sábado, 28 de junho de 2025

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Wolverine (II)

E hoje finalmente veremos os três filmes de Wolverine aqui no átomo!

X-Men Origens: Wolverine
X-Men Origins: Wolverine
2009

Em 2001, enquanto X-Men 2 ainda estava em pré-produção, o escritor David Benioff procuraria a Fox e diria ter interesse em escrever, produzir, e até mesmo dirigir um filme solo de Wolverine. Benioff, que anos mais tarde ficaria famoso por ter sido um dos responsáveis pela série Game of Thrones, na época estava na crista da onda por ter publicado seu primeiro romance, The 25th Hour, mas ainda não havia emplacado um roteiro para o cinema sequer, com o primeiro sendo A Última Noite, de 2002, dirigido por Spike Lee, justamente a adaptação de The 25th Hour. Por causa disso, a Fox mandou um "vamos pensar", mas jamais voltou a entrar em contato. Em 2004, entretanto, após o gigantesco sucesso de X-Men 2, a Fox decidiria trabalhar em spin offs protagonizados cada um por um único personagem, selecionando Wolverine, Magneto e Tempestade para serem os três primeiros, e criando o nome X-Men Origins, com a qual todos esses filmes seriam lançados. Alguém deve ter se lembrado de Benioff, que então já tinha publicado um segundo livro, When the Nines Roll Over, e escrito o roteiro de Tróia, com Brad Pitt, e ele foi chamado para conversar.

Benioff apresentaria uma sinopse que usava como inspiração três das maiores histórias de Wolverine nos quadrinhos: Arma X (1991), de Barry Windsor-Smith; Eu, Wolverine (1982), de Chris Claremont e Frank Miller; e Origem (2001), de Bill Jemas, Paul Jenkins, Joe Quesada, Andy Kubert e Richard Isanove. Hugh Jackman, o intérprete de Wolverine, ficaria maravilhado ao ler a primeira versão do roteiro, principalmente por ser um filme de um único protagonista, ao invés de um filme de equipe como os dos X-Men; ele inclusive daria várias sugestões para que o filme se encaixasse melhor com os dois já lançados, baseadas em sua própria experiência ao viver o personagem.

A Fox, contudo, não ficaria tão empolgada quanto Jackman, por uma razão, digamos, econômica: pensando que a história de Wolverine deveria ser "mais sombria e brutal" que as dos X-Men, Benioff escreveria um roteiro para um filme de classificação R, aqueles que menores de idade não podem assistir no cinema, o que faria com que a Fox temesse um fracasso comercial, contratando Skip Woods, o roteirista de Hitman, para reescrever o roteiro de Benioff, transformando o filme em um PG-13 - apropriado para maiores de 13 anos, mas que menores podem assistir acompanhados dos pais. O roteiro seria aprovado pela Fox em outubro de 2006, quando Jackman estava filmando Austrália, com o ator declarando que as filmagens começariam no final de 2007; David Ayer, de Velozes e Furiosos, diria também ter contribuído para o roteiro, mas que não seria creditado. No final de 2007, James Vanderbilt e Scott Silver, igualmente não creditados, seriam chamados às pressas para "revisões de última hora" no roteiro.

A Fox pediria especificamente por dois personagens no filme: Deadpool, na intenção de fazer um teste para um filme solo do personagem, e Gambit, que o estúdio queria colocar nos filmes dos X-Men mas não sabia como. Por alguma razão que só ele sabe responder, Benioff criaria um Deadpool totalmente diferente daquele dos quadrinhos, com as duas versões somente compartilhando serem mercenários e serem tagarelas; mesmo com o roteiro sendo reescrito tantas vezes, seria essa versão que chegaria ao produto final, causando a ira dos fãs. Já a inclusão de Gambit, apesar de fidedigna, acabaria colocando o personagem num beco sem saída, já que o filme é ambientado muitos anos antes do primeiro dos X-Men, o que impediria que o mutante cajun entrasse para a equipe num filme próximo, a menos que estivesse bem mais velho. Jackman ficaria empolgado com a inclusão de Gambit, achando que sua personalidade seria perfeita para que ele e Wolverine formassem uma dupla, mesmo que apenas por poucas cenas.

Bryan Singer, Brett Ratner, Alexandre Aja e Len Wiseman se mostraram interessados em dirigir, mas a Fox convidaria Zack Snyder, que recusaria por já estar comprometido com Watchmen. Em julho de 2007, a Fox anunciaria Gavin Hood, de Infância Roubada, com Jackman declarando ver paralelos entre o protagonista desse filme e Wolverine; Hood confessaria não ser fã de quadrinhos, mas ter se interessado pelo filme pelo fato de Wolverine "estar sempre em guerra contra sua própria natureza". O diretor também contribuiria para o roteiro, sugerindo que Wolverine e Dentes de Sabre fossem literalmente meio-irmãos, o que, segundo ele, contribuiria para o aspecto emocional do filme. Falando em Dentes de Sabre, em nenhum momento o personagem é chamado dessa forma no filme, apenas de Victor, assim como ele jamais é chamado de Victor em X-Men, o que, aliado às diferenças físicas entre eles, deu origem a uma teoria dos fãs de que seriam dois personagens diferentes.

Após uma breve recapitulação da infância do herói e da descoberta de seus poderes mutantes, o filme começa com Wolverine usando o codinome Logan e fazendo parte de uma equipe de mercenários mutantes chamada Team X, comandada pelo Major William Stryker. Após se desentender com o resto da equipe, Logan decide sair e ir morar no interior do Canadá com sua noiva, Kayla, até um dia em que é procurado por Stryker, que diz que o meio-irmão de Logan, Victor, está caçando e matando os integrantes do Team X, mas ele tem um projeto secreto que dará a Logan condições de derrotar o irmão de uma vez por todas. Logan não se mostra interessado, mas, após Kayla ser morta, decide aceitar a oferta de Stryker, que, sem que ele saiba, fará com que sua memória seja apagada e ele se torne uma máquina de matar a serviço do governo. Logan consegue escapar antes que o processo esteja inteiramente concluído, e, após descobrir que Stryker e Victor são parceiros nessa empreitada, decide usar seus novos poderes para caçá-los.

O elenco conta com Hugh Jackman como Logan / Wolverine; Liev Schreiber como Victor Creed; Danny Huston como William Stryker; will.i.am como John Wraith, mutante do Team X com o poder de se teletransportar; Lynn Collins como Kayla Silverfox, namorada nativo-americana de Logan; Kevin Durand como Fred J. Dukes / Blob, mutante do Team X com o poder de controlar sua densidade corporal; Dominic Monaghan como Chris Bradley, mutante do Team X com o poder de controlar a eletricidade; Taylor Kitsch como Remy LeBeau / Gambit; Daniel Henney como Agente Zero, mutante do Team X com agilidade e reflexos ampliados; e Ryan Reynolds como Wade Wilson / Deadpool. Participações especiais incluem Tim Pocock como um jovem Scott Summers; Max Cullen e Julia Blake como Travis e Heather Hudson, casal que acolhe Logan quando ele foge do projeto Arma X; Patrick Stewart como uma versão rejuvenescida digitalmente do Professor X; e Tahyna Tozzi como Emma, irmã de Kayla que coincidentemente tem o mesmo poder de transformar sua pele em diamante de Emma Frost - originalmente, ela seria Emma Frost, mas Singer, que desejava usar a personagem no futuro, pediria após o lançamento do filme para que não fosse.

As filmagens começariam na Austrália no final de 2007 e na Nova Zelândia no início de 2008, mas acabariam atrasando devido à greve dos roteiristas de 2007. Hood diria que o roteiro ainda estava sendo reescrito enquanto eles filmavam, e que a equipe recebia, na Austrália, páginas de roteiro escritas em Los Angeles na noite anterior àquela na qual deveriam filmá-las. Atrasos também ocorreriam devido a um inverno especialmente rigoroso, a compromissos assumidos por Jackman para a divulgação de Austrália, e quando a produção decidiu estocar explosivos em um rinque de patinação na cidade neozelandesa de Queenstown, o que a prefeitura achou perigoso, obrigando a equipe a mover todos os explosivos antes que as filmagens pudessem ser retomadas. Parte das filmagens ocorreria em um complexo abandonado em Cockatoo Island, Austrália, para poupar dinheiro e tempo que seriam usados na construção de um prédio cenográfico e cenários de computação na pós-produção. Cenas complementares seriam filmadas em Nova Orleans, Estados Unidos, e em Vancouver, Canadá, para onde e equipe iria durante a pós-produção gravar as cenas com Reynolds, envolvido com dois outros filmes durante a produção.

Hood e o executivo da Fox Thomas Rothman se desentenderiam várias vezes durante a filmagens, principalmente porque o diretor queria que Wolverine fosse um veterano de guerra sofrendo de stress pós-traumático, enquanto o estúdio achava que "ninguém estava interessado" em um filme de super-heróis com esse tema. A Fox chegaria a pensar em demitir Hood, e começaria até a fazer uma lista de substitutos, quando a produtora Lauren Shuler Donner pediria que seu marido, o diretor Richard Donner, voasse até a Austrália para conversar com Hood e Rothman e conseguir dos dois um um consenso. Hood acabaria abrindo mão da história do estresse pós-traumático em favor da possibilidade de filmar várias cenas pós-créditos diferentes, com cada cópia do filme contando com uma delas, e a plateia só descobrindo qual era quando ela fosse exibida. O diretor chamaria essas cenas de "finais secretos".

Acreditem ou não, o filme teria muito mais efeitos especiais que os três primeiros dos X-Men, o que exigiria que nada menos que 17 empresas de efeitos visuais trabalhassem nele, subordinadas a três diretores de efeitos especiais diferentes. A que ficou responsável pela maior parte das cenas foi a Hydralux, que criou, dentre outras coisas, os poderes de Gambit. Muitas cenas foram filmadas com os atores em frente a um chroma key e criadas totalmente por computação gráfica, como a de Wolverine e Gambit num avião, a máquina que injetou o adamantium no esqueleto de Wolverine, e Wolverine cortando através de uma porta após descobrir suas garras de adamantium. As garras de Wolverine, aliás, eram totalmente feitas por computação gráfica, tanto as de adamantium quanto as de osso, pois as próteses ficaram estranhas e pareciam falsas nas filmagens.

Em 31 de março de 2009, X-Men Origens: Wolverine seria vazado na íntegra na internet, com a Fox estimando que cerca de 4,5 milhões de pessoas fizeram o download antes da estreia do filme nos cinemas; a versão vazada tinha excelente qualidade de imagem, mas diferenças em alguns efeitos sonoros, uma fonte diferente na abertura, e muitos de seus efeitos especiais estavam inacabados. A Fox acionou o FBI e a MPAA (o órgão que representa os estúdios de cinema dos Estados Unidos) para descobrir o responsável pelo vazamento, e, após desconfiar da empresa de efeitos visuais Rising Sun Pictures, inocentada após provar jamais ter tido uma cópia integral do filme em sua posse, eles acabariam chegando a um homem que morava em Nova Iorque e disse que comprou um DVD de um coreano, decidindo disponibilizá-lo na internet, sendo condenado a um ano numa prisão federal pela brincadeira. Outra punição seria aplicada a Roger Friedman, um colunista do canal Fox News, demitido por fazer um review da cópia vazada, no qual diria que foi muito fácil obtê-la. Em 2014, a Fox divulgaria que a cópia obtida pelo tal coreano foi feita para o presidente da empresa, Rupert Murdoch, que a pediu em cima da hora, o que fez com que não houvesse tempo hábil para as medidas de segurança adequadas.

