terça-feira, 13 de maio de 2003

Escrito por em 13.5.03 com 0 comentários

Opinião própria

Eu não me canso de reclamar da sociedade atual, porque ela faz as pessoas fazerem coisas que não entram na minha cabeça.

Como vocês já devem saber, eu gosto de comentar casos de novela antes de fazer minhas considerações. Não que eu acompanhe a novela, normalmente eu só vejo um pedaço ou outro (embora essa frase pareça desculpa de noveleiro que não quer se assumir), mas de vez em quando as novelas mostram situações que valem a pena serem discutidas, mesmo que a própria novela não as discuta como deveria. Vamos a uma destas situações, então.

No pedaço do capítulo de ontem da novela Mulheres Apaixonadas que eu vi, Edwiges corria para o aeroporto para se encontrar com seu namorado Cláudio, que iria viajar com ela para São Paulo, mas ela não deu certeza, e ele, teoricamente, iria viajar sozinho. Ao chegar no aeroporto, Edwiges descobriu que ele iria para São Paulo com sua amiga (amiga do Cláudio, não dela) Gracinha. Aí rolou uma cena de ciúmes básica. Para quem nem sabe quem são Edwiges, Cláudio e Gracinha, uma pequena explicação do problema: Edwiges namora Cláudio. Ela é virgem, enquanto tudo leva a crer que ele não. Ele é convicta de suas opções (ou seja, a princípio não quer perder a virgindade com ele, embora saibamos que, sendo isso uma novela, vai acabar acontecendo). Ele parece que não insiste ("parece" porque eu não acompanho a novela; ainda não vi ele insistindo). Só que tem a tal Gracinha, uma amiguinha de infância do Cláudio que foi morar em São Paulo quando era uma menina bochechuda e voltou agora que é a maior gostosa, uma dessas coisas que também costumam acontecer em novela. Tudo leva a crer que a Gracinha não seja virgem. Como a Gracinha mora na mesma casa que o Cláudio, e está sempre junto com ele, a Edwiges sente ciúmes. Até aí tudo normal. Acontece que, quando o Cláudio contou para a Edwiges que iria viajar para São Paulo, e queria que ela fosse junto, ela botou na cabeça que ele só queria que ela fosse para dormir com ela (pode ser que ela não esteja muito longe da verdade). Como Edwiges não aceitou, Gracinha se ofereceu (opa) para acompanhar Cláudio. Quando Edwiges se encontrou com os dois no aeroporto, chegou à seguinte conclusão: Já que eu não quis viajar para dar pra ele, ele arrumou uma que queira. Por isso a cena de ciúmes.

Chega de novela. Vamos à minha consideração.

Uma jovem virgem namora um jovem não-virgem. Nenhum problema nisso, deve ser até corriqueiro. Pessoas virgens só podem namorar virgens e não-virgens namorar não-virgens? Não. Ela é obrigada a deixar de ser virgem? Não. Ele deve fingir que é virgem? Não. Mas vejam só que coisa estranha: Ela se sente inferiorizada por ser virgem, e acha que ele vai querer deixar de namorar com ela para poder pegar uma não-virgem, ou pior ainda, manter relações com uma não-virgem ao mesmo tempo que namora com ela. Na cabecinha dela, é impossível ele, não sendo virgem, namorar com ela e preservar sua virgindade até um eventual casamento.

Eu não a culpo. Deve estar cheio de exemplos por aí de rapazes não-virgens que têm namoradas virgens e não as respeitam, seja forçando uma situação para que elas durmam com eles, seja arrumando uma "amante" com quem possam manter relações sexuais enquanto namoram com elas, seja terminando o namoro porque elas não quiseram dar pra eles. E é esse tipo de comportamento que encuca meninas como a Edwiges.

Sabedor de que isso existe "na vida real", esse "encucamento" até que não me espanta tanto. O que me espanta é que parece que os valores estão todos ao contrário. É como se, antigamente, as pessoas virassem e dissessem "você é virgem? Puxa, que legal!", e hoje em dia viram e dizem "você é virgem? Tadinha, por quê? Tá encalhada? Tá doente?" ou então "você é virgem? Rá, rá, rá!".

Não estou chamando quem não é virgem de promíscuo nem nada assim. Esse exemplo "sexual" apenas serve para demonstrar que, em nossa sociedade, não se costuma respeitar a opção das pessoas, e isso faz com que as pessoas que fizeram uma opção diferente da maioria se sintam inferiorizadas. Tanto faz se Edwiges se sente inferiorizada porque ela é virgem e o namorado não, se porque ela é FHC e ele Lula, ou se porque ela é a favor da guerra do Iraque e o namorado não. O desrespeito, a inferiorização é a mesma.

Como eu já mencionei de forma parecida em um post pregresso, nossa fofa sociedade criou um "padrão". Ou você se inclui nele, ou sofre as conseqüências. Mesmo que você não seja apontado na rua como "diferente", em seu íntimo você sente vergonha. Você se sente inferior. Você acha que todos estão te apontando, e se você revelar sua condição de proscrito, acontecerá algo muito pior. É como a história de "assumir seus cabelos brancos". Todo mundo que tem cabelos brancos os pinta, então quem não faz está assumindo seus cabelos brancos. Será? Ou será que quem pinta é que não os assume? Percebam que há uma diferença.

E como se livrar dessa pecha de pária? Escondendo uma opinião pessoal diferente, você acaba se entristecendo, envergonhando, e, muitas vezes, se inferiorizando. Fingindo que sua opinião é a mesma da maioria, você perde personalidade e autenticidade. Mudar sua opinião só para ser aceito é pior ainda, você desrespeita a si mesmo. Só que, vivendo em sociedade, nós temos que fazer concessões, não podemos tentar impor nossa opinião a todo mundo (até porque cairíamos no mesmo erro de quem tenta nos impor as deles). E aí, que que a gente faz?

O importante é não deixar que sua opinião torne você mesmo inferior. Se você não se inferiorizar, ninguém mais conseguirá inferiorizá-lo. Lembre-se de que um ser humano é um indivíduo, não um ser coletivo. Você tem o direito de ser diferente.

E se alguém não souber respeitar isso, se afaste, ignore, lute por suas convicções, sei lá. Mas não se inferiorize.

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