domingo, 3 de janeiro de 2021

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Dowton Abbey

Hoje o átomo completa novecentos posts, e, enquanto eu procurava por um tema apropriado, decidi que seria uma boa ideia falar sobre uma série que eu comecei a assistir meio por acaso, mas que rapidamente se tornou uma das minhas favoritas - e uma das poucas que eu fiquei genuinamente triste quando acabou. Hoje é dia de Dowton Abbey no átomo.


Dowton Abbey
foi uma criação de Julian Fellowes, ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original por Assassinato em Gosford Park, que também foi o principal roteirista da série. A ideia de criar a série, porém, não seria de Fellowes, e sim de Gareth Neame, presidente da produtora Carnival Films, que já havia trabalhado como produtor para a BBC e a ITV, os dois principais canais de televisão do Reino Unido. Neame teve a ideia de fazer uma série ambientada no início do século XX, durante o período pós-eduardiano, focada nas profundas transformações sociais pelas quais o Reino Unido passou durante essa época. Ele procuraria Fellowes e o contrataria para escrever um piloto, o que o roteirista aceitaria com certa relutância, pois Gosford Park, apesar de ser ambientado na década de 1930, tem uma temática parecida. Fellowes escreveria o roteiro em poucas semanas, e Neame ficaria tão satisfeito com a história que concordaria em creditá-lo como criador da série (conforme aparece na abertura, "escrita e criada por Julian Fellowes").

Dowton Abbey é o nome da propriedade da família Crawley, cujo patriarca, Robert (Hugh Bonneville), é o sétimo Conde de Grantham. Tradicionalista, conservador, e extremamente orgulhoso de seu título e da maneira como conduz Dowton, Robert, entretanto, não é o que poderia se chamar de um "nobre padrão", já que faz questão de tratar seus empregados, e a população em geral, com cortesia, generosidade, e até mesmo um certo carinho, o que faz com que, com poucas exceções, todos gostem de trabalhar para ele. Robert é casado com uma norte-americana, Cora (Elizabeth McGovern), a Condessa de Grantham, herdeira de uma família riquíssima, cujo dinheiro ajudou a salvar Dowton da falência na época em que ela e Robert se casaram. O casal tem três filhas: a mais velha, Mary (Michelle Dockery), passa uma imagem de fria, arrogante e petulante, e aparentemente só pensa no próprio bem-estar e conforto, estando disposta a magoar a família e a passar por cima de tudo e de todos em nome da própria felicidade, mas, na realidade, é insegura, e tem medo da responsabilidade que terá ao assumir Dowton; a do meio, Edith (Laura Carmichael), sofre por não ser tão bonita, prendada ou articulada quanto as irmãs, vive em pé de guerra com Mary, e se ressente de não conseguir um pretendente; já a mais nova, Sybil (Jessica Brown Findlay), é uma mulher à frente de seu tempo, com forte posicionamento político, inclinação ao feminismo, inquietação quanto aos papéis sociais, e extremamente apaixonada por tudo o que faz. Completa o núcleo familiar a mãe de Robert, Violet (Maggie Smith), a quem todos se referem como a Condessa Viúva de Grantham (já que é viúva do sexto Conde de Grantham, o pai de Robert), que não mora em Downton, mas exerce forte influência sobre a família; Violet é inteligente, perceptiva e tem opiniões fortes, mas resiste a mudanças e ao progresso, acreditando que o mundo era melhor antes da virada do século.

