ALERTA DE SPOILER: Se você pretende ver Matrix Revolutions, não leia o post abaixo. Eu sei que isso não está muito de acordo com os outros posts daqui, que normalmente recomendam coisas às pessoas, mas é por uma boa causa.
Parece que o mundo de Matrix ruiu. Tudo graças à sua malfadada conclusão, Matrix Revolutions. Por todo o Planeta, o filme está sendo bombardeado, não somente por parte dos críticos, mas também pelos fãs. Eu, nadando contra a maré, devo confessar que não achei o filme tão ruim assim, mas entendo a decepção do pessoal (afinal, mesmo não tendo achado o filme tão ruim assim, também fiquei um pouco decepcionado). Creio que este problema se deva a um caso de gigantismo: Tal qual as máquinas que acabaram por dominar a humanidade, o filme despretensioso dos Irmãos Wachowsky (ou seja lá como se escreve) também ganhou proporções incontroláveis, e acabou por deixar seus criadores sem saber como iriam amarrar as pontas daquela zona toda.
Não me levem a mal, Matrix, o original, disputa com Blade Runner o título de "Filme de Ficção Científica Preferido do Guil de Todos os Tempos". Quando fui assisti-lo, não fazia a menor idéia do que se tratava (por alguma razão sobrenatural, nem sinopse eu tinha conseguido ler), e só comecei a entender que bagunça era aquela que estava acontecendo junto com o Neo: Quando o Morpheus o levou para aquele "simulador de Matrix" e explicou que os humanos nada mais eram do que pilhas para as máquinas. Creio que isso só contribuiu para o meu deslumbramento, e que, se eu já soubesse a história do filme antes de assisti-lo (o que, hoje em dia, é bem comum, graças a trailers que mostram o que não devem e resenhas de críticos que falam demais), não teria gostado tanto. Pouco me importa saber porquê o Neo não simplesmente virou um agente para capturar o Morpheus, como eles sabem que estão em 2199, que seres humanos não geram energia suficiente para servir de pilhas ou que os óculos deles de vez em quando refletem as câmeras. Matrix foi um filme inovador, que trouxe uma premissa inédita na ficção científica, efeitos especiais que foram copiados por vários outros filmes (e, vocês sabem, ninguém copia o que é ruim) e tinha um ritmo redondinho do início até o fim. Aliás, a única coisa que eu não gostei foi do "fim", mas depois eu falo disso.
Mas aí o filme fez sucesso, os olhos dos executivos cresceram, e os Irmãos Wachowsky ganharam carta branca (e milhões de dólares) para fazer não somente continuações, mas também os tais dos Animatrix, o jogo de videogame... Enfim, estava criada uma franquia.
Para falar a verdade, eu nem gostei tanto assim de Matrix Reloaded. Quer dizer, eu achei um ótimo filme, mas como filme isolado, sem levar o Matrix original em consideração. Talvez porque todos os "humanos livres" que nós vimos no Matrix foram os tripulantes da Nabucodonosor, ver aquele monte de gente livre agindo dentro da Matrix foi meio esquisito pra mim. Além disso, a primeira metade do filme é bem fraquinha, e ele só começa a pegar ritmo quando surgem as discussões filosóficas. Aí o filme "acaba sem final" e deixa todo mundo esperando pelo Revolutions. E é por isso que todo mundo se decepciona.
O jornal disse que era ruim. A internet disse que era ruim. As revistas disseram que era ruim. No dia em que eu fui ao cinema, encontrei um cara na locadora que disse pra eu não ir que o filme era muito ruim. É claro que eu fiquei muito curioso pra conferir por que esse filme era tão ruim assim. Como eu disse para o Nachsieben, eu não fiquei tão satisfeito quanto achava que ficaria, mas também não fiquei tão decepcionado quanto achava que ficaria.
A cena de luta final entre Neo e o (Ex-)Agente Smith foi meio fraca. Parecia Dragon Ball. Também tem gente reclamando que o Neo e a Trinity morrem no final. Dessa parte eu até gostei. Melhor do que ficar tentando explicar como eles voltaram para Zion depois daquela confusão toda. E, além do mais, morrer para salvar a humanidade, apesar de cliché, ainda é um recurso legal.
