sábado, 18 de janeiro de 2025

Escrito por em 18.1.25 com 0 comentários

Blade (II)

Semana passada, nós vimos Blade, o caçador de vampiros da Marvel, nos quadrinhos e na série de TV. Essa semana, veremos seus filmes!

A primeira tentativa de fazer um filme do Blade ocorreria em 1990, quando a New World Pictures compraria os direitos do personagem para fazer um filme de faroeste ambientado no México e estrelado pelo ator Richard Roundtree. A New World jamais começaria a produção, entretanto, e o projeto ficaria engavetado até 1992, quando o rapper LL Cool J procuraria a Marvel se dizendo interessado em interpretar o personagem. A Marvel, então, começaria a procurar um estúdio parceiro, e até pensaria em produzir o filme ela mesma, através da Marvel Films, fundada em dezembro de 1993 através de uma parceria com a própria New World Pictures.

Como Blade não era um personagem muito famoso, encontrar um estúdio não se mostraria muito fácil, e apenas em 1995 a New Line Cinema se mostraria interessada e assinaria o contrato. A New Line contrataria David S. Goyer, na época conhecido por Garantia de Morte, com Jean-Claude Van Damme, e O Corvo: Cidade dos Anjos, para escrever o roteiro do filme, e ele tentaria convencer o estúdio a contratar Ernest Dickerson, de Malcolm X, para a direção. A New Line preferiria David Fincher, de Alien 3 e Seven: Os Sete Crimes Capitais, que começaria até a trabalhar no roteiro com Goyer antes de decidir abandonar o projeto.

Bizarramente, a New Line não acreditava que um filme de super-herói pudesse ser rentável, e queria que Goyer escrevesse um filme de paródia - em determinado momento, eles até perguntaram para a Marvel se o ator que interpretaria Blade não poderia ser branco. Goyer foi terminantemente contra, e queria inclusive fazer o filme o mais sério possível, tratando a causa do vampirismo não como sobrenatural, mas biológica, e com os vampiros sendo vilões ancorados na realidade ao invés dos românticos hedonistas como era padrão nos filmes da época. Goyer apresentaria à New Line o projeto para uma trilogia, e seus primeiros rascunhos do roteiro seriam comparados a Um Vampiro no Brooklyn e Um Drink no Inferno, dois filmes que estreariam antes de Blade e seriam considerados os principais responsáveis pela criação do "vampiro pós-moderno", ancorado na realidade como Goyer imaginava.

Quando se conformou que Blade deveria ser negro, a New Line não quis aproveitar LL Coll J, imaginando que um ator já famoso poderia contribuir para a bilheteria do filme. Os três preferidos do estúdio eram Denzel Washington, Laurence Fishburne e Wesley Snipes, que, na época, tentava produzir um filme do Pantera Negra. Ao saber que Snipes estava sendo considerado, Goyer decidiu que ele que deveria ser o protagonista, e o enviou uma cópia do roteiro. O ator ficou encantado com o que leu, e até se ofereceu para co-produzir o filme através de sua produtora, a Amen Ra Films. Snipes seria o único ator a testar para o papel, assinaria contrato em 1996, e ajudaria Goyer no roteiro, na construção do caráter atormentado do personagem. Goyer e Snipes também decidiriam fazer do Blade do filme uma espécie de samurai contemporâneo, um lobo solitário armado com uma espada - ao invés das facas dos quadrinhos - que percorre o país para cumprir sua missão, jamais fixando raízes em um mesmo lugar por muito tempo.

Quando Snipes embarcou no projeto, o filme ainda não tinha um diretor, e ele mesmo chegou a se oferecer para dirigir; a New Line, entretanto, optaria pelo inglês Stephen Norrington, até então conhecido por ser diretor de efeitos especiais, e que só tinha a direção de um único filme no currículo, o terror futurista Máquina Letal, de 1994. O sucesso de Blade alavancaria a carreira de Norrington, que também dirigiria O Último Minuto e A Liga Extraordinária, mas, após ser substituído em Blade II e no último minuto (sem trocadilho) no filme do Motoqueiro Fantasma, e perder a chance de dirigir a refilmagem de Fúria de Titãs após responder à Legendary Pictures que não se sentia confortável por não ter memória afetiva do original, ele decidiria se aposentar da direção e trabalhar apenas em pequenos projetos pessoais.

