Black Widow
2021
Em fevereiro de 2004, motivada pelo sucesso de filmes como X-Men e Homem-Aranha, a Lionsgate negociaria com a Marvel os direitos para fazer um filme da Viúva Negra, e escolheria David Hayter, co-roteirista de X-Men 2 e Watchmen, para ser seu diretor e roteirista. O roteiro não agradaria, porém, e, em junho de 2006, a Lionsgate decidiria devolver os direitos do filme para a Marvel. Após a criação dos Marvel Studios, Hayter chegaria a negociar para que eles fizessem o filme, mas, segundo ele, ninguém na Marvel levava a personagem a sério.
Talvez para provar que Hayter estava errado, os Marvel Studios selecionariam a Viúva Negra como um dos heróis que faria parte da primeira formação dos Vingadores no cinema, mas, ao invés de dar a ela um filme próprio, decidiria introduzir a personagem em Homem de Ferro 2. A atriz preferida para o papel seria Emily Blunt, que não poderia aceitar por já estar filmando As Viagens de Gulliver; a segunda opção seria Scarlett Johansson, que assinaria contrato para atuar em cinco filmes. Homem de Ferro 2 seria lançado em abril de 2010, e, em setembro, Feige e Johansson começariam a conversar sobre um possível filme da Viúva Negra. Como isso não estava previsto no planejamento inicial das Fases 1 e 2, eles acabariam combinando que a aparição seguinte da personagem seria mesmo em Os Vingadores, e que, depois, ela teria um papel de destaque em Capitão América 2: O Soldado Invernal, antes de aparecer novamente como membro da equipe em Vingadores: Era de Ultron.
Segundo Johansson, após o lançamento de Era de Ultron, que foi seu quarto filme, a Marvel a procuraria e pediria para estender seu contrato, pois havia uma "demanda inesperada pela personagem", que ainda deveria aparecer em pelo menos três filmes; a atriz concordaria em estender por mais três, desde que houvesse a possibilidade de que um deles fosse o filma da Viúva Negra, que talvez estreasse ainda durante a Fase 3. Feige concordaria, principalmente por estar empolgado com as cenas do passado da personagem que apareceram em Era de Ultron, acreditando que poderia contar uma história interessante a partir delas.
O desenvolvimento do filme começaria em fevereiro de 2014, com Nicole Perlman, co-roteirista de Guardiões da Galáxia, escrevendo um roteiro preliminar; então, o filme seria ambientado antes mesmo de Homem de Ferro 2, focando no passado da Viúva Negra, em seu treinamento como agente da KGB e nos eventos que a levaram a desertar e se unir à S.H.I.E.L.D. Ao ficar sabendo do projeto, Hayter procuraria a Marvel e se ofereceria para trabalhar nele, assim como o diretor Neil Marshall, que se diria fã da personagem e se ofereceria para dirigi-lo; Joss Whedon, diretor de Os Vingadores e Era de Ultron, também declararia estar interessado no projeto, dizendo que essa seria a oportunidade de fazer um filme de espionagem ao estilo John le Carré. Mais de um ano se passaria sem que o filme entrasse em produção, porém, e, ao anunciar os projetos da Fase 3, dentre os quais não estava um filme da Viúva Negra, Feige declararia que ainda faltavam "uns quatro ou cinco anos" para que ele efetivamente saísse do papel, mas que a Marvel estava "criativamente e emocionalmente envolvida com o projeto".
Durante as filmagens de Guerra Infinita e Ultimato, ficaria oficialmente determinado que o filme da Viúva Negra seria o primeiro da Fase 4; Feige, então, se reuniria com Johansson e com as roteiristas Jac Schaeffer e Jessica Gao para discutir um possível enredo para o filme. O proposto por Gao começava com uma Natasha Romanova adolescente sendo plantada pela KGB em uma escola para assassinar um alvo, e, 20 anos depois, já adulta, participando de uma reunião da turma e tendo de lidar com as consequências de seus atos; o único porém foi que esse roteiro trazia a Mulher-Hulk, que tinha quase mais destaque no filme que a Viúva Negra, o que levou a cúpula dos Marvel Studios a desconfiar de que Gao, na verdade, estava tentando fazer um filme da Mulher-Hulk que tivesse a Viúva Negra como coadjuvante.
Schaeffer, que propôs que o filme fosse ambientado entre Guerra Civil e Guerra Infinita, época na qual a Viúva Negra estava pela primeira vez sozinha, sem estar ligada a uma organização como a KGB, a S.H.I.E.L.D. ou os Vingadores, agradaria mais, e seria contratada como roteirista em dezembro de 2017. Feige ficaria satisfeito pelo roteiro não ser uma "história de origem", algo do qual ele acredita que o público já está saturado, e garantiria que os flashbacks mostrados no filme seriam apenas para que o público pudesse compreender melhor a personagem, e não para mostrar como Natasha Romanova se tornou a Viúva Negra. Uma versão preliminar do roteiro trazia o Homem de Ferro e o Gavião Arqueiro, mas Feige pediria para que nenhum dos personagens antigos participasse da história, temendo que algum deles roubasse os holofotes.
Após contratar uma roteirista mulher, a Marvel decidiria contratar também uma diretora mulher, e faria uma lista de 65 possíveis candidatas, que incluía Deniz Gamze Ergüven, Chloé Zhao, Lynn Shelton e Lucrecia Martel - que recusou o convite dizendo que os filmes da Marvel eram "horríveis". Dentre as que aceitaram o convite estavam Amma Asante, Maggie Betts, Mélanie Laurent, Kimberly Peirce e Cate Shortland, a preferida de Johansson por causa de seu filme Lore, de 2012. Shortland declararia jamais ter assistido a um filme do MCU, e, após ser contratada, em julho de 2018, assistiria todos os filmes com a presença da Viúva Negra para saber como lidar com a personagem.
