Atualmente, descontando aqueles que já fazem parte das Olimpíadas e das Olimpíadas de Inverno, e os que vão estrear em Tóquio em 2020, o COI reconhece 33 esportes - o que significa que, se nas próximas Olimpíadas algum esporte novo for incluído, ele terá de sair dessa lista de 33. Alguns esportes, entretanto, fazem parte da lista, mas jamais serão incluídos, como é o caso do automobilismo, motociclismo, motonáutica e esqui aquático, já que a Carta Olímpica, o "regulamento das Olimpíadas", proíbe a presença de esportes motorizados - a Federação Internacional de Esqui Aquático e Wakeboard tenta convencer o COI de que o esporte não é motorizado, já que o atleta é apenas rebocado pelo barco, mas os outros três buscaram o reconhecimento do COI devido ao status que uma federação adquire quando o obtém; por exemplo, se algum dia surgir uma outra federação querendo regular o motociclismo, a FIM ainda terá campeonatos mais valorizados, já que é reconhecida.
Outros esportes, apesar de não haver nada na Carta Olímpica que proíba sua participação, parecem estar muito distantes de realizarem o sonho de fazer parte das Olimpíadas, já que as próprias características do esporte fazem com que nem todos os locais do mundo sejam adequados para a sua prática. É o caso do montanhismo. Desde que eu vi a lista do COI pela primeira vez, imaginei que deva ser um pouco difícil incluir o montanhismo nas Olimpíadas, porque não seria justo exigir que toda cidade-sede tivesse uma montanha apropriada para a disputa. Essa semana, me peguei pensando nisso novamente, e achei que seria interessante escrever um post sobre montanhismo, nem que fosse para expressar esse pensamento. Graças a isso, hoje é dia de montanhismo no átomo!
No início dos tempos, ninguém escalava montanhas por esporte; aliás, ninguém escalava montanhas, pois, além de isso ser extremamente difícil, quase todas as montanhas eram tidas como sagradas, devido à proximidade de seus cumes com os céus, sendo considerado, em muitas culturas, sacrilégio tentar chegar ao topo - quando era necessário subir uma montanha, sempre eram usadas trilhas, que evitavam ser necessário escalar suas paredes. Uma das poucas exceções, se for possível confiar nos registros históricos, ocorreu no século II a.C., quando um exército liderado pelo Rei Felipe V, da Macedônia, escalou o Monte Haemo, na Bulgária, para pegar um destacamento romano que acampava do outro lado de surpresa. Inspirado por essa façanha, no ano de 1336, o poeta italiano Petrarco decidiu escalar o Monte Ventor, na França, simplesmente por fazê-lo. Ele conseguiu, e é hoje considerado o primeiro montanhista da história.
Mesmo após a façanha de Petrarco, poucos se arriscariam no montanhismo, e apenas em meados do século XV novos registros de expedições devotadas a escalar montanhas apenas pelo prazer de escalar seriam registradas, a maioria delas envolvendo o Monte Sniejka, ponto mais alto da República Tcheca, considerado de pouca dificuldade técnica. Em 1492, ocorreria a primeira escalada utilizando cordas e ganchos similares aos usados hoje, no Monte Agulha, na França, patrocinada por Antoine de Ville, lorde de Domjulien e Beaupré, que chegou ao topo acompanhado por uma pequena equipe. A partir de então, o montanhismo se popularizaria na Europa, e, entre os séculos XVI e XIX, a maior parte das montanhas do continente seria escalada por esporte. Como as mais procuradas ficavam nos Alpes, logo o esporte ganharia o nome de alpinismo, que hoje ainda é usado como sinônimo de montanhismo, embora seja considerado incorreto - como curiosidade, vale citar que também existem, embora sejam menos populares, os termos andinismo, usado para a escalada de uma montanha localizada nos Andes, e himalaísmo, para as montanhas do Himalaia; é melhor mesmo usar montanhismo, que é mais genérico, se aplicando a todas as montanhas do mundo.