Dowton Abbey não é apenas uma casa, e sim uma espécie de fazenda, da qual a maior parte das terras é arrendada, vindo daí não só o dinheiro dos Grantham, mas também o sustento de praticamente toda a população local, com a economia da vila de Dowton, na qual a propriedade está localizada, próxima à cidade de York, girando em torno do que é produzido em Dowton Abbey. Quase a totalidade da série, porém, se passa na casa, do tipo que em inglês costuma-se chamar de stately house, uma verdadeira mansão, que vista de fora parece até um palácio, contando com salas e salões de ambientes variados, biblioteca, sala de leitura, sala de jogos, muitos quartos e muitas dependências para os empregados - que também eram muitos. Tipicamente, uma casa desse tipo contava com um mordomo e uma governanta, sendo que o mordomo atuava como chefe dos empregados, contato direto dos donos da casa com os serviçais e administrador de seus serviços, como determinar qual função cada um desempenhava, contratar novos empregados quando necessário, e cuidar para que o estoque de comida e materiais estivesse sempre em ordem, enquanto a governanta coordenava as camareiras e arrumadeiras, transmitia ao mordomo as necessidades da casa, e garantia que tudo era feito conforme as necessidades da família. Cada homem da família tinha direito a um valete, que não somente cuidava para que suas roupas e objetos de uso pessoal estivessem sempre em ordem, mas também os ajudavam a se vestir; o equivalente para as mulheres casadas eram as damas de companhia, que, além de cuidar de suas roupas, joias e outros pertences, ainda as ajudavam a se vestir, se maquiar, faziam seus cabelos e atuavam como confidentes; mulheres solteiras não tinham direito a uma dama de companhia só para elas, mas normalmente uma das camareiras assumia esse papel no início e no fim do dia. As camareiras eram as empregadas que arrumavam os quartos e mantinham os demais cômodos sempre em ordem, auxiliadas pelas arrumadeiras e pelas faxineiras. Seus equivalentes masculinos eram os footmen (que, nas legendas da série, são chamados de lacaios, nome que eu acho que não tem muito a ver com sua função), responsáveis por servir a mesa na hora das refeições, e por trabalhos como polir a prataria e dar corda nos relógios. A cozinha contava com uma cozinheira-chefe, que fazia o cardápio do dia, a lista de compras para que a despensa estivesse sempre abastecida, e cozinhava os pratos mais importantes de cada refeição, contando com uma assistente ou ajudante, e com várias moças que cozinhavam junto com ela. Completavam o quadro de empregados rapazes responsáveis pelo serviço pesado, como carregar caixas de compras para a cozinha, e profissionais especializados como babás para as crianças pequenas, jardineiros, cavalariços e, depois da invenção do automóvel, motoristas.

O corpo de empregados de Dowton é parte essencial do elenco (tanto que todos fizeram parte do elenco principal da série), já que a maior parte das histórias os envolve de alguma forma. O mordomo é Charles Carson (Jim Carter), homem rígido, tradicionalista e totalmente devotado aos Grantham, que tem orgulho de trabalhar em Dowton e pretende que todos que lá trabalham se orgulhem tanto quanto ele; Carson exige que tudo funcione como um relógio, e ama as meninas como se fossem suas próprias filhas. A governanta, Elsie Hughes (Phyllis Logan), é de certa forma, seu contraponto, já que é mais maleável e mais bem humorada que ele, e frequentemente tenta convencê-lo a não ser tão duro com os demais empregados e consigo mesmo. Os Grantham consideram Carson e Hughes como parte da família, permitindo algumas liberdades, principalmente de expressão - embora Carson se recuse a agir de forma que não condiga com sua função - mas, ainda assim, exige que se portem como empregados.