Ned Benson seria contratado em fevereiro de 2019 para reescrever partes do roteiro, que, segundo Feige, estava muito violento e correndo o risco de ser classificado como inapropriado para menores, mas o crédito de roteirista iria para Eric Pearson, que, a pedido da cúpula dos Marvel Studios, reescreveria completamente o roteiro durante a pré-produção, com Schaeffer e Benson recebendo apenas os créditos pela história. Pearson diria ter dificuldade para desenvolver a história sem contradizer o que havia acontecido nos filmes já lançados e ambientados depois dele, e deixaria um final aberto proposital, que não se encaixava diretamente com Guerra Infinita. Ele também faria questão de explicar o que teria sido a "situação com a filha de Dreykov" comentada por Natasha e Barton em Os Vingadores, algo que não constava do roteiro original, no qual o vilão principal era o Treinador; Pearson decidiria fazer de Dreykov o principal, e usar o Treinador como um vilão secundário. A única coisa que Pearson deixou inalterada foi o início do filme, ambientado nos Estados Unidos na década de 1990, durante a infância de Natasha; a ideia de fazer dos quatro personagens principais uma família viria de Johansson, que, durante uma reunião com Shortland, diria querer que o passado da Viúva Negra tivesse uma história semelhante ao da série The Americans, para justificar sua deserção.
Assim, o filme começa mostrando a infância de Natasha e de sua irmã adotiva, Yelena Belova, criadas por um casal de espiões soviéticos no interior dos Estados Unidos, e depois corta para após os eventos de Guerra Civil, com Natasha sendo considerada uma fugitiva e procurada pela equipe do Secretário Ross. Após ser atacada por um inimigo desconhecido, ela encontra Belova pela primeira vez após sua deserção, e descobre que a irmã tem informações sobre um plano da Sala Vermelha, organização que criou as Viúvas Negras, que Natasha acreditava ter desmantelado antes de desertar. Para pôr fim a esse plano, elas precisarão reencontrar seus pais adotivos, que estão na Rússia - o pai preso, a mãe em local secreto.
O elenco conta com Scarlett Johansson como Natasha Romanova / Viúva Negra; Florence Pugh como Yelena Belova; David Harbour (de Stranger Things) como Alexei Shostakov / Guardião Vermelho, o "Capitão América soviético", que passou por um projeto científico para ganhar força e resistência sobre-humanas, mas acabou fazendo o papel de pai em uma missão secreta, se tornando um homem ressentido por ter sido mal aproveitado ao longo de sua carreira, que vê na missão de Natasha e Belova uma chance de voltar à melhor época de sua vida; Rachel Weisz como Melina Vostokoff, cientista russa que fazia o papel de mãe de Natasha e Belova na missão nos Estados Unidos, ela mesma também uma Viúva Negra; O-T Fagbenle como Rick Mason, fornecedor de armas para Natasha, que no passado teve um romance com ela; Olga Kurylenko como o Treinador, vilão meio robótico que tem a capacidade de copiar qualquer movimento de luta que usem contra ele; William Hurt como Thaddeus Ross, Secretário de Estado dos Estados Unidos que tenta localizar Natasha para prendê-la por violação do Tratado de Sokóvia; e Ray Winstone como Dreykov, general russo responsável pela Sala Vermelha e ligado a um segredo terrível do passado de Natasha. Liani Samuel, Michelle Lee, Nanna Blondell e Jade Xu interpretam outras Viúvas Negras, enquanto Julia Louis-Dreyfus interpreta Valentina Allegra de Fontaine na cena pós-créditos.
As filmagens começariam em maio de 2019, e ocorreriam principalmente em Atlanta, nos estúdios preferidos da Marvel; cenas adicionais de estúdio seriam gravadas em Londres, e as cenas ambientadas na Rússia seriam na verdade filmadas em Surrey, no interior da Inglaterra - já as cenas ambientadas em Budapeste e na Noruega seriam filmadas lá mesmo. Os efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Cinesite, Digital Domain, Industrial Light & Magic, Mammal Studios, SSVFX, Scanline VFX, Trixter e Weta FX; a cena mais trabalhosa foi a da destruição da Sala Vermelha, que combinou efeitos de computação a efeitos tradicionais, com os atores tendo de filmar suspensos por cabos e braços mecânicos em um túnel de vento em frente a um chroma key. O cenário da prisão de onde Shostakov é resgatado foi totalmente feito por computação gráfica, incluindo o helicóptero, as montanhas e a avalanche, com todas as cenas do resgate sendo filmadas em estúdio. Vale citar também que Viúva Negra é um dos raros filmes do MCU a trazer créditos de abertura - tendo sido o quinto, após O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Guardiões da Galáxia e Guardiões da Galáxia Vol. 2. A decisão partiu de Shortland, que quis aproveitar a sequência de abertura para mostrar as atrocidades cometidas por Dreykov. As cenas da abertura seriam alteradas digitalmente para parecer que foram filmadas em 8 mm e VHS.
A data de estreia inicialmente prevista para o filme seria 1o de maio de 2020, e a pós-produção já estava concluida quando começou a quarentena da pandemia, que levou ao fechamento de todos os cinemas. Após sucessivos adiamentos, Viúva Negra finalmente estrearia em 29 de junho de 2021, mais de um ano depois. Segundo Shortland, nenhuma mudança foi feita no filme da data de sua conclusão até sua data de estreia, mas a cena pós-créditos acabou ressignificada: originalmente, ela seria a estreia de Valentina no MCU, mas, como Falcão e o Soldado Invernal acabaria estreando antes, ela passaria a ser a segunda aparição da personagem - segundo Feige, essa seria a única mudança causada na continuidade do MCU pela pandemia. Também vale citar que essa cena não estava originalmente prevista no roteiro, e seria incluída após Jonathan Igla pedir a Feige que Belova estivesse na série Gavião Arqueiro; como essa participação foi de certa forma mantida em segredo, Pearson escreveria a cena sem saber quem era o alvo que Valentina determina para Belova.
