domingo, 21 de outubro de 2018

Escrito por em 21.10.18 com 0 comentários

Automobilismo (II)

Hoje veremos a segunda parte do post sobre automobilismo. Semana passada, vimos a modalidade circuito, a mais popular (e com mais assunto) das sete reguladas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Hoje, veremos as outras seis.

Vamos começar pelo karting. Embora siga absolutamente as mesmas regras da modalidade circuito, o karting é considerado uma modalidade em separado pela FIA; um dos motivos é que ele não é regulado diretamente pela FIA, e sim por um órgão subordinado a ela, chamado Comissão Internacional de Karting (CIK). Apesar de estabelecer as regras para a competição de karts, a CIK-FIA organiza poucos torneios dessa modalidade, com a esmagadora maioria dos campeonatos de kart do planeta sendo nacional ou regional. Os karts costumam ser vistos como passatempo para pilotos amadores, diversão para pilotos profissionais, ou como a porta de entrada no mundo do automobilismo para jovens pilotos, mas, em todo o planeta, existem provas e campeonatos de kart disputados por pilotos profissionais adultos, que preferem permanecer nessa categoria a migrar para alguma das outras.

O kart foi inventado em 1956 pelo piloto e mecânico norte-americano Art Ingels, que trabalhava na Kurtis-Kraft, na época uma das principais fabricantes de monopostos para o automobilismo dos Estados Unidos. Talvez por não ter mais nada o que fazer naquele dia, Ingels montou um pequeno chassis que pesava um pouco mais que 45 kg, juntou quatro rodas, um assento para o motorista, uma barra de direção, freios, e o equipou com o motor de uma motosserra movida a gasolina. Sim, uma motosserra. Para espanto de Ingels e de todos os outros que ele convidou para pilotar o bizarro veículo, ele se mostrou veloz, fácil de se guiar e relativamente seguro. Ingels, então, resolveu construir karts a sério, para disputar corridas com seus colegas; logo, o kart viraria uma febre no sul da Califórnia, onde a fábrica da Kurtis-Kraft estava localizada, outros fabricantes começariam a produzir seus próprios karts, e as primeiras provas de kart começariam a ser disputadas nos Estados Unidos e na Europa.

Curiosamente, não seria Ingels quem inventaria o nome "kart", e sim a primeira empresa criada exclusivamente para fabricá-los, a norte-americana Go Kart Manufacturing, fundada em 1958, que simplesmente trocaria o C pelo K na palavra cart ("carrinho", em inglês); por culpa da Go Kart, inclusive, nos Estados Unidos os karts são conhecidos como go-karts. Nos Estados Unidos, aliás, existem vários órgãos reguladores das corridas de kart, como a Federação Internacional de Kart (IKF), fundada em 1957, e a Associação Mundial de Kart (WKA), fundada em 1971, dentre outras. Cada uma dessas entidades possui suas próprias regras para fabricação e homologação de karts, bem como seus próprios campeonatos, abertos a pilotos de qualquer nacionalidade; um efeito colateral causado por esse fato é que não existem campeonatos da CIK-FIA nos Estados Unidos, e pilotos norte-americanos raramente participam dos campeonatos organizados pela CIK-FIA em outros países.

Após sua criação, durante um bom tempo, ainda seriam usados nos karts ou motores de motosserra adaptados, ou motores de motos de poucas cilindradas, com os primeiros motores específicos para karts sendo criados pela italiana IAME, em 1968. Depois disso, o kart mudaria muito pouco, exceto pelos materiais usados em sua construção, que hoje incluem ligas de cromo e materiais como fibra de carbono. Um kart não possui suspensão, então seu chassis deve ser flexível o suficiente para fazer o papel da suspensão sem se quebrar; também deve ser bastante leve, ou seu motor não aguentará transportar o peso do piloto. O kart pode ou não ter uma carenagem, mas na maior parte das vezes ela é apenas decorativa - para exibir seu número ou as cores de um patrocinador, por exemplo - não interferindo em nada com suas características de corrida.

A CIK-FIA reconhece três classes diferentes de karts: a OK (também conhecida como KF), a KZ e a Superkart. Tanto a OK quanto a KZ usam motores de dois tempos e 125 cilindradas, enquanto a Superkart usa motores de quatro tempos e 250 cilindradas; tanto os KZ quanto os Superkarts têm seis marchas e freios nas rodas dianteiras e traseiras. Karts da classe OK não possuem caixa de marchas, têm freios apenas nas rodas dianteiras, motores de 35 hp limitados a 1.600 RPM, e peso mínimo de 158 kg incluindo o piloto; karts da classe KZ têm motores de 50 hp sem limitação de RPM, e peso mínimo de 175 kg incluindo o piloto; Superkarts têm motores de 62 hp sem limitação de RPM, peso mínimo de 205 kg incluindo o piloto, e uma carroceria que lembra um monoposto. Nos Estados Unidos, também é popular uma classe de Superkart conhecida como Laydown ("deitado"), que tem uma carroceria que lembra um carro esporte, e tem esse nome porque o piloto fica recostado como se estivesse em um divã, e não sentado como em um kart comum.

