domingo, 10 de fevereiro de 2019

Escrito por em 10.2.19 com 0 comentários

Patinação (III)

Em 2014, eu fiz aqui dois posts sobre patinação: o primeiro, sobre patinação no gelo, esporte regulado pela União Patinadora Internacional (ISU); o segundo, sobre a patinação que usa patins com rodinhas, regulado pela Federação Internacional de Esportes sobre Rodas (FIRS), que, em 2016, seguindo uma tendência mundial, mudaria de nome para World Skate.

Na época em que eu fiz esse segundo post, a então FIRS regulava oito esportes. Sobre dois deles, o hóquei sobre patins e o hóquei inline, eu já havia falado em um post específico sobre hóquei, mais antigo. No segundo post sobre patinação, eu falei sobre mais quatro: a patinação artística, a patinação em velocidade, a patinação downhill e a patinação inline estilo livre. Ficariam sobrando dois, o skateboarding e a patinação inline alpina, que eu optaria por não abordar por "não ter nada a ver com patins".

Acontece, porém, que eu, inadvertidamente, cometi um erro: ao pesquisar para escrever o post, eu confundi a patinação inline alpina (inline alpine skating) com outro esporte, o esqui alpino inline inline alpine skiing). A patinação inline alpina usa, sim, patins, ao contrário do esqui alpino inline, que usa um esqui modificado, com quatro rodinhas em linha. Lembro-me muito bem que fiz essa confusão porque o site da FIRS era maio bagunçado, não tinha as regras de nenhum dos esportes regulados por ela, e, quando vi as poucas fotos da patinação inline alpina, achei que se tratava do esqui alpino inline, usado como treinamento para esquiadores alpinos, sobre o qual havia tomado conhecimento quando escrevi meu post sobre esqui.

Pois bem, mês passado, eu decidi fazer um post sobre skateboarding, e acessei o site da agora World Skate, bem mais organizado, para pesquisar as regras, e acabei descobrindo não somente esse equívoco, mas também que, agora, a World Skate regula não oito, mas onze esportes, de forma que, para eu falar de todos eles, falta não um, mas quatro. Diante disso, eu acabei ficando com vontade de escrever um terceiro post sobre patinação para falar sobre eles, que, como o título lá em cima atesta, é esse aqui. Hoje, pela terceira vez, é dia de patinação no átomo!

Vamos começar logo, portanto, pela injustiçada patinação inline alpina, que visa imitar uma competição de esqui alpino, mas é disputada com patins inline e em locais sem neve (evidentemente). A patinação inline alpina surgiu na Europa nos anos 2000, como passatempo entre esquiadores que buscavam uma forma de passar o tempo e se manter em forma no verão, quando as condições para a prática do esqui alpino não eram as ideais. No início, o esporte era majoritariamente disputado por esquiadores, mas logo, como são usados patins inline do mesmo tipo vendido nas lojas, muitos jovens começaram a se interessar por praticá-lo mesmo sem nunca terem esquiado na vida, e, rapidamente, começaram a surgir as primeiras competições específicas de patinação inline alpina. A FIRS reconheceria a patinação inline alpina como esporte de patinação e começaria a regulá-la e a organizar campeonatos em 2008.

Uma competição de patinação inline alpina se parece muito com uma de esqui alpino: é montada uma pista, de preferência em uma superfície levemente inclinada, que será pontuada com "portões". Um a um, os patinadores devem passar por essa pista, desviando dos portões corretamente; depois que todos tiverem passado, aquele que tiver conseguido fazê-lo no menor tempo será o vencedor. Normalmente são duas passagens para cada competidor, sendo seu tempo final a soma dos tempos das duas; em competições internacionais da World Skate, apenas os 50 melhores da primeira passagem têm direito à segunda passagem.