Com orçamento de 288,5 milhões de dólares, Viúva Negra renderia 183 milhões nos Estados Unidos e quase 380 milhões no mundo inteiro, mais 67 milhões do Premier Access do Disney+. A crítica seria bastante positiva, elogiando principalmente as atuações de Johansson, Pugh e a química entre as duas - que inseriam um monte de cacos no roteiro; a cena em que Belova critica a "pose de heroína" de Natasha não estava prevista e surgiu após um comentário de Pugh, em tom de brincadeira, de que Johansson ficava ridícula nessa pose, feito durante um dos intervalos das gravações. Houve, porém, quem criticasse pesadamente o filme, considerando-o vazio, um caça-níqueis ou uma compensação pela saída de Natasha do MCU - alguns críticos acharam que o filme veio "tarde demais", e teria feito mais sentido se lançado antes de Guerra Infinita.
Viúva Negra estrearia simultaneamente nos cinemas e no Disney+, através de um serviço chamado Premier Access, pelo qual os assinantes teriam de pagar 29,99 dólares adicionais - durante os sucessivos adiamentos, inclusive, houve conversas para que ele fosse lançado exclusivamente no Disney+ ainda em 2020, com Johansson sendo veementemente contra. Mesmo com o lançamento simultâneo, a atriz decidiria processar a Disney, alegando que seu contrato previa "lançamento exclusivo nos cinemas"; esse contrato estipulava que ela receberia parte da bilheteria, que seria diminuída pelo lançamento no Disney+, com o valor pago pelo Premier Access não sendo considerado bilheteria - ou seja, o lucro da Disney aumentaria, enquanto seu pagamento diminuiria. A Disney responderia dizendo que Johansson era "insensível à tragédia da pandemia" e divulgando que ela já havia recebido 20 milhões de dólares pelo filme, o que pegaria muito mal - Johansson se diria chocada, Feige se diria envergonhado, e até mesmo o CEO da Disney, Bob Iger, se diria "mortificado" com a resposta. No fim, como de costume, o caso seria resolvido fora dos tribunais, com Johansson recebendo um valor não revelado, mas estimado na casa dos 40 milhões de dólares, e prometendo nunca mais trabalhar para a Disney - que, por sua vez, não lançaria mais nenhum filme simultaneamente nos cinemas e no Disney+.
1ª temporada
2021
Para quem não sabe, e não leu meu post sobre o assunto, What If...? (que pode ser traduzido para o português como "o que aconteceria se...?") foi uma revista lançada pela Marvel na década de 1970, que, em cada edição, mostrava como seria o Universo Marvel se um elemento-chave de uma de suas histórias tivesse ocorrido de maneira diferente. Desde que foi concluído o primeiro filme dos Vingadores, lá em 2012, a cúpula dos Marvel Studios gostava de brincar de What If...?, tentando imaginar como seria o MCU caso algumas situações mostradas nos filme fossem diferentes. Um dos executivos, Brad Winderbaum, era partidário de que a Marvel Television deveria produzir ou co-produzir uma série na qual cada episódio mostrasse um acontecimento dos filmes com um desfecho diferente, mas esse era considerado um projeto caríssimo, principalmente por causa do elenco, e, como já estava planejado que os (então) três filmes dos Vingadores comporiam a chamada Saga do Infinito, decidiria ele mesmo colocar o projeto em espera até a conclusão da Fase 3, para que houvesse mais histórias e situações com as quais eles pudessem trabalhar.
Não foi surpresa, portanto, quando What If...? foi uma das primeiras séries a serem discutidas na reunião que decidiu que os Marvel Studios produziriam séries de TV para o Disney+, lá em 2018. Após decidir que Winderbaum seria o executivo encarregado do projeto, e que Feige seria o produtor da série, o executivo Jonathan Schwartz indicaria a roteirista A.C. Bradley, que ele havia entrevistado quando estava sendo procurada uma roteirista para Capitã Marvel, para ser a showrunner. Bradley há muito tempo queria a oportunidade de "contar uma história ao estilo Marvel", e ficaria empolgadíssima com What If...? porque poderia contar "não uma, mas várias histórias". A cúpula dos Marvel Studios entrevistaria Bradley já em outubro de 2018, e ficaria muito impressionada com suas ideias para o projeto, contratando-a imediatamente. Paralelamente a essa entrevista, Winderbaum se reuniria com Bryan Andrews, responsável pelos storyboards de vários filmes do MCU, por achar que ele seria o mais indicado para diretor da série, já que conhecia a continuidade como ninguém. Andrews também ficaria bastante empolgado com o projeto, e aceitaria sem pensar duas vezes.
A série seria oficialmente anunciada em abril de 2019, com Bradley e Andrews sendo anunciados em agosto. Segundo Winderbaum, todos os eventos mostrados nos episódios seriam canônicos, cada um ocorrendo dentro de um universo específico no Multiverso do MCU, o que, na prática, significava que as versões dos personagens mostradas em What If...? poderiam aparecer futuramente em outros filmes ou séries do MCU; ainda segundo ele, a série foi planejada para estrear somente depois de Loki, onde ficaria estabelecido que o Multiverso e as versões variantes dos personagens existem no MCU. Durante a pré-produção, a equipe responsável por What If...? se reuniria com as equipes de Loki e WandaVision, para discutir linhas do tempo ramificadas, eventos imutáveis, nexo causal e estabelecer uma espécie de "livro de regras" do Multiverso, que seria usado em todas as produções futuras, começando por Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Faltava, ainda, entretanto, um detalhe: o custo. Uma série que, em cada episódio, reproduzisse situações dos filmes, usando os mesmos elencos, sairia mais cara que um filme para o cinema, sem o retorno em bilheteria para compensar. Ficaria definido, portanto, que What If...? seria uma série de animação, com os atores originais dos filmes apenas dublando seus personagens, o que baratearia os custos - e contaria com total aprovação de Bradley e Andrews, que teriam muito mais liberdade para contar suas histórias, sem se preocupar com orçamento. Na mesma reunião que definiria que a série seria de animação, ficaria definido que cada episódio teria por volta de 35 minutos - o mais curto tem 32, o mais longo tem 38 - e que What If...? teria mais de uma temporada, com a primeira tendo dez episódios - atrasos causados pela pandemia, contudo, fariam com que não houvesse tempo para produzir um desses episódios, que seria deixado para a segunda temporada, o que levaria à definição de que tanto a primeira quanto a segunda temporada teriam nove episódios cada. Na San Diego Comic Con de 2022, Feige declararia que os eventos de What If...? ocorreriam no "Multiverso Animado Marvel" - contrariando o que Winderbaum havia falado - e que a Marvel já estava pensando em outras séries ambientadas nesse mesmo universo, uma delas sendo Marvel Zombies.