No primeiro episódio chega à casa um novo valete para Robert, John Bates (Brendan Coyle), que lutou com ele na Guerra dos Bôeres, e, devido a um ferimento, ficou manco. Bates é extremamente correto, fiel e altruísta, mas se ressente de sua deficiência, tem pavio curto e um passado misterioso, que envolve uma ex-mulher. Ele se apaixona pela chefe das camareiras, Anna Smith (Joanne Froggatt), moça doce e sempre bem humorada que é a maior confidente de Mary. Bates também se torna alvo da ira de Thomas Barrow (Rob James-Collier), footman que está em Downton há anos, e imaginava ser promovido a valete com essa oportunidade; Barrow é um homem amargurado, invejoso, que está sempre envolvido em tramoias para se dar bem e subir na vida, e que, secretamente, é gay - algo que, na Inglaterra da época, era crime, e podia levá-lo à prisão. A parceira de Barrow no crime é Sarah O'Brien (Siobhan Finneran), irlandesa igualmente amargurada e invejosa, que conta a ele tudo o que Lady Grantham, de quem é dama de companhia, lhe confidencia, e está sempre procurando uma oportunidade para se dar bem. No início da quarta temporada, O'Brien deixa os Grantham por uma proposta de emprego melhor, e, após algumas tentativas malsucedidas, Lady Grantham acaba contratando como dama de companhia Phyllis Baxter (Raquel Cassidy), moça que tem um segredo em seu passado, do qual Barrow tem conhecimento e usa para chantageá-la, para que ela continue lhe contando as confidências da patroa.

A cozinha é chefiada por Beryl Patmore (Lesley Nicol), senhora tímida e um tanto atrapalhada, mas muito competente, que tem uma visão de mundo e da vida mais sábia do que aparenta. Sua assistente, Daisy Robinson (Sophie McShera), acaba se tornando uma das personagens principais da série, pois, inconformada de ter de ser uma serviçal pelo resto da vida, impulsiva e sem papas na língua, acaba sendo a comentarista oficial de várias das mudanças sociais que ocorrem ao longo das temporadas. Outro personagem importantíssimo é Tom Branson (Allen Leech), irlandês republicano e socialista contratado para ser motorista, por quem Sybil se apaixona, e que acaba se tornando amigo de Mary e essencial para o futuro de Downton; Tom acaba afetando a visão de mundo dos Grantham e vice-versa, mas não consegue evitar de se sentir deslocado em um universo que não é o seu.

No início da série, o corpo de empregados também conta com Gwen Dawson (Rosie Leslie), camareira que deseja fazer um curso de datilografia e se tornar secretária, que é ajudada por Sybil; e William Mason (Thomas Howes), footman apaixonado por Daisy, cujo pai (Paul Copley) cria porcos em terras arrendadas de Downton, e que se alista para lutar na Primeira Guerra Mundial para provar à moça que é um homem de verdade. Ao longo da série também passam por Dowton a ingênua assistente de cozinha Ivy Stuart (Cara Theobold), a camareira Ethel Parks (Any Nuttall), que se torna mãe solteira e pária da sociedade após um romance com um soldado, e quatro outros footmen: Jimmy Kent (Ed Speeles), mulherengo e um tanto inconveniente, mas trabalhador e sempre pronto para defender os amigos, por quem Barrow se apaixona, sem ser correspondido; Alfred Nugent (Matt Milne), sobrinho de O'Brien, rapaz doce e sensível que sonha ser cozinheiro e é frequentemente atazanado por Barrow e por Jimmy; Andy Parker (Michael C. Fox), que nasceu na cidade grande, mas tem o sonho de morar no interior e ser fazendeiro, e tem vergonha por não saber ler ou escrever; e Joseph Molesley (Kevin Doyle), que aparentemente não dá sorte na vida, pois, após já ter sido valete e quase mordomo, após os 40 anos teve de voltar a ser footman, por não conseguir encontrar outra profissão; Molesley é competente, inteligente, mas meio atrapalhado e bastante tímido, e acaba se tornando confidente de Baxter, ajudando-a a resolver seus problemas do passado.

