sábado, 4 de maio de 2024

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Universo Cinematográfico Marvel (XII)

Seguindo com a série sobre o Universo Cinematográfico Marvel!

Cavaleiro da Lua
Moon Knight
2022

A primeira tentativa de fazer uma série do Cavaleiro da Lua ocorreria em 2006, quando o produtor David S. Goyer planejou introduzir Marc Spector como um personagem secundário na segunda temporada da série para a TV do Blade, produzida pela New Line Television, que, depois, poderia produzir um spin off centrado no Cavaleiro da Lua. Marvel e New Line chegaram a conversar sobre o assunto, mas, quando a série do Blade foi cancelada, as negociações foram interrompidas. Apenas um mês depois, a No Equal Entertainment procuraria a Marvel se dizendo disposta a assumir o projeto, e assinaria um contrato que previa a produção de uma série do Cavaleiro da Lua até 2008, cujo piloto seria escrito por Jon Cooksey; problemas financeiros, entretanto, fariam com que essa série jamais saísse do papel. O Cavaleiro da Lua, então, ficaria quase dez anos na gaveta, até que, em 2017, James Gunn, de Guardiões da Galáxia, diria ter sido procurado pela Marvel e questionado sobre a possibilidade de fazer um filme estrelado pelo personagem, respondendo não ter tempo para trabalhar no projeto - algumas reportagens inverteriam os fatos e noticiariam que Gunn é que teria procurado a Marvel, inclusive apresentando uma sinopse do filme, e que a Marvel teria negado, o que posteriormente foi desmentido pelo diretor. Pouco depois, Feige daria uma entrevista dizendo que o Cavaleiro da Lua com certeza estaria no MCU, mas que era impossível dizer quando, podendo levar entre 10 e 15 anos para que um filme do personagem fosse produzido.

Em agosto de 2019, durante a D23, os Marvel Studios surpreenderiam e confirmariam que uma série do Cavaleiro da Lua estava em pré-produção para o Disney+; segundo Feige, em uma reunião alguns meses antes, ficaria acertado que, após produzir algumas séries estreladas pelos personagens dos filmes que provavelmente jamais ganhariam um filme solo, seriam feitas séries estreladas por heróis dos quadrinhos que provavelmente jamais ganhariam um filme, sendo selecionados três deles: o Cavaleiro da Lua, Miss Marvel e a Mulher-Hulk. A escolha do trio surpreenderia muitos fãs, mas também causaria muita curiosidade sobre a forma como esses personagens seriam integrados ao MCU.

O preferido da Marvel para o posto de showrunner seria o diretor egípcio Mohamed Diab, que declararia ter sido abordado "do nada" por executivos da Marvel que pediriam que ele fizesse uma sinopse que incluísse elementos da mitologia egípcia e personagens secundários associados ao Cavaleiro da Lua nos quadrinhos. Diab e sua esposa, a roteirista Sarah Goher, preparariam um documento de 200 páginas detalhando sua visão sobre a série, que incluía a representação de deuses egípcios em forma humana, de maneira mais positiva do que o que era costumeiramente mostrado em produções de Hollywood. Diab queria mostrar o Egito como "um lugar normal", povoado por pessoas normais que vivem em cidades normais e têm empregos normais, e não por guias nômades do deserto que moram em choupanas longe da civilização - as Pirâmides de Gizé, por exemplo, ficam a apenas 15 km do centro do Cairo, que é uma das cidades mais modernas do mundo, mas nos filmes costumam ser mostradas como se ficassem num local ermo no meio do deserto. Diab também expressaria sua vontade de contratar o maior número possível de egípcios para trabalhar na produção.

Devido a outros compromissos, porém, Diab não poderia assumir como showrunner; em outubro de 2020, ele seria confirmado como diretor de quatro dos seis episódios da série, incluindo o primeiro e os dois últimos. Em novembro, Justin Benson e Aaron Moorhead, que já haviam conversado com a Marvel sobre algum projeto no qual pudessem trabalhar, seriam anunciados como co-diretores dos dois episódios restantes, e Jeremy Slater, do reboot do Quarteto Fantástico, de 2015, e da série The Umbrella Academy, seria anunciado como showrunner - Slater já estava na produção há um ano, tendo sido contratado em novembro de 2019 como roteirista-chefe e do primeiro episódio. Os outros episódios seriam escritos por Michael Kastelein, Beau DeMayo e Peter Cameron & Sabir Pirzada, Alex Meenehan e Cameron & Pirzada, Rebecca Kirsch e Matthew Orton, e o último teria roteiro de Slater e Cameron & Pirzada baseado em uma história de Slater & Danielle Iman; arqueólogos especializados em tumbas egípcias seriam contratados como consultores da equipe de roteiristas. Em janeiro de 2021, a Disney divulgaria o orçamento da série, de 147,9 milhões de dólares.

Em fevereiro de 2021, Feige definiria a série como "Indiana Jones explorando a egiptologia", e declararia que esperava que ela tivesse um tom entre Caçadores da Arca Perdida e Os Caça-Fantasmas, trazendo alguns monstros e sustos para o MCU, com "diversão sobrenatural ao estilo Amblin" - o estúdio de Steven Spielberg. Slater diria ter como principal inspiração o filme A Múmia, com Brendan Fraser, e que estava disposto a testar os limites do quão sombria uma produção do MCU poderia ser, algo com o que Feige concordava. Nos quadrinhos, o Cavaleiro da Lua é um personagem brutal, e Feige diria ter conversado bastante com os Marvel Studios e a Disney para definir o quanto dessa brutalidade poderia ser mostrada na série.

O fato de o Cavaleiro da Lua ter transtornos psíquicos, especialmente múltiplas personalidades, também seria considerado um aspecto definidor da série; o Dr. Paul Puri, psiquiatra e professor de psiquiatria da UCLA, serviria como consultor da equipe de roteiristas para que o comportamento do personagem fosse verossímil. Diab, porém, não queria retratar o transtorno do personagem de forma realística, alegando se tratar de uma obra de fantasia com elementos sobrenaturais; seria dele a sugestão de que as duas personalidades do Cavaleiro da Lua retratadas ao longo da série, Marc Spector e Steven Grant, ser comunicassem através de reflexos em superfícies espelhadas, o que não ocorre na vida real. Slater declararia que toda a equipe de roteiristas levaria a questão da saúde mental do personagem muito a sério, tendo cuidado para que ele não ficasse estereotipado ou fosse mostrado como maluco ou incapaz; o final dos créditos de cada episódio traria uma mensagem encorajando o público a visitar o site da ONG National Alliance on Mental Illness e a aprender mais sobre transtornos psíquicos.