Segundo a produtora Victoria Alonso, a Marvel montaria um "mini estúdio de animação", chamado Marvel Studios Animation, para produzir What If...? e outras possíveis séries de animação futuras; o chefe desse estúdio seria o diretor, roteirista e quadrinhista Stephen Franck. A série usaria um estilo de animação conhecido como cel-shading, que usa gráficos de computação gráfica tridimensionais modificados para ficarem parecidos com ilustrações "bidimensionais" de histórias em quadrinhos; What If...? usaria um cel-shading realístico, semelhante ao usado em games, com as aparências dos personagens sendo baseadas nas dos atores que os interpretaram nos filmes. Os desenhos seriam supervisionados por Andrews e pelo chefe de desenvolvimento visual dos Marvel Studios, Ryan Meinerding, que chegaram a cogitar fazer a arte de cada episódio imitando a de um dos grandes mestres da Marvel - o do Capitão América a de Jack Kirby, a do Doutor Estranho a de Steve Ditko - antes de optar por um estilo realístico em toda a série.
A animação seria apenas coordenada pela Marvel Studios Animation, com cada episódio sendo produzido por diferentes estúdios ao redor do planeta, o que já estava planejado antes, mas permitiu que a série seguisse sendo desenvolvida durante a pandemia: os dois primeiros episódios seriam animados pela Blue Spirit, três dos seguintes pela Squeeze, três outros, incluindo o nono, pela Flying Bark Productions, e o oitavo seria uma produção conjunta entre Flying Bark, Squeeze e Stellar Creative Lab. Todo o trabalho seria supervisionado por Franck e Andrews, para garantir que o estilo de animação e os gráficos fossem consistentes em todos os episódios. A abertura ficaria a cargo da Perception, que também fez a abertura de WandaVision, e se inspirou em filmes como Jornada nas Estrelas: O Filme e Excalibur, usando um efeito de vidro se quebrando para representar as ramificações da linha do tempo. No melhor estilo Black Mirror, a Marvel prepararia um pôster promocional para cada um dos episódios, mais três que serviam para a temporada inteira.
Em relação ao elenco, a Marvel entraria em contato com todos os atores cujos personagens apareceriam em algum episódio - segundo Feige, a produção daria carta branca para Bradley usar os personagens que quisesse, sem que uma história dependesse de quais atores aceitariam ou não, e Winderbaum confirmaria que seriam usados dubladores profissionais para substituir os que não aceitassem. O primeiro a aceitar, e um dos que ficariam mais empolgados com o projeto, seria Chadwick Boseman, intérprete do Pantera Negra; Benedict Cumberbatch, intérprete do Doutor Estranho, também ficaria empolgado, e mudaria sua agenda de forma a permitir sua participação nas gravações. Nem todos os atores, porém, puderam aceitar, principalmente devido a outros compromissos previamente assumidos, incluindo um quinteto de respeito: Robert Downey, Jr. (Homem de Ferro), Chris Evans (Capitão América), Scarlett Johansson (Viúva Negra), Brie Larson (Capitã Marvel) e Tom Holland (Homem-Aranha). Dave Bautista, intéprete de Drax, diria em uma entrevista não ter sido procurado pela Marvel, o que inclusive geraria boatos de que ele seria substituído no terceiro filme dos Guardiões da Galáxia, mas Winderbaum receberia a informação com estranheza, declarando que todos os atores haviam sido contatados através de seus agentes, e que, se Bautista não recebeu o convite, foi devido a alguma falha de comunicação.
Os atores dos filmes que repetem seus papéis em What If...? são, em ordem alfabética: Andy Serkis como Ulysses Klaue, Angela Bassett como Ramonda, Benedict Cumberbatch como Stephen Strange / Doutor Estranho, Benedict Wong como Wong, Benicio del Toro como o Colecionador, Bradley Whitford como John Flynn, Carrie Coon como Proxima, Chadwick Boseman como T'Challa, Chris Hemsworth como Thor, Chris Sullivan como Taserface, Clancy Brown como Surtur, Clark Gregg como Phil Coulson, Cobie Smulders como Maria Hill, Danai Gurira como Okoye, David Daltmaschian como Kurt, Djimon Hounsou como Korath, Domimic Cooper como Howard Stark, Don Cheadle como James Rhodes, Emily VanCamp como Sharon Carter, Evangeline Lilly como Hope Van Dyne / Vespa, Hayley Atwell como Peggy Carter, Frank Grillo como Brock Rumlow, Georges St. Pierre como Bartroc, Jaimie Alexander como Sif, Jeff Goldblum como o Grão-Mestre, Jeremy Renner como Clint Barton / Gavião Arqueiro, John Kani como T'Chaka, Jon Favreau como Happy Hogan, Josh Brolin como Thanos, Karen Gillan como Nebulosa, Kat Dennings como Darcy Lewis, Kurt Russell como Ego, Leslie Bibb como Christine Everhart, Mark Ruffalo como Bruce Banner / Hulk, Michael B. Jordan como Killmonger, Michael Douglas como Hank Pym, Michael Rooker como Yondu, Natalie Portman como Jane Foster, Neal McDonough como Dum Dum Dugan, Ophelia Lovibond como Carina, Paul Bettany como Visão e Jarvis, Paul Rudd como Scott Lang / Homem-Formiga, Rachel House como Topaz, Rachel McAdams como Christine Palmer, Ross Marquand como Johann Schmidt / Caveira Vermelha, Samuel L. Jackson como Nick Fury, Sean Gunn como Kraglin, Sebastian Stan como Bucky Barnes, Seth Green como Howard, Stanley Tucci como Abraham Erskine, Taika Waititi como Korg, Tilda Swinton como a Anciã, Toby Jones como Arnim Zola, Tom Hiddleston como Loki, e Tom Vaughan-Lawlor como Fauce. Dentre os substitutos, temos Ross Marquand como Ultron, Josh Keaton como Steve Rogers / Capitão América, Mick Wingert como Tony Stark / Homem de Ferro, Lake Bell como Natasha Romanova / Viúva Negra, Hudson Thames como Peter Parker / Homem-Aranha, Alexandra Daniels como Carol Danvers / Capitã Marvel, Fred Tatasciore como Drax e Corvus, Brian T. Delaney como Peter Quill, Stephanie Panisello como Betty Ross, Mike McGill como Thaddeus Ross, Kiff Vandenheuvel como Obadiah Stane, Beth Hoyt como Pepper Potts, Ozioma Akagha como Shuri, Josette Eales como Frigga e Cynthia McWilliams como Gamora.
