domingo, 14 de novembro de 2021

Escrito por em 14.11.21 com 0 comentários

Graham Hill

Eu já falei aqui sobre pilotos que correram nas décadas de 1990, 1980, 1970 e até mesmo 1950, quando falei da Maria Teresa de Filippis. Nunca falei, porém, de um piloto da década de 1960. Essa semana estava pensando sobre isso, e decidi que iria escolher um para completar essa lista. Por isso, hoje é dia de Graham Hill no átomo!


Norman Graham Hill nasceu em Londres, na Inglaterra, em 15 de fevereiro de 1929. Diferentemente do que ocorre na história de outros pilotos, ele não tinha nenhum apreço nem por carros, nem por corridas na infância, estando mais interessado em engenharia; para isso, estudou na Hendon Technical College, se formando aos 17 anos e sendo contratado pela Smiths Instruments como engenheiro-aprendiz. No ano seguinte, ele teria de se alistar para o serviço militar obrigatório, que existiu no Reino Unido até 1960, e escolheu a marinha, sendo alocado como engenheiro auxiliar na sala de máquinas do navio HMS Swiftsure. Hill chegaria a pensar em seguir carreira na marinha, e chegaria ao posto de petty officer, mais ou menos equivalente a sargento, mas, aos 24 anos, optaria por dar baixa e voltar a trabalhar na Smiths Instruments, agora como engenheiro pleno.

Até então, Hill sequer tinha carteira de motorista, mas seu novo cargo exigia que ele se deslocasse para várias cidades próximas, então ele finalmente teve de obter uma. Ele também compraria um carro usado, em péssimo estado, mas que, em entrevistas posteriores, diria ser um dos responsáveis por seu estilo de pilotagem, já que o carro era tão ruim que ele precisava antecipar como ele iria se comportar a cada trecho da estrada, mais ou menos como em uma prova de automobilismo. Viajando a trabalho, Hill teria a oportunidade de assistir a várias corridas de moto, e, inicialmente, pensaria em se tornar piloto de motovelocidade, mas, em 1954, ele veria um anúncio do Universal Motor Racing Club, no autódromo de Brands Hatch, oferecendo a quem estivesse interessado a oportunidade de guiar um carro de Fórmula 3 por apenas 5 shillings cada volta. Ele faria sua estreia pilotando um Cooper, e se sairia tão bem que receberia um convite da equipe para ser um de seus pilotos no ano seguinte.

Hill disputaria a Fórmula 3 britânica pela Cooper até o final da temporada de 1956, sem obter nenhum resultado expressivo; ele faria amizade, porém, com os mecânicos da equipe Lotus, e, com seu conhecimento de engenharia, convenceria o mecânico-chefe a contratá-lo para a temporada de 1957 da Fórmula 2 - não como piloto, mas como mecânico. Na antepenúltima corrida da temporada, em Silverstone, entretanto, a Cooper teria um problema com um de seus pilotos, e convidaria Hill para substituí-lo; ele aceitaria e chegaria em quinto lugar. Impressionado com sua performance, Colin Chapman, dono da Lotus, que estava assistindo à prova, ofereceu a ele um lugar como piloto da Lotus nas duas últimas provas, em Goodwood, na qual ele chegou mais uma vez em quinto, e Oulton Park. Isso renderia a ele um contrato para ser piloto da Lotus na Fórmula 2 por toda a temporada de 1958.

Mas Hill mirava alto, e, após conseguir o segundo lugar na primeira prova do ano, em Goodwood, e um quarto lugar na segunda, em Aintree, convenceu Chapman a inscrevê-lo na Fórmula 1, começando pelo Grande Prêmio de Mônaco, segunda prova da temporada, a qual ele abandonaria com problemas de câmbio. Hill disputaria todo o restante da temporada exceto as 500 Milhas de Indianápolis, já que Champman decidiria não inscrever a equipe nessa prova; ele não daria muita sorte, contudo, abandonando cinco das sete provas restantes, chegando em sexto na Itália e apenas em 16o no Marrocos. Ao final da temporada, ele voltaria para a Fórmula 2, onde disputaria quatro provas, abandonando duas e chegando na décima-quarta posição nas outras duas.

