domingo, 11 de agosto de 2019

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Universo Cinematográfico Marvel (III)

Hoje teremos o terceiro post da série sobre os filmes do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), com o fim da Fase 1 e o início da Fase 2. Embora seja natural que os posts dessa série contenham spoilers, acho que devo avisar que o de hoje contém um "spoilerzão" se você não viu Homem de Ferro 3, então cuidado.

Os Vingadores
The Avengers
2012

A ideia para um filme dos Vingadores surgiria junto com a fundação dos Marvel Studios, quando seriam traçados planos para que, após o lançamento de filmes individuais de Homem de Ferro, Thor e Capitão América, seria lançado um filme no qual todos os três agiriam juntos. Ao contrário do que possa parecer, porém, a estrada até esse filme de equipe seria cheia de percalços, com muitas modificações sendo feitas e tudo se ajustando apenas no último minuto. Isso porque a pré-produção de Os Vingadores ocorreria simultaneamente às filmagens de Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador.

No início da pré-produção, em 2008, Jon Favreau, de Homem de Ferro 1 e 2, seria o diretor, e Zak Penn, de O Incrível Hulk, seria o roteirista. Em 2010, Favreau anunciaria que não dirigiria o filme, ficando apenas como produtor executivo, ao se envolver com outro projeto da Disney, Magic Kingdom (que acabou nunca saindo do papel). A Marvel, então, negociaria com Joss Whedon, que, na época, foi considerado uma aposta de risco, já que só tinha dirigido um único filme na vida, Serenity: A Luta Pelo Amanhã, que servia como desfecho para a série de TV Firefly. Seus créditos como roteirista de cinema e TV - ele foi co-autor de Toy Story, revisor do roteiro de X-Men, e criador da série de TV Buffy: A Caça-Vampiros, dentre outros trabalhos - além do fato de ele ter sido roteirista dos quadrinhos dos X-Men entre 2004 e 2008, entretanto, levariam a Marvel não somente a preferi-lo como diretor mas também a aceitar quando ele exigiu poder revisar e modificar o roteiro de Penn.

Whedon se mostraria extremamente decepcionado com o roteiro de Penn, que, segundo ele, não trazia qualquer interação entre os heróis, se parecendo com um monte de episódios soltos, cada um estrelado por um herói diferente. Whedon recomendaria à Marvel "recomeçar do zero", e escreveria um novo roteiro, descartando totalmente as ideias de Penn. A cúpula dos Marvel Studios concordaria, mas faria duas exigências: que Loki deveria ser o vilão, pois ele havia sido o vilão da primeira história em quadrinhos dos Vingadores, e que o filme seguisse a estrutura tradicional dos encontros entre heróis Marvel nos quadrinhos, com os heróis brigando entre si ao se encontrarem pela primeira vez, somente depois se unindo para enfrentar o vilão. Whedon não acreditava que Loki seria capaz de enfrentar sozinho os Maiores Heróis da Terra, e chegou a negociar a inclusão do Caveira Vermelha; como a Marvel não aprovou, ele colocaria Ezekiel Stane, filho de Obadiah, como um vilão secundário do filme.

Ezekiel só seria descartado quando a Marvel determinasse que Whedon incluísse no roteiro referências às Joias do Infinito, que passariam a direcionar os enredos dos demais filmes do MCU - até então, a única Joia que havia aparecido em um filme do MCU tinha sido o Tesseract, e mesmo assim sem qualquer indicação de que seria uma delas. Whedon, então, incluiria os Chitauri, uma raça alienígena disposta a dominar a Terra, que faria um trato com Loki - e secretamente era liderada por Thanos, que viria a ser o maior vilão do MCU, mas, nesse filme, apareceria apenas na última cena, interpretado por Damion Poitier. Na época, surgiria um boato de que, ao invés dos Chitauri, raça que existe nos quadrinhos, mas apenas no Universo Ultimate, Whedon queria usar os Skrulls, vilões alienígenas mais tradicionais da Marvel, mas não pôde porque, sendo ligados ao Quarteto Fantástico, seus direitos pertenceriam à Fox; a Marvel sempre negou esses boatos, dizendo que o plano era usar os Chitauri desde o início.