Pois bem, quem leu Orgulho e Preconceito já deve ter percebido que Lord Grantham tem um problema, porque ele tem três filhas, e, até relativamente pouco tempo atrás, na Inglaterra, mulheres não podiam herdar. Para poder continuar com Dowton, Mary fica noiva do filho de um primo de segundo grau de Robert, que é quem herdará a propriedade - e o título de Conde de Grantham - quando ele morrer. Logo no primeiro episódio, entretanto, os Grantham recebem a notícia de que tanto o primo de Robert quanto o noivo de Mary morreram, no naufrágio do Titanic. O herdeiro de Dowton Abbey, então, passa a ser Matthew Crawley (Dan Stevens), um advogado de Manchester, primo distante de Robert, que jamais pensou em entrar para o mundo da aristocracia, e não tem o menor interesse em se tornar Conde. Convencido por Robert, Matthew se muda com sua mãe, Isobel (Penelope Wilton), para uma casa de propriedade dos Grantham na vila, próxima à de Violet, e passam a frequentar Dowton e participar da vida local. Para Robert, a solução para todos os problemas é simples: basta casar Mary e Matthew, pois, assim, ela herdará Dowton e poderá administrá-la, já que o rapaz não se interessa. Mary e Matthew, contudo, vivem uma relação de amor e ódio, já que ela, mesmo achando ele extremamente interessante, se recusa a se casar obrigada, ainda mais com um homem com um estilo de vida tão diferente, enquanto ele, embora também atraído por ela, se enerva com sua personalidade distante e pragmática.

Enquanto isso, Isobel, uma mulher ativa, cheia de energia e com treinamento de enfermeira, se torna amiga de Violet, mas acaba desenvolvendo com ela um relacionamento cheio de alfinetadas e implicâncias, principalmente porque decide trabalhar no hospital da vila, comandado pelo Dr. Richard Clarkson (David Robb), mas onde quem manda mesmo é Violet, que passa a considerar que sua autoridade está sendo desafiada. Para completar o gigantesco elenco principal da série (que inclui todo mundo que eu citei até aqui exceto o pai de William Mason), falta citar Lady Rose MacClare (Lily James), 18 anos, filha de uma sobrinha de Violet, que vai morar em Dowton após seu pai ser transferido para a Índia, que se comporta como uma típica jovem da década de 1920, e vive querendo trazer modernidades, como o rádio, para Dowton; Bertie Pelham (Harry Hadden-Paton), administrador de imóveis amigo de Edith; e três pretendentes de Mary: Tony Foyle (Tom Cullen), o Visconde de Gilligham, amigo de infância da moça; Charles Blake (Julian Ovenden), que serviu com Tony na Marinha e agora trabalha para o governo, avaliando a situação financeira das stately houses; e Henry Talbot (Matthew Goode), que também é da nobreza (sendo sobrinho de Lady Shackleton, amiga de longa data de Violet), mas não se interessa pela vida aristocrática, preferindo ser piloto de carros de corrida.

Dentre os personagens recorrentes, a mais importante é Lady Rosamund Painswick (Samantha Bond), irmã de Robert, viúva e sem filhos, que mora em Londres e tem uma visão mais prática e ampla da vida que seus parentes do interior, e sempre hospeda as meninas quando elas precisam ir à cidade. Também merecem ser citados os empregados de Violet, o mordomo Septimus Spratt (Jeremy Swift) e a cozinheira Gladys Denker (Sue Johnston), ele extremamente discreto, ela fofoqueira e intriguenta, que vivem se alfinetando; Sir Richard Carlisle de Morningside (Iain Glain), milionário que pretende se casar com Mary; Evelyn Napier (Brendan Patricks), filho do Visconde de Branksome e amigo da família Grantham, que também é interessado por Mary; Edna Braithwaite (MyAnna Buring), moça ambiciosa que primeiro tenta ser camareira em Dowton, depois dama de companhia de Lady Grantham, mas está interessada mesmo é no dinheiro da família; Lord Merton (Douglas Reith), viúvo que não se dá bem com os filhos e se apaixona por Isobel; Michael Gregson (Charles Edwards), jornalista que se apaixona por Edith; Tim Drewe (Andrew Scarborough), fazendeiro que arrenda terras em Dowton e acaba dividindo um segredo com Edith; Sarah Bunting (Daisy Lewis), professora progressista que toma Daisy como aluna particular e se apaixona por Tom; Mabel Lane Fox (Catherine Steadman), noiva de Tony, com quem ele termina para cortejar Mary; Simon Bricker (Richard E. Grant), historiador que visita Dowton para observar suas obras de arte mas acaba se apaixonando por Cora; o Sargento Willis (Howard Ward), chefe de polícia local; e Atticus Aldridge (Matt Barber), rapaz judeu que se apaixona por Rose, para desgosto de seu pai, o tradicionalista e conservador Lord Sinderby (James Faulkner). Dentre as participações especiais, destacam-se Martha Levinson (Shirley MacLane), a mãe de Cora, milionária que acha tudo da Inglaterra muito estranho e não entende como a filha consegue viver lá; e o irmão de Cora, Harold (Paul Giamatti), que não tem jeito com dinheiro e vive devendo.