Um aspecto do Cavaleiro da Lua que Slater quis evitar a todo custo foi sua percepção como "o Batman da Marvel" ou "o Batman vestido de branco", já que, para grande parte dos leitores dos quadrinhos, o personagem era um playboy milionário que usava o medo e bumerangues como armas. Slater preferiria basear sua versão do Cavaleiro da Lua em sua primeira aparição nos quadrinhos, quando ele era um caçador de monstros, e fazer de Spector um soldado e de Grant um trabalhador, sem nenhuma fortuna envolvida com nenhum dos dois. Uma mudança sugerida por Slater e aprovada pela Marvel foi que, nos quadrinhos, Spector é a personalidade dominante, mas na série o protagonista é Grant, com Spector somente "assumindo o controle" em situações específicas - curiosamente, essa mudança não teve a ver com a narrativa, sendo uma opção pessoal de Slater, que gostava do Cavaleiro da Lua mas não de Spector, que considerava um personagem detestável, e achava que o público se identificaria melhor com Grant. Além de Spector e Grant, uma terceira personalidade seria sugerida na série, a do mercenário Jake Lockley; Slater trabalharia com os diretores de fotografia para definir em quais cenas deveriam ser dadas as dicas de que existia uma terceira personalidade sem que isso desviasse a atenção da história nem se tornasse uma caça ao tesouro.

Nos quadrinhos, o interesse amoroso de Spector é a arqueóloga Marlene Alraune, que Diab e Goher descartariam por se tratar de "apenas mais uma donzela em perigo". Inspirados pela declaração de Feige comparando o Cavaleiro da Lua a Indiana Jones, eles imaginariam que funcionaria melhor para a série uma personagem como Marion Ravenwood, capaz de acompanhar o herói em suas aventuras e lutar a seu lado; assim, Goher criaria uma personagem totalmente nova para ser o interesse amoroso de Grant e a parceira do Cavaleiro da Lua na série, originalmente chamada Zayna Faoul, mas depois renomeada para Layla El-Faouly. Em sua primeira versão do roteiro, Slater faria a "namorada" do Cavaleiro da Lua branca, mas gostaria mais da ideia de Diab de que Layla deveria ser egípcia; segundo ele, um casa interracial evitaria que a série caísse no estereótipo do "salvador branco", estilo no qual um personagem norte-americano branco é mais competente que o povo do local de onde vêm suas habilidades - uma crítica frequentemente feita ao Punho de Ferro. Slater também decidiria fazer de Layla a versão para o MCU do Escaravelho Escarlate, super-herói de origem egípcia das histórias dos Invasores.

Já para vilão da série seria escolhido um personagem dos quadrinhos, Arthur Harrow, sacerdote da deusa Ammit - que, curiosamente, é tão pouco conhecido que muitos imaginaram também se tratar de um personagem novo. Slater diria que a escolha óbvia para vilão seria o arqui-inimigo do Cavaleiro da Lua, o guerrilheiro Raoul Bushman, mas, enquanto ele estava escrevendo o roteiro, acharia que esse era um personagem muito perigoso para Grant enfrentar, que ele estava ficando muito parecido com o vilão Killmonger, de Pantera Negra, e que Bushman tinha elementos racistas em sua origem dos quadrinhos que seriam difíceis de evitar em sua origem na série, o que o levou a optar por um personagem mais ligado ao sobrenatural e ao controle de massas do que ao confronto físico. O Harrow da série acabaria sendo uma nova versão, com muito pouco a ver com o dos quadrinhos, se parecendo com um amálgama de dois outros vilões do Cavaleiro da Lua, o Rei Sol e o Estrela da Manhã.

Uma das maiores críticas feitas a Cavaleiro da Lua seria que a série não tem ligação nenhuma com o restante do MCU, não influenciando nem sendo influenciada por nenhum dos outros filmes e séries. Durante a pré-produção, houve conversas dentre a equipe de roteiristas para incluir Dane Whitman, que trabalharia no mesmo museu que Grant, ou os Eternos Kingo e Makkari em participações especiais, mas os Marvel Studios ficariam preocupados com estouro do orçamento para pagar os cachês dos atores, e Slater não veria nenhuma razão para a presença desses personagens; a ideia que mais ganharia força seria a de fazer referências a Gorr e aos eventos de Thor: Amor e Trovão, mas essa também seria abandonada. A série, tem, porém, o mérito de introduzir os deuses egípcios no MCU, principalmente Khonshu, responsável pelos poderes do Cavaleiro da Lua e que tem com ele um relacionamento abusivo, manipulando-o para fazer suas vontades fazendo-o imaginar que está praticando o bem - na minha opinião, aliás, houve uma oportunidade perdida em não incluir alguns desses deuses egípcios, principalmente Taweret, na Cidade da Onipotência em Thor: Amor e Trovão.

Na série, Steven Grant é um funcionário do Museu Britânico que sonha em se tornar um guia usando seu extenso conhecimento sobre o Egito Antigo, mas não é levado a sério por seus colegas. Um dia, ele começa a ter ausências, não se recordando do que fez durante horas ou dias, e, graças a isso, se envolve com um culto liderado por Arthur Harrow, que quer restaurar a banida deusa egípcia Ammit (que, na mitologia egípcia real, não é uma deusa, apenas uma criatura que vive no submundo) para reinar sobre o mundo. Após ser confundido com outra pessoa por uma misteriosa mulher chamada Layla, Grant descobre que não somente tem duas personalidades, a segunda sendo a do ex-soldado aventureiro Marc Spector, como também Spector tem o poder de se transformar em um avatar de Khonshu, o deus egípcio da Lua, que tem interesse pessoal em impedir o retorno de Ammit. Juntos, Grant, fingindo ser Spector, e Layla, tentam encontrar uma forma de impedir Harrow antes que seja tarde demais.

O elenco conta com Oscar Isaac como Steven Grant / Marc Spector / Jake Lockley / Cavaleiro da Lua; May Calamawy como Layla El-Faouly / Escaravelho Escarlate; Ethan Hawke como Arthur Harrow; e Gaspard Ulliel como Anton Mogart, rico colecionador de antiguidades e contato de Layla - esse seria o último papel de Ulliel, que faleceria em janeiro de 2022 em um acidente de esqui. Karim El Hakim seria o stand in (ator usado durante as filmagens para marcar a posição de um personagem) e a fonte de captura de movimentos de Khonshu, que seria feito de computação gráfica e dublado por F. Murray Abraham; o mesmo seria feito com Ammit, "interpretada" por Sofia Danu e dublada por Saba Mubarak; já no caso da deusa da fertilidade Taweret, Antonia Salib seria a stand in, a usada para captura de movimentos e a dubladora. Outros personagens da série incluem os pais de Spector, Elias (Rey Lucas) e Wendy (a brasileira Fernanda Andrade); os avatares dos deuses egípcios Osíris (Khalid Abdala), Hathor (Diana Bermudez), Hórus (Declan Hannigan), Tefnut (Hayley Konadu) e Ísis (Nagisa Morimoto); os policiais Billy Fitzgerald (David Ganly) e Bobbi Kennedy (Ann Akinjirin); a estátua viva Crawley (Shaun Scott); os colegas de Grant no museu, Donna (Lucy Thackeray) e J.B. (Alexander Cobb); o guarda-costas de Mogart, Bek (Loic Mabanza); e o pai de Layla, Abdallah El-Faouly (Usama Soliman).