O mesmo esquema seria adotado para 1959: Hill começaria a temporada na Fórmula 2, e, após três provas, iria para a Fórmula 1, onde disputaria sete das nove provas da temporada (sendo as exceções as 500 Milhas de Indianápolis e o Grande Prêmio dos Estados Unidos), retornando à Fórmula 2 para as seis últimas provas do campeonato. Na Fórmula 1, onde seria colega de equipe do inglês Innes Ireland, ele abandonaria cinco provas, seria sétimo na Holanda e nono na Inglaterra, mas na Fórmula 2 ele conseguiria um segundo lugar em Brands Hatch, na última prova da temporada. Em 1958 e 1959 ele também disputaria as 24 Horas de Le Mans pela Lotus, dividindo carro em 1958 com o também inglês Cliff Allison, seu colega de equipe na Fórmula 1 naquele ano, e em 1959 com o australiano Derek Jolly, mas em ambas as ocasiões abandonaria com problemas mecânicos - em 1958 após apenas três voltas.

Numa época em que os capacetes eram pouco mais que um boné feito de couro, Hill foi um dos primeiros pilotos a criar uma pintura de capacete pela qual ele pudesse ser facilmente reconhecido: ele pediria permissão ao London Rowing Club, um dos mais antigos clubes de remo do Reino Unido, para que seu capacete tivesse as mesmas cores e mesmo desenho do usado pelos remadores de lá - azul-marinho com oito linhas brancas verticais paralelas no topo da cabeça, representando as raias de uma competição de remo. Hill era apaixonado por remo, esporte que começou a praticar na marinha, e se filiou ao London Rowing Club em 1952, disputando várias competições e chegando a vinte finais, das quais ganhou oito. Em 1954, ele faria parte da tripulação do barco de oito remadores que representaria o clube na famosíssima Henley Royal Regatta, perdendo na semifinal para um barco francês que representava a Union Sportif Metropolitaine des Transports. Hill teria de abandonar as competições de remo por falta de compatibilidade de datas com as competições de automobilismo, mas seguiria sendo fã e apoiador, inclusive doando dinheiro e criando campanhas de arrecadação de fundos para o London Rowing Club.

Hill conheceria sua esposa, Bette, em uma festa de Natal organizada pelo Auriol Rowing Club, clube pelo qual ele remava, em 1950; ela também era remadora, do Stuart Ladies' Rowing Club, e, durante um tempo, ele serviria como técnico não-oficial de sua equipe. Os dois se casariam em 1955, antes mesmo de ele estrear na Fórmula 1; como todo o dinheiro que ele tinha estava sendo investido em sua carreira no automobilismo, a família dela teve que pagar por todo o casamento. O casal teria três filhos, Brigitte, Samantha e Damon, que decidiu ser piloto como o pai, chegou a ser colega de equipe de Ayrton Senna na Williams, e, em 1996, se tornou o primeiro filho de um Campeão Mundial de Fórmula 1 a se tornar também Campeão Mundial - feito até hoje somente igualado por Nico Rosberg, campeão em 2016 e filho do campeão de 1982, Keke Rosberg.