X-Men Origens: Wolverine estrearia nos Estados Unidos em 1 de maio de 2009, embora tenha estreado em outros países a partir de 27 de abril. Apenas em seu primeiro dia nos EUA, renderia 35 milhões de dólares, somando ao final 180 milhões, mais 193 milhões no restante do mundo, para um total de 373 milhões, menos que X-Men 2 e X-Men: O Confronto Final, mas bem mais que o primeiro filme dos X-Men, o que acabou também não representando muita coisa, já que seu orçamento seria o dobro - 150 milhões de dólares contra 75 milhões de X-Men. A Fox consideraria o filme um sucesso de público, mas ele seria um grande fracasso dentre a crítica, que o consideraria "cheio de clichês", "redundante" e "desajeitado"; um crítico chegaria a dizer ser impossível simpatizar com Wolverine, já que nada poderia feri-lo ou matá-lo. O próprio Jackman, após assistir à versão final do filme, se diria desapontado, declarando que o filme se parecia mais com um quarto filme dos X-Men do que com aquilo que ele desejava fazer, que era se aprofundar na mitologia e na personalidade de Wolverine.

O fracasso de X-Men Origens: Wolverine acabaria fazendo com que X-Men Origens: Magneto fosse transformado em X-Men: Primeira Classe, e com que a linha X-Men Origens fosse cancelada após apenas um filme, com X-Men Origens: Tempestade sequer entrando em pré-produção, mesmo com Hale Berry já tendo assinado contrato. Wolverine, entretanto, sairia intocado, e a pré-produção de seu segundo filme começaria quase que imediatamente após a estreia do primeiro.

Wolverine: Imortal
The Wolverine
2013

Durante uma entrevista em setembro de 2007, Hood daria a entender que X-Men Origens: Wolverine teria uma sequência ambientada no Japão, inspirada em Eu, Wolverine, de Chris Claremont e Frank Miller - de fato, uma das cenas pós-créditos do filme mostrava Wolverine no Japão. Jackman confirmaria, e diria que a intenção de Benioff era levar Wolverine ao Japão já no primeiro filme, mas que ele havia opinado que era melhor "definir quem era Logan antes de descobrir como ele se tornou o Wolverine", o que fez com que todos os elementos da minissérie ficassem de fora da versão final do roteiro. Os executivos da Fox gostariam da ideia, e, antes mesmo do lançamento de X-Men Origens: Wolverine, Shuler Donner abordaria Simon Beaufoy, de Quem Quer Ser Um Milionário? e 127 Horas, para escrever o roteiro, mas ele recusaria dizendo não se sentir à altura da tarefa. Ainda assim, o projeto ficaria tão adiantado que, poucos dias após a estreia do primeiro filme nos cinemas, a Fox daria a luz verde para a produção da continuação.

Christopher McQuarrie, de Os Suspeitos, que havia trabalhado sem créditos em X-Men, seria contratado para escrever o roteiro em agosto de 2009, com Shuler Donner confirmando que o filme seria ambientado e filmado no Japão (mas, segundo ela, "com os personagens falando inglês, e não japonês com legendas") e que a história envolveria o relacionamento de Wolverine com Mariko, filha de um chefão do crime, além de "samurais, ninjas, lutas de katana e diferentes artes marciais". Bryan Singer seria convidado para dirigir mas recusaria, então a Fox contrataria Darren Aronofsky, que, envolvido com outros projetos, estabeleceria a data de janeiro de 2011 para iniciar as filmagens, declarando que o filme não seria uma sequência, mas um one-off, uma história sem relação alguma com o anterior ou com os demais filmes dos X-Men. Jackman se diria satisfeito, dizendo que o filme "daria às plateias algo sobre o que pensar".

Em março de 2011, entretanto, as filmagens sequer haviam começado quando um terremoto seguido de tsunami atingiu a região de Tohoku, no Japão, o que levaria a um adiamento na produção por tempo indeterminado. Aronofsky, alegando que teria de ficar mais de um ano longe da família durante as filmagens, desistiria do projeto, e a Fox prepararia uma lista com oito possíveis substitutos, incluindo o brasileiro José Padilha. O favorito de Jackman era Shawn Levy, com quem ele havia trabalhado em Gigantes de Aço, mas que recusaria alegando querer trabalhar em projetos originais, não "no quinto filme do Wolverine". James Mangold seria anunciado como o novo diretor em julho de 2011, com Jackman declarando que as filmagens começariam em outubro. Mangold insistiria para que a Fox deixasse que ele fizesse um filme de classificação R, o que o estúdio rejeitaria mais uma vez.

Em setembro de 2011, porém, as filmagens teriam de ser adiadas novamente, dessa vez porque Jackman estava filmando Os Miseráveis. No mesmo mês, querendo uma ligação mais forte com os filmes dos X-Men, a Fox contrataria Mark Bomback, de Duro de Matar 4.0 e Incontrolável, e Scott Frank, de Minority Report, para reescrever o roteiro de McQuarrie, que acabaria mais uma vez não creditado. Bomback tentaria incluir Vampira na história, mas desistiria por achar que tudo estava ficando "muito problemático", preferindo explorar o relacionamento de Wolverine com Jean Grey. Em fevereiro de 2012, a Fox anunciaria que o filme estrearia em 2013; Jessica Biel chegaria a ser anunciada como a intérprete da Víbora, mas, em uma entrevista, diria que nada era definitivo ainda - de fato, ela acabaria não aceitando o salário proposto pela Fox, com o estúdio chamando Svetlana Khodchenkova para substituí-la. Exceto por Wolverine e Víbora, todo o elenco principal do filme é composto por atores japoneses ou descendentes de japoneses; além disso, o filme chamaria atenção por ter quatro mulheres fortes e lutadoras, que não serviam como donzelas indefesas ou interesses românticos, o que foi considerado incomum para um filme de ação.

Wolverine: Imortal é o primeiro filme dos X-Men ambientado depois de X-Men: O Confronto Final; após a morte de Jean Grey, Logan decide se isolar do mundo e viver como um ermitão, até receber a notícia de que Ichiro Yashida, de quem ele salvou a vida em 1945, está morrendo de câncer, e quer que Wolverine viaje até o Japão para que ele pague sua dívida. Yashida, agora CEO de uma grande empresa, faz uma proposta inusitada: usando métodos criados por sua principal cientista, a Dra. Green, transferir para ele os poderes de cura de Wolverine, os quais ele já está considerando uma maldição, de forma que ele possa se curar do câncer e Logan possa finalmente morrer. Logan recusa a oferta, mas acaba sendo forçado a colaborar, se vendo cercado de inimigos em um país distante e sem seus poderes para ajudá-lo.

O elenco conta com Hugh Jackman como Logan / Wolverine; Tao Okamoto como Mariko, neta de Yashida, que Logan tem de proteger de uma conspiração no seio da própria família; Rila Fukushima como Yukio, assassina profissional a serviço do clã Yashida; Svetlana Khodchenkova como a Dra. Green / Víbora, médica de Yashida que na verdade é uma mutante com o poder de cuspir veneno (e que não tem nada a ver com a Víbora dos quadrinhos); Brian Tee como Noburo, político corrupto e noivo de Mariko; Will Yun Lee como Harada, ninja que teve um relacionamento com Mariko no passado e fez um voto de proteger o clã Yashida; Hiroyuki Sanada como Shingen, pai de Mariko, que não vai com a cara de Logan; Haruhiko Yamanouchi como Ichiro Yashida / Samurai de Prata; e Famke Janssen como Jean Grey. Patrick Stewart e Ian McKellen fazem uma participação especial como Charles Xavier e Magneto na cena pós-créditos, escrita por Simon Kinberg, que é um prelúdio de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido.

Apenas uma pequena parte das filmagens ocorreria de fato no Japão, com a Fox preferindo filmar na Austrália, devido a incentivos fiscais. Muitas das cidades australianas, como Cockle Bay, Parramatta e Kurnell, tinham características que poderiam ser alteradas digitalmente na pós-produção para que ficassem parecidas com cidades japoneses, e Picton serviria como a comunidade no interior do Canadá onde Logan estava vivendo no começo do filme; a maior parte das filmagens, externas e em estúdio, ocorreriam em Sydney, com um vilarejo japonês cenográfico sendo construído no Parque Olímpico. No Japão, as filmagens, em sua maioria de cenários e paisagens, ocorreriam em Tóquio, Fukuyama e Tomonoura. A cena pós-créditos seria gravada em Montreal, junto com refilmagens de cenas que não seriam bem aceitas durante a exibição para as plateias de teste.

Os efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Weta Digital, Rising Sun Pictures, Iloura e Shade VFX; durante a pós-produção, a Fox decidiria converter o filme para 3D, o que faria com que Wolverine: Imortal se tornasse o primeiro filme dos X-Men (e o primeiro dos filmes da Marvel da Fox) a estar disponível nesse formato. A RSP ficaria responsável por transformar as cidades australianas em cidades japonesas e pela cena da bomba atômica, preferindo fazer a explosão do zero, inspirada em uma erupção vulcânica, a imitar explosões mostradas em filmagens da Segunda Guerra. O urso que aparece nas cenas ambientadas no Canadá era um animatronic, criado pela Make-Up Effects Group e alterado digitalmente pela Weta para ficar mais realístico. A cena da luta sobre o trem-bala seria filmada em estúdio, com os atores suspensos por cabos na frente de um chroma key, com o cenário, filmado pela equipe de produção em Tóquio, sendo adicionado durante a pós-produção.

O Samurai de Prata seria um personagem totalmente digital, criado pela Weta usando como base um modelo impresso por uma impressora 3D; a maior preocupação da empresa era que a armadura do samurai, sendo feita de prata polida, deveria refletir tudo o que estivesse em seus arredores, o que poderia fazer com que o personagem destoasse do restante do filme, ficando claro que se tratava de um personagem digital - além disso, o reflexo na prata é diferente daquele em um espelho de vidro, então havia a preocupação de que ele não se tornasse um "Samurai de Espelhos". O dublê Shane Rangi seria usado para a captura de movimentos, mas, devido ao tamanho exagerado do samurai, teve de usar pernas de pau durante as filmagens.

Wolverine: Imortal estrearia em 3 de julho de 2013 na maior parte do mundo, com a estreia nos Estados Unidos ocorrendo dois dias depois, e no Japão, onde se chamaria Wolverine: Samurai, em 13 de setembro. Com orçamento de 132 milhões de dólares, renderia 132,5 milhões nos Estados Unidos, menos que X-Men Origens: Wolverine e o pior desempenho doméstico dos seis filmes dos X-Men lançados até então, mas, no restante do planeta, renderia 282,3 milhões, mais do que qualquer outro filme dos X-Men, para um total de 414,8 milhões, sendo considerado um sucesso pela Fox. A crítica também seria muito mais favorável que ao primeiro filme, destacando a seriedade da primeira metade, o roteiro adulto, com ecos dos filmes de samurai da década de 1970, e a performance de Jackman. A luta de Wolverine contra o Samurai de Prata seria considerada um ponto baixo, sendo descrita como "cartunesca"; Mangold se justificaria dizendo que, mesmo com ele querendo fazer um filme mais contido e intimista, a Fox exigiria pelo menos uma grande batalha com efeitos especiais, já que o filme concorreria nos cinemas com Thor: O Mundo Sombrio e O Homem de Aço.

A pedido de Mangold, a Fox lançaria, exclusivamente em Blu-ray, em dezembro de 2013, uma versão estendida do filme, chamada de Unleashed Extended Edition, com mais sangue e violência, e 12 minutos de cenas adicionais não aproveitadas na edição para o cinema - como algumas cenas que poderiam contradizê-las foram removidas, a edição estendida tem, na verdade, apenas 6 minutos a mais que a original.

Também é interessante dizer que, hoje, o filme é considerado pela crítica como muito melhor do que o foi na época; analisando-o em retrospecto após o lançamento de Logan, muitos críticos concluíram que Mangold conseguiu fazer um filme contemplativo, que mergulha fundo na psiquê de Logan, o que permitiu a Jackman uma interpretação visceral que não é vista nos demais filmes com Wolverine - tudo isso tendo ficado meio obscurecido pelas cenas de ação e pela luta medonha com o Samurai de Prata. Hoje, Wolverine: Imortal é considerado "um dos filmes de super-herói mais subestimados de todos os tempos", e é consenso que grande parte do sucesso de Logan viria do fato de que Mangold e Jackman puderam refinar o que haviam feito nesse filme, consertando o que fosse necessário.

