domingo, 4 de agosto de 2019

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Damas

Há algumas semanas, eu fiz aqui um post sobre xadrez, porque eu nunca tinha falado sobre xadrez ou damas. Hoje é o dia de completar essa dupla. Hoje é dia de damas no átomo!

O jogo de damas surgiu na França, com sua primeira menção escrita datando do ano de 1100. Ele não foi criado do zero, sendo uma adaptação de um jogo anterior chamado alquerque, que, por sua vez, era o nome em espanhol de um jogo árabe chamado al-qirq. O al-qirq, cuja primeira menção escrita data do século X, e foi levado para a Espanha pelos mouros, usava um tabuleiro de 25 casas, dispostas em cinco linhas e cinco colunas de cinco casas cada, e cada jogador usava doze peças; o jogo de damas surgiu quando os jogadores franceses, sem acesso ao tabuleiro e às peças do alquerque, começaram a usar peças de gamão e um tabuleiro de xadrez, mantendo as mesmas regras. No ano de 1243, seria introduzida a regra que permite a formação das peças conhecidas como damas, que teriam seu nome inspirado no da peça do xadrez, e acabariam dando nome ao jogo na maioria dos idiomas - sendo a mais notável exceção o inglês, no qual o jogo, em inglês britânico, se chama draughts, palavra que caiu em desuso no século XX e significava "movimentos", e, em inglês norte-americano, checkers, que significa "quadriculados".

O jogo de damas possui mais de cinquenta variações, todas com as mesmas regras principais, mas cada uma com pequenas mudanças em regras específicas. Cada versão costuma ser conhecida como "Regras X", sendo X o gentílico do país onde aquela variação foi criada - exceto uma, as Regras Internacionais, criadas na França para tentar unificar o jogo em todo o planeta, o que acabou não dando tão certo quanto seus criadores esperavam. A versão jogada no Brasil é uma versão própria criada por aqui, e, portanto, conhecida como Regras Brasileiras. Eu vou explicar o jogo usando as Regras Brasileiras, e depois falar rapidamente sobre algumas das demais.

De acordo com as Regras Brasileiras, o jogo de damas usa o mesmo tabuleiro do xadrez, com 64 casas, dispostas em oito linhas e oito colunas, com as casas se alternando entre claras e escuras. A disposição correta do tabuleiro é com uma casa escura na direção da mão esquerda e uma casa clara na direção da mão direita de cada jogador. Todas as variações do jogo de damas usam o mesmo tipo de peças, em formato de disco, com diâmetro equivalente ao tamanho da casa do tabuleiro ou levemente menor, frequentemente decorada com um símbolo qualquer, normalmente uma coroa, em sua parte superior. Nas Regras Brasileiras, cada jogador usa 12 peças; normalmente, um jogador usa peças de cor branca e o outro usa peças de cor preta, embora em jogos destinados a crianças as peças possam ser de cores diferentes. As peças podem ocupar e se mover apenas pelas casas escuras do tabuleiro; no início do jogo, elas são dispostas nas três primeiras linhas de cada jogador (usando a nomenclatura do xadrez, nas linhas 1, 2 e 3 para quem estiver com as brancas, linhas 6, 7 e 8 para quem estiver com as pretas).

Nas Regras Brasileiras, quem joga com as brancas começa. Em sua vez de jogar, cada jogador pode mover uma única peça, tirando-a de sua casa e fazendo-a ocupar uma casa escura adjacente na qual não haja nenhuma outra peça. Se uma casa escura adjacente tiver uma peça do adversário, mas a casa seguinte na mesma direção estiver vazia, a peça do jogador poderá "pular" por cima da peça do adversário, terminando seu movimento na casa seguinte; quando isso ocorre, a peça do adversário é capturada (ou, na linguagem popular, "comida"), sendo retirada do jogo. Cada peça só pode se movimentar para a frente - ou seja, na direção do adversário - exceto se for capturar uma peça do adversário, quando poderá se mover para trás. Capturar uma peça é obrigatório, ou seja, se houver a possibilidade de capturar uma peça do adversário, o jogador não poderá mover outra de suas peças que não seja aquela em condições de capturar - se houver mais de uma peça em condições de capturar uma do adversário, ele deverá escolher uma e não mover a outra.

Cada peça só pode andar uma única casa antes de o jogador passar a vez ao adversário, com duas exceções: se, após realizar a captura de uma peça do adversário, a peça do jogador for parar em uma casa na qual a captura de outra peça do adversário é possível, ele deverá proceder com essa captura, começando o que é conhecido como sequência, até que pare em uma casa na qual não há mais a possibilidade de capturar uma peça adversária. As peças capturadas não precisam estar todas na mesma diagonal, com a peça que realiza as capturas podendo se mover ziguezagueando pelo tabuleiro, para a frente e para trás, até parar em uma casa na qual a captura não é mais possível.