Às vezes eu acho que, no século XIX, as pessoas tinham muito pouco o que fazer, porque qualquer novidade logo virava uma febre e todo mundo queria praticar. Com o alpinismo não foi diferente, já que, após Sir Alfred Wills conseguir escalar o Monte Wetterhorn, nos Alpes Suíços, em 1854, o alpinismo virou uma verdadeira febre em seu país natal, o Reino Unido, e logo começariam a surgir os clubes de alpinismo, aos quais qualquer um poderia se filiar para aprender as técnicas usadas nas escaladas e viajar até os Alpes para colocá-las em prática. O primeiro desses clubes, o Alpine Club, seria fundado em Londres em 1857, ano considerado o do início da Era de Ouro do Montanhismo, quando mais gente resolveu subir montanhas ao mesmo tempo do que em qualquer outra época da história. Vale dizer que nem todos o faziam por esporte, muitos estavam interessados no conhecimento científico que poderia ser obtido através dessas escaladas, e se filiar a um clube de alpinismo era a forma mais fácil de poder estudar uma montanha. Infelizmente, devido à novidade da prática - ou seja, poucas informações a respeito de severidade do clima e outros fatores - e aos materiais usados na época, muita gente também acabaria falecendo nos primeiros anos do alpinismo - na primeira escalada do Monte Cervino, na fronteira da Suíça com a Itália, em 1865, patrocinada pelo pintor britânico Edward Whymper, quatro membros da expedição morreram em decorrência de quedas, sendo essa considerada a maior tragédia da Era de Ouro.
Desde antes de o alpinismo virar uma febre na Europa, entretanto, nas Américas muitos homens corajosos se dispunham a escalar as Montanhas Rochosas e outros montes de destaque, fosse por esporte ou por necessidade - a primeira escalada do Pico de Orizaba, ponto mais alto do México, em 1848, ocorreu por um destacamento do exército dos Estados Unidos, que buscava estabelecer uma base científica. Quando as histórias dessas escaladas chegassem aos europeus, obviamente eles desejariam conhecer essas "novas montanhas" e escalá-las também - em 1879, Whymper patrocinaria outra expedição, dessa vez aos Andes, para escalar o Monte Chimborazo, no Equador. No final do século XIX, os europeus decidiriam subir também as montanhas da África, com a primeira expedição bem sucedida sendo a liderada pelo austríaco Ludwig Purtscheller ao Monte Kilimanjaro, na Tanzânia, em 1889. Dois anos depois, o irlandês William Spotswood Green se tornaria o primeiro montanhista a liderar uma expedição ao cume de uma montanha da Oceania, o Monte Cook, na Nova Zelândia. Em 1892, o inglês Sir William Martin Conway se tornaria o primeiro a escalar um dos picos do Himalaia, o Baltoro Kangri, no Paquistão. No início do século XX, já não havia no planeta montanha que os montanhistas não quisessem escalar.
Nessa época, várias nações, além dos clubes de alpinismo, possuíam Associações de Alpinismo, responsáveis por regular os clubes e registrar os feitos de seus membros. De vez em quando, associações de diversos países se reuniam, para trocar dados e experiências. Em uma dessas reuniões, em agosto de 1932, 20 Associações de Alpinismo decidiriam fundar um órgão responsável por regular o esporte em todo o planeta. Surgia, assim, a União Internacional das Associações de Alpinismo (UIAA), a maior autoridade no tocante à regulação do montanhismo, inclusive nos dias de hoje. Ao todo, a UIAA possui 86 membros, mas somente 62 deles são "federações nacionais", como a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), órgão máximo do montanhismo no Brasil; os outros 24 membros são organizações e comitês supranacionais, responsáveis por aspectos como certificação de equipamentos, atribuição de grau de dificuldade às montanhas, controle de doping, e até mesmo aspectos ecológicos - para que as montanhas não sejam destruídas durante as escaladas. A UIAA também é responsável pela emissão do prestigiado Diploma Internacional em Medicina de Montanha, que atesta que um médico está apto para trabalhar em resgate e tratamento de montanhistas acidentados.