A pista de patinação inline alpina deve ser obrigatoriamente pavimentada com asfalto, que deve ser o mais liso e o menos abrasivo possível; ao invés de se construir uma pista especificamente para a competição, o normal é que seja usada uma rua ou estrada que já existe, que será fechada ao trânsito enquanto o campeonato estiver ocorrendo. A largura da pista deve ser no mínimo de 5 m, mas seu comprimento varia de acordo com a prova. Os portões são varetas de plástico maleável, presas a placas de ferro de 15 kg, para que não saiam do lugar durante a competição. Os portões podem ser de duas cores, vermelhos ou azuis, sendo que os competidores devem passar à esquerda dos vermelhos e à direita dos azuis. O número de portões depende do tipo da prova, e a World Skate recomenda que as distâncias variem entre um portão e outro, para "quebrar a monotonia" da pista. Para que o competidor ganhe velocidade, no início da pista há uma rampa, cuja altura deve estar entre 60 cm e 2m, com uma grade em seu começo; quando o competidor está autorizado a começar, essa grade se abre, e seu tempo começa a contar do momento em que o primeiro de seus pés passa pela linha da grade.

Os patins usados são do tipo inline, com quatro rodas em fila; as rodas costumam ser bem grandes, para proporcionar tanto velocidade quanto capacidade de manobra. Profissionalmente, são exigidos, como equipamentos de proteção, capacete, luvas, joelheiras, caneleiras e tornozeleiras. Competidores da patinação inline alpina também usam um acessório específico para a prática desse esporte: um par de bastões, idênticos aos usados no esqui, que servem para dar impulso e ganhar velocidade durante a prova.

Existem três tipos de provas da patinação inline alpina. A mais simples é o slalom, que tem entre 30 e 60 portões, espaçados entre 3 e 8 m uns dos outros. No slalom gigante são usados entre 20 e 35 portões, espaçados entre 10 e 15 m; os portões do slalom gigante são diferentes, cada um deles consistindo de dois postes ligados por uma rede, o que faz com que o competidor tenha de se deslocar diagonalmente por uma distância maior e fazer curvas bem mais fechadas entre um portão e outro. Em ambos os casos, um competidor que "perca" um portão, ou seja, que não passe por ele pelo lado certo, ou que se choque contra a rede no caso do slalom gigante, recebe uma penalidade de 0,3 s acrescida a seu tempo final. Algumas competições somam os resultados dos competidores no slalom e no slalom gigante, ou realizam novas provas específicas, para premiá-los em um quarto tipo de prova, o combinado.

O terceiro tipo de prova eu deixei para depois porque segue regras um pouquinho diferentes. Trata-se do slalom paralelo, no qual são montadas duas pistas paralelas o mais idênticas possível. A cada passagem, dois competidores passarão juntos, um em cada pista, simultaneamente, sendo vencedor o que cruzar a linha de chegada com o menor tempo - como são aplicadas penalidades por perder portões, pode ocorrer de o que cruzou a linha de chegada primeiro não ser o que fez o menor tempo. Uma pista de slalom paralelo tem entre 20 e 25 portões, espaçados entre 6 e 10 m. Para maior justiça, cada par faz duas passagens, sendo que, na segunda, as pistas são invertidas - ou seja, se na primeira passagem o competidor A estava na pista 1, na segunda ele estará na pista 2, e o competidor B, que estava na 2, estará na 1. Caso cada uma das passagens seja vencida por um dos competidores, os tempos de cada um em ambas as passagens será somado, e o vencedor do embate será o que obteve o menor tempo final nessa soma. Os vencedores de cada embate vão avançando e os perdedores vão sendo eliminados até que só reste um, o campeão.

A principal competição da patinação inline alpina era o Campeonato Mundial, que foi realizado anualmente entre 2008 e 2016 (veja no final desse post o porquê). Outra competição de destaque é a Copa do Mundo, realizada anualmente desde 2011. As principais diferenças entre o Mundial e a Copa do Mundo eram que o Mundial era realizado em uma única sede, enquanto a Copa do Mundo possui cinco etapas, disputadas em cinco sedes diferentes ao longo do ano, com os resultados de todas elas sendo somados para se determinar o campeão ao final da quinta etapa; além disso, a Copa do Mundo só tem provas de slalom e slalom gigante, enquanto o Mundial tinha também provas de slalom paralelo e de combinado. Uma curiosidade da Copa do Mundo é que, a cada etapa, o número de competidores está limitado a 15 por país, exceto no caso do país-sede daquela etapa, que pode inscrever até 35 competidores.