Logan
2017

Logo após o lançamento de Wolverine: Imortal, Jackman e Mangold, que se conheciam há vinte anos, começariam a conversar sobre a possibilidade de fazerem juntos também um terceiro filme de Wolverine; Jackman confessaria que, por causa da idade (na época ele estava com 45 anos), imaginava estar chegando ao fim de sua carreira como Wolverine, e Mangold diria que desejava fazer um filme mais intimista e centrado no personagem, quase como um faroeste, usando a pergunta "de quantas formas diferentes um super-herói consegue salvar o mundo?" para argumentar que a fórmula já estava desgastada. Em entrevistas no final de 2013, Jackman diria que tudo ainda estava em um estágio muito preliminar, mas que ele estava muito orgulhoso do que eles haviam feito em Wolverine: Imortal e acreditava que o filme seguinte seria uma evolução natural da história de Wolverine.

Em março de 2014, a Fox daria a luz verde para um terceiro filme de Wolverine, e o produtor Hutch Parker diria que a intenção do estúdio era filmar X-Men: Apocalipse e Wolverine 3 back to back, ou seja, emendando as filmagens de um com as do outro, para economizar, com qual seria filmado primeiro dependendo do quão avançados estivessem os roteiros. Na mesma reunião, a Fox determinaria que as filmagens começariam "no verão de 2015", confirmaria Mangold como diretor, contrataria o roteirista David James Kelly, e determinaria que a data de estreia seria 3 de março de 2017. Jackman, cujo contrato com a Fox havia terminado em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido declararia ainda não ter assinado para o terceiro filme de Wolverine, e que só iria fazê-lo se gostasse do roteiro; ele confessaria "ter bastante ambição", para que o terceiro filme ficasse ainda melhor que Wolverine: Imortal, e que gostaria que o terceiro filme desse um fechamento à história de Wolverine nos cinemas, mas que nada havia sido decidido sobre isso ainda.

Em fevereiro de 2015, Patrick Stewart revelaria estar em negociações para interpretar Charles Xavier no filme, e Jackman confirmaria que a história era centrada no relacionamento entre os dois, mostrando "um aspecto de pai e filho" ainda não abordado, assim como "facetas da personalidade de Xavier ainda não reveladas nos filmes". Em abril, Michael Green seria contratado para reescrever o roteiro de Kelly, mas Mangold declararia que a Fox havia concordado que ele teria a palavra final sobre qualquer aspecto do roteiro. Em setembro, Jackman declararia que o roteiro estava "na metade" e que as filmagens começariam no ano seguinte, mas que os locais ainda não haviam sido determinados; no mesmo mês, o roteirista Mark Millar confirmaria que a história do filme seria baseada na saga dos quadrinhos O Velho Logan, que ele havia escrito em 2008. Em outubro, a Fox anunciaria que Logan seria o título oficial do filme.

Em janeiro de 2016, Jackman declararia que o roteiro estava "concluído, mas não completo". No mês seguinte, Liev Schreiber declararia ter interesse em voltar a interpretar Victor Creed, e que o personagem seria uma boa adição a um filme mais sério de Wolverine; após o lançamento do filme, Jackman revelaria que Mangold chegaria a conversar com Schreiber, e que Creed estava na primeira versão do roteiro, mas havia sido removido da versão final em prol de um antagonista sem ligações com o passado do personagem, o chefe de segurança de uma corporação global que tem interesse em Wolverine e o persegue, para que a história ficasse menos complicada. Em maio, o produtor Simon Kinberg confirmaria que o filme seria ambientado no futuro, mostrando Wolverine e Xavier mais velhos, que a tônica seria parecida com a de um faroeste, e que seria um filme "bem legal e bem diferente"; graças ao sucesso de Deadpool, a Fox finalmente concordaria em fazer um filme de classificação R, o que significava que ele também seria mais sombrio e violento que seus antecessores.

O filme é ambientado em 2029, com nenhum mutante tendo nascido em aproximadamente 25 anos. Logan está velho e doente, com seus poderes falhando por envenenamento por adamantium, trabalhando como chofer de limusine e cuidado de um ainda mais idoso Charles Xavier, cujas faculdades mentais começam a falhar, o que faz com que ele de vez em quando perca o controle de seus poderes e ameace a vida dos que estão à sua volta. Um dia, Logan é contratado para levar a menina Laura e sua tutora até a fronteira com o Canadá; durante a viagem, ele é ameaçado pelo ciborgue Donald Pierce, que revela que Laura é uma mutante, subtraída pela tutora da empresa que a criou, a Transigen. Investigando mais a fundo, Logan descobre que Laura é uma clone dele mesmo, contando com os mesmos poderes, e que a Transigen usa DNA mutante para criar armas vivas. Logan, Xavier e seu aliado Caliban, então, decidem encontrar Laura, proteger a menina e, se possível, encerrar as atividades criminosas da Transigen. O elenco conta com Hugh Jackman como Logan / Wolverine, Patrick Stewart como Charles Xavier, Dafne Keen como Laura, Boyd Holbrook como David Pierce, Stephen Merchant como Caliban, Richard E. Grant como o Dr. Zander Rice, chefe da equipe médica da Transigen, e Eriq La Salle, Elise Neal e Elizabeth Rodriguez como Will, Kathryn e Gabriela Munson, uma família que ajuda Logan em parte de sua viagem.

Várias cenas do filme mostram revistas em quadrinhos dos X-Men, usadas como um recurso narrativo e como uma referência metaficcional - como se as aventuras dos X-Men os tivessem deixado tão famosos que eles ganharam sua própria revista em quadrinhos. Nenhuma das revistas mostrada no filme é uma edição real, com todas tendo sido criadas especificamente pelo roteirista Joe Quesada e pelo desenhista Dan Panosian, imitando o estilo de revistas clássicas da equipe e os traços de seus desenhistas; segundo Mangold, isso foi uma exigência da Marvel, que permitiu a criação de novas revistas para o filme, mas vetou o uso de revistas que houvessem realmente sido lançadas. Mangold também diria que sua intenção era criar um clima como do filme Os Imperdoáveis, no qual o personagem de Richard Harris escreve histórias de ficção sobre o Velho Oeste no Velho Oeste, sendo o personagem de Clint Eastwood um herói como os de suas obras, mas já envelhecido e longe de seus melhores anos. Panosian diria ter se inspirado principalmente em revistas das décadas de 1970 e 1980, para que suas capas coloridas e chamativas contrastassem com o clima pesado e sombrio do filme; ao todo, ele criaria 10 capas falsas.

Após a ideia de filmar back to back com X-Men: Apocalipse ser abandonada, as filmagens de Logan começariam em maio de 2016 em Nova Orleans, Louisiana, escolhida devido aos incentivos fiscais; Mangold decidiria filmar com o nome falso de Juarez, para afastar a imprensa, mas o subterfúgio logo seria descoberto. Vários bairros afastados da cidade, pequenas cidades vizinhas, como Sicily Island e Ferriday, e estradas próximas à cidade seriam usadas nas filmagens, com algumas vezes as lojas tendo de alterar suas placas e vitrines para fingir que se tratava de outro lugar; como o filme é ambientado no futuro, mudanças cosméticas também seriam feitas, durante as filmagens ou usando computação gráfica na pós-produção, principalmente para mostrar tecnologia mais avançada que a atual. Em junho, uma cena seria filmada em Nathez, Mississippi, e, em julho, a produção se mudaria para o Novo México, para as cenas ambientadas no deserto, filmadas em Albuquerque, Rio Rancho, Abiquiú, Tierra Amarilla e Chama. Seis empresas de efeitos visuais trabalhariam em Logan, mas quase a totalidade dos efeitos especiais ficariam a cargo de uma só, a Image Engine; o visual envelhecido de Jackman seria uma combinação de maquiagem com efeitos de computação aplicados na pós-produção.

Logan seria exibido fora de competição no Festival de Cinema Internacional de Berlim, em 17 de fevereiro de 2017, e teria estreia mundial na exata data determinada pela Fox no início da pré-produção, 3 de março de 2017, algo raríssimo no cinema atual. Uma versão em preto e branco, convertida digitalmente cena a cena para o formato, chamada Logan Noir, estrearia em salas de cinema selecionadas nos Estados Unidos em 16 de maio; essa versão seria incluída no lançamento em Blu-ray do filme.

Com orçamento de 97 milhões de dólares, Logan renderia 226,3 milhões nos Estados Unidos, e 619,2 milhões quando somado o mundo todo - somente em suas duas primeiras semanas, ele superaria todo o faturamento de Wolverine: Imortal. Nos Estados Unidos, ele teria o recorde de salas no lançamento para um filme de classificação R, estreando em 471, sendo 381 no formato IMAX, esse também um recorde. Em uma pesquisa conduzida pelo site de cinema Fandango na saída dos cinemas no dia da estreia, 71% dos espectadores responderam que gostariam de ver mais filmes de super-heróis com classificação R. A crítica receberia muito bem o filme, elogiando as interpretações de Jackman, Stewart e Keen. O filme seria indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, na primeira vez em que um filme de super-herói seria indicado nessa categoria, mas perderia para Me Chame Pelo Seu Nome.

Durante a pré-produção, diversos veículos de imprensa noticiariam que Logan seria a última vez em que Jackman interpretaria Wolverine, mas ele sempre negaria, chegando a dizer que, inspirado pela performance de Michael Keaton em Birdman, desejava interpretar o personagem até sua morte. Em maio de 2015, porém, no programa de TV The Dr. Oz Show, o ator confirmaria que essa seria sua última vez no papel, e, em uma entrevista a Willem Dafoe no programa Variety Studio: Actors on Actors, revelaria que seria convencido a parar por Jerry Seinfeld, que, durante uma festa, diria ter decidido cancelar a série Seinfeld enquanto ainda tinha "gasolina no tanque", o que Jackman interpretaria como "melhor deixar a festa antes que seja tarde demais". Após a Disney comprar a Marvel, entretanto, ele voltaria atrás, e diria estar disposto a interpretar Wolverine em uma produção do Universo Cinematográfico Marvel, citando o desejo de "contracenar com o Hulk e o Homem de Ferro". Ele voltaria atrás mais uma vez, contudo, em uma entrevista durante as filmagens de O Rei do Show, na qual diria que gostaria de ver outro ator interpretando Wolverine no MCU.

Como todos sabemos, porém, ele ainda voltaria mais uma vez ao personagem, em Deadpool & Wolverine, de 2024. Como esse filme não é ambientado exatamente no MCU, e sim em seu multiverso, ainda é incerto se Jackman interpretará mais uma vez Wolverine, principalmente por já estar se aproximando de seus 60 anos. Segundo Deadpool, a Marvel o obrigará a interpretar o papel até os noventa...
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sábado, 21 de junho de 2025

Escrito por em 21.6.25 com 0 comentários

Wolverine (I)

Nos últimos três meses, eu tenho feito uma série de posts sobre os filmes dos X-Men, com a intenção de fazer um post sobre os filmes do Wolverine, motivado por ter feito um post sobre os filmes do Deadpool, que por sua vez eu decidi fazer depois de um sobre os filmes do Blade. E esse post ainda não será publicado hoje, porque eu acabei achando que seria legal se, assim como fiz com Blade e Deadpool, antes do post sobre os filmes, fizesse um post falando sobre Wolverine nos quadrinhos. Hoje, portanto, é dia de Wolverine no átomo!


Wolverine é, sem dúvida nenhuma, o mais popular dos X-Men, mas, originalmente, ele não foi criado para ser um X-Man - na verdade, sequer para ser um herói, mas sim um antagonista do Hulk. A época era a metade da década de 1970, e a revista The Incredible Hulk estava a cargo do roteirista Len Wein e do desenhista Herb Trimpe, que, no último quadrinho da edição 180, de outubro de 1974, introduziram um novo e enigmático personagem chamado Wolverine. Na edição seguinte, Hulk e Wolverine cairiam na porrada, e aquele sujeito baixinho e invocado, aparentemente sem nenhum superpoder, que tinha garras retráteis e um uniforme amarelo chamativo, de alguma forma evitaria ser transformado em purê pelo Golias Esmeralda, usando apenas uma impressionante agilidade e reflexos mais apurados que os de um ser humano comum.

