domingo, 2 de dezembro de 2018

Escrito por em 2.12.18 com 0 comentários

Pallapugno

Um dia, há uns quatro anos, eu resolvi escrever um post sobre handebol. Não sobre o handebol famoso aqui no Brasil, aquele jogado por times em uma quadra, no qual o objetivo é conduzir a bola com as mãos e arremessá-la dentro de um gol (e sobre o qual eu já até havia escrito), mas sobre outro esporte chamado handebol, no qual o objetivo é rebater uma bolinha contra uma parede usando as mãos, sem qualquer tipo de raquete. Durante muito tempo, pensei em como poderia fazer para colocar esse post na seção dos Textos Passados, já que, como eu já mencionei ali entre parênteses, eu já havia escrito um post chamado "handebol". Depois de algum tempo, decidi combinar esse post sobre o "outro handebol" com um sobre pelota basca, outro esporte no qual o objetivo é rebater uma bolinha contra uma parede (em algumas modalidades usando vários tipos de raquetes, mas, em uma delas, com as mãos), e é aí que a história desse post de hoje começa.

Não é raro eu me empolgar sobre algum assunto quando estou escrevendo, e acabar fazendo vários outros posts relacionados a ele. Pois bem, nessa ocasião, aconteceu algo do tipo: ao pesquisar sobre pelota basca, eu acabei descobrindo que existem dezenas de outros esportes, quase todos eles desconhecidos aqui no Brasil - mas a maioria bastante popular em nossos vizinhos latino-americanos - nos quais o objetivo é rebater uma bola com as mãos, sem qualquer tipo de raquete, seja contra uma parede ou na direção de um jogador ou equipe oponente. Por causa disso, primeiro, o post sobre pelota basca saiu maior do que o planejado; depois, um post que eu ia escrever sobre três esportes de demonstração das Olimpíadas também acabou ficando maior que o planejado; e, por último, eu acabaria resolvendo escrever, um ano depois, um post sobre pelota valenciana, outro esporte no qual também se rebate a bola com as mãos - na ocasião, até mesmo resolvi criar uma categoria "pelota", para agrupar todos os três.

Mas a história não acabaria nesse terceiro post, senão nem teríamos esse aqui. Existe uma federação internacional chamada CIJB, da sigla em espanhol para Confederação Internacional de Jeu de Balle, cujo objetivo é regular internacionalmente todos os esportes nos quais uma bola é rebatida pelos jogadores com as mãos - menos a pelota basca, que já é regulada pela FIPV. O nome da CIJB vem do fato de que ela originalmente só regulava um desses esportes, chamado jeu de balle (hoje também conhecido como "jogo internacional"); ao longo dos anos, ela incluiria outros dois dentre seus esportes regulados, o llargues e o wall ball (também conhecido como "frontón internacional" ou "one-wall internacional"), e passaria a aceitar como membros federações nacionais que regulassem jogos nacionais e regionais com as mesmas características - somente não regulando esses esportes internacionalmente porque eles não são jogados em mais de um país - que passariam a ser considerados pela CIJB como "esportes reconhecidos".

O principal campeonato regulado pela CIJB é o Campeonato Mundial de Handebol, organizado a cada dois anos desde 1996. Para promover seus esportes reconhecidos, a CIJB permitiria que os países-sede do Mundial, caso desejassem, os incluíssem no programa como "esportes de demonstração"; ao invés de meras partidas de exibição entre jogadores do mesmo país, entretanto, os torneios desses esportes de demonstração contavam com jogadores de outras modalidades, que se arriscavam a disputar uma partida de acordo com regras com as quais não estavam acostumados - e que, até por causa disso, normalmente acabavam perdendo. Na primeira vez em que foi incluído um esporte de demonstração, por exemplo, em 2002, na Argentina, foi realizada uma partida de manito, na qual uma equipe da Argentina (de jogadores de manito) derrotou uma da Espanha (composta por jogadores de pelota basca). Nos torneios seguintes, outros cinco esportes apareceriam como esportes de demonstração: o pallapugno (2004, Itália), a pelota equatoriana (2008, Equador), o kaatsen (2012, Holanda), a pelota valenciana (2014, Espanha) e a chaza (2018, Colômbia).