Vamos passar agora para a patinação roller estilo livre, esporte que a World Skate regula desde 2015, e que é bastante diferente do "outro estilo livre", a patinação inline estilo livre, que já vimos no segundo post sobre patinação, a começar pelo fato de que, como o nome sugere, enquanto na patinação inline estilo livre os competidores usam patins inline, na roller estilo livre os competidores são livres para usar patins inline ou quads, os patins "tradicionais", nos quais há duas rodas em paralelo na frente e duas atrás, ao invés de quatro em linha - mas quase todos acabam usando os inline, por terem maior capacidade de manobra. Os patins inline usados no roller estilo livre, inclusive, são modificados, com rodas bem pequenas e agrupadas duas na frente e duas atrás, com um espaço entre a segunda e a terceira rodas, ao invés de quatro praticamente encostadas uma na outra.

A roller estilo livre é um esporte urbano, que nasceu na Califórnia, Estados Unidos, na década de 1980, quando patinadores decidiram imitar, com patins, as manobras que os skatistas faziam nas ruas e skate parks. Pelas regras da World Skate, o roller estilo livre é disputado em um skate park próprio, que combina elementos do street, como corrimãos e obstáculos, a outros mais radicais, como fossos semelhantes aos de um bowl e grandes rampas nas quais os competidores podem fazer manobras semelhantes às do vert - essas três modalidades, se você não está reconhecendo os nomes, pertencem ao skateboarding, e foram devidamente abordadas em meu post sobre esse esporte.

As regras de uma competição de roller estilo livre também são idênticas às de uma da modalidade street do skateboarding: os competidores entram no park um por um, e cada um tem 40 segundos para apresentar o maior número possível de manobras. Cada manobra é julgada por um painel de seis juízes, que confere uma nota de 0 a 100 ao competidor, levando em conta critérios como dificuldade da manobra apresentada, variedade na escolha de seções do park, fluidez entre uma manobra e outra, estética da manobra e, principalmente, perfeição na execução da manobra. As seis notas são então somadas para se determinar a nota final do skatista naquela apresentação; dependendo do etapa do campeonato, cada competidor terá direito a três ou quatro apresentações, com as notas de todas elas somadas para se determinar sua nota final naquela etapa. Campeonatos organizados pela World Skate sempre possuem três etapas: a qualificatória, da qual participam todos os inscritos; a semifinal, da qual participam os 22 melhores da qualificatória; e a final, da qual participam os oitos melhores da semifinal.

Já que estamos no assunto, após eu ter publicado meu segundo post sobre patinação (não sei ao certo quando), a World Skate passou a regular mais uma categoria da patinação inline estilo livre, aumentando o total para seis, os saltos. Uma competição de saltos é idêntica a uma competição de slide, mas, no final da zona de aceleração, há uma rampa de 60 cm de comprimento, que o competidor usará para saltar. Durante o salto, ele deverá apresentar manobras, que serão julgadas por um painel de cinco jurados. Cada competidor tem direito a quatro ou cinco saltos, com a pior das notas sendo descartada e as demais somadas para determinar sua nota final.

O esporte mais complexo - e talvez o mais interessante - que veremos hoje é o roller derby. O roller derby é disputado em uma pista semelhante a uma pista de atletismo, mas bem menor, com 35 m de extensão (a de atletismo tem 400 m), com superfície de tábua corrida, como uma quadra de basquete, e laterais ligeiramente inclinadas, com as de um velódromo - além disso, a pista não é simétrica, pois as curvas 2 e 4 têm raio maior que as 1 e 3. Próximas às curvas 1 e 4 são traçadas duas linhas, distantes 9,15 m uma da outra; a mais próxima da curva 4 é a jammer line, a mais próxima da curva 1 é a pivot line. Os competidores se movimentam na pista no sentido anti-horário.

