Escrever no átomo dá uma trabalheira danada. Afinal, são temas sérios, e não podemos escrever sobre temas sérios de forma leviana, pois de vez em quando eles influenciam a quem os lê. Só que tem outro problema: Encontrar um tema apropriado. Tudo bem que o mundo está cheio de temas sérios, mas aí a gente cai no primeiro problema: Adequar o que será escrito à seriedade do tema escolhido.
Eu adoro escrever, sempre gostei. Nunca fui intimidado por redações, seja em que língua fossem. Mesmo assim, tem dias em que eu olho pro meu Notepad (sim, eu escrevo no Notepad, faço até os layouts do BLOGuil nele, que que tem?) e simplesmente não sai nada. Tá ele lá, branquinho, branquinho, e eu aqui pensando no que eu vou falar essa semana. Normalmente dá um estalo, alguma coisa que eu vi na televisão, li no jornal ou aconteceu no BLOGuil, e aí eu acho meu tema. Às vezes não, aí eu fecho o Notepad e deixo pra escrever outro dia.
Por isso, em homenagem a este Notepad tão branquinho, desenvolverei hoje o seguinte tema: A dificuldade de escrever. Não a dificuldade de achar um tema, mas simplesmente a dificuldade de escrever, de pegar nossas idéias e tranmití-las para outras pessoas de forma escrita.
Ontem, durante o banho, mais uma vez eu pensava sobre o que escreveria para que as teias de aranha do átomo fossem varridas essa semana. Quando pensei "mas como é difícil achar sobre o que escrever", comecei a divagar sobre todas as dificuldades que as pessoas têm quando se trata de escrever.
Escrever sobre qualquer besteira é uma tarefa relativamente fácil. Escrever sobre um tema pré-determinado é outra história - mesmo que este tema tenha sido pré-determinado por nós mesmos, como é o meu caso aqui nesse blog. Não somos treinados desde pequenos para escrever. Somos treinados para ver televisão, talvez ler gibi, mas são poucos os que se acostumam a transferir seus pensamentos para uma folha de papel. Aí chega o vestibular, e a gente se depara com um tema do tipo "Na sua opinião, a discussão social presente no filme Carandiru reflete a verdadeira vida penitenciária brasileira, ou é apenas a fantasia cinematográfica dando tintas a uma situação ainda ignorada pela maior parte da sociedade? Discorra em 150 palavras, comparando os pontos principais de seu raciocínio com a atual situação nas favelas cariocas". E já que o suicídio não é uma opção, lá vai o pobre coitado do vestibulando quebrar a cabeça. Por um acaso, a redação mais difícil que eu já fiz na minha vida tinha a ver com o massacre do Carandiru (na época ainda fresquinho). Eu tinha 14 anos. Tudo bem, eu tinha visto do que se tratava na televisão, mas não havia lido os jornais, não sabia porque aqueles policiais tinham decidio sair matando todo mundo - e nem porque as pessoas protestavam, já que eles "eram bandidos mesmo". Quando comecei a escrever, tive medo de que meu texto parecesse meio nazista (desde aquela época já tinha aversão por frases do tipo "tem mais é que matar", embora eu mesmo as profira de vez em quando, em acessos de revolta contra a sociedade). Refiz o rascunho e fiquei com medo de que ele parecesse protecionista aos bandidos demais. Refiz uma terceira vez e achei uma porcaria. Aí misturei as três versões e seja o que Deus quiser, que o tempo tava acabando. Tirei nove sabe-se lá como.
Depois deste texto, nunca mais encarei temas polêmicos como esse. Isso foi bom , porque, depois deste texto, toda vez que eu escrevo alguma coisa, fico com a impressão de que serei mal-interpretado. É uma sensação incômoda, mas eu aprendi a lidar com ela depois que li em algum lugar que um texto não é bom se todo mundo concorda e ninguém contesta, e não adianta nada a gente escrever textos para quem tem opinião igual à nossa (o Dapieve falou algo parecido com essa segunda parte em sua coluna de sexta-feira no jornal O Globo - "ninguém troca idéias com quem tem idéias semelhantes". Concordo com ele em gênero, número e grau).
Enfim, minha motivação para escrever este texto foi a seguinte: Quantas pessoas devem ter, neste momento, a mesma dificuldade que eu tive naquela fatídica redação em 1992, ou a mesma que estou tendo agora, quando o responsável por escolher os temas não é outro senão eu mesmo?
Num segundo pensamento, escrever não é fácil. Nem quando se escreve sobre qualquer besteira, pois ainda assim corremos o risco de escrever um texto ruim, que não alcance nosso objetivo primeiro, aquele que traçamos quando decidimos escrever.
Que bom seria se todos nós nos acostumássemos a treinar pegar os pensamentos dispersos que flutuam em nosso cérebro e colocá-los arrumadinhos em uma folha de papel. Melhor ainda se o fizéssemos quando criancas, pré-adolescentes, quando temos menos preocupações fazendo companhia a estes pensamentos dentro do cérebro, mais tempo para ordená-los, mais folhas de papel para preencher.
Afinal, isso não serve apenas para redações obrigatórias cascudas, mas também para desenvolver o raciocínio, nos proporcionar uma vantagem na hora de expormos nossas idéias. Se elas vierem arrumadas, será mais fácil para os outros as entenderem do que se vierem todas bagunçadas.
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