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domingo, 4 de abril de 2004

Escrito por em 4.4.04 com 2 comentários

Lenda do barômetro

continuem lendo e vocês entenderão o porquê dessa figura


Minha adolescência foi um tanto quanto tumultuada. Para os que não sabem, eu estudei no CEFET, e posso dizer que tive um choque cultural ao sair de meu pequeno colégio para aquele mundo. Apesar disso, foi a melhor época da minha vida. Dela, sobraram bons amigos, excelentes lembranças, e um punhado de histórias interessantes.

Infelizmente, o mundo está cheio de gente burra. Talvez por termos muita tecnologia "ajudando" as pessoas em seu dia-a-dia, talvez por um ensino deficitário, talvez por pura preguiça, as pessoas estão se esquecendo de como se raciocina. Outro dia (para ser mais específico, terça-feira), pensando nisso, lembrei de uma destas histórias interessantes da minha época de CEFET. Provavelmente o núcleo da história não aconteceu no CEFET (embora nunca se possa saber com certeza), mas foi um professor meu que a contou, para a minha turma, logo após passar um trabalho (diga-se de passagem dificílimo). Na época, eu achei a história tão fantástica que a primeira coisa que fiz ao acabar a aula foi transcrevê-la para o meu caderno, para não esquecê-la. Mais tarde, a transformei numa espécie de conto, o qual disponibilizarei hoje, para seu deleite e prazer! Alguns já podem até conhecê-la, mas histórias foram feitas para serem contadas, senão morrem e desaparecem.

Portanto, acomodem-se em suas cadeiras, relaxem, e divirtam-se. Como diria o Rá-Tim-Bum, senta que lá vem história!

A Lenda do Barômetro


Certa vez, um professor de eletrônica passou um trabalho aos seus alunos: eles deveriam projetar um circuito que medisse uma certa grandeza física, como velocidade do vento, pressão atmosférica, ou outra qualquer. Um dos alunos, que era repetente, brincou dizendo que iria reapresentar o trabalho do ano passado, e outros fizeram cara feia, dizendo que iriam pegar algum manual na biblioteca e copiar de lá. Afinal, o trabalho era muito difícil, e ninguém queria perder pontos. Porém, um dos alunos foi sensato: se aproximou do professor e fez uma pergunta:

- Mestre, de que irá nos servir este trabalho? Ele quase não usará o que aprendemos até agora, portanto, não servirá como estudo. Em nossos empregos futuros, dificilmente um de nossos patrões pedirá que construamos algo semelhante, logo, não serve de treino. E além do mais, em qualquer manual da biblioteca setorial encontraremos projetos semelhantes, basta copiar, logo, não serve como exercício...

- Mas aí é que está - retrucou o professor. Eu não quero exercitar sua capacidade de projetar - e, vendo que a sala estava em enorme bagunça, completou - Sentem-se todos, vamos ouvir uma historinha.

É claro que ninguém gostou muito da idéia. Ouvir historinha? Será que ele pensa que somos do primário? Mas, mesmo assim, estimulados por alguns curiosos, até os mais bagunceiros sentaram-se em silêncio para ouvir. Então, o professor começou:

"Uma vez, eu conheci um professor de física que contou-me uma estória interessante. A época das provas havia chegado, e ele propôs a seguinte questão: 'como você mediria a altura de um prédio com o auxílio de um barômetro?'. Um barômetro é um aparelho que mede pressão atmosférica, e a pressão é menor à medida que nos afastamos do nível do mar, logo, bastaria medir a pressão no solo, na frente do prédio, medi-la novamente no topo do prédio, tirar a diferença, e, através de uma tabela, calcular a altura do prédio. Tudo bem. Porém, na hora de corrigir as provas, ele encontrou a seguinte resposta: 'eu amarraria o barômetro em uma trena e jogaria do alto do prédio. Quando o barômetro se espatifasse no chão, eu veria qual número estaria na trena, e calcularia a altura do prédio'. O professor achou aquilo estranho, mas, afinal, não poderia dar zero, já que o aluno realmente mediu a altura do prédio. Assim, ele levou a prova a um colega de profissão, para pedir sua opinião.

O outro professor também achou a resposta interessante, e propôs:

- Faz o seguinte ? Aplique um teste na classe e repita a pergunta, só para ver o que ele responderá.

Dito e feito, no bimestre seguinte o professor aplicou um teste, e repetiu a pergunta. Na hora de corrigir, lá estava a resposta, do mesmo aluno: 'eu soltaria o barômetro lá de cima do prédio, cronometraria o tempo que ele levaria para se espatifar, e, através do peso do barômetro calcularia sua aceleração, sua velocidade, e de posse desses dados, a altura do prédio'.

Novamente ele não poderia dar zero, já que o aluno novamente mediu a altura do prédio. E novamente ele levou a prova para a coordenação. O coordenador examinou e determinou:

- Traga-o aqui para que descubramos porque ele está dando estas respostas.

Alguns dias depois, o aluno estava frente ao professor e ao coordenador, que lhe perguntaram:

- Meu filho, nós achamos suas respostas muito interessantes, mas, infelizmente, não era o tipo de resposta que nós esperávamos. Você poderia nos responder uma coisa?

- Pois não, professor?

- Você não conhece nenhuma outra maneira de se medir a altura do prédio?

- Sim, claro que eu conheço: Basta medir a altura do barômetro e ir escalando o prédio, contando quantos barômetros cabem na extensão do prédio. Daí é só multiplicar e descobrir a altura do prédio.

Abismado, o coordenador não sabia o que dizer. Por fim, resolveu perguntar:

- Mas você não conhece nenhuma outra maneira de se medir a altura do prédio, alguma que você não precisasse escalar o prédio pelo lado de fora?

- Claro que eu conheço. É muito simples, olhem só: de posse da altura do barômetro, eu o colocaria do lado do prédio em um dia de sol. Aí eu mediria a sombra do barômetro e a sombra do prédio, e, por semelhança de triângulos, obteria a altura do prédio.

Os professores não sabiam o que dizer. Já haviam perdido as esperanças. Pacientemente, o coordenador tomou fôlego e perguntou:

- Meu filho, veja bem. Você não conhece nenhum método mais fácil do que estes? Algum que não requeira contas complicadas e condições específicas?

- Ah, mas por que você não disse logo? É claro que eu conheço um método muito mais fácil!

Os professores voltaram a se animar. Será que finalmente ele havia percebido?

- Basta pegar o barômetro, ir até o apartamento do zelador, bater na porta e dizer: 'se você me disser a altura deste prédio eu te dou um barômetro novinho!'"

A turma caiu na gargalhada. Alguém até chegou a comentar "que cara burro", mas o professor replicou:

- Burro não, ele até era muito inteligente. Logo depois, o coordenador o perguntou se ele conhecia o método tradicional, e ele respondeu que sim, e explicou como ele mediria a altura do prédio em relação à pressão atmosférica. O professor então perguntou por que ele não havia respondido isso logo, tinha perdido tempo inventando todos aqueles métodos, no que ele respondeu: "eu não respondi desta maneira porque era exatamente o que vocês esperavam que eu respondesse. Esta era uma questão muito fácil, e eu não estou na escola para decorar, e sim para aprender, para exercitar minha inteligência e minha criatividade. Inventando milhares de métodos alternativos, eu aprendi muito mais do que lendo um capítulo do livro e repetindo exatamente o que estava lá."

Todos olharam perplexos para o professor enquanto ele concluía sua história.

- Vocês entenderam? É exatamente isso o que eu quero de vocês. Que vocês liberem sua criatividade. Se vocês copiarem de outros, nunca serão ninguém. É botando as suas caixolas para funcionar que vocês vão fazer o mundo girar. Estão dispensados.
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domingo, 7 de março de 2004

Escrito por em 7.3.04 com 0 comentários

Reflexões Automobilísticas



E começou a temporada 2004 da Fórmula 1! E lá foi o Guil dormir às duas horas da manhã vendo o Grande Prêmio da Austrália!

Algumas pessoas que me conhecem acham que sou fanático por F-1. Isso não é verdade. Não sei, por exemplo, todos os campeões da categoria de cór desde 1950. Mas o fato é que, desde pequeno, eu adoro ficar assistindo àqueles carrinhos coloridos indo uns atrás dos outros até que um chegue primeiro. É um passatempo meio besta, mas eu adoro.

Concordo que, atualmente, a F-1 tem perdido um pouco de sua graça, mas não acho que o culpado tenha sido o Schumacher. Pra falar a verdade, eu até gosto do Schumacher, e não engrosso o coro dos que dizem que a vida do Rubinho seria mais fácil sem ele. A verdade é que acontece com a F-1 hoje o mesmo que acontece com o futebol: ganha quem tiver mais dinheiro. Schumacher é um excelente piloto, correndo por uma equipe que nada em dinheiro. E tem gente achando que ele não vai ganhar de novo. Quem ficou acordado de madrugada como eu viu o novo passeio da Ferrari: quase que eles colocaram uma volta de vantagem sobre o terceiro colocado.

Acho que a F-1 também perdeu um pouco da graça devido a uma espécie de paranóia pós-94. Depois que o Senna morreu, todo mundo ficou tão preocupado em evitar acidentes, que hoje as corridas mais parecem um autorama gigante. Todo mundo bonitinho uns atrás dos outros, sem ter onde ultrapassar (por culpa das obras nos circuitos), e sem ter como correr demais, frear errado, trocar a marcha errado, largar errado, enfim, praticamente sem conseguir errar, nem que seja de propósito (culpa dos limitadores eletrônicos).

Mas eu sou teimoso. Sempre acho que vamos ter alguma emoção durante as corridas, nem que ela seja provocada por um toró, como no GP do Brasil do ano passado. Não estou nem aí se o Schumacher vai ser heptacampeão, se o Rubinho vai ter chance de brigar de igual para igual ou se a Minardi vai continuar largando em último. Eu quero ver são ultrapassagens, pegas, batidas (sem mortos, de preferência), enfim, a corrida em si. Não um carrossel.

Bom mesmo era na década de 80. A supremacia era da Williams e da McLaren, mas sempre haviam vários pilotos em condições de brigar, diversos vencedores em uma só temporada, e umas 20 equipes, com pré-classificação, repescagem e tudo o mais nos treinos. Meu ídolo era o Nigel Mansell. O homem que deu com a cabeça no viaduto após vencer uma corrida. O homem que saiu dos boxes sem o carro ainda estar no chão. O homem que bateu no muro na saída dos boxes (o Berger também fez isso um pouco depois, quando corria pela Ferrari). As corridas perderam muita emoção depois que ele parou de correr.

Eu também gostava muito de F-Indy, mas na época em que só existia uma F-Indy. Depois que separou em Cart e IRL ficou muito esquisito. Hoje eu só assisto Indianápolis (que não é uma corrida, é um evento). Uma vez a Penny me perguntou o que Indianáplois tinha de tão especial, e eu fui responder "bem, pra começar, é uma corrida que dura quatro horas". Ela começou a rir (após um sonoro palavrão) e eu não terminei minha explicação.

Também gosto muito de corridas de MotoGP, mas não acompanho. Só quando eu ligo a tv e está passando, eu fico assitindo até o final. Ultimamente as corridas de moto estão até mais parecidas com a F-1: o Valentino Rossi ganha tudo e fica todo mundo disputando o segundo lugar. Vamos ver se esse ano, já que ele mudou de equipe, as coisas se alteram um pouquinho.