Ambientada entre 1912 e 1926, Dowton Abbey faz uso de fatos históricos para mover a história pessoal dos Grantham; além do já citado naufrágio do Titanic, que mata os herdeiros da propriedade, no último episódio da primeira temporada estoura a Primeira Guerra Mundial, o que faz com que o arco de história da segunda temporada gire em torno da transformação da casa principal de Dowton Abbey em uma casa de convalescença para soldados feridos; também na segunda temporada, a pandemia de gripe espanhola traz profundas mudanças para a vida da família, quase matando Cora. Na terceira temporada é a vez do Escândalo Marconi, que quase leva Robert à falència, e da guerra pela independência da República da Irlanda; na quarta temporada, um novo escândalo, o Teapot Dome, que afeta a família de Cora; e, na quinta, ocorre a eleição geral de 1923, com vitória do Partido Trabalhista, e a tentativa de golpe na Alemanha, que levaria ao surgimento do nazismo. Apesar de todo o romantismo com o qual os Grantham são retratados, a série é uma clara crítica ao modo de vida aristocrático, tanto que a sexta temporada foca na ascensão da classe trabalhadora, no que na Inglaterra ficaria conhecido como Período Entreguerras, e termina com indícios de que, incapaz de continuar se sustentando com base em seu modelo tradicional, a aristocracia logo entraria em declínio - o que de fato aconteceu durante a década de 1930.

Fellowes tentaria fazer a série o mais autêntica possível, e contrataria um especialista em etiqueta para assessorar os atores, para que tanto os nobres quanto os serviçais se portassem de acordo com o que era esperado deles na época. Um dos pontos que mais chamaram atenção em Dowton Abbey foi o sotaque dos personagens, principalmente dos serviçais, pois nem todos eram nativos de Yorkshire, com muitos vindo de outras regiões do Reino Unido - Daisy, por exemplo, tem um sotaque bem forte de Bradford, O'Brien tem sotaque de Liverpool, Hughes tem um leve sotaque do oeste da Escócia, Tom obviamente tem sotaque irlandês, e Cora evidentemente fala inglês norte-americano. Curiosamente, o sotaque também seria um ponto criticado, pois a pronúncia dos Grantham seria "atual demais" e "diferente da forma como a aristocracia da época pronunciava as palavras"; Fellowes responderia a essas críticas alegando que fez essa concessão não somente para que o público pudesse aproveitar melhor a série, mas também para que as interpretações dos atores fossem mais naturais e menos afetadas. Alguns pequenos outros detalhes, como o número adequado de convidados para uma festa, ou a disposição dos cômodos na parte da casa destinada aos serviçais, seriam criticadas por historiadores, aos quais Neame responderia se tratar de uma obra de ficção, não de um documentário.