As pistas usadas na modalidade karting são chamadas de kartódromos. A extensão de um kartódromo é muito menor que a de um autódromo, tanto que um kartódromo temporário pode ser até mesmo montado em um espaço coberto, como uma quadra esportiva ou o estacionamento de um shopping, por exemplo. Normalmente um kartódromo é um circuito misto, mas, como era de se esperar, nos Estados Unidos existem kartódromos ovais, com por volta de 450 m de extensão (pouco maiores que uma pista de atletismo, que tem 400 m), com as provas que são disputadas neles sendo conhecidas como speedways. Existem provas de karts de todos os tipos, desde as de curta duração, que podem ser resolvidas de forma contínua, sem nenhuma parada nos boxes, até as de endurance, que podem durar até 24 horas, com cada kart tendo três pilotos e fazendo múltiplas paradas nos boxes para reabastecimento, troca de pneus e troca de pilotos.

O principal campeonato de karting organizado pela CIK-FIA é o Campeonato Mundial de Karting, realizado anualmente desde 1964. Atualmente, o Mundial conta com cinco etapas (Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Suécia), e é disputado com karts da classe OK. O normal para os pilotos é disputar o Mundial em conjunto com campeonatos nacionais e continentais, por isso os Mundiais de Karting têm poucas etapas. O Brasil tem um único Campeão Mundial de Kart, Augusto Ribas, que conquistou o título em 1986 - Ayrton Senna foi vice-campeão duas vezes, em 1979 e 1980, da segunda vez empatado em pontos com o campeão, mas perdendo nos critérios de desempate; segundo ele, não ter sido Campeão Mundial de Kart foi uma das maiores frustrações de sua carreira. O maior campeão do Mundial de Kart é o inglês Mike Wilson, com seis títulos (1981, 1982, 1983, 1985, 1988 e 1989); o atual é o italiano Lorenzo Travisanutto.

Além do "Mundial principal", a CIK-FIA também organiza, atualmente, outros três: o Mundial da Classe KZ, desde 1983 (exceto em 2001 e 2002), que atualmente conta com três provas (França, Itália e Bélgica); o Mundial de Superkart, desde 1988, que também conta com três provas (Grã-Bretanha, Holanda e França); e o Mundial de Endurance, que na verdade é uma única corrida, de 24 horas de duração, disputada em Le Mans, França - mas não no mesmo circuito das 24 Horas de Le Mans, e sim no Kartódromo Alain Prost, localizado dentro do circuito. O Mundial de Endurance é disputado anualmente desde 1986, é disputado por karts da classe OK, e faz parte de um grande festival de karting, com provas para amadores, para karts de dois lugares, eventos ligados ao karting, e uma prova de 3 horas de duração aberta a quaisquer classes de karts realizada no dia anterior ao da prova principal.

O Campeonato Mundial de Karting não deve ser confundido com o Campeonato Mundial de Kart (sem o "ing"), conhecido por sua sigla em inglês, KWC. Disputado desde 2005 e organizado por uma entidade privada também chamada KWC, o KWC é resolvido em uma única prova, disputada a cada ano em um país diferente - o Brasil já foi sede do evento duas vezes, em 2009, na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, e em 2014 em Campinas, São Paulo. O KWC é sempre disputado em uma pista indoor, e conta com cinco provas: individual masculino, individual feminino, júnior, masters e equipes (essas três, mistas). Em cada prova, os competidores são divididos em grupos, e os melhores de cada grupo vão avançando, até que os 16 melhores da competição fazem a final, com o vencedor da final sendo o campeão. Todas as corridas são disputadas na mesma pista. O Brasil já teve três campeões no individual masculino, Rodrigo Faulhaber (2007), Maxwell Jansley (2009) e Maurício Pereira (2014).

Nos últimos anos, a CIK-FIA vem trabalhando para popularizar também o E-Karting, categoria que usa karts elétricos ao invés dos movidos a gasolina. Embora o E-Karting já seja uma categoria oficial da CIK-FIA, ainda não existe nenhum campeonato organizado pela entidade; por enquanto existem campeonatos nacionais de E-Karting na Letônia (o primeiro país a organizar um campeonato dessa categoria, em 2005), França (desde 2006), Estados Unidos (desde 2013) e Canadá (desde 2016).

Vamos passar agora para a modalidade rally. Como vimos semana passada, os rallies começaram a surgir no início do século XX, quando organizadores propuseram provas de duração extremamente longa, muitas vezes passando por estradas de mais de um país. Essas provas não eram vistas como competições entre os pilotos, e sim como demonstrações da confiabilidade dos carros, e, por isso, eram conhecidas como raids, palavra usada em francês para expedições exploratórias, tipo aquelas que visavam desbravar a África. Nos países de língua inglesa, elas acabariam recebendo o apelido de rallies, palavra que, na verdade, significa algo como "passeata", mas que foi o termo que acabou pegando no mundo inteiro.

Inicialmente, os rallies eram provas de navegação, ou seja, era conhecido apenas o ponto de partida e de chegada, cabendo aos ocupantes do veículo, usando mapas e outros instrumentos, como bússolas, definir o percurso pelo qual o trajeto seria completado em menos tempo. Em 1911, os donos do Cassino de Monte Carlo, em Mônaco, visando explorar a popularidade dos rallies para atrair novos jogadores para seu estabelecimento, decidiram organizar o Rally de Monte Carlo, que, ao invés de uma longa distância, era disputado em terreno acidentado e de elevado grau de dificuldade, já que era inverno e as estradas estavam cheias de neve. O Rally de Monte Carlo de 1911 foi a primeira prova a se chamar oficialmente um rally, e criou uma nova categoria de competição, na qual o piloto deve vencer um terreno inóspito na menor velocidade possível. Essa categoria hoje é conhecida como rally por etapas, e é a principal categoria de rally disputada por pilotos profissionais. No rally por etapas podem ser usados dois tipos de carros: o primeiro é como os da categoria turismo, um modelo que está à venda nas concessionárias de sua fabricante, mas que recebeu modificações para conseguir participar da prova de rally com segurança e velocidade; o segundo é como os da categoria GT, um carro fabricado especialmente para correr um rally, mas depois colocado à venda para o grande público com poucas ou nenhuma modificação.

