domingo, 16 de junho de 2019

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Kiss

Confesso que eu não conheço muitas músicas do Kiss - umas quatro ou cinco, se muito. A mística da banda, entretanto, parece que vai muito além da sua música, principalmente por causa das suas internacionalmente famosas maquiagens. Essa semana, eu conversava sobre isso com um colega, e acabei ficando com vontade de fazer um post. Graças a essa vontade, hoje é dia de Kiss no átomo!


As origens do Kiss remontam a 1970, quando, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, foi formada a banda Rainbow. Dentre os membros dessa banda estavam o baixista Chaim Witz, que se apresentava com o nome artístico Gene Klein, e o vocalista e guitarrista Stanley Eisen. Em 1971, a Rainbow conseguiria um contrato com a Epic Records para gravar seu primeiro álbum, e seus membros decidiriam por várias mudanças: Witz decidiria mudar seu nome artístico para Gene Simmons, Eisen decidiria adotar o nome artístico de Paul Stanley, e a própria banda mudaria de nome para Wicked Lester. O álbum gravado pela Wicked Lester, porém, jamais seria lançado, e, em 1972, insatisfeitos com o estilo musical da banda, Simmons e Stanley decidiriam dispensar os demais integrantes e refundá-la.

No final de 1972, Simmons e Stanley veriam um anúncio colocado na revista Rolling Stone pelo baterista Peter Criss, ex-integrante das bandas Lips e Chelsea, que também buscava formar uma banda nova. A dupla decidiria assistir a um show solo de Criss em um clube noturno de Nova Iorque, ao fim do qual o convidaria para sua nova banda. Ainda usando o nome Wicked Lester, o trio se dedicaria a um estilo de rock muito mais pesado que o tocado pela banda anteriormente, e experimentaria tocar com fantasias e maquiagens. O trio chegaria a agendar uma apresentação para a Epic Records, que não gostaria de seu estilo musical e decidiria não investir neles. Em janeiro de 1973, imaginando que seu som ficaria melhor com um guitarrista dedicado, que deixasse Stanley livre para apenas cantar, o trio contrataria Ace Frehley, que responderia a um anúncio e os impressionaria durante seu teste. Algumas semanas após a entrada de Frehley, surgiria, oficialmente, a banda Kiss.

Existem muitas lendas sobre o significado do nome Kiss, todas elas envolvendo o fato de que esse nome, na verdade, seria um acrônimo. As primeiras delas seriam motivadas pelo fato de que, no logotipo da banda, as duas letras S, em formato de raios, se assemelham ao logotipo da SS, a polícia da Alemanha nazista. Esse fato foi apenas uma coincidência, já que foi Frehley quem criou o logotipo, usando uma canetinha hidrocor e uma régua, e ele teve a ideia de fazer os S semelhantes a raios porque, na primeira vez que desenhou o logotipo, o fez para cobrir o nome da Wicked Lester em um cartaz, e o S de Lester lembrava um raio. Graças à semelhança entre os logotipos, quando a banda começasse a fazer sucesso surgiriam boatos de que seu nome era um acrônimo para Kinder SS (a "SS gentil" em inglês, ou "SS infantil" em alemão), que a banda teve muita dificuldade para desmentir - até hoje, inclusive, na Alemanha, Áustria, Israel e outros países que proíbem a exibição pública de símbolos nazistas, a banda tem de usar um logotipo diferente, no qual os SS se parecem com ZZ espelhados, para evitar problemas jurídicos.

A lenda de que o nome Kiss teria a ver com a SS nazista perderia força após alguns anos, mas ainda rola por aí até hoje; ela seria substituída, em força, porém, por outra, motivada pelas apresentações, digamos, exóticas de Simmons: a de que Kiss seria um acrônimo para Knights in Satan's Service, os "cavaleiros a serviço do demônio" - até mesmo publicações dedicadas a música já publicaram essa informação algumas vezes. Na verdade, entretanto, a origem oficial do nome Kiss é bastante inocente: enquanto Stanley e Criss iam a um ensaio, o vocalista expressou seu desejo de mudar o nome da banda, e a dupla começou a imaginar algumas opções possíveis. Criss mencionaria já ter feito parte de uma banda chamada Lips ("lábios" em inglês), ao que Stanley perguntaria: "que tal Kiss?" ("beijo" em inglês). Ambos gostaram da sonoridade do nome, o sugeriram aos outros dois, que também gostaram, e a banda estava batizada.