Pois bem, eu já falei sobre quase todos esses esportes. Na última vez, no post sobre pelota valenciana, mencionei que não havia conseguido descobrir como se joga manito de jeito nenhum (e continuo sem conseguir, já achei umas trinta reportagens sobre ele, mas nenhuma diz as regras), e que o pallapugno eu deixaria "para outra ocasião". Essa ocasião é hoje. Hoje é dia de pallapugno no átomo!


O pallapugno é descendente de um outro esporte, chamado pallone col bracciale, cujo nome traduz literalmente para "balão com pulseira". Antes que vocês pensem que o cara que inventou o nome do jogo estava com a cara cheia de vino, esse nome advém do fato de que a bola usada no bracciale, como o esporte ficaria popularmente conhecido, era inflada, diferentemente das demais bolas usadas nos esportes da época, que eram sólidas ou recheadas com materiais como pelos de animais. Já a parte da pulseira vem do fato de que, no bracciale, os jogadores não atingem a bola com raquetes ou com as mãos, e sim com um implemento curioso, que se parece com um bracelete enorme e espinhento. O jogador deve enfiar a mão por dentro do implemento, também chamado bracciale, de forma que ele cubra todo o seu antebraço; o bracciale é cilíndrico, feito de madeira, possui uma alça cilíndrica em uma das aberturas para que o jogador segure com a mão fechada uma vez que ele esteja ajustado no braço, e sua superfície é coberta por cerca de cem "dentes" também de madeira - que o conferem a tal aparência espinhenta.

Hoje em dia, a bola já não é mais inflada, e sim feita de borracha sólida. As bolas originais podiam chegar a 50 cm de circunferência e 750 g de peso; as atuais devem ter entre 35 e 37 cm de circunferência, e pesar no máximo 350 g. O bracciale ainda é feito de madeira, mas hoje é mais "delicado": bracciales originais chegavam a pesar mais de 2 kg, enquanto os atuais têm peso máximo de 1 kg. O comprimento e a largura do bracciale dependem do tamanho do braço do jogador; hoje, ele deve cobrir somente toda a mão e todo o punho, mas, originalmente, chegava até o cotovelo. A mudança no tamanho e no peso, tanto da bola quanto do bracciale, ocorreram em 1921, e se deram por razões de segurança: até então, era comum que os jogadores quebrassem o braço por atingir a bola de mau jeito durante as partidas.

O bracciale é jogado em um campo de terra batida, chamado sferisterio, que deve ter entre 80 e 100 m de comprimento por entre 14 e 20 m de largura; em uma das laterais desse campo há um muro, de no mínimo 12 m de altura. O campo é dividido ao meio, no sentido do comprimento, por uma corda, chamada cordão, que fica a 1 m de altura. Cada campo conta, em sua linha de fundo, com um "trampolim", uma espécie de rampa de madeira; a qualquer momento, um dos jogadores pode subir até o alto dessa rampa e voltar correndo para o campo, aproveitando o impulso para rebater com mais força, sendo que um jogador que use o trampolim deve rebater a bola obrigatoriamente antes de uma linha imaginária traçada a 7 m da linha de fundo. Cada partida é oficiada por um árbitro, que fica junto ao cordão, e dois bandeirinhas, que ficam um na quina de cada linha de fundo com a lateral que não tem o muro.

Cada equipe é composta por quatro jogadores, dos quais somente três efetivamente estarão jogando; o quarto integrante é conhecido como mandarino, e coloca a bola em jogo no início da disputa de cada ponto - sendo possível, inclusive, que haja apenas um mandarino por jogo, que atuará pelas duas equipes. Cada equipe conta ainda com dois reservas, que poderão substituir os que estão em quadra a qualquer momento em que a bola não estiver em jogo, sendo as substituições ilimitadas (ou seja, quem é substituído pode voltar depois); o mandarino também deverá ter um reserva, para o caso de alguma eventualidade. Existem duas curiosidades em relação ao uniforme dos jogadores (composto de camiseta, calção ou calça comprida, meias e tênis): todos os jogadores, de ambas as equipes, devem usar calções ou calças brancas; além disso, se os jogadores forem numerados, o menor número permitido é o 2 - nenhum jogador pode usar a camisa 1.