Existem três estilos de montanhismo: a expedição, o estilo alpino e a escalada. A escalada é usada para montes e montanhas de tamanho baixo, ou seja, até 2.133 m de altura. Os montanhistas carregam pouquíssimo equipamento, e costumam completar a escalada em um único dia. Normalmente, a maior parte do percurso é vertical, fazendo uso de equipamentos como cordas, mosquetões e rapéis; dependendo do percurso, alguns pontos de apoio, como nuts e hexes (peças de metal encaixadas em fendas, que servem para prender os mosquetões, que se parecem com ganchos), já podem ter sido deixados pregados na pedra por outros montanhistas ou pela própria UIAA, podendo ser reaproveitados. A maior parte dos montanhistas amadores e dos registrados na UIAA participa de escaladas.
No estilo alpino, normalmente o montanhista escala sozinho, embora possa contar com uma pequena equipe de apoio. O estilo alpino costuma ser usado nos Alpes, de onde tira seu nome, nos Andes, nas Montanhas Rochosas, e em qualquer montanha de tamanho médio, o que, de acordo com a tabela da UIAA, é qualquer montanha cuja altura esteja localizada entre o início da escala de altura intermediária (2.133 m) e a metade da escala de altura elevada (5.486,5 m), embora algumas costumem passar um pouco desse limite - como o Aconcágua, que tem 6.962 m. No estilo alpino, cada montanhista também carrega seu próprio equipamento, e, por isso, costuma carregar pouco; cilindros de oxigênio, por exemplo, não costumam ser usados. A subida também costuma consumir menos tempo e dinheiro, já que é feita de forma contínua, com o montanhista sempre se movendo na mesma direção. O risco de exposição a perigos como tempo inclemente, avalanches e deslizamentos é menor (mas não inexistente), mas o montanhista pode se ver preso em determinadas partes da montanha devido a tempestades repentinas, o que pode levar a quadros de edema pulmonar ou cerebral causados por altitude. O estilo alpino costuma usar vários trechos verticais, mas a maior parte da subida é feita através de trilhas.
Já a expedição é normalmente praticada no Himalaia, embora o Alasca também conte com montanhas apropriadas para esse estilo - aquelas com mais de 5.486,5 m de altura. A expedição é a imagem que a maior parte das pessoas têm do montanhismo: um grupo grande, que conta com equipamentos como oxigênio suplementar, trenós guiados por cachorros, e kits para fazer comida, com panelas e fogareiros, levando vários dias para chegar ao topo de uma montanha mítica como o Everest - que tem 8.848 m de altura, antes que alguém pergunte. A maior parte do percurso em uma expedição é feita através de trilhas, e muitas delas contam com cordas-guia, colocadas por outros montanhistas, pela UIAA, ou até mesmo pelo governo local, para que os montanhistas não se percam; os trechos verticais, embora existam, costumam ser menos de um décimo do trajeto total. Durante uma expedição, os montanhistas montam bases, onde irão descansar, comer, alimentar os animais, fazer exames médicos etc. Muitas vezes, é necessário fazer mais de uma viagem para levar tudo de uma base até o local da base seguinte, e, por isso, a expedição é o estilo que mais consome tempo e dinheiro, já que os montanhistas ficam indo e voltando. O risco de exposição a perigos, principalmente hipotermia e congelamento, é altíssimo, mas, curiosamente, o risco de edema por altitude é baixo, já que a baixa velocidade da subida dá tempo ao corpo para se adaptar, e as bases oferecem proteção contra intempéries.
A UIAA não organiza campeonatos de montanhismo; o mais próximo disso são os festivais, que costumam ocorrer em várias cidades durante o ano, e atraem montanhistas que queiram treinar, conhecer novas montanhas ou fazer novas amizades. A maior parte da prática do montanhismo ocorre "por conta própria", com o montanhista decidindo efetuar uma escalada, reunindo um grupo para uma subida ao estilo alpino, ou financiando ou conseguindo patrocínio para uma expedição, e então recorrendo à UIAA para apoio e suporte. A UIAA também costuma manter registros de recordes, embora não encoraje seus afiliados a quebrá-los.