Apesar de suas duas primeiras histórias terem sido desenhadas por Trimpe, oficialmente os co-criadores de Wolverine são Wein e o desenhista John Romita, que criou não somente o primeiro uniforme do personagem, mas também deu a ideia de suas garras retráteis - sob o argumento de que, após desenhar as garras, ficou imaginando como ele faria para coçar o nariz ou amarrar os sapatos. Trimpe sempre recusou crédito de criador, dizendo que "Wein e Romita costuraram a criatura, eu apenas dei o choque que a trouxe à vida". Por outro lado, Roy Thomas, que na época era editor da Marvel, desde a morte de Wein alega também ser um co-criador, por ter pedido especificamente a Wein e Romita para que criassem um personagem chamado Wolverine, que fosse canadense, baixinho, e tivesse a ferocidade de um carcaju - animal nativo do Canadá cujo nome em inglês é wolverine, conhecido por enfrentar animais muito maiores que ele, como ursos, sendo considerado um símbolo de ferocidade. Como Romita também já é falecido, ninguém tem como provar ou desmentir a alegação de Thomas.

Seja como for, Wolverine não era exatamente um vilão, e sim uma espécie de agente secreto do governo canadense, que só enfrentou o Hulk porque, durante uma luta contra o Wendigo, o Verdão cruzou a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, que não queria seres superpoderosos se estapeando e destruindo tudo por lá, então enviou Wolverine para acabar com a briga - aliás, quando vê que o Wendigo é vítima de uma maldição e o Hulk estava lutando apenas para evitar que ele causasse mais destruição, Wolverine revela que tem um bom coração, fingindo ser nocauteado pelo Hulk para que o Gigante Gama retorne aos Estados Unidos por sua própria vontade.

Segundo Trimpe, Wolverine seria mais um dos muitos personagens que, na época, a Marvel introduzia em uma edição com um propósito específico e jamais voltava a utilizar novamente no futuro. Eu poderia dizer que ele fez tanto sucesso com os leitores que cartas inundaram a redação pedindo seu retorno como protagonista, mas a verdade é que não aconteceu nada disso, e Wolverine só retornou em um papel maior graças à preguiça de Wein, que, recebendo a incumbência de criar uma nova equipe de X-Men, decidiria reaproveitar alguns personagens antigos, para não ter que inventar muitos novos.

Para quem não sabe, a equipe original dos X-Men, criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1963, consistia de apenas cinco membros: Ciclope, Anjo, Fera, Homem de Gelo e Garota Marvel (Jean Grey), mentorados pelo Professor X - mais tarde, dois novos "recrutas" se uniriam à equipe, Destrutor e Polaris. Apesar de um pequeno sucesso inicial, a revista The X-Men jamais seria verdadeiramente popular e, após a edição 66, de março de 1970, seria oficialmente cancelada. Por decisão de Lee, entretanto, ao invés de retirar a revista do catálogo da Marvel, a editora a seguiria publicando, reimprimindo histórias antigas entre as edições 67 e 93. Essas edições teriam vendas muito acima do esperado, o que faria com que Lee decidisse lançar uma edição especial, para ver se valia a pena voltar a investir na publicação de histórias inéditas da equipe. Para essa empreitada, ele chamaria Wein e o desenhista Dave Cockrum, que deveriam produzir uma edição especial de 68 páginas - o normal, na época, era entre 28 e 32 - com uma história inédita.

Wein pensaria que faria muito mais sentido se os "novos X-Men" fossem uma equipe internacional e multirracial, ao invés de oito norte-americanos brancos como a equipe original, e que fossem todos adultos, pois a narrativa de adolescentes descobrindo seus poderes já era considerada ultrapassada. Assim, ele inventaria, de cara, quatro novos personagens: a africana Tempestade, o russo Colossus, o alemão de aparência demoníaca Noturno e o nativo norte-americano Pássaro Trovejante. Não querendo que a equipe tivesse somente esses quatro, e já sem inspiração para continuar inventando, ele incluiria também três personagens antigos: o japonês Solaris, criado por Thomas e Don Heck, que havia sido coadjuvante em algumas histórias da equipe original; o irlandês Banshee, criado por Thomas e Werner Roth, originalmente um vilão, reimaginado como um agente da Interpol; e Wolverine, que ganharia um "fator de cura", a habilidade de se recuperar rapidamente de qualquer tipo de ferimento e, assim, se tornaria também um mutante, apto a fazer parte da equipe dos X-Men. Lançada em maio de 1975 com o nome de Giant-Size X-Men, a revista seria um grande sucesso, e, a partir da edição 94, lançada em agosto, a revista X-Men passaria a trazer aventuras dessa equipe, mentorada pelo Professor X, liderada por Ciclope e acrescida de Jean Grey, com os outros X-Men originais dando as caras apenas ocasionalmente.

Quem desenharia a capa de Giant-Size X-Men seria Gil Kane, que, por alguma razão - talvez por tentar desenhar de cabeça - faria várias "mudanças acidentais" no uniforme de Wolverine, a principal delas na máscara, que, ao invés de apenas sombras pretas ao redor dos olhos, tinha prolongamentos laterais pontudos. Cockrum, que achava a máscara original muito parecida com a do Batman, gostaria da mudança, e desenharia Wolverine ao longo da edição com o uniforme acidentalmente criado por Kane, com a máscara se tornando um dos elementos mais característicos e populares do personagem nos anos seguintes. Cockrum também seria o primeiro a desenhar o personagem sem máscara, e acabaria criando outro de seus traços característicos, o cabelo quase que acompanhando o formato da máscara, complementado por fartas costeletas. Cockrum diria ter se inspirado no cabelo de outro dos X-Men, o Fera, para tentar passar a imagem de que Wolverine tinha um temperamento feroz; Wein, entretanto, não gostaria, alegando que, em sua mente, Wolverine tinha cerca de 18 anos, mas Cockrum o havia desenhado com mais de 40. Cockrum também seria o responsável por outros elementos característicos do traje civil de Wolverine, como o chapéu de caubói, a jaqueta de aviador e o charuto sempre na mão ou na boca.

Wein seria o roteirista apenas de Giant-Size X-Men; a partir da X-Men 94, os roteiros ficariam a cargo de Chris Claremont, que determinaria o nome de batismo de Wolverine: Logan. Segundo o roteirista, a escolha foi uma alusão ao Monte Logan, a montanha mais alta do Canadá, com a ideia sendo "dar o nome da montanha mais alta ao X-Men mais baixinho". Falando nisso, embora quem tenha conhecido os X-Men pelos filmes não repare, já que Hugh Jackman tem 1,80 m, Wolverine sempre foi o mais baixinho dos X-Men, com essa sendo outra de suas características distintivas - da equipe formada em X-Men 94 ele era o mais baixo, embora Noturno, que andava curvado, algumas vezes estivesse com os olhos na mesma altura dos dele, e, na equipe que ficaria famosa através do desenho dos anos 1990, ele só não era mais baixo que Jubileu.

Ao longo da década de 1970, Claremont e John Byrne, que assumiria a arte na X-Men 111, de junho de 1978, mas em muitas edições também seria um co-roteirista não creditado, definiriam a personalidade de Wolverine, que o transformariam no mais popular dos X-Men: no final dos anos 1970, motivado em parte pelo fim da Guerra do Vietnã, começariam a se popularizar na cultura pop norte-americana os chamados anti-heróis, personagens que, apesar de seus atos heroicos, não tinham um rígido código de conduta nem eram avessos a cometer atos de violência gratuita, a maioria deles sendo também "lobos solitários", com dificuldade para agir em equipe. Claremont e Byrne incorporariam essas características a Wolverine, usando-o como contraponto aos demais X-Men, todos "bonzinhos e comportados", e explorando o fato de que, apesar de ele se sentir bem como membro de uma equipe, isso ia contra a sua natureza. Essas características, diferentes do lugar-comum nas equipes de super-heróis da época, retratadas como "famílias" nas quais os membros sempre estavam de acordo uns com os outros, fariam a popularidade de Wolverine explodir, e a Marvel a investir em outros anti-heróis, como o Justiceiro, criado originalmente para ser um vilão do Homem-Aranha, e o Motoqueiro Fantasma, originalmente protagonista de histórias de horror - até mesmo o Hulk ganharia uma "versão anti-heroica", na forma do Sr. Tira-Teima.

Apesar de tudo, a indústria dos quadrinhos tinha regras que precisavam ser seguidas, e até mesmo um lobo solitário como Wolverine tinha que ver os X-Men como sua família; para isso, Claremont começaria estabelecendo uma rivalidade entre ele e Ciclope, fazendo com que Wolverine se apaixonasse por Jean Grey; seguiria criando uma amizade genuína entre ele e Noturno, ambos vistos por si mesmos como párias da sociedade; e faria com que o principal parceiro de Wolverine em combate fosse o X-Men que menos tinha a ver com ele em termos de temperamento, Colossus - desenvolvendo para os dois o "arremesso especial", técnica com a qual Colossus arremessa Wolverine em direção aos inimigos como se fosse um projétil, que se tornaria uma das marcas registradas dos X-Men em batalha nos anos seguintes.

Claremont também seria o criador de outra característica fundamental de Wolverine: seu esqueleto de adamantium, o metal mais resistente do Universo Marvel. Existe uma lenda de que Wein, ao criar o personagem, teria imaginado que ele era um filhote de carcaju transformado em humano pelo vilão Alto Evolucionário, que era dado a esse tipo de coisa; Wein sempre negou essa versão, sempre se entristeceu quando a viu repetida como verdade e quando era perguntado sobre ela, e sempre defendeu que Wolverine era um mutante desde sua primeira aparição, embora seus poderes só tenham sido revelados quando ele passou a fazer parte dos X-Men. Wein, entretanto, havia imaginado que as garras de Wolverine faziam parte de suas luvas, e que tanto as garras quanto as luvas eram feitas de adamantium; na X-Men 98, de abril de 1976, Claremont revelaria que, na verdade, as garras fazem parte da anatomia de Wolverine, e que todo o esqueleto do personagem é revestido pelo material - originalmente, entretanto, as garras eram um "efeito colateral" da infusão de adamantium, com o fato de que Wolverine tinha garras de osso antes do experimento só tendo sido acrescentado nos anos 1990.

Por incrível que pareça, porém, Claremont, inicialmente, não gostava de Wolverine, achando que ele não combinava com a equipe, e que era muito difícil arrumar formas de integrá-lo às histórias. Assim como já haviam tirado Solaris e Pássaro Trovejante do título, Claremont e Cockrum planejavam tirar também Wolverine, passando algumas de suas características para Noturno. Seria Byrne, nascido na Inglaterra mas criado no Canadá, quem convenceria o roteirista não só a mantê-lo, mas também a dar cada vez mais destaque ao personagem, argumentando que "não aceitaria que um canadense fosse retirado da equipe". Byrne criaria todo um "passado canadense" para Wolverine, chegando a criar outra equipe da qual ele teria feito parte antes dos X-Men, a Tropa Alfa, para justificar como um lobo solitário como ele aceitava estar em uma equipe com diferenças tão óbvias de personalidade.

Quando assumiu a X-Men, Byrne criou um novo uniforme para Wolverine, de cor marrom e com menos detalhes, e um rosto para o personagem, sem saber que já havia uma versão oficial criada por Cockrum; ao ser avisado, ele usaria esse rosto para Dentes de Sabre, que originalmente era um vilão do Punho de Ferro, cuja revista na época também era escrita por Claremont e desenhada por Byrne. Byrne perguntaria a Claremont se ele achava uma boa ideia Wolverine ser filho de Dentes de Sabre, e os dois acabariam criando uma história na qual era revelado que Wolverine tinha 60 anos e havia lutado na Segunda Guerra Mundial para escapar dos abusos cometidos por seu pai Dentes de Sabre, que tinha 120 anos. Essa história jamais seria publicada, mas serviria de base para outra característica de Wolverine, a de que ele é mais velho do que aparenta, pois seu fator de cura retarda seu envelhecimento. Dentes de Sabre, apesar de jamais ter sido oficialmente seu pai, ganharia um passado em comum com Wolverine, se tornando seu maior rival e um dos principais vilões dos X-Men.