Bem, este post meio desconexo, meio sonolento, vai terminar aqui. Continuo torcendo para que as mudanças no regulamento tragam mais e mais emoções para as pistas, mas sempre parece que agora é tarde. De qualquer forma, eu adoro ver aqueles carrinhos coloridos correndo uns atrás dos outros, e pretendo continuar fazendo isso por muitos e muitos anos. Mesmo que tenha que ir dormir de madrugada.
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domingo, 4 de janeiro de 2004

Escrito por em 4.1.04 com 0 comentários

Cinema 2003

O ano de 2003 chegou ao fim, entrando para a História como "o ano em que eu fui 10 vezes ao cinema". Quem me conhece sabe que eu não faço questão de ver muitos filmes no cinema, somente os mais barulhentos, mais cheios de (d)efeitos especiais e cenas de ação, para aproveitar a tela grande e o som surround. Não acho muita graça em ver um filme de drama ou uma comédia romântica no cinema, esse tipo de filme cai melhor na televisão. Some-se a isso o fato de que uma sessão de cinema está custando os olhos da cara, e chegamos à média de 3 idas ao cinema por ano. Portanto, 10 vezes poderia ser considerado um recorde, se em 1995 eu não tivesse ido 11 vezes (exatamente uma por mês, exceto em novembro). Mas eram outros tempos.

Para comemorar esse feito, e também porque eu não tinha nada mais para postar hoje, vamos à Retrospectiva Cinematológica do Guil 2003, com direito aos meus incríveis comentários!

02/01 - O Senhor dos Anéis: As Duas Torres - Um monte de gente achou esse filme pior que os outros dois, principalmente pelo fato dele não ter início nem final. Eu, particularmente, achei o melhor dos três. A Sociedade do Anel é uma correria só: agora estamos na floresta, agora estamos em Caradhras, agora estamos em Moria, agora estamos em Lothlórien, e a história é apresentada aos borbotões. O terceiro é comprido demais, a gente chega a ficar ansioso pela destruição do Anel. Esse aqui não. Talvez pelo Peter Jackson ter deixado algumas coisas para o terceiro filme (e colocado a morte do Boromir no primeiro), o filme ficou mais coeso, menos corrido, e por conseqüência mais fácil de ser compreendido. A batalha do Abismo de Helm é a minha preferida dos três filmes. Enfim, não ter início nem final não é demérito, desde que isto seja de propósito.

19/03 - Demolidor, O Homem Sem Medo - Ben Affleck não foi um bom Demolidor. Colin Farrell não foi um bom Mercenário. Michael Clarke Duncan não foi um bom Rei do Crime. E este não foi um bom filme. Teve seus méritos, é verdade, mas colocar o pai do Matt Murdock como bandido, e o Demolidor prender o Rei do Crime após quebrar suas pernas foram furadas memoráveis. Também não gostei muito da ressurreição subentendida da Elektra (embora todos soubéssemos que ela não iria morrer mesmo). Apesar de tudo, o radar do Demolidor foi um efeito legal, e algumas piadas do filme (o Sr. Lee pagou em peixe) acabaram valendo a pena.

05/05 - X-Men 2 - Esta é a prova de que, quando a Marvel quer, o filme sai bom. Diferentemente do Demolidor acima, X-Men 2 foi um filme fantástico. Com um bom ritmo, boa história, bons personagens (principalmente o Noturno) e um elenco cuja maior proeza foi ser a cara dos X-Men dos quadrinhos (talvez com exceção do Magneto, que estava meio velhinho), X-Men 2 conseguiu a façanha de ser infinitamente melhor que X-Men 1. Satisfação garantida sem dinheiro de volta. Mal posso esperar pelo 3.

03/06 - Matrix Reloaded - Visualmente, é um filme fantástico. Mas os diálogos são tão cabeça que às vezes a gente se perde. Este filme teve méritos e deméritos, e o maior demérito foi criar muitas expectativas para o Revolutions. Gostei muito, mas continuo preferindo o Matrix original.

01/07 - Hulk - A maioria das pessoas acha que o filme é ruim porque o Hulk é "borrachento". Isso nem me incomodou muito. O pai do Hulk como Homem-Absorvente virando uma bolha enorme no final me incomodou bastante. Também não gostei do lance do Hulk crescer mais e mais cada vez que fica mais nervoso. E a linguagem de história em quadrinhos/videoclipe ficou um pouco esquisita. Na minha opinião, foi uma boa idéia desenvolvida de maneira errada. Pesando na balança, acho que gostei mais do Demolidor que do Hulk.

06/08 - O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas - Também conhecido como "o filme que quase me deixou surdo", graças à seqüência do guindaste. Apesar dos protestos gerais pelo diretor não ser mais o Cameron, e do temor de quererem fazer o 4, o 5 e o 6 (temor compartilhado por mim, Exterminador é muito bom mas 3 já chega), gostei muito deste filme, e por um simples motivo: fui vê-lo para me divertir, e me diverti.

20/08 - Lara Croft Tomb Raider: A Origem da Vida - Alguém me desculpe se não era "a origem da vida", mas eu sou péssimo para títulos em português. Em inglês eu sei que era "the cradle of life", mas como eles traduziram isso eu não me lembro mais (e no ingresso só diz "Lara Croft Tomb Raider"). Quanto ao filme... Bem, o que podemos esperar de um filme da Lara Croft? Eu adoro Tomb Raider, mas, sinceramente, acho que nem o mais otimista dos fãs poderia esperar uma obra-prima. Lara socando um tubarão no nariz? Caixa de Pandora? Pior que isso, só o final, que só não conseguiu ser pior do que o final do Tomb Raider 1. Pelo menos teve a Angelina Jolie.

17/09 - A Liga Extraordinária - Esse foi bem melhor. Divertido, cheio de ação e bem amarrado. Um ótimo filme de super-heróis, exceto pelo final-chavão-vamos-ter-o-filme-dois. Aliás, alguém tem que ser contratado urgentemente para ensinar esse pessoal do cinema a fazer finais. Apesar disso, fiquei muito satisfeito. Bom filme.

06/11 - Matrix Revolutions - Como eu já disse, alguém precisa ser contratado urgentemente para ensinar essa gente a escrever finais. Não foi um filme ruim, só não atendeu às expectativas criadas pelo Reloaded. E o final foi fraquinho. Concordo com o Capitão Cinza: Teria sido melhor se o Reloaded e o Revolutions fossem um único filme de 3 horas ao invés de dois filmes de 2 horas cada.

29/12 - O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei - Confesso que eu fiquei com medo de mudarem o final original do livro. Até mudaram, mas foi uma coisinha tão insignificante que nem fez diferença. Ótimo desfecho para a saga, trazendo aos Hobbits o destaque merecido (se bem que eu gostaria que o Gimli aparecesse mais). Não foi melhor que o segundo, mas gostei mais que do primeiro (engraçado, exatamente o contrário do que os críticos acham...). Seria um filme perfeito, se não fosse por um detalhe: é muito comprido. Talvez se o primeiro não fosse a correria que é, teria ficado comprido assim também. A batalha de Minas Tirith é interminável, e Frodo e Sam demoram séculos para ir de um lugar ao outro em Mordor. Faltou agilidade, mas não é nada que estrague o filme. Se o Tolkien não tivesse morrido, poderia ensinar o pessoal de Holywood a escrever finais.

Enfim, noves fora, foram filmes legais. É muito difícil eu me arrepender de ter ido ao cinema, sempre consigo salvar uma coisa ou outra até dos filmes que eu não gostei (como Hulk e Tomb Raider 2). Esse ano, porém, eu espero não ir tantas vezes ao cinema. Está ficando cada vez mais difícil marcar um dia em que toda a galera possa ir, os cinemas estão cada vez mais cheios, as pessoas estão cada vez mais sem educação, e eu gosto de ir ao cinema para me divertir, não me aborrecer.

De qualquer forma, já estou planejando minha ida ao Underworld, Homem-Aranha 2 e Aliens vs. Predador. Para manter a média de 3 por ano.
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domingo, 16 de novembro de 2003

Escrito por em 16.11.03 com 0 comentários

Matrix Revolutions



ALERTA DE SPOILER: Se você pretende ver Matrix Revolutions, não leia o post abaixo. Eu sei que isso não está muito de acordo com os outros posts daqui, que normalmente recomendam coisas às pessoas, mas é por uma boa causa.

Parece que o mundo de Matrix ruiu. Tudo graças à sua malfadada conclusão, Matrix Revolutions. Por todo o Planeta, o filme está sendo bombardeado, não somente por parte dos críticos, mas também pelos fãs. Eu, nadando contra a maré, devo confessar que não achei o filme tão ruim assim, mas entendo a decepção do pessoal (afinal, mesmo não tendo achado o filme tão ruim assim, também fiquei um pouco decepcionado). Creio que este problema se deva a um caso de gigantismo: Tal qual as máquinas que acabaram por dominar a humanidade, o filme despretensioso dos Irmãos Wachowsky (ou seja lá como se escreve) também ganhou proporções incontroláveis, e acabou por deixar seus criadores sem saber como iriam amarrar as pontas daquela zona toda.

Não me levem a mal, Matrix, o original, disputa com Blade Runner o título de "Filme de Ficção Científica Preferido do Guil de Todos os Tempos". Quando fui assisti-lo, não fazia a menor idéia do que se tratava (por alguma razão sobrenatural, nem sinopse eu tinha conseguido ler), e só comecei a entender que bagunça era aquela que estava acontecendo junto com o Neo: Quando o Morpheus o levou para aquele "simulador de Matrix" e explicou que os humanos nada mais eram do que pilhas para as máquinas. Creio que isso só contribuiu para o meu deslumbramento, e que, se eu já soubesse a história do filme antes de assisti-lo (o que, hoje em dia, é bem comum, graças a trailers que mostram o que não devem e resenhas de críticos que falam demais), não teria gostado tanto. Pouco me importa saber porquê o Neo não simplesmente virou um agente para capturar o Morpheus, como eles sabem que estão em 2199, que seres humanos não geram energia suficiente para servir de pilhas ou que os óculos deles de vez em quando refletem as câmeras. Matrix foi um filme inovador, que trouxe uma premissa inédita na ficção científica, efeitos especiais que foram copiados por vários outros filmes (e, vocês sabem, ninguém copia o que é ruim) e tinha um ritmo redondinho do início até o fim. Aliás, a única coisa que eu não gostei foi do "fim", mas depois eu falo disso.

Mas aí o filme fez sucesso, os olhos dos executivos cresceram, e os Irmãos Wachowsky ganharam carta branca (e milhões de dólares) para fazer não somente continuações, mas também os tais dos Animatrix, o jogo de videogame... Enfim, estava criada uma franquia.

Para falar a verdade, eu nem gostei tanto assim de Matrix Reloaded. Quer dizer, eu achei um ótimo filme, mas como filme isolado, sem levar o Matrix original em consideração. Talvez porque todos os "humanos livres" que nós vimos no Matrix foram os tripulantes da Nabucodonosor, ver aquele monte de gente livre agindo dentro da Matrix foi meio esquisito pra mim. Além disso, a primeira metade do filme é bem fraquinha, e ele só começa a pegar ritmo quando surgem as discussões filosóficas. Aí o filme "acaba sem final" e deixa todo mundo esperando pelo Revolutions. E é por isso que todo mundo se decepciona.

O jornal disse que era ruim. A internet disse que era ruim. As revistas disseram que era ruim. No dia em que eu fui ao cinema, encontrei um cara na locadora que disse pra eu não ir que o filme era muito ruim. É claro que eu fiquei muito curioso pra conferir por que esse filme era tão ruim assim. Como eu disse para o Nachsieben, eu não fiquei tão satisfeito quanto achava que ficaria, mas também não fiquei tão decepcionado quanto achava que ficaria.

