversas reuniões, Miller, Reese e Wernick conseguiram convencer os executivos da Fox de que era impossível transformar o roteiro como estava até então em um filme PG-13 (próprio para maiores de 13 anos, mas menores podem assistir acompanhados dos pais), mas, ainda assim, eles pediriam para que Miller produzisse um curta-metragem em animação para mostrar que aquelas maluquices todas do roteiro funcionariam na tela grande. Miller produziria o curta, com dinheiro da Fox, em seu próprio estúdio, o Blur Studio, no início de 2012; os executivos ficariam satisfeitos com o que veriam e autorizariam a produção do filme.

Entretanto, após o grande sucesso de Os Vingadores, lançado em maio de 2012, os executivos da Fox voltariam a ter dúvidas sobre a probabilidade de sucesso de um filme solo de Deadpool, e chamariam Reese e Wernick para conversar sobre a possibilidade de, na verdade, os dois escreverem um novo filme dos X-Men, no qual Deadpool seria o astro principal, mas como parte de uma equipe formada por outros personagens já famosos. Os dois roteiristas se oporiam fortemente à ideia, e os executivos da Fox só se acalmariam e deixariam o barco rolar após James Cameron e David Fincher, ambos diretores consagrados, lerem o roteiro e garantirem que ele tinha chance de sucesso - ainda assim, eles pediriam por uma gravação prévia de algumas cenas, apenas para ver se o filme realmente funcionaria, cenas essas que seriam vazadas na internet, segundo alguns de propósito, em julho de 2014, sendo recebidas com muita empolgação e entusiasmo, o que finalmente faria com que os executivos sossegassem.

Toda essa indecisão dos executivos fariam com que o filme só entrasse efetivamente em produção em março de 2015, com Simon Kinberg se unindo a Donner e Reynolds como produtor. A essa altura, o roteiro já havia sido reescrito seis vezes, com Reese e Wernick estimando que a versão final continha cerca de 70% da versão original. Uma das mudanças mais significativas ocorreria porque, originalmente, Deadpool não seria um "filme de origem", com o mercenário já tendo todos os seus poderes e habilidades e jamais sendo explicado por que ele os têm, mas Reynolds discordaria, visto que isso passaria a impressão de que Deadpool é um mutante como os X-Men, enquanto nos quadrinhos ele era humano e ganhou suas habilidades no programa Arma X. Os roteiristas e o protagonista acabaram chegando a um acordo no qual a origem de Deadpool seria contada através de flashbacks, o que permitiria que a cena de luta de abertura fosse estendida até quase a metade do filme, sendo intercalada com os flashbacks, o que tirou outras cenas de luta e economizou dinheiro - algo que era muito necessário, já que, ainda não acreditando totalmente que o filme poderia ser bem sucedido, a Fox reservou para Deadpool um orçamento bem mais baixo do que os de seus outros filmes de super-heróis, o que forçaria o descarte de uma cena de luta inteira.

No filme, Wade Wilson é um ex-militar das forças especiais que, após ser dispensado por conduta desonrosa, decide trabalhar como mercenário, até conhecer Vanessa, ex-garota de programa que é o amor de sua vida e com quem pretende se casar. Seus planos são interrompidos quando ele descobre ter câncer em estado terminal, e, desesperado, aceita a proposta de um misterioso recrutador para participar de um programa secreto que poderá curá-lo. No programa, ele é torturado pelo cruel Ajax, que injeta em seu organismo um soro capaz de despertar genes mutantes latentes, mas que só funciona se o paciente for submetido a situações de extremo estresse. A tortura faz efeito e Wade ganha um poder de cura que reverte seu câncer e faz com que ele se torne praticamente imortal, sendo capaz até de regenerar partes do corpo perdidas, mas, como efeito colateral, deixa todo seu corpo deformado, com a aparência de gravemente queimado. Wade tenta se vingar matando Ajax, mas o vilão escapa ao dizer que tem a cura para sua deformidade, o que faz o mercenário hesitar. Sem querer encarar Vanessa, Wade finge estar morto, vai morar na periferia, dividindo um apartamento com Al Cega, e passa a caçar qualquer um que saiba do paradeiro de Ajax, para encontrá-lo e obrigá-lo a devolver sua aparência normal; enquanto isso, os X-Men Colossus e Míssil Adolescente Megassônico tentam convencê-lo a deixar para trás sua vida de mercenário e passar a usar seus poderes para fazer o bem, se tornando um X-Man.

Durante a produção, Kinberg confirmaria que Deadpool seria ambientado no mesmo universo dos filmes dos X-Men da Fox, mas funcionaria de forma independente, sem nenhuma menção aos eventos dos demais filmes. A inclusão de Colossus no roteiro seria uma exigência dos executivos da Fox, que queriam pelo menos um "X-Man tradicional" no filme; Colossus acabaria escolhido porque Reese e Wernick acharam que ele não havia sido previamente explorado nos outros filmes, o que daria a eles mais liberdade para trabalhar com o personagem. Já Míssil Adolescente Megassônico seria incluída a pedido de Miller, que estava olhando uma lista dos personagens dos quais a Fox tinha os direitos para o cinema e gostou de seu nome. Vanessa, que nos quadrinhos é a mutante Mímica, no filme não tem qualquer poder, sendo uma humana normal, o que gerou muita especulação de que ela poderia vir a também ganhar poderes num segundo filme. Em versões preliminares do roteiro, os vilões Arma X, Selvagem e Sluggo também estavam presentes, mas, na versão final, os roteiristas decidiram condensá-los em uma única personagem, Angel Dust, que, nos quadrinhos, é uma dos Morlocks, e, no filme, é assistente de Ajax. Míssil (dos Novos Mutantes), Killebrew e Boneco de Piche (outro Morlock) também foram considerados pelos roteiristas antes de optarem por Angel Dust, que pode controlar sua adrenalina para aumentar sua força e resistência, o que seria um poder mais fácil e mais barato de se representar no filme.

Uma das principais características de Deadpool nos quadrinhos é que ele constantemente "quebra a quarta parede", tendo consciência de que é um personagem de quadrinhos e fazendo várias referências à cultura pop - há uma história, inclusive, na qual ele diz que sua aparência sem máscara é o resultado do cruzamento entre Ryan Reynolds e um sharpei. Reese e Wernick fariam questão de manter essa característica no filme, com Deadpool sabendo que é um personagem de filme, e referências sendo feitas por Wade às participações de Reynolds em X-Men Origens: Wolverine e Lanterna Verde, e a outros filmes como Star Wars, Assassinos por Natureza e Curtindo a Vida Adoidado - em determinado momento, Cable também estava no roteiro, mas os roteiristas optariam por guardá-lo para um eventual segundo filme, o que é mencionado por Deadpool na cena pós-créditos, que faz paródia com a cena pós-créditos de Curtindo a Vida Adoidado.

O uniforme de Deadpool seria criado por Russ Shinkle, com retoques digitais mínimos (como a suavização da costura da máscara e os olhos sendo totalmente brancos, sem que os olhos de Reynolds ficassem visíveis por detrás) ficando a cargo da Film Illusions, e é praticamente idêntico ao dos quadrinhos - segundo Miller, após ver a versão final do uniforme, Reynolds chorou, dizendo que havia lutado muito para que o filme fosse o mais fiel aos quadrinhos possível, e que estava diante da realização de um sonho. O uniforme tinha várias partes que podiam ser removidas, trocadas ou alteradas facilmente por computação gráfica, para facilitar as gravações e pós-produção, mas o responsável pelos efeitos especiais do filme, Jonathan Rothbart, reclamaria que seu material era muito difícil de imitar com computação gráfica, o que evitou que um "Deadpool 100% digital" fosse criado para as cenas mais difíceis, como fazem, por exemplo, com o Homem-Aranha. Ao todo, seriam produzidos seis uniformes para Reynolds e 12 para os dublês, com a Film Illusions também criando três modelos digitais do uniforme de Míssil Adolescente Megassônico.

Já Colossus seria um personagem 100% digital, criado pelo próprio Miller através do Blur Studio; para economizar dinheiro, Miller faria toda a animação de Colossus após a edição final, para evitar incluir o personagem em cenas que seriam posteriormente cortadas. O ator Daniel Cudmore, que interpretou Colossus em X-Men 2, não aceitaria repetir o papel, com o mutante sendo representado nas gravações por Andre Tricoteux; Tricoteux, porém, era muito mais baixo do que o papel exigia, e tinha de usar botas plataforma durante as gravações, o que impediu que ele atuasse na captura de movimentos, que ficaria a cargo de T.J. Storm, com as expressões faciais do personagem sendo baseadas nas de Greg LaSalle, que era o técnico responsável pela captura de movimentos. Miller também tentaria fazer Colossus o mais fiel possível à sua aparência nos quadrinhos, mas achou que um tom de pele "cromado" não combinaria com o filme, optando por um tom de aço mais escuro.

Nada menos que seis empresas de efeitos visuais trabalhariam no filme: além da Film Illusions, estariam Digital Domain, Atomic Fiction, Weta Digital, Rodeo FX e Luma Pictures; Reynolds diria que Miller conseguiria operar um milagre com o baixo orçamento do filme, o qual creditaria à experiência prévia do diretor com computação gráfica. A cena com o maior número de efeitos especiais seria a de abertura, com todos os elementos da freeway, incluindo a própria e todos os carros nela, sendo criados por computação gráfica. Ao invés dos verdadeiros créditos, mostrados em uma nova sequência de "abertura", no final do filme, a sequência de abertura, integrada a essa cena, fazia piadas ao estilo da revista MAD, debochando do elenco e da equipe; os próprios Miller e Reynolds escreveriam esses créditos. Miller queria que a aparência de Wade por baixo da máscara fosse "realmente horrível", para justificar sua fúria contra Ajax, e que ela fosse criada por maquiagem, não por efeitos especiais; o responsável pela maquiagem, Bill Corso, evitaria a inspiração mais óbvia, Freddie Krueger, e alegaria tentar deixar Wade "desfigurado, mas também charmoso". A maquiagem era composta de nove próteses de silicone, e levava duas horas para ser totalmente aplicada à face de Reynolds; para a cena em que Wade aparece de corpo inteiro, Reynolds ficaria seis horas na cadeira de maquiagem. Os demais personagens (à exceção óbvia de Colossus) não teriam aparência fora do comum ou maquiagens especiais a pedido de Miller, que não queria transformar o filme em um desfile de mutantes desfigurados, para que Wade se destacasse.

As filmagens ocorreriam integralmente na cidade de Vancouver, no Canadá, tanto as externas quanto as de estúdio. Miller e Reynolds queriam que Reese e Wernick estivessem presentes durante todo o tempo, mas a Fox não concordou em pagá-los, então Reynolds decidiu pagá-los de seu próprio bolso. Os dublês, coordenados por Robert Alonzo e Philip J. Silvera, começariam a se preparar um mês antes das gravações, para que as cenas precisassem do mínimo possível de regravações. Como a máscara abafava a voz de Reynolds, ele teve de dublar todas as falas de Deadpool na pós-produção; famoso por sua improvisação, o ator decidiria mudar várias delas sem motivo algum, com a mais famosa sendo a da cena em que Deadpool se encontra com Colossus e Míssil Adolescente Megassônico na mansão dos X-Men e diz "é engraçado que eu sempre só veja vocês dois, parece até que o estúdio não teve dinheiro para incluir outros X-Men". Segundo o presidente da Fox, Jim Gianopulos, essa seria sua fala favorita do filme.

O elenco principal conta com Ryan Reynolds como Wade Wilson / Deadpool; Morena Baccarin como Vanessa Carlysle; T.J. Miller como Weasel, melhor amigo de Wade e dono de um bar que serve como ponto de encontro para mercenários; Ed Skrein como Francis Freeman / Ajax; Gina Carano como Angel Dust; Brianna Hildebrand como Míssil Adolescente Megassônico; e Stefan Kapicic como a voz de Colossus. Também estão no filme Leslie Uggams como Al Cega; Karan Soni como Dopinder, taxista amigo de Deadpool; Jed Rees como o recrutador; e Randal Reeder e Isaac C. Singleton Jr. como os mercenários Buck e Boothe, amigos de Wade. Stan Lee e Rob Liefeld fazem participações especiais, respectivamente, como um DJ e como um cliente do bar de Weasel, e Rob Hayter faz uma participação como um ex-colega de Wade nas forças especiais chamado Bob, que deveria ser o Agente da Hidra Bob, mas a menção à organização criminosa no filme foi vetada pelos Marvel Studios.

Deadpool estrearia nos cinemas em 12 de fevereiro de 2016; com orçamento de apenas 58 milhões de dólares, rendeu 363 milhões somente nos Estados Unidos e 420 milhões no restante do mundo, para um total de 783 milhões, o que deve ter deixado os executivos da Fox com a cara no chão. Seria o filme classificado como R mais rentável nos EUA em todos os tempos, até ser ultrapassado em 2019 por Coringa. Surpreendentemente, a crítica também seria favorável, elogiando principalmente o ritmo do filme e considerando-o "genuinamente engraçado". Deadpool seria indicado a dois Globos de Ouro - Melhor Filme Musical ou Comédia e Melhor Ator em um Filme Musical ou Comédia (Reynolds) - mas seria ignorado no Oscar, o que levaria muitos críticos a reclamar que a Academia havia sido preconceituosa.

O sucesso de Deadpool também levaria a uma discussão sobre se filmes classificados como R, para os quais os estúdios normalmente olham torto, poderiam ser tão bem sucedidos quanto os mais populares PG-13, com parte da crítica declarando que sim, caso o público entendesse que a classificação era uma indicação de que o filme é fiel ao material que está adaptando. Esse seria o principal argumento durante a produção de Logan, outro grande sucesso da Fox classificado R, e levaria a Sony a declarar que pretendia fazer um filme R do Venom - que acabaria sendo PG-13. Ao serem perguntados se pretendiam fazer filmes R devido ao sucesso de Deadpool, a Warner responderia que essa possibilidade não estava descartada, e Kevin Feige, dos Marvel Studios, diria que era possível uma leva de filmes do MCU classificados R sob um selo de identificação tipo "Marvel-R". James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia e, posteriormente, de O Esquadrão Suicida (também classificado R), celebraria a possibilidade, mas diria ter medo de que os estúdios não aprendessem a lição e decidissem fazer um monte de cópias de Deadpool.