Além do montanhismo, a UIAA regula dois outros esportes. O mais popular deles é a escalada no gelo, que consiste em subir um paredão de gelo usando os mesmos equipamentos do montanhismo, mais dois específicos, o parafuso de gelo, que pode ser atarrachado no gelo para maior firmeza, e um implemento parecido com uma picareta, que o atleta finca e retira do gelo durante a subida. A escalada no gelo faz parte da subida em muitas montanhas, seja pelo acúmulo de gelo em suas laterais, seja pela presença de cachoeiras congeladas, mas, no início do século XX, alguns montanhistas começaram a disputar quem seria o mais rápido apenas nesse quesito. Em 1912, em Courmayeur, Itália, seria realizado o primeiro campeonato de escalada no gelo, com prêmios em dinheiro para o mais rápido. Desde então, campeonatos desse tipo seriam realizados regularmente, e, na década de 1990, com o avanço da tecnologia e a possibilidade de se criar paredões "artificiais", inclusive em ambientes internos, a escalada no gelo se tornaria um esporte totalmente separado do montanhismo. A UIAA decidiria passar a regular o esporte em 2002, e, desde então, dedica a ele o mesmo tratamento dispensado ao montanhismo, com certificação de equipamentos, gradação da dificuldade de paredões naturais de gelo etc.
A UIAA reconhece duas modalidades da escalada no gelo: na modalidade escalada de dificuldade, é usado sempre um paredão artificial, e cada competidor tem um tempo-limite para chegar o mais alto possível. Os dois primeiros apoios são colocados pela organização do campeonato, mas, a partir daí, o próprio atleta tem de colocar seus apoios, que são removidos e o gelo refeito após a passagem de cada atleta. Para agilizar, é possível usar mais de um paredão, para que vários atletas possam competir ao mesmo tempo, mas, para assegurar a justiça da competição, eles têm de ser idênticos em tamanho e textura. A altura do paredão é propositalmente impossível de ser totalmente percorrida no tempo limite, para que nenhum atleta chegue ao topo, e seja considerado seu máximo avanço quando o tempo se esgotar; em competições oficiais da UIAA, o paredão deve ter nada menos que 25 metros de altura. O tempo-limite costuma estar entre 6 e 8 minutos, dependendo da fase da competição.
Uma competição de escalada de dificuldade tem três etapas, conhecidas como classificatórias, semifinais e final. Todos os atletas participam das classificatórias, com os 40% melhores se classificando para as semifinais, e os oito melhores das semifinais se classificando para a final - na qual o atleta que chegar mais alto será o campeão. Um atleta que caia é automaticamente desclassificado, exceto no caso das classificatórias, quando cada atleta tem direito a mais uma tentativa caso caia porque não conseguiu prender corretamente seu primeiro apoio após os colocados pela organização. Evidentemente, os atletas possuem cordas de segurança presas a seus corpos durante toda a escalada, que os seguram no ar em caso de queda.
A segunda modalidade é a escalada de velocidade, que pode ser disputada em paredões artificiais ou naturais, que devem ter, em ambos os casos, no mínimo 12 e no máximo 15 m de altura. Na escalada de velocidade, ganha quem alcançar o topo em menos tempo, e, portanto, não há tempo-limite; o trajeto também é sempre menos complicado que o usado na escalada de dificuldade, podendo ser cumprido em segundos ao invés de minutos. No alto do paredão há um cronômetro com um botão, que, quando pressionado, estabelece o tempo de escalada do competidor; assim como na escalada guiada, cada competidor é protegido por uma corda de segurança para não se esborrachar no chão caso caia.