Durante uma partida, a equipe que está com o muro a seu lado direito estará sempre atacando, enquanto a que está com o muro a seu lado esquerdo estará defendendo. No início de cada ponto, um dos jogadores da equipe que está atacando se posicionará no alto do trampolim, e, após um sinal previamente combinado, virá correndo e rebaterá a bola, que será arremessada para dentro da quadra pelo mandarino, que deverá se posicionar próximo à linha lateral, fora da quadra. Uma equipe tem o direito a recusar uma bola lançada pelo mandarino, desde que o faça em voz alta, de forma clara e antes de tocar a bola; caso outra bola seja recusada no mesmo ponto, entretanto, será anotado ponto para o adversário. Uma vez que o jogador bata na bola lançada pelo mandarino, ele deverá fazê-lo com força suficiente para que ela passe por cima do cordão e quique do lado da quadra da equipe adversária; um dos jogadores adversários, então, deverá rebatê-la, novamente de forma que ela quique após o cordão, no lado adversário. Isso prosseguirá até que um jogador cometa um erro, quando será ponto para o adversário. Os erros são: não conseguir fazer com que a bola passe por cima do cordão, fazer com que a bola bata no cordão, fazer com que a bola quique fora dos limites do campo, deixar a bola quicar duas vezes antes de rebater, estar com um ou os dois pés fora do campo ao rebater a bola, e bater na bola com qualquer parte do corpo que não seja o bracciale. A bola pode bater no muro sem problemas, e pode inclusive quicar uma vez no muro e uma no chão antes de ser rebatida; além disso, uma equipe que, após rebater, mande a bola direto pela linha de fundo do oponente, mesmo que ela não quique em lugar nenhum antes de sair, ganha um ponto. Os jogadores não têm posições fixas no campo nem ordem de rebatidas, mas, como o campo é bem comprido, é comum que cada um se responsabilize por um terço de sua extensão.

A pontuação no bracciale é contada de forma semelhante à do tênis: 15, 30, 40 e gioco (jogo) - por isso, os pontos também são chamados de quindicis, "quinzes". Assim como no tênis, se houver empate 40 a 40, primeiro uma das equipes deve conseguir uma vantagem para depois marcar o gioco. A cada dois giochi (jogos), não importa se ambos foram conquistados pela mesma equipe ou um por cada uma, as equipes mudam de lado na quadra - a que estava atacando passa a defender e vice-versa. A primeira equipe a conseguir 12 giochi vence a partida, mesmo que ela termine 12 a 11. Além da versão tradicional, com equipes de três, existem três outras versões, uma disputada de forma individual (um jogador de cada lado), uma em duplas (dois de cada lado) e uma com quatro jogadores de cada lado; as regras são as mesmas, sendo as únicas diferenças o fato de que as versões individual e em duplas usam uma rede semelhante à do tênis no lugar do cordão, e a versão para quatro jogadores não tem o muro, com o sferisterio devendo ter entre 16 e 20 m de largura.

O bracciale é um esporte antiquíssimo, e ninguém sabe ao certo quando ele teria sido inventado; a primeira codificação de suas regras foi publicada no ano de 1555, feita por um jogador chamado Antonio Scaino, da cidade de Salò, hoje considerado o pai do bracciale moderno. O bracciale foi considerado o esporte nacional da Itália durante séculos, e chegou a ser praticado na França, Alemanha, Áustria, Holanda e Reino Unido; há registros de torneios realizados até mesmo fora da Europa, organizados por imigrantes italianos nos Estados Unidos, Argentina e Egito. A partir da década de 1920, entretanto, o bracciale foi perdendo popularidade - segundo alguns devido às alterações nas regras - sendo hoje popular mesmo somente na Itália central, em especial nas regiões da Toscana e das Marcas.

O Campeonato Italiano de Pallone col Bracciale foi disputado anualmente de 1936 a 1963 (exceto em 1943 e 1944, por causa da Segunda Guerra Mundial), sendo cancelado por falta de interesse; em 1992 ele seria ressuscitado, mas voltado apenas para jogadores amadores, tendo sido disputado anualmente desde então. Atualmente, o bracciale é regulado pela Federação Italiana de Pallapugno (FIPAP), e o Campeonato Italiano é organizado por um órgão ligado à FIPAP, chamado Comitê Nacional do Jogo de Pallone col Bracciale. Apesar de amador, o bracciale é um esporte exclusivamente masculino - não é impossível que existam mulheres que joguem, mas todos os campeonatos são masculinos.

