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domingo, 2 de dezembro de 2018

Escrito por em 2.12.18 com 0 comentários

Pallapugno

Um dia, há uns quatro anos, eu resolvi escrever um post sobre handebol. Não sobre o handebol famoso aqui no Brasil, aquele jogado por times em uma quadra, no qual o objetivo é conduzir a bola com as mãos e arremessá-la dentro de um gol (e sobre o qual eu já até havia escrito), mas sobre outro esporte chamado handebol, no qual o objetivo é rebater uma bolinha contra uma parede usando as mãos, sem qualquer tipo de raquete. Durante muito tempo, pensei em como poderia fazer para colocar esse post na seção dos Textos Passados, já que, como eu já mencionei ali entre parênteses, eu já havia escrito um post chamado "handebol". Depois de algum tempo, decidi combinar esse post sobre o "outro handebol" com um sobre pelota basca, outro esporte no qual o objetivo é rebater uma bolinha contra uma parede (em algumas modalidades usando vários tipos de raquetes, mas, em uma delas, com as mãos), e é aí que a história desse post de hoje começa.

Não é raro eu me empolgar sobre algum assunto quando estou escrevendo, e acabar fazendo vários outros posts relacionados a ele. Pois bem, nessa ocasião, aconteceu algo do tipo: ao pesquisar sobre pelota basca, eu acabei descobrindo que existem dezenas de outros esportes, quase todos eles desconhecidos aqui no Brasil - mas a maioria bastante popular em nossos vizinhos latino-americanos - nos quais o objetivo é rebater uma bola com as mãos, sem qualquer tipo de raquete, seja contra uma parede ou na direção de um jogador ou equipe oponente. Por causa disso, primeiro, o post sobre pelota basca saiu maior do que o planejado; depois, um post que eu ia escrever sobre três esportes de demonstração das Olimpíadas também acabou ficando maior que o planejado; e, por último, eu acabaria resolvendo escrever, um ano depois, um post sobre pelota valenciana, outro esporte no qual também se rebate a bola com as mãos - na ocasião, até mesmo resolvi criar uma categoria "pelota", para agrupar todos os três.

Mas a história não acabaria nesse terceiro post, senão nem teríamos esse aqui. Existe uma federação internacional chamada CIJB, da sigla em espanhol para Confederação Internacional de Jeu de Balle, cujo objetivo é regular internacionalmente todos os esportes nos quais uma bola é rebatida pelos jogadores com as mãos - menos a pelota basca, que já é regulada pela FIPV. O nome da CIJB vem do fato de que ela originalmente só regulava um desses esportes, chamado jeu de balle (hoje também conhecido como "jogo internacional"); ao longo dos anos, ela incluiria outros dois dentre seus esportes regulados, o llargues e o wall ball (também conhecido como "frontón internacional" ou "one-wall internacional"), e passaria a aceitar como membros federações nacionais que regulassem jogos nacionais e regionais com as mesmas características - somente não regulando esses esportes internacionalmente porque eles não são jogados em mais de um país - que passariam a ser considerados pela CIJB como "esportes reconhecidos".

O principal campeonato regulado pela CIJB é o Campeonato Mundial de Handebol, organizado a cada dois anos desde 1996. Para promover seus esportes reconhecidos, a CIJB permitiria que os países-sede do Mundial, caso desejassem, os incluíssem no programa como "esportes de demonstração"; ao invés de meras partidas de exibição entre jogadores do mesmo país, entretanto, os torneios desses esportes de demonstração contavam com jogadores de outras modalidades, que se arriscavam a disputar uma partida de acordo com regras com as quais não estavam acostumados - e que, até por causa disso, normalmente acabavam perdendo. Na primeira vez em que foi incluído um esporte de demonstração, por exemplo, em 2002, na Argentina, foi realizada uma partida de manito, na qual uma equipe da Argentina (de jogadores de manito) derrotou uma da Espanha (composta por jogadores de pelota basca). Nos torneios seguintes, outros cinco esportes apareceriam como esportes de demonstração: o pallapugno (2004, Itália), a pelota equatoriana (2008, Equador), o kaatsen (2012, Holanda), a pelota valenciana (2014, Espanha) e a chaza (2018, Colômbia).

Pois bem, eu já falei sobre quase todos esses esportes. Na última vez, no post sobre pelota valenciana, mencionei que não havia conseguido descobrir como se joga manito de jeito nenhum (e continuo sem conseguir, já achei umas trinta reportagens sobre ele, mas nenhuma diz as regras), e que o pallapugno eu deixaria "para outra ocasião". Essa ocasião é hoje. Hoje é dia de pallapugno no átomo!


O pallapugno é descendente de um outro esporte, chamado pallone col bracciale, cujo nome traduz literalmente para "balão com pulseira". Antes que vocês pensem que o cara que inventou o nome do jogo estava com a cara cheia de vino, esse nome advém do fato de que a bola usada no bracciale, como o esporte ficaria popularmente conhecido, era inflada, diferentemente das demais bolas usadas nos esportes da época, que eram sólidas ou recheadas com materiais como pelos de animais. Já a parte da pulseira vem do fato de que, no bracciale, os jogadores não atingem a bola com raquetes ou com as mãos, e sim com um implemento curioso, que se parece com um bracelete enorme e espinhento. O jogador deve enfiar a mão por dentro do implemento, também chamado bracciale, de forma que ele cubra todo o seu antebraço; o bracciale é cilíndrico, feito de madeira, possui uma alça cilíndrica em uma das aberturas para que o jogador segure com a mão fechada uma vez que ele esteja ajustado no braço, e sua superfície é coberta por cerca de cem "dentes" também de madeira - que o conferem a tal aparência espinhenta.

Hoje em dia, a bola já não é mais inflada, e sim feita de borracha sólida. As bolas originais podiam chegar a 50 cm de circunferência e 750 g de peso; as atuais devem ter entre 35 e 37 cm de circunferência, e pesar no máximo 350 g. O bracciale ainda é feito de madeira, mas hoje é mais "delicado": bracciales originais chegavam a pesar mais de 2 kg, enquanto os atuais têm peso máximo de 1 kg. O comprimento e a largura do bracciale dependem do tamanho do braço do jogador; hoje, ele deve cobrir somente toda a mão e todo o punho, mas, originalmente, chegava até o cotovelo. A mudança no tamanho e no peso, tanto da bola quanto do bracciale, ocorreram em 1921, e se deram por razões de segurança: até então, era comum que os jogadores quebrassem o braço por atingir a bola de mau jeito durante as partidas.

O bracciale é jogado em um campo de terra batida, chamado sferisterio, que deve ter entre 80 e 100 m de comprimento por entre 14 e 20 m de largura; em uma das laterais desse campo há um muro, de no mínimo 12 m de altura. O campo é dividido ao meio, no sentido do comprimento, por uma corda, chamada cordão, que fica a 1 m de altura. Cada campo conta, em sua linha de fundo, com um "trampolim", uma espécie de rampa de madeira; a qualquer momento, um dos jogadores pode subir até o alto dessa rampa e voltar correndo para o campo, aproveitando o impulso para rebater com mais força, sendo que um jogador que use o trampolim deve rebater a bola obrigatoriamente antes de uma linha imaginária traçada a 7 m da linha de fundo. Cada partida é oficiada por um árbitro, que fica junto ao cordão, e dois bandeirinhas, que ficam um na quina de cada linha de fundo com a lateral que não tem o muro.

Cada equipe é composta por quatro jogadores, dos quais somente três efetivamente estarão jogando; o quarto integrante é conhecido como mandarino, e coloca a bola em jogo no início da disputa de cada ponto - sendo possível, inclusive, que haja apenas um mandarino por jogo, que atuará pelas duas equipes. Cada equipe conta ainda com dois reservas, que poderão substituir os que estão em quadra a qualquer momento em que a bola não estiver em jogo, sendo as substituições ilimitadas (ou seja, quem é substituído pode voltar depois); o mandarino também deverá ter um reserva, para o caso de alguma eventualidade. Existem duas curiosidades em relação ao uniforme dos jogadores (composto de camiseta, calção ou calça comprida, meias e tênis): todos os jogadores, de ambas as equipes, devem usar calções ou calças brancas; além disso, se os jogadores forem numerados, o menor número permitido é o 2 - nenhum jogador pode usar a camisa 1.

Durante uma partida, a equipe que está com o muro a seu lado direito estará sempre atacando, enquanto a que está com o muro a seu lado esquerdo estará defendendo. No início de cada ponto, um dos jogadores da equipe que está atacando se posicionará no alto do trampolim, e, após um sinal previamente combinado, virá correndo e rebaterá a bola, que será arremessada para dentro da quadra pelo mandarino, que deverá se posicionar próximo à linha lateral, fora da quadra. Uma equipe tem o direito a recusar uma bola lançada pelo mandarino, desde que o faça em voz alta, de forma clara e antes de tocar a bola; caso outra bola seja recusada no mesmo ponto, entretanto, será anotado ponto para o adversário. Uma vez que o jogador bata na bola lançada pelo mandarino, ele deverá fazê-lo com força suficiente para que ela passe por cima do cordão e quique do lado da quadra da equipe adversária; um dos jogadores adversários, então, deverá rebatê-la, novamente de forma que ela quique após o cordão, no lado adversário. Isso prosseguirá até que um jogador cometa um erro, quando será ponto para o adversário. Os erros são: não conseguir fazer com que a bola passe por cima do cordão, fazer com que a bola bata no cordão, fazer com que a bola quique fora dos limites do campo, deixar a bola quicar duas vezes antes de rebater, estar com um ou os dois pés fora do campo ao rebater a bola, e bater na bola com qualquer parte do corpo que não seja o bracciale. A bola pode bater no muro sem problemas, e pode inclusive quicar uma vez no muro e uma no chão antes de ser rebatida; além disso, uma equipe que, após rebater, mande a bola direto pela linha de fundo do oponente, mesmo que ela não quique em lugar nenhum antes de sair, ganha um ponto. Os jogadores não têm posições fixas no campo nem ordem de rebatidas, mas, como o campo é bem comprido, é comum que cada um se responsabilize por um terço de sua extensão.

A pontuação no bracciale é contada de forma semelhante à do tênis: 15, 30, 40 e gioco (jogo) - por isso, os pontos também são chamados de quindicis, "quinzes". Assim como no tênis, se houver empate 40 a 40, primeiro uma das equipes deve conseguir uma vantagem para depois marcar o gioco. A cada dois giochi (jogos), não importa se ambos foram conquistados pela mesma equipe ou um por cada uma, as equipes mudam de lado na quadra - a que estava atacando passa a defender e vice-versa. A primeira equipe a conseguir 12 giochi vence a partida, mesmo que ela termine 12 a 11. Além da versão tradicional, com equipes de três, existem três outras versões, uma disputada de forma individual (um jogador de cada lado), uma em duplas (dois de cada lado) e uma com quatro jogadores de cada lado; as regras são as mesmas, sendo as únicas diferenças o fato de que as versões individual e em duplas usam uma rede semelhante à do tênis no lugar do cordão, e a versão para quatro jogadores não tem o muro, com o sferisterio devendo ter entre 16 e 20 m de largura.

O bracciale é um esporte antiquíssimo, e ninguém sabe ao certo quando ele teria sido inventado; a primeira codificação de suas regras foi publicada no ano de 1555, feita por um jogador chamado Antonio Scaino, da cidade de Salò, hoje considerado o pai do bracciale moderno. O bracciale foi considerado o esporte nacional da Itália durante séculos, e chegou a ser praticado na França, Alemanha, Áustria, Holanda e Reino Unido; há registros de torneios realizados até mesmo fora da Europa, organizados por imigrantes italianos nos Estados Unidos, Argentina e Egito. A partir da década de 1920, entretanto, o bracciale foi perdendo popularidade - segundo alguns devido às alterações nas regras - sendo hoje popular mesmo somente na Itália central, em especial nas regiões da Toscana e das Marcas.

O Campeonato Italiano de Pallone col Bracciale foi disputado anualmente de 1936 a 1963 (exceto em 1943 e 1944, por causa da Segunda Guerra Mundial), sendo cancelado por falta de interesse; em 1992 ele seria ressuscitado, mas voltado apenas para jogadores amadores, tendo sido disputado anualmente desde então. Atualmente, o bracciale é regulado pela Federação Italiana de Pallapugno (FIPAP), e o Campeonato Italiano é organizado por um órgão ligado à FIPAP, chamado Comitê Nacional do Jogo de Pallone col Bracciale. Apesar de amador, o bracciale é um esporte exclusivamente masculino - não é impossível que existam mulheres que joguem, mas todos os campeonatos são masculinos.

No século XIX, surgiria nas regiões do Piemonte e da Ligúria, no norte da Itália, uma variação do pallone col bracciale, que ganharia o apelido de pallone elastico, cujas regras seriam codificadas pela primeira vez em 1855 - curiosamente, exatos 300 anos após a codificação do bracciale. Em 2001, esse esporte seria renomeado para pallapugno, palavra que significa "(bater na) bola com o punho" - da mesma forma que football significa "(bater na) bola com os pés", por exemplo - nome que já era usado informalmente por jogadores do resto da Itália desde o início do século XX. Diferentemente do que ocorre com o bracciale, o pallapugno ainda é extremamente popular - segundo a FIPAP, é o esporte amador mais popular da Itália - tanto que a própria FIPAP organiza nada menos que 32 campeonatos por ano, considerando todas as faixas etárias. O principal deles é o Campeonato Italiano de Pallapugno masculino, disputado anualmente desde 1912, atualmente com quatro divisões (Série A, Série B, Série C1 e Série C2); o Campeonato Feminino é mais modesto, contando com apenas uma divisão, e mais recente, sendo disputado anualmente desde 2001.