Os quatro atores principais de Cavaleiro da Lua seriam escolhidos sem testes: Oscar Isaac seria convidado diretamente por Slater, e pediria um tempo para pensar, já que não queria se envolver com outra franquia tão pouco tempo após gravar Star Wars; ele acabaria convencido após pesquisar sobre o transtorno de múltiplas personalidades e ficar fascinado com a forma como os roteiristas caracterizaram Grant. Ethan Hawke seria sugerido por Isaac, e aceitaria o papel sem ler nenhum roteiro, seguindo uma sugestão de Diab, que queria que os roteiristas ajustassem o personagem de acordo com a interpretação do ator; Hawke declararia ser a primeira vez em que fez isso em 35 anos, e que decidiu aceitar pela oportunidade de trabalhar com Isaac e Diab e de fazer algo novo com um personagem pouco conhecido. Tanto Isaac quanto Hawke receberiam carta branca dos Marvel Studios para interpretar seus personagens da forma que quisessem, podendo, inclusive, dar sugestões aos roteiristas, o que eles acabaram não fazendo. May Calamawy seria convidada durante a pandemia, através de redes sociais, por Goher, que se inspiraria na atriz para criar a personagem Layla; e F. Murray Abraham seria uma escolha de Diab, que consideraria sua voz grave perfeita para Khonshu. Abraham não participaria das filmagens, e gravaria suas falas apenas na pós-produção.

Diferentemente de outras produções do MCU, Cavaleiro da Lua não tem nenhuma cena ambientada nos Estados Unidos, com Grant morando em Londres e viajando ao Egito após descobrir ser o Cavaleiro da Lua. As filmagens começariam, porém, em Budapeste, Hungria, em abril de 2021, após serem adiadas por cinco meses devido à pandemia. Quase todas as cenas ambientadas em Londres seriam filmadas em Budapeste, e todas as cenas ambientadas no Egito seriam filmadas na Jordânia - a produção tentou até o último momento filmar no Egito, mas questões políticas impedem que produções norte-americanas sejam filmadas no país há anos, e nem mesmo a Disney conseguiu fazer com que o governo egípcio abrisse uma exceção. Também ocorreriam filmagens na Eslovênia e em Atlanta, onde seriam filmadas as cenas de estúdio. Isaac declararia que as filmagens foram "artesanais", dado o perfeccionismo de Diab, que queria autenticidade até mesmo nas menores cenas, e Hawke diria ter sido uma experiência maravilhosa filmar uma história relacionada ao Egito sob o comando de um diretor egípcio. Diab faria reuniões diárias com Isaac, Hawke, Benson e Moorehard, para garantir que os episódios dirigidos pela dupla não destoassem dos dirigidos por ele; segundo a equipe de produção, essas reuniões também resultariam em mais coesão entre as cenas filmadas, com apenas quatro dias de refilmagens sendo necessários em novembro de 2021.

Os cenários ficariam sob a responsabilidade de Stefania Cella, que trabalharia com egiptólogos e um diretor de arte egípcio para que eles fossem o mais realísticos possível. O cenário mais impressionante era a Câmara dos Deuses, que tinha três andares e era decorado com hieróglifos relacionados à divindade, mas o mais trabalhoso foi a Câmara Funerária, cheia de superfícies espelhadas e com uma piscina cheia de água. O apartamento de Grant foi feito para lembrar o interior de uma pirâmide, e o cenário do hospital e do quartel-general de Harrow era exatamente o mesmo, mas pintado de branco para as cenas do hospital - segundo Cella, para mostrar a forma como a mente de Grant trabalhava. Dois quarteirões de casas ao estilo egípcio também seriam construídos, já que não foi possível filmar as originais - também por esse motivo, a WetaFX teria de recriar digitalmente parte do Cairo e as Pirâmides de Gizé durante a pós-produção. Os efeitos especiais ficariam a cargo da WetaFX, Framestore, Image Engine, Mammal Studios e Zoic Studios.

Já os figurinos seriam de Meghan Kasperlik, que atenderia a um pedido de Diab para que eles tivessem muitos símbolos e iconografia egípcios, e trabalharia com Cella para que os mesmos hieróglifos fossem usados nos figurinos e nos cenários. O uniforme do Cavaleiro da Lua não era feito de computação gráfica, sendo uma roupa real, criada pela empresa londrina FBFX e que consistia de 803 peças de um material batizado como Euro Jersey, com texturas impressas por impressoras 3D. O visual do personagem, que parecia uma múmia de armadura, foi inspirado no da saga dos quadrinhos Universo X, que mostra uma versão distópica do Universo Marvel. Um segundo visual para o personagem, usando um terno passeio completo, seria inspirado nos quadrinhos de Warren Ellis e Declan Shalvey, no qual o Cavaleiro da Lua assumia a identidade do detetive Sr. Knight. Ambos os uniformes foram "aprimorados" por computação gráfica na pós-produção, mas apenas para pequenos detalhes, como o movimento dos olhos e da boca sob a máscara.

Cavaleiro da Lua estrearia no Disney+ em 30 de março de 2022, com um episódio por semana até 4 de maio, para um total de seis, com entre 45 e 54 minutos cada. O primeiro episódio teria exibições especiais no Cine Capitol, em Madri, em 16 de março, no Museu Britânico de Londres no dia seguinte, e em 22 de março no El Capitan Theatre em Los Angeles. A Parrot Analytics divulgaria que o primeiro episódio seria o programa mais assistido do streaming dos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2022, e que a série como um todo teria 334% exibições a mais do que a média norte-americana no período. A crítica também seria bastante receptiva, elogiando principalmente a novidade do tema e das situações, embora a "batalha de CGI" entre Khonshu e Ammit tenha sido extremamente criticada. A atuação de Isaac seria considerada impecável, e tida por muitos críticos como a principal responsável pelo sucesso da série.