No século XIX, surgiria nas regiões do Piemonte e da Ligúria, no norte da Itália, uma variação do pallone col bracciale, que ganharia o apelido de pallone elastico, cujas regras seriam codificadas pela primeira vez em 1855 - curiosamente, exatos 300 anos após a codificação do bracciale. Em 2001, esse esporte seria renomeado para pallapugno, palavra que significa "(bater na) bola com o punho" - da mesma forma que football significa "(bater na) bola com os pés", por exemplo - nome que já era usado informalmente por jogadores do resto da Itália desde o início do século XX. Diferentemente do que ocorre com o bracciale, o pallapugno ainda é extremamente popular - segundo a FIPAP, é o esporte amador mais popular da Itália - tanto que a própria FIPAP organiza nada menos que 32 campeonatos por ano, considerando todas as faixas etárias. O principal deles é o Campeonato Italiano de Pallapugno masculino, disputado anualmente desde 1912, atualmente com quatro divisões (Série A, Série B, Série C1 e Série C2); o Campeonato Feminino é mais modesto, contando com apenas uma divisão, e mais recente, sendo disputado anualmente desde 2001.

O pallapugno também é jogado no sferisterio, com muro, mas com dimensões ligeiramente diferentes: o comprimento deve ser de 90 m, e a largura entre 16 e 18 m. O sferisterio do pallapugno conta com uma "área de saque", um retângulo de 12 m de comprimento, dos quais 5 m são para dentro do campo e os outros 7 para além da linha de fundo; esse retângulo tem 4 m de largura, sendo que sua lateral direita fica a 2 m do muro. Além disso, no pallapugno não há o trampolim nem o cordão, o meio do campo é marcado por uma linha imaginária, determinada por uma bandeirinha na linha lateral, e as equipes são compostas por quatro jogadores cada, todos em campo, sem mandarino, mais dois reservas. A bola é bem menor, devendo ter circunferência entre 30 e 30,5 cm e peso máximo de 190 g, sendo feita de borracha sólida. A pontuação é a mesma do bracciale (15, 30, 40, gioco, com vantagem disputada em empate de 40 a 40), sendo vencedor da partida a equipe que alcançar 11 giochi primeiro, mesmo que seja por 11 a 10. A partida é oficiada por um árbitro, que caminha pela lateral do campo, e dois bandeirinhas, um na quina de cada linha de fundo com a lateral que não tem o muro.

Mas a principal característica do pallapugno é que os jogadores não rebatem a bola com um implemento, e sim com as próprias mãos, que devem ser protegidas por uma espécie de atadura de 10 m de comprimento, que envolve as palmas e os punhos. A bola deve ser rebatida com a mão espalmada, podendo a bola acertar a palma, os dedos ou o punho, e sendo ponto para o adversário acertar a bola com a mão fechada ou com as costas da mão - bem como com qualquer outra parte do corpo. Assim como no bracciale, a equipe que tem o muro à sua direita ataca (por isso a área de saque fica lá), e a que tem o muro à sua esquerda defende. No início de cada ponto, um dos jogadores se posiciona dentro da área de saque e bate na bola, que deve quicar além da linha do meio de campo, a partir daí, as equipes rebaterão a bola alternadamente em busca de marcar pontos.

Uma curiosidade do pallapugno é que só há duas formas de se marcar pontos: mandando a bola para além da linha de fundo do adversário (o que se chama fuoricampo), ou quando o adversário comete uma das três seguintes faltas: acertar a bola com uma parte do corpo inválida, fazer a bola quicar fora do campo logo após rebatê-la, ou dois jogadores da mesma equipe tocarem na bola em sequência. Note que "deixar a bola quicar duas vezes" não está dentre elas, ou seja, após um jogador rebater, a bola pode quicar no chão ou no muro um número indeterminado de vezes - na verdade, até ela parar de quicar. Se a bola parar de quicar, qualquer jogador pode interromper sua trajetória com as mãos ou com os pés; assim que ele o fizer, o árbitro deve marcar, na linha lateral, usando uma bandeirinha própria, uma linha imaginária chamada caccia. A caccia também é marcada, no ponto onde a bola saiu, se, após ser rebatida por uma equipe e quicar no campo adversário, a bola sair de campo.