Após a saída de Byrne, Wolverine continuaria sendo um dos protagonistas da revista X-Men, que, na edição 142, de fevereiro de 1981, seria renomeada para The Uncanny X-Men - mesmo com o adjetivo "The Uncanny" já aparecendo na capa desde a edição 114, de outubro de 1978. Wolverine, contudo, só passaria a ser um dos protagonistas do Universo Marvel cerca de um ano depois, com o lançamento da minissérie Wolverine, em quatro edições lançadas entre setembro e dezembro de 1982, com roteiros de Claremont e arte de Frank Miller. Embora a história dessa minissérie (chamada Eu, Wolverine) tenha sido a primeira aventura solo de Wolverine nos Estados Unidos, sua primeira história solo havia sido publicada em 1979, no Reino Unido, pela Marvel UK, na revista Marvel Comics 335, com roteiro de Mary Jo Duffy, desenhos de Ken Landgraf e arte-final de George Pérez, em sua estreia na Marvel: numa história curta, Wolverine e Hércules se envolvem em uma briga de bar após o semideus provocar o mutante.

Eu, Wolverine era muito mais profunda que isso - mais profunda, aliás, do que quase tudo o que vinha sendo feito em quadrinhos na época, e definitivamente profunda demais para um personagem do tipo que Wolverine era visto até então. Claremont e Miller criariam um Wolverine inspirando em Clint Eastwood, principalmente em suas interpretações do Homem sem Nome dos faroestes de Sergio Leone e do detetive Harry Callahan de Perseguidor Implacável, que decide viajar até o Japão ao descobrir que um grande amor de seu passado, Mariko Yashida, terá de se casar contra a própria vontade. A minissérie seria um gigantesco sucesso, e estabeleceria mais pontos fundamentais da personalidade de Wolverine, mostrando que ele tem dificuldade para manter seu instinto assassino sob controle, sendo essa a principal razão pela qual tem dificuldade em trabalhar em equipe, e que não era em nada animalesco, sendo poliglota, um estrategista brilhante e um artista marcial notável - segundo um crítico da época, a minissérie ajudaria a estabelecer Wolverine como "o Batman da Marvel". Também seria nessa minissérie que Claremont e Miller criariam a frase de efeito do personagem: "eu sou o melhor no que faço, mas o que eu faço não é nada bonito".

Wolverine voltaria ao Japão em outra minissérie, Kitty Pryde and Wolverine, em seis edições publicadas entre novembro de 1984 e abril de 1985, com roteiro de Claremont e arte de Al Milgrom, na qual Kitty vai à Terra do Sol Nascente investigar uma trama suspeita envolvendo seu pai e acaba sendo possuída pelo demônio Ogun, com Wolverine tendo de ajudá-la a sobrepujá-lo. A minissérie seria mais um grande sucesso, e levaria a Marvel a considerar seriamente lançar uma revista solo de Wolverine; para testar as águas, a editora o colocaria como o astro principal da revista quinzenal Marvel Comics Presents, lançada em setembro de 1988. Ao invés de apenas uma história de um único personagem, a Marvel Comics Presents trazia três ou quatro histórias curtas de heróis diferentes, com a primeira edição trazendo uma de Wolverine, por Claremont e Milgrom, uma do Homem-Coisa e uma de Shang-Chi.

Wolverine daria nome à revista (com a capa dizendo Marvel Comics Presents: Wolverine) até a edição 10, de janeiro de 1989, com, a partir da edição 11, a história principal sendo de Colossus, a partir da 17 de Ciclope, a partir da 24 de Destrutor e a partir da 32 da equipe Excalibur, mas com Wolverine eventualmente protagonizando uma das histórias secundárias. As vendas da revista cairiam nesse período, mas voltariam a subir quando o nome de Wolverine voltasse à capa, na edição 39, ficando lá até a 142, de novembro de 1993 - exceto entre a 72 e a 84, por razões que veremos a seguir, e nas 105 e 127, protagonizadas pelo Motoqueiro Fantasma, que assumiria o título de vez na 143. A revista ainda seria publicada até a edição 175, de março de 1995, a maioria das últimas edições servindo de laboratório para personagens novos ou pouco conhecidos, como Lunatik ou a Força-Tarefa.

Entre as edições 72 e 84, de março a setembro de 1991, a Marvel Comics Presents publicaria uma das histórias mais famosas e aclamadas de Wolverine, a saga da Arma X (com seu título mudando nesse período para Marvel Comics Presents: Weapon X). Escrita e desenhada por Barry Windsor-Smith, a história mostrava como Logan ganhou seu esqueleto de adamantium e perdeu parte de sua memória ao ser recrutado para o Projeto Arma X, criado pelo governo canadense para recrutar indivíduos super-humanos para trabalhar para uma agência governamental. Mostrado pela primeira vez nessa saga após ser inúmeras vezes citado em outras histórias de Wolverine, o Projeto Arma X imediatamente se tornaria uma das principais engrenagens do universo dos X-Men, sendo usado em diversas outras histórias dos quadrinhos e aparecendo em praticamente todas as outras mídias que contam com a presença de Wolverine.

Enquanto protagonizava a Marvel Comics Presents, Wolverine se tornaria o primeiro dos X-Men a ganhar sua própria revista solo, com a Wolverine número 1 sendo lançada em novembro de 1988. Para pegar carona nas duas minisséries, a princípio a revista mostraria Wolverine vivendo aventuras no Japão antes de se unir aos X-Men, mas, ao longo dos anos seguintes, passaria a mostrar aventuras suas em paralelo às da equipe. Essa revista mostraria uma nova faceta de Wolverine, a de espião, com Logan assumindo vários disfarces para se infiltrar em organizações criminosas e conseguir o que quer sem ter de recorrer a um ataque frontal; o mais famoso disfarce era o de Caolho, um vigarista da cidade de Madripoor que contava com a ajuda de duas detetives particulares, Jessica Drew (a ex-Mulher-Aranha) e Carol Danvers (a futura Capitã Marvel). A revista teria nada menos que 192 edições publicadas, a última de janeiro de 2003, sendo cancelada não por baixas vendas, mas por decisão editorial.

A revista estrearia com roteiros de Claremont e arte de John Buscema, mas mudaria várias vezes de mãos ao longo dos anos. Após a saída de Claremont, assumiria Larry Hama, que escreveria os roteiros por nada menos que sete anos, criando uma cópia-robô de Wolverine chamada Albert, revisitando várias vezes o Programa Arma X e escrevendo muitas histórias nas quais Wolverine e Jubileu eram uma dupla no estilo Batman e Robin; sendo descendente de japoneses, Hama se inspiraria nos filmes da série Yakuza para ambientar várias de suas histórias no Japão, considerando Wolverine um "japonês mais autêntico" que outros personagens japoneses retratados nas histórias em quadrinhos da época. Além de Hama, se destacariam nos roteiros Peter David, Archie Goodwin, Erik Larsen, Frank Tieri, Greg Rucka, Mark Millar e Gregg Hurwitz, e, na arte, Marc Silvestri, Mark Texeira, Dwayne Turner, Adam Kubert, Leinil Francis Yu, Rob Liefeld, Sean Chen, Darick Robertson, Joe Madureira e Humberto Ramos.

O lado espião de Wolverine também seria explorado em uma das mais famosas graphic novels da Marvel, Wolverine & Nick Fury: The Scorpio Connection, de dezembro de 1989, com roteiros de Archie Goodwin e arte de Howard Chalkin, na qual os dois heróis, cada um por seus próprios motivos, se envolvem em uma trama aparentemente engendrada pelo vilão Scorpio, que Fury quer capturar vivo, mas Logan quer ver morto. Essa seria a primeira de três graphic novels de muito sucesso de Wolverine, com as outras duas sendo Wolverine: Bloodlust, de dezembro de 1990, com roteiro e arte de Alan Davis, na qual o herói se perde durante uma nevasca no Canadá e tem de controlar seus instintos animalescos a qualquer custo, e Wolverine: Bloody Choices, de junho de 1991, com roteiro de Tom DeFalco e arte de John Buscema, na qual Logan e Fury se veem novamente em lados opostos, com Wolverine jurando vingar um menino molestado por um criminoso internacional e Fury jurando proteger esse mesmo criminoso até o dia em que ele dará um importante testemunho no tribunal.

Wolverine, Motoqueiro Fantasma, Homem-Aranha e o Hulk cinza formariam uma improvável equipe criada por Mike Wieringo e conhecida como "o Novo Quarteto Fantástico", que faria sua estreia na Fantastic Four 347, de dezembro de 1990, numa história na qual um skrull fingindo ser Sue Storm nocauteia os membros originais do Quarteto e recruta os quatro para ajudá-lo a recuperar um artefato. Essa "saga" duraria apenas três edições (347, 348 e 349), mas a equipe faria sucesso entre os leitores e retornaria em uma nova história nas edições 374 e 375, de março e abril de 1993, voltando a fazer aparições ocasionais em outros títulos da editora nos anos seguintes.

Em 1993, após um ataque de fúria, Magneto arrancaria o adamantium do esqueleto de Wolverine, revelando que ele possuía garras de osso. Parte da saga Atrações Fatais, esse evento seria publicado na revista X-Men (relançada em 1991 com a numeração recomeçando do 1, para que os mutantes tivessem duas, a outra sendo The Uncanny X-Men) número 25, com roteiro de Fabian Nicieza e arte de Andy Kubert, com Nicieza creditando a ideia a Peter David. Com o fator de cura sobrecarregado devido ao trauma, Wolverine passa a ter de reaprender como lutar agora que tem um esqueleto normal e não regenera tão rapidamente, e, por isso, decide deixar os X-Men, durante muito tempo vivendo aventuras apenas em sua revista solo. Wolverine acabaria ganhando seu adamantium de volta em 1999, através de um experimento do vilão Apocalipse, que também resultaria em Wolverine revertendo a um estado animalesco e bestial, no qual ele ficaria por cerca de um ano, até ser curado graças a uma rotina de treinos implementada por Elektra. Depois disso, ele se uniria novamente aos X-Men.

Em 2001, seria publicada mais uma minissérie importantíssima para a história de Wolverine, Origin, em seis edições publicadas entre novembro de 2001 e julho de 2002, com roteiro de Joe Quesada, Paul Jenkins e Bill Jemas e arte de Andy Kubert. Centrada na infância e adolescência de Wolverine, a minissérie mostrava em detalhes vários eventos apenas citados ou abordados por alto, e ainda revelava que o nome verdadeiro do personagem não era Logan, mas James Howlett. DeSanto diria que a minissérie seria encomendada pela Marvel devido ao sucesso de Wolverine nos filmes, com a editora temendo que, se ele não tivesse uma "história de origem" definitiva e oficial nos quadrinhos, a Fox poderia criar uma para os filmes. Em 2004, Jenkins escreveria outra minissérie, Wolverine: The End, com arte de Claudio Castellini, em seis edições bimestrais publicadas entre janeiro e dezembro, que mostrava um futuro possível para o mutante, lidando com as implicações de vários eventos de Origin. Dez anos depois, Origin II, com roteiros de Kieron Gillen e arte de Adam Kubert, em cinco edições publicadas entre março e junho de 2014, abordaria a juventude de Wolverine e seu primeiro encontro com Dentes de Sabre.

Em 2001 também seria lançada a nova versão da X-Force, que mais tarde seria renomeada para X-Táticos; Wolverine seria um convidado de luxo na série, por supostamente compartilhar um passado em comum com um dos membros do grupo, o enigmático Dup, que se parece com o Geleia dos Caça-Fantasmas e fala usando seu próprio alfabeto. Wolverine e Dup seriam os astros da minissérie Wolverine & Doop, com roteiro de Peter Milligan, criador dos X-Táticos, e arte de Darwyn Cooke. Em duas edições quiinzenais, lançadas em julho de 2003, Wolverine e Doop teriam a missão de recuperar um artefato conhecido como Mink Pink, que tem o poder de causar alucinações em mutantes, que imaginam que estão vendo uma mulher lindíssima chamada Lady Pink e se tornam incapazes de não obedecer a todas as ordens dela, que sempre levam ao caos.