Como o nome já diz, o rally por etapas é disputado em etapas, como se fosse uma volta ciclística: a cada dia, todos os carros participantes cumprem um ou mais pequenos trechos, sempre em terreno acidentado, contando com pistas de terra, curvas fechadas, e muitas vezes, neve ou gelo na pista; a função do navegador, nesse caso, não é dizer ao piloto o melhor trajeto - já que o trajeto é único e pré-estabelecido - e sim, usando um mapa fornecido pela organização, atualizar o piloto quanto à distância e direção de cada curva, presença de irregularidades que possam fazer o carro saltar e outros obstáculos, para que ele ajuste a velocidade do carro de acordo. Os carros cumprem cada etapa um por vez, havendo um intervalo entre a largada de um carro e a do seguinte. Após todos terem concluído a etapa, os tempos são registrados, e os competidores se deslocam até o local de largada da próxima etapa - o que, muitas vezes, é feito usando o próprio carro que está competindo. Após todas as etapas serem concluídas, os tempos são somados, e o carro com menor tempo no total é o vencedor daquele rally. Alguns rallies contam com etapas chamadas Super Especiais, nas quais os carros competem dois a dois em um circuito fechado, de terra, montado em um local de grande presença de espectadores, como um estádio de futebol ou uma arena de touros; esse formato faz sucesso porque parece que os dois carros na pista estão competindo um contra o outro, embora, na soma de seus tempos, eles possam estar bem distantes.

O rally por etapas é hoje a principal categoria de rallies da FIA, e é dela a principal competição do esporte, o Campeonato Mundial de Rally, conhecido pela sigla de seu nome em inglês, WRC. Disputado anualmente desde 1973, atualmente o WRC conta com 13 provas: Mônaco (o Rally de Monte Carlo), Suécia, México, França (o Tour de Corse, um dos mais tradicionais rallies do mundo, disputado na ilha da Córsega desde 1956), Argentina, Portugal, Itália, Finlândia, Alemanha, Turquia, Grã-Bretanha (o Rally do País de Gales, outro dos mais tradicionais do mundo, disputado desde 1932), Espanha e Austrália. Cada prova conta com entre 12 e 23 etapas, disputadas ao longo de três dias; a extensão total de cada prova, somando todas as suas etapas, fica entre 310 e 350 km (exceto o Rally de Monte Carlo, que tem aproximadamente 400 km). Os carros usados no WRC são o Ford Fiesta, o Citroën C3, o Hyundai i20 e o Toyota Yaris; assim como na Fórmula 1, o WRC possui um Campeonato de Pilotos e um Campeonato de Construtores, no qual competem essas quatro fabricantes. O maior campeão do WRC é o francês Sébastien Loeb, uma das maiores lendas do automobilismo, com nove títulos (2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012); o atual campeão é outro francês que está indo pelo mesmo caminho, Sébastien Ogier, que, em 2017, conquistou seu quinto título seguido.

O tipo de rally original, disputado em estradas e em longas distâncias, ainda existe, e é hoje considerado uma categoria chamada rally de regularidade. A popularidade do rally de regularidade caiu drasticamente a partir do final da década de 1980, e hoje ele é disputado apenas por pilotos amadores, usando carros comuns que podem ser comprados por qualquer pessoa. Nele, os organizadores estabelecem um trajeto, que passará por ruas e estradas que não são fechadas aos demais transeuntes enquanto o rally está ocorrendo, e caberá ao piloto e seu navegador descobrirem como chegar do ponto de partida ao ponto de chegada no menor tempo possível, respeitando as leis de trânsito locais - o nome "regularidade", aliás, vem do fato de que o vencedor será o piloto mais regular, e não o mais rápido, já que essas leis de trânsito incluem limites de velocidade. Rallies de regularidade podem ser disputados em etapas, com a soma dos tempos dos pilotos em cada etapa sendo somados para se determinar o vencedor, ou em uma prova única, com o vencedor sendo o primeiro a alcançar a linha de chegada. Todos os rallies de regularidade disputados hoje são "provas soltas", abertas a qualquer um que deseje se inscrever.

A única exceção é um campeonato de rally de regularidade voltado a carros elétricos, chamado E-Rally Regularity Cup, organizado pela FIA desde 2007. O E-Rally é disputado apenas por veículos elétricos idênticos aos disponíveis para venda por seus fabricantes, não sendo permitido nenhum tipo de modificação, com suas provas sendo disputadas sempre em circuitos de rua e seguindo as leis de trânsito, e sempre sendo definidas em várias etapas disputadas ao longo de dois dias, sendo vencedor da prova quem obtiver os melhores resultados na soma de todas elas. O E-Rally atualmente conta com 11 provas: Itália, República Tcheca (Cesky Krumlov), Grécia, Portugal, República Tcheca (Boêmia), Bulgária, Japão, Polônia, Islândia, Mônaco e Espanha. O maior campeão é o italiano Massimo Liverani, com quatro títulos (2011, 2012, 2013 e 2014), o atual é outro italiano, Walter Kofler. Os carros usados são Renault Zoe, Volkswagen e-Golf, Volkswagen e-UP!, Tesla Model S, BMW i3, Nissan Leaf, Kia Soul EV, Hyundai IONIQ e Smart Cabrio.