Insatisfeito com o desempenho da Lotus, Hill decidiria aceitar um convite da equipe BRM para disputar a temporada de 1960 da Fórmula 1, sendo colega de equipe do sueco Jo Bonnier e do norte-americano Dan Gurney. Ele impressionaria a todos na equipe com seu método de preparação para as provas, anotando todas as regulagens de seu carro e passando horas conversando com os mecânicos, inclusive sobre aspectos técnicos que não costumavam ser de interesse dos pilotos; por causa disso, ele ficaria conhecido como um dos primeiros "gênios de acerto do carro", pilotos que, usando sua própria experiência, modificavam o carro para obter mais velocidade sem abrir mão do controle. Com seus acertos, ele conseguiria seu primeiro pódio, um terceiro lugar na Holanda, mas a única outra corrida que ele terminaria seria Mônaco, onde chegaria em sétimo, já que o carro não se mostraria muito confiável e o levaria a abandonar outras seis provas, além de ficar fora de duas: as 500 Milhas de Indianápolis, na última vez em que fizeram parte do calendário da Fórmula 1, e o Grande Prêmio da Itália, no qual, em protesto pelo que consideraram um alteração no traçado do circuito feita especificamente para privilegiar a Ferrari em detrimento da segurança, Lotus, BRM e Cooper decidiriam boicotar a corrida.

Também em 1960, Hill ganharia sua primeira prova no automobilismo, a Targa Florio, prova de 500 milhas disputada entre 1906 e 1977 em um circuito misto na ilha da Sicília, na Itália, na qual dividiria um Porsche com o alemão Edgar Barth. A vitória renderia um convite da Porsche para disputar as 24 Horas de Le Mans, dividindo carro com Bonnier, mas mais uma vez ele não conseguiria completar a prova. Hill também disputaria, mas não completaria, as 24 Horas de Le Mans nos dois anos seguinte, em 1961 pela Ferrari, junto com o inglês Stirling Moss, e em 1962 pela Aston Martin, junto com o norte-americano Richie Ginther; Ginther também seria seu parceiro quando ele finalmente conseguiria completar a prova, em 1963, correndo pela BRM e chegando em oitavo.

Hill seguiria com a BRM na Fórmula 1 em 1961, ano no qual a equipe, com problemas financeiros que inclusive a levaram a abandonar seu motor próprio e correr com motores Climax, decidiria inscrever apenas dois pilotos, Hill e o inglês Tony Brooks. Mais uma vez ele não teria um bom ano, abandonando cinco das oito provas, mas conseguiria pontuar nos Estados Unidos (quinto) e na França (sexto), além de chegar em sétimo na Holanda.

Em 1962,  a maioria das equipes investiria em motores V8, e a BRM, que voltaria a produzir seus próprios motores, conseguiria desenvolver um dos mais potentes. A temporada seria uma verdadeira batalha entre Hill, que teria Ginther como colega de equipe, e o escocês Jim Clark, da Lotus, já tido como um dos maiores talentos da categoria. Hill, que pela primeira vez faria uma temporada completa sem nenhum abandono, conseguiria sua primeira vitória logo na primeira corrida do ano, na Holanda, e também subiria ao lugar mais alto do pódio na Alemanha, Itália e na África do Sul, além de chegar em segundo nos Estados Unidos e na Bélgica - ele também pontuaria na Inglaterra (quarto) e em Mônaco (sexto), somente ficando fora da zona de pontuação na França (nono), em uma corrida cheia de abandonos e acidentes que marcaria a primeira e única vitória da Porsche na Fórmula 1, com Gurney. Com esses resultados, Hill seria campeão mundial pela primeira vez de lavada, somando 52 pontos contra 30 de Clark, que teve três vitórias mas quatro abandonos - o resultado oficial, porém, seria 42 a 30, pois o regulamento da época previa que cada piloto só poderia somar seus cinco melhores resultados, que, no caso de Hill, eram quatro vitórias e um segundo lugar.

Clark daria o troco no ano seguinte, 1963, que começaria com mais uma vitória de Hill, sua primeira em Mônaco, mas depois teria quatro vitórias seguidas do escocês, de um total de sete em dez provas, com Hill só voltando a vencer nos Estados Unidos, antepenúltima prova da temporada - além deles dois, somente o inglês John Surtees, da Ferrari, conseguiu uma vitória naquele ano, na Alemanha. Além das duas vitórias, Hill teria três terceiros lugares, na França, Inglaterra e África do Sul, seria quarto no México, abandonaria na Bélgica, Holanda, Itália e Alemanha; ele acabaria com o vice-campeonato, com 29 pontos contra 54 de Clark, que, sem os descontos (a partir desse ano contariam os seis melhores resultados), faria 73; curiosamente, Ginther, mesmo sem nenhuma vitória, faria até mais pontos que seu colega Hill, 34, mas, com os descontos, ficaria com os mesmos 29, terminando em terceiro porque o desempate era justamente pelo número de vitórias. Hill também tentaria, em 1963, se classificar pela primeira vez para as 500 Milhas de Indianápolis, pela equipe MT Harvey Aluminum, mas, após sofrer um acidente nos treinos livres que destruiria o carro, preferiria não participar dos treinos classificatórios.