O primeiro show do Kiss ocorreria em 30 de janeiro de 1973, para uma plateia de três pessoas em um clube noturno de Nova Iorque. Em março do mesmo ano, eles fariam seu primeiro show já usando suas icônicas maquiagens. Cada membro da banda teve o direito de criar sua própria maquiagem, que representaria um personagem que ele interpretaria no palco: Stanley era o filho das estrelas(Starchild); Simmons era o Demônio (Demon); Frehley, inicialmente, o homem do espaço (Spaceman), depois trocando para o ás do espaço (Space Ace), em referência a seu próprio nome, mas mantendo a mesma maquiagem; e Criss era o homem-gato (Catman). As quatro maquiagens foram registradas no Escritório de Patentes dos Estados Unidos em nome de Stanley e Simmons (originalmente, a maquiagem de Frehley foi registrada em nome dele mesmo, mas na década de 1980 ele vendeu o registro para os outros dois), e não podem ser usadas sem autorização da dupla, que ainda recebe royalties pelo seu uso por terceiros. Originalmente, a base branca era feita com óxido de zinco comum, comprado em farmácias, e as partes pretas com delineador Maybeline, e a maquiagem frequentemente tinha de ser retocada durante os shows, pois saía com o suor dos músicos; depois do sucesso, eles passariam a usar maquiagem própria para cinema e TV, produzida pela Stein e pela Max Factor, mais cara mas mais durável e de resultado melhor.

A banda conseguiria seu primeiro contrato com uma gravadora, a Casablanca Records, ainda em 1973, e, antes do fim do ano, já estava gravando seu primeiro disco. No dia 31 de dezembro de 1973 eles fariam seu primeiro show "profissional", abrindo para o Blue Öyster Cult na Academia de Música de Nova Iorque. Na época, o Kiss já realizava em seus shows várias das proezas pelas quais se tornaria internacionalmente conhecido, como erguer a bateria no ar, disparar fogos de artifício pelos cabos das guitarras, e vários efeitos pirotécnicos, dentre eles um no qual Simmons cuspia fogo; nesse show de abertura, ele acidentalmente faria com que seu próprio cabelo ficasse em chamas, o que acabaria fazendo um enorme sucesso com a plateia, que pensou que ele o havia feito de propósito. Para aproveitar a onda, Simmons estudaria uma forma de poder fazer isso propositalmente sem se ferir, e repetiria o feito em diversas de suas apresentações seguintes. Outra de suas loucuras características, vomitar sangue (falso) durante o show, seria criada mais para o final da década.

O Kiss sairia em sua primeira turnê em 8 de fevereiro de 1974, tocando em várias cidades dos Estados Unidos e Canadá; treze dias após o início da turnê, seria lançado seu primeiro álbum, Kiss, que teria como principal música de trabalho Nothin' to Lose. O álbum não faria sucesso a princípio, e a Casablanca Records, que estava em seu início e não podia perder dinheiro, pediu para que a banda, após os shows em Los Angeles de sua turnê, tirasse um tempo para gravar um segundo álbum, Hotter than Hell, que seria lançado em outubro de 1974, trazendo a faixa Let Me Go, Rock 'n' Roll. Mais uma vez, o álbum não teria o desempenho esperado - embora os shows e as aparições na TV da banda fossem grandes sucessos - e, diante do prejuízo certo, a Casablanca decidiria tomar medidas drásticas, colocando a banda para trabalhar o mais rápido possível em seu terceiro álbum, e designando um produtor para modificar levemente o estilo de suas canções, para tentar torná-las mais comerciais.

Esse terceiro álbum, Dressed to Kill, lançado em março de 1975, hoje é um grande clássico, e traz talvez a canção mais famosa do Kiss, Rock and Roll All Nite; ainda assim, na época de seu lançamento ele teve um desempenho apenas modesto, o que fez com que a Casablanca quase fosse à falência. Já imaginando que não teria mais nada a fazer senão aceitar o triste fato, o presidente da Casablanca, Neil Bogart, decidiria, para pelo menos tentar não sair com uma mão na frente e a outra atrás, gravar alguns shows da turnê e lançá-los na forma de um álbum ao vivo. E seria essa jogada que mudaria a história da banda.