Ainda existe uma terceira categoria, o rally de navegação, que usa elementos das outras duas: a organização define um ponto de partida, um ponto de chegada e pontos de controle, pelos quais os competidores devem obrigatoriamente passar. A diferença é que o trajeto não é feito em ruas e estradas, e sim em terreno acidentado em locais de pouca ou nenhuma sinalização, como, por exemplo, no meio do deserto - a atuação do navegador, portanto, é essencial não só para que o trajeto seja cumprido o mais rápido possível, mas também para que o piloto não se perca. Assim como no rally por etapas, os competidores largam com um espaço de tempo entre um e outro e seus tempos em cada etapa são somados para determinar o vencedor; a diferença é que cada etapa é muito mais longa, sendo disputada apenas uma etapa por dia. O mais famoso rally de navegação é o Rally Dakar, organizado por uma entidade privada, e que tem esse nome porque, até 2007 (exceto em 1992, 1994, 2000 e 2003), sua linha de chegada ficava na cidade de Dakar, no Senegal. Criado em 1979 com o nome de Rally Paris-Dakar (porque a linha de partida ficava em Paris, França), o Rally Dakar é disputado em 14 etapas ao longo de 15 dias (com um dia de descanso após a sexta etapa), com os participantes percorrendo cerca de 8.000 km no total. Devido a conflitos bélicos ao longo do trajeto na África, em 2008 o Rally Dakar foi suspenso, e, desde 2009, é disputado na América do Sul; a edição de 2018 teve largada na cidade de Lima, Peru, e chegada em Córdoba, Argentina. No Rally Dakar competem carros, jipes, caminhões, motos e quadriciclos, cada uma dessas cinco classes com seu próprio vencedor. Todas as provas do rally de navegação, assim como as do rally de regularidade, são "soltas", não havendo campeonatos.

A terceira modalidade que veremos hoje é a off road, que conta com duas categorias: autocross e rallycross. O autocross é disputado em circuitos fechados, cuja superfície é inteiramente feita de terra batida; apesar da semelhança no nome, circuitos de autocross não são como os de motocross, e não contam com saltos ou outros tipos de obstáculos, sendo a pista inteiramente lisa, e os únicos desafios aos pilotos sendo as curvas, subidas e descidas - e a poeirada que os carros levantam devido à velocidade. O autocross surgiu no Reino Unido, no final da década de 1940, quando pilotos começaram a disputar corridas nas zonas rurais, em estradas que não eram pavimentadas; na década de 1960, ele se espalharia pela Europa, com o primeiro campeonato internacional sendo disputado em 1968, na Áustria.

Uma prova de autocross se parece bastante com uma da modalidade circuito: há um circuito fechado, um número pré-determinado de voltas, e aquele que chegar em primeiro lugar é o vencedor. A diferença é que provas de autocross são realizadas em baterias: primeiro, são disputadas quatro baterias classificatórias, com os pilotos que fizerem os melhores tempos, independentemente de em qual bateria estavam, se classificando para duas semifinais; nas semifinais, é o contrário, se classificam os melhores colocados de cada uma, independentemente do tempo (por exemplo, os quatro primeiros de cada semifinal, mesmo que alguém de uma semifinal tenha tempo mais alto que um classificado da outra); os classificados nas semifinais fazem a final, com o vencedor da final sendo o vencedor daquela etapa. É interessante registrar que, nos Estados Unidos, também existe um esporte chamado autocross, mas que é disputado em um circuito temporário, delimitado por cones, montado em locais como estacionamentos e pistas de aeroportos; essa versão não é off road, já que o circuito é sempre pavimentado com asfalto ou concreto. Além disso, no autocross norte-americano, os carros vão para a pista um por um, e vence quem completar o circuito em menos tempo. Essa versão do autocross não é regulada pela FIA, que não a reconhece como uma modalidade do automobilismo.

O autocross da FIA possui três classes: superbuggy, buggy1600 e turismo. A classe superbuggy seria o equivalente à categoria monoposto da modalidade circuito, contando com carros fabricados exclusivamente para correr no autocross, visando o melhor desempenho e a máxima velocidade; esses carros se parecem com algo saído de um filme de Mad Max, sendo bastante baixos, tendo rodas expostas e uma espécie de gaiola ao redor do piloto. Na classe buggy1600 são usados bugres, tipo aqueles de passear nas dunas, mas modificados para garantir maior segurança e velocidade; o número 1600 se refere ao máximo de cilindradas do motor. Já na classe turismo são usados carros comuns, de modelos disponíveis para venda nas concessionárias de seus fabricantes, mas, mais uma vez, modificados em nome da segurança e da velocidade. Diferentemente do que ocorre no endurance, as três classes não competem ao mesmo tempo na pista, tendo cada uma sua própria prova.

A principal competição de autocross da FIA é o Campeonato Europeu de Autocross, disputado anualmente desde 1976 - a princípio apenas na classe superbuggy, com a turismo ganhando seu campeonato em 1979 e os campeonatos sendo unificados em 1981, quando também estreou a classe buggy1600. No Europeu da FIA, a cada etapa, é disputada uma prova de cada classe no mesmo fim de semana. Assim como ocorre com o Campeonato Europeu de Truck, o campeonato só é "europeu" porque todas as suas provas são disputadas na Europa, sendo a participação aberta a pilotos de todas as nacionalidades; desde 2006 a FIA vem tentando adicionar algumas provas fora da Europa para transformar o campeonato em Mundial, mas esbarra na falta de popularidade do autocross nos demais continentes - somente na Austrália o autocross desfruta de popularidade comparável à que tem nos países europeus. Atualmente, o Europeu de Autocross conta com dez provas: Alemanha (Seelow), Letônia, Lituânia, Alemanha (Matschenberg), República Tcheca (Nova Paka), França (Saint Georges de Montaigu), República Tcheca (Prerov), Hungria, França (Saint Igny de Vers) e Itália. Os carros usados na classe turismo são Ford Fiesta, Ford Focus, Mitsubishi Mirage, Mitsubishi Colt, Renault Clio, Citroën DS3 e Skoda Fabia.