Pouco antes do lançamento do primeiro filme, Reese, Wernick, Miller e Reynolds começaram a conversar sobre as possibilidades para uma sequência, com todos concordando que ela deveria contar com Cable. Assim que o filme estreou, os bons números de bilheteria convenceram a Fox de que uma sequência era viável, e o estúdio deu a luz verde, com Reese e Wernick já começando a escrever o roteiro. Acreditando que Reynolds havia sido o principal responsável pelo sucesso do filme, a Fox aceitaria incluir em seu contrato que ele teria a palavra final sobre a escalação do elenco e "outros controles criativos"; isso acabaria motivando, em outubro, a saída de Miller, que não concordaria com várias das decisões de Reynolds - o preferido do diretor para o papel de Cable, por exemplo, era Kyle Chandler, com quem Reynolds não concordava; Miller queria que Vanessa se revelasse como sendo a Mímica, o que Reynolds também vetou; e o diretor queria que a sequência fosse no mesmo estilo que o primeiro filme, enquanto o ator queria mais comédia, quase um pastelão.

Após a saída de Miller, a Fox consideraria Drew Goddard, Magnus Martens e Rupert Sanders, mas acabaria contratando David Leitch, de John Wick, que seria recebido com entusiasmo por Reynolds, que declarou que ele entendia perfeitamente a essência de um filme do Deadpool, e que sabia fazer milagres com um orçamento baixo. Dolph Lundgren, citado na cena pós-créditos do primeiro filme, se ofereceria para o papel de Cable, e chegaria a encomendar uma arte dele como o personagem, que divulgaria em suas redes sociais. O preferido dos produtores era Brad Pitt, que não pôde aceitar por conflitos de agenda, com Michael Shannon, David Harbour e o lutador Randy Orton fazendo testes, e Pierce Brosnan e Aaron Taylor-Johnson sendo convidados mas recusando. O papel acabaria ficando com Josh Brolin, que já havia interpretado Thanos no MCU (o que também virou uma piada inserida por Reynolds), que assinaria contrato para quatro filmes, embora seja incerto se ele irá cumpri-lo devido à compra da Fox pela Disney. Dominó, personagem ligada a Cable nos quadrinhos, também seria adicionada ao filme, mas sem relação com o herói; seu papel seria o mais difícil de escalar nos três filmes, com Lizzy Caplan, Mary Elizabeth Winstead, Sienna Miller, Sofia Boutella, Stephanie Sigman, Sylvia Hoeks, Mackenzie Davis, Ruby Rose, Eve Hewson e Kelly Rohrbach fazendo testes. Após os produtores definirem que preferiam uma atriz negra ou latina para o papel, Aubrey Plaza quase levou, mas Zazie Beetz, então em início de carreira, agradaria mais nos testes - curiosamente, Plaza, no futuro, interpretaria a Morte no MCU, personagem que também tem ligação com Deadpool.

No segundo filme, Deadpool decide proteger o menino Russell Collins (que, nos quadrinhos, é o nome verdadeiro de Rusty, um dos Novos Mutantes), que sofre abusos no orfanato, mantido pela Corporação Essex (que, nos quadrinhos, é o sobrenome do Sr. Sinistro), e ameaça o diretor do local com seus poderes mutantes. Após uma série de pataquadas, Wade e Russell são ambos enviados para uma prisão de mutantes, onde são privados de seus poderes. Lá, eles têm de lidar com a ameaça de Cable, que vem do futuro para tentar mudar o passado e impedir a morte de sua esposa e filha, com Wade estando em seu caminho. Para lidar com ambas as situações, e sem poder contar com a ajuda dos X-Men, Wade decide formar uma segunda equipe de mutantes superpoderosos, a qual decide chamar de X-Force.

Do primeiro filme, retornam Ryan Reynolds como Wade Wilson / Deadpool; Morena Baccarin como Vanessa Carlysle; T.J. Miller como Weasel; Brianna Hildebrand como Míssil Adolescente Megassônico; Randal Reeder como Buck; Leslie Uggams como Al Cega; Karan Soni como Dopinder; e Stefan Kapicic como a voz de Colossus, desta vez também atuando na captura de movimentos e expressões faciais, com Andre Tricoteux novamente servindo como stand in durante as gravações. Os novos personagens são Josh Brolin como Cable; Zazie Beetz como Dominó; Julian Dennison como Russell Collins / Punho de Fogo; Shioli Kitsuna como Yukio, mutante membro dos X-Men e namorada de Míssil Adolescente Megassônico; Jack Kesy como Black Tom Cassidy; e Eddie Marsan como o diretor do orfanato. Além de Deadpool e Dominó, a X-Force é composta de Terry Crews como Bedlam, Lewis Tam como Shatterstar, Bill Skarsgård como Zeitgeist, Brad Pitt como Vanisher e Rob Delaney como Peter. Em uma cena breve na mansão, há uma participação especial dos X-Men, com James McAvoy como Professor X, Nicholas Hoult como Fera, Evan Peters como Mercúrio, Tye Sheridan como Ciclope, Alexandra Shipp como Tempestade e Kodi Smith-McPhee como Noturno. Participações especiais de mutantes na prisão incluem Robert Maillet como Sluggo, Dakoda Shepley como Ômega Vermelho, Luke Roessler (que interpreta David Haller em Legião) como Cereal Kid, e o diretor David Leitch como Ground Chuck. Além desses, Hayley Sales e Islie Hirvonen interpretam a esposa e a filha de Cable, Reese e Wernick fazem um repórter e um câmera de TV, e Matt Damon e Alan Tudyk interpretam dois caipiras que Cable encontra quando chega ao presente. E Stan Lee faz uma "participação" em um grafite durante uma cena na cidade.

O primeiro roteiro de Deadpool 2 ambientaria o filme cinco anos depois do primeiro e daria um filho a Deadpool, algo que logo foi abandonado por não estar funcionando. Os roteiristas, então, aproveitando a presença de Cable e Dominó, decidiriam tentar incluir a X-Force, mas sendo liderada por Deadpool, e por fim chegariam à história na qual Deadpool se vê como figura paterna de um adolescente. Reese e Wernick decidiriam que Wade passaria a maior parte do filme sem máscara, para tentar explorar o lado humano do personagem, algo com o que Reynolds demorou para concordar, já que achava a maquiagem demorada e desconfortável. Reynolds também seria creditado como um dos roteiristas do filme, e diria que ele, Reese e Wernick frequentemente trocavam o rascunho do roteiro de mãos, editando e adicionando novas ideias, até que os três ficassem satisfeitos com a versão final.

Versões preliminares do roteiro davam mais destaque aos vilões Black Tom Cassidy e Sluggo, e tinham como principal antagonista Mr. X, que depois seria removido inteiramente. A X-Force originalmente teria somente personagens que já fizeram parte da equipe nos quadrinhos, mas depois os roteiristas decidiriam usar apenas Shatterstar, embora, após o lançamento do filme, tenha sido "revelado" que Peter é na verdade Pete Wisdom, que nos quadrinhos é inglês e mutante. Reynolds convenceria Reese e Wernick a incluir o Fanático no filme, mas em uma versão, assim como Colossus, 100% digital, dublada pelo próprio Reynolds, que também faria a captura de movimentos, com as expressões faciais sendo baseadas nas de Leitch - mas, nos créditos finais, o Fanático seria creditado como "ele mesmo" (himself). Quando Miller ainda era o diretor, ele imaginaria uma luta do Fanático contra o Coisa, cujos direitos também pertenciam à Fox, e chegaria a obter autorização dos executivos do estúdio para que o personagem fizesse esse crossover; após a saída de Miller, os roteiristas descartariam essa cena, mas decidiriam aproveitar essa autorização para convidar Chris Evans para interpretar novamente Johnny Storm, que tentaria uma vaga na X-Force, ideia abandonada após o ator não poder aceitar o papel por conflitos de agenda.

Reese e Wernick voltariam a encher o roteiro de referências à cultura pop, e, depois que a Disney comprou a Fox, em dezembro de 2017, incluíram também várias referências a filmes e produtos Disney, incluindo uma piada recorrente sobre uma das músicas de Frozen ser plágio de Yentl. Muitas referências seriam modificadas ou vetadas por Reynolds, que diria que uma piada só mereceria estar no filme se a maior parte da audiência a compreendesse. Um problema causado pelo excesso de referências seria posicionar Deadpool 2 na linha do tempo em relação aos demais filmes dos X-Men, com Leitch dizendo não se preocupar com isso porque a série de Deadpool era "um produto em separado" e que o estilo do filme permitia que a linha do tempo fosse mais maleável do que em outras produções. O filme traria uma abertura ao estilo 007, mais uma vez com créditos debochados, criados por Reynolds e Leitch.

As filmagens mais uma vez ocorreriam inteiramente em Vancouver; X-Men: Fênix Negra estava sendo filmado ao mesmo tempo em Montreal, dirigido por Kinberg, que aproveitou para filmar lá a cena da participação especial dos X-Men, inserida em Deadpool 2 durante a pós-produção. Devido ao sucesso do primeiro filme, a Fox reservaria um orçamento bem maior, e concordaria em pagar para que Reese e Wernick estivessem presentes todos os dias de gravação. Pitt seria convencido a estar no filme por Reynolds, gravaria sua participação em duas horas, durante a pós-produção, e receberia como pagamento um café do Starbucks. Os efeitos especiais ficariam a cargo da DNEG, Method Studios, Weta Digital e Framestore, essa última ficando responsável por Colossus e pelo Fanático, com a cena mais difícil sendo a da luta entre os dois, na qual dois dublês lutaram na gravação, sendo substituídos pelos personagens digitais na pós-produção. Originalmente, o filme não teria uma cena pós-créditos, até alguém da equipe comentar que uma máquina do tempo como a de Cable seria perfeita para "corrigir erros, como o filme do Lanterna Verde". Reese e Wernick, então, escreveriam duas, uma intercréditos, na qual Wade muda várias coisas que não gosta no passado de Reynolds (que inclui cenas gravadas mas não usadas originalmente em X-Men Origens: Wolverine) e uma pós-créditos na qual Deadpool mata Hitler quando bebê, essa removida após reações negativas das plateias de teste.

Deadpool 2 estrearia em 18 de maio de 2018; com quase o dobro do orçamento do primeiro filme, 110 milhões de dólares, renderia praticamente a mesma coisa, 785,8 milhões, sendo 324,6 milhões nos Estados Unidos, ou seja, menos gente nos EUA foi ver a sequência. Ainda assim, ele foi considerado um sucesso de público e crítica, com muitos críticos considerando-o melhor que o primeiro. Sua única indicação a um prêmio de renome, porém, seria ao Grammy de Melhor Trilha Sonora para uma Mídia Visual.

Deadpool 2 teria duas versões alternativas: originalmente, a Fox pediria para que o filme tivesse menos de duas horas, então Leitch o editaria para que tivesse 119 minutos, mas teria autorização para fazer uma edição estendida limitada, a qual chamaria de Super Duper Cut, com 132 minutos, exibida durante a San Diego Comic Con e muito criticada por trazer pouco material novo relevante. Pouco depois do lançamento da Super Duper Cut, a Fox anunciaria que estava trabalhando em uma versão PG-13 do filme, e Reynolds brincaria que o filme seria intercalado com cenas de Deadpool contando a história para Fred Savage (uma referência ao filme A Princesa Prometida), deixando de fora as partes próprias para adultos. Chamada Once Upon a Deadpool, a versão PG-13 teria novas cenas filmadas especialmente para ela (mas nenhuma com Fred Savage), mudaria algumas das piadas, e estrearia em 24 de dezembro de 2018, com parte de sua renda sendo revertida à caridade; entretanto, ela também seria criticada, por trazer poucas novidades além de uma edição mais apropriada para menores.

Leitch também dirigiria um curta, no qual Wade está andando pela rua quando vê um homem sendo assaltado, mas leva tanto tempo para vestir o uniforme de Deadpool numa cabine telefônica (enquanto é tocado o tema do filme Superman) que não consegue salvá-lo. Com roteiro de Reese e Wernick e estrelado por Reynolds, o curta serviria como um teaser de Deadpool 2, e seria exibido nos cinemas sempre antes do filme Logan, de 2017. Pouco antes de sua estreia, boatos correriam dizendo que ele seria uma cena pós-créditos de Logan, e que todo o curta era uma cena de Deadpool 2, ambos desmentidos por Leitch. Originalmente, o curta não tinha nome, e tinha duas versões, com pequenas diferenças entre elas; no dia seguinte ao da estreia nos cinemas, Reynolds disponibilizaria o curta online, com o título de No Good Deed, em uma terceira versão, com a participação de Stan Lee. Uma teoria bizarra dos fãs, desmentida pelos roteiristas, mas considerada interessante por Leitch, diz que o homem que Deadpool não consegue salvar é o Tio Ben, do Homem-Aranha.

Ainda durante as gravações de Deadpool 2, a Fox pediria para que Reese, Wernick e Reynolds considerassem a possibilidade de que, ao invés de um Deadpool 3, fizessem um filme da X-Force, com mais personagens dos quadrinhos. Em maio de 2017, vazaria um boato de que os roteiristas estavam pensando em uma cena pós-créditos que introduzisse a equipe, que seria formada por Deadpool, Cable, Dominó, Punho de Fogo, Shatterstar, Mancha Solar e Feral, o que seria negado por Reese. Com a compra da Fox pela Disney, entretanto, todos os futuros filmes dos X-Men, incluindo X-Force e Deadpool 3 seriam cancelados, com Reynolds declarando que seria improvável a realização de um terceiro filme. Mas, em 2019, o presidente da Disney, Bob Iger, declararia ter interesse em integrar Deadpool ao MCU, dizendo que os Marvel Studios estavam "estudando atentamente" Once Upon a Deadpool para saber se uma versão PG-13 do personagem era possível, mas que uma versão R não estaria descartada, e que poderia até mesmo inaugurar uma leva de filmes do MCU de classificação R.

