O jogo de dardos teve origem em um passatempo adotado pelos soldados quando seus exércitos estavam acampados, sem nada o que fazer entre uma batalha e outra. Os primeiros registros de que soldados dedicariam seu tempo a arremessar pequenos projéteis contra um alvo, visando descobrir qual tinha a portaria mais certeira, datam do século XVI, dos diários de soldados do Império Britânico. Sabe-se que os dardos, nessa época, eram simplesmente flechas quebradas, mas não se sabe o que era usado como alvo; supõe-se que eram usados cortes de árvores, o que explicaria duas características dos alvos modernos: os anéis de crescimento da árvore serviriam para delimitar as seções concêntricas, e rachaduras que se formavam conforme a madeira secava com o tempo formavam as seções radiais.
Como ocorre com todo passatempo militar, aos poucos o jogo de dardos foi fazendo sucesso também dentre os civis, e, como estes não tinham acesso a flechas quebradas ou a cortes de árvores, os primeiros dardos e alvos específicos para o jogo começariam a ser fabricados. Os primeiros alvos próprios para o jogo de dardos começariam a surgir no final do século XIX, e eram feitos de madeira, normalmente de olmo, e pintados. Como os dardos deixavam pequenos furos na madeira, era necessário deixar o alvo mergulhado na água durante a noite para que a madeira a absorvesse e os furos se fechassem, e retirá-lo horas antes de a competição começar, para que não ficasse pingando; isso não somente dava muito trabalho, como também reduzia a vida útil dos alvos, que tinham de ser frequentemente trocados - além de não ser totalmente eficiente, já que os furos não se fechavam por completo.
O destino dos alvos começaria a mudar apenas em 1923, quando uma empresa inglesa de produtos de argila chamada Nodor (nome que vinha do fato de que ela anunciava que seus produtos não tinham cheiro, ou seja, nenhum odor) decidiria criar um alvo de argila, que precisava de menos manutenção. Mas, na época, os principais estabelecimentos nos quais se podia praticar o jogo de dardos não eram clubes ou academias, e sim bares e pubs, nos quais os clientes passavam a noite toda jogando dardos; o alvo de argila, apesar de realmente mais durável e menos trabalhoso para se cuidar que o de madeira, também ficava impróprio para o jogo mais depressa, já que os furos na argila começavam a atrapalhar os jogadores, e precisavam ser tapados muitas vezes em meio a um jogo. Com isso, muitos estabelecimentos que já haviam comprado alvos da Nodor começariam a trocá-los novamente por seus alvos de madeira, e alguns até tentaram devolver o alvo e pedir o dinheiro de volta à Nodor.
Para tentar não ter um prejuízo enorme, a Nodor decidiu pedir a seus funcionários para que algum deles criasse uma solução que tornasse seus alvos melhores que os de madeira sob todos os aspectos, e foi justamente um funcionário da Nodor, cujo nome infelizmente se perdeu no tempo, quem criou o tipo de alvo que é usado até hoje em competições profissionais. Ao invés de argila, porém, ele decidiria usar sisal, uma fibra vegetal obtida de uma planta chamada agave, nativa do México. No alvo de sisal, longas cordas feitas da fibra são enroladas e compactadas até formar discos, que são colados uns aos outros e presos com fios de metal; quando a ponta do dardo atinge o sisal, ele rompe algumas fibras, mas não chega a fazer um furo, o que aumenta a vida útil do dardo em muitos anos, e faz com que sua manutenção tenha de ser quase zero. Em pouco tempo, os alvos de sisal substituiriam os de madeira e os de argila em todo o Reino Unido, se espalhariam pelo planeta, e mudariam até mesmo o ramo de atuação da Nodor, hoje a maior fabricante de alvos e dardos do mundo.
Falando nisso, hoje em dia, os alvos de sisal ainda são feitos de forma artesanal, o que faz com que eles sejam bem mais caros que os demais, e, por conseguinte, não sejam mais encontrados em bares e pubs, sendo praticamente restritos a torneios profissionais. Alvos mais baratos, hoje, são feitos de cortiça ou de papelão compactado, o que faz com que os dardos deixem neles pequenos furos, mas não como ocorria com os de madeira ou argila, permitindo que eles tenham uma vida útil de pelo menos um ano, dependendo da frequência dos jogadores; além disso, como alvos de cortiça ou papelão são baratos, é mais prático jogar o velho fora e comprar um novo do que ficar fazendo manutenção. Existem rumores de que seriam fabricados alvos com pelos compactados de animais, como porco, camelo ou cavalo, mas, oficialmente, não há registro de nenhum fabricante que utilize esses materiais.