A cena de luta final entre Neo e o (Ex-)Agente Smith foi meio fraca. Parecia Dragon Ball. Também tem gente reclamando que o Neo e a Trinity morrem no final. Dessa parte eu até gostei. Melhor do que ficar tentando explicar como eles voltaram para Zion depois daquela confusão toda. E, além do mais, morrer para salvar a humanidade, apesar de cliché, ainda é um recurso legal.

Também já ouvi reclamações de que as máquinas (e a Matrix, por tabela) não foram destruídas no final. Acho que eu não gostaria de um final "Independence Day", onde as máquinas e a Matrix fossem destruídas e o mundo ficasse só com humanos. Aí, sim, teria sido um senhor chavão. Só achei meio bobo o negócio de que a Oráculo é contra o Arquiteto. Ambos são programas, e colocá-los como antagonistas os torna muito humanos para o meu gosto.

Na verdade, Matrix Revolutions só tem um demérito: Ele não explica o que a gente queria saber depois de ter assistido o Reloaded. Aliás, ele até explica, mas de forma xexelenta. O problema é que isso não é um "defeitinho', é um problema de dimensões ituanas, já que 99% dos que foram ao cinema queriam exatamente saber esta explicação. Eu fui ao cinema pronto para descobrir que o "mundo real" na verdade não era o mundo real, e acabei descobrindo que "o poder do Predestinado se estende ao outro mundo". Fala sério.

Talvez o problema tenha sido o momento no qual nós descobrimos isso: Na primeira meia hora de filme. Talvez se tivessem dado esta explicação nos últimos dez minutos, ficaríamos igualmente decepcionados, mas teríamos visto o filme com outros olhos, com mais expectativa quanto à "explicação" de como Neo queima Sentinelas com o poder da mente, e consegue enxergar Bane/Smith mesmo sem vê-lo.

Para falar a verdade, essa explicação porca foi a única coisa que me desagradou no filme. Se você considerar que ela "estraga os três filmes como um todo", como eu li no Imdb, é um direito que lhe assiste. Eu só acho que, defeito por defeito, o "filme um" tem um bem maior, e parece que ninguém repara. Ou será que alguém acha muito lógico o Neo tomar um tiro e depois ressucitar com poderes de Predestinado após um beijo da Trinity? Depois dessa, explodir Sentinelas com o poder da mente é o de menos.

É preciso deixar claro que, ao contrário de muita gente que está reclamando por aí, eu nunca quis descobrir o Terceiro Segredo de Fátima assistindo o Reloaded e o Revolutions. São filmes de ficção científica, ora bolas! Eu fui pra ver gente voando e coisas explodindo! Ainda assim, não se pode negar que muitas das questões levantadas pelos dois primeiros filmes nos fizeram pensar, e criaram grande expectativa sobre qual seria a "explicação oficial" para elas. Minha decepção é no sentido de que, recebida a explicação oficial, ficou um gosto de guarda-chuva na boca.

Por que o mundo não explodiu, já que o Predestinado não retornou à Fonte? Onde fica aquele lugar "entre o mundo real e a Matrix"? Como o Predestinado pode ter poderes paranormais se ele (ou pelo menos sua imagem na Matrix) foi criado pelo Arquiteto? Nunca saberemos.

Infelizmente, isto é uma coisa que acontece nas melhores famílias. O cinema está cheio de exemplos de trilogias iguaizinhas a Matrix: um primeiro filme fechado, com início, meio e fim; um segundo filme muito empolgante, que deixa a gente ansioso pelo terceiro; e um terceiro fraco, que não atende às expectativas criadas pelo segundo. Querem dois exemplos "intocáveis"? Star Wars (ou alguém aí acha que O Retorno de Jedi é o melhor da série?) e De Volta para o Futuro (onde, ainda por cima, o "filme três" se passa no Velho Oeste; mais americano, impossível). Não é preciso "ignorar os outros dois e ficar só com o primeiro", como eu já vi um sujeito falando (talvez se ele estivesse se referindo ao Highlander eu lhe desse razão...) para achar qualidades nas três partes. O problema é que todo mundo só presta atenção nos defeitos.

Enfim, como todo filme-pipoca, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions têm coisas boas e coisas ruins. O Matrix original também, mas o deslumbre da novidade acaba por diminuir as coisas ruins, que são maximizadas nos outros dois pela expectativa do desfecho. Sinceramente, acho que ainda não é o caso de obrigarmos os Irmãos Wachowsky a fazer um novo Matrix 3. Vai passar.
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domingo, 15 de junho de 2003

Escrito por em 15.6.03 com 0 comentários

Ganância musical

Como todos sabem, esta semana teve o Dia dos Namorados. Como todo "dia de alguém", como o Dia das Mães e o Dia das Crianças, é uma ocasião para se ganhar presentes. Portanto, lá fui eu com minha namorada para o shopping, para comprar nossos presentes mutuamente. Eu prefiro assim porque aí cada um escolhe o que quer, e se não tiver escolhe outra coisa, e ninguém ganha uma linda surpresa da qual não precisa ou não quer.

Pois bem, lá fomos nós pro shopping. Antes de irmos, definimos nossas primeiras opções, das quais abriríamos mão se não tivessem ou se estivessem fora de nossas posses. Eu queria o novo CD do Placebo ou o novo dos Cardigans. Ela queria um CD da Celine Dion ou um DVD do Zezé di Camargo (e essa é a prova cabal de que os opostos se atraem).

Antes de entrar no mérito da minha discussão, um aparte curioso: A lógica me dizia que o CD do Placebo eu não ia encontrar em lugar nenhum (afinal, comprar os outros três foi um suplício), e o dos Cardigans teria em tudo o que é lugar (depois do "love me, love me, saaaaaaaaaay that you love me" eles ficaram meio famosos). Por alguma razão espúria, o do Placebo tinha em tudo o que é lugar (até nas Lojas Americanas!) e o dos Cardigans só tinha na Saraiva Megastore, e ainda por cima só tinha um. Eu hein.

Entremos, portanto, no mérito da discussão: Meu Deus, como os CDs estão caros!!! Quase todos estão custando mais de R$ 30,00, e um por R$ 29,90 já é considerado em promoção. Depois não querem que as pessoas comprem CDs piratas! Desafio qualquer um a me provar matematicamente que existe uma razão lógica para que nos cobrem esse preço extorsivo.

Não faço parte do enorme contingente que já desistiu de comprar CDs originais. Ainda acho melhor ter um CD original, com um encarte bonito e aparência apresentável, do que um de procedência duvidosa com uma capa borrada e um nome de carimbo. Só que o preço abusivo dos CDs fez com que eu ficasse muito mais seletivo. Só compro um CD se tiver certeza de que vou gostar de pelo menos a metade das músicas. Gastar trinta Reais pra ouvir uma faixa só, não dá.

Não acho que um CD de loja tenha que ser "três por dez Real" igual ao pirata, mas diminuir o preço do original adiantaria mais no combate à pirataria do que algumas das medidas já adotadas, como a tal da tecnologia contra cópias digitais, que já começou a aparecer em alguns CDs. Minha irmã comprou um CD do Roxette que tem a tal tecnologia (indicada por um selinho redondo). Tal tecnologia impede que gravemos as faixas do CD para Mp3, ou para um outro CD gravável qualquer. Só que, aparentemente, não impediu os piratas: No camelô aqui perto de casa tem um igualzinho, com a vantagem de que se pode utilizar o pirata para gravar Mp3 e copiar para onde quiser. O mesmo ocorre com o novo CD do Renato Russo, também "protegido contra cópias digitais", e também presente no camelô aqui da rua.

A tecnologia contra cópias digitais é meramente uma medida paliativa, não vai acabar com os piratas, e ainda vai irritar um monte de gente, acostumada a gravar "coletâneas caseiras" ou que comprou um Mp3 player daqueles tipo walkman e não vai poder gravar seu novo CD pra ele. A maioria das pessoas que eu conheço parou de comprar CDs não porque as gravadoras sejam demoníacas e explorem os artistas, nem porque é amigo do camelô e quer ajudar no orçamento, mas sim por causa do preço. Se os CDs custassem um preço justo e acessível, não seria mais atraente comprar o original do que o pirata, mesmo que o primeiro fosse mais caro? O problema é que, com os preços atuais, um CD original não tem atrativos. Por mais fotos bonitas que ponham nos encartes, por mais cupons de promoções que ponham dentro da embalagem, por mais conteúdo exclusivo que os sites dos artistas ofereçam pra quem compra o CD original, é mais negócio abrir mão de tudo isso e comprar dez CDs piratas com a mesma grana que se compraria um original.

Posso até estar errado, mas só consigo pensar em um motivo para o preço alto dos CDs: Ganância.
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domingo, 8 de junho de 2003

Escrito por em 8.6.03 com 0 comentários

Nivelando por baixo

Devido a alguns problemas financeiros, estou sem TV a cabo. Isso fez com que eu descobrisse todo um novo mundo de programas televisivos da TV aberta. Eu nem gosto de assistir televisão (devem ter só uns dois ou três programas que eu realmente acompanho), mas como o resto da minha família assite, eu acabo vendo algumas coisas também. Após assitir alguns programas de gente do calibre do Gilberto Barros, Olga Bongiovanni e Leonor Corrêa, comecei a desenvolver uma constatação.

Não que esses programas sejam ruins. O conceito de bom/ruim é igual ao de bonito/feio, então, o que é horrível pra mim, pode ser maravilhoso para alguém por aí. O problema com eles é que são... Como direi... Acéfalos. São programas sem imaginação, com atrações de nível discutível. E isso não me agrada.

Não sou daqueles que dizem que a televisão tem que "ter uma função social", "ser educativa", "inteligente", nem nada disso. Pra mim, televisão é entretenimento, e tem que, pura e simplesmente, entreter. Só que, por outro lado, entreter não é fazer uma pessoa ficar sentada em frente à TV como se estivesse lobotomizada. Eu não consigo ver onde está a diversão em se assistir um programa onde a apresentadora fica lendo milhares de revistas ipsi litteri, do exato modo como lá está escrito, sem mudar uma única vírgula (bem... de vez em quando ela muda umas involuntariamente...), e cujos únicos comentários são "é, ela é mesmo uma gracinha", "puxa, fiquei tão feliz" ou "é bom a gente ver esses vestidos das pessoas famosas porque depois pode copiar".

Em outros programas semelhantes, podemos ver um homem que tem que beber 11 cocos para ganhar R$ 2.000,00, a festa de lançamento da Playboy com a Sabrina, onde todos os convidados "VIPs" só têm a dizer "eu não posso falar sobre isso", o concurso da Garota Pocotó, e "profissionais" de todas as áreas da "saúde", explicando como balancear seu corpo apenas comendo rúcula, como curar dor de ouvido cuidando dos rins ("porque o ouvido tem o mesmo formato dos rins, então isso significa que eles estão interligados") ou como descobrir se uma pessoa é psicopata pelo formato de seu nariz.

Eu já falei mal da televisão uma vez (ou talvez mais de uma) aqui neste blog, mas dessa vez meu enfoque será diferente. Estes programas que eu citei não estão cheios de violência e sexo (talvez só pelas ajudantes de palco e a Garota Pocotó) como outros por aí, mas nem por isso significa que eles sejam bons. Mas o que me espanta é que ninguém publicamente fala mal deles! Quando o Big Brother está no ar, todos os jornais e revistas só fazem falar mal, dizer que é "amador", "baixo-nível", "forjado", e outras coisas do tipo, mas ninguém fala mal do programa que fica mostrando cenas congeladas do Big Brother e reproduzindo os diálogos que passaram do dia anterior. As editoras não se importam que as pessoas tomem conhecimento do conteúdo de suas revistas através de um programa de TV, ao invés de comprarem-nas nas bancas. Por que?