Já o rallycross é disputado em pistas que combinam trechos pavimentados, com asfalto ou concreto, e trechos de terra batida. O rallycross foi criado pelo produtor Robert Reed, do canal de televisão norte-americano ABC, para um programa do canal britânico ITV, chamado World of Sport. Em fevereiro de 1967, o World of Sport organizaria, no autódromo de Lydden, na Inglaterra, uma "prova de superfícies mistas", cobrindo partes do traçado do circuito com terra ou cascalho, que contaria com a presença de pilotos de várias modalidades diferentes do automobilismo. O evento seria um sucesso, e outras cinco etapas seria organizadas pelo World of Sport, duas em Lydden e três em Croft, para o que o programa chamaria de "Primeiro Campeonato Britânico de Rallycross". O campeonato teria uma segunda edição em 1968, mas, com audiência baixa, não seria "renovado" pelo ITV no ano seguinte. Vendo que a nova categoria tinha potencial, outro canal britânico, a BBC, decidiu "adotá-lo", organizando a temporada de 1969 para exibição em seu programa Grandstand. Ainda em 1969, o rallycross começaria a se espalhar pelo mundo: Rob Herzet, um produtor de TV holandês, havia viajado para a Inglaterra em 1968 e assistido a provas de rallycross, decidindo organizar o Campeonato Holandês, que seria exibido pelo canal AVRO, no ano seguinte; enquanto isso, a federação australiana de automobilismo começaria a organizar provas soltas de rallycross na Austrália também em 1969, com o primeiro Campeonato Australiano sendo realizado dez anos depois, em 1979.

O rallycross cresceria exponencialmente em popularidade no planeta nos anos seguintes, mas, por alguma razão, demoraria a chamar a atenção da FIA, que só se interessaria a começar a regulá-lo em 2013; por causa disso, os dois principais campeonatos organizados pela FIA, o Europeu e o Mundial, só teriam sua primeira edição organizada em 2014. Atualmente, o Campeonato Mundial de Rallycross da FIA conta com 12 etapas: Espanha, Portugal, Bélgica, Grã-Bretanha, Noruega, Suécia, Canadá, França, Letônia, Estados Unidos, Alemanha e África do Sul. No rallycross são usados carros disponíveis para venda nas concessionárias, modificados em nome da segurança e da velocidade; no Mundial são usados os carros Ford Fiesta, Ford Focus, Audi S1, Audi A1, Peugeot 208, Volkswagen Polo, BMW Mini Cooper, Citroën DS3, Hyundai i20, Renault Mégane e Seat Ibiza. O maior campeão é o norueguês Petter Solberg, com dois títulos (2014 e 2015), o atual é o sueco Johan Kristoffersson; além deles, só outro sueco, Mattias Ekström, já foi campeão, em 2016.

O rallycross da FIA é sempre disputado em circuitos temporários, obtidos cobrindo trechos de um autódromo ou circuito de rua com terra ou cascalho. Cada prova é disputada em várias baterias: primeiro, são disputadas quatro baterias classificatórias de quatro voltas cada, montadas de forma que cada piloto participe de duas delas, mas com um grupo diferente de pilotos em cada uma. Os vencedores de cada classificatória se classificam direto para as semifinais, e os demais ganham pontos de acordo com suas posições de chegada; após a quarta classificatória terminar, esses pontos são somados, e os oito não-classificados de maior pontuação também se classificam para as semifinais. Cada semifinal conta com 6 carros e é disputada em 6 voltas, com os três primeiros de cada semifinal se classificando para a final. Na final, que também é disputada por 6 carros em 6 voltas, quem chega em primeiro é o vencedor da etapa. Provas de rallycross são consideradas mais extenuantes para os pilotos que as de autocross (principalmente porque os circuitos são bem mais longos, além de ser bem difícil dirigir nos trechos de cascalho), então cada etapa é disputada em dois dias, com as classificatórias no primeiro e as semifinais e final no segundo, o que significa que cada piloto faz duas provas por dia. Uma característica curiosa do rallycross é que cada prova deve conter uma volta conhecida como joker lap, que usa um traçado alternativo e é em média dois segundos mais lenta que as demais; a joker lap foi inventada pelo piloto dinamarquês Svend Hansen, um dos organizadores do Campeonato Sueco de Rallycross de 2002, e, ao se mostrar um sucesso, acabou sendo adotada nos demais campeonatos a partir do ano seguinte - vale dizer, aliás, que o intuito de Hansen era chamar a volta de "volta curinga", mas, por influência da carta do baralho, acabou usando o termo joker ("bufão") ao invés de wild, que seria mais correto.