Quando Whedon começou a escrever o roteiro, os únicos atores confirmados no filme eram Robert Downey, Jr. (Homem de Ferro), Chris Hemsworth (Thor), Tom Hiddleston (Loki), Chris Evans (Capitão América) e Samuel L. Jackson (Nick Fury). Sem saber se a Viúva Negra estava no filme, mas querendo uma personagem feminina na equipe, Whedon escreveria várias cenas para a Vespa, que teria de modificar quando Scarlett Johansson foi confirmada no final de 2010. O Hulk seria confirmado no filme logo após a Marvel fechar contrato com o ator Mark Ruffalo, também em 2010. Feige declararia que a troca se deveria ao fato de que a Marvel estava procurando atores "que interpretassem seus papéis icônicos com paixão" e "estivessem dispostos a trabalhar em equipe com seus co-astros no filme", e que Ruffalo, ao contrário de Edward Norton, que havia interpretado Bruce Banner em O Incrível Hulk, estaria disposto a essas duas coisas; a assessoria de Norton não gostaria da declaração, dizendo que ela dava a entender que Norton não era profissional, e, pouco tempo depois, Norton declararia que a decisão de não repetir o papel foi dele, que procurava uma maior diversidade em sua carreira.

Outros atores confirmados ainda em 2010 seriam Jeremy Renner (Gavião Arqueiro) e Clark Gregg (Phil Coulson); Paul Bettany (Jarvis), Stellan Skarsgård (Dr. Erik Selvig), Maximiliano Hernández (Jasper Sitwell) e Gwyneth Paltrow (Pepper Potts) seriam confirmados apenas em 2011, com Paltrow sendo praticamente uma exigência de Downey - até então, Whedon não iria usar nenhum personagem dos elencos de apoio dos heróis, para criar uma sensação de isolamento e fazer com que eles funcionassem melhor como equipe. O principal personagem novo do elenco seria a agente da S.H.I.E.L.D. Maria Hill, interpretada por Cobie Smulders. Alexis Denisof, ator habitual nos trabalhos de Whedon, interpretaria o Outro, o representante dos Chitauri que negocia com Loki. Stan Lee, como não poderia deixar de ser, faz uma participação, dessa vez no papel de um cidadão entrevistado sobre a luta dos Vingadores com os Chitauri.

No filme, Loki negocia com os Chitauri e, em troca de entregar aos alienígenas o Tesseract, receberá um exército com o qual será capaz de conquistar a Terra, o que pretende fazer para se vingar da derrota sofrida para Thor. Ele recebe dos alienígenas um cetro com uma das Joias do Infinito na ponta (embora não fique claro se ele sabe que se trata de uma delas ou não), com o qual é capaz de controlar mentalmente qualquer pessoa. Ele o usa para controlar o Dr. Selvig e o Gavião Arqueiro, que trabalharão para construir uma máquina capaz de gerar um portal que permitirá aos Chitauri chegar a nosso planeta. Para impedi-lo, Fury mobiliza os agentes da S.H.I.E.L.D. para encontrar os heróis já catalogados por sua Iniciativa Vingadores: enquanto ele mesmo vai falar com o Capitão América, Coulson tenta convencer o Homem de Ferro, e a Viúva Negra parte em busca do Hulk. Thor, que vem à Terra à procura do irmão, acaba se unindo ao grupo - mas não sem antes passar por um mal-entendido.

Uma curiosidade sobre as filmagens foi que o diretor de fotografia, Seamus McGarvey, optaria por filmar com um aspecto de tela de 1,85:1. Isso foi curioso porque filmes de ação, atualmente, usam proporções mais retangulares, como 2,35:1 ou 2,40:1 - se você não está entendendo nada, esses números denotam a relação entre a largura e a altura da tela, ou seja, numa proporção de 2,35:1, a medida da largura é igual a 2,35 vezes a da altura, ou seja, se a altura é de 5 metros, a largura é de 11,75 m. McGarvey optaria pela 1,85:1 devida à diferença de altura entre os personagens do grupo - o Hulk é maior que o Capitão América, que é maior que a Viúva Negra - e essa proporção permitiria que o grupo ficasse mais compacto na tela; além disso, como a sequência final seria uma luta em meio aos arranha-céus de Nova Iorque, essa proporção permitiria um melhor foco nas lutas, sem que o espectador se dispersasse ao olhar para diversos elementos.

