Eu tenho muitos amigos que adoram DS9, alguns até a ponto de elegê-la como sua série de Jornada nas Estrelas favorita. Se eu não compartilho de sua predileção, não é porque eu não goste da série, mas simplesmente porque a assisti pouco: DS9 foi a série de Jornada nas Estrelas da qual eu assisti menos episódios inteiros. Para falar a verdade, eu só me lembro de três, sendo que um é o que a Jadzia morre - até de Voyager eu devo ter assistido mais, já que eu lembro de uns cinco. Embora eu saiba que a série é bem cotada, esses três episódios e mais o monte de pedaços de outros não foram suficientes para me levar a um juízo de valor adequado - eu gostei do que vi, mas não mais do que gostei de outras coisas que vi e jamais entraram para a minha lista de favoritos. Já há algum tempo, eu cogito comprar a série em DVD, para talvez tentar finalmente assistir tudo e comprovar se é mesmo tão bom assim, mas aí eu esbarro em um outro problema: por alguma razão bizarra, a Paramount só lançou no Brasil as três primeiras temporadas, e, segundo um e-mail respondendo a uma consulta minha pelo "fale conosco", não tem planos de lançar as demais em um futuro próximo.
Por tudo isso, DS9 é um excelente candidato a post em uma série que fala de coisas que eu gosto, mas não muito. Tanto que acabou ficando com a última vaga.
Assim, a Deep Space Nine do título era uma estação espacial, originalmente construída pelos cardassianos, mas administrada conjuntamente pela Federação e pelos bajoranos, que acabaram de se libertar de séculos de ocupação cardassiana. Para comandar a estação, a Federação envia o Comandante Benjamin Sisko (Avery Brooks), um homem ressentido pela morte de sua esposa Jennifer na batalha contra os borgs ocorrida no episódio O Melhor de Dois Mundos da Nova Geração, e que até cogita pedir baixa da Frota Estelar. Sisko, porém, acaba se envolvendo mais do que gostaria com a estação ao encontrar uma fenda espacial estável que serve como ligação direta com o longínquo Quadrante Gama. O problema é que os bajoranos acreditam que a fenda espacial é, na verdade, o lar dos Profetas, seus deuses e protetores, e nomeiam Sisko seu Emissário. De caráter exemplar e forte senso do dever, ao longo da série Sisko passará de um homem triplamente ressentido - por ter de comandar uma estação espacial no fim do mundo e por ter sido eleito autoridade religiosa a contragosto, além de pela já citada morte de sua esposa - a um dos mais valiosos membros da Federação, sendo inclusive promovido a Capitão no final da terceira temporada.
Além de Sisko, a "tripulação" da Deep Space Nine ainda conta com Kira Nerys (Nana Visitor), primeira oficial bajorana, que inicialmente não gosta da ideia de ter a Federação tão perto de seu mundo, mas acaba confiando em seus colegas; Odo (Rene Aubejornois), o chefe de segurança da estação, membro da raça dos metamorfos, capaz de assumir qualquer forma que desejar; Julian Bashir (Alexander Siddig, creditado como Siddig el Fadil nas três primeiras temporadas), o médico da estação, um humano que carrega o segredo de ter sido geneticamente modificado, prática proibida há séculos na Terra; Jadzia Dax (Terry Farrell), a oficial de ciências da estação, membro da raça dos trill, composta de um hospedeiro (Jadzia) e um simbionte (Dax), sendo que os simbiontes são muito mais longevos, o que faz com que Jadzia seja o oitavo hospedeiro de Dax, com acesso às experiências de suas sete "vidas" anteriores; Miles O'Brien (Colm Meaney), o ex-chefe de teletransporte da Enterprise-D, abora chefe de operações da estação; Quark (Armin Shimerman), um ferengi que comanda um bar dentro da estação; e Jake (Cirroc Lofton), o filho adolescente de Sisko, que pretende se tornar jornalista, e não oficial da Frota Estelar. A partir da quarta temporada, Worf (Michael Dorn), o klingon chefe de segurança da Enterprise-D, também é transferido para a Deep Space Nine, onde será oficial de operações estratégicas, no que na verdade foi uma jogada dos produtores para tentar alavancar a audiência de DS9, já que a Nova Geração já havia sido encerrada, e Worf era um de seus personagens mais populares. A ambientação em um local fixo também permitiu que DS9 tivesse vários personagens secundários recorrentes, como Rom (Max Grodenchik), irmão de Quark, e seu filho Nog (Aron Eisenberg), que se torna amigo de Jake, e, mais adiante, o primeiro ferengi da Frota Estelar; Elim Garak (Andrew Robinson), um alfaiate cardassiano suspeito de ser membro da polícia secreta daquele povo; a esposa de O'Brien, Keiko (Rosalind Chao); e Gul Dukat (Marc Alaimo), principal vilão da série.