Repetindo, não acho que a TV tenha que ser obrigatoriamente educativa nem inteligente, mas o que acontece hoje é que o nível está sendo puxado pra baixo. Ninguém faz programas de qualidade porque não vão ter audiência, e os programas que dão audiência são cada vez mais acéfalos, o que faz com que as pessoas gostem cada vez menos dos programas onde terão que pensar, o que levará à produção de mais programas acéfalos. Ou seja, caminhamos para uma TV acéfala, que será assistida por uma população acéfala. Que pena.
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domingo, 1 de junho de 2003

Escrito por em 1.6.03 com 0 comentários

Vazio interior

Vocês já sentiram aquela leseira, aquele desânimo, aquela vontade de fazer nada? De repente bate um vazio interior, e a gente olha pra televisão, pros livros, pro jornal, pra estante bagunçada, e não sente vontade de fazer nada. O pior é quando isso vem acompanhado de uma sensação de que aquele "valioso" tempo está sendo desperdiçado, uma angústia por não estar fazendo nada quando algo poderia ser feito.

Estamos tão acostumados com a pressa, com nossos afazeres diários, que quando ficamos sem nenhum deles, em nosso momentos de lazer, somos acometidos desta "culpa", como se pudéssemos estar estudando, arrumando uma estante, sei lá, fazendo algo para aproveitar um tempo que, a princípio, seria para não fazer nada mesmo.

Eu, particularmente, odeio acordar tarde. Agora que estou "de férias" (ou seja, desempregado), não tem nada que me deixe mais irritado do que abrir os olhos e ver no relógio que já está perto do meio-dia. Por alguma razão, durante todo esse dia, eu fico com a sensação de que as horas estão passando mais depressa do que deveriam, de que não vai dar tempo de fazer nada que presta.

A comprovação de que isso é um efeito psicológico vem quando eu tenho uma das raras oportunidades de "fugir para um local bucólico", viajando num feriadão por exemplo. Fora da nossa Cidade Calamitosa eu posso ficar o dia inteiro olhando pro teto, que não sinto nenhuma angústia, a hora não demora a passar, nada. Esquisito.

Sexta-feira eu tive essa sensação de tempo desperdiçado, enquanto assitia TV à tarde. Eu não tinha a menor vontade de assistir o que estava assistindo, mas pensava em milhares de alternativas, e igualmente não tinha a menor vontade de mudar para nenhuma delas. Foi quando eu pensei "oh, não, não estou fazendo nada, preciso fazer algo para não disperdiçar meu tempo", foi que me deu o clique que motivou este post: Por que, dentro de uma semana, não posso ficar umas duas horas fazendo nada que presta? Quem me disse que isso é errado? Quantos que estão trabalhando estafantemente nesse momento não estariam querendo simplesmente sentar e ver televisão?

Estamos vivendo como abelhas. Ou formigas, se você não gostar de abelhas. Inconscientemente, trabalhamos dois terços do nosso tempo (seja em trabalho mesmo, estudo, afazeres domésticos ou o que seja), e achamos que não servimos para mais nada se não estivermos trabalhando. Esse pensamento inconsciente é que nos leva ao "vazio interior" que surge quando não estamos fazendo nada. De tanto sermos condicionados desde pequenos a não sermos vagabundos, desenvolvemos um medo irracional de realmente seguirmos esse caminho. Quaisquer dez minutos improdutivos já bastam para que nosso cérebro ligue o alarme de vagabundagem e nos ponha para arrumar um serviço.

E aí, mesmo que estejamos gostando do programa da TV, começamos a nos sentir culpados porque ver TV é "improdutivo". Não queremos desligar a TV, mas também não queremos ficar ali assistindo impunemente. Se fôssemos autômatos, nessa hora entraríamos em curto.

Se você não sabe do que eu estou falando, e fica sem fazer nada na maior e sem culpa, parabéns. Ou não, já que existe a possibilidade de você ser apenas um vagabundo convicto. De qualquer forma, não acho que isso possa acabar bem. Precisamos de descanso, afinal, mesmo que não queiramos descansar.
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quinta-feira, 22 de maio de 2003

Escrito por em 22.5.03 com 0 comentários

Cultura nacional

Eu já estava querendo falar sobre esse tema há algum tempo, mas resolvi adiá-lo para essa semana para coincidir com o tema de Holy Avenger no BLOGuil. Para quem não sabe, Holy Avenger é uma história em quadrinhos 100% nacional. Aí vem a pergunta (que até eu mesmo me fiz quando a revista foi lançada): "Ué, se é 100% nacional, por que o nome é em inglês?". Vamos falar hoje, portanto, da influência (maléfica ou não) das línguas estrangeiras em nossa cultura.

É muito importante fazer essa diferenciação. Só porque temos a influência de um determinado idioma, cultura ou costumes no nosso, não significa que isso seja maléfico. Na minha opinião, é o caso de Holy Avenger.

Holy Avenger é uma história em quadrinhos continuada (gênero que dizem ter sido inventado nos Estados Unidos) com desenhos em estilo mangá (quadrinhos japoneses), baseada em RPG (também criado nos EUA), que, por sua vez, foi inspirado na obra do escritor J. R. R. Tolkien (que nasceu na África do Sul), que inventou um universo medieval fantástico (normalmente associado à Inglaterra) unindo elementos das culturas inglesa, céltica e nórdica, inspirado na mitologia grega. Depois dessa salada toda, qual o problema da história se chamar Holy Avenger, mesmo tendo sido produzida no Brasil?

Ah, mas temos que valorizar a cultura nacional, como eu já ouvi diversas pessoas dizerem. Só que valorizar a cultura nacional não é somente mudar o título para "O Cangaceiro Arretado", substituir os elfos por sacis-pererês e os dragões por mulas sem cabeça, chamar o herói de João Fortão e o vilão de Zé Cachaça. Muitos mangás japoneses possuem títulos em inglês, como Dragon Ball e Sailor Moon, só pra citar uns mais conhecidos, e são cultura japonesa pura, nem um pouco influenciada pela americana. Em um país tão pobre de eventos culturais, tão difícil de se vencer produzindo arte, onde os incentivos a esse campo são mínimos ("Quer ser artista? Vai é morrer de fome!"), qualquer coisa de boa qualidade produzida inteiramente por brasileiros, mesmo que inspirado em cultura estrangeira, está incentivando a cultura nacional, pois está abrindo portas para novos artistas, que, quem sabe não acabarão naturalmente por criar obras muito mais nacionais do que uma aventura medieval fantástica?

Outro bom exemplo: No Rock in Rio 3, houve um concurso, ou sei lá o que, para que uma banda nacional "desconhecida" fosse escolhida para tocar no palco principal, abrindo o último dia do festival. A banda que ganhou era de rock pesado, de Minas Gerais, se não me engano, e chamava-se Diesel. Só teve um "problema": Eles cantavam em inglês. Vocês não imaginam quantas pessoas eu ouvi reclamando que "escolher uma banda que canta em inglês é um absurdo", "cantar em inglês é um absurdo", e, novamente, "temos que valorizar a cultura nacional". A pergunta que eu faço é: Desde quando rock and roll é cultura nacional? Tudo bem, existe o famoso "Rock Brasil", muitas bandas que cantam em português, mas, se lá na época da Jovem Guarda, quando todas as músicas eram versões de músicas americanas, e tínhamos bandas chamadas "The Fevers", "The Vips" e "Renato e seus Blue Caps", se alguém tivesse bradado que isso era um absurdo e que tínhamos que valorizar a cultura nacional, hoje não teríamos tido bandas como a Legião Urbana, que, apesar de tocar rock puro, sem influências de ritmos regionais brasileiros, como algumas das bandas mais recentes costumam fazer para parecer "mais brasileiras", nunca deixou de se preocupar com a situação do brasil, criando verdadeiros hinos como "Que País É Esse?" e "Faroeste Caboclo". Hoje em dia temos muitas outras bandas e/ou cantores que, influenciados pela cultura norte-americana ou não, continuam criando cultura genuinamente brasileira (Um aparte: Por que ninguém reclama que o Roxette não canta em sueco?).

Tudo o que é extremo é ruim. Uma história em quadrinhos com nome em inglês, uma banda que cante em inglês (ou francês, alemão, espanhol, não importa), apenas está se inspirando em uma cultura estrangeira, e não "se deixando dominar" por ela, como querem nos fazer acreditar alguns extremistas. Valorizar a cultura nacional não é deixar de ler o Pato Donald para ler a Mônica, deixar de ouvir os Rolling Stones para ouvir Caetano Veloso, deixar de ir no cinema ver Matrix para ver Carandiru. É simplesmente não deixar de lado o que é nacional e só dar valor ao que é estrangeiro. É não cometer o mesmo extremismo para nenhum dos lados. O sujeito que não consome nada estrangeiro porque acha que só o que é nacional é que presta é tão nocivo para o desenvolvimento da cultura quanto o que só lê o que é estrangeiro achando que nada do que é nacional presta.

Eu sei que vai aparecer gente pra dizer que eu estou defendendo a dominação da cultura nacional pelos norte-americanos, que eu só coloco citações de músicas estrangeiras para abrir meus posts, e que Holy Avenger tinha que se chamar Vingadora Sagrada. Mas nenhuma cultura se desenvolve se ficar fechada em si mesma. O único meio de desenvolvimento cultural é composto de três passos: A preservação da cultura original, a assimilação de cultura estrangeira e a fusão das culturas nacional e estrangeira para criar um novo aspecto da cultura. É difícil, mas temos que tentar seguir esses três passos, valorizando a cultura nacional sim, mas sem xenofobia, sem descartar completamente o que vem de fora, e aceitando suas influências. Afinal, se fôssemos completamente fechados em nós mesmos desde o início, hoje não teríamos nem historinhas da Turma da Mônica.
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terça-feira, 13 de maio de 2003

Escrito por em 13.5.03 com 0 comentários

Opinião própria

Eu não me canso de reclamar da sociedade atual, porque ela faz as pessoas fazerem coisas que não entram na minha cabeça.

Como vocês já devem saber, eu gosto de comentar casos de novela antes de fazer minhas considerações. Não que eu acompanhe a novela, normalmente eu só vejo um pedaço ou outro (embora essa frase pareça desculpa de noveleiro que não quer se assumir), mas de vez em quando as novelas mostram situações que valem a pena serem discutidas, mesmo que a própria novela não as discuta como deveria. Vamos a uma destas situações, então.

No pedaço do capítulo de ontem da novela Mulheres Apaixonadas que eu vi, Edwiges corria para o aeroporto para se encontrar com seu namorado Cláudio, que iria viajar com ela para São Paulo, mas ela não deu certeza, e ele, teoricamente, iria viajar sozinho. Ao chegar no aeroporto, Edwiges descobriu que ele iria para São Paulo com sua amiga (amiga do Cláudio, não dela) Gracinha. Aí rolou uma cena de ciúmes básica. Para quem nem sabe quem são Edwiges, Cláudio e Gracinha, uma pequena explicação do problema: Edwiges namora Cláudio. Ela é virgem, enquanto tudo leva a crer que ele não. Ele é convicta de suas opções (ou seja, a princípio não quer perder a virgindade com ele, embora saibamos que, sendo isso uma novela, vai acabar acontecendo). Ele parece que não insiste ("parece" porque eu não acompanho a novela; ainda não vi ele insistindo). Só que tem a tal Gracinha, uma amiguinha de infância do Cláudio que foi morar em São Paulo quando era uma menina bochechuda e voltou agora que é a maior gostosa, uma dessas coisas que também costumam acontecer em novela. Tudo leva a crer que a Gracinha não seja virgem. Como a Gracinha mora na mesma casa que o Cláudio, e está sempre junto com ele, a Edwiges sente ciúmes. Até aí tudo normal. Acontece que, quando o Cláudio contou para a Edwiges que iria viajar para São Paulo, e queria que ela fosse junto, ela botou na cabeça que ele só queria que ela fosse para dormir com ela (pode ser que ela não esteja muito longe da verdade). Como Edwiges não aceitou, Gracinha se ofereceu (opa) para acompanhar Cláudio. Quando Edwiges se encontrou com os dois no aeroporto, chegou à seguinte conclusão: Já que eu não quis viajar para dar pra ele, ele arrumou uma que queira. Por isso a cena de ciúmes.