Em fevereiro de 2021, Feige delcararia que, ao contrário de WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, Gavião Arqueiro e da futura série da Miss Marvel, as séries do Cavaleiro da Lua e da Mulher-Hulk tinham potencial para múltiplas temporadas, já que não precisavam necessariamente ter seus eventos ligados aos enredos de futuros filmes. Em fevereiro de 2022, Isaac declararia que Cavaleiro da Lua se tratava de uma série limitada, e Diab diria não ter certeza de que uma segunda temporada seria possível. A confusão aumentaria quando, na chamada do Disney+ para o último episódio, fossem usadas as palavras season finale (que seria o "último episódio da temporada") ao invés de series finale (o "último episódio da série"). No Emmy, Cavaleiro da Lua seria inscrito pela Disney nas categorias de série limitada, sendo indicado a oito: Melhor Fotografia para um Filme ou Série Limitada ou de Antologia; Melhor Figurino para Fantasia ou Ficção Científica; Melhor Composição Original de Trilha Sonora para um Filme, Especial ou Série Limitada ou de Antologia de Drama; Melhor Dublagem (para F. Murray Abraham); Melhor Mixagem de Som para um Filme ou Série Limitada ou de Antologia; Melhor Coordenação de Dublês para um Filme ou Série Limitada ou de Antologia de Drama; Melhor Performance de Dublês; e Melhor Edição de Som para um Filme ou Série Limitada ou de Antologia - ganhando esse último.

Até o momento, não há planos para uma segunda temporada de Cavaleiro da Lua, e Isaac não tem contrato para interpretar o personagem em futuras produções, tendo assinado somente para a série. Isaac, Hawke e Calamawy já expressaram seu desejo de retornar a seus personagens, e, em uma entrevista recente, Diab declarou esperar que uma segunda temporada possa ser filmada no Egito. O mais provável, porém, é que a próxima aparição do Cavaleiro da Lua ocorra em algum filme, talvez dos Vingadores.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Doctor Strange in the Multiverse of Madness
2022

Em 2016, pouco antes do lançamento de Doutor Estranho, um de seus roteiristas, C. Robert Cargill, diria em uma entrevista que ele e o diretor, Scott Derrickson, apresentaram várias ideias que a Marvel considerou "malucas demais" para um primeiro filme, pedindo para que eles a segurassem para uma possível sequência. Em outubro daquele ano, após a pré-estreia do filme em Hong Kong, Derrickson declararia que já estava certo que ele e Cumberbatch retornariam para um segundo filme, e que seu plano era fazer como em Batman: O Cavaleiro das Trevas, introduzindo um vilão que levasse Estranho ao seu limite, permitindo-o explorar todas as facetas do personagem. Em entrevistas posteriores, ele diria ter interesse em que esse vilão fosse o Pesadelo, e que desejava explorar mais a fundo as histórias de Jonathan Pangborn - o homem que recupera os movimentos das pernas através da magia, motivando Strange a procurar a Anciã - e do Mestre Hamir, que havia feito apenas uma pequena participação no primeiro filme. Outro dos roteiristas, John Spaits, declararia ter interesse em introduzir Clea, sobrinha de Dormammu e principal interesse amoroso de Strange nos quadrinhos, já no segundo filme.

Derrickson seria oficialmente anunciado como diretor do segundo filme em abril de 2017, e pediria para que a produção começasse após ele encerrar seu trabalho na série Locke & Key. Em dezembro de 2018, o diretor, Cumberbatch, Wong e McAdams assinariam seus contratos para trabalhar nas sequências, mas os roiteiristas do primeiro filme não, com a Marvel anunciando que estava em busca de um novo roteirista para escrever o filme ao longo de 2019, para que as filmagens começassem no início de 2020 e o filme estreasse em maio de 2021. Feige e Derrickson anunciariam o filme, revelando seu título, durante a San Diego Comic Con de 2019, em julho, com Derrickson declarando que esse seria "o primeiro filme de horror do MCU", trazendo mais elementos de horror gótico dos quadrinhos clássicos de Estranho. O co-produtor Richie Palmer acrescentaria que o tema do filme seria "os piores monstros são aqueles que vivem dentro de nós".

Depois desse anúncio, porém, as coisas começariam a desandar. Primeiro, Feige revelaria que a série WandaVision estaria diretamente ligada ao filme, com Wanda sendo uma de suas personagens principais. Depois, a Marvel confirmaria que os eventos de Loki e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa estariam diretamente ligados à história do filme, inclusive anunciando que Loki teria um papel importante no filme de Estranho. Em outubro de 2019, Jade Halley Bartlett seria contratada para escrever o roteiro, e, ao anunciá-la, Feige declararia que o Multiverso era "o próximo passo na evolução do MCU", e que o filme iria "escancará-lo, com repercussões em todos os futuros filmes e séries" da Marvel. Mais tarde no mesmo mês, ele deixaria claro em uma entrevista que não se tratava de um filme de horror, e sim de "um grande filme ao estilo Marvel, com consequências assustadoras". Feige também revelaria que o filme introduziria "novos e surpreendentes personagens", incluindo um que os Marvel Studios já vinham pensando em acrescentar ao MCU há algum tempo; no final de 2019, seria revelado que esse personagem era America Chavez, e que seu papel no filme seria fundamental devido a seu poder de viajar entre universos.

Diante desses anúncios todos, Derrickson percebeu que jamais poderia fazer o filme da forma como queria, e começou a negociar com a Marvel um maior poder de decisão sobre a história do filme. Não conseguindo chegar a um acordo que ele achasse satisfatório, o diretor anunciaria sua saída em janeiro de 2020, alegando "diferenças criativas" e declarando que havia aceitado permanecer no filme como produtor executivo. Após sua saída, surgiriam boatos de que ele havia sido demitido porque estaria tentando fazer um filme de horror ao estilo de A Bruxa e Hereditário, com o qual os Marvel Studios não concordavam, que seriam desmentidos por Feige, que acrescentaria que o filme exploraria um lado "muito mais sinistro" do MCU, mesmo após a saída de Derrickson. Outra controvérsia que surgiria antes do início das filmagens foi que o criador de Chavez, Joe Casey, declararia não ter recebido um centavo pela inclusão da personagem no filme, e que, após essa história se tornar pública, a Marvel o procuraria oferecendo uma compensação, que ele não aceitou por achar "vergonhosa".

Talvez para manter a promessa de que o filme teria elementos de terror, após a saída de Derrickson a Marvel abordaria Sam Raimi, também famoso por seus filmes de horror, e que já tinha experiência com super-heróis por ter dirigido os três primeiros filmes do Homem-Aranha. Em fevereiro, Raimi seria anunciado como o novo diretor, junto com o anúncio de que Ejiofor repetiria seu papel como Mordo, e o de que McAdams não estaria no filme. Mais tarde no mesmo mês, Michael Waldron, roteirista de Loki, seria contratado para reescrever o roteiro de Bartlett, o que ele diria ser "quase impossível", já que a data prevista para o início das filmagens estava a menos de três meses de chegar. Mas aí veio a pandemia, e todas as produções tiveram de ser suspensas; a pré-produção de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura começaria de forma virtual, através de reuniões online, mas, pouco tempo depois, a Disney alteraria a data de estreia do filme para novembro de 2021, o que daria a Waldron mais tempo para finalizar o roteiro e deixá-lo mais de acordo com a visão de Raimi. Waldron acabaria não usando quase nada do criado por Bartlett, e seria o único roteirista creditado.