A escalada de velocidade pode ser disputada em dois formatos, o single, no qual cada competidor vai para o paredão de uma vez, ou o duel, no qual eles vão dois a dois. No formato single, a estrutura da competição é a mesma da escalada de dificuldade (com a exceção sendo que quem cai é eliminado mesmo nas classificatórias), mas no duel ela é um tanto diferente: primeiro, é disputada uma fase classificatória na qual ninguém é eliminado, e serve apenas para ranqueamento; depois dela, é disputada a primeira fase, na qual o atleta de melhor tempo nas classificatórias enfrentará o de pior, o segundo melhor enfrentará o segundo pior, e assim sucessivamente. A partir de então, são disputadas sucessivas fases até que só restem dois atletas, que farão a final, da qual o vencedor será o campeão - caso haja uma medalha de bronze em disputa, os perdedores das semifinais a disputarão.
São da escalada no gelo os três únicos campeonatos organizados pela UIAA. O mais famoso é a Copa do Mundo de Escalada no Gelo, organizada anualmente desde 2006, e que conta com seis etapas ao longo de cada ano. Em cada etapa são disputadas competições masculinas e femininas de dificuldade e velocidade, com os atletas ganhando pontos por seu desempenho em cada etapa, que serão somados para se determinar os quatro campeões ao final da última etapa. Desde 2015, a última etapa é conhecida como Final da Copa do Mundo, e só participam dela os 16 atletas com mais pontos em cada modalidade após a quinta etapa. Também em 2015 seria criado o segundo campeonato mais famoso, o Campeonato Mundial de Escalada no Gelo. Disputado em uma única etapa a cada dois anos, ele também conta com provas masculinas e femininas de dificuldade e velocidade, coroando quatro campeões. Finalmente, temos o Campeonato Mundial Combinado de Escalada no Gelo, no qual os mesmos atletas têm de competir nas provas de dificuldade e de velocidade, com suas colocações em cada prova sendo somadas para determinar o Campeão Combinado. O Mundial Combinado já teve uma única edição disputada, em 2018, e o plano da UIAA é realizá-lo sempre nos anos pares, alternando com o outro Mundial.
Atualmente, a UIAA se encontra em uma campanha feroz para incluir a escalada no gelo nas Olimpíadas de Inverno já na próxima edição, em 2022, em Pequim, China. Essa campanha incluiu uma demonstração do esporte, realizada com autorização do COI, mas sem valer medalhas, durante as Olimpíadas de Inverno de 2018, em Pyeongchang, Coreia do Sul. Embora ainda não haja uma data para a decisão final do COI sobre o assunto ser proferida, a UIAA está confiante quanto a inclusão, principalmente depois que a escalada esportiva, esporte de verão extremamente semelhante à escalada no gelo, foi adicionada ao programa das Olimpíadas de 2020, em Tóquio, Japão.
O terceiro esporte regulado pela UIAA é o skyrunning, que ela não regula sozinha, mas em parceria com a Federação Internacional de Skyrunning (ISF); basicamente, a ISF estabelece as regras e organiza os campeonatos, enquanto a UIAA dá ao skyrunning o mesmo suporte que dá ao montanhismo. O skyrunning é uma espécie de corrida cross-country realizada em trilhas de montanha; toda prova deve ser realizada a no mínimo 2.000 m de altitude, ter a linha de chegada a uma altura no mínimo 1.300 m maior que a da linha de partida, e ter uma subida que não exceda o Grau II de acordo com a tabela da UIAA. O skyrunning foi criado no início da década de 1990 pelo montanhista italiano Marino Giacometti, que organizou algumas provas no Mont Blanc, na França, e no Monte Rosa, na Itália. Essas provas chamaram a atenção da fabricante de material esportivo Fila, que decidiu patrocinar provas no mesmo estilo em outras montanhas da Europa, do Himalaia, do México e uma no Monte Quênia.