Chega de novela. Vamos à minha consideração.

Uma jovem virgem namora um jovem não-virgem. Nenhum problema nisso, deve ser até corriqueiro. Pessoas virgens só podem namorar virgens e não-virgens namorar não-virgens? Não. Ela é obrigada a deixar de ser virgem? Não. Ele deve fingir que é virgem? Não. Mas vejam só que coisa estranha: Ela se sente inferiorizada por ser virgem, e acha que ele vai querer deixar de namorar com ela para poder pegar uma não-virgem, ou pior ainda, manter relações com uma não-virgem ao mesmo tempo que namora com ela. Na cabecinha dela, é impossível ele, não sendo virgem, namorar com ela e preservar sua virgindade até um eventual casamento.

Eu não a culpo. Deve estar cheio de exemplos por aí de rapazes não-virgens que têm namoradas virgens e não as respeitam, seja forçando uma situação para que elas durmam com eles, seja arrumando uma "amante" com quem possam manter relações sexuais enquanto namoram com elas, seja terminando o namoro porque elas não quiseram dar pra eles. E é esse tipo de comportamento que encuca meninas como a Edwiges.

Sabedor de que isso existe "na vida real", esse "encucamento" até que não me espanta tanto. O que me espanta é que parece que os valores estão todos ao contrário. É como se, antigamente, as pessoas virassem e dissessem "você é virgem? Puxa, que legal!", e hoje em dia viram e dizem "você é virgem? Tadinha, por quê? Tá encalhada? Tá doente?" ou então "você é virgem? Rá, rá, rá!".

Não estou chamando quem não é virgem de promíscuo nem nada assim. Esse exemplo "sexual" apenas serve para demonstrar que, em nossa sociedade, não se costuma respeitar a opção das pessoas, e isso faz com que as pessoas que fizeram uma opção diferente da maioria se sintam inferiorizadas. Tanto faz se Edwiges se sente inferiorizada porque ela é virgem e o namorado não, se porque ela é FHC e ele Lula, ou se porque ela é a favor da guerra do Iraque e o namorado não. O desrespeito, a inferiorização é a mesma.

Como eu já mencionei de forma parecida em um post pregresso, nossa fofa sociedade criou um "padrão". Ou você se inclui nele, ou sofre as conseqüências. Mesmo que você não seja apontado na rua como "diferente", em seu íntimo você sente vergonha. Você se sente inferior. Você acha que todos estão te apontando, e se você revelar sua condição de proscrito, acontecerá algo muito pior. É como a história de "assumir seus cabelos brancos". Todo mundo que tem cabelos brancos os pinta, então quem não faz está assumindo seus cabelos brancos. Será? Ou será que quem pinta é que não os assume? Percebam que há uma diferença.

E como se livrar dessa pecha de pária? Escondendo uma opinião pessoal diferente, você acaba se entristecendo, envergonhando, e, muitas vezes, se inferiorizando. Fingindo que sua opinião é a mesma da maioria, você perde personalidade e autenticidade. Mudar sua opinião só para ser aceito é pior ainda, você desrespeita a si mesmo. Só que, vivendo em sociedade, nós temos que fazer concessões, não podemos tentar impor nossa opinião a todo mundo (até porque cairíamos no mesmo erro de quem tenta nos impor as deles). E aí, que que a gente faz?

O importante é não deixar que sua opinião torne você mesmo inferior. Se você não se inferiorizar, ninguém mais conseguirá inferiorizá-lo. Lembre-se de que um ser humano é um indivíduo, não um ser coletivo. Você tem o direito de ser diferente.

E se alguém não souber respeitar isso, se afaste, ignore, lute por suas convicções, sei lá. Mas não se inferiorize.
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domingo, 4 de maio de 2003

Escrito por em 4.5.03 com 0 comentários

Timidez

Muitas vezes, nossas limitações são impostas por nós mesmos. Quantas vezes não ficamos nos lamentando, "puxa, nada que eu escrevo fica bom", "eu não sei cantar, sou desafinado", "meus desenhos parecem rabiscos de jardim de infância", e coisas desse tipo? Pior ainda é quando nos fazem um elogio, tipo "como sua voz é bonita", e respondemos com algo do tipo "que isso, eu canto tão mal...", como se quiséssemos continuar inferiorizados, nos recusássemos a ganhar uma pequena parcela de auto-confiança.

A palavra-chave é essa: auto-confiança. É tão difícil que a consigamos, e, quando a temos, é tão fácil de perdê-la. É ela (ou melhor, a falta dela) que faz com que criemos nossos paradigmas, nossas barreiras, nossas limitações. Contraditoriamente, somente nós podemos aumentá-la, derrubando os paradigmas criados por nós mesmos em momentos que ela estava baixa. Nossa, que filosófico.

O ser humano é capaz de tudo, menos de voar. Só que, até pra isso, ele deu um jeitinho e inventou o avião. Nós, indivíduos, é que sempre ficamos achando que não sabemos escrever, desenhar, cantar, etc.

Eu sempre me orgulhei de ser uma pessoa sem-vergonha. Infelizmente, em nossa sociedade, isso ganhou um sentido pejorativo, então quem lê uma coisa dessas acaba achando que eu sou promíscuo ou coisa parecida, mas não é nada disso. Eu simplesmente não crio limitações para minhas interações sociais. Nunca tive medo de apresentar trabalhos em sala de aula, de fazer provas de concurso, nada disso. Pelo contrário, até fiquei conhecido como "espetaculoso" nos treinamentos dos meus colegas orientandos para apresentação de monografia.

Fico nervoso? Fico. Tremo? Tanto que nem posso segurar papéis, senão fica feio. Só não deixo que isso me atrapalhe. Respiro fundo e falo. Se tiver que fazer uma prova, respiro fundo e faço. Se tiver que cantar, respiro fundo e canto. E olha que eu sou, sim, bastante desafinado.

Enquanto escrevo isso, me lembro de duas pessoas. Uma delas, um de meus melhores amigos, é também uma das pessoas mais educadas que eu conheço. Quando telefona aqui pra casa, não começa a falar o assunto até que tenha feito todas as perguntas de praxe: "Te acordei? Tava almoçando? Acordei alguma pessoa da sua família? Alguma pessoa da sua família tava almoçando? Tá ocupado? A pessoa que atendeu o telefona tava ocupada? Tô te atrapalhando? Pode falar comigo? Ah, então tá, olha só..."

Não que isso seja ruim, quem dera todos fossem tão educados como ele, mas isso acaba criando uma impressão de que ele seja uma pessoa tímida. Bem, talvez seja mesmo, mas que convive com ele sabe que ele, de certa forma, é como eu, não tem medo de pagar mico. Acho que ele concorda com a minha teoria de que não dá pra se viver com vergonha. Às vezes ele paga um mico e se arrepende logo em seguida, mas pelo menos fez o que achava que tinha que fazer.

O outro amigo de que me lembro ao escrever este texto é meu primo. Ele é uma das pessoas mais afinadas que eu conheço, canta muito bem, só tem um detalhe: Quase ninguém o ouve cantar. Ele é muito tímido, de forma que só canta quando estão presentes apenas pessoas muito próximas. Nem nas minhas incríveis festas com videokê ele participa.

Timidez não é um defeito, mas deixar que ela atrapalhe sua vida é. Se meu primo está vivendo bem com sua timidez, deixemos-no assim. Afinal, não é um defeito tão grave assim não querer cantar no videokê.

Mas se a sua timidez, ou sua falta de autoconfiança estão atrapalhando a sua vida, talvez você esteja criando limites demais. Da próxima vez que disserem que um texto seu é bom, que um desenho seu é bonito, que uma música que você cantou estava afinada, que um trabalho que você apresentou estava bom, faça um favor a si mesmo e acredite.

E, mesmo que não acredite, não desista. Alguns textos meus (talvez TODOS os meus textos sérios) eu acho que ficaram uma boa porcaria, como esse, por exemplo. Mas não deixo de mostrá-los aos outros, já que alguém pode gostar, e alguém que não gostar pode me dar dicas de como melhorá-lo. E assim eu vou ganhando auto-confiança.
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domingo, 27 de abril de 2003

Escrito por em 27.4.03 com 0 comentários

Escrever é difícil

Escrever no átomo dá uma trabalheira danada. Afinal, são temas sérios, e não podemos escrever sobre temas sérios de forma leviana, pois de vez em quando eles influenciam a quem os lê. Só que tem outro problema: Encontrar um tema apropriado. Tudo bem que o mundo está cheio de temas sérios, mas aí a gente cai no primeiro problema: Adequar o que será escrito à seriedade do tema escolhido.

Eu adoro escrever, sempre gostei. Nunca fui intimidado por redações, seja em que língua fossem. Mesmo assim, tem dias em que eu olho pro meu Notepad (sim, eu escrevo no Notepad, faço até os layouts do BLOGuil nele, que que tem?) e simplesmente não sai nada. Tá ele lá, branquinho, branquinho, e eu aqui pensando no que eu vou falar essa semana. Normalmente dá um estalo, alguma coisa que eu vi na televisão, li no jornal ou aconteceu no BLOGuil, e aí eu acho meu tema. Às vezes não, aí eu fecho o Notepad e deixo pra escrever outro dia.

Por isso, em homenagem a este Notepad tão branquinho, desenvolverei hoje o seguinte tema: A dificuldade de escrever. Não a dificuldade de achar um tema, mas simplesmente a dificuldade de escrever, de pegar nossas idéias e tranmití-las para outras pessoas de forma escrita.

Ontem, durante o banho, mais uma vez eu pensava sobre o que escreveria para que as teias de aranha do átomo fossem varridas essa semana. Quando pensei "mas como é difícil achar sobre o que escrever", comecei a divagar sobre todas as dificuldades que as pessoas têm quando se trata de escrever.

Escrever sobre qualquer besteira é uma tarefa relativamente fácil. Escrever sobre um tema pré-determinado é outra história - mesmo que este tema tenha sido pré-determinado por nós mesmos, como é o meu caso aqui nesse blog. Não somos treinados desde pequenos para escrever. Somos treinados para ver televisão, talvez ler gibi, mas são poucos os que se acostumam a transferir seus pensamentos para uma folha de papel. Aí chega o vestibular, e a gente se depara com um tema do tipo "Na sua opinião, a discussão social presente no filme Carandiru reflete a verdadeira vida penitenciária brasileira, ou é apenas a fantasia cinematográfica dando tintas a uma situação ainda ignorada pela maior parte da sociedade? Discorra em 150 palavras, comparando os pontos principais de seu raciocínio com a atual situação nas favelas cariocas". E já que o suicídio não é uma opção, lá vai o pobre coitado do vestibulando quebrar a cabeça. Por um acaso, a redação mais difícil que eu já fiz na minha vida tinha a ver com o massacre do Carandiru (na época ainda fresquinho). Eu tinha 14 anos. Tudo bem, eu tinha visto do que se tratava na televisão, mas não havia lido os jornais, não sabia porque aqueles policiais tinham decidio sair matando todo mundo - e nem porque as pessoas protestavam, já que eles "eram bandidos mesmo". Quando comecei a escrever, tive medo de que meu texto parecesse meio nazista (desde aquela época já tinha aversão por frases do tipo "tem mais é que matar", embora eu mesmo as profira de vez em quando, em acessos de revolta contra a sociedade). Refiz o rascunho e fiquei com medo de que ele parecesse protecionista aos bandidos demais. Refiz uma terceira vez e achei uma porcaria. Aí misturei as três versões e seja o que Deus quiser, que o tempo tava acabando. Tirei nove sabe-se lá como.