Além disso, se um jogador conseguir levar uma de suas peças até a última linha do lado oposto do tabuleiro (até a linha 8 para quem estiver com as brancas, até a linha 1 para quem estiver com as pretas), ele ganha o direito de "formar dama". Para isso, ele coloca uma de suas peças capturadas (ou uma peça extra, no raro evento de não haver nenhuma capturada) sobre a peça que alcançou a linha, efetivamente criando uma peça de dois andares, conhecida em português como dama - mas em inglês como king, "rei"; como curiosidade, vale citar que, em inglês, as peças são conhecidas como men, "homens". A dama pode se mover quantas casas quiser na mesma diagonal, e pode fazer sequências normalmente, mudando de direção para capturar outra peça do adversário após a anterior, mas não pode pular por cima das peças de seu próprio jogador, nem capturar duas peças oponentes na mesma diagonal - uma dama pode parar em qualquer casa após uma peça capturada, não precisando parar na imediatamente adjacente, mas, se houver duas peças oponentes na mesma diagonal, deve obrigatoriamente parar antes da segunda, e não pode capturá-la em sequência. Vale dizer que uma peça comum que alcance a primeira linha como parte de uma sequência - ou seja, que ainda pode capturar mais uma peça após chegar na primeira linha - não vira dama, somente uma que termine seu movimento lá, não importando se foi um movimento comum, de captura, ou o último de uma sequência. Uma dama pode ser capturada normalmente, inclusive por uma peça comum.

Os jogadores se alternam nos movimentos até que um deles tenha todas as suas peças capturadas, ou, mais raramente, caso não possa mover nenhuma delas em sua vez - porque todas as casas para as quais ele poderia se mover já estão ocupadas por peças do adversário ou pelas suas próprias. Quando isso acontece, o jogador sem peças ou sem movimentos perde o jogo, e o outro é declarado vencedor. É possível, porém muito raro, o jogo terminar empatado, caso ambos se vejam em uma situação na qual não poderão nem capturar nem bloquear as peças restantes do adversário - caso cada jogador só tenha uma única peça, por exemplo.

As Regras Brasileiras são quase idênticas às Regras Internacionais, com apenas uma diferença: nas Regras Internacionais, é usado um tabuleiro de 100 casas, dispostas em 10 linhas e 10 colunas, e cada jogador possui 20 peças ao invés de 12, que começam o jogo ocupando as quatro primeiras linhas de cada jogador. Outras duas variações usam esse tabuleiro de 100 casas e as 20 peças: as Regras Ganesas e as Regras Frísias (criadas na região da Frísia, na Holanda). As Regras Ganesas usam o tabuleiro com uma casa clara à esquerda e uma escura à direita, e possuem duas outras diferenças: primeiro, se, durante uma sequência, um jogador que estiver movendo uma dama não perceber que uma captura é possível, e passar a vez antes de fazê-la, a dama "desvira", voltando a ser uma peça comum; segundo, um jogador que fique com uma única peça perde o jogo automaticamente, independentemente de se poderá capturar as do adversário na próxima jogada ou não. Já nas Regras Frísias, as capturas também podem ser feitas na horizontal e na vertical - efetivamente pulando três casas, sendo duas claras e a escura ocupada pelo adversário.

Já as Regras Russas são quase idênticas às Regras Brasileiras, inclusive no tabuleiro e número de peças, mas têm uma diferença importante: uma peça que alcance a primeira linha como parte de uma sequência vira dama normalmente, e pode continuar sua sequência se movendo como dama. As Regras Russas são conhecidas em russo como shashki, e possuem quatro variações próprias: na poddavki um jogador só ganha o jogo se não tiver mais nenhuma peça ou se todas as suas peças estiverem bloqueadas (ou seja, quem perde ganha e vice-versa), mas capturar as peças do oponente continua sendo obrigatório, o que leva a estratégias muito interessantes. Já na bashni, as peças capturadas não são removidas do tabuleiro, e sim colocadas sob a peça que as capturou, criando torres enormes de peças; tirando isso, as regras são as mesmas. Na Vigman, criada pelo jogador Vladimir Vigman, cada jogador usa 24 peças, 12 nas casas claras e 12 nas escuras, e duas partidas são disputadas pelos jogadores simultaneamente, uma com as peças se movendo pelas casas claras, outra com as peças se movendo pelas casas escuras. Já a curiosa 10x8 usa um tabuleiro de 80 casas, sendo 8 linhas e 10 colunas, com cada jogador usando 15 peças.