Dowton Abbey
seria filmada em diferentes locais da Inglaterra, com o Castelo de Highclare, em Hampshire, servindo como a parte exterior da casa principal. A cidade de Bampton, em Oxfordshire, seria a vila de Dowton, com a fachada da biblioteca sendo usada para representar o hospital do Dr. Clarkson; a reitoria da Universidade de Bampton sendo a casa de Isobel e Matthew; e a Igreja da Virgem Maria sendo usada para os (muitos) casamentos que ocorrem no decorrer da série. A casa de Violet seria a famosa Byfleet Manor, em Surrey, e a estação de Horsted Keynes, em Sussex, seria usada para as cenas na estação de trem de Dowton. As cenas de estúdio seriam gravadas em Ealing, e as cenas da Primeira Guerra Mundial, ambientadas na França, seriam gravadas em um set especialmente construído em Akenham, região rural de Suffolk. Várias cidades e vilas reais localizadas em Yorkshire, como Easingwold, Kirkbymoorside, Malton, Middlesbrough, Ripon, Richmond e Thirsk, são citadas pelos personagens da série, o que levaria a uma espécie de jogo entre os fãs para tentar descobrir onde ficaria localizada Dowton Abbey, de acordo com as referências de distância e direção dessas cidades.

Dowton Abbey estrearia na ITV em 26 de setembro de 2010, com uma temporada de sete episódios, a princípio transmitida apenas na Grande Londres, mas para todo o país a partir de fevereiro de 2011 - menos para a Escócia, onde a afiliada da ITV, a STV, optaria por não exibir as duas primeiras temporadas da série, o que geraria uma grande revolta dos telespectadores e declarações de protesto de Phyllis Logan e Iain Glein, que são escoceses; somente em 2012, antes da estreia da terceira temporada, a STV concordaria em exibir as duas primeiras, exibindo a partir da terceira simultaneamente à ITV. Nos Estados Unidos, a série seria exibida pelo canal público PBS, como parte de sua série Masterpiece Classics, a partir de fevereiro de 2011.

Ao todo, a série teria 52 episódios, divididos em seis temporadas; a partir da segunda, cada temporada teria oito episódios, exibidos entre a terceira semana de setembro e a primeira de novembro, mais um especial de Natal (uma tradição da televisão britânica), exibido sempre no dia 25 de dezembro. O último episódio, chamado The Finale, seria ele mesmo um especial de Natal, indo ao ar dia 25 de dezembro de 2015. Na primeira temporada os episódios têm todos por volta de 45 minutos, mas, a partir da segunda, de acordo com as necessidades da história, alguns seriam bem maiores, tendo de 50 minutos a quase uma hora e meia de duração.

Dowton Abbey seria o programa de maior sucesso da história da ITV, o de maior audiência da história da PBS, e a série de época de maior audiência da história da televisão britânica. Também seria a série internacional a receber o maior número de indicações ao Emmy, com 69, sendo 11 na primeira temporada, 16 na segunda, 12 na terceira, 12 na quarta, 8 na quinta e 10 na sexta, dos quais ganharia 16: um de Melhor Minissérie ou Filme para a TV; um de um de Melhor Roteiro para uma Minissérie, Filme para a TV ou Especial (Fellowes, pelo piloto); um de Melhor Diretor para uma Minissérie, Filme para a TV ou Especial (Brian Percival, também pelo piloto); um de Melhor Fotografia para uma Minissérie ou Filme para a TV; um de Melhor Figurino para uma Minissérie, Filme para a TV ou Especial; um de Melhor Design de Produção para um Programa de Época de Uma Hora ou Mais; dois de Melhor Composição Musical para Série de TV; três de Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie ou Filme para a TV (Maggie Smith); e cinco de Melhor Cabeleireiro para Série de TV de Única Câmera. A série também seria indicada a 11 Globos de Ouro, ganhando três: um de Melhor Minissérie ou Filme para a TV, e dois de Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme de TV (um para Maggie Smith e um para Joanne Froggatt).

A audiência da série seria crescente até a quarta temporada - quando quase alcançaria média de 12 milhões de espectadores - mas diminuiria na quinta e na sexta; a decisão de fazer da sexta a última seria da ITV, que temia que a audiência caísse ainda mais no caso de uma sétima, e preferiu encerrar a série no auge. Neame e Fellowes, contudo, não ficaram satisfeitos com o cancelamento, pois não queriam fechar as pontas soltas de forma corrida, e não consideraram o último episódio um encerramento digno; após falharem em convencer a ITV a comprar mais uma temporada, eles passaram para o plano B, que seria um filme para a TV ou especial, que iria ao ar em 2016. Como isso também falhou, eles passaram para o plano C, que era a produção de um filme para o cinema, pela própria Carnival.