Uma equipe de roller derby é composta de 15 integrantes, sendo que apenas 5 deles estarão na pista de cada vez. Desses cinco, um será o jammer, e será responsável por marcar os pontos para a equipe; os outros quatro serão blockers, e terão duas funções: bloquear o jammer adversário e abrir caminho para seu próprio jammer passar. O roller derby é um esporte de contato físico, então, para cumprir suas funções, os blockers podem usar contato ombro a ombro, se meter na frente do adversário para obstruir sua passagem, ou até mesmo empurrar os adversários usando seus quadris; não é permitido, porém, usar as mãos (nada de agarrar ou empurrar um adversário), pés (para fazê-lo tropeçar), cotovelos ou cabeça, interferir com um adversário (como empurrá-lo) por trás (já que ele não estará vendo a interferência e não poderá se defender), atingi-lo abaixo da linha da cintura ou acima da linha dos ombros, nem formar uma "linha impenetrável", dando as mãos ou entrelaçando os braços para impedir a passagem, por exemplo. É permitido a um blocker, entretanto, fazer com o jammer uma manobra conhecida como whip (chicote), na qual o blocker pega o jammer pela mão e o "arremessa" para a frente, aumentando sua velocidade; também é permitido ao jammer "abrir caminho" usando as mãos, desde que não empurre os adversários pelas costas nem os derrube propositalmente. E também é permitido a qualquer competidor saltar, embora isso nem sempre seja útil. Um dos blockers pode ser designado como pivot, e, sob certas circunstâncias, também poderá marcar pontos.

Para que os competidores sejam facilmente identificáveis, o capacete do jammer possui uma grande estrela em cada uma das laterais, enquanto o do pivot tem uma faixa de no mínimo 2,54 cm de largura bem no meio, que vai da testa até a nuca; os capacetes dos blockers são lisos, de uma única cor. O equipamento obrigatório para o roller derby, além do capacete, inclui munhequeiras, cotoveleiras, joelheiras e protetores bucais semelhantes aos do boxe; protetores de seios para as mulheres são opcionais. Os patins devem ser obrigatoriamente do tipo quad, sendo proibido o uso de patins inline.

Uma partida de roller derby dura dois tempos de 30 minutos cada, com um intervalo de 15 minutos entre eles. Cada um desses tempos é dividido em várias sessões chamadas jams, de no máximo 2 minutos cada, sendo que o relógio não para entre uma jam e outra, e um time pode substituir quantos competidores quiser entre uma jam e outra - por isso, é impossível fazer 15 jams em um tempo, e 14 também é bastante difícil. No início de uma jam, os dois jammers se posicionarão atrás da jammer line, e os demais competidores entre a jammer line e a pivot line. Durante a jam, todos os competidores que não sejam jammers devem ficar "juntos", em uma formação conhecida como pack; a distância máxima que um competidor pode se afastar do pack, para a frente ou para trás, é de 3 m. Após o início do jam, o primeiro jammer que conseguir passar pelo pack e cruzar a jammer line será designado como "líder", e poderá interromper a jam a qualquer momento, mesmo que os 2 minutos ainda não tenham se passado, com um sinal para o árbitro.

Após o líder ser apontado, ambos os jammers estarão liberados para marcar pontos; para isso, eles precisam ultrapassar blockers e pivots da equipe adversária, sendo que cada oponente ultrapassado vale um ponto - o máximo de pontos que um jammer pode marcar em uma volta, portanto, é quatro, o que é conhecido como grand slam. Para que um ponto seja válido, o jammer deve estar de pé, em movimento e dentro dos limites da pista quando fez a ultrapassagem. Cada jammer pode dar sucessivas voltas na pista, marcando quantos pontos conseguir, até o líder interromper a jam ou os 2 minutos se esgotarem; quando isso ocorre, se ainda há tempo disponível dentro dos 30 minutos, os times têm 30 segundos para se alinhar novamente e fazer as substituições desejadas, antes que uma nova jam comece. Se os 30 minutos se encerrarem com uma jam em andamento, ela continua sendo disputada normalmente até o fim dos 2 minutos ou até o líder interrompê-la.

Um competidor que cometa uma falta (normalmente por bloqueio ilegal ou por sair dos limites da pista deliberadamente) deve sair da pista e ficar dentro de uma espécie de cabine, chamada penalty box, durante 30 segundos. Sua equipe não poderá substituí-lo, devendo atuar com um a menos durante esse tempo. Se a jam terminar antes do tempo do jogador na penalty box, a equipe deverá alinhar com um a menos para a próxima jam, e o tempo entre uma jam e a outra não contará para os 30 segundos de penalidade. Para que o time que não fez a falta não seja prejudicado, a cada volta, sempre que um jammer ultrapassar seu primeiro adversário, ele também ganhará um ponto para cada jogador adversário na penalty box. Um jogador que saia da penalty box pode voltar à pista e se unir ao pack imediatamente, mas deve fazê-lo de forma a ficar sempre atrás do último membro do pack. Um jogador que vá para a penalty box por sete vezes durante uma mesma partida não pode mais voltar, estando expulso, mas seu time poderá substituí-lo com a jam em andamento após os 30 segundos da sétima vez.