A revista Wolverine seria relançada, com numeração recomeçando do 1, também em julho de 2003. Essa nova série traria arcos de sucesso como Inimigo do Estado, de Millar e John Romita Jr., no qual Wolverine sofre lavagem cerebral e se torna um assassino do Tentáculo, sendo ajudado a retornar a seu estado normal mais uma vez por Elektra, e O Velho Logan, com roteiro de Millar e arte de Steve McNiven, que mostrava Logan e o Gavião Arqueiro vivendo aventuras em um futuro pós-apocalíptico no qual a maior ameaça é o Hulk. Publicada entre as edições 66 e 72, de agosto de 2008 a junho de 2009, a história faria tanto sucesso que seria revisitada em uma minissérie (Old Man Logan), em cinco edições lançadas entre julho e dezembro de 2015, que se tornaria uma série regular, com 50 edições publicadas entre março de 2016 e dezembro de 2018.

A nova Wolverine também lidaria com as consequências das sagas anuais da Marvel, como Guerra Civil e Dinastia M, na qual Logan recupera todas as memórias que havia perdido ou suprimido. Isso levaria ao lançamento de uma segunda série mensal estrelada pelo personagem, Wolverine: Origins, que, em 50 edições publicadas entre junho de 2006 e setembro de 2010, abordava várias dessas "novas memórias" e suas consequências. Seria nessa série que estrearia o personagem Daken, filho de Wolverine com a japonesa Itsu, criado pelo roteirista Daniel Way e pelo desenhista Steve Dillon. Logan ganharia ainda uma terceira série regular, Wolverine: Weapon X, com roteiros de Jason Aaron, que teve 16 edições publicadas entre junho de 2009 e outubro de 2010, e seria o astro da minissérie Wolverine: Manifest Destiny, também de Aaron, com quatro edições publicadas entre dezembro de 2008 e março de 2009. A segunda Wolverine seria cancelada pouco depois, em agosto de 2009, na edição 74, mais uma vez por decisão editorial.

Naquele mesmo mês, Daken assumiria o uniforme e o codinome de Wolverine e seria protagonista da revista Dark Wolverine, cuja primeira edição foi a 75, para que a numeração continuasse a da Wolverine anterior. Essa série teria 16 edições, com a última sendo a 90, de outubro de 2010. No mês seguinte, seria lançada uma terceira Wolverine, com numeração recomeçando do 1 e Logan voltando a ser o protagonista; após a edição 20, entretanto, viria a 300, com os números de todas as Wolverine e Dark Wolverine sendo somados para se obter a nova numeração. Essa série seria encerrada em fevereiro de 2013, na edição 317, para um total de 40. Em maio de 2013, como parte da iniciativa Marvel NOW!, uma quarta Wolverine seria lançada, mais uma vez com numeração recomeçando do 1, mas essa teria apenas 13 edições, a última de março de 2014.

Entre abril de 2008 e fevereiro de 2013, além de viver aventuras em sua própria revista e como parte dos X-Men, Wolverine também seria líder da nova equipe da X-Force, em duas revistas, X-Force, que teria 28 edições, e Uncanny X-Force, com mais 35. Uma das integrantes da equipe seria Laura Kinney, a "filha" de Wolverine - na verdade um clone de Logan do sexo feminino e adolescente. Criada pelo roteirista Craig Kyle para a série animada X-Men: Evolution, com o codinome X-23, Laura logo se tornaria uma das personagens mais populares do Universo dos X-Men, fazendo a transição para os quadrinhos e sendo parte importante da mitologia de Wolverine. Como líder da X-Force, Wolverine teria um relacionamento amoroso com a mercenária mutante Dominó, que culminaria na minissérie X-Force: Sex and Violence, em três edições publicadas entre setembro e novembro de 2010.

Em 2011, Wolverine assumiria a direção da Escola Jean Grey no título Wolverine and the X-Men, também de criação de Aaron, com arte de Chris Bachalo. A série original teria 42 edições, publicadas entre dezembro de 2011 e abril de 2014, sendo reformulada e relançada com numeração começando do 1 para mais 12 edições, entre maio de 2014 e janeiro de 2015. Nesse período, Wolverine também faria parte dos Vingadores, figurando tanto na revista Avengers quanto na New Avengers. Durante a saga Vingadores vs. X-Men, Wolverine decidiria lutar ao lado dos Vingadores contra sua antiga equipe; o roteirista Brian Michael Bendis descreveria sua presença na equipe como "o único assassino em um time de heróis".

Em 2013, Wolverine ganharia uma nova revista, Savage Wolverine, na qual ele vivia aventuras na Terra Selvagem ao lado de Shanna, a Mulher-Demônio; ao retornar da Antártida, Wolverine volta ao Japão, onde vive aventuras ao lado de Elektra. A revista teria 23 edições, publicadas entre março de 2013 e dezembro de 2014; o arco da Terra Selvagem teria roteiros de Frank Cho, e o do Japão de Zeb Wells. Em abril de 2014, seria lançada uma quinta Wolverine, na qual a história principal era que Logan contrai um vírus que cancela seu fator de cura, permitindo a seus inimigos matá-lo; após 12 edições quinzenais, a última de outubro de 2014, a história se concluiria na minissérie em quatro edições quinzenais, lançadas em novembro de dezembro, Death of Wolverine, escrita por Charles Soule. Essa minissérie teria duas "continuações" que exploravam a história mais a fundo: Death of Wolverine: The Logan Legacy, em sete edições quinzenais lançadas entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, e Death of Wolverine: The Weapon X Program, em cinco edições quinzenais publicadas entre janeiro e março de 2015. Uma série semanal chamada Wolverines acompanharia vários personagens tentando preencher o vácuo causado pela morte de Logan, entre março e agosto de 2015.

Mas quem assumiria seu uniforme e o nome Wolverine seria Laura, na revista All-New Wolverine, publicada entre novembro de 2015 e maio de 2018. Depois disso, Logan voltaria à vida (por que não?), resolveria suas diferenças com Ciclope e concordaria em liderar uma nova X-Force, em uma nova revista com roteiros de Benjamin Percy, com 50 edições publicadas entre janeiro de 2020 e maio de 2024. Nesse período, ele também faria parte da equipe dos Vingadores Selvagens, aparecendo regularmente na Savage Avengers, e se tornaria membro dos Filhos da Meia-Noite, figurando na revista Midnight Sons. Entre março e maio de 2022, Wolverine também seria o astro de duas minisséries de cinco edições quinzenais cada, X Lives of Wolverine e X Deaths of Wolverine, ambas com roteiros de Percy, a primeira com arte de Joshua Cassara, a segunda de Federico Vicentini, e histórias que se entrelaçam e se completam. Essas minisséries seriam lançadas paralelamente à sexta Wolverine, que teria roteiros de Percy e arte de Adam Kubert e 50 edições, lançadas entre abril de 2020 julho de 2024.

A mais recente série solo de Wolverine (a sétima com o nome Wolverine) estrearia em novembro de 2024, com numeração recomeçando do 1, segundo a Marvel, em comemoração aos 50 anos do personagem. Com roteiros de Saladin Ahmed e arte de Martin Coccolo, essa é a série atual, que conta no momento com 9 edições.
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sábado, 14 de junho de 2025

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Studio Ghibli (III)

Hoje seguimos com a série de posts sobre as produções do Studio Ghibli, abrindo os anos 1990!

Memórias de Ontem
Omoide Poro Poro
1991

Enquanto Hayao Miyazaki estava produzindo Meu Amigo Totoro, ele seria procurado pelo produtor Shigeharu Shiba, que, como diretor de som, havia trabalhado com ele em várias produções da década de 1970, mas agora era presidente da Omnibus Promotion, que lhe sugeriu adaptar para um filme do Studio Ghibli o mangá Omoide Poro Poro (algo como "memórias vêm rolando"), escrito por Hotaru Okamoto e publicado na revista Shukan Myojo entre março e setembro de 1982. Ambientado em 1966, o mangá acompanha a vida da menina Taeko, de 10 anos, que mora com o pai, a mãe e duas irmãs mais velhas, e está na fase de descobertas na escola, incluindo seu primeiro amor, sua primeira decepção e sua primeira menstruação.

Miyazaki leria o mangá e adoraria a ideia, mas se sentiria incapaz de escrever um roteiro que fizesse justiça à história, por considerá-la muito complexa para ser resumida em um filme. Ele conversaria com o produtor Toshio Suzuki sobre o assunto, e os dois decidiriam convidar Isao Takahata, que na época estava fazendo Túmulo dos Vagalumes, para escrever e dirigir a adaptação. Takahata também ficaria relutante, até Suzuki dizer "é uma história sobre memórias, e sobre alguém que se lembra delas". Takahata, então, decidiria usar um artifício semelhante ao que havia usado em Túmulo dos Vagalumes, com a história sendo contada inteiramente do ponto de vista de sua protagonista; além disso, os eventos do mangá seriam mostrados como flashbacks, com uma Taeko adulta se lembrando deles em uma época futura.

Assim, o filme é ambientado em 1982, quando Taeko tem 27 anos, trabalha em um escritório em Tóquio, mas tem o sonho de morar no interior, motivado pelo fato de que, quando ela era criança, todas as suas colegas de escola tinham parentes no interior com quem passavam as férias, mas ela não, permanecendo em Tóquio com suas amigas. No ano anterior, ela teve a oportunidade de passar as férias em uma fazenda que pertence a parentes do marido de uma de suas irmãs, e esse ano pretende fazer o mesmo; durante a viagem, ela se recorda de vários eventos que ocorreram quando ela tinha 10 anos, que correspondem às histórias contadas no mangá. E, ao chegar à fazenda dessa segunda vez, ela conhece Toshio, primo do dono da fazenda; convivendo com ele, ela ficará ainda mais certa de a vida ideal para ela está no campo, e não na cidade.

Durante a produção, Miyazaki e Takahata se desentenderiam várias vezes; Miyazaki consideraria o filme um projeto pessoal, e se irritaria com Takahata dizendo que ele não estava cumprindo os prazos estabelecidos pelo estúdio. Takahata, por outro lado, veria o filme quase como uma obrigação profissional, como as que tinha quando trabalhava para outros estúdios, e não como um projeto pessoal, já que não tinha sido ele a ter a ideia de fazer a adaptação; ele contrataria Yoshifumi Kondo, que havia trazido da Nippon Animation para ser animador de Túmulo dos Vagalumes, para o cargo de diretor de animação, e delegaria a ele várias das tarefas que deveria cumprir como diretor. Takahata também discordaria de várias mudanças no estúdio propostas por Miyazaki, que a princípio pareceriam suicídio profissional, mas que mudariam não somente a forma do Studio Ghibli trabalhar, mas também a indústria de animação japonesa como um todo.

Na época, era comum que os profissionais da indústria da animação recebessem por desenho ou pintura, o que fazia com que sua remuneração fosse muito baixa, e muitos tivessem de trabalhar para mais de um estúdio ao mesmo tempo, ou ter um segundo emprego que não fosse relacionado à animação. Por sugestão de Miyazaki, a partir de novembro de 1990, com Memórias de Ontem em plena produção, todos os animadores que trabalhassem nas produções do Studio Ghibli seriam contratados do estúdio, recebendo salários mensais fixos que não dependiam de quanto trabalho haviam produzido. Além disso, ele iniciaria programas de treinamento de jovens animadores, e programas regulares de recrutamento de jovens talentos de outros estúdios. Tudo isso dobraria os custos de produção dos filmes do Studio Ghibli em relação aos de outros estúdios, o que levaria Takahata a temer que eles tivessem de fechar as portas - o orçamento ficaria tão apertado que Miyazaki começaria a trabalhar no filme seguinte, Porco Rosso, antes mesmo da conclusão de Memórias de Ontem, para que o retorno financeiro viesse mais rápido, e os profissionais não ficassem recebendo sem trabalhar.