O esporte rapidamente ganharia popularidade e um grande número de adeptos, e, em 1995, seria fundada a Federação para Esportes na Altitude (FSA), que não era uma federação esportiva, e sim um órgão que visava realizar estudos sobre o efeito da altitude no corpo dos atletas. A FSA também publicaria, de acordo com o resultado desses estudos, recomendações que deveriam ser seguidas pelos organizadores das provas, como se fossem as regras do skyrunning. No início dos anos 2000, porém, o grande número de provas de skyrunning realizadas por ano mostraria que essas recomendações não seriam suficientes, e os membros da FSA começariam a discutir a necessidade de transformar o órgão em uma federação esportiva. Ao invés de fazer isso, entretanto, eles decidiriam, em 2008, fundar um novo órgão, a ISF, que ficaria responsável pela parte esportiva, enquanto a FSA continuaria com a parte científica. O acordo entre a ISF e a UIAA seria firmado dois anos depois, em 2010.
Existem cinco modalidades do skyrunning; em todas elas, as regras são as mesmas de uma corrida cross-country: todos os competidores largam juntos, e o primeiro a cruzar a linha de chegada é o vencedor. Quatro delas são bastante semelhantes, só variando a distância total do percurso e a distância mínima de escalada, que é a diferença, em metros, entre a altitude da linha de partida e a da linha de chegada. A modalidade mais light é a SkyRace, cuja distância deve ficar entre 20 e 49 km e a escalada deve ter no mínimo 1.300 m, com uma prova sendo completada em torno de três horas. Em seguida temos a SkyMarathon, cuja distância fica entre 30 e 49 km e a escalada mínima é de 2.000 m, sendo completada entre 3 e 5 horas. Na Ultra SkyMarathon, a distância deve ficar entre 50 e 99 km, e a escalada mínima é de 3.200 m, sendo completada entre 5 e 10 horas. A mais violenta é a Sky Extreme, cuja distância também fica entre 50 e 99 km, mas a escalada mínima é de 4.000 m, com os atletas levando entre 6 e 16 horas para completar uma prova. A quinta modalidade se chama Vertical Kilometer, e, como o nome sugere, tem 1 km de extensão; a diferença da Vertical para as demais é que o trajeto é absurdamente íngreme, com inclinação do terreno entre 20% e 33% - tão íngreme que é permitido aos competidores usar bastões de esqui para ajudar na subida. Uma prova de Vertical costuma levar em torno de uma hora para ser completada.
A principal competição do skyrunning é o Campeonato Mundial, realizado pela primeira vez em 2010, então em 2014, e a partir daí a cada dois anos. O Mundial conta com provas masculinas e femininas de Vertical, SkyMarathon (ambas desde 2010) e Ultra SkyMarathon (desde 2014). O torneio mais antigo é a Skyrunner World Series, disputada anualmente desde 2012, que conta com diversas etapas ao longo do ano, que conferem pontos aos participantes, coroando o campeão de cada categoria ao final da última etapa; algumas das etapas são consideradas "etapas bônus", e conferem 50% a mais pontos que as demais. Atualmente, a Skyrunner World Series coroa os campeões masculino e feminino das categorias Sky Classic (que, ao longo de 10 etapas, sendo três de bônus, reúne provas de SkyRace e de SkyMarathon) e Sky Extra (que, ao longo de 8 etapas, sendo duas de bônus, reúne provas de Ultra SkyMarathon e Sky Extreme); as etapas são diferentes para cada categoria, sem nenhuma que tenha provas de ambas. Finalmente, no mesmo estilo, temos o Vertical Kilometer World Circuit, que consiste de 17 etapas (sendo três de bônus) disputadas ao longo do ano, cada uma com uma prova masculina e uma feminina. De 2002 a 2016, o Vertical era uma das categorias da World Series, mas, em 2017, como as sedes eram diferentes mesmo, a ISF decidiu renomear o campeonato para trazer mais visibilidade a essa modalidade.