1964 veria mais uma grande batalha entre Hill e Clark, e parecia que o título novamente ficaria com um dos dois. Hill mais uma vez começaria o ano vencendo em Mônaco, e Clark, em seguida, engataria uma sequência de vitórias, mas dessa vez de apenas duas, na Holanda e Bélgica. Gurney, agora pela Brabham, venceria mais uma vez na França, e Surtees mais uma vez venceria na Alemanha. Mas Hill, mais uma vez, obteria apenas mais uma vitória, de novo nos Estados Unidos, e Clark também conseguiria apenas mais uma, na Inglaterra, enquanto Surtees venceria na Itália, para delírio dos ferraristas, e seu colega de equipe, o italiano Lorenzo Bandini, venceria na Áustria. Com esses resultados, e graças a quatro abandonos de Surtees, quatro de Clark e apenas dois de Hill, esses três pilotos chegariam com chances de título à última prova, o Grande Prêmio do México, que fazia sua estreia naquele ano. Hill se envolveria em um acidente com Bandini e iria para o fundo do pelotão, chegando apenas em 11o; Clark teria de abandonar, acreditem ou não, na última volta, com um vazamento de óleo; e Surtees, chegando em segundo após Bandini, por ordem da Ferrari, trocar de posição com ele, seria campeão - a vitória seria de Gurney. Curiosamente, com três segundos lugares (na França, Inglaterra e Alemanha), um quarto na Holanda e um quinto na Bélgica, Hill somou 41 pontos contra 40 de Surtees, mas, graças à regra dos descontos, teve que descartar dois pontos desse quinto lugar, ficando com 39 pontos e o segundo vice-campeonato seguido.

Também em 1964, Hill conseguiria seu primeiro pódio nas 24 Horas de Le Mans, um segundo lugar, correndo pela Ferrari e dividindo carro com Bonnier. No ano seguinte, dividindo uma BRM com o escocês Jackie Stewart, ele chegaria em décimo, e em 1966, dividindo um Ford com o australiano Brian Muir, abandonaria após se envolver em um acidente. Entre 1964 e 1968, Hill também disputaria algumas provas da Tasman Series, um campeonato regional com provas na Austrália e Nova Zelândia. Nos dois primeiros anos ele correria pela Brabham, e obteria duas vitórias, uma em Longford em 1964 (quando disputou duas provas) e uma em Pukekohe em 1965 (quando disputou quatro). Seu melhor ano na categoria seria 1966, quando disputaria, pela BRM, cinco das oito provas do campeonato, subindo ao pódio em todas (vitórias em Pukekohe Park e Lakeside, segundo em Warwick e Longford, terceiro em Sandown), conseguindo o vice-campeonato. Entre 1967 e 1969 ele correria pela Lotus, mas em 1967 disputaria apenas a prova de Warwick, abandonando; em 1968 disputaria quatro provas e conseguiria dois segundos lugares e um terceiro, terminando o campeonato em quarto lugar; e em 1969, único ano em que disputou a temporada completa, teve dois segundos lugares e terminou o campeonato em quinto.