Um jammer também está sujeito a ir para a penalty box se cometer uma falta, o que significa que, enquanto ele estiver lá, seu time não poderá pontuar - o que é conhecido como uma power jam para o outro time. Se o jammer do outro time também for penalizado enquanto ele estiver lá, existe uma regra especial, para que não fiquem os dois times patinando sem poder pontuar: assim que o jammer do Time B entra na penalty box, o jammer do Time A pode sair, e o jammer do time B só precisará ficar na penalty box durante um tempo igual ao que o do Time A ficou - ou seja, se havia se passado 10 segundos quando o jammer do time B entrou na penalty box, ele também só precisará ficar lá durante 10 segundos. Também vale citar que, enquanto o líder estiver dentro da penalty box, ninguém pode interromper uma jam.

Durante uma jam, por motivo de contusão ou estratégia, o jammer pode "passar a estrela" para o pivot: o capacete do jammer possui uma capa na qual está a estrela, e ele deve retirar essa capa e passá-la para o pivot, que a colocará sobre o seu, ficando o jammer com um capacete liso como os dos blockers. A partir de então, o pivot é que marcará os pontos, e o jammer, se permanecer na pista, passará a atuar como blocker. Passar a estrela não anula os pontos que o jammer marcou até então naquela jam, e, se houver adversários entre o jammer e o pivot quando a estrela for passada, eles não contarão como ultrapassados, ou seja, o time não pontuará pelo fato de o novo jammer estar na frente deles. Uma vez passada a estrela, ela não poderá ser "devolvida", ou seja, o pivot fica como jammer até o fim daquela jam.

Falando em contusão, um competidor que sofra uma durante a jam pode sair da pista sozinho ou com a ajuda dos árbitros, mas não poderá ser substituído até o fim da jam, com sua equipe atuando com um a menos; assim como ocorre com a penalty box, a cada volta, o jammer da outra equipe, ao ultrapassar seu primeiro adversário, também ganhará um ponto a mais para cada competidor fora da pista por contusão.

Uma partida de roller derby conta com no mínimo 3 e no máximo 7 árbitros. Um deles será o árbitro principal, ficará responsável por apontar o início e o final de cada jam, marcar faltas, determinar expulsões, e será a autoridade final em qualquer disputa. Outros dois serão os árbitros dos jammers, ficando um responsável por cada jammer, usando uma pulseira ou capa de capacete da mesma cor do time cujo jammer ele está observando, ficando responsável por anotar os pontos que aquele jammer marca, indicar qual jammer é o líder daquela jam, e validar uma interrupção de jam ou passagem de estrela daquele jammer. Os outros, chamados árbitros de pack, são opcionais (embora sejam obrigatórios em competições internacionais), e podem ser de um a quatro, tendo como função marcar faltas, verificar se o pack está formado adequadamente e auxiliar o árbitro principal em outras questões. Todos os árbitros patinam na pista junto aos competidores, e devem usar os mesmos equipamentos de proteção.

O roller derby é um esporte predominantemente feminino, embora alguns países tenham campeonatos masculinos e até mesmo de equipes mistas. Também é um esporte predominantemente amador, com pouquíssimos times e campeonatos profissionais. O principal órgão de roller derby no mundo é a WFTDA, cujo nome em inglês traduz para algo como "Associação Feminina de Derby em Pista Plana", fundada em 2004. Uma característica curiosa da WFTDA é que ela não tem atletas ou times como membros, e sim ligas: atualmente, 397 ligas são consideradas como membros plenos, e outras 48 como "membros aprendizes". Cada uma dessas ligas possui seus próprios times membros e autonomia total para organizar seus campeonatos - desde que sigam as regras da WFTDA. A rigor, a WFTDA é a federação de roller derby feminino dos Estados Unidos, mas dentre seus membros existem ligas de 27 países dos cinco continentes, incluindo o Brasil, com duas ligas de São Paulo. Como a WFTDA é exclusivamente feminina, sua equivalente masculina é MRDA, a "Associação Masculina de Roller Derby", fundada em 2007, e que conta com 60 ligas como membros, mas todas dos Estados Unidos ou Canadá.