Waldron também trabalharia junto com Jac Schaeffer, roteirista de WandaVision, para que a Wanda do filme fosse consistente com a da série. A essa altura, Feige já havia anunciado que Wanda seria a vilã do filme, o que desagradou Olsen, que acabou convencida pela abordagem de Waldron, declarando que o roteirista havia dado a ela a possibilidade de mostrar que a personagem não é maligna, apenas não sabe lidar com seus sentimentos conflitantes tendo tanto poder à disposição. Waldron declararia ter pensado em espalhar vários vilões de renome, incluindo Kang, pelos universos visitados por Strange e Chavez ao longo do filme, para diluir a presença de Wanda, mas acabaria concluindo que isso tiraria a chance de o público ter empatia pela personagem. Após ler o roteiro, Olsen também daria várias sugestões a Waldron para que Wanda não agisse de forma idêntica ao mostrado em WandaVision, deixando claro que a personagem havia evoluído.

As filmagens começariam em novembro de 2020, em Londres; Olsen emendaria as filmagens com as de WandaVision, e Cumberbatch com as de suas cenas em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Em dezembro, após o início das filmagens, McAdams seria chamada e assinaria contrato, porque, de fato, ela estaria no filme; Xochitl Gomez, já informalmente anunciada como intérprete de America Chavez, também só assinaria contrato em dezembro. O roteiro teve de passar por duas pequenas revisões durante as filmagens para que algumas cenas fossem alteradas, a primeira quando a participação de Strange em WandaVision foi cancelada, a segunda quando a data de estreia de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa foi alterada, fazendo com que ele estreasse antes de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ao invés de depois. O final também seria alterado durante as filmagens, com Waldron achando que a cena final estava "muito feliz" depois de tudo o que Estranho fez, e que ele deveria de alguma forma sofrer as consequências de seus atos; Raimi aprovaria o novo final, dizendo que ele tinha "o espírito do final de um filme de terror". As cenas alteradas seriam filmadas em novembro e dezembro de 2021, em Los Angeles.

No filme, Strange se envolve acidentalmente com Chavez, que tem o poder de viajar entre universos e está sendo perseguida por um demônio; ele decide pedir ajuda a Wanda, sem saber que ela é o demônio em questão, já que quer o poder da menina para recuperar seus filhos, Billy e Tommy, que existem em outros universos, mas, no dela, foram uma criação de sua mente. Enquanto enfrentam Wanda, Strange e Chavez vão parar em um universo controlado por um grupo de heróis chamado Illuminati, que revela que o uso indiscriminado da viagem multiversal pode fazer com que dois universos se choquem, destruindo-os, o que torna impedir Wanda muito mais urgente.

O elenco conta com Benedict Cumberbatch como Stephen Strange / Doutor Estranho, Elizabeth Olsen como Wanda Maximoff / Feiticeira Escarlate, Chiwetel Ejiofor como Karl Mordo, Benedict Wong como Wong, Xochitl Gomez como America Chavez, Rachel McAdams como Christine Palmer, Michael Stuhlbarg como Nicodemus West, Julian Hilliard como Billy, Jett Klyne como Tommy, Topo Wresnwiro como Hamir, Sheila Atim como a feiticeira Sara, Adam Hugill como o feiticeiro minotauro Rintrah, e Ross Marquand como Ultron. Bruce Campbell, figurinha carimbada em todos os filmes de Raimi, faz uma participação especial como um vendedor de pizza, e, na cena intercréditos, Charlize Theron faz uma participação especial como Clea. Os Illuminati são versões de heróis Marvel de outros universos, e incluem Hayley Atwell como Peggy Carter / Capitã Carter, Lashana Lynch como Maria Rambeau / Capitã Marvel, Anson Mount como Blackagar Boltagon / Raio Negro (repetindo seu papel da série Inumanos, da ABC), Patrick Stewart como Charles Xavier / Professor X (repetindo seu papel dos filmes dos X-Men da Fox) e John Krasinski como Reed Richards.

O trailer do filme, lançado mundialmente junto com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, criaria muita especulação sobre quais personagens estariam nos outros universos e quais atores os interpretariam, surgindo até mesmo boatos de que Tom Cruise interpretaria Tony Stark. O trailer também causaria controvérsia por aparentemente trazer um dos vilões mais famosos do Doutor Estranho, Shuma-Gorath; na verdade, tratava-se de uma criatura criada pelo poder de Wanda, ao qual a produção deu o nome de Gargantos. O nome Shuma-Gorath não poderia ser usado porque foi originalmente criado por Robert E. Howard para uma história do Rei Kull, com o personagem tendo sido criado por Steve Englehart e Frank Brunner para uma história de Estranho quando a Marvel tinha os direitos sobre os personagens de Howard, os quais já não possui mais, mas nada impedia a produção de fazer "um Shuma-Gorath chamado Gargantos", com muitos fãs ficando irritados ao descobrir que não era o caso. Uma curiosidade sobre Gargantos, entretanto, é que seu olho é um modelo ampliado do olho de Olsen, o que foi pensado como uma dica de que Wanda estaria por trás de seu ataque.

Os Illuminati também seriam motivo de muita especulação desde sua confirmação no filme, em março de 2022. Em entrevistas, Waldron deixaria claro que não se tratam dos mesmos personagens de outras produções - Xavier não é o mesmo dos filmes dos X-Men, a Capitã Carter não é a mesma de What If...? - e sim novas versões criadas especificamente para aquele universo que Strange e Chavez estão visitando. Todos os atores, ao serem convidados, se mostrariam extremamente empolgados por repetir seus personagens; Lynch inclusive pensaria que interpretaria uma ancestral de Maria Rambeau, e ficaria muito surpresa ao saber que se tratava de uma versão alternativa da mesma personagem. Waldron cogitaria incluir Namor dentre os Illuminati, já que o personagem faz parte do grupo nos quadrinhos, mas essa ideia seria vetada por Feige, que não queria o personagem aparecendo antes de sua estreia oficial no MCU; outros personagens cogitados, mas não incluídos, seriam a Vespa, com Evageline Lilly chegando a ser perguntada se aceitaria repetir o papel, e Obadiah Stane, que no MCU é o Monge de Ferro, mas no universo paralelo seria o Homem de Ferro. A cúpula dos Marvel Studios chegou a cogitar incluir Deadpool em algum universo paralelo, mas Waldron alegou que o filme não era "o lugar certo" para uma participação especial do personagem.