Em dezembro de 2019, Reynolds confirmaria que um terceiro filme de Deadpool estava em desenvolvimento nos Marvel Studios, e que sua vontade era fazer um road movie no qual Deadpool e Wolverine pegam a estrada juntos, mas que não sabia se Hugh Jackman, intérprete de Wolverine, aceitaria o papel, já que ele havia declarado ter se aposentado do personagem após Logan. Em entrevistas, Soni diria que a primeira versão do roteiro trazia Deadpool e Dopinder pegando a estrada até o Polo Norte, para "salvar o Natal", e Jackman se diria aberto a voltar a interpretar Wolverine, desejando que o filme fosse no mesmo estilo que o policial 48 Horas, com Nick Nolte e Eddie Murphy. Reese, entretanto, diria no início de 2020 que ainda não havia começado a trabalhar no roteiro, e que ele e Wernick estavam esperando a ideia certa aparecer.

Em outubro de 2020, Reynolds se reuniria com a cúpula dos Marvel Studios, apresentaria várias ideias para o filme, inclusive uma inspirada em Rashomon, que traria a mesma história contada de três pontos de vista diferentes, e seria informado de que Wolverine "não poderia estar no filme", e que a Marvel não tinha interesse em Reese e Wernick, contratando as irmãs Wendy Molyneux e Lizzie Molyneux-Logelin para escrever o roteiro. A Marvel tinha interesse em Leitch, porém, e faria com ele várias reuniões ao longo de 2021, até ambas as partes concluírem que, devido a compromissos previamente assumidos pelo diretor, sua contratação não seria possível. No final de 2021, Feige confirmaria que o terceiro filme de Deadpool seria de classificação R e ambientado no MCU, que Reynolds estava envolvido com o roteiro, e que as filmagens não começariam tão cedo, devido a outros compromissos assumidos pelo ator. Um desses compromissos era o filme O Projeto Adam, dirigido por Shawn Levy e lançado em 2022; durante as filmagens, Reynolds conversaria com Levy sobre a possibilidade de ele dirigir o terceiro filme de Deadpool, e o diretor se mostraria muito empolgado.

Em julho de 2021, Reynolds disponibilizaria mais um curta online, escrito, dirigido e estrelado por ele e contando com a participação de Taika Waititi, chamado Deadpool and Korg React, no qual Deadpool e Korg (que havia estreado em Thor: Ragnarok) assistem e comentam o trailer do filme Free Guy: Assumindo o Controle, também com Reynolds e Waititi, e Korg dá dicas para Deadpool sobre como entrar para o MCU. O curta teria 4 milhões de visualizações em 24 horas, agradaria à crítica, que elogiaria a química entre os dois personagens, e serviria como um teaser do terceiro filme de Deadpool.

Em março de 2022, Levy seria contratado para dirigir o filme, e Reese e Wernick seriam procurados pelos Marvel Studios, após as irmãs Molyneux serem demitidas por apresentar "diferenças criativas irreconciliáveis" com Reynolds; Reese e Wernick se recusariam a comentar se estavam escrevendo um novo roteiro do zero ou apenas reescrevendo o das irmãs, mas confirmariam que a Disney havia dado carta branca para que eles usassem e zoassem quaisquer personagens da Marvel sobre os quais o estúdio tivesse direitos. Isso abriria as portas para que Wolverine estivesse no filme, mas a iniciativa partiria de Jackman, que, em agosto de 2022, procuraria Reynolds para perguntar se realmente não haveria uma forma de os dois mutantes canadenses trabalharem juntos. A iniciativa de Jackman viria na hora certa, pois Reese, Wernick, Levy, Reynolds e o roteirista Zeb Wells estavam todos empacados, sem conseguir nenhuma boa ideia para integrar Deadpool ao MCU, e Reynolds já havia marcado uma reunião com Feige para tentar descobrir como proceder.

Feige aconselharia que Wolverine não estivesse no filme, pois não queria desfazer a morte do personagem em Logan, segundo ele "o melhor final de um personagem na história", mas seria convencido após Jackman dizer que, por causa do Multiverso, ele poderia interpretar uma versão diferente de Wolverine. Jackman chegaria a telefonar para o diretor James Mangold, para garantir que Logan não seria de forma alguma afetado pelo que eles fariam no filme de Deadpool, e diria que o diretor se mostrou entusiasmado com o retorno de Wolverine aos cinemas. Em setembro de 2022, o filme seria oficialmente anunciado, com um teaser protagonizado por Reynolds e Jackman, tendo Levy como diretor; Reynolds, Reese, Wernick, Levy e Wells como roteiristas; e Reynolds, Levy, Feige e Shullen Donner como produtores. O título Deadpool 3 seria descartado por Levy, que queria indicar que tanto Deadpool quanto Wolverine teriam a mesma importância no enredo, e o título preferido de Reynolds, Deadpool & Friend, seria rejeitado em pesquisas de opinião. Após considerar Deadpool Versus Wolverine, a Marvel decidiria pelo simples, ficando com Deadpool & Wolverine - apesar de um protesto bem-humorado de Jackman, que disse que preferiria Wolverine & Deadpoool.

A pré-produção começaria já em outubro de 2022, com as filmagens começando em janeiro de 2023 em Londres; as cenas de estúdio seriam filmadas nos Pinewood Studios, e as externas em Los Angeles, Norfolk, e em uma base aérea da RAF em Bovington, o que faria com que esse fosse o primeiro filme de Deadpool a não ser filmado em Vancouver. As filmagens seriam interrompidas durante as greves dos roteiristas e dos atores que ocorreram em 2023, mas a produção estava tão adiantada que isso não teve impacto algum sobre a data de lançamento do filme - de fato, a produção estava tão adiantada que, quando a pré-produção começou, a data prevista de lançamento era novembro de 2024, mas, quando as filmagens terminaram, ela foi adiantada para maio; isso foi possível em parte porque, durante as greves, o estúdio aproveitou para adiantar a pós-produção das cenas já filmadas. Os muitos efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Industrial Light & Magic, Framestore, Base FX, Barnstorm VFX, Raynault VFX, Rising Sun Pictures e Weta FX.

Os figurinistas Graham Churchyard e Mayes C. Rubeo decidiriam fazer para Wolverine um uniforme amarelo e azul bem parecido com o da série animada dos anos 1990, se dizendo satisfeitos por finalmente poderem dar ao personagem um uniforme fiel aos quadrinhos. Após vesti-lo, Jackman ficou tão satisfeito que lamentou não poder tê-lo vestido nos demais filmes. Deadpool também ganharia um novo uniforme, também mais parecido com o dos quadrinhos dos anos 1990. Como a história do filme estava intrinsecamente ligada ao Multiverso, os figurinistas também tiveram de criar uniformes para versões alternativas de Deadpool e Wolverine, algumas baseadas nos quadrinhos, outras não - o filme conta, dentre outros, com Wolverines inspirados nas sagas Era do Apocalipse e Old Man Logan e com toda a Deadpool Corps, que aparece em uma cena de luta imaginada por Reynolds anos antes, ao som de Like a Prayer, de Madonna - segundo o ator, ele simplesmente não sabia o que faria caso a cantora não autorizasse o uso da música.

O filme contaria com participações especiais de vários personagens de outros filmes da Marvel, com Reese e Wernick dando prioridade para aqueles que jamais haviam aparecido no MCU; os roteiristas também diriam que, exceto por uma ou outra pequena participação feita para agradar aos fãs, dariam preferência a personagens que estivessem intrinsecamente ligados à história do filme ou que fizessem a história andar, evitando um "desfile de participações especiais". Reese e Wernick também diriam ter escrito as cenas sem se preocupar se os atores que interpretaram originalmente os personagens aceitariam participar do filme ou não, e que "se preocupariam depois" caso algum não aceitasse. Essas participações especiais deveriam ser surpresa, mas foi impossível esconder algumas delas dos paparazzi durante as filmagens, o que levou a algumas táticas da equipe de produção para tentar desviar a atenção sobre elas - Jennifer Garner e Dafne Keen negariam em entrevistas que estariam no filme, e seria espalhado que Taylor Swift estaria no filme como a mutante Cristal, por exemplo. Reynolds chegaria a pedir para que fotos das filmagens não fossem divulgadas, e vazaria ele mesmo fotos adulteradas que mostravam Mickey Mouse, o Predador e Steve Urkel em cenas do filme, para ver se desacreditava as fotos verdadeiras.

No filme, Wade deixou para trás a vida de super-herói e está trabalhando como vendedor de carros usados, até que um dia recebe a visita de agentes da AVT (a Autoridade de Variância Temporal, que fez sua estreia na série Loki) que o levam até o agente Paradox. Segundo Paradox, a morte de Wolverine em Logan desencadeou um processo que fará com que a linha temporal onde Wade e seus amigos vivem se autodestrua em dois mil anos, mas ele está com pressa, e pretende usar um Rasgador Temporal para destruir tudo imediatamente; por alguma razão que não fica clara, ele oferece a Deadpool a oportunidade de passar para a Linha Temporal Sagrada (o MCU) antes que isso aconteça. Não querendo perder todos os seus amigos, Deadpool decide usar equipamento da AVT para catar um Wolverine de outra linha temporal e usá-lo para substituir o que morreu, mas o plano sai levemente errado, e Deadpool e Wolverine vão parar no Limbo entre as realidades, controlado pela mutante Cassandra Nova, irmã gêmea de Charles Xavier. A missão de Deadpool, então, passa a ser convencer Wolverine, que não está nem um pouco interessado, a conseguir ajuda para confrontar Cassandra e fugir de lá antes que Paradox destrua sua linha temporal.

O elenco principal conta com Ryan Reynolds como Wade Wilson / Deadpool, Hugh Jackman como Logan / Wolverine, Emma Corrin como Cassandra Nova, Morena Baccarin como Vanessa Carlysle, Rob Delaney como Peter, Leslie Uggams como Al Cega, Aaron Stanford como John Allerdyce / Pyro, e Matthew Macfadyen como Paradox. Dos filmes anteriores de Deadpool retornam Karan Soni como Dopinder, Brianna Hildebrand como Míssil Adolescente Megassônico, Shioli Kutsuna como Yukio, Randal Rendeer como Buck, Lewis Tan como Shatterstar e Stefan Kapicic como a voz de Colossus. Além de Pyro, os asseclas de Cassandra Nova incluem Tyler Mane como Dentes de Sabre, Daniel Medina Ramos como Grouxo, Aaron W. Reed como o Fanático, Mike Waters como Blob, Eduardo Gago Muñoz como Azazel, Jade Lye como Lady Letal, Ayesha Hussain como Psylocke, Billy Clements como o Russo, Curtis Small como o Mercenário, Chloe Kibble como Callisto, Jessica Walker como Arco Voltaico e Nilly Cetin como Quill. Fazem parte da Resistência Jennifer Garner como Elektra, Wesley Snipes como Blade, Channing Tatum como Gambit, Chris Evans como Johnny Storm / Tocha Humana e Dafne Keen como Laura / X23. Outras participações especiais incluem Jon Favreau como Happy Hogan, Wunmi Mosaku como a agente B-15 da AVT, Henry Cavill como uma variante de Wolverine, e uma foto de Stan Lee numa propaganda num ônibus. Finalmente, as muitas variações de Deadpool incluem Blake Lively (esposa de Reynolds) como a voz de Ladypool (com Christiaan Bettridge vestindo o uniforme); os filhos de de Reynolds, Inez e Olin, respectivamente como Kidpool e Babypool; Nathan Fillion como a voz de Headpool; Matthew McConaughey como a voz de Cowboypool; o jogador de futebol do Wrexham (cujo um dos donos é Reynolds) Paul Mullin como Welshpool; Alex Kyshkovych (dublê de Reynolds) como Canadapool; Harry Holland como Haroldpool; Kevin Fortin como Zenpool; Huing Dante Dong como Roninpool; e a cachorrinha-celebridade Peggy como Dogpool - o próprio Reynolds interpreta uma variante apelidada Nicepool, e as outras variantes que aparecem no filme, sem créditos de atores, são Deadpool 2099, Golden Age Deadpool, Piratepool, Scottishpool, Shortpool, Kingpool, Cupidpool, Jesterpool, Detectivepool, Hoodeddpool, uma sem nome oficial com uniforme vermelho e branco, e Greatest Showman Deadpool, uma sátira ao papel de Jackman no filme O Rei do Show.

Levy declararia que a principal preocupação dos roteiristas seria que, mesmo com o envolvimento do Multiverso e todas as participações especiais, nenhum espectador precisasse "fazer o dever de casa" para entender o filme, com quem jamais havia visto nenhum filme ou série da Marvel sendo tão capaz de compreender a história quanto quem se empolgasse com as referências às obras prévias. Reynolds diria que pediu aos Marvel Studios para que o filme tivesse início, meio e fim, e que não fosse usado para lançar nenhum outro projeto; ele gostaria tanto da performance de Tatum, porém, que acabaria abrindo uma exceção e pedindo para filmar uma cena pós-créditos que mostra que Gambit sobreviveu à batalha final no Limbo e poderia indicar um futuro filme do mutante - essa cena, contudo, não seria aprovada pela Marvel, e apareceria apenas em um dos monitores da AVT. Tatum (que seria Gambit em um filme do personagem que foi cancelado durante a pré-produção), Snipes e Evans seriam convidados pessoalmente por Reynolds, e todos se mostrariam empolgadíssimos em participar do filme; Snipes se diria emocionado por voltar a interpretar Blade, principalmente por saber que não teria outra chance, e Evans diria que a oportunidade de fazer comédia com Reynolds seria o principal motivo que o levaria a aceitar - no monólogo da cena pós-créditos, Reynolds sugeriria que Evans usasse um cartaz fora de cena com o texto, mas o ator faria questão de decorar a fala. Também seria ideia de Reynolds mostrar, durante os créditos, cenas de bastidores dos filmes da Marvel produzidos pela Fox, como uma homenagem e agradecimento pela contribuição do estúdio ao Multiverso do MCU.