O pallapugno também é jogado no sferisterio, com muro, mas com dimensões ligeiramente diferentes: o comprimento deve ser de 90 m, e a largura entre 16 e 18 m. O sferisterio do pallapugno conta com uma "área de saque", um retângulo de 12 m de comprimento, dos quais 5 m são para dentro do campo e os outros 7 para além da linha de fundo; esse retângulo tem 4 m de largura, sendo que sua lateral direita fica a 2 m do muro. Além disso, no pallapugno não há o trampolim nem o cordão, o meio do campo é marcado por uma linha imaginária, determinada por uma bandeirinha na linha lateral, e as equipes são compostas por quatro jogadores cada, todos em campo, sem mandarino, mais dois reservas. A bola é bem menor, devendo ter circunferência entre 30 e 30,5 cm e peso máximo de 190 g, sendo feita de borracha sólida. A pontuação é a mesma do bracciale (15, 30, 40, gioco, com vantagem disputada em empate de 40 a 40), sendo vencedor da partida a equipe que alcançar 11 giochi primeiro, mesmo que seja por 11 a 10. A partida é oficiada por um árbitro, que caminha pela lateral do campo, e dois bandeirinhas, um na quina de cada linha de fundo com a lateral que não tem o muro.

Mas a principal característica do pallapugno é que os jogadores não rebatem a bola com um implemento, e sim com as próprias mãos, que devem ser protegidas por uma espécie de atadura de 10 m de comprimento, que envolve as palmas e os punhos. A bola deve ser rebatida com a mão espalmada, podendo a bola acertar a palma, os dedos ou o punho, e sendo ponto para o adversário acertar a bola com a mão fechada ou com as costas da mão - bem como com qualquer outra parte do corpo. Assim como no bracciale, a equipe que tem o muro à sua direita ataca (por isso a área de saque fica lá), e a que tem o muro à sua esquerda defende. No início de cada ponto, um dos jogadores se posiciona dentro da área de saque e bate na bola, que deve quicar além da linha do meio de campo, a partir daí, as equipes rebaterão a bola alternadamente em busca de marcar pontos.

Uma curiosidade do pallapugno é que só há duas formas de se marcar pontos: mandando a bola para além da linha de fundo do adversário (o que se chama fuoricampo), ou quando o adversário comete uma das três seguintes faltas: acertar a bola com uma parte do corpo inválida, fazer a bola quicar fora do campo logo após rebatê-la, ou dois jogadores da mesma equipe tocarem na bola em sequência. Note que "deixar a bola quicar duas vezes" não está dentre elas, ou seja, após um jogador rebater, a bola pode quicar no chão ou no muro um número indeterminado de vezes - na verdade, até ela parar de quicar. Se a bola parar de quicar, qualquer jogador pode interromper sua trajetória com as mãos ou com os pés; assim que ele o fizer, o árbitro deve marcar, na linha lateral, usando uma bandeirinha própria, uma linha imaginária chamada caccia. A caccia também é marcada, no ponto onde a bola saiu, se, após ser rebatida por uma equipe e quicar no campo adversário, a bola sair de campo.

O número máximo de cacce (sim, plurais em italiano são estranhos) que podem ser marcadas durante um ponto é igual à diferença entre o maior ponto disputado e o necessário para gioco - ou seja, quatro se estiver 0 a 0, três se uma das equipes estiver com 15, duas se estiver com 30, e uma se estiver com 40. Quando o máximo de cacce é marcado, as equipes mudam de lado, com a que estava atacando passando a defender e vice-versa. A partir de então, será usada como linha de meio de campo a caccia cuja bandeirinha tem o número 1 - ou seja, um dos lados do campo vai ficar maior que o outro, consequentemente conferindo vantagem para a equipe que ficou com o lado maior, porque ela ficará mais perto da linha de fundo do oponente. Os pontos por fuoricampo e faltas continuam sendo marcados normalmente, mas, enquanto houver cacce marcadas em campo, os métodos de pontuação "normais" passam a valer - se a bola quicar depois da linha de caccia e sair, ou se quicar duas vezes, a primeira após a linha de caccia, é ponto para quem bateu nela por último. Quando uma equipe marca um ponto usando um desses dois métodos, a bandeirinha da caccia é removida, e a de número seguinte passa a valer como meio de campo - após a bandeirinha 1 ser removida, o meio de campo passa a ser a bandeirinha 2, e assim por diante. Quando não houver mais bandeirinhas de cacce, a linha do meio do campo volta para o lugar normal (o meio do campo), o fuoricampo e as faltas voltam a ser os únicos meios de pontuar, e novas cacce passam a ser marcadas. Por causa desse método curioso de pontuação, uma partida de pallapugno pode durar várias horas. Vale dizer também que as cacce são a única forma de os times trocarem de lado, não ocorrendo trocas por giocchi como no bracciale.

A FIPAP foi fundada em 1951, com o nome de União Italiana de Pallone Elastico, para regular apenas o pallapugno (que na época, como vimos, se chamava pallone elastico). Em 1983, ela mudaria de nome para Federação Italiana de Pallone Elastico, e passaria a regular outros esportes. Hoje, sob o nome que passou a adotar em 2001, ela regula um total de nove esportes, sendo o órgão máximo da Itália para eles: pallapugno, bracciale, pelota basca, wall ball, jeu de balle e outros quatro que veremos a partir de agora.

O primeiro desses esportes é o pallapugno alla pantalera, ou simplesmente pantalera, uma versão do pallapugno que surgiu nas ruas do sul da região do Piemonte. Assim como outros esportes jogados nas ruas, como a modalidade llargues da pelota valenciana (que não é o mesmo esporte que o llargues da CIJB, o que você deve saber se leu o post sobre pelota valenciana), o pantalera tem elementos como hidrantes, lixeiras e carros estacionados incorporados ao campo de jogo - trocando em miúdos, a bola pode quicar em literalmente qualquer coisa dentro do campo de jogo que a jogada continua valendo. Como não se pode ser muito exigente em relação ao espaço para se jogar na rua, a área de jogo deve ter no mínimo 80 m de comprimento, mas não há largura mínima ou máxima. O nome pantalera vem da palavra no dialeto piemontês para "telhado", e vem do fato de que, para um saque ser válido, a bola tem que, antes de quicar em qualquer outro lugar, quicar em um telhado. O pantalera não é tão popular quanto o pallapugno, só desfrutando de popularidade verdadeira em Piemonte e na Ligúria - onde, inclusive, é considerado como a "versão original" do pallapugno - mas, mesmo assim, existe um Campeonato Italiano de Pantalera, organizado anualmente pela FIPAP, apenas no masculino, desde 1983, e que atualmente conta com três divisões.

As regras do pantalera são exatamente as mesmas do pallapugno, com apenas duas exceções: primeiro, sempre são marcadas no máximo duas cacce a cada gioco (mesmo que esteja 0 a 0); segundo, ao invés de sacar a bola, o jogador que vai servir deve jogá-la para cima, de forma que ela quique em um telhado e depois na área de jogo, além da linha que demarca o meio do campo. Como nem sempre um telhado apropriado está disponível, a FIPAP inventou um "telhado móvel", uma escada tipo a da cadeira do árbitro do vôlei, mas com um telhadinho inclinado em cima. Esse telhado também se chama pantalera, deve ter entre 1,20 e 1,80 m de comprimento, entre 80 cm e 1 m de largura, no máximo 3 m de altura, ter inclinação de 45 graus, e ser posicionado a no mínimo 8 m da área de saque, sendo o único telhado válido para a bola quicar após um saque (caso haja outros). É permitido que cada equipe tenha um jogador especializado em realizar o saque, chamado campau, que não participa do jogo junto com os outros quatro da equipe. É interessante registrar também que a área de jogo não conta com área de saque; o jogador que vai sacar deve se posicionar atrás da linha de fundo, e só pode entrar em campo após arremessar a bola em direção ao telhado.

O segundo esporte é o palla eh!, também conhecido como palla 21 ou palla toscana, versão do pallapugno criada na região da Toscana. O nome palla eh! vem do grito tradicional que os jogadores dão quando sacam a bola, para avisar ao adversário que ela entrou em jogo, e palla 21 vem do fato de que, originalmente, a pontuação era contada 7, 14, 21, gioco. Assim como o pantalera, o palla eh! é disputado nas ruas, com todos os elementos presentes contando como locais válidos para que a bola quique. Também como no pantalera, só podem ser marcadas no máximo duas cacce por gioco, e a área de jogo deve ter no mínimo 80 m de comprimento, mas não há largura mínima ou máxima. Existem três versões do palla eh!, com equipes de três, quatro ou cinco jogadores de cada lado.

Diferentemente dos outros esportes que vimos até agora, uma partida de palla eh! é dividida em sets, sendo disputada em melhor de três - ou seja, a primeira equipe que ganhar dois sets vence o jogo. Cada set, por sua vez, corresponde a uma melhor de três giochi, sendo vencedor do set a equipe que primeiro fizer dois. As demais regras são exatamente as mesmas do pallapugno, com apenas uma diferença no saque: como não há área de saque, o jogador que vai sacar, assim como na pantalera, se posiciona atrás da linha de fundo, só podendo entrar em campo após realizar o saque; esse saque pode ser feito "por baixo" ou com um movimento lateral do braço quantas vezes o jogador quiser, mas cada jogador só pode fazer um saque "por cima" por partida. O mesmo jogador permanece no saque até que haja duas mudanças de campo (já que, na primeira, a outra equipe é que vai sacar), com outro jogador devendo assumir o saque toda vez que a equipe retornar ao ataque, e com os sacadores só podendo se repetir após todos terem sacado. Uma bola após ser sacada deve sempre acertar primeiro o chão, além da linha do meio, sendo ponto para o adversário se ela acertar qualquer outro elemento antes de tocar o chão; da mesma forma, o sacador deve sempre jogar a bola para cima e acertá-la antes que ela toque qualquer elemento, sendo ponto para o adversário se a bola, durante um saque, tocar em qualquer coisa entre o momento em que o sacador a soltou e a sacou.

O elemento mais curioso do palla eh! é a bola, feita até hoje de forma artesanal. Ela consiste de um núcleo de chumbo, enclausurado em uma bolota de borracha, que então é envolvida por um fio de lã de no mínimo 10 m de comprimento, e coberta com uma capa de couro costurada. Isso tudo faz com que a bola seja pequena, pesada e extremamente veloz, tendo circunferência entre 15 e 16 cm e peso entre 35 e 40 g. Atualmente, a FIPAP não organiza torneios nacionais de palla eh!, embora a Toscana conte com pelo menos seis torneios regionais.

O terceiro esporte é muito semelhante à palla eh!, e se chama palla elastica. A rigor, a palla elastica é uma variação do pallapugno criada na província da Bréscia, mas seus praticantes sustentam que ela seria a variação mais antiga de todas, praticada desde a época do Império Romano. Seja como for, as regras da palla elastica, mais uma vez, são exatamente as mesmas do pallapugno, exceto pelo seguinte: a área de jogo deve ter entre 70 e 75 m de comprimento, sem largura máxima ou mínima; são marcadas no máximo duas cacce por gioco; as equipes sempre têm cinco jogadores cada; e a bola usada é uma bola de tênis, da qual é retirada a camada externa de feltro. Além disso, o saque segue as regras da palla eh!, com três diferenças: não é permitido sacar por cima, não é obrigatório gritar "eh!" na hora do saque, e a bola pode ser quicada no chão antes de ser sacada. Desde 2001, a FIPAP organiza, atualmente, o Campeonato Italiano de Palla Elastica, que conta com duas divisões, ambas masculinas.

Finalmente, temos o pallapugno leggera, criado na década de 1980 (com o nome de pallone elastico leggero) para estimular a prática do pallapugno dentre os jovens - o que conseguiu com enorme sucesso: atualmente, o pallapugno leggera é o segundo esporte mais popular da FIPAP, um dos esportes mais populares nas escolas italianas, e a maioria dos atuais jogadores de pallapugno começou sua carreira no pallapugno leggera. O pallapugno leggera é disputado não em um sferisterio, e sim em uma quadra de vôlei, sem a rede. A bola usada é de borracha macia, devendo ter circunferência entre 33 e 36 cm, e peso entre 60 e 80 g. Cada equipe tem quatro jogadores em quadra mais dois reservas, com as substituições podendo ser feitas a qualquer momento em que a bola não esteja em jogo, mas estando limitadas a duas por set, e com um jogador que retorna sempre tendo de entrar no lugar daquele que o substituiu. A partida é oficiada por um árbitro, que fica no meio do campo, e dois bandeirinhas, um em cada linha de fundo. Assim como no pallapugno, os jogadores rebatem a bola com as mãos, que devem estar nuas ou protegidas apenas por uma luva igual à do wall ball. A bola deve ser atingida com a mão espalmada, devendo, obrigatoriamente, acertar a palma da mão ou os dedos, sendo ponto para o adversário se ela atingir qualquer outra parte do corpo.

Uma partida de pallapugno leggera se parece com uma mistura de pallapugno, tênis e vôlei: no saque, o jogador deve se posicionar atrás da linha de fundo e sacar a bola, sempre por cima, arremessando-a para o alto com uma das mãos e batendo nela com a outra, de forma que ela atravesse a linha do meio do campo, com o sacador só podendo entrar em campo depois disso. O saque muda de lado a cada gioco, e, toda vez que uma equipe recupera o saque, um jogador diferente deve sacar, só podendo repetir após todos terem sacado, e sempre repetindo na mesma ordem - se os quatro primeiros foram A, B, C, D, depois vêm A, B, C e D de novo, até o final do jogo, respeitando as eventuais substituições (quem substituiu A saca no lugar de A, por exemplo). Não existem cacce, ou seja, se uma equipe deixar a bola quicar duas vezes no campo antes de rebater, é ponto para o adversário - assim como se ela quicar uma vez dentro de campo e uma fora, ou se ela quicar direto fora após ser rebatida. Também não existe fuoricampo, com bolas que saiam pela linha de fundo adversária seguindo a regra normal de quicar fora.

A partida de pallapugno leggera é disputada em sets, podendo ser em melhor de três (quem ganhar dois primeiro vence) ou de cinco (vence quem ganhar três primeiro). A pontuação é a mesma do pallapugno (15, 30, 40, gioco), sendo que não há vantagem, com a equipe que pontua no 40 a 40 fazendo gioco. Ganha um set a equipe que primeiro conseguir 5 giochi; caso a partida esteja empatada 4 a 4, o último gioco é um tie break, seguindo uma regra especial: as equipes se alternam no saque, sendo que, a cada vez, um jogador diferente deve sacar; cada ponto vale 1, e a equipe que alcançar 7 pontos primeiro (mesmo que esteja 6 a 6) ganha o quinto gioco e o set. Curiosamente, além de no início de cada set, as equipes mudam de lado toda vez que a soma dos giochi for um múltiplo de 4 (2 a 2, 3 a 1, 4 a 4 etc.). Cada equipe tem direito a um pedido de tempo de um minuto por set.