No filme, a mãe de Blade, grávida de nove meses, foi morta por um vampiro, com ele apenas sobrevivendo graças às enzimas vampíricas que chegaram a seu corpo através do sangue dela. O resultado foi que ele tem os mesmos poderes dos vampiros, mas nenhuma de suas fraquezas, exceto a necessidade de se alimentar de sangue. Como vingança pela morte de sua mãe, ele decide treinar para se tornar um caçador de vampiros, e, na Los Angeles de 1997, está no encalço de Deacon Frost, vampiro que posa como dono de um clube noturno e que tem um plano para transformar a sociedade vampírica, organizada em um rígido sistema de castas, segundo o qual quem não nasceu vampiro, como Frost, é considerado inferior. O problema é que o plano de Frost envolve transformar toda a humanidade em vampiros, algo com o qual Blade não pode concordar.

Além de Wesley Snipes como Blade, e Stephen Dorff como Deacon Frost, o elenco principal conta com Kris Kristofferson como Abraham Whistler, homem que criou Blade após a morte de sua mãe, o treinou para que ele se tornasse um caçador de vampiros, e atua como mentor, figura paterna e criador das armas de Blade, que usam elementos que causam dano a vampiros mas não a ele, como prata, alho e a luz do sol; N'Bushe Wright como a Dra. Karen Johnson, hematologista que se torna um alvo de Frost, a quem Blade decide proteger; e Donal Logue como Quinn, um vampiro que trabalha com Frost e ao longo do filme sofre todo tipo de ferimentos que deveriam matá-lo, mas ainda assim sobrevive. O filme também traz Udo Kier como o ancião vampiro Gitano Dragonetti; Arly Jover como a namorada de Frost, Mercury; a ex-estrela pornô Traci Lords como a vampira Racquel; Tim Guinee como o Dr. Curtis Webb, namorado de Jenson; e Sanaa Lathan como Vanessa Brooks, mãe de Blade.

O orçamento do filme seria pequeno até para a época, 45 milhões de dólares, o que faria com que a New Line tivesse de ser criativa, montando a maioria dos cenários em uma fábrica abandonada de shampoo. Todas as filmagens ocorreriam em Los Angeles, exceto algumas cenas no Vale da Morte. Todos os efeitos especiais ficariam a cargo da mesma empresa, a Flat Earth Productions, com os efeitos de computação gráfica, na época caríssimos e considerados pouco confiáveis, sendo reduzidos a um mínimo, com a maioria dos efeitos sendo feitos à moda antiga, usando cabos e jogos de câmera. Uma das cenas, inclusive, na qual Deacon Frost se transformaria em uma espécie de criatura feita de sangue, teve de ser substituída por uma luta de espadas entre Blade e Frost porque a Flat Earth simplesmente não conseguia fazer com que os efeitos especiais ficassem realísticos, com em todas as tentativas a cena ficando ridícula. A intenção da New Line era lançar o filme em 1997, mas a primeira versão, que teria 140 minutos, seria um desastre com as plateias de teste, o que faria com que o estúdio exigisse a refilmagem de diversas cenas e atrasaria o lançamento em pelo menos seis meses. Stan Lee faria uma participação especial que acabaria cortada da versão final, como um policial que entra no clube dos vampiros após Blade passar por lá.

Goyer insistiria para que os criadores de Blade, Marv Wolfman e Gene Colan, fossem creditados no filme, mesmo com a Marvel dizendo que isso não era necessário. Ao saber que a New Line havia concordado com o crédito, os advogados de Wolfman entrariam em contato com o estúdio e diriam que apenas ele deveria ser creditado, mas Goyer insistiria para que ambos fossem. Pouco antes do lançamento do filme, Wolfman processaria a Marvel, alegando que o personagem pertencia a ele e, portanto, ela não poderia ter negociado os direitos com a New Line; a justiça decidiria a favor da Marvel, mas Wolfman e Colan receberiam uma compensação financeira por terem sido os criadores do personagem. Três figurantes que interpretaram vampiros também processariam a New Line, alegando que o sangue cenográfico havia manchado suas peles permanentemente, mas não ganhariam a ação por falta de provas.