No fim, a ideia de Miyazaki se mostraria a correta, já que todos os principais talentos da animação quiseram trocar seus estúdios pelo Studio Ghibli, o que levaria os demais estúdios a também implementar uma política de salários fixos, recrutamento e treinamento de jovens talentos; isso elevaria o nível da indústria como um todo, com os anos 1990 vendo um crescimento considerável na qualidade não só dos desenhos e pinturas, mas também dos roteiros, e os filmes e séries de animação japoneses ganhando o mundo com uma competitividade que não tinham anteriormente.

Obviamente isso não ocorreria somente pela decisão de Miyazaki, mas a animação de Memórias de Ontem seria diferenciada e chamaria atenção pela qualidade, extremamente superior a qualquer coisa que tenha sido feita no Japão na mesma época. A paleta de cores, por exemplo, tinha 450 tons diferentes, e a equipe de produção levaria quase um ano para encontrar um tom de vermelho idêntico ao que as flores presentes na fazenda que Taeko visita possuem na vida real. A fazenda, na história, fica no distrito de Takase, na cidade de Yamagata, região que havia mudado muito pouco em dez anos, e foi visitada pela equipe de produção para que os cenários fossem os mais realísticos possível. Diferentemente do que ocorre tradicionalmente na animação japonesa, os personagens possuem expressões faciais realísticas, com os animadores estudando os movimentos da musculatura do rosto para tentar reproduzi-lo em seus desenhos. O comprometimento da equipe seria tão grande nesse sentido que a Taeko adulta seria desenhada à imagem e semelhança de sua dubladora, a atriz Miki Imai.

O tradicional na animação japonesa é fazer os desenhos primeiros e gravar os diálogos depois, mas, a pedido de Takahata, para as cenas ambientadas em 1982 os diálogos seriam gravados primeiro, com os animadores tendo acesso às gravações e desenhando os rostos da forma que achassem que combinaria mais com o que eles estavam ouvindo. Também de forma diferente do que era feito tradicionalmente no Japão, os atores gravariam suas falas juntos, como se estivessem contracenando, o que daria mais naturalidade aos diálogos. As cenas ambientadas em 1966 seriam feitas ao modo tradicional, com os diálogos sendo gravados posteriormente, cada ator gravando suas falas sozinhos, e os personagens tendo poucas expressões faciais, o que ajudaria a aumentar o contraste entre as duas épocas.

As cenas mais difíceis de produzir seriam aquelas na qual a Taeko criança assiste na TV seu programa de televisão favorito; no mangá, esse programa é Hyokkori Hyotan Jima (a "ilha flutuante da abobrinha"), um programa de fantoches exibido pelo canal NHK entre 1964 e 1969. Takahata não quis mudar o programa, mas ninguém, nem mesmo a NHK, possuía as fitas originais, que foram reaproveitadas durante a década de 1970, com outros programas gravados por cima. O diretor já estava se conformando de ter de inventar episódios fictícios para o programa quando, por acaso, encontrou um espectador que tinha alguns episódios gravados diretamente da televisão, que cedeu as fitas para que algumas cenas fossem recriadas na animação. Para ajudar ainda mais na ambientação, Takahata incluiria, quando os personagens estivessem assistindo televisão, cenas do programa Ohanahan, o mais assistido do Japão em 1966.

Durante a produção, Takahata teria a ideia de pedir ao compositor Katsu Hoshi, responsável pela trilha sonora do filme, que preparasse um álbum de trilha sonora ao estilo dos que eram lançados para filmes norte-americanos (ou novelas brasileiras), somente com músicas que já existiam, mas que pudessem ser integradas ao filme de alguma forma. Lançado em dezembro de 1990, sete meses antes da estreia do filme nos cinemas, o álbum, creditado a Katz, trazia músicas de bandas japonesas populares de época, músicas clássicas de compositores como Schubert e Brahms, e músicas do leste europeu, especificamente Hungria, Bulgária e Romênia, que traduzissem o clima da vida no campo; todas elas são tocadas durante o filme em algum momento, a maioria de forma diegética - ou seja, com os personagens ouvindo as músicas, ao invés de ela ser tocada como música de fundo apenas para quem está assistindo. A única criada especificamente para a trilha sonora seria Ai wa Hana, Kimi wa sono Tane ("o amor é uma flor, você é a semente"), versão criada pelo próprio Takahata da canção The Rose, da cantora norte-americana Amanda McBroom.

Memórias de Ontem estrearia nos cinemas japoneses em 20 de julho de 1991, distribuído pela Toho. Seria um sucesso inesperado, que surpreenderia até mesmo Miyazaki e Takahata, se tornando o filme mais assistido em todo o Japão no ano de 1991 e rendendo 3,18 bilhões de ienes na bilheteria - seu orçamento jamais seria divulgado, inaugurando uma prática do Studio Ghibli de manter em segredo quanto cada filme custou, mas boatos davam conta de que teria ficado na casa dos 700 milhões de ienes. A crítica aclamaria o filme, considerando-o um dos mais lindos da história da animação japonesa. Apesar de todo esse sucesso, ele ficaria de fora das principais premiações, recebendo apenas um prêmio especial da Academia de Cinema Japonesa.

Também inexplicavelmente, exceto pelo Brasil, onde estrearia em 10 de julho de 1993, Memórias de Ontem levaria mais de uma década para ser exibido nos cinemas fora do Japão, com sua estreia na Europa ocorrendo apenas em 2003. Nos Estados Unidos, ele demoraria ainda mais: alegando que a forma como as crianças discutem a menstruação nas cenas envolvendo a Taeko criança era "inadequada" para as plateias norte-americanas, a Disney decidiria não dublá-lo e distribuí-lo, o que faria com que somente em 2015 a GKids conseguisse um acordo com a Disney e a Universal Pictures para fazê-lo. O filme acabaria estreando nos EUA apenas em fevereiro de 2016, em uma versão dublada que contava com Daisy Ridley como Taeko e Dev Patel como Toshio.

Em 2010, a companhia de teatro Takarazuka anunciaria uma adaptação do filme para um musical de teatro, que ficaria em cartaz no Galaxy Theatre de Tóquio durante seis meses em 2011. Um filme com atores de carne e osso também seria produzido, pela NHK, estreando no canal em 9 de janeiro de 2021, dirigido por Kazutaka Watanabe com roteiro de Koichi Yajima; curiosamente, esse filme é ambientado em 2020, e traz Taeko já como avó, morando com a filha e a neta em Tóquio e se lembrando da época em que tinha 10 anos, adaptando várias situações do mangá, mas não a história do anime.

Porco Rosso: O Último Herói Romântico
Kurenai no Buta
1992

Desde Meu Amigo Totoro, um dos principais parceiros do Studio Ghibli seria a companhia aérea Japan Airlines, que investia dinheiro em suas produções em troca de poder exibi-las em seus voos comerciais pouco após seu lançamento nos cinemas e bem antes de seu lançamento em home video, inclusive contratando empresas para fazer a dublagem em inglês. Para estreitar ainda mais essa pareceria, em 1990 Miyazaki decidiria que ele iria dirigir e escrever um média-metragem para exibição exclusiva nos voos da Japan Airlines, baseado em um mangá de sua própria autoria, Hikotei Jidai ("a era dos navios voadores"), publicado entre março e maio de 1989 na revista Model Graphix, uma publicação especializada em modelos de montar, tipo aqueles que ficaram famosos no Brasil lançados pela fabricante Revell. Durante a produção, porém, Miyazaki se empolgaria e decidiria adaptar a história completa do mangá, transformando-o em um longa metragem que decidiria chamar de Porco Rosso - italiano para "porco vermelho", que é também o que significa o título do filme em japonês, Kurenai no Buta.

Porco Rosso é ambientado em 1929, na parte da Europa banhada pelo Mar Adriático, mas em uma realidade alternativa, na qual, após a Primeira Guerra Mundial, os aviões se popularizaram rapidamente, o que levaria a um surto de piratas aéreos, que assaltam não somente outros aviões, mas também navios de cruzeiro e de passageiros. Como o governo não dá conta de combater os piratas, são empregados extra-oficialmente caçadores de recompensas, que, com seus próprios aviões, impedem que os piratas cometam seus crimes e, mediante prova, recolhem pagamento. Dentre os caçadores de recompensas do Adriático, o mais famoso é o italiano Marco Pagot, cujo apelido é Porco Rosso, por dois motivos: primeiro, porque ele pilota um avião vermelho. Segundo, porque, anos antes de o filme começar, por uma razão que jamais é revelada, ele foi amaldiçoado por uma bruxa, se transformando em um porco antropomórfico. Isso não parece ter afetado suas relações sociais, entretanto, com todos tratando Porco como se ele fosse humano.

O mangá é dividido em três partes, cada uma publicada em uma edição da Model Graphix: na primeira, a gangue de piratas Mamma Aiuto ("socorro, mamãe" em italiano) ataca um navio de passageiros e sequestra uma garota, com Porco partindo para salvá-la; na segunda, Porco é abatido por um rival norte-americano, Donald Chuck, e tem de levar seu avião até Milão para reparos; e a terceira é o acerto de contas entre Porco e Chuck. A intenção inicial de Miyazaki era adaptar apenas a primeira parte, mas, depois, ele decidiria adaptar a história completa, ligando as três através de uma subtrama na qual os piratas do Adriático, cansados de serem derrotados por Porco, decidem contratar o norte-americano (que, no filme, foi renomeado para Donald Curtis) para derrotá-lo; mudando alguns detalhes (a Mamma Aiuto sequestra um grupo de escoteiras ao invés de só uma garota, Porco tem um mandato de prisão contra ele na Itália, se colocando em risco ao ir até Milão); e explorando o passado de Porco, inclusive com a adição de uma nova personagem, Gina, uma paixão do caçador de recompensas cobiçada pelo norte-americano. Fio Piccolo, a garota de 17 anos que conserta o avião de Porco e vira o motivo do duelo entre ele e Curtis, também está no mangá, mas com uma participação bem menor.

A produção do filme seria conturbada, principalmente devido às mudanças na estrutura do Stuido Ghibli implementadas pelo próprio Miyazaki no final de 1990, que fariam com que ele tivesse de começar a fazer o desenho sozinho para conseguir entregá-lo a tempo e sem levar o estúdio à falência. Quando decidisse transformar o filme em um longa-metragem, Miyazaki teria de recorrer a uma parceria com outro estúdio, o Telecom Animation (que estava à beira da falência e em 1995 seria comprado pela Sega), para conseguir cumprir os prazos. E parte da história teria de ser mudada durante a produção por um motivo inusitado: originalmente, o filme, assim como o mangá, seria ambientado na Dalmácia, região que hoje faz parte da Croácia, e que, no início dos anos 1990, pertencia à Iugoslávia, cujo fim seria decretado por uma guerra que começaria durante a produção de Porco Rosso, o que deixaria os investidores temerosos de que o filme pudesse ser visto como desrespeitoso ou político, e motivaria a mudança de ambientação para "o Adriático", que na verdade é um mar que banha Itália, Albânia e as antigas repúblicas iugoslavas da Croácia, Eslovênia e Montenegro, e não uma região.

Ao saber da intenção de Miyazaki de fazer um média-metragem para exibição exclusiva nos voos da Japan Airlines, Suzuki entraria em contato com a companhia aérea, e negociaria um contrato segundo o qual ela seria seu principal financiador. Quando Miyazaki alterou o projeto para um longa com estreia nos cinemas, Suzuki precisou ter uma nova conversa com a empresa, que concordou em continuar cumprindo o contrato, mas com a condição de que pudesse exibir o filme em seus voos durante seis meses antes de sua estreia nos cinemas. Por essa razão, o texto introdutório do filme aparece na tela em dez idiomas: japonês, italiano, coreano, inglês, chinês, espanhol, árabe, russo, francês e alemão - na época, não existiam telas individuais para os passageiros assistirem os filmes, que eram exibidos em telas posicionadas no corredor, com todos vendo a mesma imagem mas ouvindo o som através de fones de ouvido, podendo escolher o idioma da dublagem, mas sendo impossível alterar legendas ou texto escrito na tela.