Mesmo sem vender bem seus álbuns, o Kiss era uma banda de grande sucesso, com seus shows sempre lotados e tendo ingressos esgotados poucos dias após iniciarem as vendas. Esse fato se valia não somente das maluquices que a banda fazia no palco, mas da energia que ela transmitia durante suas apresentações, algo que com certeza não estava presente nos álbuns de estúdio. Lançado em setembro de 1975, Alive!, o primeiro álbum ao vivo da banda - que, ainda por cima, era duplo - conseguiu com maestria levar essa energia para dentro da casa dos ouvintes, se transformando no primeiro grande sucesso comercial do Kiss. O desempenho de Alive!, aliás, seria tão bom que, além de ganhar um Disco de Ouro ele mesmo, ele ainda alavancaria as vendas dos três álbuns anteriores, fazendo com que todos os três ganhassem Discos de Ouro também. O álbum seria gravado durante shows da banda nas cidades de Detroit, Cleveland e Wildwoood, e esse show de Detroit, realizado em maio de 1975, seria tão apoteótico que faria com que muita gente passasse a pensar que a banda era originária de lá, e que estava tocando tão bem por estar satisfeita de estar tocando em casa - até hoje, acreditem ou não, há fontes que dizem que o Kiss é de Detroit.

Alive! seria o primeiro álbum do Kiss a entrar no Top 10 da Billboard, chegando à nona posição, e traria a versão mais famosa de Rock and Roll All Nite, com arranjo levemente diferente da versão do álbum e um solo de guitarra, que seria lançada em single, selecionada para tocar nas rádios, e chegaria à 12ª posição do Top 100 da Billboard; essa versão se tornaria tão famosa que seria a escolhida para virar clipe na Mtv, e a preferida de quem quer fazer covers, como a banda Poison, que lançou um em 1987, com a versão original hoje praticamente só sendo conhecida pelos fãs.

Evidentemente, para seu próximo álbum de estúdio, a banda tentaria repetir o sucesso de seu álbum ao vivo. Trabalhando com Bob Ezrin, que havia sido produtor de Alice Cooper, o Kiss embarcaria em um projeto ousado e grandioso, que incluía músicas com acompanhamento de orquestras e corais, algo totalmente diferente do som cru dos três primeiros álbuns. O resultado seria Destroyer, lançado em março de 1976, que renderia à banda mais um Disco de Ouro. Destroyer era um projeto tão ousado que sua capa não seria uma foto, e sim uma ilustração criada por Ken Kelly, conhecido por seus trabalhos retratando Tarzan e Conan, o Bárbaro. Curiosamente, a música mais famosa de Destroyer quase não entrou no álbum: Beth, uma balada cantada por Criss, foi composta por ele na época em que ele ainda fazia parte da banda Chelsea, e os demais membros não somente foram contra sua inclusão - o que só ocorreu porque sem ela o álbum tinha menos de 30 minutos de duração - como também não quiseram estar no estúdio enquanto ele a gravava - Criss é acompanhado por um piano e uma orquestra, o que faz com que a música destoe ainda mais do repertório do Kiss. Originalmente, Beth sequer seria escolhida como música de trabalho, mas, ao ser lançada como lado B no single de Detroit Rock City, fez tanto sucesso e foi tão pedida nas rádios que o single acabaria relançado com os lados invertidos - sendo Beth a canção principal. Após esse relançamento, Beth se tornaria a primeira canção do Kiss a entrar para o Top 10 da Billboard, alcançando a sétima posição.

O sucesso de Destroyer motivaria a Casablanca a lançar um novo álbum o mais rápido possível: Rock and Roll Over, de novembro de 1976, cuja principal música foi Hard Luck Woman, se aproveitaria do momento criado por seu antecessor e se tornaria o primeiro álbum da banda a conquistar Disco de Platina. O segundo seria o seguinte, Love Gun, de junho de 1977, seguido pelo terceiro, Alive II, mais um álbum ao vivo duplo (na verdade 1,5x, já que metade das faixas do segundo disco era de inéditas de estúdio), lançado em outubro de 1977. Eleita a banda mais popular da América por uma pesquisa do Instituto Gallup em 1977, e em meio à sua primeira turnê internacional, que contou com cinco shows totalmente esgotados no Japão, o Kiss também já começava a se sedimentar como um fenômeno de mídia, estando disponíveis para a compra inúmeros itens de merchandising relacionados à banda, que iam desde as tradicionais camisetas e máscaras de Halloween até máquinas de pinball e jogos de tabuleiro.