Em 2010, a então FIRS faria um acordo com a WFTDA para se tornar a federação internacional do roller derby. Nos termos desse acordo, a FIRS poderia organizar campeonatos profissionais e semiprofissionais seguindo as regras da WFTDA, dos quais poderiam participar quaisquer membros da FIRS. Durante anos, a FIRS/World Skate atuou apenas como "parceira" da WFTDA, divulgando o roller derby e dando suporte para a organização de campeonatos em países com pouca tradição no esporte, principalmente na Europa; em 2017, a World Skate finalmente assumiu para si a regulação internacional do roller derby, publicando seu primeiro conjunto de regras (quase idênticas às da WFTDA, exceto por alguns detalhes) e organizando seu primeiro campeonato internacional. Acreditem ou não, o roller derby foi até mesmo um dos esportes que faziam parte do programa proposto pela World Skate quando ela tentou incluir a patinação nas Olimpíadas de 2020.

Todos os membros da WFTDA podem se inscrever para participar do Campeonato Internacional de Roller Derby, considerado a principal competição do esporte, que possui etapas regionais para determinar as oito melhores equipes, que participarão da fase final. O Internacional é disputado anualmente desde 2006, e a fase final é sempre disputada nos Estados Unidos. O Internacional é uma competição entre times, não entre seleções nacionais; o campeonato mais importante entre seleções é Copa do Mundo de Roller Derby, inicialmente organizado pela revista de patinação Blood & Thunder, mas desde 2018 por uma associação privada sediada no Canadá chamada Comitê da Copa do Mundo de Roller Derby. A Copa do Mundo já teve três edições até hoje, tendo sido disputada no feminino em 2011, 2014 e 2018, e no masculino em 2014, 2016 e 2018 (todas as seis edições tendo sido vencidas pelos Estados Unidos); não há, entretanto, uma próxima edição marcada ainda (embora haja planos para que ela seja realizada em 2020).

O roller derby tem sua origem em uma prática que surgiu na década de 1880 nos Estados Unidos: durante uma febre de patinação que tomou conta do país, vários empresários começaram a patrocinar corridas que duravam vários dias, e que tinham prêmios em dinheiro para os competidores. Essas corridas se tornariam famosas não devido à perícia dos competidores, e sim justamente pelo contrário: o público gostava quando eles caíam, de preferência quando quem vinha atrás tropeçava neles e caía também. De olho nisso, os patrocinadores logo começaram a colocar "agentes infiltrados" dentre os competidores, que tinham a missão de bloquear ou derrubar alguns competidores de propósito, para que a corrida ficasse mais interessante. Na década de 1920, essas corridas chegaram ao auge de sua popularidade, e eram chamadas pelos jornais da época de derbies, termo emprestado das corridas de cavalo.

Na década de 1930, o promotor de eventos Leo Seltzer decidiria investir nos derbies, e criaria um evento chamado Transcontinental Roller Derby. Ele montaria dois times de cinco patinadores cada, que percorreriam os Estados Unidos se enfrentando - um dos times seria sempre o "time da casa", com o nome da cidade na qual o Transcontinental estivesse sendo disputado, enquanto o outro seria sempre Nova Iorque ou Chicago, de acordo com a preferência do público. Seltzer experimentaria vários conjuntos de regras, até que, em 1939, criaria o mais parecido com as regras atuais, segundo o qual ganhava a corrida não o time que a completasse em menos tempo, mas sim o que ganhasse mais pontos, com cada adversário ultrapassado valendo um ponto.

O Transcontinental seria um sucesso tão grande que Seltzer conseguiria um contrato para que ele fosse exibido na televisão em 1948, numa época em que quase ninguém nos Estados Unidos tinha televisão. No ano seguinte, para capitalizar sobre o próprio sucesso, ele criaria a Liga Nacional de Roller Derby (NRDL), com seis times fixos, que se enfrentavam em casa e fora, como em um campeonato esportivo normal, com os quatro melhores se classificando para os play-offs, que seriam todos disputados no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Em seus primeiros anos a NRDL foi um sucesso tão grande que os play offs tinham ingressos esgotados antes mesmo que os finalistas se tornassem conhecidos. Com o sucesso da NRDL, várias outras ligas de roller derby começariam a aparecer, algumas patrocinadas por canais de TV interessados em concorrer com os que transmitiam a NRDL.