O número máximo de cacce (sim, plurais em italiano são estranhos) que podem ser marcadas durante um ponto é igual à diferença entre o maior ponto disputado e o necessário para gioco - ou seja, quatro se estiver 0 a 0, três se uma das equipes estiver com 15, duas se estiver com 30, e uma se estiver com 40. Quando o máximo de cacce é marcado, as equipes mudam de lado, com a que estava atacando passando a defender e vice-versa. A partir de então, será usada como linha de meio de campo a caccia cuja bandeirinha tem o número 1 - ou seja, um dos lados do campo vai ficar maior que o outro, consequentemente conferindo vantagem para a equipe que ficou com o lado maior, porque ela ficará mais perto da linha de fundo do oponente. Os pontos por fuoricampo e faltas continuam sendo marcados normalmente, mas, enquanto houver cacce marcadas em campo, os métodos de pontuação "normais" passam a valer - se a bola quicar depois da linha de caccia e sair, ou se quicar duas vezes, a primeira após a linha de caccia, é ponto para quem bateu nela por último. Quando uma equipe marca um ponto usando um desses dois métodos, a bandeirinha da caccia é removida, e a de número seguinte passa a valer como meio de campo - após a bandeirinha 1 ser removida, o meio de campo passa a ser a bandeirinha 2, e assim por diante. Quando não houver mais bandeirinhas de cacce, a linha do meio do campo volta para o lugar normal (o meio do campo), o fuoricampo e as faltas voltam a ser os únicos meios de pontuar, e novas cacce passam a ser marcadas. Por causa desse método curioso de pontuação, uma partida de pallapugno pode durar várias horas. Vale dizer também que as cacce são a única forma de os times trocarem de lado, não ocorrendo trocas por giocchi como no bracciale.

A FIPAP foi fundada em 1951, com o nome de União Italiana de Pallone Elastico, para regular apenas o pallapugno (que na época, como vimos, se chamava pallone elastico). Em 1983, ela mudaria de nome para Federação Italiana de Pallone Elastico, e passaria a regular outros esportes. Hoje, sob o nome que passou a adotar em 2001, ela regula um total de nove esportes, sendo o órgão máximo da Itália para eles: pallapugno, bracciale, pelota basca, wall ball, jeu de balle e outros quatro que veremos a partir de agora.

O primeiro desses esportes é o pallapugno alla pantalera, ou simplesmente pantalera, uma versão do pallapugno que surgiu nas ruas do sul da região do Piemonte. Assim como outros esportes jogados nas ruas, como a modalidade llargues da pelota valenciana (que não é o mesmo esporte que o llargues da CIJB, o que você deve saber se leu o post sobre pelota valenciana), o pantalera tem elementos como hidrantes, lixeiras e carros estacionados incorporados ao campo de jogo - trocando em miúdos, a bola pode quicar em literalmente qualquer coisa dentro do campo de jogo que a jogada continua valendo. Como não se pode ser muito exigente em relação ao espaço para se jogar na rua, a área de jogo deve ter no mínimo 80 m de comprimento, mas não há largura mínima ou máxima. O nome pantalera vem da palavra no dialeto piemontês para "telhado", e vem do fato de que, para um saque ser válido, a bola tem que, antes de quicar em qualquer outro lugar, quicar em um telhado. O pantalera não é tão popular quanto o pallapugno, só desfrutando de popularidade verdadeira em Piemonte e na Ligúria - onde, inclusive, é considerado como a "versão original" do pallapugno - mas, mesmo assim, existe um Campeonato Italiano de Pantalera, organizado anualmente pela FIPAP, apenas no masculino, desde 1983, e que atualmente conta com três divisões.