Atualmente, um alvo de dardos é dividido em seis seções concêntricas e vinte seções radiais. Cada seção concêntrica é um círculo concêntrico, cada um de um diâmetro: um alvo profissional possui 451 mm de diâmetro total, sendo que o círculo mais de dentro, conhecido como "mosca interna", tem 12,7 mm de diâmetro; o seguinte, ou "mosca", tem 32 mm; o seguinte tem 214 mm; o próximo, ou "círculo dos triplos", tem 230 mm; o seguinte tem 256 mm; o maior de todos, ou "círculo dos duplos", tem 340 mm; e o que resta é a área de fora, onde os dardos que acertam não valem pontos, e onde estão gravados os números referentes à pontuação de cada seção radial. As seções radiais têm formato triangular; o início da linha que delimita cada uma delas está no centro exato da mosca interna, e o final está linha externa do círculo de duplos - ou seja, cada linha que delimita uma seção radial tem 256 mm de comprimento.
Em alvos profissionais, as linhas que delimitam as seções radiais, do ponto em que elas tocam a linha externa da mosca até o final, não são pintadas, e sim demarcadas com um fio de aço ou com uma chapa extremamente fina de metal, o mesmo ocorrendo com as linhas de fora de todas as seis seções concêntricas. Em um alvo profissional, a "área inválida", onde ficam os números, é sempre de cor preta; a mosca interna é de cor vermelha; a mosca é de cor verde; e as seções radiais se alternam, entre vermelho e verde dentro dos círculos dos duplos e dos triplos, e entre branco e preto nos outros dois. Finalmente, em um alvo profissional, os números também são feitos de metal, e ficam em uma armação separada do restante do alvo; isso é feito para que o alvo possa ser "rodado" com o tempo, aumentando sua durabilidade, pois a cada vez diferentes áreas do sisal serão rompidas pelas pontas dos dardos. Em alvos de cortiça, papelão ou semiprofissionais, os números são pintados na parte preta.
Os números determinam a pontuação que cada subseção confere ao ser atingida por um dardo. Como temos seis seções concêntricas e vinte seções radiais, há um total de 82 subseções diferentes - já que a mosca interna e a mosca não são divididas pelas seções radiais. Oficialmente, quem inventou o atual esquema de pontuação foi o carpinteiro inglês Brian Gamlin, no ano de 1896, embora essa informação seja contestada por alguns pesquisadores. Desde que os primeiros alvos específicos para o jogo de dardos começaram a ser construídos, já ficou determinado que a mosca interna valeria 50 pontos, a mosca valeria 25, e cada seção radial valeria uma pontuação de 1 a 20, com multiplicadores sendo aplicados de acordo com qual das quatro seções concêntricas foi atingida. Bizarramente, isso permitia nada menos que 121.645.100.408.832.000 combinações possíveis de pontuação, mas, mesmo assim, Gamlin conseguiu criar aquela que é, hoje, considerada a "configuração perfeita", em termos de dificuldade e recompensa, sendo considerada adequada para que jogadores iniciantes não percam o interesse pelo jogo, jogadores experientes ainda encontrem desafio, os que arrisquem consigam muitos pontos mesmo sem acertar a mosca, os de boa mira sejam recompensados e os de mira ruim sejam penalizados. Até mesmo simulações por computador atestam que essa é a configuração ideal de acordo com esses parâmetros, e artigos científicos escritos por matemáticos já foram publicados para discuti-la.
A pontuação do jogo de dardos parece complicada, mas segue uma fórmula simples: em primeiro lugar, como já foi dito, a mosca interna vale 50 pontos e a externa vale 25. Em segundo lugar, atingindo a parte branca ou preta de cada seção radial, o jogador ganha o número de pontos indicado para aquela seção - ou seja, acertando a seção marcada com o número 1, ele ganha 1 ponto, a de número 2, 2 pontos, e assim por diante. Acertar dentro do círculo dos duplos, ou seja, na parte vermelha ou verde, dobra essa pontuação: na seção 1, o jogador ganha 2 pontos, na seção 2, ganha 4 pontos, e assim sucessivamente. Evidentemente, acertar dentro do círculo dos triplos triplica essa pontuação: na seção 1, ganha 3 pontos, na seção 2, 6 pontos etc. - isso significa que a subseção que vale mais pontos nem é a mosca interna, e sim o círculo dos triplos na seção 20, que vale 60 pontos. A ordem da pontuação das seções radiais, começando pela que estaria na posição do número 12 se o alvo fosse um relógio, e seguindo no sentido horário é 20, 1, 18, 4, 13, 6, 10, 15, 2, 17, 3, 19, 7, 16, 8, 11, 14, 9, 12 e 5.
Em uma partida oficial de dardos, o alvo é colocado com seu centro a 1,73 m do chão, e os jogadores devem se posicionar atrás de uma linha conhecida como oche, que fica a 2,37 m do centro do alvo. O objetivo não é somar o maior número possível de pontos, e sim atingir exatamente um placar pré-determinado, que normalmente é de 501 pontos, sendo que o último dardo de todos deve atingir a mosca interna, a mosca, um duplo ou um triplo. Os jogadores são pareados dois a dois, e se enfrentam em um esquema de turnos: no primeiro turno, o jogador A joga três dardos, os recolhe, e o jogador B joga seus três e os recolhe; passa-se então ao segundo turno, no qual o jogador A joga mais três dardos, os recolhe, o jogador B joga seus três e os recolhe, e assim sucessivamente. Só contam para a pontuação os dardos cujas pontas penetrem no alvo, não sendo considerados, por exemplo, aqueles que tocam o alvo mas só ficam lá porque estão apoiados em outros dardos; além disso, os dardos devem permanecer cravados no alvo até que seu jogador ande até lá e os recolha, com dardos que caiam durante um lançamento seguinte ou enquanto o jogador está a caminho não contando para a pontuação.