Além dos atores que aparecem no filme, os roteiristas pensariam em incluir Patrick Stewart (Professor X), Ben Affleck (Demolidor), Nicolas Cage (Motoqueiro Fantasma), Liev Scheiber (Victor Creed) e o Quarteto Fantástico do filme de 2015 - Miles Teller (Sr. Fantástico), Kate Mara (Mulher Invisível), Michael B. Jordan (Tocha Humana) e Jamie Bell (Coisa) - mas desistiriam por questões de orçamento ou conflito de agendas. Terry Crews (Bedlam) e Zazie Beetz (Dominó) originalmente estavam na cena da festa de aniversário de Wade, mas também foram cortados por conflitos de agenda; T.J. Miller (Weasel) jamais esteve nos planos dos roteiristas, por ter se desentendido com Reynolds após as gravações de Deadpool 2, assim como Julian Dennison (Russell Collins), por os roteiristas entenderem que seu arco de história estava concluído, e Josh Brolin (Cable), que, segundo os roteiristas, tinha muitas chances de entrar para o MCU com mais destaque em outra produção. Curiosamente, Robert Downey, Jr. também seria convidado para estar na cena em que Wade tenta convencer Happy a deixá-lo entrar para os Vingadores, mas leria o roteiro e recusaria, dizendo que sua história como Homem de Ferro já estava encerrada. Além de Downey, seriam convidados mas recusariam Ray Park (Grouxo), Vinnie Jones (Fanático), Kelly Hu (Lady Letal), Olivia Munn (Psylocke) e Jason Flemyng (Azazel); Colin Farrell (Mercenário) diria que sequer foi convidado.

Deadpool & Wolverine estrearia dia 22 de julho de 2024, parte da Fase 5 do MCU e primeiro filme do MCU a receber classificação R. Com orçamento não divulgado, mas calculado na casa de 200 milhões de dólares, renderia 636 milhões apenas nos Estados Unidos e 1,338 bilhão quando fosse levada em conta a bilheteria do mundo inteiro, se tornando o filme R mais rentável da história e o vigésimo filme mais rentável de todos os tempos. A crítica foi amplamente positiva, elogiando a química entre Reynolds e Jackman e confirmando o que Levy queria, que o filme era divertido "até por quem não sabe diferenciar Professor X de X23". A boa vontade da Disney em permitir que Deadpool fosse Deadpool também seria frequentemente citada, embora alguns reclamassem que o filme não seria tão audacioso ou irreverente quanto os dois anteriores. O filme seria indicado ao Grammy de Melhor Trilha Sonora para uma Mídia Visual e ao Globo de Ouro de Melhor Performance em Bilheteria.

Após a estreia do filme, Reynolds diria que ele serve como um fechamento para a história de Deadpool, achando improvável que ele volte a interpretar o personagem. Feige, por outro lado, declararia que os Marvel Studios estão estudando formas de incluir tanto Deadpool quanto Wolverine em futuros projetos. Em se tratando de um dos personagens mais populares da Marvel, é bem provável que, mesmo que não tenhamos um quarto filme, ele continue dando as caras aqui e ali.
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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Escrito por em 8.2.25 com 0 comentários

Deadpool (I)

Depois de escrever o post sobre os filmes do Blade, eu fiquei com vontade de escrever sobre os filmes do Deadpool; então, assim como fiz com o Blade, primeiro vou fazer um post sobre Deadpool nos quadrinhos, e, semana que vem, um sobre os filmes. Hoje, portanto, é dia de Deadpool no átomo!

Deadpool é um personagem relativamente recente, mas que, em pouco tempo, se tornou um dos mais populares da Marvel. Ele foi criado por uma figura controversa, o desenhista Rob Liefeld, que, na época, desenhava a revista dos Novos Mutantes, escrita por Fabian Nicieza. Liefeld criaria a aparência, a história e os poderes do personagem, mas, como seus maneirismos e diálogos seriam criados por Nicieza, ambos são considerados co-criadores do personagem. Segundo Nicieza, quando Liefeld mostrou seu primeiro desenho do personagem, já com seu tradicional uniforme, segurando uma katana em uma das mãos e uma pistola na outra, e disse que ele era "um assassino mercenário com agilidade sobre-humana", o roteirista respondeu "esse é o Exterminador dos Jovens Titãs". Por causa disso, Nicieza decidiria que o nome verdadeiro do personagem (com "Deadpool", que não significa nada que faça muito sentido, tendo sido ideia de Liefeld) seria Wade Wilson, uma espécie de piada com o fato de o Exterminador se chamar Slade Wilson.

Liefeld, apesar de assumir ser fã dos Jovens Titãs, sempre negou ter plagiado o Exterminador; segundo ele, sua equipe favorita da Marvel eram os Vingadores, e o que ele mais gostava nos Vingadores era que cada um tinha uma arma característica, como o escudo do Capitão América, o martelo do Thor e o arco do Gavião Arqueiro; por causa disso, ele sempre pensaria em dar armas características aos personagens que criava, como a arma gigante de Cable, e, como Deadpool era um mercenário, achou que faria sentido se suas armas características fossem duas espadas e duas pistolas - que, "coincidentemente", são as armas preferidas do Exterminador. Ainda segundo Liefeld, o uniforme de Deadpool seria inspirado no do Homem-Aranha, que ele achava ser o mais simples e elegante; o desenhista diria sentir inveja quando seus colegas Erik Larsen e Todd McFarlane falavam que o melhor de desenhar o Homem-Aranha era fazer a máscara, com "dois grandes olhos ovais", e decidiria fazer uma máscara parecida para Deadpool.

O mesmo valia para seu comportamento: Liefeld declararia que o que ele mais gostava no Homem-Aranha era que ele "fazia uma piada e depois socava o vilão na cara", então pediria para que Nicieza escrevesse os diálogos de Deadpool como se ele fosse "o Homem-Aranha com espadas e pistolas". Finalmente, Liefeld queria que a história de Deadpool fosse ligada à de Wolverine, o personagem mais popular da Marvel nos anos 1990, desde o início, então definiria que ele era canadense, e na verdade não era mutante, ganhando poderes de cura baseados nos de Wolverine após aceitar ser cobaia do Programa Arma X, depois de ter sido expulso das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos por conduta desonrosa.

Deadpool seria criado para ser um vilão; em sua primeira aparição, na revista The New Mutants 98, lançada em dezembro de 1990, ele seria um mercenário contratado por Tolliver para matar Cable. Pouco depois, a equipe dos Novos Mutantes seria reformulada e passaria a se chamar X-Force, com a revista também mudando de nome; Deadpool faria várias aparições na X-Force, e ganharia tanta popularidade que, a cada uma delas, se tornava menos um vilão e mais um anti-herói, um mercenário que fazia o que lhe pagavam para fazer, desde que isso não ferisse seu tortuoso código de honra pessoal. Nessas aparições também seria definido que a experiência no Programa Arma X, além de lhe dar superpoderes, também o deixaria horrivelmente desfigurado, dando a entender que suas infinitas gracinhas eram uma forma de lidar com a dor.

A crescente popularidade de Deadpool faria com que ele passasse a fazer aparições especiais em revistas que não fossem a X-Force, e que sequer faziam parte do universo dos X-Men, como The Avengers, Daredevil e Heroes for Hire, até que, em 1993, a Marvel decidiria testar as águas e dar a ele sua própria minissérie, chamada simplesmente Deadpool, mas conhecida como Deadpool: The Circle Chase (o nome da história em quatro partes mostrada na minissérie). Publicada entre agosto e novembro, com roteiro de Nicieza e arte de Joe Madureira, ela mostrava Deadpool tentando finalizar um serviço no meio da Guerra da Bósnia, mas tendo que lidar com Black Tom Cassidy e o Fanático. Essa minissérie também introduziria Weasel, uma espécie de assistente de Deadpool, que selecionava as missões para ele e lhe fornecia armas e equipamentos; a mutante Mímica (Copycat no original, cujo nome verdadeiro é Vanessa Carlysle), que, assim como Mística, tem o poder de assumir qualquer aparência, e viria a se tornar uma espécie de namorada de Deadpool; e o mercenário Garrison Kane, rival de Deadpool.

A minissérie teria boas vendas, e faria com que a Marvel decidisse apostar em uma segunda, mais uma vez chamada apenas Deadpool, lançada exatamente um ano depois, em quatro edições entre agosto e novembro de 1994. Com roteiro de Mark Waid e arte de Ian Churchill, ela coloca Deadpool novamente contra Black Tom e o Fanático, mas dessa vez fazendo dupla com Siryn, filha de Banshee e membro da X-Force. Curiosamente, Waid não conhecia o personagem ao aceitar a tarefa, fazendo de Deadpool apenas um "mercenário tagarela"; após ser informado de suas características, ele declararia que, "se soubesse que Deadpool era tão repugnante" não teria concordado com o trabalho, e que tem problemas pessoais com "alguém que comete crimes e não paga por eles".

A segunda minissérie também faria sucesso, e a Marvel daria luz verde para uma série regular de Deadpool. Como Nicieza não estava disponível, esse projeto demoraria um pouco para se materializar, com o primeiro número de Deadpool sendo lançado somente em janeiro de 1997. Inicialmente com roteiro de Joe Kelly, que escreveria as 33 primeiras edições, e arte de Ed McGuiness, que desenharia as nove primeiras, seria essa série que definiria Deadpool como o conhecemos hoje, mostrando-o como uma paródia dos anti-heróis que se tornaram superpopulares na década de 1990. Nela, Deadpool ainda é mercenário, moralmente ambíguo e desbocado, mas também tem um bom coração, um rígido código de honra (que só faz sentido para ele) e quer fazer a diferença num mundo habitado por superseres, ao invés de apenas ganhar dinheiro. Seria Kelly quem criaria uma das principais características de Deadpool: a de que ele tem consciência de que é um personagem de histórias em quadrinhos e frequentemente "quebra a quarta parede", falando diretamente com os leitores, com a equipe por trás da revista, ou fazendo referências que somente alguém "do lado de cá" saberia, como os números das edições nas quais eventos de seu passado ocorreram.

Enquanto a Deadpool regular estava sendo publicada, Deadpool também seria astro de várias edições especiais, como Deadpool Team Up, de dezembro de 1998, com roteiro de James Felder e arte de Pete Woods, na qual ele vai ao Japão enfrentar um clone de si mesmo chamado Widdle Wade; Daredevil/Deadpool Annual '97, com roteiro de Kelly e arte de Bernard Chang, na qual Deadpool, querendo ajudar Mary Tifóide, acaba entrando em conflito com o Demolidor, enquanto Weasel e Foggy se tornam bons amigos; Deadpool and Death Annual 1998, com roteiro de Kelly e arte de Steve Harris, na qual Deadpool tem um caso amoroso com ninguém menos que a Morte; e Baby's First Deadpool Book, de dezembro de 1998, com três histórias curtas recheadas de muita ação e nonsense, todas escritas por Kelly.

Kelly, que também criaria um dos mais famosos coadjuvantes de Deadpool, sua "colega de quarto" Al Cega, uma idosa negra e cega que na verdade está mais para sua prisioneira e fornecedora de drogas, seria substituído na edição 34 da Deadpool por Christopher Priest, sendo seguido por Jimmy Palmiotti na 46; na arte, vários desenhistas se revezariam, sendo os de maior destaque Woods e Shannon Eric Denton. Na edição 57, a numeração recomeçaria do 1, e o título da revista mudaria para Deadpool: Agent of Weapon X, atuando como uma espécie de minissérie, com roteiro de Frank Tieri e arte de Georges Jeanty, na qual o projeto Arma X convence Deadpool a voltar a trabalhar para eles em troca de restaurar sua aparência; após quatro edições, a numeração recomeçaria do 1 e o título mudaria para Deadpool: Funeral for a Freak, se tornando uma nova minissérie em quatro edições, roteiros de Tieri e arte de Jim Calafiore, que começa com o funeral de Deadpool, e lida com as repercussões de sua morte.

Como ele não morreu mesmo, depois dessa minissérie Gail Simone assumiria os roteiros e o estúdio canadense UDON a arte, o título da revista voltaria a ser Deadpool, e a numeração recomeçaria do 65, número que contava Agent of Weapon X e Funeral for a Freak como parte da série regular. A revista seria cancelada no final de 2002, após uma grande reformulação dos títulos dos X-Men, durante a qual a revista Cable viraria Soldier X, a X-Force viraria X-Statix, e a Deadpool viraria Agent X, sendo estrelada não por Deadpool, mas por Alex Hayden, o Agente X. Ao todo, Deadpool teria 71 edições, número que incluía uma edição -1, lançada em julho de 1997, durante o "mês do flashback Marvel", e uma edição 0, lançada em janeiro de 1998, o que faria com que sua última edição fosse a 69, de setembro de 2002.

Ainda com roteiro de Simone e arte do UDON, Agent X, também lançada em setembro de 2002, deveria ter apenas 12 edições, mas acabaria tendo 15, com as três últimas, lançadas entre novembro de 2003 e janeiro de 2004, sendo a reintrodução de Deadpool no Universo Marvel - durante toda a Agent X, ficaria pairando no ar uma dúvida sobre se Hayden e Deadpool eram a mesma pessoa, somente dissipada na edição 13. A participação de Deadpool na Agent X também serviria para estabelecer as bases para sua nova revista, Cable & Deadpool, lançada em maio de 2004, com roteiros de Nicieza e arte de Mark Brooks (com a primeira edição tendo capa de Liefeld), na qual os dois deixam as diferenças de lado e se tornam parceiros em várias aventuras. Em Cable & Deadpool 38 ocorreria a estreia de outro coadjuvante famoso e popular de Deadpool, o Agente da Hidra chamado Bob.

Cable & Deadpool teria 50 edições, a última de abril de 2008, sendo cancelada para que cada um dos heróis ganhasse uma nova revista, com a nova Deadpool, com roteiros de Daniel Way e arte de Paco Medina, sendo lançada em novembro de 2008. A série começaria como parte da saga Invasão Secreta, com Deadpool e Nick Fury unindo forças para obter informações sobre a Rainha Skrull, que acabam sendo roubadas por Norman Osborn; em seguida, ocorreria um crossover com os Thunderbolts, em uma história em quatro partes publicada em duas edições de Deadpool e duas de Thunderbolts. Também seria nessa revista que o Assassímio estrearia nos quadrinhos físicos, já que, antes disso, ele havia aparecido somente em edições exclusivamente digitais. A revista teria 67 edições mensais mais uma anual, mas a última seria a 63, de dezembro de 2012; as demais seriam a edição 33.1, de maio de 2011, a edição especial Deadpool: The Musical (numerada 49.1, de março de 2012), e duas edições recheadas de histórias curtas, a edição 900, "comemorando 900 edições somadas de todas as revistas de Deadpool" (na verdade, o número não chegava nem perto disso), de dezembro de 2009, e a edição 1000, de outubro de 2010.