Em maio de 1977, a banda faria uma participação especial nas edições 12 e 13 da revista Howard the Duck, e faria tanto sucesso que a Marvel decidiria transformá-los em super-heróis e lançar uma edição especial chamada Marvel Comics Super Special, em setembro de 1977, na qual eles interagiam com personagens famosos da editora como os Vingadores, o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico, e ainda enfrentavam o Dr. Destino - bem ao estilo da banda, sangue seria colhido de cada um dos quatro integrantes e misturado à tinta usada para imprimir a edição, para torná-la ainda mais especial. A Marvel Comics Super Special acabaria se tornando uma publicação regular, com 41 edições lançadas até novembro de 1986, a maioria delas contendo adaptações para os quadrinhos de filmes como O Império Contra Ataca e Blade Runner; o Kiss ainda estrelaria uma segunda edição, a 5, lançada em outubro de 1978, mas sem sangue na tinta nem tanto estardalhaço.

Em setembro de 1978, seriam lançados quatro álbuns simultaneamente. Não seriam álbuns do Kiss, entretanto, e sim álbuns-solo de cada um de seus integrantes, cada um deles com o nome do integrante em questão. Os álbuns seguiam todos o mesmo padrão estético - todas as capas consistiam no rosto do integrante desenhado pelo artista Eraldo Carugati - e foram lançados todos no mesmo dia - na primeira e única vez em que todos os membros de uma banda lançaram álbuns-solo no mesmo dia - mas nem de longe tinham o mesmo estilo musical: Paul Stanley era o que mais se aproximava do som habitual do kiss, Ace Frehley tinha um rock mais melódico, Peter Criss contava com várias baladas de R&B, e Gene Simmons era o mais eclético, trazendo rock pesado, pop chiclete, uma balada, um cover de When You Wish Upon a Star (do desenho Pinóquio, da Disney, e adotado como o tema oficial do estúdio) e até mesmo um dueto com Cher, que na época era namorada do baixista. Nenhum dos quatro álbuns vendeu especialmente bem, sendo o de Frehley o mais bem sucedido. Na época, a versão oficial para o lançamento dos álbuns-solo foi que os integrantes estavam brigando muito entre si e precisavam cada um de um tempo sozinho, mas, na verdade, o relacionamento entre os quatro nunca esteve tão bem, e o lançamento desses álbuns já estava previsto no contrato que a banda renovou com a Casablanca em 1976, logo após o lançamento de Alive!.

Em 1978 a banda também se envolveria em mais um projeto ambicioso: um filme de cinema que os transformaria em super-heróis. Infelizmente, nem tudo saiu conforme o planejado, o roteiro foi reescrito várias vezes, as filmagens se arrastaram durante meses, e o resultado, ao invés de um filme de ação, foi uma comédia involuntária - em entrevistas posteriores, os membros da banda se declararam insatisfeitos com o filme, que os retratou mais como palhaços que como super-heróis. Kiss e os Fantasmas (Kiss Meets the Phantom of the Park) acabaria estreando na NBC em 28 de outubro de 1978; nos cinemas, ele só seria exibido fora dos Estados Unidos, a partir de 1979, com o título Attack of the Phantoms. No filme, os membros do Kiss têm super poderes, e devem impedir o cientista louco Abner Devereaux (Anthony Zerbe) de conquistar o mundo usando animatonics. Pois é.

Voltando à música, em maio de 1979 seria lançado o mais novo álbum do Kiss, Dynasty, que traria um dos maiores sucessos da banda, I Was Made for Lovin' You, e renderia mais um Disco de Platina. Pouco antes de as gravações começarem, Criss sofreria um acidente de carro que o impossibilitaria de tocar bateria, ficando esse instrumento a cargo de Anton Fig. Apesar do bom desempenho do álbum, a turnê que o acompanhou teve os piores números da carreira da banda, com vários shows não alcançando sua lotação máxima; curiosamente, cada vez mais nas plateias havia adolescentes e pré-adolescentes, a maioria maquiados como a banda, muitos acompanhados pelos pais (que estavam, às vezes, eles mesmos maquiados). Stanley e Simmons decidiriam abraçar esse novo público, criando fantasias cada vez mais coloridas, que tornavam os membros da banda mais parecidos com desenhos animados do que com as figuras de ficção científica que originalmente encarnavam. Bizarramente, o aumento do interesse jovem na banda fez com que eles começassem a planejar um parque temático, chamado Kiss World, que jamais sairia do papel devido, principalmente, aos altos custos da empreitada.