A quarta modalidade se chama montanha, e consiste em subir o mais rápido possível um trecho de uma estrada. A modalidade montanha é uma das mais antigas do automobilismo, tendo sido disputada pela primeira vez em Nice, França, em 1897, durante a "semana da velocidade". Para uma prova de montanha, é selecionado um trecho sinuoso de uma estrada em terreno íngreme, com entre 5 e 20 km de extensão; um a um, os carros passarão por esse trecho, sempre no sentido da subida, e seus tempos serão registrados. Depois que todos tiverem passado pelo trecho, aquele que o concluiu em menos tempo será o vencedor. A modalidade montanha possui duas classes, participando da Classe I carros que estão disponíveis para a venda em concessionárias, mas com modificações em nome da segurança e da velocidade, e da Classe II carros construídos especialmente para a modalidade, capazes de fazer as curvas na subida o mais rápido possível enquanto mantêm sua estabilidade.

O mais importante campeonato da modalidade é o Campeonato Europeu de Montanha, o mais antigo campeonato da FIA ainda em disputa, disputado anualmente desde 1930. Mais uma vez, o Europeu é aberto à participação de pilotos de todas as nacionalidades, tendo esse nome porque todas as suas provas são disputadas na Europa. Assim como o WRC, o Europeu de Montanha conta com algumas das provas de montanha de maior prestígio no mundo, como a Trento-Bondone, na Itália, disputada desde 1925 e considerada uma das mais difíceis; e a Ecce Homo, disputada anualmente na cidade de Sternberk, República Tcheca, desde 1898. Atualmente, o Europeu conta com 12 provas: França, Áustria, Portugal, Espanha, República Tcheca, Alemanha, Itália, Eslováquia, Polônia, Suíça, Eslovênia e Croácia. Na Classe I, atualmente, todos os pilotos usam o Mitsubishi Lancer Evo; o maior campeão é o espanhol Andres Vilariño, com quatro títulos (1989, 1990, 1991 e 1992), e o atual é o tcheco Lukas Vojacek. Na Classe II, o maior campeão é o italiano Simone Faggioli, com dez títulos (2005, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017), e o atual é outro italiano, Christian Merli.

Além de na Europa, a modalidade montanha é disputada na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Quênia, México, Canadá e Estados Unidos. É nos Estados Unidos, inclusive, que é disputada a que é considerada por muitos a principal prova de montanha do planeta, a Pikes Peak International Hill Climb, disputada anualmente em Colorado Springs desde 1916. Disputada em um percurso de 20 km com 156 curvas e elevação de 1.440 m, a Pikes Peak já chegou a ter 130 participantes em uma única edição, conta com provas para monopostos, protótipos, carros de turismo, motos, quadriciclos e até caminhões, e atrai o interesse de pilotos de diversas outras categorias - dentre seus vencedores estão o tricampeão das 500 Milhas de Indianápolis Bobby Unser, o Campeão Mundial de Fórmula 1 e Campeão da Fórmula Indy Mario Andretti, o nove vezes campeão do WRC Sébastien Loeb, e o Campeão das 24 Horas de Le Mans Romain Dumas.

A quinta modalidade é o drift, criado na década de 1970, no Japão, pelo piloto Kunimitsu Takahashi. Originalmente um piloto do motociclismo, que competia na modalidade speedway, em 1960 ele se transferiu para a motovelocidade, e, 1965, para o automobilismo. Em 1971, competindo no campeonato japonês de turismo, ele decidiu arriscar e usar uma manobra muito comum no speedway, na qual, durante a curva, o veículo "escorrega de lado" na pista, fazendo a curva muito mais rápido. Takahashi logo se tornaria um dos pilotos mais rápidos na pista, e começaria a ser imitado por diversos outros pilotos profissionais e amadores - dentre eles Keiichi Tsuchiya, conhecido como Drift King (o "Rei do Drift"), que se tornou uma espécie de celebridade no Japão ao demonstrar sua habilidade nas estradas das montanhas de Tóquio na década de 1980. A primeira corrida específica de drift, com regras próprias, seria disputada em 1988, no autódromo de Tsukuba, no Japão, com o nome de D1 Grand Prix. Na década de 1990, o drift começaria a se popularizar fora do Japão, com o primeiro campeonato internacional sendo disputado em 1996 em Willow Springs, Califórnia.

Os carros usados no drift são idênticos aos à venda nas concessionárias, modificados em nome da segurança e velocidade, mas com modificações bem mais pesadas que em outras modalidades - não é incomum que se use um motor diferente do fabricante original do carro, por exemplo. Para que o drifting (a "escorregada") seja possível, todos os carros devem ter tração traseira; nos primórdios das competições, era permitido o uso de carros com tração 4x4, mas, por motivos de segurança, hoje somente os de tração traseira são permitidos. Circuitos de drift são curtos e com curvas bem fechadas, para forçar os pilotos a usar o drifting; normalmente são usados circuitos de rua, ou montados pequenos circuitos usando seções da pista de um autódromo. Em uma competição de drift, não necessariamente quem chega na frente ganha, pois há um painel de jurados que confere notas aos pilotos de acordo com suas manobras, sendo o vencedor aquele que obtiver a maior nota; além disso, os carros não competem todos juntos, e sim dois a dois na pista, com os vencedores de cada embate avançando e os perdedores sendo eliminados (ou caindo para uma repescagem), até que só reste um, o campeão.