Blade estrearia em 21 de agosto de 1998 com grande estardalhaço, tirando O Resgate do Soldado Ryan do primeiro lugar das bilheterias e ficando no posto por duas semanas, até ser suplantado por Quem Vai Ficar com Mary?. O filme renderia 70 milhões de dólares nos Estados Unidos e 61 milhões no restante do mundo, para um total de 131 milhões, quase três vezes o que custou - por causa de um contrato mal redigido, contudo, a Marvel receberia apenas 25 mil dólares. A crítica também seria bastante favorável, elogiando a ação e o visual do filme, mas achando o enredo fraco.

O sucesso do filme faria com que a New Line começasse a produzir uma sequência já em 1999, com Goyer, Snipes e Norrington renovando seus contratos. Goyer pensaria em uma história na qual Blade teria de se aliar a vampiros para combater um grupo especialmente perigoso deles, e queria colocar Morbius no filme, mas a Marvel vetaria. Nos primeiros estágios da produção, o presidente da New Line, Michael de Luca, demitiria Norrington e contrataria Guillermo del Toro, que, na época, só havia dirigido dois filmes, o mexicano Cronos e Mutação; a versão oficial do estúdio seria a de que Norrington não mostraria interesse em dirigir a sequência, mas o diretor daria a entender em entrevistas que a New Line não gostaria das sugestões que ele fez para o segundo filme.

Del Toro aceitaria o convite, mas estava trabalhando em seu terceiro filme, o espanhol A Espinha do Diabo, de forma que a produção do segundo Blade teria de ser suspensa enquanto ele não o finalizasse; tanto Goyer quanto o produtor Peter Frankfurt, que havia trabalhado com del Toro em Mutação, achariam que valeria a pena esperar, já que o estilo gótico do diretor seria uma valiosa contribuição para um filme de um caçador de vampiros - de fato, del Toro daria várias ideias para o filme, incluindo sobre a aparência dos vampiros mutantes, com o resultado final mostrando seu estilo inconfundível. Muitas das ideias de del Toro não ficariam boas com os efeitos de computação da época, o que faria com que o Tippet Studio, responsável pelos efeitos especiais, também tivesse de recorrer a muita maquiagem, próteses, e até mesmo animatronics.

Assim como Goyer, del Toro era fã de quadrinhos, e estava cansado do que ele chamava de "vampiros vitorianos", almas torturadas pela existência imortal que viviam apenas para dar algum prazer a seus incontáveis dias; segundo ele, estava na hora de os vampiros serem vilões de novo, e, para isso, eles deveriam ser monstros, realísticos porém afastados da humanidade. Del Toro diria que assistiria as fitas originais do primeiro filme incessantemente, até entender perfeitamente qual era sua linguagem e seu universo, e se diria impressionado com o estilo elegante de direção de Norrinton. Frankfurt diria que, "com um diretor como del Toro", não se pode dizer o que ele deve fazer, e sim deixá-lo levar o filme para onde quiser; o diretor, entretanto, diria não ter alterado o roteiro, creditado apenas a Goyer mas escrito por Goyer e Snipes, apenas ter interferido na parte visual da produção. Ainda segundo del Toro, ele se inspiraria não apenas nos quadrinhos americanos, mas também nas animações japonesas, para chegar ao ritmo que ele considerava adequado para um filme dessa temática.

Del Toro também elogiaria Snipes, segundo ele um ator totalmente comprometido com o personagem, que o conhecia melhor que Goyer, Frankfurt ou qualquer diretor escolhido para o filme, sabendo instintivamente o que o personagem faria ou não a cada cena, e sempre fazendo algo melhor do que ele havia imaginado ao dirigi-la. Frankfurt concordaria, dizendo que todos os maneirismos de Blade haviam sido criados por Snipes, sem nenhuma orientação externa, e que ele os manteve consistentes ao longo dos dois filmes. Snipes se diria empolgado por voltar a interpretar o caçador de vampiros, e que uma sequência era sempre um teste de atuação, para ver se um ator conseguiria recriar de forma consistente algo que já havia feito.

O orçamento do segundo filme seria maior que o do primeiro, mas não muito: 54 milhões de dólares. Por insistência de del Toro, que queria as filmagens na Europa, ele seria filmado em Praga, na República Tcheca, e em Londres, Inglaterra, embora quase a totalidade de suas cenas tenha sido gravada em estúdio, com poucas cenas externas. Devido aos compromissos de del Toro com seu outro filme, as filmagens só poderiam começar em março de 2001, mas seriam rápidas, se concluindo em julho do mesmo ano.