Na Fórmula 1, em 1965, tendo Stewart como colega de equipe, Hill somente venceria, pelo terceiro ano seguido, em Mônaco e nos Estados Unidos; Clark, com um carro claramente superior, começaria o ano vencendo na África do Sul, optaria por não correr em Mônaco para disputar as 500 Milhas de Indianápolis, realizadas no mesmo dia (que ele venceria, diga-se de passagem), e depois engataria cinco vitórias seguidas. As outras duas vitórias do ano seriam de Stewart, na Itália, e de Ginther, no México, na primeira vitória da Honda na Fórmula 1. Hill seria segundo lugar na Inglaterra, Alemanha e Itália, terceiro na África do Sul, quarto na Holanda, quinto na Bélgica e França, e abandonaria no México; terminaria o campeonato com 47 pontos, ficando com 40 após os descontos. Essa pontuação lhe daria seu terceiro vice-campeonato seguido, 14 pontos atrás de Clark, que, além das seis vitórias, teria um décimo lugar na Itália e dois abandonos. O ano seguinte, 1966, seria o último de Hill na BRM. Sem conseguir repetir o desempenho dos anos anteriores, ele seria segundo na Holanda, terceiro na Inglaterra e em Mônaco, quarto na Alemanha e abandonaria as outras cinco provas, terminando o campeonato em quinto.

Também em 1966, Hill decidiria se inscrever mais uma vez para as 500 Milhas de Indianápolis, dessa vez pela equipe Mecom Racing Enterprises. Ele se classificaria em 15o, largando na quinta fila; dos 33 pilotos, apenas Hill, Clark, Stewart e o canadense Billy Foster não eram norte-americanos. Logo na largada, um grande acidente causado por um toque entre Foster e Gordon Johncock tiraria 11 dos 33 pilotos da prova, incluindo Gurney e A.J. Foyt, causando uma bandeira vermelha que interromperia a prova por quase uma hora e meia. A relargada seria feita em fila indiana, mas, com apenas uma volta, a corrida entraria em bandeira amarela graças a uma batida de Johnny Boyd na curva 1. O restante da corrida, felizmente, não teria grandes complicações, exceto por duas rodadas de Clark, ambas sozinho, mas que não resultaram em acidentes nem em grande perda de tempo para o piloto.

A chegada, entretanto, foi extremamente controversa: na época, os tempos de cada volta eram anotados manualmente pelos chefes de equipe e comissários de corrida, que, volta a volta, atualizavam, também manualmente, aquele totem enorme que mostra as posições de cada carro na corrida. De acordo com a Lotus, mesmo com as duas rodadas, Clark liderava com uma volta de vantagem sobre Stewart, mas, faltando dez voltas, o totem mostrava Stewart em primeiro, Hill em segundo e Clark em terceiro. Enquanto a equipe de Clark protestava, Stewart teve um problema na pressão do óleo que o levaria a abandonar, e Hill assumiria a ponta. Na bandeirada, o resultado oficial declararia Hill como vencedor, 41,13 segundos à frente de Clark. O próprio Hill se diria "confuso" e "surpreso" com o resultado, mas a equipe de transmissão da IMS Radio Network, que transmitiu a corrida pelo rádio, confirmaria que, de acordo com suas anotações, ele havia sido o vencedor. A Lotus optaria por não entrar com um protesto oficial, e aceitaria o resultado, após um dos mecânicos levantar a hipótese de que Stewart e Hill teriam passado Clark durante sua segunda rodada, o que não teria sido levado em conta pelo chefe de equipe da Lotus, Andy Granatelli.

Ao longo dos anos seguintes, várias teorias surgiriam para tentar explicar a confusão, a maioria delas envolvendo o carro de Al Unser, que era quase idêntico ao de Clark, de forma que os comissários ou Granatelli poderiam ter se confundido e anotado como voltas de Clark algumas que eram de Unser e vice-versa; para aumentar ainda mais a confusão, Johncock declararia que o vencedor havia sido ele, alegando que, após o acidente, teve de ir para os boxes trocar o bico do carro, e, como relargou dos boxes, os comissários não anotaram sua primeira volta, o que fez com que ele desse 201 voltas até receber a bandeirada a invés de 200. Seja como for, como a vitória de Hill jamais foi oficialmente contestada, ele é considerado o campeão legítimo da prova, se tornando o primeiro estreante a vencer as 500 Milhas desde George Souders em 1927.