As regras do pantalera são exatamente as mesmas do pallapugno, com apenas duas exceções: primeiro, sempre são marcadas no máximo duas cacce a cada gioco (mesmo que esteja 0 a 0); segundo, ao invés de sacar a bola, o jogador que vai servir deve jogá-la para cima, de forma que ela quique em um telhado e depois na área de jogo, além da linha que demarca o meio do campo. Como nem sempre um telhado apropriado está disponível, a FIPAP inventou um "telhado móvel", uma escada tipo a da cadeira do árbitro do vôlei, mas com um telhadinho inclinado em cima. Esse telhado também se chama pantalera, deve ter entre 1,20 e 1,80 m de comprimento, entre 80 cm e 1 m de largura, no máximo 3 m de altura, ter inclinação de 45 graus, e ser posicionado a no mínimo 8 m da área de saque, sendo o único telhado válido para a bola quicar após um saque (caso haja outros). É permitido que cada equipe tenha um jogador especializado em realizar o saque, chamado campau, que não participa do jogo junto com os outros quatro da equipe. É interessante registrar também que a área de jogo não conta com área de saque; o jogador que vai sacar deve se posicionar atrás da linha de fundo, e só pode entrar em campo após arremessar a bola em direção ao telhado.

O segundo esporte é o palla eh!, também conhecido como palla 21 ou palla toscana, versão do pallapugno criada na região da Toscana. O nome palla eh! vem do grito tradicional que os jogadores dão quando sacam a bola, para avisar ao adversário que ela entrou em jogo, e palla 21 vem do fato de que, originalmente, a pontuação era contada 7, 14, 21, gioco. Assim como o pantalera, o palla eh! é disputado nas ruas, com todos os elementos presentes contando como locais válidos para que a bola quique. Também como no pantalera, só podem ser marcadas no máximo duas cacce por gioco, e a área de jogo deve ter no mínimo 80 m de comprimento, mas não há largura mínima ou máxima. Existem três versões do palla eh!, com equipes de três, quatro ou cinco jogadores de cada lado.

Diferentemente dos outros esportes que vimos até agora, uma partida de palla eh! é dividida em sets, sendo disputada em melhor de três - ou seja, a primeira equipe que ganhar dois sets vence o jogo. Cada set, por sua vez, corresponde a uma melhor de três giochi, sendo vencedor do set a equipe que primeiro fizer dois. As demais regras são exatamente as mesmas do pallapugno, com apenas uma diferença no saque: como não há área de saque, o jogador que vai sacar, assim como na pantalera, se posiciona atrás da linha de fundo, só podendo entrar em campo após realizar o saque; esse saque pode ser feito "por baixo" ou com um movimento lateral do braço quantas vezes o jogador quiser, mas cada jogador só pode fazer um saque "por cima" por partida. O mesmo jogador permanece no saque até que haja duas mudanças de campo (já que, na primeira, a outra equipe é que vai sacar), com outro jogador devendo assumir o saque toda vez que a equipe retornar ao ataque, e com os sacadores só podendo se repetir após todos terem sacado. Uma bola após ser sacada deve sempre acertar primeiro o chão, além da linha do meio, sendo ponto para o adversário se ela acertar qualquer outro elemento antes de tocar o chão; da mesma forma, o sacador deve sempre jogar a bola para cima e acertá-la antes que ela toque qualquer elemento, sendo ponto para o adversário se a bola, durante um saque, tocar em qualquer coisa entre o momento em que o sacador a soltou e a sacou.

O elemento mais curioso do palla eh! é a bola, feita até hoje de forma artesanal. Ela consiste de um núcleo de chumbo, enclausurado em uma bolota de borracha, que então é envolvida por um fio de lã de no mínimo 10 m de comprimento, e coberta com uma capa de couro costurada. Isso tudo faz com que a bola seja pequena, pesada e extremamente veloz, tendo circunferência entre 15 e 16 cm e peso entre 35 e 40 g. Atualmente, a FIPAP não organiza torneios nacionais de palla eh!, embora a Toscana conte com pelo menos seis torneios regionais.

O terceiro esporte é muito semelhante à palla eh!, e se chama palla elastica. A rigor, a palla elastica é uma variação do pallapugno criada na província da Bréscia, mas seus praticantes sustentam que ela seria a variação mais antiga de todas, praticada desde a época do Império Romano. Seja como for, as regras da palla elastica, mais uma vez, são exatamente as mesmas do pallapugno, exceto pelo seguinte: a área de jogo deve ter entre 70 e 75 m de comprimento, sem largura máxima ou mínima; são marcadas no máximo duas cacce por gioco; as equipes sempre têm cinco jogadores cada; e a bola usada é uma bola de tênis, da qual é retirada a camada externa de feltro. Além disso, o saque segue as regras da palla eh!, com três diferenças: não é permitido sacar por cima, não é obrigatório gritar "eh!" na hora do saque, e a bola pode ser quicada no chão antes de ser sacada. Desde 2001, a FIPAP organiza, atualmente, o Campeonato Italiano de Palla Elastica, que conta com duas divisões, ambas masculinas.