Após o lançamento de Dynasty, começaria a crescer uma tensão entre Criss, Simmons e Stanley. Mesmo após se recuperar do acidente, o baterista não retornou à sua antiga forma, e durante vários shows da turnê tocou fora de ritmo ou parou antes de a música acabar. Isso foi irritando Stanley, que decidiu que ele, embora ainda aparecesse na capa, não participaria das gravações do álbum seguinte da banda, Unmasked, sendo mais uma vez substituído por Fig, que não seria creditado. Logo após as gravações se concluírem, Criss anunciaria sua saída da banda, e Fig seria demitido por Simmons e Stanley, que consideravam que ele não estava à altura do que suas canções exigiam. Lançado em maio de 1980, Unmasked não conseguiria manter o mesmo padrão dos álbuns anteriores, mas ainda renderia um Disco de Ouro.

Para o lugar de Criss, após dezenas de testes (incluindo um com Tico Torres, que acabaria se tornando baterista do Bon Jovi), Stanley e Simmons escolheriam Eric Carr, que faria seu primeiro show com a banda em julho de 1980, e depois sairia com eles em turnê pela Austrália e Nova Zelândia. Carr sequer cogitou usar a mesma maquiagem que Criss, e criou uma nova, com uma águia desenhada em seu rosto - que Stanley rejeitou dizendo que se parecia mais com uma galinha. Ele então decidiu usar uma maquiagem que imitava os padrões negros na face de uma raposa, sendo seu personagem simplesmente "o raposa" (The Fox).

O álbum seguinte do Kiss seria bastante alardeado pela imprensa, que anunciaria um retorno ao rock pesado do início da carreira da banda; ao invés disso, Music from "The Elder", lançado em novembro de 1981, seria um álbum conceitual, usando instrumentos como sintetizadores, harpas, e até mesmo uma tuba medieval. O álbum seria definido pela banda como "a trilha sonora de um filme jamais lançado", e suas músicas, teoricamente, contavam a história do filme; ele teria a pior performance de toda a carreira da banda, não conseguindo sequer Certificação.

Frehley ficaria extremamente decepcionado com a mudança de estilo da banda, e se recusaria a ir ao estúdio junto com os outros membros para gravá-lo; eles acabariam chegando a um acordo segundo o qual ele gravava suas participações em seu estúdio particular e as enviaria pelo correio para o empresário da banda, com a gravadora unindo suas gravações às demais durante a mixagem. Frehley também se declararia insatisfeito com o fato de que, após a saída de Criss, como Carr não tinha direito a voto no tocante às decisões da banda, ele sempre acabava sendo voto vencido, já que Simmons e Stanley sempre decidiam tudo juntos. Após votar contra e ser derrotado, ele se recusaria a ir a uma apresentação especial da banda no Studo 54 de Nova Iorque. Depois disso, Frehley negociaria sua saída da banda, o que ocorreria em dezembro de 1982; ele continuaria dono dos direitos sobre sua maquiagem e parceiro de negócios de Simmons e Stanley em vários merchandisings associados da banda até 1985.

Assim como ocorreu com Criss, Frehley ainda apareceria na capa do álbum seguinte do Kiss, Creatures of the Night, lançado em outubro de 1982 - embora o guitarrista durante as gravações tivesse sido Vinnie Vincent, que não seria creditado. Bogart morreria de câncer durante as gravações, e o Kiss dedicaria o álbum a ele; tensões crescentes com os novos donos da Casablanca fariam com que Creatures of the Night fosse o último álbum da banda por essa gravadora, com eles preferindo romper o contrato e assinar com a Mercury Records no início de 1983. O álbum renderia à banda mais um Disco de Ouro, e traria a faixa I Love it Loud - co-escrita por Vincent, mas com Frehley, que ainda era oficialmente membro da banda, aparecendo no clipe.