A cena pós-créditos, na qual os heróis comem shawarma (um prato típico da culinária do Oriente Médio, hoje presente como comida de rua em várias cidades do mundo) após a batalha, seria adicionada dias após o fim das filmagens, com todos concordando em retornar ao set para participar - Evans, inclusive, havia deixado crescer a barba para um novo trabalho, e teve de cobri-la com látex cor de pele. Whedon pensaria na cena somente após a edição, e tiraria inspiração do ocorrido após as filmagens de um episódio extremamente emotivo da série Angel, quando ele, Denisof e a atriz Amy Acker saíram para beber e relaxar, mas, de tão esgotados pelas gravações, ficaram apenas sentados olhando uns para a cara dos outros, sem conseguir conversar.

Um total de 14 empresas de efeitos especiais trabalharam no filme, com os principais ficando a cargo da Industrial Light & Magic, como a armadura do Homem de Ferro, o Hulk e o aeroporta-aviões da S.H.I.E.L.D. Para criar o Hulk, a ILM usou as mais modernas técnicas de captura de movimentos, com o próprio Ruffalo usando a roupa de captura - e um "chapéu" de látex no formato do busto do Hulk, para ficar da mesma altura do personagem como referência para os demais atores e os cinegrafistas. A aparência do Hulk também seria inspirada na do ator, com elementos como o cabelo, os olhos e até os dentes do Gigante Esmeralda sendo idênticos aos de Ruffalo, mas em proporções maiores. Ruffalo também faria a voz do Hulk, neste e em todos os filmes subsequentes nos quais o personagem aparecesse, substituindo Lou Ferrigno, a voz do Hulk em filmes desde a década de 1970.

A ILM também recriaria digitalmente uma área de quarenta quarteirões da cidade de Nova Iorque, usando como base filmagens aéreas realizadas ao longo de três dias e fotografias tiradas ao longo de oito semanas; o motivo foi que seria muito mais fácil inserir elementos como o dano causado pelos Chitauri - e os próprios Chitauri - na versão digital do que na filmada. A Marvel chegou a fechar um acordo com a Sony para a inclusão da torre da Oscorp nessa versão digital da cidade, para dar entender que O Espetacular Homem-Aranha também era ambientado no MCU, mas o acordo só foi efetivamente fechado quando o trabalho da ILM já estava quase concluído, o que tornou a inclusão impossível - e, olhando em retrospecto, talvez tenha sido melhor assim.

Os Vingadores estrearia nos cinemas em 11 abril de 2012, causando muita confusão com seu título: segundo a Marvel, o título em inglês é apenas The Avengers, mas, devido à forma como ele aparece no filme, muitas fontes o citam como sendo Marvel's The Avenegers. Não ajudou em nada o fato de que, no Reino Unido, já existia uma série chamada The Avengers, que ganhou um filme para o cinema em 1998; para evitar confusão, a Marvel aceitaria que, no Reino Unido e Irlanda, o filme se chamasse Avengers Assemble (a frase falada nos quadrinhos pelo líder da equipe, normalmente o Capitão América, quando eles vão entrar em ação, traduzida no Brasil para "avante Vingadores"), mas ele acabaria registrado nos órgãos de controle desses dois países como Marvel Avengers Assemble - e referenciado nos jornais de lá, na época, como Marvel's Avengers Assemble. Nem nós aqui no Brasil escapamos da confusão: oficialmente, o título do filme em português brasileiro é Os Vingadores, com artigo, mas muitos se referem a ele apenas como Vingadores, e, na época do lançamento nos cinemas, toda a campanha promocional mostrava o título como sendo, acreditem ou não, The Avengers: Os Vingadores.

Seja como for, o título não impediu que o filme fosse um enorme sucesso de crítica e público: com orçamento de 220 milhões de dólares, renderia 623,4 milhões apenas nos Estados Unidos, e nada menos que 1,519 bilhão de dólares no mundo inteiro, o que fez com que ele se tornasse o terceiro filme de maior bilheteria mundial até então (atrás de Avatar e Titanic) e quebrasse vários recordes nos Estados Unidos, como o de maior bilheteria no primeiro fim de semana, maior bilheteria na primeira semana, e menor tempo em cartaz para alcançar 500 milhões de dólares na bilheteria. A crítica também foi extremamente favorável, elogiando especialmente a performance de Ruffalo e o desenvolvimento dos personagens. Os Vingadores seria indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais, mas perderia para As Aventuras de Pi.