O principal torneio do pallapugno leggera é o Campeonato Italiano de Pallapugno Leggera, disputado desde 1990 no masculino e 2001 no feminino; outro torneio é o Trofeo Coni, disputado desde 1985, do qual participam equipes mistas, de três meninos e três meninas cada; essas equipes representam escolas, com o torneio contando com diversas fases regionais até que seja escolhida uma escola que representará cada região na fase nacional.
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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Escrito por em 7.11.16 com 0 comentários

Pelota Valenciana / Equatoriana

Há cerca de um ano, fiz aqui um post sobre pelota basca, um esporte interessante no qual o objetivo é rebater uma bola contra uma parede usando as mãos. Fazia tempo que eu queria escrever esse post, mas não achava a melhor forma, porque queria falar também sobre outros esportes que tivessem o mesmo objetivo. Na época, cheguei a cogitar fazer uma série de posts chamados "pelota", mas depois acabei desistindo e condensando a pelota basca e vários outros esportes parecidos em um único - e imenso - post. Não fiquei muito satisfeito, porém, de forma que, mais tarde, aproveitei o segundo post sobre os esportes de demonstração das Olimpíadas para falar de mais alguns desses esportes - e, mais uma vez, o post ficou imenso. Como não dava mais para voltar atrás e fazer a série da pelota, me conformei, mesmo ainda tendo o desejo de falar de mais alguns.

Essa semana, me lembrei disso, e resolvi fazer esse novo post, falando sobre mais dois esportes semelhantes. Não são os únicos que faltam, mas são os que eu ainda estava com vontade de abordar; um deles eu havia separado para a série original da pelota, o outro eu acabei descobrindo quando escrevi sobre o kaatsen. E, já que não dá mais para fazer a série da pelota, pelo menos eu criei uma categoria "pelota", para que os três posts que falam sobre esses curiosos e interessantes esportes possam ser encontrados mais rapidamente.

Vamos começar pela pelota valenciana, o tal que eu havia separado originalmente. Assim como a pelota basca tem esse nome porque teve origem no País Basco, região que atualmente ocupa territórios que pertencem à Espanha e à França, a pelota valenciana teve origem na Comunidade Valenciana, região espanhola que ainda mantém fortes tradições culturais, incluindo um idioma próprio - mais ou menos como ocorre com a Catalunha, mas sem uma luta tão forte pela independência. Não somente a pelota valenciana é considerada o "esporte nacional" da Comunidade Valenciana, como também ele praticamente só é jogado por lá, com pouquíssimos jogadores existindo até mesmo no restante da Espanha, quem dirá no resto do mundo - e locais apropriados para sua prática profissional somente existindo nas cidades da Comunidade Valenciana, a maior parte delas em Valência, capital da região.

Assim como a pelota basca, a pelota valenciana descende do jeu de paume, também conhecido como tênis real, esporte de origem francesa semelhante ao tênis que hoje é jogado com raquetes, mas que, originalmente, era jogado rebatendo a bola com as mãos nuas. De fato, a pelota valenciana é tão parecida com o jeu de paume original que, no século XVI, o humanista Juan Luís Vives, que nasceu em Valência mas morou a maior parte de sua vida na Holanda, e hoje é considerado um dos pais da psicologia moderna, escreveu um texto no qual buscava provar que ambos eram o mesmo esporte. Também vale citar que, para diferenciá-la da pelota basca, a pelota valenciana em muitos idiomas é chamada de pilota, nome pelo qual é conhecido em sua região de origem, e que significa "bola" em valenciano - assim como pelota significa "bola" em espanhol.

Os primeiros registros da prática da pelota valenciana em Valência datam de 1391, quando o conselho da cidade proibiu sua prática nas ruas; estima-se, entretanto, que ela já era praticada, pelo menos, desde o final do século XIII. Originalmente, a pelota valenciana era apenas um passatempo, jogado nas ruas sem regras rígidas quanto ao número de participantes ou para determinar quem venceria a partida; a proibição imposta pelo conselho da cidade, porém, levaria à construção de locais próprios para a sua prática, chamados trinquets, e a uma tentativa de codificação das regras por parte dos donos desses locais - não por uma preocupação com a pureza do esporte, mas porque, além de cobrar ingressos dos espectadores e taxas dos jogadores que quisessem usar seus trinquets, muitos deles ainda incentivavam as apostas, com qualquer espectador podendo apostar em termos como qual jogador ou equipe iria ganhar, quantos pontos eles iriam fazer e quem seria o maior pontuador da partida, e com parte do dinheiro apostado indo para o dono do trinquet; diante disso, para que ninguém pudesse alegar que ganhou a aposta, mas não levou o dinheiro, era necessário que as regras ficassem bem claras para todos. Atualmente, a prática das apostas durante os jogos não somente é permitida, como também é considerada um dos principais fatores de sua popularidade.

Hoje em dia, a Comunidade Valenciana possui campeonatos disputados tanto por jogadores amadores, que praticam a pelota principalmente como atividade física, quanto por profissionais, que se dedicam integralmente ao jogo de pelota, com alguns até tendo excelentes salários. Muitas escolas e universidades da Comunidade Valenciana possuem trinquets e outras áreas próprias para a prática da pelota, e jogos profissionais e universitários costumam ser transmitidos pelo Canal Nou, o canal de TV público da Comunidade Valenciana. Também é comum que a pelota valenciana seja jogada nas ruas - prática que voltou a se popularizar após o relaxamento da proibição, em meados do século XIX - mas apenas como diversão, e na maior parte das vezes por crianças e adolescentes.

A pelota valenciana possui sete modalidades, divididas em jogo direto e jogo indireto. Nas modalidades de jogo direto, a partida se parece com uma de tênis, com um jogador ou equipe rebatendo a bola para outro, enquanto no jogo indireto a partida se parece com uma de pelota basca ou squash, com os jogadores rebatendo, alternadamente, a bola contra uma parede. Independentemente da modalidade, apenas as mãos podem ser usadas para rebater a bola, sem a ajuda de qualquer luva ou raquete - sendo usada, no máximo, uma proteção para a palma das mãos feita com esparadrapo comum.

Duas das modalidades do jogo direto são disputadas profissionalmente; a de maior prestígio é a chamada escala i corda, criada em 1910 pelo jogador Nel de Murla, que resolveu pendurar uma corda no meio de um trinquet para servir de rede. A escala i corda pode ser jogada em simples, em duplas, ou em trios, além de em uma curiosa variação de uma dupla contra um trio, sendo que, nesse caso, o trio é sempre composto por jogadores mais fracos que a dupla. Falando nisso, na escala i corda, o jogador ou time mais forte (mais bem ranqueado, com mais vitórias etc.) sempre veste vermelho, enquanto o outro sempre veste azul; as apostas se referem sempre a essas cores, nunca aos nomes dos jogadores ("vitória do azul por dois pontos", por exemplo). A escala i corda usa uma bola conhecida como pilota de vaqueta ("bola de vaca"), feita de borracha coberta com couro de vaca, com 42 mm de diâmetro e 42 g de peso.

A escala i corda é jogada em um trinquet com entre 45 e 60 m de comprimento por entre 8,5 e 11 m de largura. O trinquet é completamente fechado, tendo quatro paredes e um teto, que deve estar a, no mínimo, 6 m de altura. As duas paredes mais curtas, que delimitam o comprimento, são conhecidos como frontón, enquanto as duas mais compridas são os muralles, e todas devem ter entre 4 e 6 m de altura. No lado esquerdo de quem entra no trinquet, o que é feito por uma porta em um dos frontó, há uma espécie de arquibancada, de quatro degraus, conhecida como escala ("escada"); para todos os efeitos, a escala faz parte da área de jogo, e a bola pode quicar lá normalmente. Dividindo o trinquet bem no meio fica pendurada uma corda, a 1,80 m de altura, que divide o trinquet em dois lados distintos: o lado que tem a porta de entrada pertence ao time que está defendendo, e se chama dau, enquanto o outro lado se chama rest, e pertence ao time que está atacando. A única marcação no chão é um retângulo de 1,80 m por 2,20 m, desenhado tanto no chão quanto na parede, na quina da escala com o frontó que tem a porta de entrada, também chamado dau (palavra que significa "quadrado" em valenciano).

Uma das coisas mais curiosas na escala i corda é o posicionamento dos espectadores: a rigor, o local próprio para se assistir ao jogo é em arquibancadas presentes no alto de cada frontó, para que se possa assistir ao jogo sentado, ou em galerias existentes no alto dos muralles, de onde eles podem assistir à partida de pé. Na quina do frontó que tem a porta de entrada com o mural oposto à escala (ou seja, de frente com o dau), existe uma espécie de camarote, chamado llotgeta, que ocupa mais ou menos a metade desse frontó, onde espectadores também podem se sentar - sendo que, assim como ocorre com a escala, a bola pode quicar na llotgeta normalmente. De forma um tanto curiosa, também é permitido que os espectadores se sentem na escala, embora, em jogos profissionais, só seja permitido se sentar do lado do time que está defendendo. Extra-oficialmente, há um "grau de coragem" para avaliar os espectadores: os mais medrosos ficam nas arquibancadas e galerias, aqueles um pouco mais corajosos na llotgeta, os mais corajosos na escala, e os verdadeiramente corajosos em banquinhos posicionados abaixo da corda, dentro da área de jogo, de onde, acreditem , ou não, também é permitido assistir à partida; em partidas profissionais, entretanto, apenas os árbitros podem se sentar nesses banquinhos.

A variação mais disputada da escala i corda é a de trios. Nela, os jogadores se posicionam não um ao lado do outro, mas um atrás do outro, como se seu lado do trinquet fosse dividido em três terços no sentido da largura. O jogador responsável pelo terço mais próximo ao frontó se chama dauer, e é normalmente o melhor jogador do trio, sendo responsável por devolver a maior parte das bolas. O jogador do terço intermediário se chama mitger; poucas bolas chegarão a ele sem quicar, mas ele pode arriscar rebatê-las antes do quique, para pegar os adversários de surpresa. O jogador mais próximo à corda se chama punter ("puntêr", e não "pânter", afinal, não é inglês, é valenciano), e provavelmente será o que rebaterá menos bolas, já que elas chegarão a ele sem quicar e com bastante velocidade; punteres, portanto, costumam ser jogadores de pouca técnica, mas muita força e bons reflexos. Existe ainda uma quarta função, chamada feridor, um jogador cuja única função é sacar - o saque, na pelota valenciana, se chama ferida, no sentido de ferir o time adversário. Em torneios profissionais, cada partida conta com dois feridores especializados, que são sorteados um para cada time antes do início da partida, e só entram em jogo para sacar; em partidas amadoras, o punter costuma ser também o feridor de cada time. Caso a partida seja disputada por duplas, cada dupla será formada por um dauer e por um jogador que acumula as funções de mitger, punter e feridor, se posicionando como se fosse um mitger; em partidas individuais, evidentemente, cada jogador acumula todas as funções de sua equipe, correndo bem mais durante a partida que um jogador de duplas ou trios, mas tendo maior possibilidade estratégica.

No início de cada ponto, o feridor se posiciona o mais próximo possível da corda, quica a bola no chão e bate nela com a mão, visando fazer com que ela quique dentro do quadrado do dau, sendo que ela pode quicar uma vez na escala antes disso. Sendo o saque válido, o dauer adversário deverá devolvê-lo, e, a partir daí, os times se alternam nas rebatidas, até alguém cometer um erro ou falta. Antes de quicar no chão, é permitido que a bola quique em um dos murales, em um frontó, na escala, na llotgera, no teto (o que é raríssimo, dado sua altura) ou até mesmo em um dos espectadores (o que já foi mais comum, mas hoje os jogadores são desencorajados a usar os espectadores como área de jogo); caso a bola quique em mais de um desses lugares antes de quicar no chão, ou duas vezes no mesmo lugar (por exemplo, em dois dos degraus da escala), será ponto do adversário, mas se ela quicar duas vezes no chão antes de ser rebatida, será ponto de quem a rebateu anteriormente. Também é ponto para o adversário caso um mesmo jogador ou uma mesma equipe toque duas vezes na bola antes do adversário, caso um jogador não consiga passar a bola para o outro lado da corda, caso a bola passe por baixo da corda ao invés de por cima, ou caso o saque não alcance o dau. Um jogador não é obrigado a deixar a bola quicar em lugar nenhum antes de rebatê-la, podendo fazê-lo direto. Também pode ocorrer de a bola ir parar no meio dos espectadores e não retornar à área de jogo imediatamente, ficando presa, o que normalmente ocorre quando ela vai parar nas galerias do alto dos muralles; nesse caso, não é ponto para ninguém, sendo efetuado um novo saque. Em partidas amadoras e em partidas profissionais de simples, se um jogador conseguir mandar a bola diretamente para as galerias, as arquibancadas ou a llotgeta, marcará um ponto.

A pontuação na escala i corda é parecida com a do tênis, com os pontos sendo contados em quinzes (15, 30, val e punt), mas sem existir o deuce - ou seja, mesmo que ambos estiverem com val, o próximo a pontuar marca um punt. Cada cinco punts constituem um joc, e quem ganhar 12 jocs primeiro ganha a partida - em outras palavras, são necessários 60 punts, ou 240 quinzes. Os times se alternam no ataque e na defesa, mudando de lado a cada ponto; somente o time que está no ataque é que tem direito a sacar.

A segunda modalidade profissional se chama raspall, que é o verbo "raspar" em valenciano. A raspall é bastante parecida com a escala i corda, usando o mesmo trinquet, a mesma bola, as mesmas cores azul e vermelha para os competidores, o mesmo sistema de pontuação, as mesmas regras básicas, e também pode ser jogado em simples, duplas, trios, ou em um trio contra uma dupla; nada disso é por acaso, já que a raspall é a modalidade original que Nel de Murla adaptou para criar a escala i corda. Não se sabe quem teria criado a raspall, mas há registros de que essa modalidade já existia na época em que a pelota valenciana era jogada apenas nas ruas - de fato, ainda hoje a raspall pode ser jogada nas ruas, embora todas as partidas profissionais usem o trinquet.