O lugar de Frehley no Kiss seria bastante cobiçado: assim que soube que havia uma vaga, Eddie Van Halen, que estava insatisfeito com o vocalista David Lee Roth e querendo acabar com a banda Van Halen, se candidatou para a posição, sendo convencido por seu irmão Alex e por Simmons a permanecer e, ao invés disso, forçar o vocalista a sair. Dentre os que fizeram o teste estavam Ritchie Sambora, que no ano seguinte fundaria o Bon Jovi; Doug Aldrich, ex-Whitesnake, que no ano seguinte entraria para o Dio; e Yngwie Malmsteen, hoje considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Simmons e Stanley, entretanto, acabariam preferindo continuar com Vincent, e Stanley até mesmo criaria seu personagem, que chamaria de The Wiz (algo como "o bruxo"); a maquiagem de Vincent trazia um ankh egípcio no meio do rosto, e, por isso, acabaria mais conhecido como "o guerreiro do ankh egípcio" (The Egyptian Ankh Warrior). Vincent seria o único dos membros maquiados da banda a jamais aparecer como seu personagem em nenhuma capa de álbum, usando sua maquiagem apenas em shows, pois jamais se deu bem com os demais membros da banda, e acabou demitido ao final da turnê de Creatures of the Night; ele seria recontratado para o álbum seguinte, Lick It Up, porque Stanley não conseguiu um guitarrista de aluguel a tempo de começar as gravações, mas demitido novamente após o fim da turnê desse álbum, o único no qual ele foi creditado como membro do Kiss.

A razão pela qual, mesmo tendo sido recontratado, Vincent não apareceu maquiado na capa de Lick It Up foi que, no início de 1983, Stanley e Simmons acharam que estava na hora de uma mudança que recolocasse o Kiss em voga, e decidiriam que essa mudança seria passar a se apresentar sem maquiagem. A primeira aparição da banda de cara limpa se daria em um especial da Mtv em setembro de 1983, no mesmo dia do lançamento de Lick It Up, o primeiro álbum no qual eles apareceriam sem maquiagem na capa, e o primeiro show da turnê mundial desse álbum, em Portugal, seria a primeira apresentação do Kiss sem maquiagem em mais de dez anos. Lick It Up seria o primeiro álbum do Kiss lançado pela Mercury, e sua faixa-título se tornaria um dos grandes sucessos da banda. O álbum renderia um Disco de Platina, o primeiro do Kiss desde Dynasty, mas a plateia dos shows continuaria a minguar, sem nenhuma apresentação da turnê atingir lotação máxima.

Após a demissão de Vincent ao fim da turnê de Lick It Up, Stanley e Simmons contratariam como guitarrista Mark St. John, que era guitarrista de aluguel e professor de guitarra. Com ele, a banda gravaria Animalize, álbum que seria lançado em setembro de 1984, que traria a faixa Heaven's on Fire e renderia à banda mais um Disco de Platina. Pouco antes do início da turnê de Animalize, St. John teria uma crise de artrite reativa, e não teria condições de participar de muitos dos shows, sendo substituído por Bruce Kulick. St. John acabaria pedindo para sair da banda, sendo substituído por Kulick em definitivo, em dezembro de 1984. Apesar de ser o quarto guitarrista da banda em três anos, Kulick ficaria com o Kiss por mais doze, se tornando o terceiro membro mais longevo da banda, atrás apenas de Stanley e Simmons; apesar disso, como sua participação na banda começaria logo após eles decidirem deixar a maquiagem de lado, e terminaria antes que eles decidissem readotá-la, ele jamais criaria um personagem para si - St. John e Kulick, aliás, seriam os únicos membros do Kiss a jamais usar maquiagem durante os shows.

O primeiro álbum do Kiss com Kulick, Asylum, de setembro de 1985, renderia mais um Disco de Platina, mas dividiria a crítica, que chamaria o estilo do álbum de glam metal. A banda passaria o ano de 1986 apenas fazendo shows, e retornaria em outubro de 1987 com Crazy Nights, que se sairia melhor com a crítica e renderia mais um Disco de Platina. Após mais um ano somente de shows, eles encerrariam a década com Hot in the Shade, que, com uma capa engraçadinha (a Esfinge de óculos de sol), não agradaria tanto nem à crítica, nem ao público, rendendo Disco de Ouro, mas cuja faixa Forever, co-escrita por Stanley e Michael Bolton, se tornaria um dos maiores sucessos da banda, alcançando o oitavo lugar na parada da Billboard e se tornando a segunda canção do Kiss a entrar para o Top 10.