No início dos anos 1960, entretanto, talvez pelo grande número de ligas em disputa, o roller derby começaria a sofrer uma queda de popularidade, com a audiência em baixa e dificuldade para lotar as arenas nas quais ocorriam as provas. Para tentar recuperar a popularidade do esporte, o então comissário da NRDL, Jerry Seltzer, filho de Leo, decidiria transformá-lo em uma espécie de "esporte de entretenimento", mais ou menos como ocorre com as lutas da WWE: os times passariam a ter uniformes coloridos, os competidores teriam nomes extravagantes, e o resultado de cada partida já era pré-estabelecido antes mesmo de ela começar; tudo o que ocorria na pista era real, mas seguia um roteiro estabelecido previamente pelos organizadores da NRDL. Isso fez com que o roller derby tivesse um pequeno surto de popularidade nos primeiros anos como entretenimento, mas que depois o interesse do público desaparecesse ainda mais rápido, com todas as ligas sendo canceladas e o esporte caindo no ostracismo em meados da década de 1970. Duas tentativas de ressuscitá-lo como entretenimento ainda seriam feitas, em 1989 e 1999, a segunda liderada por Jerry Seltzer, mas ambas sem sucesso.

A tentativa feita em 1999, entretanto, animaria um grupo de moças da cidade de Austin, no Texas, a criar sua própria liga de roller derby, para disputá-lo como esporte, no ano 2000. A liga logo se mostraria um sucesso, e várias outras começariam a surgir, primeiro em outras cidades do Texas, depois por todo o país, e então no Canadá, Austrália, Europa, e até mesmo em Dubai e no Egito. Todas elas tinham algumas coisas em comum: eram exclusivamente femininas, exclusivamente amadoras, e organizadas pelas próprias competidoras, sem nenhuma interferência de patrocinadores ou de comissariado - esse ainda é o modelo seguido, aliás, pela maioria das ligas no mundo hoje, inclusive as filiadas à WFTDA. Desde o início, as ligas também costumam seguir duas tradições da época em que o esporte era entretenimento: primeiro, os uniformes dos times são bastante coloridos, e muitas competidoras usam acessórios como luvas de renda e meias arrastão; segundo, as competidoras costumam adotar nomes extravagantes, normalmente trocadilhos com outros nomes em inglês (como Annie Mosity ou Oh Hell No Kitty). Falando nisso, os torneios também costumam ter nomes espirituosos, como Knocktoberfest ou War of the Wheels.

Em 2004, com a presença de centenas de ligas nos Estados Unidos, seria fundada a WFTDA, que visava fazer com que todas as ligas seguissem as mesmas regras, não para possibilitar partidas interliga, mas para evitar que o esporte fosse descaracterizado. Em 2006, começariam a ser disputadas as primeiras partidas internacionais, primeiro entre times dos Estados Unidos e Canadá, depois com torneios que reuniam times de vários países europeus. Em 2009, o roller derby seria tema de um filme, dirigido por Drew Barrymore e estrelando Ellen Page e Juliette Lewis, chamado Garota Fantástica - o codinome da personagem de Page, aliás, é super criativo: Babe Ruthless (algo como "menininha impiedosa"), um trocadilho com o nome do famoso jogador de beisebol norte-americano Babe Ruth. A WFTDA aproveitaria o lançamento do filme para realizar várias ações de promoção do esporte, o que contribuiria ainda mais para seu crescimento, e chamaria a atenção da FIRS, que, em 2010, a procuraria para fechar o acordo para regular o roller derby internacionalmente. Hoje, o roller derby é considerado um dos esportes mais populares dentre o público jovem feminino, e um dos que tem a maior audiência por streaming nos Estados Unidos.