Outra variação muito curiosa são as Regras Canadenses, que também são idênticas às Regras Brasileiras, exceto por usar um tabuleiro enorme, de 144 casas, com 12 linhas e 12 colunas, e uma multidão de peças - 30 para cada jogador, que começam o jogo nas cinco primeiras linhas de cada um. Esse mesmo tabuleiro é usado pelas Regras Malaias, que têm ainda três diferenças nas regras: o jogador que começa é definido por sorteio, não sendo sempre o que controla as peças brancas; um jogador que tenha uma peça em condições de capturar uma peça adversária e não o faça, passando a vez, perde essa peça, sendo ela removida do jogo como se tivesse sido capturada; e nunca é possível para uma peça comum andar para trás, nem se for para capturar outra peça, o que torna as sequências mais raras e mais difíceis - uma dama, porém, ainda pode se mover e capturar oponentes em todas as direções. O recorde de maior tabuleiro e número de peças, porém, não pertence às Regras Canadenses, e sim às Regras Sul-Africanas, cujo tabuleiro tem 196 casas, dispostas em 14 linhas e 14 colunas, e cada jogador usa 42 peças, que começam o jogo nas seis primeiras linhas de cada jogador. Apesar desses números inflados, as Regras Sul-Africanas, nos outros quesitos, são iguais às Regras Brasileiras.

As Regras Espanholas usam o mesmo tabuleiro de 64 casas e as 12 peças por jogador que as Regras Brasileiras, mas também possuem a regra das Malaias de que nunca é permitido a uma peça comum andar para trás; além disso, o tabuleiro é usado "ao contrário", com uma casa clara na mão esquerda e uma casa escura na mão direita de cada jogador, e as peças se movendo pelas casas claras, não pelas escuras. As Regras Tailandesas usam o tabuleiro do "jeito normal", mas quem começa o jogo é o jogador que está com as pretas; uma dama, durante uma captura, deve parar imediatamente na casa adjacente à peça que capturou, mas pode capturar outra peça na mesma diagonal, desde que ela esteja no sentido contrário ao qual se moveu para capturar a anterior; e, assim como nas Regras Espanholas e Malaias, uma peça comum não pode se mover para trás nem para capturar - a principal característica das Regras Tailandesas, entretanto, é que cada jogador só tem oito peças, que começam o jogo nas suas duas primeiras filas.

Outra variação que usa o tabuleiro de 64 casas com 12 peças por jogador são as Regras Inglesas - também conhecidas como Regras Americanas, porque essa é a variação mais jogada nos Estados Unidos, e eles aparentemente não quiseram manter o nome dos colonizadores nela. As Regras Inglesas têm três diferenças fundamentais em relação às Regras Brasileiras, sendo a principal a de que as damas, assim como as peças comuns, só podem andar uma casa por jogada (exceto, evidentemente, se estiverem capturando em sequência). Assim como nas Regras Espanholas, uma peça comum jamais pode se mover para trás, nem para capturar; uma dama, contudo, pode se mover para trás e capturar para trás normalmente, sendo essa sua única vantagem. Finalmente, e talvez menos importante, começa o jogo o jogador que está com as pretas. A principal variação das Regras Inglesas são as Regras Italianas, nas quais começa o jogo quem está com as brancas e peças comuns não podem capturar damas, sendo todas as demais regras idênticas.

A variação mais curiosa de todas são as Regras Turcas, que também usam o tabuleiro de 64 casas, mas com 16 peças para cada jogador. A curiosidade fica por conta do fato de que todas as casas do tabuleiro são usadas, e não somente as escuras - os tabuleiros vendidos nos países onde essa variação é popular, inclusive, têm todas as casas da mesma cor. No início do jogo, as peças são dispostas uma ao lado da outra na segunda e terceira linha de cada jogador (linhas 2 e 3 para as brancas, 6 e 7 para as pretas), ficando as primeiras linhas (1 e 8) sem peça nenhuma. Nas Regras Turcas, as peças podem se mover para a frente, para a direita ou para a esquerda, mas nunca para trás nem na diagonal; assim como nas demais regras, cada peça só se move uma casa por vez, e, para capturar as peças oponentes, deve pular por cima delas, sendo permitidas sequências, mas não sendo permitido pular por cima das peças do próprio jogador. Uma peça pode se transformar em dama em meio a uma sequência; damas podem se mover qualquer número de casas para a frente, para trás, para esquerda ou para a direita (mas não na diagonal), e, quando vão capturar uma peça oponente, podem parar em qualquer casa vazia depois dela; damas podem fazer sequências, mas não podem retornar em sentido contrário por uma linha ou coluna na qual já capturaram uma peça, nem capturar uma segunda peça na mesma linha ou coluna na qual já capturou a primeira.