Em 1967, Hill retornaria à Lotus, que teria um projeto ousado, com várias inovações aerodinâmicas, ele e Clark como pilotos, e o poderosíssimo motor Ford Cosworth DFV, que viria a se tornar o mais vitorioso do automobilismo, com mais de 150 vitórias na Fórmula 1, além de mais algumas em Le Mans e Indianápolis. O carro, porém, era muito arisco e pouco confiável, o que fez com que Hill abandonasse em nada menos que oito das onze corridas; nas três restantes, ele foi segundo em Mônaco e nos Estados Unidos, e quarto no Canadá, terminando o campeonato em sétimo. Clark teria quatro vitórias, mas um igual número de abandonos, e terminaria em terceiro; o campeão seria o neozelandês Denny Hulme, da Brabham, com apenas duas vitórias mas uma temporada mais consistente. A Lotus inscreveria Hill nas 500 Milhas de Indianápolis em 1967 e 1968, mas em ambos os anos ele abandonaria, no primeiro com problemas mecânicos, no segundo após se envolver em um acidente.

Para 1968, tendo solucionado os problemas de confiabilidade do carro, a Lotus esperava um ano dominante, com Hill e Clark brigando pelo título. De fato, Clark venceu a primeira corrida do ano, na África do Sul, mas pouco depois sofreria um acidente fatal numa corrida de Fórmula 2 em Hockenheim, Alemanha, da qual ele só participaria devido a obrigações contratuais com a Firestone, um dos patrocinadores da Lotus. Sem Clark, Hill, que passaria a ter como colega de equipe o inglês Jackie Oliver, passaria a ter todos os esforços da equipe concentrados em seu título. Ele conseguiria apenas três vitórias, na Espanha, Mônaco e México, mas com outros três segundos lugares, na África do Sul, Alemanha e Estados Unidos, e um quarto no Canadá (sendo também nono na Holanda e abandonando na Bélgica, França, Inglaterra e Itália), garantiria o bicampeonato com 48 pontos, contra 36 de Stewart, então na equipe Matra.

Tendo como colega de equipe o austríaco Jochen Rindt, Hill lutaria pelo tricampeonato em 1969, mas conseguiria apenas uma vitória, em Mônaco, e um segundo lugar, na África do Sul, terminando o campeonato em sétimo. A vitória em Mônaco seria sua última na Fórmula 1 e sua quinta no principado, o que lhe valeu o apelido de "Mr. Mônaco". Na penúltima etapa do campeonato, nos Estados Unidos, ele sofreria um grave acidente no qual quebraria as duas pernas, e chegaria a ouvir dos médicos que jamais poderia voltar a correr. Bem-humorado, ele pediria, durante uma entrevista, que alguém avisasse à sua esposa que ele teria de ficar um tempo sem poder dançar. Em 1969, a Lotus também o inscreveria nas 500 Milhas de Indianápolis, mas ele nem chegaria a participar dos treinos classificatórios, devido a um problema no carro.

Chapman não estava satisfeito com Hill na equipe, achando que ele não estava em sua melhor forma e não deu tudo que podia em 1969, e decidiu negociá-lo com a equipe Rob Walker, que corria com carros Lotus do ano anterior (o que era permitido pelo regulamento da época). Hill não ficou nada satisfeito, mas, como contratualmente ele era obrigado, e ainda estava se recuperando de seu acidente, decidiu não criar caso. Ele não conseguiria nenhum pódio, mas terminaria na zona de pontuação em quatro corridas, somando sete pontos e terminando o campeonato em 13o, ótimo para a Rob Walker, mas péssimo para seus padrões. No fim do ano, ele romperia contrato amigavelmente e decidiria se transferir para a Brabham. Suas duas temporadas pela equipe seriam péssimas: em 1971, tendo como colega de equipe o australiano Tim Schenken, ele abandonaria seis das onze corridas, e só marcaria pontos na Inglaterra, onde chegou em quinto; no ano seguinte, correndo ao lado do argentino Carlos Reutemann e do brasileiro Wilson Fittipaldi, seria sexto na África do Sul e na Alemanha e quinto na Itália, mas só.