Mas faltou um nome nessa lista enorme: Jeffrey Wright, de 007 Cassino Royale e WestWorld, dá voz ao Vigia. Nos quadrinhos, o Vigia era o narrador das histórias de What If...?, apresentando ao leitor o momento no qual a mudança em relação ao Universo Marvel aconteceu e seguindo com as consequências; na série, ele tem o mesmo papel, começando e terminando cada episódio com uma pequena narração e, raramente, fazendo comentários ao longo do episódio - exceto no último, no qual ele tem um papel central. Em português, os títulos dos nove episódios seriam E se a Capitã Carter fosse a primeira Vingadora?, E se T'Challa se tornasse o Senhor das Estrelas?, E se o mundo perdesse seus heróis mais poderosos?, E se o Doutor Estranho perdesse seu coração em vez das mãos?, E se... zumbis?!, E se Killmonger tivesse resgatado Tony Stark?, E se Thor fosse filho único?, E se Ultron tivesse vencido? e E se o Vigia quebrasse seu juramento?, esse último um crossover no qual o Vigia reúne personagens dos episódios anteriores para enfrentar Ultron, que descobriu uma forma de viajar livremente pelo Multiverso.
Bradley escreveria quatro dos episódios, incluindo o primeiro e o último, enquanto Matthew Chauncey escreveria mais quatro, e o terceiro seria co-escrito por ambos; todos seriam dirigidos por Andrews. Quando a série foi anunciada pela primeira vez, alguns meios de comunicação noticiaram erradamente que cada episódio seria baseado em um dos filmes; Bradley desmentiria essa informação, declarando que alguns episódios trazem elementos de mais de um filme, ou do MCU como um todo - ela também diria que inicialmente pensaria em histórias simples envolvendo poucos personagens, mas, durante sua reunião com a cúpula dos Marvel Studios, eles teriam dito para ela "enlouquecer". Winderbaum confirmaria a carta branca, inclusive para matar heróis, e diria só impor uma restrição a Bradley: somente eventos relacionados aos filmes das Fases 1, 2 e 3 poderiam ser revisitados, com os da Fase 4 tendo de ficar para a segunda temporada.
Durante a pré-produção, Bradley, Andrews, Chauncey, Winderbaum, a executiva Simona Paparelli e o roteirista Ryan Little separariam 30 histórias possíveis de acontecer mudando um detalhe ou outro no MCU, dando preferência às que pudessem ter resultados diferentes e inesperados, ao invés de o mesmo resultado apenas com alguns detalhes diferentes; Feige analisaria todas as 30 ideias e escolheria suas dez favoritas, gostando especialmente do episódio final, que reuniria personagens de diferentes universos - dois desses personagens, Gamora e o Homem de Ferro, viriam do episódio que depois acabou sendo adiado para a segunda temporada, mas, como o último já estava pronto, Feige decidiu não alterá-lo. Dentre as ideias descartadas, a maioria envolvia conceitos que a cúpula do MCU já planejava usar em filmes futuros, como Loki se tornando um herói, Jane Foster usando o Mjolnir, Pepper Potts vestindo uma armadura, o Hulk mantendo a inteligência de Bruce Banner, ou o Capitão América jamais ficando congelado e se casando com Peggy - essas três últimas sendo usadas em Vingadores: Ultimato, que ainda estava sendo produzido quando Bradley comandou o brainstorming de What If...?. Segundo James Gunn, havia até uma ideia que ele pediu para que Feige descartasse porque, por pura coincidência, já que ele não havia contado para ninguém, ele planejava usar no terceiro filme dos Guardiões da Galáxia. Outras ideias foram descartadas por serem consideradas absurdas demais: uma delas traria os Vingadores como dinossauros na pré-história, outra era um crossover com Star Wars e contava com a participação de Luke Skywalker, e em uma Peter Parker lentamente se transformava em uma aranha de verdade após ser picado pela aranha radioativa - essa sendo considerada "muito tenebrosa" para a série.
What If...? estrearia no Disney+ em 11 de agosto de 2021, com um episódio sendo lançado por semana até 6 de outubro. A Disney não divulgaria os dados de audiência, mas consideraria a série um sucesso, e confirmaria a produção de uma segunda temporada em dezembro. A crítica ficaria dividida, elogiando as dublagens e a criatividade das situações escolhidas, mas reclamando da qualidade da animação, da duração dos episódios e da ingenuidade de alguns roteiros. A série seria indicada a três Emmys, um de Melhor Série Animada e dois de Melhor Dublagem, um para Wright e um para Boseman, que ganhou. What If...? seria o último trabalho de Boseman antes de seu falecimento, com o Emmy sendo conferido de forma póstuma.
Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings
2021
Criado por Steve Englehart e Jim Starlin, Shang-Chi, também conhecido como Mestre do Kung Fu, nunca foi um dos personagens principais da Marvel. Ele até experimentou uma certa popularidade nos anos 1970, quando foi um dos principais personagens da revista The Deadly Hands of Kung Fu, publicada entre 1974 e 1977, que era voltada para o público adulto, em preto e branco, e trazia crônicas e artigos além de histórias em quadrinhos, mas, depois do cancelamento de sua revista colorida parte do Universo Marvel, Master of Kung Fu, ele seria muito pouco aproveitado. Mesmo assim, Stan Lee gostava muito do personagem, e, ainda na década de 1980, conversou pessoalmente com Brandon Lee e sua mãe, Linda Lee - respectivamente, o filho e a viúva de Bruce Lee, que havia sido uma das principais inspirações para Shang-Chi - sobre a possibilidade da produção de um filme de Shang-Chi estrelado por Brandon. Entretanto, nem a Marvel, nem o ator conseguiriam encontrar um estúdio disposto a investir no projeto, que acabaria sendo cancelado.