Para terminar por hoje, vamos falar de um outro esporte bastante parecido com o montanhismo, mas que não é regulado pela UIAA, e que também está na lista dos 33 reconhecidos pelo COI, aguardando um lugar nas Olimpíadas de Inverno: o montanhismo com esquis. Nesse esporte, cada atleta deve subir uma montanha até o topo de uma pista de esqui, que descerá esquiando. Durante a subida, ele se deparará com trechos que deverá cumprir a pé, com os esquis sendo levados nas costas, e com trechos que deverá cumprir esquiando, como se fosse uma prova de esqui cross-country. A largada pode ser em massa, com todos os competidores largando juntos (caso no qual o vencedor será aquele que chegar primeiro), ou em baterias, com os competidores largando em pequenos grupos (normalmente de seis esquiadores cada), e cada grupo largando após todos os do grupo anterior terem chegado (caso no qual o vencedor será aquele que cumprir o percurso no menor tempo, independentemente de em qual grupo estava). Os esquis são do mesmo tipo usado no esqui alpino, mas com presilhas especiais, que permitem que os calcanhares dos esquiadores fiquem livres durante a subida e presos durante a descida.
O montanhismo com esquis foi criado na década de 1920 como um exercício militar, usado principalmente por destacamentos que patrulhavam montanhas e áreas cobertas de neve. Na década de 1980, civis começaram a praticá-lo, e ele rapidamente se popularizou na Europa, onde começaram a surgir as primeiras federações nacionais desse esporte. Em 1992, as federações nacionais de França, Itália, Eslováquia, Suíça e Andorra se reuniram e decidiram formar o Comitê Internacional de Alpinismo com Esquis de Competição (CISAC), responsável por regular o esporte, mas que somente organizava competições na Europa. Por causa disso, em 1999, as federações nacionais de Estados Unidos, China, Coreia do Sul, Alemanha, Bélgica, Argentina e Chile decidiriam fundar o Conselho Internacional do Montanhismo com Esquis de Competição (ISMC), que organizaria campeonatos no mundo inteiro, e seria filiado à UIAA. Após anos de disputa entre os dois órgãos, CISAC e ISMC chegariam a um acordo, e, em 2008, o ISMC se desfiliaria da UIAA e se fundiria com o CISAC, dando origem à Federação Internacional de Montanhismo com Esquis (ISMF), que, hoje, com 32 membros (dentre os quais não está o Brasil), é o órgão máximo do montanhismo com esquis no planeta.
O montanhismo com esquis possui cinco modalidades. A mais veloz é o sprint, que consiste de uma primeira parte na qual os competidores farão uma trilha com esquis, uma segunda parte na qual escalarão a pé, uma terceira parte na qual farão uma nova trilha com esquis, mas em subida, e uma quarta parte na qual descerão esquiando. O sprint é sempre disputado em baterias, com uma primeira fase classificatória, e então semifinais e a final, da qual participarão os seis melhores das semifinais - dependendo do número de competidores, pode ser disputada também uma fase de quartas de final, entre a classificatória e as semifinais. Antes de a fase classificatória começar, os competidores dispõem de 15 minutos para inspecionar o trajeto. O trajeto do sprint é feito em um circuito fechado, com as linhas de partida e de chegada quase no mesmo lugar, e a diferença de altitude entre a linha de partida e o topo da pista de esqui é bem baixa, por volta de 100 m. Todo o trajeto costuma ter por volta de 500 m. Normalmente, um competidor leva em torno de três minutos e meio para completar uma prova de sprint.
A segunda modalidade é a individual, cujo trajeto tem por volta de 5 km, a diferença de altitude entre a linha de partida e o topo da pista de esqui fica entre 1,6 e 1,9 km, e os competidores levam entre uma hora e meia e duas horas para completar a prova. O individual não precisa ser disputado em circuito fechado, mas usa obrigatoriamente a largada em massa, e os competidores não podem inspecionar o trajeto previamente. Diferentemente do sprint, seus trechos não possuem uma ordem fixa: as regras da ISMF determinam que, do trajeto que vem antes da pista de esqui, no mínimo 85% tem que ser cumprido em trilhas com esquis, no máximo 5% em trilhas planas a pé, e no máximo 10% em escaladas a pé, existindo no mínimo três trechos de subida com esquis, sendo que o maior desses trechos não pode exceder em 50% a diferença total de altura da linha de largada para o topo da pista - cumprindo esses requisitos, os trechos podem se alternar livremente. A terceira modalidade, equipes segue as mesmas regras do individual, com as seguintes diferenças: o trajeto tem por volta de 10 km, e a diferença de altitude entre a linha de partida e o topo da pista de esqui deve ser de no mínimo 2,1 km, o que faz com que as equipes levem em torno de 3 horas para completar a prova. Além disso, como o nome sugere, essa modalidade é disputada por equipes de dois ou três competidores cada, sendo que os membros de cada equipe devem permanecer juntos durante todo o percurso, e o tempo de uma equipe só é registrado quando todos os seus membros cruzam a linha de chegada.