A principal diferença entre a raspall e a escala i corda é que não há a corda. Aliás, não há qualquer linha para dividir o trinquet no meio, mas, mesmo assim, cada time ocupa uma das metades, com a metade do time que está atacando sendo chamada de "área de saque" e a outra de "área de devolução" – como não há linha divisória, as metades nem sempre têm o mesmo tamanho, com os times frequentemente se adiantando para diminuir a área de jogo do adversário. Na raspall, a bola não pode quicar na escala nem nos espectadores, e, portanto, toda a área da escala é livre para que eles se sentem; por outro lado, não há os banquinhos no meio da área de jogo, com o árbitro ficando na escala, próximo à metade (real) da área de jogo. Uma partida de raspall é disputada até que uma das equipes (ou um dos jogadores, no jogo individual) faça 5 jocs (o que equivale a 25 punts ou 100 quinzes); o placar menor advém do fato de que é muito mais difícil pontuar na raspall que na escala i corda.

As posições dos jogadores na raspall são bem mais flexíveis, com todos podendo se movimentar e rebater livremente, como em uma partida de tênis. Os jogadores de cada equipe se alternam no saque a cada punt, devendo se posicionar na quina entre o frontó e a escala, correr no máximo três passos, e então quicar a bola e rebatê-la para o lado adversário. A principal característica da raspall é que não há limite de vezes em que a bola pode quicar no chão antes de ser devolvida - exceto se ela bater no mural ou no frontó, quando deverá ser rebatida após seu primeiro quique no chão. Essa falta de limite de quiques pode fazer, inclusive, com que a bola corra pelo chão, sendo perfeitamente legal que o jogador se abaixe e a rebata com a mão em direção ao adversário - e é daí que vem o nome do jogo, pois muitas vezes a mão do jogador raspa no chão quando vai rebater a bola dessa forma. Como não há limite de quiques, a principal forma de pontuação é quando ocorre uma falta, caso no qual o ponto irá para a equipe ou jogador que não a cometeu. As faltas na raspall são: um mesmo jogador ou uma mesma equipe tocar duas vezes na bola antes de devolvê-la para o adversário; a bola bater no mural ou no frontó e voltar para a metade do trinquet do jogador ou equipe que a rebateu por último antes que um adversário toque nela; a bola tocar tanto no mural quanto no frontó antes de quicar no chão; e um jogador deixar a bola quicar duas vezes no chão após ela ter quicado no mural ou no frontó. Caso a bola caia no meio dos espectadores, ela será quicada pelo árbitro na metade da área de jogo, e um jogador do time que não a rebateu "para fora" poderá rebatê-la livremente após esse quique - regra estipulada para desencorajar os jogadores a jogar a bola na direção dos espectadores. Em jogos disputados nas ruas, a área de jogo é delimitada por linhas de fundo, e, se a bola sair por uma dessas linhas de fundo, também será ponto para o adversário; em partidas amadoras jogadas no trinquete essa regra costuma ser adaptada, conferindo um ponto a uma equipe ou jogador que consiga jogar a bola nas arquibancadas, nas galerias ou na llotgeta, mas essa forma de pontuação não existe no jogo profissional.

Outra das modalidades do jogo direto, chamada galotxa, não possui torneios ou campeonatos profissionais, mas pode ser disputada nas ruas, como recreação, ou em locais próprios por jogadores amadores, muitos deles filiados a clubes. A galotxa também é parecida com a escala i corda, mas mais antiga, com seus primeiros registros datando do século XVIII - muitos acreditam, inclusive, que, ao acrescentar a corda ao trinquet, Nel de Murla estaria não tentando criar um novo esporte, e sim adaptar a galotxa para o trinquet. Muitos jogadores profissionais de escala i corda, inclusive, começam suas carreiras na galotxa antes de se profissionalizar.

Assim como na escala i corda, a área de jogo da galotxa é dividida por um elemento - que, no caso da galotxa, não é uma corda, e sim uma rede, parecida com a do vôlei, mas com apenas 30 cm de altura, e pendurada de forma que seu ponto mais alto fique a 1,80 m do chão. As regras são as mesmas da escala i corda, sendo usadas a mesma bola, as mesmas cores vermelha e azul em torneios oficiais, as mesmas formas e o mesmo sistema de pontuação; a única diferença está no saque, feito de um retângulo de 1,80 m por 80 cm demarcado a aproximadamente 2 m do final da área de jogo, em direção a um dau de 1,80 m por 1 m, demarcado apenas no chão, a aproximadamente 2 m da rede. Na galotxa a disputa é sempre entre trios, não havendo jogos de simples, duplas, ou de trio contra dupla. A pontuação necessária para se vencer o jogo é maior: 14 jocs (que equivalem a 70 punts ou 280 quinzes).

A principal diferença da galotxa para a escala i corda é que ela nunca é jogada no trinquet, apenas nas ruas. Acreditem ou não, para que pudessem ser disputados torneios amadores, muitos clubes e prefeituras construíram "ruas artificiais", especiais para a prática da galotxa; essas "ruas" têm 50 m de comprimento por 7 m de largura, e contam com elementos como postes, lixeiras, caixas de correio, muros com janelas, calçadas com meio-fios e até mesmo bueiros e tampas de esgoto, tudo para que fiquem o mais parecidas possível com uma rua de verdade. Evidentemente, nenhuma delas tem escalas ou lottgetes, mas nem por isso a partida ocorre sem público: ao redor da "rua", há muros, equivalentes aos muralles e frontón, de no mínimo três metros de altura, no topo do qual há arquibancadas para o público se sentar e acompanhar o jogo. Ruas artificiais que contem com muros com janelas podem permitir que alguns espectadores assistam ao jogo por detrás delas, e alguns clubes até permitem jogadores sentados no meio da rua ou no meio-fio, como se estivessem assistindo ao jogo em uma rua de verdade. Também vale citar que a galotxa não tem árbitro, com os próprios jogadores cuidando para que o jogo se desenrole adequadamente.

A quarta modalidade do jogo direto se chama galotxetes, e, apesar do nome, tem muito pouco a ver com a galotxa. Para começar, é usada uma área de jogo própria, encontrada apenas em clubes, chamada galotxeta, que tem 20 m de comprimento, 3 m de largura e entre 4 e 6 m de altura, sendo cercada por quatro muros e tendo um teto. A galotxeta é dividida ao meio por uma rede, semelhante à do tênis, com 1 m de altura, mas não totalmente tensionada, o que faz com que seu meio seja mais baixo que suas pontas, caindo com o próprio peso da rede. Como de costume, a rede divide a área de jogo em duas metades, com a metade da equipe que está atacando sendo conhecida como rest, e a da equipe que está defendendo como traure. No rest, colado ao lado direito da rede, há uma pedra de 80 cm de altura por 30 cm de largura e 30 cm de comprimento, chamada tamboret, de onde são feitos os saques no jogo de duplas; no traure, na quina entre o frontó e seu mural esquerdo, há um retângulo de 1,50 m por 50 cm, chamado trau, onde a bola deve quicar após cada saque. Na base de cada frontó há uma "rampinha", de 45 graus de inclinação, chamada tambori, para que a bola quique de forma imprevisível ao atingi-la. Em cada uma das quatro quinas da galotxeta há uma espécie de porta nos muralles, chamadas caixonets, de 2 m de altura por 60 cm de largura. Finalmente, o frontó do lado do traure tem apenas 1,5 m de altura, com uma arquibancada sobre ele, sendo este o único local do qual é possível assistir ao jogo. A galotxetes também não tem árbitro, com os próprios jogadores cuidando do andamento do jogo, e usa uma bola própria, que quase não quica, feita pelos próprios jogadores usando tiras de borracha, trapos de pano, fios de lã e esparadrapos, com aproximadamente 70 mm de diâmetro e 60 g de peso.

A galotxetes é disputada apenas em simples e em duplas, sem a obrigatoriedade de cores vermelha e azul para as vestimentas dos jogadores. No jogo de duplas, os membros de cada dupla se alternam no saque a cada punt, e o saque deve ser feito após quicar a bola no tamboret; já no jogo de simples, a bola pode ser quicada em qualquer lugar, mas sempre o mais próximo possível da rede – em ambos os casos, para que o saque seja válido, a bola deve quicar dentro do trau, podendo quicar uma vez no mural ou frontó antes disso. No decorrer do jogo, cada jogador pode deixar a bola quicar no chão apenas uma vez antes de devolvê-la, mas ela pode quicar também apenas uma vez em um mural, frontó, tambori, no teto ou no tamboret antes de no chão. Caso a bola vá parar na arquibancada, ela é devolvida para um dos jogadores do lado que está defendendo, que deverá quicá-la no frontó e rebatê-la direto, caso ela tenha quicado no chão antes de sair, ou após ela quicar no chão, caso não tenha. Finalmente, os caixonets atuam como uma espécie de "gol": caso a bola entre em um dos caixonets, será ponto para o jogador do lado oposto ao caixonet onde a bola entrou. Assim como na escala i corda, ganha a partida o lado que primeiro fizer 12 jocs.

A quinta e última modalidade do jogo direto é a llargues, que não tem nada a ver com o llargues da CIJB, que vimos no segundo post dos esportes de demonstração das Olimpíadas, exceto pelo nome e pelo fato de que os jogadores acertam a bola com as mãos. A llargues é a mais antiga das modalidades da pelota valenciana, mas atualmente é disputada apenas como recreação, mais ou menos como ocorre com o queimado (ou queimada, dependendo de onde você more) aqui no Brasil.

A llargues é jogada apenas nas ruas, embora também possam ser usadas as "ruas artificiais" da galotxa. Seja qual for o local de jogo, ele é delimitado por duas linhas traçadas no chão, chamadas rest, do lado do time que está defendendo, e banca, do lado do time que está atacando. A única outra linha marcada no chão é a falta, a uma distância de aproximadamente 5 m da metade da área de jogo – que não é demarcada por linha nenhuma, embora a presença da falta faça com que haja uma linha de meio imaginária. A llargues é jogada sempre em equipes, de três, quatro ou cinco jogadores cada, e usa uma bola própria, chamada pilota de badana, feita de couro recheada com trapos, com 38 mm de diâmetro e 39 g de peso; a bola é macia, quase não quica, e é barata, então não faz mal se se perder durante o jogo. Evidentemente, a llargues também não tem árbitro, nem obrigatoriedade de cores vermelha e azul para os jogadores.

No saque, um dos jogadores se posiciona atrás da banca, e deve arremessar a bola (não rebatê-la) de forma que ela quique depois da falta. A partir de então, os jogadores rebaterão a bola um para o outro, até que alguém marque um ponto. É permitido que a bola quique apenas uma vez no chão antes de ser rebatida, mas ela pode quicar em qualquer outro elemento da rua – mas apenas uma vez, e apenas em um único elemento - antes de quicar no chão. O sistema de pontuação é o mesmo da escala i corda, ganhando o jogo quem primeiro fizer 10 jocs (que equivalem a 50 punts ou 200 quinzes); além das formas tradicionais de pontuação, ganha um ponto quem conseguir mandar a bola para além da linha de fundo (banca ou rest) do oponente.

A principal característica da llargues são as ratlles (“linhas” em valenciano): toda vez que a bola é "presa", indo parar em um lugar onde não quica para dentro da área de jogo – no meio dos espectadores, dentro de uma lixeira, dentro da casa de alguém etc. - é marcada no chão uma linha temporária no local onde isso ocorreu. Ninguém marca ponto, e é feito um novo saque. A cada duas ratlles, entretanto, os times mudam de lado, e entra em cena uma nova forma de pontuação: se, após o saque, a bola quicar depois de uma ratlla, o time que está sacando ganha um ponto, e aquela ratlla é apagada. As ratlles são a única forma de os times mudarem de lado, não ocorrendo a mudança após cada punt, o que significa que, no raro evento de não ocorrerem ratlles um mesmo time pode sacar do início ao final do jogo.

As duas modalidades que faltam pertencem ao jogo indireto; delas, a mais popular é o frontó (conhecido fora da Comunidade Valenciana como frontó valenciano), que, assim como a galotxa, possui campeonatos e torneios amadores, embora seja mais jogado como recreação. O frontó valenciano, que surgiu no final do século XIX, é uma adaptação da pelota basca usando as regras da pelota valenciana, e, portanto, é jogado em um espaço também chamado de frontó, que deve ter, obrigatoriamente, três muros: um muro frontal, chamado frontis, com entre 8,5 e 11 m de largura; um lateral, chamado mural, com 25 m de comprimento; e um traseiro, paralelo ao frontis e com a mesma largura deste, chamado rebote. O quarto muro, paralelo ao mural, não é obrigatório, e quase nunca existe, ficando as arquibancadas onde ele deveria estar; a área de jogo, se não houver um quarto muro, é delimitada por uma "linha de lado", paralela ao mural. O teto também não é obrigatório.

No frontis há uma linha traçada a 90 cm de altura, chamada falta, e todas as bolas que quicam nele devem quicar acima dessa linha. No rebote, colado ao chão, há uma "rampinha", de 45 graus de inclinação, chamada tambori, para que a bola quique de forma imprevisível caso a atinja. E, no mural, são traçadas dez linhas chamadas blau, de 1 m de altura cada, e espaçadas 2 m entre si, numeradas de 1 a 10, sendo que a linha 4 é a "linha de falta", e a 7 é a "linha de passe". É interessante notar que, atualmente, todos os trinquets da Comunidade Valenciana são adaptados para o jogo de frontó valenciano, contando com a linha de falta no frontó oposto ao da porta de entrada, linhas de falta a 4 m de altura (acima das quais a bola não pode quicar) caso o frontó e o mural sejam mais altos que isso, as blau estando presentes no mural, a escala servindo como arquibancada, e com um rebote removível sendo adicionado a 25 m do frontó - já que o mural do jogo de frontó valenciano tem 25 m de comprimento, mas o do trinquet tem entre 45 e 60 m.