No final dos anos 2000, o Mercenário Tagarela já era um superastro do Universo Marvel, de forma que chegaria a estrelar quatro revistas simultaneamente: além de na Deadpool, ele estaria na Deadpool: Merc with a Mouth, com 13 edições publicadas entre setembro de 2009 e setembro de 2010, cada uma com uma capa em homenagem a um pôster de filme famoso, roteiros de Victor Gischler e arte de Bong Dazo, na qual ele é contratado para recuperar uma super arma levada para a Terra Selvagem, que na verdade é a sua versão do universo Zumbis Marvel, uma cabeça decepada voadora apelidada de Headpool; em uma série regular de Deadpool Team Up, com 17 edições publicadas entre janeiro de 2010 e maio de 2011, em cada uma fazendo dupla com um outro herói da Marvel, como Hércules, Thor e o Coisa, com a curiosa distinção de que a primeira edição foi a número 899 e a numeração foi regressiva, com a última sendo a 883; e seria parte da nova equipe da Uncanny X-Force criada por Rick Remender, usando um uniforme branco e sendo colega de Wolverine, Psylocke, Arcanjo e Fantomex, entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2013. Em setembro de 2007, Deadpool também estaria na edição especial Deadpool/GLI Summer Fun Spectacular, na qual viveria aventuras no Wisconsin junto com a Iniciativa Grandes Lagos (antigos Vingadores Centrais).

Em 2009, Deadpool estaria na minissérie Deadpool: Suicide Kings, em cinco edições publicadas entre junho e outubro, com roteiro de Mike Benson e arte de Carlo Barbieri, no qual é acusado de um crime que não cometeu e tem que enfrentar o Homem-Aranha, o Justiceiro e o Demolidor. No ano seguinte, seria a vez do lançamento de Deadpool Pulp, com roteiro de Benson e Adam Glass e arte de Laurence Campbell; em quatro edições publicadas entre novembro de 2010 e fevereiro de 2011, a minissérie, no estilo da linha Marvel Noir, reimaginava Wade Wilson como uma agente da CIA na década de 1950. E, durante a saga A Essência do Medo, Deadpool seria o astro de uma minissérie com roteiro de Christopher Hastings e arte de Dazo, na qual consegue roubar um dos martelos do Serpente; Fear Itself: Deadpool teria três edições, lançadas entre agosto e outubro de 2011.

Também em 2010, Deadpool seria recrutado pelos Anciões do Universo para liderar uma equipe composta por versões suas de diferentes universos em uma missão intergaláctica suicida. Esse seria o enredo de Deadpool Corps, com roteiros de Gischler e Tieri e arte de Liefeld, que teria 12 edições, a última de maio de 2011. Além de Deadpool e Headpool, a equipe contava com Lady Deadpool (que havia estreado em Merc with a Mouth 7), uma versão feminina do mercenário, cujo nome verdadeiro era Wanda Wilson; Kidpool, sua versão infantil; e Dogpool, um cachorro com poderes regenerativos. A Deadpool Corps também seria a protagonista de uma minissérie em cinco edições lançada exclusivamente em formato digital em maio de 2010, chamada Prelude to Deadpool Corps, e de uma edição especial chamada Deadpool Family, com várias histórias curtas, lançada em junho de 2011. Lady Deadpool também ganharia uma edição especial só dela, com roteiros de Mary H.K. Choi e arte de Ken Lashley, em setembro de 2010.

Entre agosto e novembro de 2010, seria a vez de Deadpool ganhar sua primeira minissérie "para adultos", publicada pelo selo Marvel MAX, com roteiros de Duane Swierczynski e arte de Jason Pearson. Chamada Deadpool: Wade Wilson's War, ela colocaria Deadpool ao lado de Dominó, Silver Sable e o Mercenário em uma missão no México que daria muito errado, em quatro edições. A minissérie seria seguida pela série regular Deadpool MAX, também pelo selo Marvel MAX, com roteiros de David Lapham e arte de Kyle Baker, que não faria o sucesso esperado e teria apenas 12 edições, publicadas entre dezembro de 2010 e novembro de 2011.

Em quatro edições lançadas entre outubro de 2012 e janeiro de 2013, Deadpool Kills The Marvel Universe, com roteiros de Cullen Bunn e arte de Dalibor Talajic, era ambientada numa realidade paralela na qual Deadpoool decide perseguir e matar todos os heróis Marvel. Ela continuaria em Deadpool Killustrated, com roteiros de Bunn e arte de Matteo Lolli, na qual o Marcenário Tagarela rouba de Uatu o poder de viajar entre realidades e decide matar personagens clássicos da literatura, como Moby Dick, Tom Sawyer, Ebenezer Scrooge e Sherlock Holmes, em quatro edições lançadas entre março e junho de 2013. Sua conclusão seria em Deadpool Kills Deadpool, em quatro edições lançadas entre setembro e dezembro de 2003, na qual Deadpool decide viajar pelo Multiverso matando todos os outros Deadpools. com roteiros de Bunn e arte de Salvador Espin. Essas três minisséries ficariam conhecidas como Deadpool Killogy.

Deadpool voltaria a ter uma revista "para toda a família" (e mais uma vez chamada Deadpool) em janeiro de 2013, como parte do projeto Marvel NOW!, com roteiros dos comediantes Brian Posehn e Gerry Dugan, e arte principalmente de Scott Koblish e Mike Hawthorne. A história seguia exatamente de onde a Deadpool anterior havia parado, e, no meio do caminho, Deadpool se tornaria membro dos Thunderbolts; enfrentaria o Carnificina e acabaria ligado a um simbionte; se casaria com Shiklah, a Rainha dos Mortos, com quem teria uma filha, Eleonor; e participaria da saga Pecado Original, de qual parte da história ocorreria nas edições 29 a 33. Ao todo, a revista teria 45 edições (mais duas anuais e uma "bienal", todas as três lançadas em 2014), mas a última, de junho de 2015, seria numerada 250 (mais uma vez, supostamente o número somado de todas as revistas com "Deadpool" no título), e seria parte da saga Guerras Secretas, que também seria a razão pela qual essa série, mesmo com boas vendas, seria cancelada, como parte de uma grande reformulação de todas as revistas da Marvel.

A edição 250 também traria mais uma vez a morte de Deadpool, dessa vez com a promessa de que seria a definitiva. Mas, após a minissérie Mrs. Deadpool and the Howling Commandos, estrelada por Shiklah em quatro edições publicadas entre agosto e novembro de 2015, o mercenário voltaria em uma nova revista chamada Deadpool, dessa vez parte do projeto All-New, All-Different Marvel. Com roteiros de Dugan e arte de Hawthorne, ela teria 37 edições quinzenais, publicadas entre janeiro de 2016 e novembro de 2017, com as edições da 14 à 18 sendo parte da saga Guerra Civil II. Em dezembro de 2017, devido ao projeto Legacy, que renumerou todas as revistas Marvel com números contínuos, ela seria renomeada para Despicable Deadpool, e a numeração passaria a contar do número 287. Ela seria cancelada no número 300, de julho de 2018.

Entre março e junho de 2014, em quatro edições, seria lançada Night of the Living Deadpool, com roteiros de Bunn e arte de Ramon Rosanas, em preto, branco e vermelho, na qual Deadpool tenta sobreviver a um apocalipse zumbi. Também em quatro edições, entre maio e agosto, com roteiros de Bunn e arte de Espin, seria lançada Deadpool vs. Carnage, na qual o Mercenário Tagarela e o Simbionte Sociopata se enfrentam em uma história para adultos, cheia de sangue e violência. Entre agosto e novembro, seria a vez de Deadpool vs. X-Force, com roteiros de Swierczynski e arte de Pepe Larraz, uma continuação direta da primeira aparição de Deadpool, quando ele foi contratado por Tolliver para matar Cable e acabou enfrentando a X-Force. Em cinco edições entre novembro de 2014 e março de 2015, seria lançada Hawkeye vs. Deadpool, diretamente ligada à revista do Gavião Arqueiro de Matt Fraction, na qual os dois heróis são enganados para se enfrentarem, com roteiros de Duggan e arte de Lolli. E, em sete edições semanais lançadas em setembro e outubro de 2014, seria lançada Deadpool: Dracula's Gauntlet, na qual Deadpool enfrenta o Rei dos Vampiros e se apaixona por Shiklah.

Entre dezembro de 2014 e março de 2015, em quatro edições com roteiro de Peter David e arte de Koblish, seria lançada Deadpool's Art of War, a versão Deadpool do famoso livro A Arte da Guerra, de Sun Tzu. Em seguida, seria a vez de Return of the Living Deadpool, em quatro edições lançadas entre abril e julho de 2015, com roteiros de Bunn e arte de Nicole Virella, continuação de Night of the Living Deadpool. E, entre julho e agosto de 2015, também em quatro edições, seria laçada Deadpool's Secret Secret Wars, com roteiros de Bunn e arte de Lolli, uma recontagem da minissérie Guerras Secretas original, de 1984, mas com Deadpool tendo um papel importantíssimo - sendo, inclusive, o primeiro hospedeiro do simbionte do Homem-Aranha, que mais tarde se tornaria Venom. Deadpool's Secret Secret Wars introduziria uma personagem importantíssima do universo de Deadpool: Gwenpool, na verdade Gwendolyne Poole, uma mercenária adolescente que idolatra Deadpool e quer ser como ele - e que foi originalmente criada como uma paródia da Gwen Staci Mulher-Aranha, cuja revista se chamava Spider-Gwen.

Em quatro edições quinzenais entre novembro e dezembro de 2015, seria lançada Deadpool vs. Thanos, com roteiros de Tim Seeley e arte de Elmo Bondoc, na qual o Mercenário Tagarela e o Titã Louco disputam o amor da Morte. Entre fevereiro e abril de 2016, em três edições, seria lançada Deadpool & Cable: Split Second, na qual Deadpool é contratado para matar um homem que Cable deve proteger a todo custo, ou o futuro será alterado, com roteiros de Nicieza e arte de Reilly Brown. E, em cinco edições, entre agosto e dezembro de 2016, seria lançada Deadpool V Gambit: The "V" is for "Vs." (uma sátira ao título do filme Batman v Superman), com roteiros de Ben Ackler e arte de Ben Blacker, na qual os dois são contratados para a mesma missão, mas ambos acham que conseguem concluí-la sozinhos.

Em abril de 2016, Deadpool seria o líder de uma equipe mercenária na minissérie Deadpool & The Mercs For Money, com roteiros de Bunn e arte de Espin. A minissérie, que teria cinco edições, a última publicada em agosto, e traria a estreia de Masacre, um homem mexicano que, após ser salvo por Deadpool, decide imitá-lo e se tornar um mercenário (e que também é uma espécie de piada interna, já que Masacre é o nome de Deadpool nos países de língua espanhola), faria um grande sucesso e daria origem a uma segunda minissérie, também chamada Deadpool & The Mercs For Money, com roteiros de Bunn e arte de Iban Coello. Com 10 edições publicadas entre setembro de 2016 e junho de 2017, essa minissérie traria para o universo de Deadpool a mutante Míssil Adolescente Megassônico, que originalmente era das histórias dos X-Men, mas foi trazida para as de Deadpool após seu sucesso no filme - com sua aparência nos quadrinhos inclusive sendo alterada para ficar igual à da atriz Brianna Hildebrand, que a interpreta no filme.

Também em 2016, Deadpool e o Homem-Aranha ganhariam uma revista na qual viveriam aventuras em dupla, chamada Spider-Man/Deadpool, com direito a um logotipo que era metade a máscara do Homem-Aranha, metade a de Deadpool; com roteiros de Kelly e arte de McGuinness, a revista teria nada menos que 50 edições mensais (mais uma edição .1, de novembro de 2017), lançadas entre março de 2016 e julho de 2019. Entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, em cinco edições quinzenais, seria lançada a minissérie Deadpool: Back in Black, com roteiros de Bunn e arte de Espin, somente com histórias ambientadas entre o Homem-Aranha se livrar do simbionte e ele se unir a Eddie Brock, nas quais ele brevemente se uniu novamente a Deadpool. Entre dezembro de 2016 e março de 2017, em quatro edições com roteiros de Joshua Corin e arte de Todd Nauck, seria lançada Deadpool: Too Soon?, na qual Deadpool enfrenta Rocky Racum, Groot, o Homem-Formiga, a Garota-Esquilo, o Justiceiro e Howard, o Pato, para descobrir quem matou o Forbush Man.

Entre março e maio de 2017, em cinco edições quinzenais, com roteiros de Stuart Moore e arte de Jacopo Camagni, seria lançada Deadpool The Duck, na qual, depois de um acidente bizarro, Deadpool e Howard passam a compartilhar o mesmo corpo; o mercenário tenta concluir sua missão mesmo assim, mas de vez em quando a mente de Howard assume o controle, colocando tudo a perder. Em maio, Deadpool ganharia sua primeira graphic novel, Deadpool: Bad Blood (publicada no Brasil como Deadpool: Sangue Ruim), com roteiro de Chris Sims e Chad Bowers e arte de Liefeld, na qual ele deve enfrentar outro mercenário, chamado Thumper, que teve um papel importante em seu passado, mas do qual ele não se lembra.

Entre junho e agosto de 2017, também em cinco edições quinzenais, seria a vez de Deadpool vs. The Punisher, com roteiros de Fred Van Lente e arte de Pere Pérez, na qual os caminhos de Deadpool e do Justiceiro se cruzam em uma missão que apenas um dos dois poderá cumprir. Entre setembro e novembro, mais uma vez em cinco edições quinzenais, seria lançada Deadpool Kills the Marvel Universe Again, continuação da primeira minissérie, na qual o mercenário mata mais heróis Marvel, novamente com roteiros de Bunn e arte de Talajic. Entre dezembro de 2017 e março de 2018, em cinco edições mensais, Deadpool enfrentaria a versão idosa de Wolverine em Deadpool vs. Old Man Logan, com roteiros de Declan Shalvey e arte de Mike Henderson.