Também já ouvi reclamações de que as máquinas (e a Matrix, por tabela) não foram destruídas no final. Acho que eu não gostaria de um final "Independence Day", onde as máquinas e a Matrix fossem destruídas e o mundo ficasse só com humanos. Aí, sim, teria sido um senhor chavão. Só achei meio bobo o negócio de que a Oráculo é contra o Arquiteto. Ambos são programas, e colocá-los como antagonistas os torna muito humanos para o meu gosto.
Na verdade, Matrix Revolutions só tem um demérito: Ele não explica o que a gente queria saber depois de ter assistido o Reloaded. Aliás, ele até explica, mas de forma xexelenta. O problema é que isso não é um "defeitinho', é um problema de dimensões ituanas, já que 99% dos que foram ao cinema queriam exatamente saber esta explicação. Eu fui ao cinema pronto para descobrir que o "mundo real" na verdade não era o mundo real, e acabei descobrindo que "o poder do Predestinado se estende ao outro mundo". Fala sério.
Talvez o problema tenha sido o momento no qual nós descobrimos isso: Na primeira meia hora de filme. Talvez se tivessem dado esta explicação nos últimos dez minutos, ficaríamos igualmente decepcionados, mas teríamos visto o filme com outros olhos, com mais expectativa quanto à "explicação" de como Neo queima Sentinelas com o poder da mente, e consegue enxergar Bane/Smith mesmo sem vê-lo.
Para falar a verdade, essa explicação porca foi a única coisa que me desagradou no filme. Se você considerar que ela "estraga os três filmes como um todo", como eu li no Imdb, é um direito que lhe assiste. Eu só acho que, defeito por defeito, o "filme um" tem um bem maior, e parece que ninguém repara. Ou será que alguém acha muito lógico o Neo tomar um tiro e depois ressucitar com poderes de Predestinado após um beijo da Trinity? Depois dessa, explodir Sentinelas com o poder da mente é o de menos.
É preciso deixar claro que, ao contrário de muita gente que está reclamando por aí, eu nunca quis descobrir o Terceiro Segredo de Fátima assistindo o Reloaded e o Revolutions. São filmes de ficção científica, ora bolas! Eu fui pra ver gente voando e coisas explodindo! Ainda assim, não se pode negar que muitas das questões levantadas pelos dois primeiros filmes nos fizeram pensar, e criaram grande expectativa sobre qual seria a "explicação oficial" para elas. Minha decepção é no sentido de que, recebida a explicação oficial, ficou um gosto de guarda-chuva na boca.
Por que o mundo não explodiu, já que o Predestinado não retornou à Fonte? Onde fica aquele lugar "entre o mundo real e a Matrix"? Como o Predestinado pode ter poderes paranormais se ele (ou pelo menos sua imagem na Matrix) foi criado pelo Arquiteto? Nunca saberemos.
Infelizmente, isto é uma coisa que acontece nas melhores famílias. O cinema está cheio de exemplos de trilogias iguaizinhas a Matrix: um primeiro filme fechado, com início, meio e fim; um segundo filme muito empolgante, que deixa a gente ansioso pelo terceiro; e um terceiro fraco, que não atende às expectativas criadas pelo segundo. Querem dois exemplos "intocáveis"? Star Wars (ou alguém aí acha que O Retorno de Jedi é o melhor da série?) e De Volta para o Futuro (onde, ainda por cima, o "filme três" se passa no Velho Oeste; mais americano, impossível). Não é preciso "ignorar os outros dois e ficar só com o primeiro", como eu já vi um sujeito falando (talvez se ele estivesse se referindo ao Highlander eu lhe desse razão...) para achar qualidades nas três partes. O problema é que todo mundo só presta atenção nos defeitos.
Enfim, como todo filme-pipoca, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions têm coisas boas e coisas ruins. O Matrix original também, mas o deslumbre da novidade acaba por diminuir as coisas ruins, que são maximizadas nos outros dois pela expectativa do desfecho. Sinceramente, acho que ainda não é o caso de obrigarmos os Irmãos Wachowsky a fazer um novo Matrix 3. Vai passar.
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