Os vilões do segundo filme, oficialmente chamado Blade II, são os Ceifadores, vampiros mutantes criados por um vírus, cuja mordida tem o poder de transformar tanto humanos quanto vampiros "normais" em Ceifadores. Para derrotá-los, o ancião vampiro Eli Damaskinos envia sua própria filha, Nyssa, para propor uma trégua a Blade e pedir para que ele a ajude a encontrar Jared Nomak, o paciente zero do vírus ceifador, que se transformou em uma espécie de líder de seita, que planeja exterminar todos os vampiros. A princípio, Blade não está interessado, mas, ao saber que, após destruir todos os vampiros, Nomak planeja destruir também a humanidade, deixando o mundo apenas para os Ceifadores, aceita se unir à Matilha Sangrenta (Bloodpack, em inglês), um grupo de elite de vampiros reunidos por Damaskinos para exterminar os Ceifadores - tarefa que não se mostrará nada fácil, já que os Ceifadores possuem todos os poderes, mas nenhuma das fraquezas dos vampiros, exceto em relação à luz solar, sendo este o verdadeiro motivo pelo qual Damaskinos precisa de Blade.

Os únicos atores do primeiro filme que retornam são Snipes e Kristofferson; além de Eli Damaskinos (Thomas Kretschmann), Nyssa Damaskinos (Leonor Varela) e Jared Nomak (Luke Goss), os novos personagens incluem Joshua Fromeyer, apelido Scud (Norman Reedus), assistente de Blade que tenta criar armas capazes de matar os Ceifadores; o vampiro Dieter Reinhardt (Ron Perlman), que teve uma desavença com Blade no passado, e pretende usar o fato de ter de trabalhar com ele para destruí-lo, o que faz com que Blade prenda uma bomba a seu corpo para mantê-lo na linha sob ameaça de detonação; o advogado humano da família Damaskinos, Karel Kounen (Karel Roden); e os demais membros da Matilha, Asad (Danny John-Jules), Chupa (Matt Schultze), o espadachim mudo Snowman (Donnie Yen), Priest (Tony Curran), Lighthammer (Daz Crawford) e Verlaine (Marit Velle Kille) - originalmente, Verlaine seria irmã gêmea de Racquel, e também interpretada por Lords, que não aceitou o papel.

Como as filmagens atrasariam, Blade II não conseguiria uma boa data de estreia nos cinemas, estreando em 22 de março de 2002 - nos Estados Unidos, os meses de março e abril não são considerados bons para o lançamento de sequências, pois o movimento nos cinemas é fraco e a bilheteria costuma ser baixa, por causa, acreditem ou não, das finais do basquete universitário. Apesar disso, Blade II seria o mais rentável da trilogia, rendendo 80 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos e mais 150 milhões no restante do planeta, estreando em primeiro lugar em diversos países da Europa e em Cingapura, para um total de 230 milhões - quase o dobro do primeiro filme, e mais de quatro vezes o que custou. A crítica ficaria dividida, elogiando mais uma vez a ação e o visual do filme, mas achando que não houve desenvolvimento dos personagens, e que a história era ainda mais fraca que a do primeiro.

O sucesso de bilheteria do segundo filme permitiria que Goyer fechasse sua trilogia com Blade Trinity, uma alusão não somente ao fato de que era o terceiro filme, mas também ao de que Blade, nesse, teria dois pupilos: Abigail Whistler, filha de Abraham, cuja arma preferida é um arco e flechas, e Hannibal King, que usa pistolas e estacas. Del Toro, envolvido com as filmagens de Hellboy, não poderia dirigir a sequência, que seria oferecida ao alemão Oliver Hirschbiegel, que, por sua vez, desistiria pouco antes de assinar o contrato, pois conseguiria luz verde para seu projeto pessoal A Queda: As Últimas Horas de Hitler. Goyer, então, convenceria a New Line a permitir que ele mesmo dirigisse o filme, se mantendo em contato durante toda a produção com Norrington e del Toro, que lhe dariam valiosas dicas - del Toro faria inclusive os storyboards do filme, recebendo um agradecimento especial nos créditos por isso. Ao contrário do que foi noticiado na época, Blade Trinity não seria a estreia de Goyer na direção, já que, entre os dois primeiros filmes, ele dirigiria o drama Zig Zag, com Snipes e John Leguizamo, que estrearia 12 dias antes de Blade II.