Em julho de 2018 seria lançado um projeto ambicioso, You Are Deadpool, com roteiros de Al Ewing e arte de Espin, em cinco edições, a última lançada em novembro; cada edição continha uma aventura ao estilo "você decide", na qual o leitor podia escolher qual curso de ação Deadpool iria tomar e influenciar o curso da história. Entre agosto e outubro de 2018, seria lançada Deadpool: Assassin, minissérie em seis edições quinzenais com roteiros de Bunn e arte de Mark Bagley, na qual a missão de Deadpool o leva a um castelo lotado de ninjas. Também em seis edições quinzenais, entre novembro de 2018 e janeiro de 2019, seria lançada Secret Agent Deadpool, com roteiros de Hastings e arte de Espin, na qual Wade é contratado para usar apetrechos ao estilo 007 para deter uma organização criminosa chamada GORGON. E, em cinco edições mensais, entre dezembro de 2018 e abril de 2019, seria a vez de Black Panther vs. Deadpool, na qual o mercenário é contratado para roubar vibrânio de Wakanda, com roteiros de Daniel Kibblesmith e arte de Ricardo Lopez Ortiz.

Em agosto de 2018, o Mercenário Tagarela ganharia uma nova revista regular chamada Deadpool, com numeração recomeçando do 1, roteiros de Skottie Young e arte de Nic Klein. Nessa nova revista, Deadpool é a única esperança da Terra para deter o alienígena Groffon, o Regurgitador, que pode destruir todo o planeta. Essa série não faria muito sucesso, e, após 15 edições mensais, a última de setembro de 2019, e uma anual, a Marvel a substituiria por uma nova Deadpool, com numeração recomeçando do 1, roteiros de Kelly Thompson e arte de Chris Bachalo. Essa série sofreria com atrasos e não conseguiria manter uma periodicidade fixa, sendo cancelada após apenas 10 edições, publicadas entre janeiro de 2020 e março de 2021. Depois disso, Deadpool ficaria pela primeira vez mais de um ano sem uma nova revista regular, com a Deadpool seguinte só sendo lançada em janeiro de 2023, com roteiros de Alyssa Wong e arte de Martin Coccolo, mas, mais uma vez, ela não faria sucesso e teria apenas 10 edições, a última de outubro de 2023.

Deadpool seguiria estrelando várias minisséries, como Absolute Carnage vs. Deadpool, parte da saga Carnificina Absoluta, lançada em três edições entre outubro e dezembro de 2019, com roteiros de Tieri e arte de Marcelo Ferreira; Deadpool: Black, White and Blood, em preto, branco e vermelho, com várias histórias curtas de diversos autores, em quadro edições publicadas entre outubro de 2021 e janeiro de 2022; Deadpool: Badder Blood, continuação de Bad Blood, com roteiros de Bowers e arte de Liefeld, em cinco edições publicadas entre agosto e dezembro de 2023; uma nova versão da Deadpool Team-Up, em quatro edições lançadas entre agosto e dezembro de 2024, com roteiros e arte de Liefeld, na qual Deadpool lidera uma equipe composta por Wolverine, Hulk, Crystar, Major X e Gwen Stacy; e Venom War: Deadpool, parte da saga Venom War, na qual o mercenário enfrenta uma horda de simbiontes zumbis, com roteiros de Bunn e arte de Roberto di Salvo, em três edições lançadas entre outubro e dezembro de 2024.

A mais recente série regular de Deadpool seria lançada em junho de 2024, com roteiros de Cody Ziglar e arte de Roge Antonio, mais uma vez com o nome de Deadpool - a oitava série com esse nome, para quem estiver contando - na qual ele decide treinar sua filha, Ellie, para também ser uma mercenária. Resta saber se essa série será duradoura como as primeiras ou cancelada em menos de um ano como as mais recentes.
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sábado, 1 de fevereiro de 2025

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Contos de Fadas BLOGuil (II)

Hoje teremos mais um dos já famosos Contos de Fadas BLOGuil, dessa vez com o meu preferido, o primeiro que eu revisei para postar no Crônicas de Categoria. Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu.





Sinderélia

Era uma vez Sinderélia da Silva, uma menina muito bonita e simpática que morava no Morro do Besourão. Sua mãe havia morrido quando ela era muito pequena, mas seu pai, graças a uma van que comprou de segunda mão, sempre havia conseguido dar a ela uma vida boa e confortável, com muito carinho e amor. Tudo o que ela mais gostava na vida era dançar no baile funk, tirar selfie com as amigas e postar no Instagram, onde, graças à sua beleza, já havia conquistado 3k seguidores. Um dia, porém, seu pai resolveu se casar de novo, e a vida de Sinderélia começou a mudar.

A madrasta malvada de Sinderélia obrigava a pobre adolescente a fazer todo o trabalho doméstico, enquanto ela passava o dia inteiro no salão, fazendo as unhas e o cabelo. Sinderélia era obrigada a lavar, passar, cozinhar, limpar o banheiro, faxinar a casa, tirar o lixo, consertar o liquidificador que vivia dando problema e ainda cuidar de Réqui, um vira-latas manco que sua madrasta havia trazido de sua antiga casa. Para piorar, Sinderélia ganhou duas irmãs feias e invejosas de sua graça e beleza, que usaram todas as suas calças da Korova e sandálias Anabela, tornando-as imprestáveis. Seu pai, ocupado pilotando a van o dia inteiro, não sabia o que se passava, e ainda era enganado pela cruel madrasta, que sempre lhe dizia que estava tudo bem com sua filha quando chegava à noite em casa. Para que Sinderélia não desse com a língua nos dentes e revelasse seus maus tratos, a madrasta a chantageava, ameaçando trocar a senha do wifi caso o pai descobrisse alguma coisa. A pobre Sinderélia sofria calada, e nem mesmo dormir em sua confortável cama podia, já que as irmãs feias haviam se apoderado dela, obrigando nossa heroína a dormir sobre um monte de tijolos que sobraram do último puxadinho que seu pai construíra.

Um dia, aconteceria um mega baile funk, com a presença do MC Príncipe, o mais famoso e cobiçado da comunidade. MC Príncipe havia declarado em seu canal do YouTube que sempre sonhara em se casar com uma das meninas da comunidade em que nasceu, e que este baile poderia ser a oportunidade perfeita para que ele conhecesse sua futura noiva. Evidentemente, as irmãs feias de Sinderélia se assanharam, e pediram para que a mãe as levasse ao baile. Sinderélia também queria ir, mas, como mesmo toda arrebentada da labuta desumana diária à qual era submetida ela ainda era muito mais bonita que as irmãs, a madrasta ficou com medo da concorrência, e a amarrou ao pé da cama. O pai de Sinderélia não estaria em casa para salvá-la, pois havia se comprometido a levar um grupo de turistas até Caxias.

Assim, a pobre Sinderélia chorou e chorou, e seus lamentos foram ouvidos por sua fada-madrinha: Kaylane, esposa de número três de Andrezinho Fortinaite, o traficante local. Amiga de infância de Sinderélia, Kaylane ouviu seus lamentos e decidiu ajudá-la. Chamou imediatamente sua manicure, cabeleireira e dermatologista particulares para dar um trato na menina, além de emprestar para ela várias roupas de grife, tudo do bom e do melhor ainda, para que Sinderélia fosse a tchutchuca mais glamourosa do baile. Kaylane ainda pediu para que Gorilão, seu motorista particular, a levasse ao baile em seu Mercedes cor de abóbora. Tudo isto tinha apenas uma ressalva: Sinderélia deveria estar de volta até meia-noite, pois, neste horário, Fortinaite estaria retornando de sua invasão ao morro vizinho, e, se soubesse que ela ajudou alguém sem sua permissão, iria tirar o couro dela.

Assim que Sinderélia chegou ao baile, todos os homens colocaram os olhos nela, inclusive o MC Príncipe, que ordenou a seus seguranças que a levassem imediatamente ao palco. Sinderélia estava tão deslumbrante que suas irmãs feias nem a reconheceram. Ela dançou com Príncipe a noite toda, enquanto ele cantava seus maiores sucessos. À meia-noite, MC Príncipe já estava pronto para anunciar que finalmente havia encontrado sua Princesa, mas Sinderélia teve de fugir pela porta dos fundos. Na pressa, ela deixou para trás um dos pés da exclusiva Melissinha Crystal que Kaylane lhe emprestara, que foi recolhida e guardada com muito carinho pelo funkeiro.

Sinderélia voltou à sua vida de escravidão, enquanto o MC Príncipe procurava casa por casa pela dona daquele sapatinho tão especial. Ao chegar na casa de Sinderélia, as irmãs feias imediatamente disseram que era delas, mas não colou, pois a Melissinha era 35, e elas calçavam 40. Príncipe então viu Sinderélia vestida com trapos, toda suja e arranhada, esfregando o chão da cozinha. Algo em seu rosto o fez lembrar de sua musa do baile anterior, e ele decidiu dar a Melissinha para que ela experimentasse.

Assim que Sinderélia calçou a sandalhinha, como que por um passe de mágica, Andrezinho Fortinaite meteu o pé na porta, furioso atrás da safada que tinha roubado a exclusivíssima Melissinha Crystal de sua esposa Kaylane. Mais do que depressa, Príncipe jogou a Melissinha nas mãos da madrasta malvada, que foi levada para destino incerto e não sabido pelos capangas do traficante.

Sob as bênçãos da comunidade, MC Príncipe se casou com sua Sinderélia, e todos viveram felizes para sempre. Menos a madrasta, talvez.
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sábado, 25 de janeiro de 2025

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Esportes Nômades

Eu sou completamente fascinado pelos Jogos Mundiais Nômades, desde que descobri que eles existem. Não sei se pelo fato de descobrir que existe mais um torneio esportivo do qual pouca gente aqui no Brasil já ouviu falar - "mais um" porque algo semelhante aconteceu quando eu descobri que existiam os World Games - ou porque os esportes do programa são verdadeiramente exóticos, completamente diferentes dos que a gente está acostumado, mas eu busco me informar sobre tudo o que tenha relação com o torneio, o que nem sempre é fácil, já que quase não há informações em inglês e eu não falo nem quirguiz, nem cazaque, as duas línguas nas quais a maior parte das informações está disponível na internet. Evidentemente, desde que eu descobri que o torneio existe, eu também tenho tentado falar sobre os esportes do programa aqui no átomo, os inserindo em posts sobre esportes que tenham relação com eles, ou escrevendo posts específicos, como os do buzkhashi e do ordo.

Acontece que alguns desses esportes não se encaixam em lugar nenhum, nem têm detalhes suficientes para ganhar um post só deles, e deles eu já tinha meio que desistido, achando que nunca falaria sobre eles aqui. Só que a edição mais recente, realizada em Astana, Cazaquistão, no ano passado, trouxe mais alguns esporte novos, o que me animou a juntar todos e escrever esse post. Hoje, portanto, é dia, no átomo, de cinco esportes que fizeram parte dos Jogos Mundiais Nômades sobre os quais eu ainda não havia falado. De esportes nômades, por falta de um título melhor para o post.

E vamos começar por um verdadeiramente exótico, o salbuurun, que não surgiu como um esporte, mas como uma necessidade: na antiguidade, os povos nômades da Ásia Central precisavam caçar pequenos animais para obter carne e peles necessárias à sua subsistência, mas acreditavam que matar animais usando armas, como lanças e machados, era cruel e danificava o couro dos bichos. Eles, então, decidiram treinar aves de rapina para caçar por eles, considerando que a ave matar o animal era mais misericordioso e mais limpo, já que ela não mata com suas garras ou bico, mas quebrando seu pescoço. Esse treinamento não era exclusivo da Ásia Central, sendo conhecido em diversos lugares como falcoaria; o que acontece é que a arte tinha esse nome justamente por usar falcões, que, na região que hoje corresponde ao Quirguistão, eram considerados pouco eficientes. Os nômades da região, então, decidiriam ousar e treinar a águia dourada, mais letal animal alado da Ásia Central e um dos mais poderosos e inteligentes do mundo, para enviá-la em missões de caça. A águia dourada é tão forte que podia caçar não somente coelhos e raposas, mas também lobos, contribuindo, dessa forma, para a segurança da aldeia.

A maioria das aldeias possuía apenas um ou dois treinadores - chamados berkutchi, já que a águia dourada, em quirguiz, é berkut - com a tradição sendo passada de pai para filho. Um dos motivos é que o treinamento é dificílimo, e um berkutchi literalmente dedica sua vida a seu ofício. Para que uma águia seja considerada totalmente treinada e confiável, o treinador leva entre 3 e 4 anos, com o processo começando com o berkutchi capturando um filhote de águia diretamente do ninho - o que é extremamente perigoso, já que ele pode ser atacado e até mesmo morto pela mamãe águia. Uma vez que o filhote tenha sido adquirido, o berkutchi tem que ficar junto a ele 24 horas por dia, para que o reconheça como um amigo e para que se torne dependente dele - durante toda a sua infância, a águia não poderá se alimentar sozinha, com toda a sua alimentação devendo ser providenciada pelo berkutchi. Parte do treinamento também envolve manter a águia no escuro, com a cabeça coberta por um capuz de couro, enquanto o treinador conversa com ela e canta para ela, para que ela se acostume e reconheça sua voz e seus comandos.

Uma vez que a águia esteja pronta para o treinamento prático, é usada uma raposa empalhada, presa a uma corda. Esse treinamento faz com que a águia se acostume a matar mas não comer a presa, nem carregá-la para longe - e o fato de a raposa ser empalhada e estar presa também permite que ela seja usada no treinamento de várias águias. A águia também é treinada para, depois de matar o animal, voltar e pousar na mão do berkutchi, que usa uma luva especial de couro, sem trazê-lo, para não se cansar. Quando a águia está suficientemente treinada com a raposa empalhada, o berkutchi passa a levá-la para caçar animais reais, mantendo sua cabeça coberta até avistar uma presa em potencial. Como recompensa, a águia recebe uma pequena parte da carne de cada animal que matar logo após o treinador recuperá-lo; o restante é levado para a aldeia, onde o restante da carne e a pele serão aproveitados.