Finalmente, temos o pallapugno leggera, criado na década de 1980 (com o nome de pallone elastico leggero) para estimular a prática do pallapugno dentre os jovens - o que conseguiu com enorme sucesso: atualmente, o pallapugno leggera é o segundo esporte mais popular da FIPAP, um dos esportes mais populares nas escolas italianas, e a maioria dos atuais jogadores de pallapugno começou sua carreira no pallapugno leggera. O pallapugno leggera é disputado não em um sferisterio, e sim em uma quadra de vôlei, sem a rede. A bola usada é de borracha macia, devendo ter circunferência entre 33 e 36 cm, e peso entre 60 e 80 g. Cada equipe tem quatro jogadores em quadra mais dois reservas, com as substituições podendo ser feitas a qualquer momento em que a bola não esteja em jogo, mas estando limitadas a duas por set, e com um jogador que retorna sempre tendo de entrar no lugar daquele que o substituiu. A partida é oficiada por um árbitro, que fica no meio do campo, e dois bandeirinhas, um em cada linha de fundo. Assim como no pallapugno, os jogadores rebatem a bola com as mãos, que devem estar nuas ou protegidas apenas por uma luva igual à do wall ball. A bola deve ser atingida com a mão espalmada, devendo, obrigatoriamente, acertar a palma da mão ou os dedos, sendo ponto para o adversário se ela atingir qualquer outra parte do corpo.

Uma partida de pallapugno leggera se parece com uma mistura de pallapugno, tênis e vôlei: no saque, o jogador deve se posicionar atrás da linha de fundo e sacar a bola, sempre por cima, arremessando-a para o alto com uma das mãos e batendo nela com a outra, de forma que ela atravesse a linha do meio do campo, com o sacador só podendo entrar em campo depois disso. O saque muda de lado a cada gioco, e, toda vez que uma equipe recupera o saque, um jogador diferente deve sacar, só podendo repetir após todos terem sacado, e sempre repetindo na mesma ordem - se os quatro primeiros foram A, B, C, D, depois vêm A, B, C e D de novo, até o final do jogo, respeitando as eventuais substituições (quem substituiu A saca no lugar de A, por exemplo). Não existem cacce, ou seja, se uma equipe deixar a bola quicar duas vezes no campo antes de rebater, é ponto para o adversário - assim como se ela quicar uma vez dentro de campo e uma fora, ou se ela quicar direto fora após ser rebatida. Também não existe fuoricampo, com bolas que saiam pela linha de fundo adversária seguindo a regra normal de quicar fora.

A partida de pallapugno leggera é disputada em sets, podendo ser em melhor de três (quem ganhar dois primeiro vence) ou de cinco (vence quem ganhar três primeiro). A pontuação é a mesma do pallapugno (15, 30, 40, gioco), sendo que não há vantagem, com a equipe que pontua no 40 a 40 fazendo gioco. Ganha um set a equipe que primeiro conseguir 5 giochi; caso a partida esteja empatada 4 a 4, o último gioco é um tie break, seguindo uma regra especial: as equipes se alternam no saque, sendo que, a cada vez, um jogador diferente deve sacar; cada ponto vale 1, e a equipe que alcançar 7 pontos primeiro (mesmo que esteja 6 a 6) ganha o quinto gioco e o set. Curiosamente, além de no início de cada set, as equipes mudam de lado toda vez que a soma dos giochi for um múltiplo de 4 (2 a 2, 3 a 1, 4 a 4 etc.). Cada equipe tem direito a um pedido de tempo de um minuto por set.

O principal torneio do pallapugno leggera é o Campeonato Italiano de Pallapugno Leggera, disputado desde 1990 no masculino e 2001 no feminino; outro torneio é o Trofeo Coni, disputado desde 1985, do qual participam equipes mistas, de três meninos e três meninas cada; essas equipes representam escolas, com o torneio contando com diversas fases regionais até que seja escolhida uma escola que representará cada região na fase nacional.

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