Assim como ocorreu com os dois filmes anteriores, o Blu-ray de Os Vingadores contaria com um curta exclusivo, dirigido por Louis D'Esposito, vice-presidente dos Marvel Studios, e estrelado por Jesse Bradford e Lizzy Caplan como Bennie e Claire (nomes inspirados em Bonnie e Clyde, mas com os gêneros invertidos), um casal em sérias dificuldades financeiras que encontra uma arma Chitauri perdida após a batalha, e decide usá-la para assaltar bancos, sendo perseguidos pelos agentes da S.H.I.E.L.D. Sitwell (Hernández) e Blake (Titus Welliver). Esse curta inspiraria a criação da série para a TV Agents of S.H.I.E.L.D., que estrearia em setembro de 2013. Outro curta dirigido por D'Esposito, incluído como extra no Blu-ray de Homem de Ferro 3, daria origem à série Agent Carter, que estrearia em janeiro de 2015; nele, Hayley Atwell retorna ao papel de Peggy Carter, que, um ano após o desaparecimento do Capitão América, trabalha na organização que viria a se tornar a S.H.I.E.L.D., e, insatisfeita por fazer apenas trabalho burocrático, decide investigar por conta própria o vilão Zodiáco, para provar que pode ser uma agente de campo. O curta conta ainda com a participação de Dominic Cooper como Howard Stark, Neal McDonough como Dum Dum Dugan, Bradley Whitford como o agente John Flynn, chefe de Carter, e Shane Black como a voz do Zodíaco.

Os Vingadores encerraria a chamada Fase 1, que serviu para apresentar os principais personagens do MCU. A partir do próximo filme da série, começaria a Fase 2, que traria profundas mudanças ao Universo Marvel dos cinemas.

Homem de Ferro 3
Iron Man 3
2013

Desde o início, estava previsto que Homem de Ferro seria uma trilogia. Tendo os dois primeiros filmes sendo lançados na Fase 1, o terceiro seria, então, a escolha óbvia para começar a Fase 2. Havia, ainda, entretanto, um percalço a ser superado: ao se envolver com Magic Kingdom, um filme da Disney no qual os bonecos da Disneylândia ganham vida ao anoitecer, que jamais saiu da pré-produção, Jon Favreau teve de abrir mão de dirigir não só Os Vingadores, mas também Homem de Ferro 3, ficando apenas como produtor executivo de ambos os filmes. Quando soube que a Marvel precisaria de um novo diretor, Downey indicou Shane Black, que havia escrito e dirigido um dos maiores sucessos do ator, Beijos e Tiros, e dado importantes sugestões a Favreau durante a pré-produção de Homem de Ferro. A Marvel começaria a negociar com Black em fevereiro de 2011, e um entrave nas negociações seria que ele faria questão não só de dirigir, mas também de escrever o roteiro do filme. Em abril, ambas as partes finalmente chegariam a um acordo, com Black concordando que Drew Pearce, que a Marvel havia contratado para escrever um filme dos Fugitivos (que também jamais se concretizaria) co-escreveria o roteiro.

Desde o início, Black declararia que seu filme não seria sobre "dois homens de armadura se enfrentando", e sim um thriller ao estilo de Tom Clancy, com Tony Stark enfrentando "vilões do mundo real". Pearce também declararia que eles evitariam incluir magia e elementos cósmicos, fazendo um filme mais "pé no chão" do que Os Vingadores. Ambos acabariam se inspirando na saga Extremis, publicada nos quadrinhos entre 2005 e 2006, escrita por Warren Ellis. Em uma decisão controversa, eles fariam referências a personagens dos quadrinhos, mas usando personagens no filme sem qualquer relação com eles, como Eric Savin, que nos quadrinhos é o ciborgue Sangue-Frio, mas no filme é o braço-direito do vilão; Jack Taggart, que nos quadrinhos é o vilão Poder de Fogo, mas no filme é um ex-soldado viciado no Extremis; Ellen Brandt, que nos quadrinhos é a ex-esposa do Homem-Coisa, mas no filme é uma veterana de guerra que se torna assassina de aluguel; e, especialmente, o Patriota de Ferro, que, nos quadrinhos, é o vilão Norman Osborn vestindo uma armadura modificada do Homem de Ferro e comandando uma versão maligna dos Vingadores, mas, no filme, é o nome que Rhodes recebe ao usar uma armadura sancionada pelo governo dos Estados Unidos.