As regras do frontó valenciano se parecem com as da especialidade pelota mano da pelota basca: cada ponto começa com um saque, que deve ser feito da blau 4, com o jogador parado sobre ela ou vindo correndo da blau 6. Após o saque, a bola deve quicar no frontis, e pode quicar no mural ou no rebote, mas não em ambos, antes de quicar no chão, o que deve ocorrer entre a blau 4 e a blau 7, ou será ponto para o adversário. A partir de então, os jogadores se revezam nas rebatidas, devendo a bola sempre quicar no frontis após ser rebatida, e só podendo quicar no chão uma única vez após quicar no frontis - ela pode quicar no mural ou no rebote, ou até em ambos, depois de quicar no frontis e antes de quicar no chão, mas nunca antes de quicar no frontis. Toda vez que um jogador deixar a bola quicar duas vezes no chão; fizer a bola quicar no chão, no mural ou no rebote antes de no frontis; fizer a bola quicar abaixo da linha de falta inferior ou acima da superior; tocar a bola com outra parte do corpo que não as mãos; ou fizer a bola quicar além da linha de lado ou na arquibancada, será ponto para o adversário. A pontuação é contada como nos outros jogos de pelota valenciana, com o saque mudando de jogador a cada punt. Ganha a partida o jogador que primeiro fizer 8 jocs, que equivalem a 40 punts ou 160 quinzes.

O frontó valenciano pode ser jogado em simples ou em duplas, sendo que, nas duplas, os jogadores se alternam no saque a cada punt em que sua dupla for sacar, mas não precisam se alternar nas rebatidas, podendo rebater quem estiver em melhor condições para tal. Assim como nas demais modalidades com torneios oficiais, o jogador ou dupla favorito da partida veste vermelho, enquanto o outro veste azul. A bola usada se chama pilota de tec, por causa do barulho que faz ao acertar o frontis; é feita de madeira coberta com couro de cabra, tem entre 38 e 40 mm de diâmetro e pesa entre 45 e 50 g.

A segunda modalidade do jogo indireto, e sétima e última no total, se chama frare, e, assim como a llargues, atualmente só é jogada como recreação. Criado no início do século XX na província de Castelló, ao norte da Comunidade Valenciana, o frare tem as mesmíssimas regras do frontó valenciano, mas usa a pilota de badana, e é disputado em um local chamado trinquet en frares. Assim como a galotxeta, o trinquet en frares é totalmente cercado, com quatro muros e um teto, tendo 30 m de comprimento, 8 m de largura e 10 m de altura - exceto o rebote, que tem 2,5 m de altura, ficando as arquibancadas acima disso. Além da linha de falta a 90 cm no frontis, o frontis e os muralles possuem uma linha de falta a 9 m de altura, acima da qual é proibido quicar a bola. O rebote não tem tambori, só é permitido que a bola quique em até dois locais após quicar no frontis e antes de quicar no chão (sendo "locais" os dois muralles, o rebote e o teto), e jogar a bola na arquibancada também dá ponto para o adversário. A principal característica do frare, entretanto, são dois "fradinhos", de onde o jogo tira seu nome (frare significa "frade" em valenciano): duas estruturas de concreto verticais de 1,5 m de altura, um pouco mais largas na base que no topo, semelhantes a pequenas torres com uma pirâmide em cima. Posicionadas nas quinas do frontis com os muralles, os frares, para todos os efeitos, fazem parte do frontis, ou seja, quando a bola quica nos frares acima da linha de falta, é como se tivesse quicado no frontis - quando a bola bate em um dos frares, porém, ela sempre quica de forma imprevisível, o que adiciona mais emoção ao jogo.

A pelota valenciana é regulada pela Federação de Pelota Valenciana (FPV), que, a rigor, é a federação nacional da Espanha para este esporte, mas, na prática, só atua dentro dos limites da Comunidade Valenciana; a FPV também é a única federação do planeta dedicada a este esporte, não existindo federações de pelota valenciana em outros países. Atualmente, a FPV organiza apenas torneios amadores, cabendo a organização dos torneios profissionais à ValNet, uma organização privada fundada em 2005 pelos ex-jogadores Alfred Hernando e Daniel Ribera II e pelo dono de trinquet Emili Peris, visando a profissionalização e difusão do esporte. Os mais importantes torneios da ValNet atualmente são o Circuit Bancaixa, a liga profissional de escala i corda, disputada no individual desde 1986 e em trios desde 1992; e o Campionat Professional de Raspall, disputado em trios desde 1984 e no individual desde 1986. Já a FPV organiza o Trofeu El Corte Inglés, mais importante campeonato interclubes de galotxa, desde 1976, e o Campionat Autonòmic de Frontó, desde 1987, tanto em simples quanto em duplas.

A FPV é filiada à Confederação Internacional de Jeu de Balle (CIJB), órgão que reúne todas as federações nacionais de esportes em cujo objetivo seja rebater uma bola com as mãos, e que atualmente regula internacionalmente três deles, o jeu de balle, o frontón internacional e o llargues (que, como já foi dito, não é a modalidade da pelota valenciana, e sim outro esporte com o mesmo nome). A cada dois anos desde 1996, a CIJB realiza o Campeonato Mundial de Handebol, que atualmente é a competição mais importante desses três esportes, e que, desde 2002, em algumas edições teve "esportes de demonstração", escolhidos pelo país-sede, sendo que as federações nacionais desses esportes devem ser filiadas à CIJB. A pelota valenciana foi esporte de demonstração no Mundial de 2014, realizado na cidade de Massamagrell, na Comunidade Valenciana; na ocasião, foram disputados um torneio masculino de escala i corda e um feminino de raspall.

Pois bem, como vimos no post sobre os esportes de demonstração das Olimpíadas, outros quatro esportes já fizeram parte do Campeonato Mundial de Handebol como esportes de demonstração: o manito mendocino (em 2002, quando o Mundial foi realizado na Argentina), o pallapugno (em 2004, na Itália), a pelota equatoriana (em 2008, no Equador) e o kaatsen (em 2012, na Holanda, na primeira vez em que um esporte de demonstração no Mundial de Handebol teve um torneio masculino e um feminino). O kaatsen foi um dos esportes que eu abordei no já citado post sobre os esportes de demonstração das Olimpíadas; não consegui descobrir de maneira nenhuma como se joga manito mendocino; e o pallapugno eu vou deixar, talvez, para outra ocasião. A pelota equatoriana, porém, eu achei interessantíssima, de forma que vou aproveitar para falar sobre ela hoje também.

A pelota equatoriana, conhecida no Equador como pelota nacional, é um jogo de origem indígena, e antiquíssimo: há registros de que, quando os Conquistadores espanhóis chegaram aos Andes, encontraram os incas jogando pelota. Quando os colonizadores os seguiram, passaram também a praticar o esporte, que recebeu algumas modificações ao longo dos anos - provavelmente para ficar mais parecido com os esportes que eles já estavam acostumados na Espanha - mas sua essência e elementos característicos permaneceram os mesmos. Desde 1962, a pelota equatoriana é regulada pela Federação Equatoriana de Pelota Nacional (FEPN), que tem como prioridade a preservação do esporte e sua prática dentre as novas gerações, ainda não havendo um plano para difusão para outros países. A preservação da pelota equatoriana tem se mostrado difícil, pois os jovens preferem esportes mais "internacionais", principalmente o futebol - estima-se que três quartos dos jogadores de pelota equatoriana tenham entre 40 e 70 anos - mas, mesmo assim, a FEPN vem fazendo um bom trabalho: existem, no momento, espalhados pelo Equador, mais de 50 Clubes de Pelota Nacional, dedicados exclusivamente à prática desse esporte, além de duas Escolas de Pelota Nacional, uma em Quito e uma em Tulcán, dedicadas a ensinar o esporte a crianças e adolescentes.

A pelota equatoriana possui quatro modalidades, mas a única diferença entre uma e outra é o implemento usado para bater na bola, com todas as demais regras sendo comuns a todas as modalidades. A pelota equatoriana é disputada entre duas equipes de cinco jogadores cada; em torneios profissionais, cada equipe pode ter também dois reservas, mas jogadores substituídos não podem mais voltar naquela partida. O local próprio para sua prática se chama cancha, e é nada mais que uma faixa de concreto ou terra batida, com entre 100 e 120 m de comprimento por entre 8 e 10 m de largura. O meio exato da cancha é demarcado por uma linha, que dividirá a área de jogo entre as duas equipes. A 9 m e a 15 m de cada linha de fundo também são traçadas duas linhas, que delimitam uma área da cancha chamada tranca, dentro da qual cada equipe deve ter pelo menos dois jogadores a todos os momentos do jogo; a área entre a tranca e a linha de meio se chama tranquilla. Cada partida possui um único árbitro, posicionado em frente à linha de meio; como a cancha é bem comprida, os próprios jogadores costumam auxiliá-lo quando os lances ocorrem longe do meio.

No início de cada ponto, os jogadores se posicionam como se fossem o número 5 na face de um dado, ou seja, dois à frente e dois atrás, um de cada lado da cancha, e um bem no meio desses quatro. O saque é sempre feito por baixo, e sempre pelo jogador do meio, sendo que os jogadores da frente costumam devolver a bola antes que ela quique, enquanto os de trás, por estarem mais longe (e normalmente dentro da tranca) costumam rebatê-la após um quique. A pontuação é contada como no tênis (15, 30, 40, juego), mas sem deuce - mesmo no empate de 40 a 40, o próximo a pontuar leva o juego. Após cada juego, o saque muda de lado e os jogadores de ambas as equipes "rodam", como no vôlei, o que garante que cada ponto terá um jogador diferente sacando. Cada vez que uma equipe marca três juegos - mesmo que estivesse empatado em 2 a 2 - ela leva uma mesa, e as equipes trocam de lado. A primeira equipe a ganhar duas mesas ganha o jogo. As formas de pontuação são as de sempre: se uma equipe deixar a bola quicar duas vezes dentro da cancha, uma vez dentro e uma fora, tocar duas vezes seguidas na bola, ou não conseguir devolver a bola para o lado da cancha do adversário (jogando-a direto para fora, ou fazendo-a quicar dentro de seu próprio lado após rebatê-la, por exemplo), será ponto para o adversário.

As quatro modalidades da pelota equatoriana são divididas em dois grupos, sendo que cada grupo usa um tipo diferente de bola. O primeiro grupo se chama viento, tem três modalidades, e usa uma bola conhecida como pelota de caucho, feita de borracha (daí seu nome, que significa "bola de borracha"), que mede 10 cm de diâmetro e é cheia de ar (daí o nome viento), devendo a camada de borracha ter 1 cm de espessura e o peso total da bola ficar entre 800 e 900 g.

A mais popular de todas as modalidades se chama raqueta de viento ("raquete de vento"; cada modalidade recebe o nome do implemento usado para disputá-la), e usa uma raquete enorme, talvez o elemento mais característico da pelota equatoriana. A raquete é feita de madeira, tem 70 cm de comprimento, 30 cm de largura no ponto mais largo, 3 cm de espessura, pesa aproximadamente 7 Kg, e sua cabeça, de formato aproximadamente quadrado, é revestida com couro e contém 26 pupos, pequenos cones de borracha parecidos com dentes. Cada pupo tem 5 cm de diâmetro, entre 10 e 12 cm de altura, e é feito de borracha sólida. O lado oposto ao dos pupos costuma ser decorado com desenhos, pinturas e colagens, criando uma raquete personalizada para cada jogador. A raqueta de viento foi a modalidade disputada no Mundial de Handebol de 2008.

A segunda modalidade é a chamada raqueta más pequeña ("raquete menor"), e foi originalmente criada para estimular a prática da raqueta de viento dentre os jovens. Como o nome sugere, a raqueta más pequeña é menor que a raqueta de viento, tendo 60 cm de comprimento, entre 26 e 28 cm de largura, entre 2,5 e 3 cm de espessura, e apenas 21 pupos, de entre 7 e 8 cm de altura por 5 cm de diâmetro cada, sendo sua cabeça levemente trapezoidal (mais estreita onde se encontra com o cabo que na outra ponta), o que a torna também mais fácil de se manusear, devido ao menor atrito com o ar nos movimentos. Ela também é mais leve, pesando aproximadamente 5 Kg. Profissionalmente, a raqueta más pequeña é exclusivamente feminina, enquanto a raqueta de viento é exclusivamente masculina.

A terceira modalidade se chama guante ("luva"), e já foi a mais popular de todas, tendo caído em declínio a partir da década de 1970, mas ainda sendo bastante popular no norte do país. A guante é uma luva redonda, de 30 cm de diâmetro e 8 cm de espessura, feita de madeira revestida com couro e pintada com círculos concêntricos como se fosse um alvo. Nesse círculo, como se fossem os pupos, estão dispostos 18 cravos de aço, de 3 cm de diâmetro e 6 cm de altura cada, e um maior bem no meio, de 6 cm de diâmetro por 6 cm de altura. Todo o conjunto pesa entre 8 e 10 Kg. A mão dentro da luva permanece espalmada (totalmente aberta), sendo a firmeza conferida por um cadarço amarrado ao pulso. Assim como a raqueta de viento, profissionalmente a guante é exclusivamente masculina.

O segundo grupo, chamado cerda, usa a pelota de cerda ("bola de pelos"), feita de couro recheado com pelos de cavalo, com 6 cm de diâmetro e entre 1 Kg e 1,25 Kg de peso. O grupo cerda possui uma única modalidade, a raqueta de madera. Essa é a modalidade mais recente, e usa uma raquete parecida com a do frescobol, totalmente feita de madeira e com uma cabeça ovalada. A cabeça é revestida com couro e pintada com várias cores e desenhos diferentes. A raquete mede 69 cm de comprimento, 30 cm de largura no ponto mais largo, tem 6 cm de espessura, e pesa aproximadamente 3 Kg. A raqueta de madera é disputada profissionalmente tanto no masculino quanto no feminino.