A pré-produção do filme começaria já em abril de 2016, com Fellowes escrevendo o roteiro e Percival escalado para dirigir. Quase todo o elenco da sexta temporada estaria no filme, sendo Lily James a mais notável exceção, recebendo seus roteiros no início de 2017; mas questões relativas à produção atrasariam o início das filmagens, que só começariam em meados de 2018. Em agosto de 2018, Percival teria de se afastar da direção por motivos pessoais, passando a atuar como produtor executivo, e Michael Engler assumiria como diretor. O filme seria uma co-produção da Carnival Films com a Perfect World Pictures, distribuído no Reino Unido, e na maior parte do planeta, pela Universal - uma exceção notável seria os Estados Unidos, onde ele seria distribuído pela Focus Features.

Ambientado em 1927, o filme é centrado em uma visita do Rei Jorge V (Simon Jones) e da Rainha (Geraldine James) a Dowton Abbey. Chamadas "visitas reais", essas visitas eram comuns na década de 1920, pois a Princesa Mary (no filme interpretada por Kate Phillips) foi morar em Yorkshire após se casar com o Visconde de Lascelles (Andrew Havill no filme) em 1922, e, todo verão, o Rei e a Rainha iam visitá-los e passar alguns dias com eles antes de seguir para seu palácio de veraneio em Balmoral, Escócia. Como a viagem entre Londres e Goldsborough Hall, onde moravam a Princesa e o Visconde, era muito longa, era selecionada uma propriedade no meio do caminho onde o Rei e a Rainha iriam passar uma noite, aproveitando para "vistoriar" o local, realizar uma grande parada militar para a população de lá, e participar de um jantar com a família dona da casa.

Pois bem, as dificuldades começam porque o mordomo real (David Haig) faz questão de levar toda a sua equipe de footmen, camareiras e cozinheiras, incluindo um chef francês (Philippe Spall), frustrando a equipe de Dowton, que imaginava que teria a oportunidade de servir ao Rei e à Rainha. Enquanto os serviçais tentam encontrar uma forma de participar da visita real, os Grantham se envolvem em uma disputa envolvendo Violet e uma prima distante, Maud Bagshaw (Imelda Staunton), que atua como secretária da Rainha, de quem o herdeiro é Robert, mas que, por alguma razão, fez um testamento deixando tudo para sua dama de companhia, Lucy Smith (Tuppence Middleton), o que Violet considera inaceitável. Vários pontos que Fellowes considerou que ficaram muito em aberto na série são propriamente fechados, com o final do filme realmente sendo muito mais adequado que o do último episódio.

Dowton Abbey, o filme, teria uma pré-estreia especial em Leicester Square em 9 de setembro de 2019, estrearia oficialmente no Reino Unido em 13 de setembro, e teria estreia mundial uma semana depois, em 20 de setembro. O orçamento não seria divulgado, mas seria estimado entre 10 e 15 milhões de libras esterlinas; a bilheteria, se considerado o mundo inteiro, passou de 152 milhões de libras - quase 195 milhões de dólares. Infelizmente, seria ignorado pelas principais premiações, como o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta, mas seria bastante elogiado pela crítica. Fellowes ficaria tão satisfeito com o filme que, mesmo ele sendo um fechamento mais que apropriado para a série, se declararia aberto à possibilidade de realizar uma sequência - desejo que também foi expressado por vários membros do elenco - dizendo, inclusive, já ter algumas ideias.

Enquanto a sequência não sai do papel, Fellowes trabalha em outra série de época, The Gilded Age, prevista para estrear em breve na HBO, ambientada em Nova Iorque na década de 1880. Já foi anunciado que Violet, que na época tinha por volta de 40 anos, fará uma participação especial.

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