O único ator novo dentre os Illuminati, Krasinski, foi incluído como uma espécie de fanservice, já que alguns fãs, há tempos, na internet, pedem para que ele interprete o Sr. Fantástico no novo filme do Quarteto; Daniel Craig também faria sua estreia no MCU, interpretando Balder, o Bravo, mas desistiria por medo de contrair Covid e infectar sua família. A participação dos Illuminati, aliás, seria gravada durante o pico de uma onda de Covid na Inglaterra, e contaria com vários protocolos muito mais restritivos que o restante das gravações, incluindo o de que cada ator gravou suas cenas separadamente, sendo todos reunidos no mesmo ambiente apenas na pós-produção - todas as cenas de Krasinski, incluído de última hora para que seu nome não vazassem, seriam gravadas durante as refilmagens, o que fez com que ele e Olsen não se encontrassem nenhum dia durante as filmagens, com um membro da produção fazendo o papel de Richards na cena em que Wanda e o cientista se enfrentam. Stewart também gravaria suas cenas sozinho, incluindo as que Xavier contracena com Wanda, e se diria muito desapontado por não poder contracenar com seus colegas.

Os efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Industrial Light & Magic, Digital Domain, Framestore, Luma Pictures, Capital T, Sony Pictures Imageworks, WetaFX, Trixter, Crafty Apes e Perception, essa última também responsável pelos créditos do filme, que misturam o estilo da abertura de um filme de terror dos anos 1970 com desenhos como os usados em testes de Rorschach. Os figurinos ficariam a cargo de Graham Churchyard, que criaria três novos uniformes para o Doutor Estranho e um novo uniforme para Wanda que lembrava o da Feiticeira Escarlate dos quadrinhos; por restrições causadas pela pandemia, os uniformes do Raio Negro e de Richards não ficaram prontos a tempo, e a solução foi vestir os atores com roupas da mesma cor do chroma key e fazer os uniformes digitalmente. Por uma questão de continuidade, o livro de Darkhold seria exatamente o mesmo de WandaVision, criado pela equipe de cenografia da série.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura estrearia em 2 de maio de 2022; o filme seria vetado na Arábia Saudita, Kuwait, Catar e Egito por causa de uma cena que mostra que Chavez foi criada por duas mulheres, chamando ambas de mãe, com o supervisor pela programação saudita de cinema ainda declarando que a Disney estava "perdendo dinheiro por causa de 12 segundos". Mais uma vez, o filme também não seria lançado na China, agora com o governo chinês apenas vetando sem dar nenhuma explicação. Mesmo sem ser lançado nesses países, o filme quase chegaria a um bilhão nas bilheterias, rendendo 955,8 milhões de dólares, sendo 411,3 milhões apenas nos Estados Unidos, contra um orçamento de 294,5 milhões, se tornando o quarto filme mais rentável de 2022, atrás de Avatar: O Caminho da Água, Top Gun: Maverick e Jurassic World: Domínio. A crítica seria positiva, elogiando a direção de Raimi, a atuação de Olsen e as participações especiais, mas criticando o excesso de cenas geradas por computação gráfica e o fato de que Chavez serve basicamente para explicar como funciona o Multiverso para quem está assistindo. Curiosamente, Danny Elfman, responsável pela trilha sonora, seria indicado a um Grammy, de Melhor Arranjo Instrumental ou A Cappella, pela música tocada durante os créditos (chamada apenas de Main Titles).

Miss Marvel
Ms. Marvel
2022

Criada por Sana Amanat, Stephen Wacker, G. Willow Wilson, Adrian Alphona e Jamie McKelvie, Kamala Khan, a nova Miss Marvel, é uma personagem recente, tendo estreado nos quadrinhos apenas em 2014; por isso, foi surpreendente seu anúncio como uma das protagonistas de uma das séries do MCU, junto com o Cavaleiro da Lua e a Mulher-Hulk, em agosto de 2019, pouco mais de cinco anos após o "nascimento" da personagem. Planos para uma série estrelada por Kamala já existiam, porém, pelo menos desde 2016, quando o diretor criativo da Marvel Entertainment, Joe Quesada, declarou em uma entrevista que, devido a seu rápido sucesso nos quadrinhos, a Marvel pensava em aproveitar o momento para explorar a personagem em outras mídias. O projeto sofreria um atraso, entretanto, mas seria confirmado por Feige em 2018, quando ele declararia que qualquer mídia estrelada por Kamala só poderia ser lançada após Capitã Marvel, já que a adolescente decide se tornar uma heroína inspirada por Carol Danvers. Após muito debater se era melhor lançar Kamala em uma série ou filme, a cúpula dos Marvel Studios concluiriam que uma série seria melhor para apresentar a personagem e integrá-la ao MCU, mas que o ideal seria que, logo depois, ela protagonizasse também um filme.

Kamala Khan é uma menina de 16 anos, residente em Jersey City, descendente de paquistaneses, que tem dons artísticos e é a fã número um da Capitã Marvel; ela é a primeira muçulmana a protagonizar uma revista da Marvel (e, por consequência, uma produção do MCU), e sofre com um certo conflito entre suas tradições familiares e religiosas e a modernidade que cerca sua vida, em especial o mundo dos super-heróis, jogos de videogame e seu relacionamento com os colegas de escola. Nos quadrinhos, ela ganha poderes após ser exposta à Névoa Terrígena, mesmo elemento que confere poderes aos Inumanos, mas, na série, talvez para evitar maiores explicações, ela usa um bracelete que foi herança de sua avó - e que aparentemente veio de outro universo - para criar construtos de luz sólida - outra diferença em relação aos quadrinhos, onde Kamala possui os mesmos poderes do Homem-Borracha da DC, podendo alterar sua forma livremente, inclusive para mudar sua aparência. Na série, enquanto tenta se adaptar aos recém-descobertos poderes, ela tem de se esconder do Departamento de Controle de Danos, que deseja apreender o mais novo ser superpoderoso da cidade antes que ele cause problemas, e lutar contra um grupo de vilões que quer roubar seu bracelete.

Para interpretar Kamala, seria escolhida Iman Vellani, nascida em Karachi, Paquistão, mas que se mudou para o Canadá quando tinha apenas um ano de idade. Esse seria o primeiro papel como atriz de Vellani, que tinha 17 anos quando fez o teste, no qual foi inscrita por uma tia, que enviou uma fita dela atuando para a produção. Vellani teve de viajar a Los Angeles em fevereiro de 2020 para um teste presencial, no qual ficou dentre as finalistas; por causa da pandemia, o teste final teve de ser feito através de uma reunião virtual, acompanhada por Amanat, que ficou impressionada ao ver a quantidade de produtos dos personagens Marvel que a atriz tinha em seu quarto. Além de se encantar com o carisma de Vellani, Amanat argumentaria a seu favor que, assim como Kamala, a atriz era uma verdadeira fã dos Vingadores, e que isso também deveria valer alguns pontos para a seleção.