A pelota equatoriana também possui uma variação, chamada chaza (pronunciado "tchássa"), jogada no norte do Equador e no sul da Colômbia - sendo que, na Colômbia, talvez apenas para confundir, a chaza é conhecida como "pelota nacional". A chaza é reconhecida pela FEPN, que inclusive organiza campeonatos desse esporte, mas sua regulação cabe à Federação Colombiana de Pelota a Mano (FCPM), também responsável pela pelota basca e pelo llargues na Colômbia. Vale aproveitar para citar que tanto a FEPN quanto a FCPM são filiadas à CIJB.

A chaza possui as mesmas regras da pelota equatoriana, mas são apenas quatro jogadores por equipe; seu posicionamento é diferente, com um ficando atrás do outro como na pelota valenciana, e cabendo o saque ao último da fila; as marcações da cancha são diferentes, sem a tranca, mas com um uma linha de saque traçada a 4 m de cada linha de fundo; e a pontuação necessária para se vencer um jogo é diferente: a contagem é 15, 30, 40, punto, sendo que, a cada punto, os jogadores "rodam", com o primeiro da fila indo para seu final e os demais se adiantando; a primeira equipe a somar 6 puntos, sendo sempre dois de vantagem sobre o oponente (se estiver empatado 5 a 5, ganha quem fizer 7), ganha um set. A cada set as equipes trocam de lado, e a primeira a ganhar dois sets ganha o jogo. A bola da chaza também é feita de couro recheado com pelos de cavalo, mas tem a metade do tamanho da pelota de cerda (3 cm de diâmetro) e é absurdamente mais leve, pesando entre 70 e 90 g.

A chaza possui duas modalidades, a chaza a mano, na qual os jogadores rebatem a bola com as mãos nuas, e a chaza tenis, na qual é usada uma raquete própria chamada bombo. O bombo possui um cabo cilíndrico de madeira sólida de 50 cm de comprimento, na ponta do qual há um aro de madeira ovalado; esse aro é revestido com couro de cabra para formar a cabeça do bombo, que tem entre 30 e 40 cm de comprimento, de forma que a parte interior da cabeça é feita apenas de couro esticado, sem madeira dentro, o que faz com que ela produza um som semelhante ao de um bumbo toda vez que a bola é atingida - por isso o nome bombo, que significa "bumbo" em espanhol.

Infelizmente, o trabalho de preservação feito pela FCPM não é tão sério ou eficiente quanto o da FEPN, de forma que a chaza está em vias de extinção - tanto na Colômbia quanto no Equador há pouquíssimos jogadores, a maior parte deles já acima dos 40 anos, e os jovens parecem não se interessar por esse esporte. Na Colômbia, ele atualmente é jogado apenas em algumas cidades do Departamento de Nariño, com poucas canchas disponíveis, e, no Equador, apenas na Província de Carchi. Embora a FEPN reconheça a chaza e organize campeonatos, é compreensível que eles prefiram concentrar esforços em preservar seu próprio esporte tradicional do que aquele do vizinho.
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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Escrito por em 16.11.15 com 0 comentários

Esportes de Demonstração (II)

Há pouco menos de três meses, eu fiz um post falando sobre três esportes que fizeram parte do programa das Olimpíadas de Inverno como esportes de demonstração. Se vocês o leram, sabem que o fiz porque, falando sobre eles, teria falado aqui no átomo sobre todos os esportes de demonstração das Olimpíadas de Inverno. Hoje eu vou fazer mais um, mas com três que foram esportes de demonstração nas Olimpíadas "normais" - oficialmente conhecidas como Olimpíadas de Verão, embora esse nome não tenha pegado aqui no Brasil. Diferentemente do que ocorreu da outra vez, ainda vão ficar faltando mais alguns. Se esse post terá parte três ou não, só o tempo dirá.

Vamos começar pelo esqui aquático, esporte inventado em 1922 pelo norte-americano Ralph Samuelson. Na adolescência, Samuelson frequentava com sua família o lago Pepin, na cidade de Lake City, Minnesota. Seu irmão, Ben, tinha um barco a motor, e os dois costumavam realizar mergulhos e outras acrobacias com o barco em movimento. Um dia, aos 18 anos, Samuelson teve a ideia de tentar esquiar segurando uma corda que estava presa ao barco; ele experimentou com diversos materiais, como aquelas ripas com as quais são feitas os barris, pranchas de madeira, e até mesmo esquis de neve, mas, ao descobrir que a melhor posição era levemente inclinado para trás, com a ponta dos esquis fora da água, decidiu fabricar seus próprios esquis, usando madeira polida e tiras de couro.

O esqui aquático ficaria restrito a Lake City, e seria conhecido apenas pela família e amigos de Samuelson até 1925, quando o inventor Fred Waller, tomando conhecimento de sua criação, e sabendo que ele não a havia patenteado, patentearia e colocaria no mercado o primeiro par de esquis aquáticos para uso geral. Na época, Samuelson já havia experimentado vários outros truques com os esquis, como um salto usando uma rampa de madeira lubrificada com banha de porco, instalada dentro da água. Para tentar aumentar as vendas dos esquis, a companhia que os fabricava convidaria Samuelson para várias apresentações por todo o país; Samuelson passaria 15 anos fazendo demonstrações de esqui aquático em diversas cidades, até decidir largar essa vida e se tornar fazendeiro, criando perus na cidade de Pine Island, Minnesota, até sua morte, em 1977.

Curiosamente, a popularização do esqui aquático só começaria após Samuelson parar de se apresentar, pelas mãos do promotor de eventos Dick Pope, Sr. Após assistir a uma das apresentações de Samuelson, Pope decidiria investir no esqui aquático, construindo um parque aquático na cidade de Winter Haven, Flórida, onde qualquer um poderia praticá-lo. Pope também realizou uma maciça campanha de marketing durante as décadas de 1940 e 1950, que incluía fotografias de pessoas esquiando em seu parque nas principais revistas do país, e até mesmo anúncios de rádio convidando as pessoas a visitá-lo e tentar esquiar também. Seu filho, Dick Pope, Jr., se tornaria um famoso esquiador, e ajudaria a popularizar o esporte internacionalmente, se apresentando na Europa e se tornando o primeiro campeão mundial de esqui aquático, em 1949. Com o esporte se popularizando em cada vez mais países, seria fundada, em 1955, a Federação Internacional de Esqui Aquático (originalmente IWSF, hoje IWWF, da sigla em inglês para Federação Internacional de Esqui Aquático e Wakeboard), que hoje conta com 84 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil.

A IWWF reconhece três disciplinas do esqui aquático. A mais famosa é o slalom, na qual o esquiador deve completar um percurso composto por 25 boias. As boias devem ser passadas alternadamente pela direita e pela esquerda, o que faz com que o esquiador esquie em ziguezague durante o percurso. Cada boia está posicionada a 11,5 m da anterior e da seguinte, e é permitido que o circuito tenha curvas, desde que elas não sejam fechadas a ponto de atrapalhar a performance do esquiador. Os esquis usados no slalom são estreitos e compridos, com entre 10 e 12 cm de largura e entre 145 e 178 cm de comprimento, dependendo da altura e peso do esquiador; para obter maior velocidade, esquiadores profissionais costumam usar não dois, mas um único esqui, preso ao seu pé dominante (destros usam no pé direito, canhotos no esquerdo). O esqui pode ser preso ao pé por uma fivela ou por uma espécie de bota travada nele na qual o esquiador enfia o pé. O slalom é a disciplina mais exigente do esqui aquático, com os esquiadores podendo alcançar velocidades de até 120 Km/h e ser submetidos a uma força de 4 g - equivalente a uma pressão de até 600 Kg sobre o torso a cada curva.

A coisa mais curiosa do slalom é que ele possui uma "pegadinha": cada boia é progressivamente mais difícil que a anterior. Para que isso aconteça, a cada boia a velocidade do barco aumenta em 3 Km/h, até alcançar o máximo permitido (54 Km/h no feminino, 57 Km/h no masculino). A partir de então, a corda que prende o esquiador ao barco é encurtada a cada boia, até o mínimo de 13 m, para dificultar as curvas. É o próprio esquiador quem escolhe a qual velocidade o barco começará a prova e qual será o comprimento inicial da corda, até um máximo de 22,86 m; esquiadores profissionais de alto nível normalmente escolhem já começar a prova com o barco na velocidade máxima e com a corda no comprimento mínimo - isso porque a pontuação é feita usando uma fórmula que leva em conta não somente o número de boias vencidas, mas também a velocidade do barco e o comprimento da corda; com a velocidade no máximo e a corda no mínimo, cada boia vencida garante também a pontuação máxima.

A segunda disciplina é a dos saltos, na qual o esquiador usa uma rampa para saltar - evidentemente, o barco não passa pela rampa, apenas o esquiador, que costuma fazer um ziguezague conforme se aproxima para ganhar velocidade. Para que o salto seja válido, o esquiador ainda deve permanecer de pé por no mínimo 30 m após o pouso. Não são feitas acrobacias, ganha simplesmente quem alcançar a maior distância, com cada esquiador tendo direito a um número pré-determinado de saltos (normalmente 3 ou 6) e apenas o melhor valendo para a classificação. Alguns torneios podem ter várias fases, com apenas os melhores de cada fase passando para a seguinte. Mais uma vez, é o próprio esquiador quem escolhe a velocidade do barco (sendo a máxima a mesma do slalom) e a altura da rampa (que deve ter entre 1,5 e 1,8 m, sendo que, quanto mais alta, mais íngreme). A rampa é feita de fibra de vidro lubrificada com graxa, e tem entre 3,7 e 4,3 m de largura; os esquis são usados nos dois pés, presos por botas, e são mais compridos que os do slalom, com entre 182 e 204 cm de comprimento, para proporcionar maior equilíbrio.

A terceira disciplina se chama truques, e nela o esquiador deve realizar acrobacias que valem pontos. O esqui usado nos truques é menorzinho, com entre 165 e 167 cm de comprimento, e bem mais largo, com entre 18 e 20 cm de largura. E é "o esqui", e não "os esquis", porque cada esquiador usa um só, com o pé dominante à frente e preso por uma bota e o outro apoiado atrás. Em uma competição de truques, cada esquiador tem direito a duas passagens pela água de 20 segundos cada, durante as quais realizará acrobacias; cada acrobacia vale um número de pontos, que depende de sua dificuldade e de quão bem ela foi executada. Um painel de cinco árbitros avaliará as acrobacias e conferirá as notas, com o esquiador que tiver o somatório mais alto ao final da competição sendo declarado vencedor.

Existe, ainda, uma "quarta disciplina", chamada overall, combinada ou três eventos; nela, os resultados de cada esquiador em cada uma das três disciplinas são convertidos em pontos, que são então somados, sendo declarado vencedor quem tiver mais pontos. Dependendo da competição, podem ser somados os pontos das três provas que já foram realizadas para se determinar o vencedor de cada disciplina, ou serem realizadas três novas provas especificamente para a overall.

Ao todo, a IWWF regula sete modalidades do esqui aquático. A primeira é a tradicional, que já vimos. A segunda é o esqui descalço, no qual o esquiador não usa esquis, por mais contraditório que isso pareça, e sim apoia os próprios pés na água. No esqui descalço, os esquiadores devem usar uma roupa semelhante a uma de mergulho, que protegerá o corpo em caso de queda e possibilitará que ele "esquie deitado" no início da prova. A velocidade do barco no esqui descalço deve ser bem maior que no tradicional, pois, como os pés são bem mais curtos que os esquis, é preciso ir mais rápido para que eles gerem sustentação; a velocidade mínima do barco depende do peso do esquiador, e há uma fórmula para determiná-la, mas vale citar como exemplo que, para um homem de 79 Kg, a velocidade mínima deve ser de 57 Km/h - equivalente à velocidade máxima no esqui tradicional. As disciplinas do esqui descalço são as mesmas do tradicional, mas com as seguintes diferenças: no slalom, não há boias, e sim um circuito fechado, com cada esquiador tendo direito a duas passagens de 15 segundos para completá-lo o maior número de vezes possível, sendo vencedor quem realizar a maior distância no somatório das passagens; as acrobacias dos truques são diferentes, e cada esquiador tem duas passagens de 15 segundos; e a rampa dos saltos deve ter entre 1 m e 1,5 m de altura e é menos inclinada - e, como é mais difícil pousar, só é necessário permanecer de pé por 10 m após o pouso.

A terceira modalidade é o wakeboarding, na qual, ao invés de esquis, o esquiador usa uma prancha, feita de camadas de madeira, espuma e resina cobertas com fibra de vidro. Diferentemente dos esquis, a prancha ajuda na flutuação do esquiador. A prancha tem entre 109 e 146 cm de comprimento (dependendo do peso do atleta), entre 18 e 20 cm de largura, e é presa aos dois pés por botas soltas no calcanhar. Finalmente, as pranchas possuem uma "barbatana" na parte de baixo, que ajuda nas acrobacias; cada esquiador pode escolher cinco diferentes configurações de barbatana, algumas mais longas, outras mais curtas, algumas duplas, mais próximas ou mais distantes do centro da prancha, ou até usar uma prancha sem barbatana, com cada configuração sendo ideal para um tipo de acrobacia. Provas de wakeboarding são sempre realizadas na disciplina truques.

A quarta e a quinta modalidades são o cable skiing e o cable wakeboarding. Nessas modalidades, o esquiador não é puxado por um barco, e sim por um motor elétrico semelhante ao de um teleférico. Basicamente, há uma estrutura sobre o lago à qual a corda do esquiador é presa, a cerca de 8 ou 9 m de altura, e o motor faz com que a corda corra por essa estrutura, puxando o esquiador como se fosse o barco. Como a estrutura fica acima do esquiador, e não à sua frente, são permitidos vários ângulos para prender a corda, sendo que, quanto mais fechado o ângulo, mais fechadas as curvas que o esquiador fará. A velocidade máxima do motor para o cable skiing é de 61 Km/h, enquanto para o cable wakeboarding é de 31 Km/h. Esse sistema foi criado na Alemanha, em 1959, pelo engenheiro Bruno Rixen, e requer um local permanente de competições, já que não é fácil montar e desmontar a estrutura; atualmente, o maior número de locais próprios para a prática do cable skiing e do cable wakeboarding estão localizados na Europa, onde essas modalidades são mais populares. Competições de cable skiing são realizadas nas três disciplinas, enquanto as de cable wakeboarding são realizadas apenas na disciplina truques.