DS9 estreou em 3 de janeiro de 1993, com um episódio de 90 minutos - mais tarde dividido em dois para as reprises - que contava com a participação especial da tripulação da Enterprise-D, da Nova Geração. Assim como esta outra série, DS9 foi lançada diretamente no formato syndication, vendida a diversos canais dos Estados Unidos simultaneamente, ao invés de passar primeiro em um canal e depois ser syndicated para as reprises, como era comum com as séries mais famosas da época. Curiosamente, DS9 acabou ajudando não a popularizar esta estratégia, mas a enterrá-la: quando várias outras séries de sucesso, como Xena, a Princesa Guerreira começaram a ser distribuídas também originalmente em syndication, o mercado ficou saturado, e praticamente todas as séries passaram a ter audiência abaixo do esperado - em contraste com as que eram lançadas no "modelo antigo", que tinham audiência bem mais alta. Isso levou a uma diminuição progressiva do número de séries lançadas originalmente em syndication, até que, em 2001, já não havia mais nenhuma.
DS9 também arrumou uma escaramuça com Babylon 5, série que estreou apenas semanas depois dela, e que possuía temática muito semelhante - tão semelhante que seu criador, J. Michael Straczynski, chegou a acusar a Paramount de plágio, alegando que havia oferecido Babylon 5 para Tartikoff, que a teria rejeitado, e depois pedido a Berman e Piller que criassem uma série semelhante, mas com a marca Jornada nas Estrelas. Apesar das alegações, Straczynski jamais processou a Paramount, mas diz que "eles sabem o que aconteceu".
Bem, voltando ao que interessa, a primeira temporada de DS9 teve 20 episódios. A maioria deles lidava com as tênues relações entre a Federação, os bajoranos e os cardassianos - algumas vezes tornadas ainda mais tênues pela descoberta da fenda espacial - mas ainda se pareciam bastante com episódios "normais" de Jornada nas Estrelas. As coisas começariam a mudar na segunda temporada, de 26 episódios, que estrearia em 26 de setembro de 1993, primeiro com um grupo radical que ameaça tomar o comando de Bajor, depois com a introdução dos maquis, habitantes de mundos colonizados pela Federação. Esses mundos foram entregues aos cardassianos como parte do acordo de paz, mas os maquis, se recusando a sair deles, agiam como terroristas, embora vissem a si mesmos como um movimento de resistência. O último episódio da segunda temporada introduziria ainda o Dominion, uma organização militarística do Quadrante Gama que serviria de antagonista pelo resto da série.
O conflito com o Dominion seria o fio condutor da terceira temporada, que estreou em 26 de setembro de 1994 com mais 26 episódios, e introduziu a USS Defiant, uma das mais fortemente armadas naves da Federação, colocada à disposição da Deep Space Nine. Já a quarta temporada, que estrearia em 2 de outubro de 1995, com mais 26 episódios, traria mais episódios envolvendo o Império Klingon, viagens no tempo e para dimensões paralelas, com o Dominion servindo de antagonistas em apenas alguns episódios. A partir da quarta temporada, vários dos roteiristas da Nova Geração, que já não estava mais no ar, passaram a escrever episódios de DS9, o que garantiu uma subida na audiência.
A sétima temporada, que estreou em 30 de setembro de 1998 com mais 25 episódios, seria também a última. Além dos conflitos de praxe, envolvendo os Dominion, a Seção 31, e as viagens temporais e dimensionais, esta temporada ainda traria uma até então improvável aliança entre a Federação, os klingons e os romulanos, buscando derrotar a aliança entre o Dominion e os cardassianos de uma vez por todas. O último episódio, televisionado em 2 de junho de 1999 com 90 minutos, e depois dividido em dois para as reprises, mostra a batalha final desta guerra, e os destinos dos personagens da série no futuro.
Embora tenha tido excelentes níveis de audiência em suas primeiras temporadas, a partir de 1995 DS9 foi sendo cada vez menos assistida, até que a Paramount decidiu que não compensaria mais continuar com a série, preferindo investir em Voyager e, mais tarde, em Enterprise. Curiosamente, a própria estreia de Voyager, em 1995, seria um dos fatores que levariam à queda na audiência - na visão da Paramount, Voyager era a série principal, verdadeira sucessora da Nova Geração, enquanto DS9 era apenas um spin-off; por isso, Voyager recebia mais investimentos em divulgação e horários melhores, enquanto DS9 sobrevivia praticamente com apenas os fãs antigos, e em horários cada vez mais estranhos, como quarta-feira às onze da noite.
Apesar disso, DS9 é até hoje considerada por muitos críticos e fãs como a série de Jornada nas Estrelas de melhores atuações e roteiros, tendo sido indicada ao Emmy em todos os anos que esteve no ar, ganhando dois por melhor maquiagem e um por melhor tema de abertura. Em uma pesquisa feita em 1999 - já durante a última temporada, portanto - DS9 também foi apontada como a série syndicated mais assistida por adultos dos 18 aos 54 anos. Alguns dizem que Roddenberry não teria concordado com um Jornada nas Estrelas sem exploração espacial ou que mostrasse uma guerra, mas os fãs parecem ter aprovado.
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