1972, porém, seria o ano em que Hill conseguiria uma das maiores proezas da história do automobilismo: após seis anos fora da prova, ele aceitaria um convite da Matra para disputar as 24 Horas de Le Mans, dividindo carro com o francês Henri Pescarolo. Hill e Pescarolo venceriam a prova, o que transformaria Hill no primeiro, e até hoje único, piloto a conquistar a Tríplice Coroa do Automobilismo - título honorífico concedido a quem conseguir vencer, ao longo da carreira, o Grande Prêmio de Mônaco, as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans. O "título" (que não tem troféu, por isso é honorífico) foi criado pela imprensa na década de 1930, quando o italiano Tazio Nuvolari venceu o GP de Mônaco em 1932 e Le Mans em 1933; ao longo dos anos, outros seis pilotos chegariam perto, vencendo duas das três provas necessárias: o francês Maurice Trintignant (Le Mans em 1954, Mônaco em 1955 e 1958), o norte-americano A.J.Foyt (Indianápolis em 1961, 1964, 1967 e 1977, Le Mans em 1967), o neozelandês Bruce McLaren (Mônaco em 1962, Le Mans em 1966), o austríaco Jochen Rindt (Le Mans em 1965, Mônaco em 1970), o colombiano Juan Pablo Montoya (Indianápolis em 2000 e 2015, Mônaco em 2003) e o espanhol Fernando Alonso (Mônaco em 2006 e 2007, Le Mans em 2018 e 2019), sendo esses dois últimos os únicos que ainda têm chance e completar a trinca.

Uma coisa que precisa ser dita sobre Hill é que, numa época em que a maioria das provas sequer passava na televisão, de alguma forma ele conseguiu se tornar uma grande celebridade, sendo um convidado frequente na programação de TV do Reino Unido, com suas mais famosas participações tendo ocorrido nos programas Call my Bluff e Jim'll Fix It, da BBC. Ele também seria convidado para apresentar uma série sobre direção defensiva e segurança nas estradas, produzida pela Thames Television, chamada Advanced Driving with Graham Hill, e faria participações especiais em vários filmes para o cinema, os mais famosos sendo Grand Prix, de 1966, e Caravan to Vaccarès, de 1974. Enquanto se recuperava de seu acidente em 1969, ele escreveria uma autobiografia, Life to the Limit (algo como "vivendo no limite"), lançado em 1970; o livro faria tanto sucesso que ele escreveria mais três: Graham Hill's Motor Racing Book (1970), Graham Hill's Car Racing Guide (1971) e Advanced Driving with Graham Hill (1975).

Durante a temporada de 1972, a Brabham estava em processo de venda, após a aposentadoria de seu fundador, o piloto australiano Jack Brabham, ao fim do qual ela seria assumida por Bernie Ecclestone. Não se sentindo à vontade no ambiente da equipe, e não querendo pilotar por uma menor, Hill decidiria fundar sua própria equipe. Na época, era comum equipes de Fórmula 1 conseguirem gordos patrocínios de fabricantes de cigarros em troca de colocar o nome da marca como nome da equipe; assim, após conseguir patrocínio da fabricante de cigarros Embassy, Hill criaria a equipe Embassy, pela qual disputaria a temporada de 1973 como único piloto.