A sexta modalidade é a corrida, disputada em um circuito fechado demarcado por boias, com no mínimo 5 Km de extensão e 1,5 m de profundidade da água. Os barcos correm sempre no sentido anti-horário, e a primeira curva deve estar sempre a no mínimo 2,5 Km da linha de largada. Evidentemente, não basta que os barcos façam as curvas, é preciso que os esquiadores as façam também, pois um esquiador que saia dos limites do circuito é desclassificado. Uma corrida no masculino dura sempre uma hora mais uma volta, enquanto no feminino dura 45 minutos mais uma volta. Dependendo das condições do circuito, a corrida pode ocorrer em um de três métodos diferentes: largada em massa, na qual todos os barcos largam juntos e o vencedor é o esquiador que cruzar a linha de chegada primeiro (o menos usado, por questões de segurança); largada com intervalos, na qual cada barco larga cinco minutos após o anterior, e o vencedor é quem completar a prova em menos tempo (o mais usado); ou largada individual, na qual cada barco só larga depois que o anterior tiver completado toda a corrida, também sendo vencedor quem completar em menos tempo. Na corrida, os esquiadores usam os mesmos esquis do slalom, mas sempre os dois.

Finalmente, temos o esqui aquático paralímpico. Assim como em outros esportes paralímpicos, no esqui aquático os atletas são classificados de acordo com sua deficiência, sendo enquadrados em diversas categorias, para que todos possam competir em igualdade de condições. Na categoria MP competem os paraplégicos, tetraplégicos e outros atletas que não sejam capazes de esquiar de pé, como biamputados. Atletas da categoria MP são subdivididos em MP1 a MP5, sendo que, quanto mais baixo o número, mais severa a deficiência, e usam um esqui adaptado, meio parecido com uma prancha de surfe, ao qual é preso um assento, o que possibilita que eles esquiem sentados. Os atletas que podem esquiar usando esquis comuns são classificados nas categorias A, L, LP, A/L1 ou A/L2. Na A competem os que só podem segurar a corda com uma das mãos, como os amputados de um dos braços ou com má formação em uma das mãos; na L competem os que só podem usar um esqui, como os amputados de uma das pernas; na LP competem os que usam próteses em uma das pernas; e nas A/L os que têm deficiências tanto em um dos braços quanto em uma das pernas, como hemiplégicos, paralisados cerebrais e amputados múltiplos. Já a categoria V é destinada aos deficientes visuais, classificados em V1, V2 ou V3, sendo que, quanto mais baixo o número, mais prejudicada a visão. As disciplinas do esqui paralímpico são as mesmas do tradicional, com a única diferença sendo a altura da rampa dos saltos, que deve ter entre 1,2 e 1,6 m; na categoria V, é permitido que um treinador vá no barco indicando com falas ou sinais sonoros a proximidade da rampa dos saltos, a exatidão das manobras dos truques e dos movimentos do slalom etc. O slalom da categoria V, aliás, se chama audio slalom, e, ao invés de boias, são usados sons para indicar se o atleta tem de virar à direita ou à esquerda, com os pontos sendo conferidos conforme a exatidão do movimento em relação ao som.

A competição mais importante do esqui aquático é o Campeonato Mundial, realizado, no masculino e no feminino, a cada dois anos desde 1953 (após uma primeira edição em 1949 e uma segunda em 1950). No Mundial são disputadas nove provas, uma de cada disciplina e uma overall para o masculino e para o feminino, e uma prova por equipes (desde 1959), que soma os pontos dos três melhores esquiadores no masculino e dos três melhores no feminino de cada país. As demais modalidades possuem cada uma seu próprio Mundial, disputados em sedes diferentes do principal: o Mundial de Esqui Descalço é disputado a cada dois anos desde 1978, e o Mundial de Cable Skiing foi disputado a cada dois anos de 1998 a 2002, e a cada quatro desde então; ambos possuem as mesmas nove provas do Mundial tradicional. O Mundial de Corrida é disputado a cada dois anos desde 1979, e é misto, com homens e mulheres competindo juntos. O Mundial de Wakeboarding foi disputado anualmente de 2001 a 2005, e a cada dois anos desde então, enquanto o de Cable Wakeboarding foi disputado a cada dois anos 2001 a 2005, então em 2006, 2008 e a cada quatro desde então. Finalmente, o Mundial Paralímpico é disputado a cada dois anos desde 1993.

O esqui aquático foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1972, em Munique, na Alemanha Ocidental, com provas masculinas e femininas de slalom, truques e saltos, nas quais os Estados Unidos ganharam três ouros (dois com Ricky McCormick e um com Liz Allen–Shetter), enquanto França, Itália e Holanda ganharam um ouro cada. Desde então, a IWWF tenta fazer com que o esporte entre para o programa olímpico de forma definitiva, mas esbarra em uma questão técnica: a Carta Olímpica, que define como devem ser as Olimpíadas, proíbe que sejam incluídos no programa esportes que tenham elementos motorizados. A IWWF tenta contra-argumentar alegando que a habilidade do atleta conta mais que a motorização do barco, e que a modalidade keirin do ciclismo também usa uma motocicleta para "puxar a fila", mas, até agora, não obteve sucesso.

Enquanto não consegue voltar para as Olimpíadas, o esqui aquático faz parte do programa dos World Games. Atualmente fazem parte do programa as provas masculinas e femininas de slalom, truques, saltos (desde a primeira edição, em 1981) e wakeboarding (adicionadas em 2001), mas também já foram disputadas as provas de overall (em 1981 e de 2001 a 2009), slalom descalço, truques descalço, saltos descalço (como esporte convidado em 1993, e como parte do programa em 1997 e 2001), overall descalço (de 2001 a 2009) e cable wakeboarding (em 2005). O atleta mais bem sucedido dos World Games é o francês Patrice Martin, com 5 ouros, 2 pratas e 1 bronze; no feminino, a sul-africana Nadine de Villiers tem seis ouros, mas todos na modalidade descalço.

O segundo esporte que veremos hoje é o voo planado, que é regulado pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), e não usa asas-delta ou coisas do tipo, e sim planadores, aqueles aviões pequenos e sem motor. O voo planado surgiu em meados do século XIX, quando estavam tentando inventar os primeiros aviões, mas o voo planado esportivo só surgiria no final da década de 1910, na Alemanha. Na época, devido a seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha estava sob severas sanções que limitavam a fabricação e os testes de aviões motorizados. Buscando uma alternativa, os engenheiros alemães começaram a trabalhar com planadores, e, durante os testes, faziam pequenas competições para ver quem alcançava a maior distância em um único voo. Logo, entusiastas da aviação também começaram a se envolver nessas competições, até que, em 1920, na cidade de Wasserkuppe, seria realizado o primeiro Campeonato Alemão de Voo Planado, no qual o vencedor, Oskar Ursinus, alcançaria a distância de 2 Km - considerada impressionante para a época.

Após esse campeonato, o voo planado teria um boom de popularidade, as fabricantes de planadores receberiam investimentos do governo e de empresas privadas, e a tecnologia dos planadores caminharia a passos largos, conseguindo grandes avanços em pouco tempo: em pouco mais de dez anos, o recorde mundial passaria de 2 para 272 Km, com Gunther Grönhoff voando em um planador, em 1931, da cidade alemã de Munique até Kadan, na Tchecoslováquia. A distância era tão impressionante que muitos consideravam o feito impossível, e sequer acreditaram quando as notícias chegaram.

Devido a essa popularidade, o voo planado seria incluído como esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1936, realizadas em Berlim. Participariam da competição 14 pilotos de sete países (Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria, Itália, Iugoslávia e Suíça), com o vencedor sendo o húngaro Lajos Rotter, que voou da cidade de Rangsdorf, vizinha a Berlim, até a cidade de Kiel, completando a distância de 336,5 Km, novo recorde mundial na época. Curiosamente, nenhum dos participantes recebeu qualquer tipo de prêmio, com exceção do suíço Hermann Schreiber, que recebeu da FAI uma medalha de ouro não por seu desempenho nas Olimpíadas, e sim por ter cruzado os Alpes em um planador um ano antes. Os organizadores planejavam entregar medalhas de ouro, prata e bronze para os três primeiros colocados, mas isso foi vetado pelo COI porque nem todos percorreram o mesmo trajeto no mesmo dia, ou seja, nem todos tiveram igualdade de condições para competir - devido ao mau tempo no dia em que escolheu para voar, inclusive, um dos pilotos, o austríaco Ignaz Stiefsohn, faleceu ao cair quando a asa de seu planador se quebrou.

Apesar de todos os percalços, a competição de voo planado de 1936 foi considerada um grande sucesso pelo COI - inclusive em termos de público, com vários espectadores comparecendo aos aeroportos de Rangsdorf e de Staaken, de onde saíram os planadores, para assistir às decolagens. Esse sucesso levaria o COI, em sua reunião seguinte, em 1938, a incluir o voo planado no programa oficial dos Jogos Olímpicos a partir da edição de 1940. Infelizmente, porém, com o início da Segunda Guerra Mundial, as edições de 1940 e 1944 tiveram de ser canceladas, e o voo planado não pôde fazer sua estreia.

Quando as Olimpíadas foram retomadas, em 1948, houve uma reunião do COI para decidir se o voo planado realmente seria incluído no programa, na qual se chegou à conclusão de que não. Os dois principais motivos foram a falta de um número expressivo de praticantes - além dos motivos óbvios pelos quais ninguém praticaria voo planado em meio a um conflito armado, muitas das antigas fábricas de planadores fecharam ou passaram a fabricar material bélico durante a Segunda Guerra - e a impossibilidade de se chegar a uma conclusão sobre o tipo de planador a ser usado - o COI queria, em nome da igualdade de condições, que todos os participantes usassem o mesmo modelo de planador, algo com o que os praticantes não concordaram, pois temiam que tal medida prejudicasse a evolução do esporte, já que faria com que o modelo sancionado pelo COI se tornasse o favorito dos fabricantes, que deixariam de buscar inovações criando novos modelos. Desde então, de vez em quando a FAI ainda tenta fazer com que o voo planado entre para o programa olímpico, mas normalmente tem suas pretensões rejeitadas sob os argumentos de baixo número de praticantes e baixo interesse do público.

O voo planado esportivo ainda existe, porém, e, assim como a maioria dos esportes, evoluiu bastante daquela época para cá - os planadores atualmente estão mais leves, mais seguros, e alguns contam com motores de emergência para que o piloto possa pousar no caso de uma eventualidade. O atual recorde de distância é de 2.245,6 Km, obtido pelo alemão Klaus Ohlmann em 2003 - o que faz com que o recorde de 2 Km de 1920, mil vezes menor, fique meio ridículo em comparação.

Como os planadores não têm meios para fazê-los sair do chão sozinhos, é necessário usar um método de lançamento. Atualmente, a FAI reconhece dois métodos, o aerotow e o molinete. No aerotow, o planador é "rebocado" por um avião motorizado, enquanto no molinete o planador é preso a um cabo ligado a um forte motor a diesel, que puxará esse cabo, enrolando-o em uma espécie de carretel, e, com o impulso, empinará o planador como se fosse uma pipa; em ambos os casos, o voo só começa a contar no momento em que o cabo se solta do planador. O método do molinete é mais barato e usado na maioria dos clubes de aviação, mas o aerotow é considerado mais seguro, e usado em competições internacionais. Antigamente, existiam dois outros métodos, o autotow, no qual o planador é rebocado por um veículo que corre por uma estrada até que ele levante voo, e o bungee, no qual o planador é impulsionado por um estilingue gigante. Esses métodos são hoje considerados muito perigosos, e não são mais homologados pela FAI - embora valha citar como curiosidade que o bungee foi o método usado nas Olimpíadas de 1936.

Atualmente, a FAI reconhece sete classes de competição: 15 Metros (envergadura máxima de 15 m, peso máximo de 525 Kg), 18 Metros (envergadura máxima 18 m, peso máximo 600 Kg), 20 Metros (envergadura máxima 20 m, peso máximo 750 Kg, dois ocupantes), standard (idêntica à 15 Metros, mas não são permitidos elementos móveis, como flaps, nas asas), aberta (peso máximo 850 Kg, todo o resto livre), club (planadores de modelos antigos, normalmente menores mas mais pesados que os atuais) e 13,5 Metros (envergadura máxima de 13,5 m, todo o resto livre, podem ser usados lastros com água de até 35 Kg/m2 nas asas, que são liberados durante o voo). As provas são divididas em distância (ganha quem chegar mais longe), duração (ganha quem ficar no ar mais tempo), altitude (ganha quem alcançar uma determinada altitude em menos tempo), triângulo (ganha quem completar um trajeto em forma de triângulo em menos tempo) e circuito fechado (ganha quem completar um determinado circuito, passando por pontos de checagem, em menos tempo), sendo que este último também pode ser disputado na modalidade paralela (dois aviões realizam o circuito ao mesmo tempo, avançando para a próxima etapa quem completá-lo primeiro) ou grand prix (todos os aviões competem juntos, ganha quem chegar primeiro).

A principal competição do voo planado é o Campeonato Mundial, cuja primeira edição no masculino foi realizada em 1937, a segunda em 1948, então em intervalos de dois ou três anos, sendo anual desde 2012; o Mundial feminino é realizado a cada dois anos, com a primeira edição tendo sido realizada em 2001. Todas as sete classes participam do Mundial masculino, mas apenas as classes club, standard e 15 Metros participam do feminino, e todas as provas são de distância. Desde 2005, a FAI também realiza, anualmente, o Sailplane Grand Prix, um circuito mundial com nove etapas em diferentes países, nas quais os pilotos ganham pontos por sua colocação nas provas, sendo campeão o que tiver mais pontos ao final da última etapa; o Grand Prix é disputado na classe 15 Metros, em circuito fechado grand prix, e homens e mulheres competem juntos. Finalmente, o voo planado faz parte, desde a primeira edição, em 1997, dos Jogos Aéreos Mundiais, competição realizada pela FAI a cada quatro anos que reúne todos os esportes regulados por ela; nesse torneio, a competição é masculina, de circuito fechado paralelo, classe 15 Metros.