Em 2001, quando a Marvel fez um leilão de seus personagens para os estúdios de cinema, a DreamWorks se interessou por Shang-Chi e adquiriu os direitos do personagem, contratando Stephen Norrington (que havia dirigido o primeiro filme do Blade, em 1998) como diretor e registrando o nome The Hands of Shang-Chi. Em 2003, o diretor de filmes de ação de Hong Kong Yuen Woo-Ping substituiria Norrington, e Bruce C. McKenna, de The Pacific, seria contratado para escrever o roteiro. Ang Lee chegaria a ser anunciado como produtor em 2004, mas a DreamWorks acabaria desistindo do projeto e devolvendo os direitos do personagem para a Marvel. Em 2005, após a criação dos Marvel Studios, o produtor Avi Arad anunciaria estar em negociação com a Paramount para produzir um filme de Shang-Chi, e diria acreditar que, mesmo o personagem não sendo tão conhecido, sua história poderia resultar em um grande filme. Infelizmente, isso também acabaria não se concretizando.
As condições para que um filme de Shang-Chi no MCU acontecesse acabariam surgindo meio que por acaso. Nos quadrinhos, originalmente, Shang-Chi era filho do vilão Fu Manchu, e, após se rebelar contra o pai, passaria a combater seu império criminoso. Só que Fu Manchu não era uma criação da Marvel, e sim um personagem licenciado, como Tarzan ou Conan, e, após a Marvel perder os direitos, apesar de ainda poder usar Shang-Chi, não poderia sequer citar o nome do vilão, o que prejudicava muito suas histórias - e foi um dos fatores para que Shang-Chi ficasse sumido, embora o principal tenha sido o fim da onda de popularidade do kung fu nos Estados Unidos. Quando a Marvel decidiu trazer Shang-Chi de volta, ela alterou sua história - em um processo conhecido nos quadrinhos como retcon - para que ele fosse filho não de Fu Manchu, mas de Zheng Zu, vilão criado pela Marvel que era o líder da organização criminosa Sociedade das Cinco Armas - quase idêntica à Si-Fan liderada por Fu Manchu.
O primeiro filme do MCU, Homem de Ferro, de 2008, trazia uma organização criminosa semelhante: os Dez Anéis, uma referência ao vilão Mandarim - que, nos quadrinhos, foi o arqui-inimigo do Homem de Ferro durante quase toda a sua carreira, mas, a partir dos anos 2000, passou a ser visto como um personagem problemático, por ter várias características consideradas estereotipadas e até mesmo racistas pelos chineses. O Mandarim não estaria no primeiro filme do Homem de Ferro não por causa disso, mas porque Kevin Feige queria que o filme fosse totalmente focado em Tony Stark, o que não daria a um arqui-inimigo o destaque que ele mereceria. Feige planejava que o Mandarim fosse um vilão de grande destaque no terceiro filme, mas se veria forçado a desistir dessa ideia após uma conversa com Chris Fenton. Na época, Fenton era o presidente da DMG Entertainment, empresa de cinema sediada na China, que, antes de a Marvel ser comprada pela Disney, tentava firmar um contrato de colaboração com os Marvel Studios, segundo a qual a DMG co-produziria todos os filmes do MCU. Feige ofereceria a Fenton filmar uma cena pós-créditos para Os Vingadores com a presença ou de Shang-Chi ou do Mandarim, que seria exclusiva para exibição nos cinemas da China, mas Fenton recusaria explicando que um filme com o Mandarim provavelmente teria sua exibição proibida pelo governo chinês, o que resultaria em um baita prejuízo para a DMG. Após perceber que o Mandarim traria mais problemas que vantagens para o MCU e conseguir fechar um contrato para que a DMG co-produzisse Homem de Ferro 3 (que tem os atores chineses Wang Xueqi e Fan Bingbing no elenco e cenas exclusivas para os cinemas chineses), Feige sugeriria que o Mandarim do filme não fosse o vilão dos quadrinhos, e sim um ator fingindo ser o líder da organização criminosa, para desviar o foco do verdadeiro vilão do filme. Isso atrairia a ira de alguns fãs, mas, desde sua primeira entrevista após o lançamento do filme, Feige diria que não estava descartado que o verdadeiro Mandarim existisse no MCU - com os Marvel Studios inclusive produzindo o curta All Hail the King, que deixava subentendido que o Mandarim "verdadeiro" não tinha gostado de ver um ator fingindo ser ele.
O passo seguinte seria dado em 2018, quando os Marvel Studios lançariam Pantera Negra, que apresentava temas relacionados à cultura africana, contava com roteirista e diretor negros, e com a maioria do elenco e equipe formados por negros. O sucesso do filme motivaria Feige a tentar o mesmo com Shang-Chi: um filme do MCU que trouxesse temas relacionados à cultura asiática, realizado por um roteirista e diretor asiáticos, com maioria do elenco e equipe formado por asiáticos. Jessica Gao seria mais uma vez abordada e daria várias ideias para o filme, mas a Marvel preferiria fechar com o roteirista Dave Callaham, descendente de chineses, que se diria emocionado por esse ser o primeiro roteiro que ele poderia escrever partindo de sua própria experiência e usando sua própria perspectiva. Callaham receberia apenas duas instruções da Marvel: que o personagem deveria ser atualizado para fazer sentido dentro da sociedade atual, sendo "mais que o Bruce Lee da Marvel" e evitando qualquer tipo de estereótipos, e que Shang-Chi fosse filho do líder da organização Dez Anéis, que seria baseado não no Mandarim, mas em Zheng Zu.