Além de Iman Vellani como Kamala Khan / Miss Marvel, o elenco conta com Matt Lintz como Bruno Carrelli, melhor amigo de Kamala, que tem um crush secreto nela, e é bem versado em tecnologia; Yasmeen Fletcher como Nakia Bahadir, amiga de Kamala que segue todas as tradições muçulmanas, incluindo o uso do hijab (que Kamala não segue), mas mesmo assim é uma mulher forte, independente e cheia de confiança (valendo um adendo de que, nos quadrinhos, Nakia é turca, mas, na série, é descendente de libaneses, como Fletcher); Zenobia Shroff como Muneeba, a mãe de Kamala, que não gosta que ela se envolva com games, desenhos e super-heróis, preferindo que ela fosse uma menina muçulmana tradicional; Mhan Kapur como Yusuf, o pai de Kamala, que apoia a filha em todos os seus projetos; Saagar Shaikh como Aamir, o irmão mais velho de Kamala, que no início da série está de casamento marcado com Tyesha Hillman (Travina Springer); Laurel Marsden como Zoe Zimmer, menina mais popular da escola de Kamala e influencer digital; Rish Shah como Kamran, menino da escola de Kamala por quem ela é apaixonada; Nimra Bucha como Najma, mãe de Kamran e líder dos Clandestinos, um grupo de djinn, seres misticos de outra dimensão, exilados na Terra, que precisam do bracelete de Kamala para poder voltar; e Aramis Knight como Kareem / Adaga Vermelha, super-herói adolescente paquistanês que ajuda Kamala na luta contra os Clandestinos. Personagens coadjuvantes de destaque incluem Najaf (Azhar Usman), um vendedor de comida halal amigo de Kamala; os agentes Cleary (Arian Moayed, repetindo seu papel de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa) e Deever (Alysia Reiner), do Departamento de Controle de Danos; os Clandestinos Fariha (Adaku Ononogbo), Aadam (Ali Alsaleh) e Saleem (Dan Carter); o Sheikh Abdullah (Laith Nakli), imam da mesquita frequentada por Kamala, sua família e seus amigos; Gabe Wilson (Jordan Firstman), conselheiro da escola de Kamala; Ruby (Anjali Bhimani) e Zara (Sophia Mahmud), tias de Kamala; Sana (Samina Ahmad), a avó de Kamala, que mora em Karachi, com Zion Usman interpretando uma Sana jovem durante flashbacks, nos quais também aparecem os bisavós de Kamala, Hasan (Fawad Khan) e Aisha (Mehwish Hayat), que também era uma djinn; e Waleed (Farhan Akhtar), líder do grupo ao qual pertence o Adaga Vermelha. Brie Larson faz uma participação especial como a Capitã Marvel na cena intercréditos do último episódio.

A produção da série começaria em agosto de 2019, com Bisha K. Ali, comediante britânica filha de paquistaneses, sendo escolhida como showrunner e chefe da equipe de roteiristas. Ali, que havia sido uma das roteiristas de Loki, procuraria o produtor Kevin Wright para pedir para apresentar suas ideias sobre a séria assim que soube que a produção tinha começado; ela se mostraria extremamente empolgada com a oportunidade, por ser "fã, de origem sul-asiática, uma mulher paquistanesa e uma mulher muçulmana", e prometeria fazer de Kamala "um avatar para todas as adolescentes que cresceram acompanhando o MCU". Ali escreveria somente o primeiro episódio, mas coordenaria uma equipe que contava com Kate Gritmon, Freddy Syborn, Sabir Pirzada (que já havia co-escrito três episóidios de Cavaleiro da Lua), Fatimah Ashgar e Will Dunn. Depois que todos os roteiros estavam prontos, a Marvel decidiria chamar os roteiristas de What If...?, A.C. Bradley e Matthew Chauncey, para revisá-los e fazer com que eles tivessem mais coerência não somente entre si, mas também com o que estava sendo planejado para o Multiverso nos demais filmes e séries. Bradley alegaria ter reescrito completamente os episódios originalmente escritos por Syborn, Pirzada e Dunn, com ela e Chauncey recebendo o controverso crédito "roteiro de Fulano, Bradley e Chauncey baseado em uma história de Fulano", mas que não teria sido paga como roteirista da série, recebendo apenas o pagamento de revisora.

Na apresentação original de Ali, os poderes de Kamala eram os mesmos dos quadrinhos, mas Feige pediria para que ela os alterasse para que ficassem mais parecidos com os de Danvers e Rambeau, e para que "se conectassem com suas origens paquistanesas"; tanto a ideia do bracelete quanto a dos construtos de luz sólida partiriam de Ali. A mudança na origem dos poderes não causaria controvérsia, já que a explicação de Feige era coberta de lógica: como não havia Inumanos no MCU, não fazia sentido usar a Névoa Terrígena. A mudança nos poderes, por outro lado, causaria uma enorme controvérsia, dando origem até a um boato de que a Marvel não queria que um herói com poderes elásticos estreasse no MCU antes de Reed Richards; a Marvel chegaria a divulgar que a mudança se deu por razões estéticas, com os poderes elásticos não tendo ficado bons durante um teste de computação gráfica, antes de Feige confirmar que a mudança se deu para que eles tivessem uma "temática cósmica" - para tentar diminuir a ira dos fãs, Feige prometeria que um dos usos mais populares dos poderes, a mão gigante, estaria presente na série "em espírito". Ali conversaria com Amanat e Wilson antes de criar os novos poderes, e prometeria que eles seriam parte essencial da jornada de autodescobrimento de Kamala da mesma forma que os poderes originais foram nos quadrinhos. Houve quem reclamasse, entretanto, que uma das melhores coisas dos poderes de Kamala nos quadrinhos era que eles eram "feios", e não "brilhantes e esteticamente agradáveis", o que trazia o conflito de ela ter que se adaptar a eles, que seria impossível na série.

A Partição da Índia, evento histórico que deu origem aos atuais Índia e Paquistão, ocorrido em 1947, também seria um elemento fundamental para a história, citado desde o início e tendo um episódio dedicado somente a ele. Priya Satia, professora da Universidade de Stanford e especialista em Império Britânico, atuaria como consultora, e trabalharia junto com Ali para que a Partição fosse mostrada como um evento de importância no MCU, nos mesmos moldes do que foi feito com a Segunda Guerra Mundial em Capitão América: O Primeiro Vingador. Os roteiristas chegariam a escrever um manual com todos os eventos que conectavam a Partição, os Clandestinos e os Adagas Vermelhas; segundo Ali, a história dos Clandestinos acabaria ficando truncada, devido a falta de tempo para desenvolvê-la e a restrições impostas às filmagens pela pandemia, mas ela esperava poder voltar a desenvolver os personagens no futuro. O uso do termo djinn causaria mal-estar dentre a comunidade muçulmana, já que o Corão proíbe explicitamente a "adoração dos djinn"; Obaid-Chinoy, responsável pelo uso do termo na série, declararia que os personagens não eram realmente djinn, com o nome sendo usado de forma pejorativa para se referir a pessoas com superpoderes, e Ali declararia poder voltar a trabalhar com Kamala para explorar como ela se sentia em relação ao apelido.