A decisão mais controversa de todas, entretanto, envolveria o Mandarim. Nos quadrinhos, o Mandarim, arqui-inimigo do Homem de Ferro, é um empresário chinês descendente de Genghis Khan, cientista brilhante e exímio artista marcial, cuja marca registrada são seus dez anéis "mágicos" (na verdade criados com a ajuda de tecnologia alienígena), cada um com um superpoder diferente - um lança um raio congelante, outro permite que o vilão controle alguém mentalmente, outro cria uma área de escuridão absoluta, e assim por diante. Favreau achou que o Mandarim não seria um vilão adequado para o primeiro filme, mas quis que ele fosse uma "presença maligna", que seria revelada na conclusão da trilogia; para isso, seria criado o grupo terrorista Dez Anéis, uma alusão ao vilão, que aparentemente estava por trás do sequestro de Stark. Black e Pearce ainda queriam usar o Mandarim no filme, mas achavam que um chinês com dez anéis mágicos não se encaixava com o que estavam planejando, então, tomariam uma decisão ousada: um dia, enquanto discutiam detalhes do roteiro, Pearce sugeriria "e se o Mandarim fosse uma farsa?", ao que Black responderia "e se ele fosse um ator?", com Pearce completando "e se ele fosse um ator britânico ruim?". Gostando da ideia, eles criariam o personagem Trevor Slattery, um ator britânico fracassado contratado para posar como Mandarim pelo verdadeiro vilão do filme. Embora esse plot twist seja uma das partes mais memoráveis do filme (Nota do Guil: eu, enquanto fã do Homem de Ferro desde a infância, achei que foi o melhor momento do filme, adorei a decisão, e acho que um Mandarim fiel aos quadrinhos não combinaria não só com o filme, mas com o MCU como um todo), ele causaria revolta entre boa parte dos espectadores, e costuma ser apontado como um dos principais fatores para um suposto insucesso do filme.

Black e Pearce originalmente queriam mais um plot twist, o de que a Dra. Maya Hansen, uma dos co-criadores do Extremis, fosse a verdadeira vilã do filme; por incrível que pareça, isso foi vetado pela Disney, que achou que o filme perderia lucro em merchandising caso tivesse uma vilã mulher. O cargo de vilão, então, ficaria com Aldrich Killian, o outro co-criador do Extremis, e presidente e fundador da Ideias Mecânicas Avançadas - outra referência cruzada com os quadrinhos, onde a IMA é uma organização terrorista global que tenta conquistar o mundo usando tecnologia, enquanto no filme é uma espécie de companhia farmacêutica de luxo. O Extremis, no filme, de forma semelhante aos quadrinhos, é um vírus capaz de regenerar qualquer dano causado ao corpo humano, originalmente criado para ser usado por militares em tempos de guerra; como efeito colateral, porém, ele gera um calor intenso, e pode transformar seus infectados em bombas humanas - além de causar dependência. Killian planeja usar o Extremis para causar caos, colocando a culpa no Mandarim e nos Dez Anéis, vindo então com sua IMA para repará-lo, dominando o planeta no processo.

Enquanto isso, Stark está sofrendo de estresse pós-traumático após a batalha contra os Chitauri, se sentindo incapaz de proteger o mundo de ameaças de escala cósmica; como fuga, ele constrói cada vez mais armaduras, cada uma com uma capacidade diferente, enquanto vê seu relacionamento com Pepper se deteriorar. Quando "o Mandarim" ataca e destrói sua casa, ele usa uma dessas armaduras para fugir para o mais longe possível, no caso, a zona rural do Tennessee, onde relutantemente faz amizade com Harley Keener, um menino de dez anos que o ajuda a voltar a si. O que será extremamente necessário, pois, enquanto Stark está no exílio, uma série de atentados a bomba atribuídos ao grupo terrorista Dez Anéis devasta os Estados Unidos, e Rhodes, usando a armadura do Patriota de Ferro, não consegue ser capaz de detê-los sozinho.

Homem de Ferro 3 é ambientado no Natal - assim como outro filme escrito por Black, Máquina Mortífera. Segundo Black, o Natal é a época ideal para se ambientar um filme caso você queira colocar personagens em situações de solidão para depois descobrirem que não estão tão sozinhos assim; além disso, Keener funcionaria como uma boa versão do Fantasma do Natal Passado de Stark. Black chegaria a considerar abrir o filme com um flashback da infância de Stark, para mostrar como ele e Keener eram parecidos, mas depois desistiria. Ele manteria sua decisão, entretanto, de que Stark passaria a maior parte do filme sem usar sua armadura, e esse fato, assim como o "Mandarim falso" seria severamente criticado por grande parte do público, que imaginava que Stark fosse usar todas as novas armaduras que criou enquanto estava em depressão.