O principal campeonato do drift é a D1 Grand Prix Series, o campeonato de drifting japonês, organizado desde 2000 pela D1GP, entidade privada criada por Keiichi Tsuchiya e por Daijiro Inada, editor da revista Tokyo Auto Salon, especializada em automóveis. Contando com maioria esmagadora de pilotos japoneses, que têm à sua disposição vários modelos de carro fabricados pela Toyota, Nissan, Lexus, Mazda e Honda, mais o Chevrolet C6, a D1 Grand Prix Series atualmente conta com sete etapas, todas realizadas no Japão (três em Tóquio, duas em Fukushima, uma em Ibaraki e uma em Osaka). O atual campeão é Hideyuki Fujino, o maior é Youichi Imamura, com quatro títulos (2003, 2009, 2010 e 2011). Nos Estados Unidos, o principal campeonato é a Fórmula D, organizado desde 2004 pela Formula Drift Inc., empresa criada no ano anterior por Jim Liaw e Ryan Sage, que compraram os direitos da D1GP para poder realizar um campeonato nos mesmos moldes em solo norte-americano. A Fórmula D conta com carros da Toyota, Nissan, Mazda, Ford, BMW, Dodge e Infiniti, pilotos de diversas nacionalidades (embora a maioria ainda seja de norte-americanos), e oito etapas, sendo sete nos Estados Unidos e uma no Canadá. O atual campeão é o irlandês James Deane; o maior é o norte-americano Chris Forsberg, com três títulos (2009, 2014 e 2016). A FIA só começou a regular o drift em 2017, de forma que o único campeonato organizado por ela ainda nem foi realizado: trata-se da Copa Internacional de Drifting, cuja primeira edição será disputada em novembro de 2018, em evento único, no Japão.

Finalmente, temos a modalidade arrancadas, que ainda podem ser consideradas "corridas", embora bem curtas. Basicamente, em uma prova de arrancadas, dois carros se colocam lado a lado, e, a um sinal da organização, aceleram em linha reta o máximo que conseguirem, sendo vencedor aquele que cruzar uma linha de chegada, poucos metros à frente, primeiro. As pistas originais de arrancada mediam um quarto de milha (aproximadamente 400 m), mas, atualmente, são mais usadas as pistas de 300 m. Em uma competição de arrancadas, os pilotos são pareados dois a dois, com os vencedores avançando e os perdedores ou sendo eliminados, ou indo para uma repescagem, até que só sobre um, que é declarado campeão. As provas de arrancada foram criadas na França no final do século XIX, com a primeira prova oficial dessa categoria sendo realizada durante a "semana da velocidade", em Nice, em 1897; elas somente se popularizariam, entretanto, nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, com a fundação, em 1951, da NHRA (sigla para National Hot Rod Association), órgão responsável por regular as provas de arrancadas nos Estados Unidos e Canadá - os dois países onde essa categoria é mais popular. A FIA começaria a regular as arrancadas apenas em 1996, e possui um acordo com a NHRA segundo o qual se compromete a seguir as regras da entidade norte-americana em todas as suas competições.

A modalidade arrancadas foi uma das primeiras a investir na tecnologia de cronometragem, começando a usar sistemas eletrônicos já na década de 1960. Hoje, fotocélulas são usadas para determinar se os carros estão corretamente posicionados para a largada; se algum deles queimou a largada, colocando o carro em movimento antes do momento permitido; e para acusar com precisão qual foi o primeiro a passar pela linha de chegada. A largada é controlada por um sistema conhecido como "Árvore de Natal", uma torre na qual várias luzes se acendem e apagam em intervalos aleatórios, para que os competidores não possam "adivinhar" quando será, efetivamente, dada a largada - em competições profissionais da NHRA, três luzes de cor laranja piscam várias vezes antes de se acender uma luz verde, que determina a largada, sem que os pilotos saibam quantas vezes as luzes laranja vão piscar. Durante a prova, são registradas, para cada piloto, usando cronometragem de última geração, o tempo de reação, que é o tempo que ele levou para colocar o carro em movimento após a largada; o tempo efetivo que o carro levou entre a linha de largada e a linha de chegada; e a velocidade média do carro durante o percurso. Para efeitos de se determinar o vencedor, somente o tempo efetivo é usado; apenas no raríssimo caso de um empate é que são considerados primeiro o tempo de reação e então a velocidade.

Existem centenas de classes de competição diferentes para a modalidade arrancadas - literalmente, já que a NHRA reconhece mais de duzentas delas. A FIA, felizmente para esse post, só reconhece cinco: Top Fuel Dragster, Top Methanol Dragster, Top Methanol Funny Car, Pro Modified e Pro Stock. Na classe Pro Modified competem aqueles carros com os quais já estamos mais do que acostumados hoje: idênticos aos que podemos encontrar à venda nas concessionárias, mas com modificações feitas em nome da segurança e da velocidade. Os carros da Pro Stock são semelhantes: aparentemente, eles são idênticos aos carros à venda nas concessionárias, mas, na verdade, foram construídos especialmente para a prova. Diferentemente de um stock da modalidade circuito, um stock da modalidade arrancadas não é um carro de corridas com uma casca de carro de rua, e sim um carro de rua construído do zero - pelas regras da NHRA, até mesmo o motor deve ser construído pela equipe de Pro Stock, não podendo ser comprado pronto. Evidentemente, na hora de construir o carro, a equipe o faz muito mais veloz e capaz de maior aceleração do que se ele fosse ser vendido para o público em geral. Tanto os carros da Pro Modified quanto os da Pro Stock usam gasolina, que pode ou não ter etanol adicionado, como combustível. Carros das classes Pro Modified alcançam até 320 km/h, e são capazes de completar a prova em cerca de 7 segundos; os Pro Stock são mais rápidos ainda, alcançando 340 km/h e completando a prova em cerca de 6,5 segundos.