O esporte mais recente regulado pela World Skate é o scooter, que não usa patins, e sim uma patinete (que, em inglês, é scooter), que, para todos os efeitos, é como se fosse um skate, exceto pelo fato de que tem um guidão com o qual sua direção é alterada, e apenas duas rodas sob a prancha na qual os pés do competidor ficam apoiados. A patinete é feita de alumínio e polímeros, a prancha tem comprimento entre 48 e 55 cm e largura entre 10 e 13 cm, o cabo no qual fica o guidão tem entre 75 e 85 cm de altura, e as rodas têm entre 100 e 125 mm de diâmetro e entre 24 e 30 mm de largura. Evidentemente, não pode ser usado um patinete elétrico, devendo ser usados os modelos impulsionados pelos pés do competidor em contato com o solo, como no caso de um skate.

As primeiras competições de scooter surgiram nos Estados Unidos na década de 1980, mas a World Skate só começou a regular esse esporte em 2018, com o primeiro campeonato internacional organizado por ela estando previsto para esse ano de 2019. O scooter é disputado em duas modalidades, a park e a street, ambas seguindo as mesmas regras das modalidades de mesmo nome do skateboarding (no caso do park, sendo disputada apenas na modalidade bowl, nada de vert).

Para terminar, assim como no segundo post sobre patinação, vamos falar sobre os Roller Games - ou melhor, sobre os World Roller Games, que acabou sendo o nome oficial do evento. Os World Roller Games eram um sonho antigo da FIRS, que planejava juntar todos os seus campeonatos mundiais em um único evento multidesportivo; em 2013, ela traçou planos para que isso ocorresse, de fato, a partir de 2017, quando todos os campeonatos mundiais de seus esportes seriam cancelados, e os World Roller Games começariam a contar como campeonato mundial de todos eles.

Felizmente, a ideia da FIRS deu certo: a primeira edição dos World Roller Games seria realizada, de fato, em 2017, na cidade de Nanjing, China, e seria um grande sucesso. A World Skate, então, decidiria que o evento seria bienal, e já marcaria as duas próximas edições: nesse ano de 2019, os World Roller Games vão acontecer em Barcelona, Espanha, e, em 2021, em Lima, no Peru. Desde 2017, nenhum Campeonato Mundial "individual" dos esportes de patinação da World Skate é mais realizado (os de skateboarding ainda são), tendo todos tido suas últimas edições em 2016, com exceção do inline estilo livre e do hóquei sobre patins, cujos mundiais eram disputados apenas nos anos ímpares, e tiveram suas últimas edições em 2015.

O programa da edição 2019 dos World Roller Games conta com nada menos que 20 provas da patinação artística (programa curto individual masculino, programa curto individual feminino, programa curto inline individual masculino, programa curto inline individual feminino, programa longo individual masculino, programa longo individual feminino, programa longo inline individual masculino, programa longo inline individual feminino, programa curto duplas mistas, programa longo duplas mistas, livre duplas mistas, livre quartetos, livre grupos de 6, livre grupos de 12, figuras masculinas, figuras femininas, dança individual masculina, dança individual feminina, dança duplas mistas e precisão), 22 da patinação em velocidade (pista 500 m sprint, pista 1.000 m sprint, pista 200m contra o relógio, pista 10.000 m eliminatória, pista 10.000 m por pontos, pista 3.000 m revezamento, estrada 100 m sprint, estrada 500 m sprint, estrada 15.000 m eliminatória, estrada 10.000 m por pontos e estrada maratona, todas no masculino e no feminino), 4 do downhill (contra o relógio e inline cross, ambas no masculino e feminino), 13 da patinação inline estilo livre (classic slalom, speed slalom contra o relógio, speed slalom eliminatório, battle slalom, slide e saltos, todas no masculino e feminino, e pair classic slalom duplas mistas), 2 da roller estilo livre (masculino e feminino), 9 da patinação inline alpina (slalom, slalom paralelo, slalom gigante e combinado, todas no masculino e feminino, e equipes mistas), 2 do hóquei sobre patins (masculino e feminino), 1 do hóquei inline (masculino), 1 do roller derby (feminino), 8 do skateboarding (street, speed run contra o relógio e speed run largada em massa, no masculino e feminino, e street luge contra o relógio e street luge largada em massa mistas) e 2 do scooter (park e street, ambos masculinos - esse será o primeiro torneio internacional de scooter organizado pela World Skate), para um total de 84 provas - mas o evento também conta com várias competições júnior, intercontinentais e de exibição (incluindo um torneio masculino de hóquei em cadeira de rodas), o que leva o número total de provas disputadas durante os World Roller Games para um redondo 150.

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