Assim como o xadrez, o jogo de damas é considerado esporte, sendo regulado pela Federação Mundial do Jogo de Damas (FMJD, da sigla em francês), fundada em 1947 pelas federações nacionais de França, Holanda, Bélgica e Suíça. Atualmente, a FMJD conta com 65 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil, e reconhece cinco variações do jogo de damas, incluindo as Regras Brasileiras. Seus principais torneios, entretanto, seguem as Regras Internacionais, que é a modalidade que a FMJD tenta incluir nas Olimpíadas, embora ainda falte um longo caminho a ser percorrido, já que, diferentemente da FIDE, ela ainda não é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional; para tentar alcançar esse passo, a FMJD é membro fundadora da AIMS, uma espécie de confederação das federações internacionais dos esportes que ainda não são reconhecidos pelo COI.

O principal torneio da FMJD é o Campeonato Mundial de Damas, que começou a ser disputado, no masculino, em 1885, organizado pela federação francesa, passando a ser organizado pela FMJD em 1948; o Mundial Feminino é realizado em uma sede diferente do masculino, e é disputado desde 1973. No Mundial são usadas as Regras Internacionais, e são disputadas três modalidades, a Clássica (desde 1885 no masculino e 1973 no feminino), a Blitz (desde 1998 no masculino e 1999 no feminino, mas sem ter sido disputado de 2002 a 2006) e a Rápida (desde 2014 no masculino e 2013 no feminino); a diferença das modalidades Rápida e Blitz para a Clássica é que na Rápida cada jogador tem 15 minutos para concluir o jogo, e na Blitz tem 5 minutos, em ambos os casos ganhando 5 segundos a mais cada vez que conclui um movimento válido, sendo usado um relógio semelhante ao do xadrez para marcar o tempo, e com um jogador que esgote totalmente seu tempo perdendo o jogo automaticamente.

A rigor, ambos os mundiais da modalidade Clássica são disputados de dois em dois anos, mas com uma fórmula de disputa curiosa: nos anos ímpares, é disputado o torneio, com a participação de todos os principais jogadores, exceto o atual campeão; o campeão do torneio, então, ganha o direito de enfrentar o atual campeão no Jogo do Título, que ocorre nos anos pares - por exemplo, nesse ano de 2019 vai ocorrer o torneio, e, em 2020, haverá o Jogo do Título, entre o vencedor do torneio de 2019 e o campeão de 2018. O atual campeão no masculino é o holandês Roel Boomstra, e no feminino é a polonesa Natalia Sadowska - curiosamente, ambos estão em seu segundo título, também tendo sido campeões em 2016 (ou seja, em 2018 só disputaram o Jogo do Título, não precisando disputar o campeonato de 2017, e já estão classificados para o Jogo do Título de 2020, não precisando disputar o torneio de 2019). Também vale citar como curiosidade que o vencedor do Jogo do Título ganha uma medalha de ouro, o perdedor ganha uma medalha de prata, e o perdedor da final do torneio ganha uma medalha de bronze. Vale citar também que o Brasil já sediou um torneio da modalidade Clássica, em 1982, em São Paulo (quando ainda não vigorava a regra de torneios em um ano e Jogos do Título no outro).

Já os Mundiais das modalidades Rápida e Blitz são disputados anualmente, em sedes separadas dos da modalidade Clássica (embora em alguns anos, para economizar, os Mundiais masculino e feminino de Blitz e de Rápida tenham sido disputados todos na mesma sede). Na Rápida, o atual campeão no masculino é o russo Alexander Baljakin, que tem dois títulos, e no feminino é a também russa Matrena Nogovitsyna, que já tem três; na Blitz, no masculino é o também russo Alexander Schwartzman, que tem nada menos que oito títulos, e no feminino é a bielorrussa Darja Fedorovich, que em 2018 ganhou seu primeiro título. Não é incomum um mesmo jogador ganhar títulos em mais de uma modalidade: Schwatzman, por exemplo, também tem dois títulos na Clássica, Nogovitsyna também tem dois na Rápida, e Zoja Golubeva, da Letônia, tem nove títulos na Clássica e três na Blitz, sendo a maior campeã em ambas essas modalidades - na Clássica Masculina, o maior campeão é Iser Kuperman, que ganhou sete títulos jogando pela União Soviética.