Depois deste texto, nunca mais encarei temas polêmicos como esse. Isso foi bom , porque, depois deste texto, toda vez que eu escrevo alguma coisa, fico com a impressão de que serei mal-interpretado. É uma sensação incômoda, mas eu aprendi a lidar com ela depois que li em algum lugar que um texto não é bom se todo mundo concorda e ninguém contesta, e não adianta nada a gente escrever textos para quem tem opinião igual à nossa (o Dapieve falou algo parecido com essa segunda parte em sua coluna de sexta-feira no jornal O Globo - "ninguém troca idéias com quem tem idéias semelhantes". Concordo com ele em gênero, número e grau).

Enfim, minha motivação para escrever este texto foi a seguinte: Quantas pessoas devem ter, neste momento, a mesma dificuldade que eu tive naquela fatídica redação em 1992, ou a mesma que estou tendo agora, quando o responsável por escolher os temas não é outro senão eu mesmo?

Num segundo pensamento, escrever não é fácil. Nem quando se escreve sobre qualquer besteira, pois ainda assim corremos o risco de escrever um texto ruim, que não alcance nosso objetivo primeiro, aquele que traçamos quando decidimos escrever.

Que bom seria se todos nós nos acostumássemos a treinar pegar os pensamentos dispersos que flutuam em nosso cérebro e colocá-los arrumadinhos em uma folha de papel. Melhor ainda se o fizéssemos quando criancas, pré-adolescentes, quando temos menos preocupações fazendo companhia a estes pensamentos dentro do cérebro, mais tempo para ordená-los, mais folhas de papel para preencher.

Afinal, isso não serve apenas para redações obrigatórias cascudas, mas também para desenvolver o raciocínio, nos proporcionar uma vantagem na hora de expormos nossas idéias. Se elas vierem arrumadas, será mais fácil para os outros as entenderem do que se vierem todas bagunçadas.
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quinta-feira, 17 de abril de 2003

Escrito por em 17.4.03 com 0 comentários

Consumismo

Incrível como temos a péssima mania de nos divertirmos consumindo. E não estou falando só de comer.

Um amigo me contou que seu pai tem a mania de colecionar coisas. Até aí, tudo bem, eu também tenho. Mas meu amigo se mostrava preocupado com o fato de que seu pai já estava apresentando sintomas de obsessão compulsiva, comprando só por comprar coisas que nunca iria usar.

Será mesmo isso patológico? Outro dia eu me perguntava para que eu continuo comprando CDs se nem ao menos os ouço. Se comparar os CDs da minha adolescência com os atuais, descubro que, dos primeiros, sei cantar todas as músicas de cor, enquanto alguns dos últimos eu só ouvi uma única vez. Todos nós estamos vivendo dessa forma, comprando coisas das quais não precisamos, apenas para satisfazer pequenos desejos internos, seja para sufocar frustrações, ganhar auto-confiança ("eu te-nho, você não te-em!") ou aproveitar a moda. Afinal, qual a diferença entre um Ovo de Páscoa de 300g e um chocolate grande de 300g, a não ser o formato? Aposto que todo mundo acha o Ovo mais legal.

Não estou dizendo que todos devamos adotar um comportamento ascético, mas temos que tomar cuidado com o consumismo exagerado, tão presente nos nossos dias. Por que comprar uma calça jeans de grife que custa 200 Reais se ela veste igual a uma da C&A que custa muito menos? Conheço diversas pessoas que não possuem um tostão furado, mas só vestem roupas de grife. Um deles chegou a jogar fora uma camisa que ganhou de sua madrinha quando descobriu que fora comprada na Rua da Alfândega (nota para os não-cariocas: a Rua da Alfândega é um mercado popular, também conhecido como Saara, composta de várias lojas que vendem produtos baratos, alguns bons, outros de qualidade duvidosa).

O consumismo parece nos dar alegrias, mas está nos escravizando. Tal como viciados, não conseguiremos ser felizes se não conseguirmos comprar os itens que nos satisfazem, mesmo que depois eles fiquem encostados na estante pegando poeira, sem mais servir para coisa alguma. Quando o dinheiro aplicado "não fará falta" (entre aspas porque qualquer dinheiro sempre faz falta) é uma coisa, mas quando precisamos abrir mão de coisas mais necessárias ao nosso bem-estar, temos um problema.

Se livrar desse consumismo não é fácil. Eu mesmo continuo comprando CDs que só ouvirei uma única vez. Mas estou me disciplinando a juntar dinheiro pacientemente, sem tirar do necessário para minha subsistência, e a não me desesperar se não conseguir comprar algo que quero. Por enquanto estou conseguindo. Espero que não parem de vender o que eu quero comprar antes de eu juntar todo o dinheiro.

E sabem por que a calça de grife custa 200 Reais? Porque as pessoas pagam. Se ela ficar encalhada na loja um ano, o preço vai baixar.
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quarta-feira, 9 de abril de 2003

Escrito por em 9.4.03 com 0 comentários

Infância anos 80

Atenção: O post de hoje é bem pessoal.

No meu último post no BLOGuil, eu inventei uma nova seção, a Seção Exumação. Antes que alguém se assuste com o nome, trata-se de fotos de coisas dos anos 80, como a caneta Kilométrica, que inaugurou a seção, seguida de uma pequena descrição do que seria aquela coisa, para quem não sabe ou não se lembra. Eu tenho várias coisas dos anos 80 aqui em casa, e esse foi um dos motivos pelos quais eu decidi criar essa seção. O outro motivo é mais pessoal: Eu tenho muita saudade dessa época.

Eu não escondo isso de ninguém, e todo mundo sabe que eu sou fanático pelos anos 80, mas um comentário da Angelrose me fez refletir e escrever este post mais sério. Ela disse algo do tipo "tão novinhos e tão saudosos".

Realmente eu nunca tinha pensado nisso. Para quem não sabe, eu fiz 25 anos mês passado. Não me considero velho, muito pelo contrário - apesar de sempre brincar dizendo coisas do tipo "quando eu era pequeno as crianças não sabiam o que era sexo, devo estar ficando velho", talvez em uma reflexão crítica inconsciente quanto ao rumo da sociedade. Não sendo tão velho, teoricamente, eu não teria tantos motivos para sentir saudade. Qual seria a razão, então, de eu sentir saudade de simplesmente tudo o que me aconteceu em minha não-tão-distante-assim infância?

Talvez fosse aquela uma época mais feliz. Tinha a Guerra Fria e um restinho da ditadura, é verdade, mas ninguém tinha medo de sair na rua, nem de ficar em casa desempregado pelo resto da vida. Eu costumava dizer, em minha adolescência, que as últimas pessoas que tiveram infâncias felizes foram as que nasceram em 1981. As demais já pegaram uma programação cheia de sexo, violência urbana e power rangers. E quando eu digo "programação", não estamos restritos às telinhas das tevês. Quando eu era pequeno, contava nos dedos os amigos que tinham pais separados: um. Hoje em dia, se você for a qualquer reunião de pais de escolas primárias, vai achar um montão. As músicas não tinham duplo sentido - e, quando o tinham, era político, não sexual. O dinheiro já era importante, é claro, mas não era justificativa para tudo - você sabe que alguma coisa está errada quando todos os brinquedos têm a cara do Gugu.

De uma forma geral, acho que era uma época mais inocente, não porque eu era criança, mas porque toda a sociedade, de forma geral, era menos preocupada com certos vícios, e mais agarrada a certos valores. Acho que eu tinha uns 10 anos quando descobri como as pessoas faziam sexo, e levei um susto - não, eu não vi uma demonstração prática - mas, hoje em dia, com a desculpa de que "precisamos ter crianças bem informadas", qualquer menininha de quatro anos já sabe até algumas posições. Eu jogava pac-man e banco imobiliário, hoje o sobrinho de um amigo meu só quer saber de ver raios enormes e gente explodindo no Dragon Ball, tanto na tv quanto no videogame. Eu só ouvia Xuxa e Balão Mágico, e nem tinha vontade de ouvir "música de adulto". Há uns anos atrás conheci uma menina de 3 anos que sabia todas as coreografias do É O Tchan.

Eu não vou dizer aqui que tudo isso está errado. A sociedade mudou, "evoluiu". Não é errado, apenas diferente. Mas isso me entristece. Fico pensando como será quando eu tiver que criar os meus filhos, se a coisa continuar caminhando dessa maneira. E toda vez que vejo meu astronautinha do Tente na estante, ouço Kayleigh ou assisto a um replay da TV Pirata no Video Show me dá saudade. Talvez não de ser criança, mas simplesmente de ter vivido nos anos 80.
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quinta-feira, 3 de abril de 2003

Escrito por em 3.4.03 com 0 comentários

Imediatismo

Primeiro, gostaria de pedir desculpas por não ter tido post aqui semana passada. Alguns compromissos impediram que eu me concentrasse para escrever, e Deus sabe o que sai desse teclado quando eu não me concentro. De qualquer forma, parece que o assunto anterior foi muito bem discutido nos comentários, e o assunto de hoje é o mesmo que eu iria expor semana passada, de forma que vocês não perderam nada.

Para aqueles que não sabem, eu sou formado em Direito. Durante minha estada na faculdade, convivi com alunos de todos os tipos - os que queriam mesmo exercer uma profissão jurídica, os que estavam fazendo Direito para não serem mais enganados por seus advogados (tá, eu também vou fazer medicina para não ser mais enganado pelo meu médico), e os que resolveram fazer Direito porque os pais obrigaram a fazer uma faculdade, e disseram para eles que direito era fácil.

Intervalo. Palavras de um professor meu do segundo grau: "Direito e Engenharia são profissões opostas. Engenharia é a faculdade mais difícil de se fazer, mas é a profissão mais fácil de se exercer, pois a matemática não muda. O Direito é a faculdade mais fácil de se fazer, mas é a profissão mais difícil de exercer, pois muda todo dia". Concordo com ele em parte (não acho que engenheiro seja uma "profissão fácil"). E quem acha que Direito é fácil deve tentar imaginar como estou me sentindo depois que o Código Civil TODO mudou 13 dias após meu último dia de aula.

Bem, voltando à vaca fria, tinha também um quarto tipo de aluno, o que não sabia o que era o Direito, e só começou a descobrir depois da primeira prova do primeiro período. Na sociedade brasileira isso é mais comum do que se pensa - afinal, temos que escolher a profissão que exerceremos talvez pelo resto da vida entre os 15 e os 17 anos, idade na qual nossos únicos interesses são videogame, festas e mulher pelada. Aí o sujeito fala "quero ser advogado", achando que tudo é uma beleza e vai ficar milionário. Alguns resistem bravamente, gostam do que descobriram ser o Direito e se tornam excelentes advogados, juízes, promotores, etc. Outros se cansam, abandonam e vão fazer outra faculdade. Até aí tudo normal, nenhum desses procedimentos é condenável.