Uma águia dourada pode viver cerca de 40 anos caso não ocorra nenhum acidente, de forma que são raros os berkutchi que treinam mais de uma ao longo da vida. Águia e berkutchi têm um relacionamento monogâmico, com o animal sendo considerado parte da família do treinador, que, quando está fora da temporada de caça, ainda precisa passar a maior parte de seu tempo conversando com a águia e a alimentando, senão há o risco de ela voltar a ser selvagem e todo o treinamento ser perdido. A tradição manda que, quando a águia passa dos 20 anos de idade, o berkutchi a liberte para que ela passe pelo menos metade de sua vida como o animal selvagem que ela nasceu para ser. O treinamento é tão eficaz, entretanto, que as águias não querem se separar de seus treinadores, levando cerca de uma semana para, naturalmente, decidirem voltar à vida selvagem, com o treinador não podendo obrigá-la nem maltratá-la para que ela retorne mais cedo.

O tempo passou, e a caça parou de ser necessária, com os povos nômades deixando de ser nômades, se estabelecendo em vilarejos que se transformariam em cidades, e passando a se dedicar à agricultura e à criação de animais. A caça usando águias poderia ter desaparecido completamente nessa época, se não fosse pelo fato de que, devido à sua importância para a sobrevivência das aldeias, as águias douradas passaram a ser consideradas animais sagrados, com os berkutchi, ganhando status elevado dentre a população, se tornando guardiões das técnicas que possibilitavam a ajuda dos animais durante as caçadas, seguindo com o treinamento mesmo que esse já não fosse vital. Ainda assim, o número de berkutchi decrescia a cada ano, até que, em 1997, o governo do Quirguistão, para evitar que a tradição desaparecesse, decidiu criar a Federação Nacional de Salbuurun, nome que criou para um esporte que envolve, dentre outras coisas, a caça usando a águia dourada.

A prática do salbuurun como esporte não começaria em 1997, entretanto; praticamente desde que a caça parou de ser essencial à subsistência do povo quirguiz, treinadores de todo o país se reuniam em festivais, o mais famoso deles em Issyk Kul, onde ainda estão a maioria dos berkutchi, para exibir suas técnicas em festivais, durante os quais a carne dos animais caçados é usada para banquetes comemorativos, a pele para artesanato vendido a turistas, e as próprias demonstrações de caçada sirvam para manter o interesse dos jovens no ofício. O que a Federação de Salbuurun fez foi estabelecer regras para que o esporte pudesse ser disputado de forma competitiva ao invés de somente como demonstração, o que também ajuda em sua popularização. A Federação de Salbuurun também mantém um registro de todos os berkutchi em atividade no país, bem como de suas águias, devidamente identificadas e registradas, para garantir a seriedade do treinamento.

A Federação de Salbuurun também atua em conjunto com guias turísticos, para que esses berkutchi possam ser contratados para demonstrações de caçada para grupos de turistas, contribuindo com sua renda. Existe até mesmo uma cidade, Bokonbayevo, com um local próprio e famoso para as demonstrações, visitada por centenas de turistas todos os anos. Curiosamente, ao contrário de outras federações esportivas, a Federação de Salbuurun, que só atua a nível nacional no Quirguistão, não tem interesse em internacionalizar o esporte, já que a águia dourada é um animal nativo do Quirguistão, os berkutchi são considerados parte da história e tradição quirguiz, e estimular que um monte de forasteiros saia por aí treinando águias somente para competir pode levar à destruição do que eles estão querendo preservar. As regras do esporte, então, foram pensadas para que competidores internacionais possam usar seus próprios pássaros, sejam eles águias, falcões ou gaviões.

O salbuurun esportivo é um esporte em equipes, com cada equipe contando com um líder, que é uma espécie de técnico, e três competidores, que são os treinadores dos animais usados. Cada treinador compete separadamente, mas os pontos que cada um fizer são somados para determinar a pontuação total da equipe. As equipes são pareadas duas a duas e aquela com mais pontos avança, até que só reste a equipe campeã. Em cada torneio, são disputadas três disciplinas, cada uma contando com um vencedor em separado. O salbuurun fez parte do programa de duas edições dos Jogos Mundiais Nômades, ambas disputadas no Quirguistão, em 2016 e 2018, contando com participantes do Quirguistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Mongólia, Rússia, Geórgia e Itália.

A primeira disciplina se chama burkut saluu, e é a que deriva da caçada original com águias. Cada equipe conta com o líder e três berkutchi, e competirá em duas provas. A primeira se chama chyrga, e nela um representante da organização vai à frente galopando um cavalo que arrasta, amarrado por uma corda, um "animal falso", feito de peles de raposa; quando esse animal está a 150 metros do local onde o berkutchi está, ele lança sua águia para atacá-lo. Cada berkutchi pode lançar sua águia apenas uma vez, sendo avaliados a velocidade e a força do ataque. Se tudo estiver dentro dos parâmetros, o berkutchi ganha um ponto. Na segunda prova, chamada undok, a águia começa em um poleiro a 200 m do berkutchi, que, a um sinal do árbitro, a chama, agitando em sua mão uma isca. Mais uma vez, o berkutchi só pode chamar a águia uma vez, e ganha um ponto caso ela venha e pouse em sua mão dentro de um minuto. Os pontos de ambas as provas são somados para determinar a equipe vencedora, e o tempo que as águias levaram para completar as provas é usado como critério de desempate.

A segunda disciplina se chama dalba oinotuu, e usa falcões ao invés de águias, com os treinadores se chamando kushchu. Cada kuschu tem uma corda de 1,5 m de comprimento na ponta da qual há um "pombo falso", feito de penas de pombo, faisão e perdiz. No início da competição, o kushchu se posiciona numa área delimitada por cones, lança seu falcão a voo, e começa a girar o pombo falso acima de sua cabeça, imitando os movimentos de um pombo verdadeiro. Durante três minutos, o falcão atacará o pombo, sendo avaliados sua velocidade e força. Para cada vez que o falcão atacar o pombo corretamente, o kushchu ganhará um ponto. A cada vez que o falcão atacar o pombo, o kushchu deve dar-lhe um petisco como recompensa, que carrega em uma espécie de pochete, lançá-lo a voo novamente e começar a girar o pombo novamente, com o relógio ficando parado enquanto o falcão não estiver voando.

A terceira disciplina se chama taigan zharysh, e nela são usados cães de caça, da raça taigan, característica da Ásia Central. Assim como na chyrga, um representante da organização vai à frente galopando um cavalo que arrasta um animal falso, que pode ser feito de peles de raposa ou de lebre. O cavalo corre uma distância de 350 m a uma velocidade entre 60 e 65 km/h. A um comando do árbitro, três treinadores da mesma equipe soltam seus cachorros simultaneamente, com a prova terminando assim que um deles alcança o animal. Cada embate é determinado em melhor de três, ou seja, primeiro a equipe A solta seus cachorros, então a B, e aquela cujo cachorro alcançou o animal em menos tempo ganha um ponto, com tudo se repetindo novamente, sendo vencedora e avançando a equipe que primeiro somar dois pontos.

O salbuurun tem um "parente" nascido no Cazaquistão, o kusbegilik. O kusbegilik é regulado pela Associação de Etnoesporte do Cazaquistão, e, assim como o salbuurun, nasceu de uma tentativa de preservar a tradição de caça com aves de rapina, que também existia naquele país. O kusbegilik também tem três disciplinas, mas todas as três usam aves de rapina, e, ao contrário do salbuurun, que usa animais falsos, suas competições usam animais vivos, o que tem sido durante anos motivo de protesto de entidades de defesa dos animais. Em 2015, o governo do Cazaquistão criaria uma comissão para avaliar e restringir o uso de animais vivos, mas ela decidiria proibir apenas o uso de lobos, mantendo o de raposas, lebres e pássaros. O kusbegilik fez parte do programa dos Jogos Mundiais Nômades de 2024, disputados em Astana, Cazaquistão; participaram treinadores do Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Geórgia, Mongólia, Hungria, Turquia, China, Canadá e Islândia.

De forma diferente do salbuurun, o kusbegilik é um esporte individual. Cada disciplina é dividida em um número de provas, com todos os treinadores participando de todas as provas da disciplina, e sua pontuação em cada prova sendo somada para determinar o vencedor, que será aquele com a maior pontuação final. Caso haja empate, o tempo que as aves levaram para completar cada prova é usado como critério de desempate.

A primeira disciplina é a das águias, chamada burkit, e é dividida em três provas. A primeira é parecida com a undok; nela o treinador começa montado em um cavalo, e a águia em um poleiro a uma distância de 500 metros. A um comando do árbitro, o treinador deve chamar a águia apenas uma vez, e, dentro de um minuto, ela deve levantar voo e pousar em seu braço. Caso isso aconteça, o treinador ganha 10 pontos; se ela primeiro pousar em outro lugar, depois na mão dele, ganha 5 pontos; se ela voar, mas estourar o tempo, 1 ponto; e se nem voar, 0 ponto. A segunda é parecida com a chyrga, e nela um representante da organização vai a cavalo arrastando um coelho, em um trajeto entre 350 e 500 metros. A um comando do árbitro, o treinador lança a águia em direção ao coelho: se ela o pegar em um único movimento, ganha 10 pontos; se fizer um círculo ou tocar o solo antes de pegá-lo, 5 pontos; se alcançar o coelho mas não pegá-lo, 1 ponto; e, se o cavalo chegar ao final da pista sem que a águia tenha alcançado o coelho, 0 ponto. Na terceira prova, o treinador está montado a cavalo, com a águia em seu braço com a cabeça coberta, e uma raposa é escondida no meio da vegetação. A um comando do árbitro, a cobertura é removida, e a águia tem 1 minuto para atacar a raposa. Se o ataque ocorrer, o treinador ganha 10 pontos, com 1 ponto sendo deduzido para cada vez que a águia tocar no chão. Se o tempo estourar, o treinador ganha 1 ponto, e, se a águia não voar, ou voar na direção errada, 0 ponto. Até 2015, havia uma quarta prova, a da caça ao lobo, que atualmente está suspensa.

A segunda disciplina se chama itelgi, e é disputada com falcões, dividida em quatro provas, sendo que a primeira é idêntica à da águia, mas com o falcão começando a 300 metros. A segunda é parecida com a dalba oinotuu, com o treinador girando um pombo numa corda e o falcão tendo 3 minutos para atacá-lo, ganhando 1 ponto cada vez que o acerta. A terceira é idêntica à terceira da águia, com a mesma pontuação, mas é usado um faisão. A quarta também é idêntica, mas sendo usado um coelho.

A terceira disciplina usa gaviões, e se chama karshyga. São três provas, com mais uma vez a primeira sendo idêntica, mas com o gavião começando a uma distância de 200 metros. Na segunda, um pombo é solto no ar, e o gavião deve atacá-lo em pleno voo; o ataque vale 10 pontos, com 1 ponto sendo deduzido a cada vez que o gavião ataca o pombo mas não o mata. Há um limite de tempo de 1 minuto, que, se estourar sem que o gavião tenha matado o pombo, o treinador ganha apenas 1 ponto. Se o gavião não atacar o pombo nenhuma vez, o treinador ganha 0 ponto. A terceira prova é idêntica à quarta prova do falcão.

Vamos passar agora para o asyk atu, um parente do ordo, que nós já vimos aqui em um outro post do átomo. Assim como o ordo, o asyk atu usa ossos do tornozelo de ovelhas como peças; em quirguiz, essa peça se chama alchick, mas, em cazaque, se chama asyk, com atu significando "jogo" - ou seja, asyk atu é o "jogo do asyk". Assim como no ordo, o objetivo é arremessar um asyk para acertar outros asyks que começam o jogo no chão. Todo o resto é diferente, entretanto. O asyk atu também fez parte somente dos Jogos Mundiais Nômades de 2024, contando com a participação de 12 países. Diferentemente do ordo, ele é disputado no masculino e no feminino, e conta com competições individuais e por equipes, com cada equipe sendo composta por três jogadores; a disputa pode ocorrer ao ar livre ou em ambiente fechado.

É interessante registrar que, no Cazaquistão, é vendida uma espécie de tapete, já com todas as marcações necessárias, e normalmente decorado, que basta estendê-lo no chão e o jogo já pode ser praticado, em qualquer lugar. Essas marcações são duas linhas, uma 12 m de comprimento, outra de 1,15 m, que se cruzam exatamente em seu centro, e um círculo de 10 m de diâmetro, centrado na interseção dessas duas linhas. Sobre a linha menor, serão posicionados 15 asyks; cada jogador também tem um asyk, maior e de cor diferente, chamado saka. Posicionado da ponta da linha vertical, ou seja, a 6 metros dos asyks, o jogador deverá arremessar o saka para que ele acerte um dos asyks, com força suficiente para que ele saia do círculo. Se conseguir, o jogador tem direito a um novo arremesso; se não, o asyk volta para sua posição inicial, e a vez passa para o oponente. Os jogadores alternam os lados da linha a cada arremesso, passando para a outra ponta quando o arremesso é bem sucedido, e com o jogador seguinte arremessando da ponta oposta ao que o anterior estava quando errou. Em jogos por equipes, os jogadores se alternam conforme entram em jogo, ou seja, primeiro o jogador A1, quando ele errar o B1, quando ele errar o A2, quando ele errar o B2, e assim por diante.

A partida é disputada em melhor de cinco meetings, com o jogador ou equipe que primeiro ganhar três meetings vencendo da partida. Cada meeting tem duração máxima de 15 minutos, sendo vencedor quem tiver mais pontos ao final desse tempo, exceto se um jogador ou equipe conseguir 8 pontos, quando o meeting será imediatamente encerrado com sua vitória. Caso o tempo do meeting termine com um empate, é jogado um tie break de 3 minutos; persistindo o empate, cada jogador ou equipe terá direito a três tentativas (no caso das equipes, uma por jogador), mas arremessando da linha do círculo, ou seja, a 5 metros. Se, mesmo assim, persistir o empate, é feita uma espécie de sorteio, com cada jogador jogando um asyk e ganhando uma determinada quantidade de pontos de acordo com o lado que ficar para cima, como se ele fosse um dado, até que um ganhe mais pontos que o outro.