As três primeiras provas de 1973 seriam na Argentina, Brasil e África do Sul; Hill decidiria não viajar, de forma que a estreia da Embassy ocorreria na quarta corrida, na Espanha, que ele abandonaria com um problema nos freios. Como era de se esperar para uma equipe pequena e iniciante, seu melhor resultado seria um nono lugar na corrida seguinte, na Bélgica. Em 1974, ele decidiria contratar um segundo piloto, o inglês Guy Edwards, e correria nove das onze primeiras provas do campeonato, não viajando para a África do Sul e sendo substituído na Inglaterra pelo também inglês Peter Gethin; nas quatro últimas provas do ano, o segundo carro da Embassy seria do alemão Rolf Stommelen. Hill marcaria seus únicos pontos pela Embassy nesse ano, ao chegar em sexto na Suécia.

Em 1975, a Embassy começaria com Hill e Stommelen. Hill seria décimo na Argentina, 12o no Brasil e não conseguiria se classificar na África do Sul; ele então pensaria em se aposentar, sendo substituído na Espanha pelo francês François Migault, mas ainda decidiria tentar se classificar para o Grande Prêmio de Mônaco, quinta etapa da temporada, sem sucesso. Com a aposentadoria de Hill, no Grande Prêmio da Bélgica de 1975 a Fórmula 1 pela primeira vez não teria no grid nenhum piloto que correu durante a chamada Era Romântica da categoria, entre 1950 e 1960. Após a aposentadoria, ele seria substituído pelo inglês Tony Brise, que conseguiria mais pontos para a equipe ao também ser sexto na Suécia; Stommelen seria substituído na Bélgica por Migault, na Suécia pelo australiano Vern Schuppan, e na Holanda, França, Inglaterra e Alemanha pelo também australiano Alan Jones, que viria a ser campeão mundial em 1980 pela Williams, e conseguiria o melhor resultado da história da Embassy, um quinto lugar na Alemanha.

Vale registrar também que, a partir do Grande Prêmio da Espanha de 1975, a Embassy passou a correr com chassis fabricados por ela mesma, denominados GH1 e apelidados Hill; em 1974 e nas três primeiras provas de 1975 a equipe usaria chassis Lola, e em 1973 Hill correria com carros comprados da equipe Shadow, idênticos aos usados por eles, exceto na pintura. Em todos os três anos, os motores usados seriam o Ford Cosworth DFV V8. Hill ficaria extremamente animado com o chassis que a equipe desenvolvia para 1976, denominado GH2 e criado pelo projetista Andy Smallman. Brise começaria a testá-lo em Silverstone em meados de 1975, e a equipe acreditava que, com ele, poderia obter até mesmo um pódio.

Em 29 de novembro de 1975, a equipe decidiria testar o GH2 no circuito de Paul Ricard, França. Após os testes, Hill, que tinha brevê de piloto de aviação, viria pilotando o biplano da equipe de volta até Londres, quando ocorreria uma tragédia. Já se aproximavam as dez horas da noite, e havia um denso nevoeiro na região do aeródromo de Elstree, onde o biplano deveria pousar, o que o levaria a se chocar contra árvores que rodeavam o campo de golfe de Arkley, próximo ao aeródromo, explodindo e matando todos os ocupantes instantaneamente. Além de Hill, estariam a bordo Brise, Smallman, o chefe de equipe Ray Brimble e dois mecânicos, Terry Richards e Tony Alcock. Uma investigação seria aberta, e concluiria que o acidente foi causado por erro de Hill, que voava muito baixo. Após o acidente, o gerente da equipe, Allan Turner, decidiria encerrá-la, vendendo todos os seus ativos para a equipe Wolf.

Hill faleceria aos 46 anos, menos de vinte deles dedicados à Fórmula 1. Seus restos mortais seriam sepultados no pequeno cemitério de Shenleybury, próximo a onde a família Hill residia; na década de 1990, esse cemitério seria desativado, e seus restos seriam transferidos para um memorial na propriedade dos Hill. Após sua morte, duas estradas da Inglaterra seriam renomeadas para Estrada Graham Hill, uma no vilarejo de Silverstone, onde fica o circuito de mesmo nome, e uma na cidade de Bourne, onde ficava a sede da BRM; uma das curvas do circuito de Brands Hatch também passaria a se chamar Curva Graham Hill em sua homenagem.

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