Já na classe Top Methanol Funny Car são usados os funny cars, esses sim mais ou menos equivalentes a um stock da modalidade circuito: um funny car nada mais é que um carro fabricado para ser o mais rápido e com a maior aceleração possível numa prova de arrancadas, mas com uma "casca" que lembra em aparência um carro de rua. Os primeiros funny cars foram criados em 1964, para competir nas categorias de stock, e, de início, esse nome era pejorativo: enquanto um stock deve lembrar em aparência um carro à venda nas concessionárias, um funny car deve lembrar simplesmente "um carro", e os primeiros, por não se parecerem com nenhum modelo específico, eram chamados pelos adversários e pela imprensa de funny looking cars ("carros esquisitos"). Muitas equipes tentaram proibir o uso dos funny cars, mas, vendo seu sucesso nas pistas e popularidade com o público, a NHRA decidiria criar uma classe só para eles em 1969; na época, o nome funny cars ("carros engraçados") já havia pegado, e acabou se tornando o oficial.

Para que a classe Funny Car não vire uma bagunça em nome da velocidade, a NHRA estabelece rígidas regras quanto ao tipo de motor, sistema de combustível e sistema de transmissão - todos os funny cars, por exemplo, devem usar motores V8, de no máximo 500 cilindradas e apenas duas válvulas por cilindro. A principal regra dos funny cars é que sua "casca", feita de materiais como fibra de carbono e kevlar, deve lembrar a aparência de um carro de rua, então também não adianta construir um chassis revolucionário se a casca não vai encaixar. Como alcançam velocidades absurdas em pouquíssimo tempo, os funny cars também possuem várias regras em relação à segurança, sendo a principal delas a obrigatoriedade de dois paraquedas que se abrem na parte traseira do carro, para ajudar a diminuir sua velocidade e fazê-lo parar completamente depois que ele cruza a linha de chegada. Em competições da FIA, os funny cars sempre usam metanol como combustível, e, com ele, podem alcançar impressionantes 425 km/h, completando o trajeto em cerca de 5,5 segundos - em competições da NHRA, existem classes para funny cars que usam outros tipos de combustível, e conseguem ser ainda mais velozes.

Mas as grandes estrelas das competições de arrancadas são os dragsters, que, assim como os monopostos da modalidade circuito, são carros construídos para extrair o máximo da competição, tendo formato aerodinâmico e componentes específicos para alcançar a maior velocidade no menor tempo possível. Um dragster se parece com uma cruza de um carro de Fórmula 1 com um foguete, tendo um bico extremamente longo e superfino, um aerofólio traseiro bem alto, um motor absurdamente potente localizado atrás do piloto, e, como seus pneus traseiros serão os responsáveis pela força na aceleração, são gigantescos, como se fossem pneus de ônibus, enquanto os dianteiros, que serão usados apenas para manter o carro em linha reta, se parecem com pneus de bicicleta. Por razões de segurança, eles também contam com os paraquedas traseiros que os ajudam a parar após a linha de chegada. O comprimento máximo de um dragster pelas regras da NHRA é de 7,6 m, e, em média, um dragster pesa uma tonelada.

Os primeiros dragsters foram criados ainda na década de 1950, mas, assim como os monopostos da época, eram arredondados e com o motor dianteiro - as famosas "baratinhas". O motor seria movido para a traseira em 1970, não por questões aerodinâmicas, e sim por razões de segurança, devido a um grande número de acidentes fatais ocorridos na década de 1960; a partir daí, aproveitando a mudança, as equipes começariam a mexer na aerodinâmica, com os dragsters ganhando a aparência que têm hoje ainda na década de 1970. A FIA reconhece duas classes para dragsters: na classe Top Methanol Dragster são usados dragsters movidos a metanol, o que faz com que eles alcancem velocidades de até 450 km/h, completando o trajeto em cerca de 5 segundos; já na classe Top Fuel Dragster eles são movidos a nitrometano, o que faz com que eles alcancem a absurda velocidade de 530 km/h, o suficiente para percorrer o trajeto em cerca de 3,7 segundos.

A principal competição da FIA é o Campeonato Europeu de Arrancadas - mais uma vez, aberta a pilotos de todas as nacionalidades, mas com todas as provas disputadas na Europa - realizado anualmente desde 1997, atualmente com seis etapas (duas em Bedfordshire, Grã-Bretanha; duas em Tierp, Suécia; uma na Finlândia e uma na Alemanha), com cada etapa tendo uma prova para cada uma das cinco classes da FIA. Mas o mais importante campeonato de arrancadas do mundo é a Championship Drag Racing Series, organizado anualmente pela NHRA desde 1965, e que atualmente conta com 24 etapas, todas nos Estados Unidos - sendo, entretanto, o campeonato aberto à participação de pilotos de qualquer nacionalidade. Além da Championship Series, que, atualmente, conta com provas de quatro classes (Top Fuel Dragster, Top Fuel Funny Car, Pro Stock e Pro Stock Motorcycle), a NHRA organiza, anualmente desde 1981, a Sportsman Drag Racing Series, que conta com mais de uma dúzia de classes (incluindo uma para snowmobiles, aquelas motos para andar na neve), mas cujas etapas são regionais (existindo uma Sportsman Series para cada uma de sete regiões diferentes), com algumas delas coincidindo com as etapas da Championship Series. É interessante registrar que a modalidade arrancadas tem a primeira mulher a ser campeã no automobilismo profissional em todo o planeta, a norte-americana Shirley Muldowney, tricampeã na classe Top Fuel Dragster em 1977, 1980 e 1982.

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