Pouco antes de a banda voltar ao estúdio para gravar seu álbum seguinte, em 1991, Carr descobriu que tinha um tumor no coração, e eles decidiram adiar as gravações até que ele concluísse o tratamento. Ele chegou a ser declarado como livre de câncer pelos médicos, mas, alguns meses depois, sofreu duas hemorragias cerebrais, entrou em coma e acabou falecendo - no exato mesmo dia em que Freddy Mercury também faleceu. Após o luto, Stanley chamaria para a banda o veterano baterista Eric Singer, que o havia acompanhado durante a turnê de seu álbum solo no final da década de 1970. Com Singer, o Kiss lançaria Revenge, em maio de 1992, que renderia mais um Disco de Ouro tendo um som mais pesado que o que vinham fazendo ultimamente, e, surpreendentemente, com Vincent como co-autor de algumas faixas, incluindo a principal música de trabalho, Unholy. No ano seguinte, a banda lançaria mais um álbum ao vivo, Alive III, e ganharia uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

Em 1995, a banda lançaria o livro Kisstory, com 440 páginas dedicadas à história da banda; logo depois, eles embarcariam em uma turnê diferente, a Worldwide Kiss Convention Tour, na qual cada parada, além de um show, contava com uma convenção, com direto a figurinos antigos em exibição, palestras e entrevistas com os membros da banda, e venda de vários tipos de merchandising - um dos shows dessa turnê contaria com Criss na bateria, 16 anos após sua saída. Ainda em 1995, eles seriam convidados para tocar no Mtv Unplugged, o programa conhecido por aqui como Acústico; ao invés de comparecer com sua formação da época, Simmons e Stanley decidiram chamar Criss e Frehley, para que a banda se apresentasse com sua formação original. Isso levaria a várias especulações de que a formação original retornaria, mas, como as gravações do álbum seguinte já estavam em andamento, foi a formação com Stanley, Simmons, Kulick e Singer que figurou em Carnival of Souls: The Final Sessions.

Animados pelo bafafá que um possível retorno da formação original havia causado, porém, Stanley, Simmons, Criss e Frehley começaram a negociar como poderia ocorrer esse retorno, e, após chegar a um acordo mútuo, decidiram que o anúncio ocorreria em grande estilo, em um show surpresa durante a cerimônia do Grammy, em fevereiro de 1996. Dispostos a causar a maior surpresa possível, os quatro ainda se apresentaram de figurino completo e maquiagem, algo que não acontecia desde 1982. O show foi absurdamente comentado, e, em abril, os quatro decidiriam sair em uma turnê mundial para comemorar o retorno da formação original; essa turnê, a Kiss Alive Worldwide Tour começaria em junho, contaria com 192 shows, e, como nos áureos tempos da banda, muitas vezes os ingressos se esgotariam com meses de antecedência e a plateia teria lotação máxima - de fato, a média de público da turnê foi a mais alta da carreira da banda, e o sucesso dos shows levou a crítica a eleger o Kiss como a banda mais popular de 1996.

Restou um problema, porém: Carnival of Souls estava previsto para ser lançado em fevereiro de 1996, justamente o mês no qual ocorreu o retorno da formação original no Grammy, e, por causa disso, acabou sendo sucessivamente adiado, só sendo efetivamente lançado em outubro de 1997. Isso fez com que várias versões piratas do álbum, compiladas graças a pessoas pouco honestas que tiveram acesso a ele antes do lançamento, surgissem ao longo de 1996 e 1997. Além disso, o som do álbum era bastante diferente daquele com o qual os fãs do Kiss estavam acostumados, sendo mais próximo do grunge, que estava em seu auge na época de sua gravação. Somando esses três fatores - a formação do álbum não ser a original, as versões piratas e o som grunge - as vendas seriam bastante prejudicadas - o álbum não conseguiria sequer Certificação - o que faria com que a Mercury optasse por lançar apenas uma música de trabalho, Jungle, antes de colocar a banda para trabalhar em seu álbum seguinte.