Meu pai é professor de Direito há 17 anos. 90% da minha escolha profissional foi devida à admiração por ele, de achar legal aquela profissão tão esquisita, onde você deve combater outro profissional igualzinho a você, na frente de outro que também estudou tudo aquilo que você sabe, e, dos dois combatentes, quem tem o melhor argumento ganha. No início de fevereiro, começaram as aulas na faculdade onde meu pai leciona, e ele me contou estar chateado com um fato que ocorria nos primeiros períodos: enquanto ele explicava como funcionavam determinadas leis, alguns alunos exaltados bradavam que quem é safado tem mais é que ficar preso, que é um absurdo o Rodrigo Silveirinha não estar preso ainda, o Beira-Mar ter direito a visita de advogado, não existir pena de morte no Brasil, enfim, todas essas coisas que todos nós falamos diariamente, às vezes resultado de nossa inconformação com a atual situação, às vezes de brincadeira, às vezes por realmente achar que algumas leis estão erradas. O que acontecia era que, quando meu pai explicava que não podia ser desse jeito, que tinha uma lei regulamentando isso, que essa lei tinha que ser cumprida, patati-patatá, muitos deles se levantaram e disseram: "ah, o Direito é assim, é? Quer dizer que a gente tem que ficar de braços cruzados sem fazer nada? Então não quero mais ser advogado!", e iam embora, abandonando o curso antes mesmo de ter um contato mais prolongado com a matéria.

Na minha opinião, desistir de ser advogado porque se "descobriu" que mandar o Beira-Mar para Alcatraz não é possível equivale a desistir de ser médico porque se descobriu que os hospitais públicos não possuem medicamentos.

As pessoas hoje em dia vivem na cultura do imediatismo. Todo mundo quer viver um Big Brother, ficar 79 dias na piscina e no fim ganhar 500 mil Reais. Ninguém mais tem paciência pra fazer nada, pra aprender nada, pra exercer corretamente nenhuma profissão. É como o Nachsieben disse em seu comentário ao meu post anterior, nem mesmo para salvar um casamento as pessoas têm paciência, se separam logo e vamos para outro.

É claro que ninguém é obrigado a terminar uma faculdade de 5 anos para descobrir que não gosta daquilo e ir fazer outra. É claro que ninguém tem que ficar casado com uma pessoa que não ama mais só pra manter um casamento sem prazer. O problema é que, do jeito que as coisas estão, tá esquisito, não existe outra palavra. Um aluno que abandona a faculdade após 16 dias de aula só porque não vai conseguir fazer com que as leis mudem ao seu bel-prazer, um casal que se separa após 2 meses de casado porque ele raspava a manteiga e ela cortava (sim, eu conheço esse casal) são exemplos de uma sociedade doente, que dá extrema importância ao imediato, ao prazer pessoal, ao dinheiro fácil, e não se importa com quem está à sua volta.

Aí vêm os argumentos de que, que que adianta viver infeliz se podemos um dia morrer de bala perdida, e essas coisas todas. Nenhum deles me convence de que a única saída é agir de modo impulsivo, irracional, e às vezes até mesmo egoísta.

Não existindo mais paciência, não existe mais respeito. Ninguém estará disposto a escutar o que um professor tem a dizer, os filhos não darão mais valor aos pais que trabalharam duro para que eles ficassem em situação confortável. É como o caso do garoto cujo pai só tinha estudado até a quarta série, era dono de um botequim e milionário. Ele abandonou a escola, não havia força no mundo que o fizesse voltar, e ele tinha até um bom argumento: "pra que eu vou estudar, se meu pai não estudou e é rico?"

Nenhum sucesso acontece repentinamente, como uma explosão. Todos são resultado de uma luta árdua, algumas vezes de muitos e muitos anos, várias ações interligadas que culminam em um resultado satisfatório. É como diz aquele ditado infame, "o dicionário é o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho".

Tenham paciência. Vocês têm um cérebro para pensar, analisar as situações e determinar qual curso de ação será o mais vantajoso para o seu futuro. Para que agir de impulso correndo o risco de se estrepar depois?
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domingo, 23 de março de 2003

Escrito por em 23.3.03 com 0 comentários

Insegurança (II)

Na última quinta-feira, fiz um post sobre a insegurança, que pode ser lido bem aqui debaixo desse por quem ainda não o fez. Graças ao advento do feedback, Penny Lane fez um comentário interessante - uma coisa que, inclusive, eu ia incluir no meu post original, mas depois eu acabei esquecendo - e, ao ler tal comentário, senti vontade de voltar ao assunto (na verdade eu ia fazer um comentário respondendo ao comentário dela, mas estava ficando grande demais). Portanto, primeiro reproduzirei um pedacinho do comentário que ela fez, depois discutirei um pouco mais este assunto:

"(...) acho que esse lance de insegurança não é uma novidade da nossa geração. Sempre existiu quem fumasse para agradar os outros (aliás, acho que uma conquista da nossa geração é poder dizer "não" ao cigarro sem se sentir mal); quem desse pro namorado sem querer, só para dar prova de amor; quem se jogasse na frente do trem porque os amigos o fizeram.
Enfim, desde sempre houve gente sem conteúdo e disposta a tudo para se encaixar".

Eu concordo que este não seja um problema exclusivo de nossa geração. O que mais me impressiona, no entanto, é que, quanto mais o tempo passa, maior a insegurança das pessoas aumenta, mais os grupos se fecham, quando, devido à facilidade de acesso à informação, à maior liberdade concedida aos filhos pelos pais, e a uma série de outros fatores, deveria ocorrer o contrário - ou seja, eventos que deveriam contribuir para o bem, por alguma influência nefasta, contribuem para o mal.

Os meios de comunicação deveriam contribuir para a libertação das massas - se não diretamente, devido aos ditames do capitalismo selvagem, pelo menos indiretamente, através da disseminação de informações. No último fim de semana, Penny Lane, Débbby e o Andarilho estavam conversando sobre um assunto que eu não sei bem qual era, porque só ouvi um pedaço, e acabaram tocando neste assunto: como é possível que, hoje em dia, com todas as informações sobre os males do cigarro que as pessoas têm, os jovens ainda comecem a fumar?

Realmente é uma coisa estranha: continuamos tendo fumantes apesar de toda a informação sobre os males do cigarro, ainda temos adolescentes grávidas apesar de todas as campanhas pelo uso da camisinha, ainda temos madeireiros apesar da conscientização ecológica. Alguma coisa acontece no meio do caminho que dita novos padrões de comportamento diferentes dos que seriam esperados pelo bom-senso. É certo que hoje em dia é mais fácil dizer não a um cigarro ou a um namorado tarado do que há 30 anos atrás, mas, por algum motivo, as pessoas simplesmente não querem fazer isso.

Um amigo meu uma vez disse que "talvez liberdade demais tenha estragado a população". É um pensamento meio drástico, mas pode ser adaptado. Acho que a palavra mais adquada não seria "liberdade", mas sim "liberação". Em termos históricos, no século XX a humanidade teve uma liberação muito, muito rápida. Em um espaço de 100 anos as pessoas foram mais liberadas do que nos 500 anos anteriores - basta comparar a sociedade de 1800 com a de 1900 e a de 1920 com a de 1970: na metade do tempo, o dobro do avanço.

Devido a este avanço em fast-forward, a sociedade se embolou, e, ao invés de tornar as pessoas mais livres, tornaram-nas mais escravas, só que de padrões diferentes. Em 1850 os jovens eram escravos de suas famílias, hoje o são de seus "amigos", pois vivem segundo padrões de comportamento ditados, se comparados talvez mais rígidos que os familiares, apesar de menos evidentes.

Como eu já disse antes, infelizmente não tenho uma solução para isso, meu papel é apenas comentar sobre o problema, mas gostaria de ter a esperança de que, um dia, as pessoas consigam ser indivíduos, e não robozinhos remotamente controlados por uma entidade sem rosto chamada "sociedade".

Eu li uma vez no jornal (não lembro quando nem onde) uma entrevista de um sociólogo (que eu também não lembro quem era - que beleza!) falando sobre a moda. Ele dizia que, antigamente, as pessoas começavam a usar algum tipo de roupa, e aí os outros achavam legal, começavam a usar também, e isso virava a moda. Hoje em dia, um estilista chega na televisão em meados de novembro e diz: "a moda para a próxima temporada outono-inverno será o casaco de couro". Em março do ano seguinte, todas as lojas começam a vender casacos de couro, e todo mundo só quer usar casacos de couro.

Sei não, mas alguma coisa está errada...
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quinta-feira, 20 de março de 2003

Escrito por em 20.3.03 com 0 comentários

Insegurança (I)

Antes de começar este texto, deixem-me fazer um pequeno comentário: Sim, eu assisto à Casa das Sete Mulheres, que que tem? Isto posto, prossigamos.

No capítulo desta terça-feira, Sinhá Mariana decidiu se entregar ao Peão João Gutierrez. No diálogo que antecedeu tão belo momento, ela achava que ele duvidava de seu amor, e decidiu dar-lhe uma prova do mesmo. Enquanto ela desabotoava o vestido, iniciou-se um diálogo aqui em casa, pois minha mãe disse que "antigamente isso acontecia muito, do rapaz pedir uma prova de amor", o que foi contestado com o argumento de que hoje isto continua acontecendo, e completado pela minha irmã, que disse que "hoje em dia o rapaz nem precisa pedir, que a moça já vai dando".

Como sempre acontece por aqui, um assunto que pareceria fechado em um contexto pré-determinado se expandirá inacreditavelmente: Me impressiona como existem pessoas preocupadas com a opinião alheia nesse mundo. A mocinha que dá uma prova de amor ao namorado que a pede é um exemplo, pois, não tendo segurança em seu próprio relacionamento - que poderia desmoronar sem tal prova - e preocupada com o efeito que tal desmoronamento causaria em sua imagem perante suas amigas, família e outros garotos, ela aceita uma imposição, muitas vezes contra sua vontade. Obviamente, o exemplo da mocinha ávida por dar uma prova de amor antes mesmo do namorado pedir - Sinhá Mariana? - não se encaixa aqui, então deixa esse pra lá.

É claro que ninguém precisa chegar ao ponto de um George Bush, que ignorou milhões de pessoas que não queriam a guerra, mas algumas pessoas hoje em dia simplesmente não conseguem ter individualidade. A cada passo, a cada gesto, estão preocupadas com "o que os outros vão pensar de mim". Eu mesmo fui vítima deste mal ao tentar escrever este post: este aqui é a segunda tentativa, a primeira ficou meio ofensiva, e eu imaginei "nossa, o que vão pensar quando lerem isto?", o que só veio a reforçar o que eu mesmo estava escrevendo.

Meu caso particular, pelo menos, é algo mais brando, pois retrata uma preocupação que eu acho deveria existir em todos os que escrevem ao público, a de não ofender ninguém. Triste é quando uma pessoa compra roupas que não pode pagar, começa a fumar, ou abre mão de sua virgindade apenas para ser inserido em um meio social.

De quem seria culpa? Da televisão? Da falta de cultura? Do governo? Não sei. O que sei é que tudo isso, todos esses comportamentos, refletem apenas uma coisa: insegurança.

As pessoas hoje em dia estão incrivelmente inseguras. Não somente o paspalho que começa a fumar para ser aceito por seus amigos está inseguro, mas os amigos que estão todos fumando buscando uma identidade em comum também estão. É um raciocínio perverso, mas faz sentido: se eles conseguirem convencer outras pessoas a fumar, os que não fumam serão os "diferentes", mas se eles não conseguirem, os "diferentes" serão eles, que fumam, e isso lhes causa pavor. Os grupos sociais fecharam-se de uma forma que todo mundo tem medo de ficar de fora, e faz praticamente qualquer coisa para entrar - mas as próprias pessoas que fecharam esses grupos só o fizeram por medo de serem absorvidos por outros grupos mais fechados que os deles.