O asyk atu é um dos passatempos mais antigos do mundo, com peças e tabuleiros sendo encontrados em sítios arqueológicos que datam do século I. Sua transformação em esporte, porém, é bastante recente, sendo creditada a dois cientistas, Zh.S. Sabyrzhanov e E.B. Narymbaev, que, em 2011, publicaram um conjunto de regras que acreditavam ser o mais próximo possível das originais e submeteram o trabalho ao Ministério do Esporte do Cazaquistão. Em 2013, o asyk atu seria considerado esporte pelo governo cazaque, que implementaria sua prática em todas as escolas públicas do país; em 2017, ele seria considerado pela UNESCO patrimônio imaterial da humanidade, e, em 2018, seria fundada a Federação Internacional de Asyk Atu, sediada no Cazaquistão, que hoje conta com 18 membros, todos da Ásia e Europa. Devido às (poucas) semelhanças entre o asyk atu e o ordo, jogadores de um costumam participar de torneios do outro, e uma equipe cazaque de asyk atu até mesmo já foi campeã de um torneio de ordo disputado no Quirguistão em 2021.

Nas escolas do Cazaquistão, o asyk atu é ensinado exclusivamente para os meninos; as meninas disputam um jogo chamado bes asyk, também regulado pela Federação Internacional de Asyk Atu. Nele, cada jogador tem quatro asyk e um saka, e joga com seus próprios, sem que eles sejam compartilhados. Os jogadores se posicionam sentados no chão, de pernas cruzadas, podendo ser usado o tapete do asyk atu ou outra cobertura para que a superfície de jogo fique uniforme. Uma partida inteira tem 12 rodadas, cada uma com um nome e regras próprias; caso falhe em cumprir qualquer uma das regras da rodada, o jogador encerra sua participação, mas os outros continuam avançando até todos serem eliminados ou concluírem a última rodada.

Antes de cada uma das três primeiras rodadas, o jogador coloca os quatro asyks e o saka na mão, e, com um movimento próprio, os espalha à sua frente, pegando então o saka com uma das mãos e deixando os asyks no chão. Cada rodada tem uma quantidade de movimentos necessários e uma quantidade de asyk que o jogador deverá recolher com cada movimento. A cada movimento, o jogador joga o saka para cima, recolhe a quantidade de asyks requerida, e então deve pegar o saka com a mesma mão que o lançou. Os asyks recolhidos não ficam na mão que vai pegar o saka quando ele descer, devendo ser separados; o método mais usado é o jogador apoiar sua outra mão no chão, com a palma para cima, e usá-la para separar os asyks recolhidos, mas eles podem simplesmente ser colocados próximos ao corpo do jogador. Na primeira rodada, chamada birlik, a cada vez que jogar o saka para cima, o jogador deverá recolher um dos asyks, ou seja, precisará de quatro movimentos para concluir a rodada. Na segunda, chamada ekilik, a cada vez que jogar o saka para cima, o jogador deverá pegar dois asyks, concluindo a rodada em dois movimentos. Na terceira, ushtik, são necessários dois movimentos: da primeira vez em que jogar o saka pra cima, o jogador pega três asyks, e, da segunda, o que ficou sobrando.

As rodadas seguintes possuem algumas regras diferentes. Na quarta, torttik, o jogador não espalha os asyks antes de começar: ele primeiro joga o saka pra cima, então deve arrumar os quatro asyks da forma que quiser, pegar o saka, jogá-lo novamente para cima, recolher todos os quatro asyks em um único movimento, separá-los, e então pegar o saka que está caindo. Na quinta, zhalak, os asyks sequer são usados: primeiro o jogador joga o saka para cima, então bate com a mão cinco vezes no chão e pega o saka de novo. Na sexta, alakan, os asyks voltam a ser espalhados, mas não são separados após recolhidos, devendo ficar na mão que vai pegar o saka, sendo usada a mesma regra da primeira rodada, com quatro movimentos e os asyks sendo recolhidos um por vez. Na sétima rodada, tort burysh, primeiro os asyks são arrumados para formar um quadrado de forma que fiquem todos equidistantes e a no mínimo 7 cm uns dos outros, então o saka é jogado para cima, todos são recolhidos em um único movimento, e o jogador pega o saka com os asyks ainda na mão.

Na oitava rodada, almastyru, primeiro o jogador espalha os asyks, então ele joga o saka para cima, pega um dos asyks e, com ele ainda na mão, pega o saka. Então ele joga o saka novamente para cima, devolve o asyk para o mesmo lugar onde ele estava, pega outro asyk e pega o saka. Depois que ele tiver feito isso com todos os quatro asyks, um por um, ele joga o saka para cima, pega todos os quatro de uma vez e pega o saka com eles ainda na mão. A nona rodada, undemes, tem a mesma regra da sexta, mas com uma diferença: toda vez que o jogador pegar o saka, ele não pode fazer nenhum som, ou seja, não pode bater nos asyks que estão em sua mão. A décima rodada, sart-surt, é idêntica, mas ao contrário: o saka deve fazer som, obrigatoriamente acertando um dos asyks que o jogador tem na mão. A décima-primeira rodada, karshu, tem a mesma regra da primeira, mas o jogador deve pegar o saka com as costas da mão para cima, ou seja, capturando-o no ar ao invés de deixando ele cair na palma de sua mão.

Na décima-segunda e última rodada, otau, com a mão que não vai jogar o saka para cima, o jogador faz uma "caverna", apoiando-a no chão de forma que, entre o polegar e os outros dedos haja um arco, mais ou menos como um gol. Após jogar o saka para cima, o jogador, ao invés de recolher um asyk, deve dar um peteleco nele para que ele passe por dentro do arco, sem bater nos dedos, terminando seu movimento do outro lado. Os asyks levam petelecos um por um, sendo necessários quatro petelecos para completar a rodada.

Após todos os jogadores serem eliminados, é feita a rodada de pontuação: o jogador coloca seus quatro asyks e seu saka enfileirados na palma de sua mão, faz um movimento para jogá-los para cima e então vira a mão, devendo fazer com que eles pousem nas costas de sua mão. Então ele faz um movimento para jogá-los para cima de novo, vira novamente a mão e tenta recolhê-los na palma de sua mão, fechando a mão ao terminar. A pontuação de cada jogador será de 10 pontos para cada peça que tiver na mão após essas duas jogadas, multiplicados pelo número da rodada anterior àquela onde ele foi eliminado - o máximo de pontos que um jogador pode fazer, portanto, é 600, se conseguir completar a última rodada e pegar todas as cinco peças. Em caso de empate, ganha quem concluiu a última rodada em menos tempo, então quem concluiu a penúltima em menos tempo, e assim por diante.

O quarto esporte que veremos hoje é o tenge ilu, também originário do Cazaquistão, e que se parece um pouco com o tent pegging, outro esporte que já vimos aqui no átomo, com a principal diferença sendo que o tent pegging usa armas como espadas e lanças, enquanto no tenge ilu os competidores atuam com as mãos nuas. O tenge ilu foi esporte de demonstração nos Jogos Mundiais Nômades de 2022, em Izmir, Turquia, e esteve no programa principal dos de 2024. Além de no Cazaquistão, onde surgiu como treinamento de soldados antes de virar esporte, o tenge ilu é popular na Mongólia, Quirguistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Rússia e China; atletas do tent pegging também costumam se arriscar em alguns torneios.

O tenge ilu, que é regulado pela federação cazaque, e por enquanto não tem federação internacional, é disputado a cavalo, em uma pista de terra batida que tem 150 metros de comprimento por 20 de largura, delimitada em seu início e final por duas linhas brancas de 10 cm de largura cada. O objetivo de cada competidor é correr a cavalo por essa pista recolhendo os tenge, que, de longe, se parecem com petecas, mas são saquinhos de tecido, normalmente de cor vermelha, cheios de areia e com a boca amarrada por uma fita, de forma que parte do tecido forme um "penacho" na parte de cima; cada tenge tem aproximadamente 8 cm de altura, e deve pesar exatamente 200 g. O objetivo do cavaleiro é, se pendurando na lateral do cavalo, "recolher" o maior número de tenge possível; antigamente, isso exigia que ele pegasse o tenge e levasse até a linha de chegada, mas, atualmente, ele pode apenas zunir o tenge para fora da pista que ele será considerado recolhido, o que tornou as provas mais dinâmicas. Cada tenge recolhido vale 1 ponto.

Cada cavaleiro tem direito a duas passagens pela pista, com os pontos e o tempo de ambas sendo somados para determinar seu resultado final. Cada prova tem um tempo máximo, que, se estourar, resulta na perda de 1 ponto para cada segundo além do limite. O tenge ilu pode ser disputado de forma individual ou por equipes, e a competição pode ser eliminatória, com os cavaleiros ou equipes sendo pareados dois a dois, os vencedores avançando e os perdedores sendo eliminados, ou em etapas, com os melhores de cada etapa passando para a seguinte e o melhor da etapa final sendo o vencedor. Caso haja empate em pontos, o desempate é feito pelo tempo. É um esporte tradicionalmente masculino, mas alguns torneios já possuem provas femininas ou aceitam equipes mistas.

Cada partida conta com dois árbitros de início e fim, o de início localizado na linha de partida e o de fim na linha de chegada, cada um com uma bandeira verde, e um árbitro para cada tenge, localizado de forma paralela ao tenge, com uma bandeira vermelha. O árbitro de início levanta a bandeira quando o cavaleiro passa pela linha de partida, determinando que o tempo comece a contar, e o de fim levanta quando ele cruza a linha de chegada, determinando que o tempo pare de ser contado; cada árbitro de tenge levanta sua bandeira quando o tenge é corretamente recolhido. Os árbitros não ficam dentro da área de competição, e sim atrás de uma placa que delimita a pista na largura, e que também pode servir para expor patrocínio.

O tenge ilu possui três disciplinas. A mais popular se chama bes beles, e nela cada cavaleiro tem direito a 35 segundos na pista. Metade dos tenge é colocada do lado direito da pista e metade do lado esquerdo, e, na segunda passagem, o cavaleiro correrá no sentido contrário da primeira - ou seja, na segunda passagem a linha de chegada é a linha de partida e vice-versa. No início de cada passagem, cada tenge é posicionado a 10 m de distância do anterior. Nas etapas iniciais, são usados cinco tenge em cada passagem, o primeiro a 75 metros da linha de partida; nas etapas finais, são sete tenge, com o primeiro sendo posicionado a 65 m da linha de partida. Todos os tenge são posicionados de forma que o cavaleiro se pendure do lado direito do cavalo.

A segunda disciplina é a kos kulash, e é muito mais difícil. Pra começar, metade dos tenge estão do lado direito do cavaleiro, enquanto a outra metade está do lado esquerdo, o que significa que, no meio da prova, ele tem que mudar o lado no qual ele está pendurado no cavalo. As duas passagens são feitas no mesmo sentido; o primeiro tenge é posicionado a 65 m da linha de partida e os seguintes a 10 m do anterior, exceto o primeiro do lado esquerdo, que é posicionado 40 m após o último do lado direito. Nas etapas iniciais são quatro tenge, dois de cada lado, enquanto nas etapas finais são seis, três de cada lado. Como se isso não fosse difícil o suficiente, o tempo limite em cada passagem é praticamente a metade: 16 segundos para cada cavaleiro.

A terceira disciplina se chama zheti kut, e é uma espécie de mistura das duas. Nas etapas iniciais, são usados cinco tenge, o primeiro a 75 m da linha de partida e os seguintes a 10 m do anterior cada, e nas etapas finais são sete, o primeiro a 65 m da linha de partida, todos os tenge do lado direito do cavaleiro, mas o tempo limite é de apenas 16 segundos, e as duas passagens são feitas no mesmo sentido. Também vale citar que, em todas as três disciplinas, um cavaleiro que caia do cavalo pode montar de novo e completar a prova, mas seu tempo continua contando, e a corrida deve ser sempre para a frente, sem nenhum cavaleiro poder voltar e recolher tenge que ficaram para trás.

Para terminar, vamos ver o chevgan, também grafado chovgan, chowgan, chogan, cowgan ou chovqan, que foi esporte de demonstração nos Jogos Mundiais Nômades de 2022. O chevgan é um esporte que surgiu na Pérsia, por volta do século VI a.C., e que, ao migrar para a Índia, deu origem ao polo. Indo para o outro lado, porém, para o Azerbaijão, ele desenvolveu regras levemente diferentes, passando a ser considerado um esporte em separado, chamado çovken. Na época em que o Azerbaijão fez parte da União Soviética, sua prática foi reprimida ou substituída pela do polo, de forma que ele quase desapareceu, mas, a partir de 2006, com a criação da Federação Azeri de Chevgan, ele voltou a ser disputado, e vem se popularizando mais e mais a cada ano, inclusive tendo sido eleito pela UNESCO como patrimônio imaterial da humanidade em 2013.

O chevgan é disputado em um campo de 275 metros de comprimento por 145 de largura, cercado por uma mureta. Esse campo pode ser gramado ou de terra batida, ao ar livre ou coberto. Em cada uma das linhas de fundo há um gol, delimitado por dois postes, de 3 m de largura, e em frente a cada gol é marcada a área, com um semicírculo de 6 m de raio centrado no meio do gol. A bola é feita de borracha oca ou de couro com um núcleo de lã, com cerca de 80 mm de diâmetro e 120 g de peso.

Uma equipe de chevgan conta com seis jogadores, sendo quatro atacantes e dois defensores. Os defensores não podem passar da linha do meio do campo e não podem marcar gols - aliás, os gols só são válidos se marcados pelos atacantes e se tanto o cavalo quanto a bola estiverem fora da área no momento em que ela foi atirada para lá. Para mover a bola, os jogadores usam bastões de cerca de 1,3 m de comprimento, que lembram cajados de pastores de cabeça para baixo, contando com uma parte curvada em seu final. Uma partida de chegvan dura dois tempos de 15 minutos cada, e vence o time que fizer mais gols. Em caso de empate em um jogo decisivo, é jogada uma prorrogação na qual vence quem marcar um gol primeiro.

O torneio mais famoso do chevgan é a President's Cup, realizada anualmente em dezembro desde 2006, que conta com oito times, cada um representando uma cidade na qual o esporte é popular. Infelizmente, o chevgan não é praticado em lugar nenhum além do Azerbaijão, então, a menos que esse cenário mude, ou que jogadores de polo estejam dispostos a se arriscar, é impossível a realização de um torneio internacional.
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