A maioria das competições de voo planado, porém, não ocorre em campeonatos, e sim de forma individual, com um determinado piloto anunciando que tentará realizar um determinado feito, e delegados da FAI acompanhando a tentativa, para verificar se todos os requisitos e normas de segurança estão sendo observados, e homologar um novo recorde caso o antigo seja batido. A FAI reconhece, atualmente, 29 tipos de recorde: altitude absoluta, distância em linha reta, distância em circuito fechado, distância com até três curvas, distância ida e volta, distância em triângulo, distância livre, distância livre com até três curvas, distância livre ida e volta, distância livre em triângulo, distância absoluta, distância até objetivo, distância até objetivo declarado, duração, duração ida e volta, ganho de altitude, velocidade em circuito fechado maior que 1 Km, velocidade ida e volta em circuito de até 500 Km, até 1.000 Km, até 1.500 Km, até 2.000 Km, velocidade em triângulo até 100 Km, 200 Km, 300 Km, 500 Km, 750 Km, 1.000 Km, 1.250 Km e 1.500 Km. Curiosamente, esses recordes não são agrupados de acordo com a classe de competição, e sim de acordo com oito subcategorias: planador de único assento (D1), planador motorizado de único assento (D1M), planador de dois assentos (D2), planador motorizado de dois assentos (D2M), planador classe 15 Metros (D15), planador classe aberta (DO), planador classe mundial (DW) e ultraleve (DU). Como as classes de competição não correspondem diretamente às subcategorias, pilotos de diferentes classes às vezes competem pelo mesmo recorde.

Além de regular a modalidade e sancionar os recordes, a FAI confere insígnias aos pilotos: um piloto que tenha alcançado uma altitude de pelo menos 1.000 m, voado pelo menos 50 Km em linha reta e pilotado de forma contínua por pelo menos cinco horas (não necessariamente os três feitos em um mesmo voo) ganha uma insígnia de prata, enquanto um piloto que já tenha a insígnia de prata, voe pelo menos 300 Km de forma contínua e alcance altitude de pelo menos 3.000 m, ganha a insígnia de ouro. Um piloto que tenha uma insígnia de ouro pode acrescentar até três diamantes a ela: um quando alcançar uma altitude de pelo menos 5.000 m, um quando voar pelo menos 500 Km de forma contínua, e um quando voar pelo menos 300 Km de forma contínua com local de pouso pré-determinado (conhecido como objetivo); uma insígnia de ouro com os três diamantes é conhecida como uma insígnia de diamante. Mais do que prestígio ou certificação, as insígnias são pré-requisito para que os pilotos participem de determinados campeonatos ou tenham suas tentativas de quebra de recorde autorizadas pela FAI.

E vamos terminar com o verdadeiro motivo de eu ter decidido escrever esse post, o kaatsen. Originalmente, eu ia falar sobre kaatsen no post sobre a pelota basca, mas, como ele já estava meio grande, acabei desistindo. Como eu estava com muita vontade de falar sobre kaatsen, a saída encontrada foi juntar outros esportes de demonstração no mesmo post que ele. O kaatsen, no caso, foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1928, realizadas em Amsterdã. Participaram apenas dois times, ambos holandeses.


O kaatsen também é descendente do jeu de paume, e, portanto, nele os jogadores rebatem a bola com as mãos - embora no kaatsen seja permitido aos jogadores usar uma luva especial de couro na mão que usarão para rebater, visando evitar lesões e permitir maior impulso à bola, que também é feita de couro, tem entre 6,5 e 6,8 cm de diâmetro e pesa 24 g. O kaatsen é jogado por equipes de três jogadores cada, sem reservas.

O kaatsen é jogado em um campo gramado bastante grande, de 61 m de comprimento por 32 m de largura. A 19 m de uma das linhas de fundo há uma linha cheia, chamada linha de frente; a linha de fundo mais próxima da linha de frente se chama, muito apropriadamente, linha de trás (a outra se chama linha de fundo mesmo). Ligando a linha de frente à linha de trás são traçadas outras duas linhas, cada uma a 13,5 m da linha lateral mais próxima; essas duas linhas formarão com a linha de fundo e a linha de frente uma "caixa", chamada perk, de 5 m de largura por 19 m de comprimento. Finalmente, a 19 m da linha de fundo, é traçada outra caixa, paralela ao perk, de 5 m de largura por 2 m de comprimento, dividida em duas metades de 1 m de comprimento cada. Essa caixa é a área de serviço.

Sempre durante uma jogada, um dos times estará atacando enquanto o outro estará defendendo. Dois jogadores do time que está defendendo se posicionarão dentro do perk, com o outro ficando à frente da linha de frente; todos os três jogadores do time que está atacando deverão ficar entre a linha de frente e a linha de fundo. No início da jogada, um dos jogadores do time que está atacando se posicionará dentro da área de serviço e sacará a bola em direção ao perk. Um dos jogadores que está dentro do perk, então, poderá rebatê-la. A partir de então, os jogadores que estão dentro do perk poderão se movimentar livremente entre a linha de frente e a linha de trás, mas o jogador do time que está defendendo que começou a jogada fora do perk não poderá passar da linha de frente. Os jogadores, então, rebatem a bola de um para o outro, com o jogo funcionando mais ou menos como uma partida de tênis em trios e sem rede, com a bola podendo quicar no campo uma vez antes de um jogador rebatê-la, até que um dos times marque um ponto ou ocorra um kaats.

Os pontos sempre são marcados em múltiplos de dois: se, após o saque, a bola quicar no gramado pela primeira vez antes da linha de frente, depois da linha de trás, ou entre essas duas linhas mas fora do perk, o time que está defendendo ganhará dois pontos. Se a bola quicar pela primeira vez dentro do perk, e então uma segunda vez em qualquer outro lugar do campo ou fora dele, o time que está atacando é que ganhará dois pontos. Se o time que está defendendo rebater a bola, e ela sair pela linha de fundo antes de quicar fora do campo, ganhará dois pontos. Se o time que está atacando rebater a bola, e ela quicar pela primeira vez antes da linha de frente, o time defendendo ganhará dois pontos. O primeiro time a marcar 6 pontos ganha um Eerst, o primeiro a ganhar seis "Eersts" ganha um set, e o primeiro a ganhar dois sets ganha o jogo. Um set sempre começa com os times em posição invertida à que começaram o set anterior (o time que começou o primeiro set atacando começará o segundo defendendo e vice-versa).

E o tal do kaats? Bem, como vocês já devem ter imaginado, é do kaats que o esporte tira seu nome, sendo kaatsen o plural de kaats. Especificamente, kaats é o nome de um cubo de madeira, de 10 cm de altura, usado para marcar o local dos pontos "indefinidos": toda vez que o time que está defendendo rebater a bola, e ela quicar a primeira vez dentro do campo e a segunda em qualquer outro lugar, dentro ou fora do campo, sem que o time que está atacando consiga rebatê-la, será marcado um ponto indefinido, e no local onde a bola quicou pela primeira vez, será colocado um kaats de cor branca (kaats, em holandês, aliás, significa "quique", do ato de quicar). Se já houver um kaats branco no campo, será colocado um segundo, de cor vermelha. Toda vez que o kaats vermelho for colocado no campo, os times inverterão suas funções, com o time que estava atacando passando a defender e o time que estava defendendo passando a atacar - fora o início de set, essa é a única forma dos times mudarem de função, não ocorrendo essa mudança após cada Eerst, como alguns poderiam estar imaginando.

Após a troca de função, novas formas de pontuar entram em jogo: se o kaats branco estiver no campo, e o time que está defendendo fizer a bola quicar dentro do campo, após uma linha imaginária traçada paralelamente à linha de fundo no ponto onde está o kaats branco, e depois em qualquer outro lugar, dentro ou fora do campo, sem que o time que está atacando consiga defendê-la, ganhará dois pontos, e o kaats branco será removido. Se o kaats branco não estiver no campo, mas estiver o vermelho, vale a mesma regra, mas com uma linha traçada no ponto onde está o kaats vermelho, e este sendo removido em caso de sucesso. Caso a bola quique pela primeira vez antes da linha traçada no ponto onde está o kaats "da vez", o time atacando é que ganhará os dois pontos, e o kaats fica onde está. Após o kaats vermelho ser removido, voltam as regras "normais", incluindo a dos pontos indefinidos. Caso um time alcance os seis Eersts, é possível o jogo acabar com algum kaats dentro de campo.

O kaatsen é jogado praticamente apenas na Holanda, mais especificamente na região da Frísia, no norte do país, fato que lhe rendeu o apelido de handebol frísio ou pelota frísia. Não se sabe bem como o esporte teria surgido, mas existem registros de partidas realizadas na Frísia desde o início do século XIX. O torneio mais antigo de kaatsen data de 1854, e ainda é realizado anualmente, na cidade de Franeker, com a presença de dezenas de times amadores.

A maior parte dos jogadores de kaatsen, aliás, é amador, e a maioria das partidas é realizada de modo informal, sem torneios ou prêmios ou coisa do tipo. Junte-se a isso o fato de que, fora da Holanda, o esporte é praticamente desconhecido, e não será surpresa o fato de que o kaatsen não possui uma federação internacional. Atualmente, o esporte é regulado pela Federação Holandesa de Kaatsen e Jeu de Balle (KNKB, da sigla em holandês), que é filiada a duas federações internacionais, as já citadas no post sobre pelota basca FIPV (Federação Internacional de Pelota Basca) e CIJB (Confederação Internacional de Jeu de Balle). A KNKB se filiou a essas federações visando popularizar o kaatsen internacionalmente - empreitada na qual, infelizmente, anda obtendo pouco sucesso.

Pois bem, no post sobre a pelota basca eu falei sobre a FIPV, mas não sobre a CIJB. Fundada em 1928 pela união das federações nacionais de jeu de balle de Bélgica, Holanda e França, e hoje contando com 18 membros - incluindo todos os países da América do Sul menos o Brasil - a CIJB regula internacionalmente três esportes, o frontón internacional, que nós já vimos, o llargues e o jeu de balle, que veremos rapidinho agora.

O jogo que dá nome à CIJB, o jeu de balle, é originário da Bélgica, e surgiu mais ou menos junto com o kaatsen. É disputado em um campo de concreto de 70 m de comprimento por 20 m de largura, dividido no meio por uma linha cheia; a 23 m de cada linha de fundo é marcada uma linha de serviço, dentro da qual, a 9 m de cada linha de lado, é marcada, também com linhas cheias, uma caixa ao estilo do perk, de 8 por 23 m, chamada área de serviço. As equipes são formadas por cinco jogadores cada, com direito a uma substituição, mas um jogador que saia não pode mais voltar. O saque deve ser feito de dentro da área de saque, com os outros quatro do mesmo time permanecendo fora dela, e os jogadores se alternam no saque tanto dentro da própria equipe como de uma equipe para a outra - primeiro saca o jogador 1 da equipe A, então o 1 da equipe B, então o 2 da equipe A, o 2 da equipe B, e assim por diante. Após o saque, os times deverão rebater a bola (feita de borracha e com 5 cm de diâmetro) com as mãos - sem o auxílio de luvas, mas podendo usar esparadrapos - um para o outro, podendo deixá-la quicar uma vez antes de rebater, até que um dos times cometa um erro - deixar a bola quicar duas vezes, rebater a bola para fora, não conseguir fazer a bola passar pela linha do meio do campo etc. Curiosamente, a pontuação é a mesma do tênis (15, 30, 40 e então game, sendo que, a cada game, os times mudam de lado) mas o jogo não é disputado em melhor de sets, e sim em um tempo pré-determinado: ao final de 40 minutos, a equipe com mais games vence o jogo; se houver empate, vence quem tiver mais pontos naquele game, e, persistindo o empate, é jogado um último e derradeiro ponto.

Já o llargues é uma variante do jeu de balle inventada na América Latina, e bastante praticada por nossos vizinhos. O campo do llargues também é de concreto, e tem 72 m de comprimento, mas não é retangular, tendo um estranho formato de funil: de um dos lados do campo fica a linha de saque, que tem 19 m de comprimento; a 30 m dela, fica a linha de falta, que tem apenas 8 m, e, a 42 m da linha de falta, fica a linha de fundo, com 10 m; a linha de saque é ligada à linha de falta e a linha de falta à linha de fundo por suas extremidades, formando dois trapézios, um mais largo, outro mais estreito. Centrado na linha de saque há um retângulo de 1 m de largura por 5 m de comprimento, dentro do qual o jogador deverá ficar quando estiver sacando - e, após sacar, a bola deverá quicar além da linha de falta para o saque ser válido.

Os times de llargues também são de cinco jogadores cada, mas com direito a dois reservas e substituições ilimitadas. Assim como no kaatsen, a cada jogada um dos times estará atacando - tendo direito ao saque e jogando dentro do trapézio mais largo - enquanto o outro estará defendendo - se posicionando dentro do trapézio mais estreito. Apenas dois jogadores do time atacando, escolhidos previamente antes de a partida começar, poderão sacar, e se alternarão entre si no saque. Após o saque, os times deverão rebater a bola (feita de couro, com 7 cm de diâmetro e 39 gramas de peso) com as mãos um para o outro, podendo deixá-la quicar uma vez antes de rebater, até que um dos times cometa um erro. A pontuação é a mesma do tênis e do jeu de balle, mas ganha o jogo o time que fizer 6 games primeiro - exceto em uma final, quando ganha o time que fizer 10 games primeiro. A cada game, os times mudam de lado e de função, com o que estava atacando passando a defender e vice-versa.

Como já vimos, a CIJB organiza, a cada dois anos desde 1996, o Campeonato Mundial de Handebol. Nas três primeiras edições, o único esporte disputado nesse campeonato foi o llargues masculino, com o jeu de balle e o frontón internacional masculinos sendo incluídos em 2002, e o frontón internacional feminino em 2012. A partir de 2002, algumas edições incluíram também esportes regionais como "esportes de demonstração": o manito mendocino (2002, quando o torneio foi realizado na Argentina), o pallapugno (2004, Itália), a pelota equatoriana (2008, Equador), o kaatsen (2012, Holanda) e a pelota valenciana (2014, Espanha).
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