Em março de 2019, seria contratado o diretor Destin Daniel Cretton, descendente de japoneses, após serem entrevistados Deborah Chow - que havia dirigido episódios das séries Jessica Jones e Punho de Ferro - Justin Tipping e Alan Yang. Ao ser procurado, Cretton diria não ter interesse em dirigir um filme de super-heróis, mas depois mudaria de ideia em nome da representatividade, animado por poder fazer criar um personagem no qual as crianças asiáticas pudessem se inspirar; Cretton criaria um visual para o filme que não seria específico de uma única cultura, misturando elementos chineses, coreanos, japoneses e do sudeste asiático. Cretton também escolheria para a fotografia William Pope, responsável por Matrix, por acreditar que seu estilo seria o ideal para um filme de artes marciais, e diria se inspirar nos filmes de Jackie Chan, em animes e videogames para dirigir as cenas de luta.
No filme, Shang-Chi é filho de Wenwu, homem que tem mais de mil anos de idade e lidera a organização criminosa Dez Anéis, tendo conseguido ambos através de um conjunto de dez braceletes que encontrou por acaso e lhe conferem vários poderes, com Ying Li, guardiã da mítica cidade de Ta Lo. Wenwu e Li se conheceriam em 1996, e ele juraria abandonar a vida de crimes e não usar nunca mais os braceletes se ela se casasse com ele, o que ela aceitaria e resultaria em dois filhos, Shang-Chi e Xialing. Quando Shang-Chi tinha dez anos, porém, Li seria morta por criminosos rivais de Wenwu, o que faria com que ele voltasse a usar os braceletes e se tornasse um homem rígido, submetendo o filho a um regime de treinamento insano para que ele se tornasse o maior artista marcial do mundo, e obcecado, buscando encontrar Ta Lo de qualquer forma. Um dia, cansado dessa vida, Shang-Chi decidiria fugir para os Estados Unidos e recomeçar, mas agora precisará reencontrar sua irmã e enfrentar definitivamente seu pai, que, achando que pode trazer Li de volta à vida, pretende atacar Ta Lo, que finalmente encontrou, e libertar um horror indizível.
O elenco traz Simu Liu como Shang-Chi; Awkwafina como Katy, sua melhor amiga, que decide acompanhá-lo em sua jornada; Meng'er Zhang como Xialing, que também fugiu de casa na adolescência e agora é dona de uma espécie de Clube da Luta em Macau; Fala Chen como Ying Li; Florian Manteanu como Razor Fist, membro da Dez Anéis que tem um facão no lugar da mão direita; Yuen Wah como Guang Bo, guardião de Ta Lo; Michelle Yeoh como Ying Nan, guardiã de Ta Lo e irmã de Ying Li; Ronnie Chieng como Jon Jon, braço-direito de Xialing; Ben Kingsley como Trevor Slattery, ator contratado para posar como o Mandarim em Homem de Ferro 3, que agora é prisioneiro do verdadeiro Mandarim; e Tony Leung como Xu Wenwu, codinome Mandarim, líder da Dez Anéis e pai de Shang-Chi. Participações especiais incluem Andy Le como o Mercador da Morte, responsável pelo treinamento de Shang-Chi; Dee Bradley Baker como a voz de Morris, um hundun (criatura da mitologia chinesa) que veio de Ta Lo e se tornou o melhor amigo de Slattery; Benedict Wong como Wong; Tim Roth como a voz do Abominável, que participa de uma das lutas no clube de Xialing; Jade Xu como uma Viúva Negra; e Mark Ruffalo e Brie Larson, que aparecem na cena intercréditos como Bruce Banner e Carol Danvers.
Assim que foi escolhido para a direção, Cretton pensou em Tony Leung, um dos mais famosos atores de Hong Kong, para interpretar o vilão do filme, mas temia que ele não aceitasse; o produtor Jonathan Schwartz decidiria entrar em contato com o agente de Leung mesmo assim, marcaria um almoço entre Leung e Cretton, e, para surpresa do diretor, o ator se mostraria bastante animado com o projeto. Depois de Leung, o primeiro ator convidado para o elenco seria Kingsley, já que o papel de Slattery seria essencial para o enredo; Feige, inclusive, diria acreditar que o ator ainda poderia aparecer em muitos outros filmes do MCU, sempre como apoio cômico. Outras três atrizes também seriam convidadas sem testes: Awkwafina, Michelle Yeoh e Jessica Henwick, a Colleen Wing de Punho de Ferro. Yeoh também já havia feito um papel no MCU, uma participação especial como Aleta Ogord em Guardiões da Galáxia Vol. 2, mas não achou que isso fosse um empecilho para aceitar um papel maior; já Henwick, escalada para o papel de Xialing, acabaria não aceitando porque tinha esperança de voltar a interpretar Wing no MCU, e preferiria aceitar um papel em The Matrix Resurrections, que seria filmado na mesma época - depois da recusa, seriam feitos testes, e Zhang, que até então só havia atuado em filmes chineses, seria escolhida. Simu Liu, nascido no Canadá mas filho de chineses, também seria escolhido através de testes, com o papel ficando entre ele e Lewis Tan, que também já tinha tido um papel em Punho de Ferro, o do assassino Zhou Cheng; Awkwafina participaria dos testes para que os produtores pudessem ver sua química com os atores, e desde o início acreditaria que Liu era o melhor, mas o ator, que foi um dos primeiros a testar, só seria efetivamente escolhido após retornar para uma segunda rodada de testes.
Cretton trabalharia junto a Callaham para criar a história do filme, e o roteiro acabaria sendo escrito por Callaham, Cretton e Andrew Lanham, parceiro de longa data de Cretton. Desde o início, os três decidiriam que as relações conturbadas de Shang-Chi com sua família deveriam ser o ponto central do filme, já que, nos quadrinhos, o personagem só decide se tornar um herói por não aceitar pertencer a uma família de criminosos. Como a história de Shang-Chi não é tão conhecida quanto a de heróis do primeiro time como o Homem-Aranha ou o Hulk, os roteiristas decidiriam tomar várias liberdades, como Shang-Chi renegando seu passado e tentando levar uma vida normal em San Francisco antes de decidir se tornar herói, e seu pai usando o codinome Mandarim, o que mesclava dois personagens dos quadrinhos em um único do cinema. Uma das maiores preocupações dos roteiristas foi evitar os estereótipos raciais presentes nos quadrinhos enquanto atualizavam a história para a época atual; a mudança de nome do pai de Shang-Chi, de Zheng Zu para Xu Wenwu fez parte desse esforço, para ficar claro que era um personagem novo, sem relação com o dos quadrinhos.