Esse álbum seria Psycho Circus lançado em setembro de 1998, cuja faixa-título seria responsável pela primeira e única indicação ao Grammy da carreira do Kiss, na categoria Melhor Performance de Rock Pesado (perdido para Most High, de Jimmy Page e Robert Plant). Apesar de ser anunciado como um álbum com a formação original da banda, e trazer fotos de Criss e Frehley por todo o encarte, a participação dos dois foi mínima, com a bateria na maioria das faixas ficando a cargo de Kevin Valentine e a guitarra com Tommy Thayer - em uma das faixas, inclusive, a guitarra ficaria a cargo de Kulick. Frehley e Criss, porém, estariam na turnê de divulgação do álbum, que teve o primeiro show na história a exibir imagens em 3D em um telão. Psycho Circus renderia "apenas" um Disco de Ouro, mas chegaria ao terceiro lugar na parada da Billboard. O sucesso do álbum transformaria os membros da banda novamente em personagens de quadrinhos com o lançamento de Kiss: Psycho Circus, que teve 31 edições mensais produzidas pela Todd MacFarlane Productions e lançadas pela Image Comics, que por sua vez acabaria dando origem a um game de tiro em primeira pessoa (tipo Doom) chamado Kiss: Psycho Circus: The Nightmare Child, lançado para Windows e Dreamcast em 2000.

Entre 1998 e 2009, o Kiss focaria apenas em shows, sem lançar nenhum álbum novo. No início de 2001, alegando divergências na hora de acertar seu salário, Criss sairia novamente da banda, sendo substituído por Singer, que passou a usar sua maquiagem de homem-gato, o que causou uma certa controvérsia entre os fãs mais antigos. Logo depois do retorno de Singer, o Kiss sairia em uma turnê chamada the Farewell Tour ("a turnê do adeus"), dando a entender que seria sua última; mas esse adeus seria adiado ano após ano, com novas turnês sendo iniciadas após a suposta última, e Frehley, após uma turnê conjunta do Kiss e do Aerosmith em 2003, anunciaria sua aposentadoria, sendo substituído por Thayer, que passaria a usar sua maquiagem de ás do espaço. A formação com Stanley, Simmons, Thayer e Singer permaneceria a mesma até hoje. Deste período sem álbuns vale citar também o lançamento em 2001 do Kiss Kasket, considerado por muitos como o item de merchandising mais bizarro já lançado por qualquer banda, um caixão decorado para que os fãs pudessem ser enterrados com referências à sua banda preferida; o lançamento do segundo álbum-solo de Stanley, Live to Win, em outubro de 2006; e o lançamento de uma nova série em quadrinhos, Kiss 4K: Legends Never Die, que teve dez edições lançadas pela Platinum Comics entre maio de 2007 e agosto de 2008.

A decisão de passar mais de dez anos sem lançar um álbum novo viria de Stanley e Simmons, que, no final de 2008, mudariam de ideia, anunciando um álbum com "o verdadeiro som do Kiss dos anos 1970". Esse álbum seria Sonic Boom, lançado em outubro de 2009 pela gravadora Roadrunner, que alcançaria o segundo lugar da parada da Billboard, mas não conseguiria vender bem o suficiente para obter Certificação. Sonic Boom seria um álbum triplo, com um disco contendo inéditas, um contendo grandes sucessos da carreira da banda, e um sendo uma gravação de um show realizado em Buenos Aires, Argentina - ou seja, um de inéditas, uma coletânea e um ao vivo.

O por enquanto e talvez provavelmente último álbum do Kiss, Monster, seria lançado em outubro de 2012 - o vigésimo álbum de estúdio da banda no total. Gravado totalmente de forma analógica, para capturar ainda mais o estilo dos anos 1970, ele mais uma vez não conseguiria Certificação, mas alcançaria o terceiro lugar na parada da Billboard. Em 2013, o Kiss seria eleito para entrar para o Hall da Fama do Rock.

Em janeiro de 2019, Simmons e Stanley anunciariam que, finalmente, iriam se aposentar - com ambos já beirando os 70 anos, sua energia no palco já não é a mesma, e Stanley seria acusado até mesmo de usar playback em alguns shows, o que foi negado com veemência pela banda. Naquele mês, eles embarcariam na End of the Road World Tour, a última turnê da carreira do Kiss - que, em alguns shows dos realizados até agora, contou com a participação de Frehley na guitarra. Por enquanto, a data escolhida para o último show do Kiss é 3 de dezembro de 2019, mas essa data pode ser adiada ou antecipada devido a vários eventos. Embora Simmons, em entrevistas, tenha dado a entender que eles possuem canções novas e devem lançar mais um álbum antes do fim, Stanley negou, então ninguém sabe se será o caso. Após mais de 45 anos de carreira, parece que o filho das estrelas, o demônio, o ás do espaço e o homem-gato finalmente vão pendurar as fantasias.

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