Não estou aqui para dar uma lição de moral do tipo "temos que dar um basta", e tampouco tenho solução para isso. Porém, na minha sincera opinião, seria preciso que as pessoas tivessem mais coragem e auto-confiança. Retornando ao diálogo que tivemos durante a minissérie, quando Sinhá Mariana terminou de desabotoar o vestido, minha mãe disse "agora ele tinha que dizer: 'não precisa de prova, Sinhá, eu acredito no seu amor'".

Seria a coisa certa, mas, se fosse hoje em dia, ele ficaria taxado de boiola. Talvez por outros que nunca na vida tiveram a oportunidade que ele teve, de estar frente a frente com uma Sinhá Mariana seminua, e que nem sabem se aceitariam ou se recusariam; neste caso se igualando àquele que condenaram, se recusassem por convicção, ou até ficando pior que ele nos padrões de seu grupo fechado, se recusassem por insegurança, por falta de confiança.

Todos inseguros.
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quinta-feira, 13 de março de 2003

Escrito por em 13.3.03 com 1 comentário

É difícil ser bom

Semana passada, eu e minha irmã assistíamos ao seriado do Batman - sim, aquele mesmo, da década de 60, meio xabi - quando ela resolveu fazer uma pergunta interessante: Por que, nestas histórias de super-heróis, existem tão poucos heróis e tantos vilões? Imediatamente eu me lembrei das palavras de um grande amigo meu há alguns anos, quando conversávamos sobre assunto semelhante: "É muito difícil ser bom".

Realmente, ser bom é difícil. Ora, se eu sou um João Ninguém, e de repente ganho incríveis poderes de vôo, visão de Raios-X, superforça ou invisibilidade, o que seria mais lógico, utilizá-los para assaltar um banco, espiar as meninas trocando de roupa no vestiário feminino, e outras coisas pouco decentes, ou para combater vilões de quinta sem ganhar nenhum mérito por isso, arriscando até mesmo a ser odiado e/ou caçado pela população?

Na tão famosa "vida real" não é diferente. Todos os dias comprovamos que as pessoas, quando possuem poder, normalmente o utilizam para o mal. O egoísmo, a ganância, a inveja, e outros sentimentos que apressam nossa ida para o purgatório se apresentam logo que consigamos um pouco mais de dinheiro, status, posição social, cargos importantes ou coisas afins. Nossos valores morais estão tão deturpados, que é raro encontrar uma pessoa em posição social elevada ou importante que não esteja tomada pela arrogância, além do problema crônico de "auto-precupação com o próprio bolso", que transforma coisas como "preocupação social" em histórias da carochinha.

E nós, seres humanos comuns, pobres mortais sem "super-poderes"? Para nós seria então mais fácil praticar a bondade, já que não temos o status ou o vil metal a nos corromper?

Talvez não. Alguém já reparou que, quando se é bom, parece que a vida conspira contra nós? Pode parecer um contra-senso, mas dia após dia vemos nos meios de comunição pessoas que roubam, fraudam, transferem milhões para paraísos ficais e sempre se dão bem, enquanto nós, que pagamos todas as nossas contas em dia, temos nosso nome mandado para o SPC (o Sistema de Proteção ao Crédito, não a banda do Alexandre Pires), os bancos nos cobram juros absurdos, temos que andar pelas ruas morrendo de medo de que nos tirem o que já não temos, e isso quando ainda conseguimos um emprego para garantir essa merreca, porque o índice de desemprego não está aí para enfeitar. Nessas condições, ser bom, o que seria o padrão da humanidade, acaba se transformando em tarefa hercúlea para aqueles que ainda acreditam que devemos amar ao próximo.

Pensando nisso outro dia, acabei chegando a uma conclusão interessante, que compartilharei com vocês: Quanto melhor o prêmio, mais difícil o concurso, certo? Pois então. Ser bom é difícil por isso: um prêmio muito bom (com perdão do trocadilho) nos espera. Ser mau é fácil, portanto, não tem prêmio no final (talvez muito pelo contrário). Somente sendo bom, passando por todas as privações, humilhações e dificuldades, teremos mérito para, no final, recebermos nossa recompensa.

Pode não ser lá muito animador, mas deve ser verdade. De minha parte, eu pretendo continuar lutando contra a maré. Pretendo ser sempre bom, mesmo que todos os exemplos que eu encontro dia após dia digam exatamente o contrário. E espero que vocês também.

"E sonharemos com o dia em que a pessoa honesta deixará de tomar na testa".
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domingo, 9 de março de 2003

Escrito por em 9.3.03 com 0 comentários

Entretenimento?

Olha só que legal: Antes eu não sabia o que escrever em um blog, agora eu não sei o que escrever em dois! Eu não sou o máximo?

Vamos falar então de um dos motivos que me levaram a criar este singelo blog: a falta de entretenimento de qualidade.

Esta semana, se não me engano quarta-feira, enquanto trocava ininterruptamente de canais buscando algo que merecesse ser assitido na tv a cabo (150 canais e nada pra assistir. Quem entende um negócio desses?), me deparei com o filme "O Professor Aloprado". Não o do Eddie Murphy, mas o original, com Jerry Lewis. Como ainda estava começando, decidi assistir. Não sou muito fã de filmes antigos, nem "aficcionado por grandes clássicos". Pra ser sincero, se for para assistir no cinema, gosto muito mais de filmes que tenham coisas que explodem, gente correndo pra todo lado e muitos defeitos especiais, tipo Jurassic Park ou o Homem-Aranha. Afinal, aquela tela daquele tamanho e aquele sistema de som ensurdecedor têm que ter alguma serventia. Mas, em casa, eu gosto muito de assistir comédias, principalmente para espairecer. Não sou uim espectador muito exigente, de modo que já assiti incríveis pérolas do cinema mundial, como "Mortal Kombat: A Aniquilação", "O Observador" com Keanu Reeves, e outros dos quais me arrependi. Mas não aprendo, e continuo assistindo tudo o que me dá na telha. Por isso eu assisti "O Professor Aloprado" - desta vez o do Eddie Murphy, não o original, com Jerry Lewis - assim como sua continuação, "O Professor Aloprado 2: A Família Klump". Eu já sabia que o primeiro se tratava de uma refilmagem, mas nunca havia assistido o original. Pois bem, tive minha chance esta semana, e decidi não disperdiçá-la.

Eu poderia agora escrever algo do tipo "qual não foi minha surpresa ao descobrir que o original é muito melhor", mas não é o caso. O original é, indubitavelmente, muito melhor, mas isto não me surpreendeu. O filme pode até ser "menos engraçado" a maior parte do tempo - todos os bons momentos dependem da atuação perfeita de Jerry Lewis - mas também é menos... como direi... constrangedor.

No filme de Eddie Murphy, o professor é complexado, Buddy Love é um tarado anarquista, tenta tomar o controle o do pobre professor, e, no final, em uma festa, ocorre uma transformação grotesca, quando todos descobrem que Buddy e o professor são a mesma pessoa. No original, o professor é apenas um nerd que, cansado de ser incomodado pelos valentões, cria a fórmula. Buddy Love é apenas um almofadinha egocêntrico. A transformação durante a festa é muito mais sutil, e ainda envolve uma pequena lição de moral. O final é inesperado. E, o melhor de tudo, não tem piadas de sexo.

Por algum motivo que eu desconheço, alguém determinou que as coisas só podem ser engraçadas se tiverem piadas de sexo. Basta assistir programas do tipo "Zorra Total" para comprovar. "O Professor Aloprado 2", do Eddie Murphy, também é um bom exemplo: Tem tantas piadas de sexo que, em alguns momentos, eu me senti constrangido de estar assistindo aquilo. E o pior é que deve ter sido um sucesso de bilheteria, assim como "O Quinto dos Infernos" foi sucesso de audiência na Globo.

Mas ainda não é o bastante. Minha mãe costuma brincar dizendo que, no futuro, veremos sexo e carnificinas ao vivo na tv, tipo "The Running Man" do Schwarzenegger. Se depender da sociedade norte-americana, acho que esse futuro não está muito longe. Por algum outro motivo que eu igualmente desconheço, os americanos só acham graça em arroto, pum e vômito. Antenada com esta tendência, a Mtv criou um programa chamado "I Bet You Will", que por aqui pode ser assistido na Mtv Latina, por aqueles que não têm mais o que fazer. O programa consiste no seguinte: Eles te oferecem um dinheirão (começa com 20 dólares, mas pode chegar a mais de 100) para você fazer uma coisa absurda, burra, sem sentido e automutilante. Fica um monte de gente em volta "incentivando" o pobre candidato, e os apresentadores ainda melhoram a qualidade do programa. Eu só havia visto comerciais deste horror, e neles um sujeito teve que beber um pote de tinta guache, outro teve que calçar um par de tênis cheios de vermes, entre outras coisas agradáveis. Enfim, diversão para toda a família. Um desses dias, ao mudar de canal, estava passando o tal programa, e eu resolvi ver um quadro. Nele, uma loira siliconizada, que eu acredito ser uma dos apresentadores, em meio a um monte de gente, pediu por um "típico macho de Indiana". Um sujeito que aparentava ser sósia do Vin Diesel se apresentou. A prova consistia no seguinte: primeiro, o "típico macho" ia ter que vestir uma sunguinha vermelha fio-dental. Aí, ele teria que deitar de bruços sobre uns blocos de gelo daqueles que as pessoas quebram com golpes de caratê. Como se isso já não bastasse, ele ainda teria que beber um frasco de 300ml de molho de pimenta. Para sofrer este flagelo, Vin receberia a vultuosa quantia de... 20 dólares. A multidão conclamou: "pede mais!", e ele pediu. 30 dólares. Nada feito. Fechou por 45 dólares. Jogaram um pano em cima dele para que tirasse sua roupa e vestisse a sunguinha, e lá foi nosso herói, deitar no gelo e beber a pimenta. No início, ele estava bebendo de canudinho (e, pela cara que fazia, devia estar totooooso), mas depois resolveu virar pelo gargalo. A multidão foi ao delírio. Não satisfeita, a apresentadora peituda ofereceu mais 20 dólares para que ele bebesse mais um frasco, dessa vez de 600ml. Ele disse que era muito pouco. Um entrevistado da platéia disse que não faria por menos de $250. O "macho de Indiana" aceitou por $100. Como da primeira vez, começou no canudinho, depois bebeu no gargalo... mas não bebeu tudo. Começou a fazer uma cara estranha. A apresentadora delirou: "atenção, o molho vai voltar!". Enquanto o coitado vomitava, a multidão ia ao delírio. Depois que ele vomitou pela sengunda vez, eu mudei de canal. Não sei se ele ganhou o prêmio. Deve ter sido desclassificado.

Há alguns dias eu conversava com dois amigos sobre o problema da falta de entretenimento de qualidade, que as crianças de hoje não têm infância, que todos os brinquedos são do Gugu, essas coisas. Hoje em dia encontramos pouquíssimo entretenimento de qualidade, seja na televisão, cinema, teatro, internet, ou em forma de jogos ou revistas. A pior parte é que parece que as pessoas não se importam. No caso do "I Bet You Will", se a reação da platéia, ao invés de aplaudir delirantemente, fosse juntar a apresentadora na porrada em protesto contra a proposta absurda que ela fez ao pobre rapaz, o programa teria que ser repensado - ou não, talvez a audiência até subisse. De qualquer forma, a sociedade se acomodou, e aceita passivamente tudo o que lhe é despejado, desde os reality shows até a egüinha pocotó. Ouvi dizer que, em breve, no programa do Luciano Huck, teremos um reality show onde as pessoas terão que ficar acordadas durante uma semana, e depois participar de exaustivas provas, sendo que quem dormir será eliminado do programa. Minha irmã disse: "quando morrer um eles param". Será que param mesmo? Ou será que em breve teremos um singelo programa na tv brasileira chamado "Aposto que Você Faz"?

Lamentável.
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