Outra curiosidade sobre o filme é que ele tem duas versões, a original, chamada de "internacional", e outra distribuída apenas na China - editada porque a companhia norte-americana DMG Entertainment, que distribui filmes na China (e distribuiu Homem de Ferro 3 lá, no lugar da Disney), contribuiu financeiramente para a produção (com uma quantia não especificada, mas, segundo boatos, polpuda) em troca dessa versão. A versão chinesa é só quatro minutos mais longa que a original, mas conta com várias cenas diferentes, contando não só com vários produtos chineses em destaque, mas também com uma participação maior do ator Wang Xueqi, que interpreta o médico chinês Dr. Wu, e na versão internacional aparece em apenas alguns minutos, bem como da atriz, cantora, modelo e apresentadora de TV chinesa Fan Bingbing, que sequer aparece na versão internacional, como sua assistente. Em ambas as versões, é o Dr. Wu quem, na cena final, remove os estilhaços do peito de Stark, fazendo com que ele não precise mais do eletroimã para sobreviver, o que permite que ele concentre mais energia em sua armadura, aumentando suas habilidades como Homem de Ferro.

Downey, Paltrow, Cheadle, Bettany e Favreau seriam os únicos atores "repetidos" do elenco - sem contar Toub, que faria uma pequena participação em um flashback, Ruffalo, que apareceria na cena pós-créditos, e Stan Lee, que dessa vez seria um jurado em um concurso de beleza. No início da pré-produção, surgiriam boatos de que Smulders interpretaria Maria Hill mais uma vez, mas a própria atriz os desmentiria. O primeiro ator novo do elenco a ser contratado seria Ben Kingsley, no papel do Mandarim - ou melhor, de Trevor Slattery. Uma semana depois, Guy Pearce seria contratado para o papel de Aldrich Killian, e o astro chinês Andy Lau começaria a negociar para interpretar o Dr. Wu; devido a um conflito de agenda, o papel acabaria ficando com Xueqi. Outra que teria um conflito de agenda seria Jessica Chastain, a preferida de Black para o papel de Maya Hansen, que acabaria ficando com Rebecca Hall. O papel de Harley Keener ficaria com Ty Simpkins, que, curiosamente, assinaria contrato para três filmes, embora só viesse a atuar nesse e em uma breve cena em um dos outros. James Badge Dale interpretaria Eric Savin, Ashley Hamilton apareceria como Jack Taggart, Stéphanie Szostak ficaria com o papel de Ellen Brandt, Dale Dickey participaria como a mãe de um soldado exposto ao Extremis e acusado de terrorismo, Miguel Ferrer seria o Vice-Presidente dos Estados Unidos, e William Sadler interpretaria o Presidente, chamado de Warren Ellis em homenagem ao autor de Extremis.

Ao todo, 17 empresas de efeitos especiais trabalhariam no filme, a maioria delas ficando responsáveis apenas pelas muitas armaduras que aparecem na tela. Os efeitos do Extremis ficariam a cargo da Legacy Effects, que se inspiraria em vídeos acelerados de decomposição de frutas, na aurora boreal e em imagens de tomografias computadorizadas. Em muitas das cenas, o Homem de Ferro seria inserido sobre um dublê, sendo apenas dublado por Downey, o que foi feito para não atrasar as filmagens após o ator torcer o tornozelo em uma sequência de ação. Uma das cenas mais impressionantes do filme, na qual o Homem de Ferro resgata sobreviventes de uma explosão no avião presidencial em pleno ar, não foi gravada usado um chroma key, e sim literalmente em pleno ar, com a participação da equipe de paraquedistas oficial da Red Bull. Os únicos elementos digitais na cena são os destroços do avião, o litoral da Flórida ao fundo e o Homem de Ferro, inserido digitalmente sobre um dos paraquedistas.