O esforço da equipe para que o filme retratasse com fidelidade a cultura asiática chegaria ao ponto de pesquisar qual tipo de comida deveria ser servido em qual cena, e se cada diálogo deveria ser inteiramente em inglês ou ter trechos em mandadim (a língua, não o vilão). O filme, aliás, começa com uma narração em mandarim, o que foi considerado ousado pela crítica, já que o público norte-americano é conhecido por não gostar de legendas, então abrir um blockbuster com uma narração legendada era uma aposta arriscada. Liu, Leung e Zhang seriam consultados frequentemente pela equipe, para contribuírem com opiniões de alguém nascido na diáspora chinesa, alguém nascido em um território chinês e alguém nascido na China em si, que então eram pesadas para decidir quanto a alguns aspectos de cenários e interações entre os personagens. Zhang também serviria como coach de mandarim para quando um dos atores sem mais familiaridade com a língua tivesse alguma fala nela. Outro aspecto que decidiu ser incluído pela produção foi mostrar que Katy, filha de chineses mas nascida nos Estados Unidos, tem dificuldade para falar mandarim, e precisa de ajuda para pronunciar corretamente o nome de Shang-Chi - o que também serviu para que a plateia aprendesse a pronúncia correta. Em uma cena especialmente interessante entre Katy e Jon Jon, ele diz que só sabe falar ABC (American Born Chinese), uma espécie de dialeto do mandarim falado por descendentes de chineses nascidos nos Estados Unidos, algo que muitas pessoas fora da diáspora asiática sequer sabem que existe.
O nome do filme seria escolhido por Feige, para mostrar que a organização criminosa Dez Anéis voltaria a ter destaque no MCU. O logotipo original da Dez Anéis, usado nos filmes do Homem de Ferro, mostrava dez círculos entrelaçados com ideogramas mongóis, o que causou a ira do governo da Mongólia, que chegou a soltar uma declaração de que a Marvel estava associando o país a grupos terroristas. Para o filme de Shang-Chi, o logotipo seria atualizado e passaria a ter ideogramas chineses, mas o governo da Mongólia seguiria insatisfeito, declarando que a mudança teria sido feita mais para agradar a China que a Mongólia. Nos quadrinhos, os dez anéis do Mandarim são anéis mesmo, feitos de metal alienígena, usados um em cada dedo, cada um com um poder, mas, para o filme, a produção optaria por fazer braceletes, todos interligados e com vários poderes, e, para ficar dentro do tema da Fase 4, vindos de outro universo; segundo Schwartz, os anéis ficariam com aparência engraçada nos testes de filmagem, e houve quem achasse que eles ficaram muito parecidos com as Joias do Infinito, e diversas configurações de joias e adereços foram testadas até os braceletes serem escolhidos.
A Marvel planejava filmar na China, mas acabaria desistindo e levando as filmagens para a Austrália, usando os estúdios da Fox em Sydney e filmando várias externas em cidades do estado de Nova Gales do Sul. Os incentivos financeiros do governo australiano foram tão bons que a Marvel decidiria filmar Shang-Chi e Thor: Amor e Trovão back to back, ou seja, começando as filmagens de um assim que terminassem as do outro. As filmagens começariam em fevereiro de 2020, mas teriam de ser interrompidas por causa da pandemia, retornando em agosto. Em outubro, cenas adicionais seriam filmadas em San Francisco, mas, devido ao protocolo de covid da Austrália, teve de ser usada uma nova equipe, pois, se alguém da equipe que estava filmando em solo australiano viajasse para os Estados Unidos, não poderia voltar sem passar por uma rigorosa quarentena. Apesar de tudo, a equipe trabalharia com eficiência, e todas as filmagens seriam concluídas na data prevista antes da pandemia, em outubro de 2020.
As cenas de luta seriam coreografadas por Brad Allan, que faleceria em agosto de 2021, com o filme sendo dedicado a ele. Ex-integrante do Jackie Chan Stunt Team, Allan contaria com a ajuda de vários colegas dublês para criar o estilo de luta de Shang-Chi, baseado no wushu, mas com elementos de diversas outras artes marciais. A cena mais difícil de ser filmada seria a luta no ônibus, que usaria dois veículos, que seriam totamente desmontados e remontados, levou um ano para ser planejada e seis semanas para ser filmada - com um intervalo de meses no meio causado pela pandemia, com as filmagens começando em Sydney e terminando em San Francisco. No filme, a sequência ocorre em San Francisco, o que fez com que as sequências gravadas em Sydney tivessem de ser digitalmente retocadas; isso não causaria polêmica, mas dois outros detalhes sim: quem mora em San Francisco diria que não há na cidade nenhuma ladeira extensa o bastante para que um ônibus em alta velocidade a desça durante seis minutos, e a Muni, empresa de transporte público da cidade, não quis seu nome associado a um acidente (já que o ônibus colide com vários carros no final), precisando ser usado um nome fictício.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis estrearia em 3 de setembro de 2021; pelo planejamento inicial, ele seria o terceiro filme da Fase 4, mas, após as várias mudanças de data, acabaria se tornando o segundo - originalmente, sua data de estreia seria 12 de fevereiro de 2021, primeiro dia do Ano Novo Chinês, enquanto Viúva Negra e Eternos estavam programados para estrear em 2020. Diferentemente de Viúva Negra, Shang-Chi ficou 45 dias exclusivamente nos cinemas antes de estrear no Premier Access do Disney+. O orçamento do filme não seria divulgado, mas seria estimado entre 150 e 200 milhões de dólares; ele renderia 224,5 milhões nos Estados Unidos e 432,2 milhões no mundo inteiro, rendimento que seria prejudicado porque, devido a uma declaração de Liu sobre experiências negativas que seus pais viveram na China, o governo chinês proibiria a estreia do filme no país. A crítica receberia muito bem o filme, elogiando principalmente a forma como a cultura asiática era retratada e as cenas de luta.
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