Após um ano de pré-produção, atrasada por conta da pandemia, em setembro de 2020 os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah, conhecidos como Adil & Bilall, seriam contratados para dirigir o primeiro e o último episódios, com Meera Menon ficando a cargo do segundo e do terceiro, e Sharmeen Obaid-Chinoy com o quarto e quinto. Em sua primeira reunião, os diretores perceberam que tinham estilos bastante diferentes, e combinaram de se reunir constantemente durante a produção, para trocar ideias e fazer com que a série fluísse como uma única história, sem se parecer com três pedaços distintos costurados uns nos outros. Ali, Adil & Bilall e Amanat também teriam reuniões constantes com a cúpula dos Marvel Studios, para que, mesmo tendo carta branca para o projeto, a série ficasse perfeitamente integrada ao MCU.

Os figurinos ficariam por conta de Arjun Bhasin, que criaria o uniform de Kamala combinando um burkini (roupa de ir à praia própria para mulheres muçulmanas; nos quadrinhos, Kamala também cria seu uniforme customizando um burkini) com uma vestimenta tradicional do sul asiático chamada shalwar kameez, decorando-o com as cores da Capitã Marvel, o raio que é o símbolo da personagem nos quadrinhos, e acrescentando "detalhes culturais sutis" em relevo no tecido. Amanat parabenizaria Bhasin por ter criado um uniforme simultaneamente ao estilo dos super-heróis norte-americanos e das vestimentas femininas do sul asiático. Os efeitos especiais seriam criados pelas empresas Digital Domain, Framestore, FuseFX, Method Studios, RISE, SSVFX, Trixter e Perception, que também faria a abertura, que mostra construções famosas da cidade de Jersey City com murais ao estilo dos desenhos de Kamala, adicionados por computação gráfica.

As filmagens começariam em novembro de 2020 em Atlanta, Geórgia, passando depois para Hudson County, Nova Jérsei, que faria as vezes de Jersey City. As cenas no Paquistão na verdade seriam filmadas na Tailândia, e todas as cenas da Partição seriam gravas em estúdio. As filmagens que envolvessem elementos da cultura e religião muçulmanas seriam examinadas por especialistas para assegurar que elas estavam sendo mostradas de forma autêntica. Alguns episódios contam com sequências animadas, que não constavam dos roteiros originais, sendo sugeridas por Adil & Bilall para que os espectadores "tivessem um vislumbre do que se passa dentro da mente de Kamala" e "pudessem ver o mundo através de seus olhos", sendo inspiradas nas sequências de Homem-Aranha no Aranhaverso. A inclusão de última hora demandou muito planejamento, e requeria que os diretores filmassem as cenas nas quais as animações seriam incluídas exatamente como estavam no roteiro, sem improvisar. A cena intercréditos seria filmada em janeiro de 2022 e dirigida por Nia DaCosta.

Miss Marvel teria um total de seis episódios, com entre 41 e 52 minutos cada, lançados no Disney+ um por semana entre 8 de junho e 13 de julho de 2022. O primeiro episódio seria exibido em uma pré-estreia no cinema El Capitan, em Los Angeles, dia 2 de junho; curiosamente, a série também seria exibida no Paquistão, país que não tem Disney+, nos cinemas, em três partes, cada uma reunindo dois episódios, em 16 e 30 de junho e 14 de julho. Para que um público maior assistisse à série e conhecesse Kamala, a Disney decidiria exibi-la como parte do programa The Wonderful World of Disney, do canal aberto ABC, em duas partes, cada uma composta por três episódios, em 5 e 12 de agosto. A crítica seria extremamente positiva, elogiando a atuação de Vellani e o frescor trazido pela série ao MCU, embora houvesse quem reclamasse de que as cenas heroicas ficaram em segundo plano em relação às cenas "de novela" como a interação entre Kamala e sua família ou seu flerte com Kamran. A ativista Malala Yousafzai também elogiaria a série, dizendo ter se identificado com Kamala. Miss Marvel seria indicada a quatro Emmys: Melhor Edição para uma Série de Antologia ou Limitada ou Filme; Melhor Composição Musical Original Dramática para uma Série de Antologia ou Limitada, Filme ou Especial; Melhor Música-Tema Original de Abertura; e Melhor Design de Produção, ganhando esse último.

Desde o início da produção, Feige deixaria claro que a aparição seguinte de Kamala seria no filme As Marvels, com inclusive a cena intercréditos servindo para estabelecer a ligação da série com o filme. O que não ficaria claro, porém, seria se Miss Marvel teria uma segunda temporada ou seria uma minissérie; em setembro de 2023, Ali e El Arbi deram entrevistas dizendo ter interesse em produzir uma segunda temporada, e Vellani declararia que esperava poder ver o vilão dos quadrinhos Doc.X como oponente de Kamala caso a série fosse renovada. Até agora, não há qualquer negociação em curso para uma nova temporada da série, e, devido aos atrasos causados pelas greves dos roteiristas e atores em 2023, parece pouco provável que novas aventuras de Kamala entrem em produção antes do final da Fase 5.

Para terminar, vale dizer que, recentemente, nos quadrinhos, seria revelado que Kamala é uma mutante, e que esse seria o motivo pelo qual somente ela recebeu os poderes da Névoa Terrígena, mesmo com mais pessoas próximas ao local da exposição; depois desse retcon, Amanat e Wilson revelariam que pensaram em fazer de Kamala uma mutante desde o início, mas que a Marvel teria pedido por uma "história de origem" - o que não existe no caso dos mutantes, já que seus poderes se manifestam espontaneamente. Na série, também é dado a entender que Kamala é uma mutante, com uma teoria dos fãs dizendo que esse é o motivo pelo qual ela é a única a ganhar poderes quando usa o bracelete. Como, até então, não havia nenhum mutante no MCU, Kamala é considerada a primeira, e, como ela é adolescente, muitos acreditam que Miss Marvel tenha sido a porta de entrada para os X-Men no MCU, com outros adolescentes passando a manifestar poderes a partir de agora, até serem reunidos por um certo Professor.

Série Universo Cinematográfico Marvel

•Cavaleiro da Lua
•Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
•Miss Marvel

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