Curiosamente, quem não ficou satisfeito com Goyer ter sido escolhido para a direção foi Snipes - segundo alguns, porque ele mesmo queria ter dirigido o filme. A amigos, o ator confidenciaria que também não havia gostado do roteiro, que teria sofrido interferência do estúdio, interessado em lançar um spin off estrelado por King e Abigail. Snipes causaria todo tipo de dificuldades durante o filme, se recusando a interagir com o diretor e seus colegas de elenco, se comunicando através de notas passadas por seu assistente, ficando trancado em seu trailer durante todo o tempo em que não estivesse gravando, e, principalmente, se recusando a refilmar cenas que Goyer achasse que não ficaram boas, o que forçaria o diretor a usar dublês e efeitos de computação gráfica durante a pós-produção; segundo um boato, jamais oficialmente confirmado, Snipes apareceria alguns dias para gravar suas cenas bêbado ou drogado, o que faria com que Blade parecesse sempre distante e desinteressado - o ator Patton Oswalt relataria ter visto Snipes fumando maconha antes da gravação de uma cena, e que ele era extremamente agressivo com Goyer durante as filmagens.

Goyer declararia que o filme seria a coisa mais dolorosa pela qual havia passado em toda a sua vida profissional, e chegaria a ser acusado, em várias ocasiões, por Snipes, de racismo, com o ator chegando a reclamar com os executivos da New Line que era tratado de forma diferente apenas por ser negro - o fato de que Hannibal King nos quadrinhos é negro, mas no filme seria interpretado por Ryan Reynolds, não ajudaria em nada, com Snipes frequentemente chamando Reynolds fora de cena de "Cracker", apelido pejorativo para os brancos das regiões rurais do sul dos Estados Unidos, amplamente vistos pela comunidade negra como racistas. Sniper negaria todas as acusações, e diria que sua reclamação com os executivos da New Line ocorreria porque, apesar de ele ser um dos produtores executivos do filme, Goyer e Frankfurt jamais levavam suas opiniões em consideração. Ele também declararia oficialmente ter adorado trabalhar com Reynolds, apesar de achar seu estilo de humor muito exagerado para um filme de Blade, e que, se pensasse mal dele, não teria aceitado fazer uma participação em Deadpool & Wolverine.

Reynolds seria escolhido, aliás, justamente porque a New Line planejava lançar o tal spin off, ele era um jovem ator ainda tentando se firmar no mercado dos filmes de ação, e, na época, escolher um ator branco para interpretar um personagem que não era branco nos quadrinhos não causava tanto estardalhaço. Para o papel de Abigail Whistler, a preferida da New Line era Ashley Scott, que só havia tido um papel secundário em S.W.A.T. e interpretado uma prostituta robótica em Inteligência Artificial, mas ela estava envolvida com as gravações de Com as Próprias Mãos, estrelado por Dwayne Johnson, e acabaria substituída por Jessica Biel, que tinha uma carreira um pouco mais longa, mas o remake de O Massacre da Serra Elétrica como seu maior destaque. Biel treinaria pesado para o filme e chamaria atenção pela forma física, especialmente pelos bíceps, em evidência quando flexionava os braços para usar o arco; isso garantiria a ela uma inesperada carreira em filmes de ação, e geraria uma declaração, digamos, controversa - quando ela mesma diria que não era escolhida para filmes que não fossem de ação por ser "muito gostosa".

Quem faria sua estreia como ator em Blade Trinity seria Paul Michael Levesque, mais conhecido como Triple H, lutador profissional entre 1992 e 2022 da WWE, aquele torneio norte-americano de luta livre que muitos dizem ser encenado e com resultados armados. Triple H seria "sugerido" para o elenco do filme pelos executivos da New Line, e Goyer, a princípio, ficaria cético quanto à presença de um lutador profissional no filme; conforme as filmagens se desenvolviam, entretanto, Goyer ficaria impressionado com seu timing de comédia, e acabaria até mesmo expandindo seu papel, o do vampiro grandalhão Jarko Grimwood, guarda-costas e assistente de Danica Talos, uma das principais antagonistas do filme. Grimwood tem uma batalha épica contra King, e a presença de Triple H e Reynolds no filme acabaria fazendo com que ele se tornasse mais cômico do que deveria, o que pode ter sido uma das causas do descontentamento de Snipes.