A FMJD também organiza dois outros campeonatos mundiais de damas. Um deles é o é o Campeonato Mundial de Damas Turcas, disputado de acordo com as Regras Turcas, anualmente desde 2014 no masculino e 2016 no feminino. O outro é o Campeonato Mundial de Damas-64, que tem esse nome porque usa variações cujos tabuleiros têm 64 casas (lembrando que o das Regras Internacionais tem 100). O Mundial de Damas-64 foi disputado pela primeira vez em 1985, usando as Regras Brasileiras; desde então, o Mundial é disputado em intervalos irregulares, algumas vezes com as Regras Brasileiras, algumas vezes com as Regras Russas (shashki). O Mundial de Damas-64 é disputado apenas no masculino, mas também é disputado nas modalidades Clássica (com 14 torneios disputados pelas Regras Brasileiras e 14 pelas Regras Russas), Rápida (desde 1998, com 4 pelas Brasileiras e 5 pelas Russas) e Blitz (desde 1993, com 7 pelas Brasileiras e 11 pelas Russas); diferentemente do que ocorre com o Mundial principal, as três modalidades compartilham a mesma sede e espaço de tempo, mas nem todas as edições do torneio contam com todas as modalidades. O Brasil já sediou o Mundial-64 9 vezes (1987 e 1989 em São Lourenço, 1993 em Águas de Lindoia, 1996 em Belo Horizonte, 1999 em São Caetano do Sul, 2002 e 2016 em São Paulo, 2004 em Ubatuba e 2008 em Recife), sempre, evidentemente, em edições disputadas de acordo com as Regras Brasileiras, e já teve um campeão mundial, Lourival Mendes França, em 1993. Como curiosidade, vale citar que outras edições disputadas com as Regras Brasileiras foram disputadas na Itália, França, Alemanha, Turquia, Ucrânia e Moldova.

A quinta variação reconhecida pela FMJD são as Regras Inglesas (ou Americanas); o principal campeonato dessa variação, entretanto, não é organizado pela FMJD, e sim por uma organização particular chamada World Checkers/Draughts Federation (WCDF), que é filiada à FMJD e se compromete a seguir todas as regras da federação internacional. O mundial da WCDF atende pelo curioso nome de World Checkers/Draughts Championship, que eu não sei como traduzir ("Campeonato Mundial de Damas/Damas" não me parece uma boa escolha), e tem um formato parecido com o do xadrez, com o atual campeão mundial podendo ser desafiado, mantendo o título se vencer o desafio - o que faz com que, em quase 180 anos de história, apenas 18 jogadores diferentes tenham sido campeões mundiais, sendo que, até 1994, todos eles foram ingleses, escoceses ou norte-americanos. Não, você não leu errado: a primeira edição do Campeonato Mundial pelas Regras Inglesas foi disputada em 1840, o que faz com que ele tenha sido o primeiro Mundial de Damas da história; até 1994 ele foi organizado pela federação inglesa, com a WCDF assumindo desde então.

Após a WCDF assumir o controle do Mundial, ela o dividiu em duas modalidades, a 3-Move e a GAYP. Na modalidade 3-Move, os jogadores não começam a partida com as peças em suas posições iniciais, e sim em posições pré-determinadas por três movimentos previamente sorteados. Já GAYP é a sigla de go as you please, algo como "jogue como quiser", que também foi o formato adotado pelo campeonato até 1994, e no qual a partida começa com as peças em suas posições iniciais. O atual campeão na 3-Move é o italiano Sergio Scarpetta, que conquistou o título em 2017 (e foi campeão da GAYP entre 2014 e 2016); na GAYP é o sul-africano Lubabalo Kondlo, que conquistou o título em 2018. Além de Inglaterra (2), Escócia (6), Estados Unidos (5), Itália (2) e África do Sul (1), somente Barbados tem um campeão mundial, Ron King, campeão na GAYP entre 1994 e 2014 (recorde de maior número de anos seguidos defendendo o título), e entre 1994 e 2002 na 3-Move.

O Mundial feminino sempre foi organizado pela WCDF, e é muito mais recente, sendo disputado na 3-Move desde 1993 e na GAYP desde 2006. Ambas as atuais campeãs são ucranianas, Tetiana Zaitseva na 3-Move, desde 2018, e Nadiya Chyzhevska na GAYP, desde 2017 (sendo que ela também foi campeã nessa modalidade entre 2013 e 2015, e na 3-Move entre 2012 e 2016). Além delas duas, só foram campeãs Amangul Durdyyeva, do Turcomenistão (entre 2007 e 2012 e entre 2016 e 2018 na 3-Move, entre 2006 e 2012 e entre 2015 e 2017 na GAYP) e a irlandesa Patricia Breen (entre 1993 e 2007 na 3-Move).

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