Homem de Ferro 3 estrearia em 3 de maio de 2013. Hoje, ele costuma ser apontado como um dos filmes mais fracos do MCU, mas, na época, foi um enorme sucesso de público e crítica: com orçamento de aproximadamente 200 milhões de dólares (o valor exato não foi divulgado por causa da participação chinesa), renderia, apenas nos Estados Unidos, 409 milhões, e, somando o mundo inteiro, 1,215 bilhão de dólares, se tornando o sexto filme da Disney e segundo do MCU a ultrapassar um bilhão. O filme seria o quinto de maior bilheteria em todos os tempos até então, e o segundo de maior bilheteria em 2013, atrás apenas de Frozen, que também é da Disney, além de o segundo de maior bilheteria no primeiro fim de semana até então, atrás apenas de Os Vingadores. A crítica também seria extremamente favorável, elogiando a performance de Downey e considerando o filme "excelente entretenimento e um forte adição ao cânone da Marvel". Para a maior parte dos críticos, Homem de Ferro 3 seria o melhor da trilogia; as poucas críticas negativas diriam respeito às motivações pouco claras e pouco convincentes dos vilões, e ao relacionamento de Stark com Keener, que termina abruptamente. O filme seria indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais, mas perderia para Gravidade.

Homem de Ferro 3 também geraria um certo bafafá por ser o último filme do contrato original de Downey. Durante meses, seria especulado que ele não aceitaria renová-lo, nem mesmo para um segundo filme dos Vingadores; quando ficou claro que ele estaria na segunda aventura dos Heróis Mais Poderosos da Terra, começariam as especulações sobre se haveria ou não um Homem de Ferro 4. A Marvel, entretanto, decidiria seguir em uma direção diferente, e o Homem de Ferro, desde então, acabaria mesmo só aparecendo nos filmes dos outros heróis.

Para terminar, em fevereiro de 2014, a Marvel lançaria um curta, como extra no Blu-ray de Thor: O Mundo Sombrio, escrito e dirigido por Pearce e estrelado por Kingsley e Sam Rockwell, no qual fica subentendido que existe um Mandarim verdadeiro, que não ficou satisfeito por ter sido imitado por Slattery. O curta causaria muita controvérsia, com seus críticos considerando que a Marvel teria se dobrado às reclamações dos fãs, e que a emenda teria ficado pior que o soneto. Seja como for, o assunto parece ter sido esquecido, já que nem Slattery, nem o suposto Mandarim verdadeiro voltariam a dar as caras no MCU - até hoje, já que, agora, começam a surgir boatos de que eles estariam no futuro filme de Shang-Chi. Coincidência ou não, esse seria o último dos curtas que a Marvel produziria para incluir em seus Blu-rays.

Thor: O Mundo Sombrio
Thor: The Dark World
2013

Em 2011, antes mesmo da estreia de Thor, Feige anunciaria, em uma entrevista, que, após o filme dos Vingadores, Thor ganharia um segundo filme. Kenneth Branagh, diretor do primeiro, se diria surpreso com tal declaração, e diria que talvez não retornasse, por não querer emendar um projeto no outro. De fato, pouco após a estreia de Thor, a Disney anunciaria que um segundo filme do herói seria lançado em 2013, e Branagh anunciaria que não retornaria como diretor. Os Marvel Studios, então, começariam a negociar com Brian Kirk, mais famoso por ter dirigido episódios de séries de TV como Game of Thrones e The Tudors do que por seus trabalhos no cinema, e chamaria Don Payne, um dos roteiristas do primeiro filme, para escrever o segundo. Kirk acabaria não podendo aceitar por "razões contratuais", e a Marvel começaria a negociar com Patty Jenkins, de Monster: Desejo Assassino.

Em dezembro, entretanto, Jenkins deixaria o projeto alegando diferenças criativas - ela queria fazer um filme inspirado em Romeu e Julieta, com a família de Thor sendo radicalmente contra seu romance com Jane, ao ponto de ela estar em perigo na Terra e ele ser impedido de salvá-la por Odin, o que não foi aprovado pela cúpula dos Marvel Studios - e a Marvel retornaria à sua ideia original, convidando Alan Taylor, diretor de episódios de séries como Game of Thrones, Mad Men e Boardwalk Empire. Robert Rodat também seria contratado, para reescrever o roteiro de Payne e torná-lo mais "épico", com mais referências à fantasia e aos vikings e menos a ficção científica. Ainda durante a pré-produção, entretanto, todo o escrito por Payne e Rodat seria descartado, com um novo roteiro escrito por Christopher Yost, Stephen McFeely e Christopher Markus se tornando a versão final.