O antagonista principal de Blade Trinity é ninguém menos que Drácula, que, por alguma razão, na maior parte do filme, é chamado de Drake. Danica planeja a ressurreição do Conde, para que ele lidere os vampiros a uma nova era, e, para que Blade não atrapalhe, arma para que ele seja acusado de assassinato e preso pelo FBI. O Caçador de vampiros é libertado por King e Abigail, que o convidam para se juntar aos Andarilhos da Noite (Nightstalkers, em inglês), um grupo de caçadores de vampiros que planeja usar uma nova arma, a Estrela Diurna, para destruir os vampiros, incluindo Drácula, de uma vez por todas. Mas o Primeiro Vampiro é muito mais forte que os oponentes com os quais eles estão acostumados, podendo, inclusive, resistir à luz do sol, o que fará com que Blade tenha a missão mais difícil de toda a sua vida.

O elenco principal traz Snipes como Blade, Kristofferson como Abraham Whistler, Reynolds como Hannibal King, Biel como Abigail Whistler, Triple H como Jarko Grimwood, Parker Posey como Danica Talos e Dominic Purcell como Drácula. Outros nomes que merecem ser citados são Callum Keith Rennie como Asher Talos, irmão de Danica; Natasha Lyonne como Sommerfield, cientista que criou a Estrela Diurna; Ginger Page como Zoe Sommerfield, filha da cientista; Patton Oswalt como Hedges, pesquisador que trabalha para os Andarilhos da Noite; John Michael Higgins como o Dr. Edgar Vance, psicólogo que estuda os vampiros; James Remar como o agente do FBI Ray Cumberland; e Christopher Heyerdahl como Caulder, um dos Andarilhos da Noite.

Blade Trinity estrearia em 8 de dezembro de 2004; com orçamento de 65 milhões de dólares, renderia 52 milhões nos Estados Unidos e 80 milhões no restante do planeta, somando 132 milhões e sendo considerado um fracasso de bilheteria. A crítica também seria bastante desfavorável, falando mal do enredo, do elenco, das piadas, do Drácula, e até da ação e do estilo, que foram destaques favoráveis nos dois filmes anteriores. Goyer justificaria a rejeição dizendo que a produção do filme seria "uma tortura" e que isso acabaria influenciando o resultado final, o que faria com que nenhum dos envolvidos ficasse satisfeito com o filme.

Snipes processaria a New Line em 2005, alegando que o estúdio não havia pagado o salário combinado em contrato, e justificado dizendo que seu tempo de tela havia sido reduzido em relação aos dois primeiros filmes, o que Snipes alegou ter sido feito por Goyer em retaliação por eles terem se desentendido. A justiça decidiu a favor da New Line, e, em 2006, foi a vez da agência que representava Snipes processá-lo alegando que ele não repassou a porcentagem de seus proventos que lhes era devida. Esse processo foi resolvido por um acordo fora dos tribunais.

Apesar do fracasso do filme, a New Line planejava seguir investindo em Blade, e, em 2008, conversaria com Norrington sobre a possibilidade de ele dirigir uma "prequência", ambientada antes do primeiro filme e com a presença de Dorff como Deacon Frost; não foram divulgados detalhes sobre se Blade estaria no filme e se Snipes voltaria a interpretá-lo. Em 2016, a atriz Kate Beckisale diria em uma entrevista que um crossover entre Blade e Anjos da Noite esteve em pré-produção durante anos, mas foi cancelado quando os direitos sobre Blade voltaram para a Marvel, em 2012. Desde 2013, a Marvel pensa em fazer um novo filme de Blade, e chegaria a conversar, em 2015, com Snipes, sobre a possibilidade de ele repetir o papel.

A Marvel, entretanto, acabaria optando por um reboot, e, em 2019, anunciaria um novo filme de Blade, sem qualquer relação com os três escritos por Goyer, estrelado por Mahershala Ali, que chegaria a gravar uma fala, atribuída ao personagem, para a cena pós-créditos de Eternos. Em parte por causa da Pandemia, em parte por Kevin Feige jamais ficar satisfeito com o roteiro, o filme seria adiado inúmeras vezes, e, no momento, encontra-se sem data de estreia, o que significa que sua produção está paralisada.

Para terminar, vale dizer que, quando ninguém esperava, talvez nem mesmo a Marvel, Snipes voltaria a interpretar Blade, em uma participação especial em Deadpool & Wolverine, sendo esse o mesmíssimo Blade dos três filmes de Goyer. Se essa foi a última e definitiva aparição do ator interpretando o personagem, somente o tempo dirá.

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