A quarta modalidade é o revezamento, disputada em circuito fechado por equipes de 3 ou 4 competidores cada, que têm 20 minutos antes da prova para inspecioná-lo. O trajeto possui cerca de 1 km, com a diferença de altura entre a linha de partida e o topo da pista ficando entre 150 e 180 m. Cada membro da equipe percorrerá o mesmo trajeto, um de cada vez, com o seguinte começando quando o anterior lhe passar a vez na linha de partida. É obrigatório que haja no mínimo dois trechos de subida com esqui e um trecho de escalada a pé, mas o restante do trajeto é de livre escolha da organização. Finalmente, temos a modalidade vertical, a única que não tem nenhum trecho a pé - os competidores fazem toda a subida com os esquis calçados, e não há descida, sendo vencedor quem chegar ao topo em menos tempo. O trajeto deve ter cerca de 1 km, com diferença entre a linha de partida e a de chegada entre 500 e 700 m, e os competidores não podem inspecioná-lo previamente. Tanto no revezamento quanto no vertical, uma prova dura cerca de meia hora, e a largada pode ser em massa ou por baterias.
A mais importante competição do montanhismo com esquis é o Campeonato Mundial de Montanhismo com Esquis, realizado a cada dois anos - nos anos pares de 2002 a 2010, nos ímpares de 2011 em diante, sendo que de 2002 a 2006 foi organizado pelo ISMC, e a partir de 2008 pela ISMF. Atualmente são disputadas no Mundial provas masculinas e femininas de todas as cinco modalidades, sendo conferidas também medalhas no combinado masculino e feminino (cujas classificações são obtidas somando os resultados dos atletas nas provas do individual, equipes e vertical). O segundo campeonato de maior prestígio é a Copa do Mundo de Montanhismo com Esquis, realizada anualmente desde 2008, e que atualmente conta com provas masculinas e femininas de individual, sprint e vertical. A Copa do Mundo consiste de seis etapas ao longo do ano, com os resultados de cada atleta sendo somados para se determinar os campeões ao final da última.
Vale citar também a ISMF Series, uma série de cinco eventos disputados ao longo do ano, cada um coroando seu próprio campeão. Atualmente, o carro-chefe da ISMF Series é a Elbrus Ski Monsters Expedition Race, uma prova por equipes masculina de nada menos que 42,98 km, com diferença entre a linha de partida e o topo da pista de 4.991 m e duração de 8 horas, que leva os competidores até o cume do Monte Elbrus, localizado na Rússia, o ponto mais alto da Europa, com 5.642 m. A ISMF Series foi criada em 2010, e tem o intuito de promover o montanhismo com esquis ao redor do mundo, então suas etapas sempre estão frequentemente mudando, sendo dada preferência para provas de prestígio como a do Monte Elbrus (disputada desde 2008, mas parte da ISMF Series desde 2018) ou realizadas em locais onde o esporte é pouco praticado - desde 2017, por exemplo, faz parte da ISMF Series o Festival Internacional de Damavand, que conta com provas masculinas e femininas de vertical e sprint, e é realizado no Irã. Essa promoção é bastante necessária, já que a ISMF se encontra em campanha para incluir o montanhismo com esquis nas Olimpíadas de Inverno, de preferência já em 2022, mas o baixo número de praticantes do esporte é um grande entrave a essa pretensão.
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