Do elenco do primeiro filme, retornariam Hemsworth, Portman, Hiddleston, Hopkins, Skarsgård, Dennings, Elba, Stevenson, Alexander e Russo. Joshua Dallas não pôde reprisar seu papel como Fandral por já estar comprometido com as filmagens de Once Upon a Time, sendo substituído por Zachary Levi. Mads Mikkelsen, o preferido de Taylor para viver o vilão Malekith, também teve de recusar, por compromissos assumidos com a série Hannibal, com o papel do vilão ficando com Christopher Eccleston. O braço-direito de Malekith, Algrim, que acaba se transformando no vilão Kurse, ficaria a cargo de outro ator britânico, Adewale Akinnuoye-Agbaje. Dentre os novos asgardianos, Alice Krige faria a médica Eir, Clive Russell seria Tyr, e Tony Curran interpretaria Bor, pai de Odin; Jonathan Howard seria Ian Boothby, o estagiário de Darcy, e Chris O'Dowd faria Richard, um candidato a namorado de Jane. Na cena pós-créditos, Benicio del Toro interpretaria o Colecionador, e Ophelia Lovibond seria sua assistente Carina. Stan Lee faria uma participação como um paciente em um hospício. Chris Evans faria uma participação especial relâmpago.

Muitas cenas do filme seriam reescritas ou refilmadas durante a produção, o que daria origem a comentários de que a Marvel não estava satisfeita com o filme, principalmente porque elas seriam revisadas por Joss Whedon, que viajaria à Inglaterra, onde Thor: O Mundo Sombrio estava sendo filmado, só opra isso. Taylor negaria, dizendo que as refilmagens envolviam Loki, e ocorreram porque, após gravar as cenas originais, a equipe achou que elas ficariam melhores se filmadas de outra forma, para aproveitar melhor o personagem, mas que as cenas reescritas não estavam se encaixando direito com o passado e o futuro do MCU, por isso e revisão de Whedon. Além de na Inglaterra, onde é majoritariamente ambientado, o filme teria várias cenas filmadas na Islândia, onde Taylor já estava acostumado a gravar Game of Thrones, em lugares com nomes legais como Dómadalur, Skógafoss, Fjaðrárgljúfur e Skeiðarársandur. Taylor também queria que Asgard tivesse um visual mais realístico do que no primeiro filme, para o que foi usada a mesma técnica de Os Vingadores: a equipe de filmagens faria várias tomadas aéreas do litoral da Noruega, e os prédios e demais elementos de Asgard seriam inseridos digitalmente sobre as imagens reais pela empresa Double Negative, uma das sete empresas de efeitos especiais que trabalhariam no filme. Assim como Homem de Ferro 3, Thor: O Mundo Sombrio teria uma cena que todo mundo achou que foi criada digitalmente, mas não foi: a do caminhão flutuante, que usou um macaco hidráulico eletrônico especial programado para mudar de altura e velocidade aleatoriamente.

Thor: O Mundo Sombrio estrearia em 8 de novembro de 2013. Com orçamento de 170 milhões de dólares, renderia 206 milhões nos Estados Unidos e quase 645 milhões no mundo inteiro, superando a renda do primeiro filme. A crítica ficaria dividida, com alguns elogiando principalmente as atuações de Hemsworth e Hiddleston, mas com a maioria considerando que este seria o mais fraco filme do MCU.

O filme começa com uma cena criada em computação gráfica com a adição dos atores envolvidos, que conta como, milênios atrás, Bor impediu que o elfo negro Malekith usasse uma substância conhecida como Éter para dominar os Nove Reinos, com o vilão e seus asseclas ficando em animação suspensa no Reino de Svartalfheim após sua derrota. Na época atual, uma convergência planetária abre vários portais entre os reinos, e faz com que o Éter, acidentalmente, vá parar dentro do corpo de Jane, que é levada por Thor a Asgard. A convergência também desperta Malekith, que decide aproveitar a oportunidade para tentar mais uma vez dominar os Nove Reinos, tendo de ser impedido pelo herói - principalmente porque ele não planeja ser lá muito cuidadoso para remover o Éter de dentro do corpo de sua namorada.

Série Universo Cinematográfico Marvel

•Os Vingadores
•Homem de Ferro 3
•Thor: O Mundo Sombrio

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