A Japan Airlines também contrataria Ward Sexton, norte-americano que morava no Japão e fazia vários trabalhos de narração e dublagem, inclusive de games, para traduzir o filme e fazer uma versão dublada, usando apenas dubladores residentes no Japão, como a também norte-americana Lynn Eve Harris e o norueguês Barry Gjerde, o que ele considerou "loucura" e "um projeto grande demais para uma equipe tão pequena", mas cumpriu com louvor, com a dublagem da Japan Airlines sendo bastante elogiada. Quando foi lançar o filme nos Estados Unidos, entretanto, a Disney não quis aproveitar a dublagem de Sexton e fez uma nova, com Michael Keaton no papel de Porco, Cary Elwes como Curtis, Kimberly Williams-Paisley como Fio e David Ogden Stiers como seu avô, o Sr. Piccolo. Essa versão possui uma característica bizarra: talvez tentando colocar mais detalhes na história, a dublagem tem muito mais diálogos do que a versão original japonesa, com os novos ocorrendo quando os personagens não estão em cena, sendo possível apenas ouvir suas vozes; isso leva a um efeito colateral de que, ao assistir o filme em japonês com legendas em inglês, frequentemente aparecem legendas na tela quando ninguém está falando nada. A versão Disney também muda o nome verdadeiro de Porco para Marco Rossolini, e de seu amigo Ferrarin para Ferrari.

Miyazaki é um apaixonado por aviação, e aproveitou para encher o filme de referências da vida real: os modelos da Piccolo SpA são inspirados nos de duas fabricantes italianas verdadeiras, a Caproni e a Piaggio. Modelos como o Caproni C-22J, Savoia-Marchetti S.55, Fiat C.R.20 e Macchi M.39 aparecem ao longo do filme, com o avião de Porco sendo um Macchi M.33 - mas referenciado no filme como um Savoia S.21. O amigo italiano de Porco, Ferrarin, seria inspirado no piloto da vida real Arturo Ferrarin, que voou de Roma a Tóquio em 1920 pilotando um Ansaldo SVA.9, bem parecido com o que Ferrarin pilota no filme. Outro amigo de Porco, Bellini, é uma homenagem a Stanislao Bellini, piloto que morreu tentando quebrar um recorde de velocidade pilotando um Macchi M.C.72. O nome de Porco, Marco Pagot, é uma referência aos irmãos Nino e Toni Pagot, que não eram aviadores, e sim os pioneiros da animação italiana, criadores do primeiro desenho animado da Itália, I Frateli Dinamite; já Donald Curtis é uma referência a Glenn Hammond Curtiss, que, junto com os irmãos Wright, pioneiros da aviação norte-americana, fundou a empresa Curtiss-Wright Corporation, fabricante do modelo Curtiss R3C, que Curtis pilota no filme.

Porco Rosso estrearia nos cinemas japoneses em 18 de julho de 1992, distribuído pela Toho, se tornando o filme mais assistido no Japão naquele ano e rendendo nada menos que 5,4 bilhões de ienes nas bilheterias. Ele também estrearia no Brasil, em 24 de junho de 1994, e em vários países da Europa, sendo extremamente bem-sucedido na França, onde estrearia ainda em 1992, com Porco sendo dublado pelo famoso ator Jean Reno. Também na França, o filme ganharia o Cristal du Long Métrage, principal prêmio do Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy; no Japão, ele ganharia o prêmio de Melhor Filme de Animação no festival de cinema da Mainichi Shimbun, e seria aclamado pela crítica, que traçaria paralelos entre ele e as grandes produções da Era de Ouro de Hollywood. Uma das frases do filme, "melhor ser porco do que ser fascista", ficaria extremamente popular, e seria usada por artistas espanhóis para pedir que as pessoas não votassem na extrema direita em 2023.

Em 2011, Miyazaki revelaria que, depois de produzir Ponyo, começaria a trabalhar em uma sequência chamada Porco Rosso: The Last Sortie, que seria ambientada durante a Guerra Civil Espanhola, que ocorreu entre 1936 e 1939, mas não conseguiu financiamento; desde então, não há planos para que essa sequência saia do papel.

Eu Posso Ouvir o Oceano
Umi ga Kikoeru
1993

Desde sua fundação oficial, em 1985, o Studio Ghibli já havia produzido seis filmes, quatro com direção e roteiro de Miyazaki, dois com direção e roteiro de Takahata. Só que o estúdio tinha outros profissionais que queriam dirigir e escrever, e Miyazaki e Takahata tinham consciência de que não eram eternos, então era de seu interesse treinar novos talentos para assumir a direção e os roteiros caso eles decidissem se aposentar ou viessem a faltar. A oportunidade perfeita surgiria em 1993, quando o canal de televisão Nippon TV completaria 40 anos, e entraria em contato com o Studio Ghibli para conversar sobre a possibilidade de eles produzirem um filme em anime para ser exibido durante as comemorações. Como um filme para a TV sairia bem mais barato que um para o cinema, Suzuki aproveitaria para reunir uma equipe jovem, com profissionais entre 30 e 40 anos, que tocaria todo o projeto, sem nenhum envolvimento de Miyazaki ou Takahata, mas ainda com ele como produtor.

Para esse projeto, o Studio Ghibli negociou os direitos de Umi ga Kikoeru, romance de autoria de Saeko Himuro publicado na revista Animage em capítulos, entre fevereiro de 1990 e janeiro de 1992, que mais tarde foram reunidos, com alguns sendo omitidos, em um livro lançado em fevereiro de 1993. Katsuya Kondo, que ilustrou os capítulos publicados na Animage, serviria como designer de personagens e diretor de animação, com a direção sendo confiada a Tomomi Mochizuki, de 34 anos, conhecido pelas duas adaptações do mangá Kimagure Orange Road, e o roteiro ficando a cargo de Keiko Niwa, então com apenas 21 anos, que o assinaria sob o pseudônimo Kaoru Nakamura. A intenção do Studio Ghibli era fazer um filme de forma "rápida e barata", e, para isso, ele terceirizaria a animação, contratando os estúdios J.C.Staff, Madhouse Studios e Oh! Production para produzi-la, com o Studio Ghibli apenas coordenando e reunindo tudo no final.

A ideia de um projeto rápido e barato, entretanto, logo subiria no telhado. Para começar, embora todos os programas de televisão da época ainda fossem transmitidos no formato standard, com aspecto 4:3, o produtor Nozomu Takahashi, preocupado com o fato de que todo o equipamento do estúdio era próprio para a produção de filmes para o cinema, decidiria filmar Eu Posso Ouvir o Oceano no formato widescreen, com aspecto 16:9 - dizem, na esperança de que, após ele ser exibido na TV, também pudesse ter algumas sessões nos cinemas, para recuperar parte de seu investimento. Isso não somente encareceria o projeto como também faria com que ele levasse mais tempo, já que, durante a pós-produção, todas as cenas teriam de ser enquadradas corretamente no formato 4:3, para que nenhum elemento importante ficasse de fora.

Outra dificuldade do Studio Ghibli foi decidir qual parte da história adaptar - o romance tem duas partes, a primeira ambientada quando os personagens estão no Ensino Médio, com flashbacks de quando eles estavam no segundo segmento do Ensino Fundamental, a segunda quando eles já estão na Universidade. Como adaptar a história inteira seria impossível, já que resultaria em um filme comprido demais, a equipe optaria por começar o filme com os personagens na Universidade e mostrar sua época no Ensino Médio e no Ensino Fundamental através de suas memórias. No resultado final, cerca de 80% do filme é ambientado enquanto os personagens estão no Ensino Médio, com o Ensino Fundamental sendo mostrado apenas em um flashback de poucos minutos, e a parte da Universidade nem é mostrada, apenas os personagens mais velhos em uma reunião da turma do Ensino Médio.

O filme é ambientado na pequena cidade litorânea de Kochi, e o enredo envolve um triângulo amoroso entre dois meninos, Taku e Yutaka, que se conheceram no Ensino Fundamental e se tornaram melhores amigos e uma menina, Rikako, que vem transferida de Tóquio para cursar o Ensino Médio, sendo o choque da diferença do estilo de vida nas duas cidades um fator fundamental. Himuro decidiria ambientar a história em Kochi por ter amigos que moravam lá e ter visitado a cidade várias vezes, mas isso representaria mais um problema para a equipe de produção do filme: o dialeto da região de Kochi é muito diferente do japonês padrão, considerado até incompreensível por japoneses que não estão acostumados com ele. Isso não faz diferença em um romance escrito, mas o filme não ficaria verossímil se todo mundo em Kochi falasse o japonês de Tóquio, então o Studio Ghibli teve que contratar dois instrutores de dialeto nascidos em Kochi para criar uma versão que lembrasse o dialeto de Kochi, mas pudesse ser facilmente compreendido por quem não o conhecia, e ensinar a todos os dubladores dos personagens de Kochi como falá-lo.

A produção estouraria tanto o orçamento - cujo valor final não seria divulgado - quanto o cronograma - com a pós-produção tendo de ser feita às pressas para que o filme estreasse na data pretendida pela Nippon TV. Isso faria com que, próximo ao fim da produção, Mochizuki desenvolvesse uma úlcera duodenal por estresse, e desmaiasse em decorrência de uma anemia causada por um sangramento dessa úlcera enquanto supervisionava a pós-produção. Ele chegaria a ser internado, permanecendo no hospital até o filme ser concluído.

Eu Posso Ouvir o Oceano estrearia na Nippon TV em 5 de maio de 1993, Dia das Crianças no Japão. Com 72 minutos de duração, é não somente o primeiro filme do Studio Ghibli a ser produzido diretamente para a televisão, mas também o mais curto; e ele deveria ter sido mais curto ainda, já que foi exibido dentro de um programa especial chamado Susume! Seishun Shonen (algo como "avante, juventude!"), que teve apenas 90 minutos de duração contando os intervalos comerciais - ou seja, Eu Posso Ouvir o Oceano acabaria sendo a única atração do programa, que originalmente deveria ter duas de 45 minutos cada, mas a equipe do Studio Ghibli alegou ser impossível condensar a história em um tempo tão curto. O filme ganharia o Prêmio de Encorajamento no Galaxy Awards, conferido pela Associação de Críticos de Televisão do Japão para programas que ajudassem a elevar a qualidade do entretenimento televisivo do país.

Para mitigar partes do custo, o Studio Ghibli conseguiria uma bolsa do Fundo de Promoção das Artes e Cultura, oferecida pelo governo japonês; ainda assim, Suzuki diria que, apenas com o dinheiro pago pela Nippon TV, seria impossível pagar os custos de produção, e que esse provavelmente seria o primeiro e último filme do Studio Ghibli para a televisão. A Nippon TV não se oporia ao lançamento do filme nos cinemas após sua exibição, mas, como a crítica não foi favorável - considerando-o o "mais sem graça" do estúdio até então - o Studio Ghibli não conseguiu um distribuidor, e acabou optando por lançá-lo diretamente em home video. A Disney não o incluiria em seu contrato, já que se tratava de um filme para a TV, de forma que, nos Estados Unidos, Eu Posso Ouvir o Oceano seria lançado pela GKids, em alguns cinemas e em DVD e Blu-ray, mas apenas em 2016 e somente com o áudio original em japonês e legendas, o que faz com que esse seja o único longa-metragem do Studio Ghibli a não ter uma dublagem em inglês.

Após a estreia do filme na Nippon TV, Himuro decidiria escrever uma continuação, chamada Umi ga Kikoeru II: Ai ga Aru Kara ("porque eu tenho amor"), lançada em volume único em 1995. No mesmo ano, seria gravado um filme para a televisão com atores de carne e osso, estrelado por Shinji Takeda e Hitomi Sato, que estrearia na TV Asahi, rival da Nippon TV, em 25 de dezembro de 1995. Esse filme tem uma história bem diferente do anime, com Taku e Rikako tendo sido namorados no Ensino Médio em Kochi, se desencontrado, e se encontrado novamente por acaso enquanto cursavam a mesma universidade em Tóquio.
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