Como cada jogador lança três dardos por turno, a pontuação máxima que ele pode fazer em um único turno é de 180 pontos, acertando os três no triplo 20. Como o último dardo de todos não pode acertar nas subseções pretas ou brancas, e como o valor de 501 pontos tem que ser atingido exatamente, o mínimo de lançamentos que um jogador precisa para ganhar o jogo é de nove. A pontuação é contada na regressiva, ou seja, cada jogador começa com 501 pontos e vai "perdendo" os pontos que soma até chegar a zero. Caso o jogador fique com pontuação negativa, com pontuação exatamente igual a 1, ou chegue ao zero mas o último dardo acerte uma subseção preta ou branca, ele faz o que é conhecido como bust; nesse caso, a pontuação de todos os dardos que ele jogou naquele turno é anulada, se ele ainda tinha dardos para jogar naquele turno eles são desconsiderados, e a vez passa para o oponente. Vence o jogador que chegar a zero primeiro, ou seja, se o jogador A alcançar o zero, o jogador B não joga naquele turno.
Jogos profissionais de dardos são disputados em sets, normalmente em melhor de cinco, ou seja, quem ganhar três sets primeiro ganha o embate e avança, com o perdedor sendo eliminado ou caindo para uma repescagem. Também são disputados jogos de dardos em duplas, com os jogadores se alternando nos turnos - no primeiro turno jogam o jogador A1 e o jogador B1, no segundo o jogador A2 e o jogador B2, no terceiro o jogador A1 e o jogador B1, e assim por diante. O jogo de dardos é disputado nas simples masculinas, simples femininas, duplas masculinas, duplas femininas e duplas mistas, sendo que, nesse último caso, um homem sempre enfrenta diretamente outro homem, e uma mulher sempre enfrenta outra mulher.
Falta falar sobre a parte mais essencial do jogo, sem a qual é impossível jogar dardos: os dardos. Os primeiros dardos fabricados especificamente para o jogo datam do final do século XIX, e eram compostos de um corpo de madeira envolto em uma folha de chumbo, com uma ponta de metal e uma cauda feita de quatro penas de peru. Em 1906, foi patenteada a empunhadura, feita de latão, que originalmente servia tanto para o jogador ter mais firmeza ao segurar o dardo quanto para colocar seu centro de gravidade mais à frente, facilitando o lançamento. Na década de 1950 começariam a surgir os primeiros dardos de plástico, e, na década de 1970, surgiriam os primeiros dardos do tipo que é usado até hoje. Um dardo oficial deve pesar no máximo 50 g, e não pode ter mais que 300 mm de comprimento.
Atualmente, um dardo é composto de quatro partes: a ponta, a empunhadura, o corpo e a cauda. A ponta é um cone comprido, semelhante a uma agulha, feita de aço e afiada para que o dardo penetre o alvo quando o atinja. Dardos profissionais possuem pontas de dois tamanhos diferentes, as de 32 mm de comprimento e as de 41 mm, sendo a escolha puramente devido ao gosto pessoal do jogador. Alguns dardos têm pontas com estrias, para garantir que ele fique preso ao alvo e não caia, enquanto alguns têm pontas revestidas, para facilitar a penetração; alguns dardos ainda possuem pontas que se retraem levemente quando o dardo acerta o alvo, diminuindo o impacto e a chance de que o dardo quique no alvo e caia. Evidentemente, quanto mais características fora do padrão tiver a ponta, mais caro será o dardo. É possível trocar uma ponta danificada para aumentar a vida útil do dardo, mas jogadores profissionais não gostam de fazer isso porque as características de voo do dardo podem ser alteradas.
A ponta é ligada à empunhadura, que é um cilindro de metal que reveste o corpo. As empunhaduras atuais são feitas de latão, de uma liga de prata e níquel, ou de uma liga de tungstênio. O latão é a opção mais barata, mas também é o mais leve dos três tipos, o que significa que, para manter o peso e o centro de gravidade adequados, uma empunhadura de latão deixa o dardo bem maior que os demais. O tungstênio possui o dobro da densidade do latão, e, portanto, um dardo com empunhadura de tungstênio consegue ter diâmetro 30% menor que um com empunhadura de latão. Como o tungstênio é quebradiço, não pode ser usado puro, devendo constar de uma liga com ferro, níquel ou cobre; a liga de tungstênio também é a mais cara das três opções, normalmente sendo usada apenas por jogadores profissionais. A empunhadura de liga de prata e níquel é o meio-termo, tanto em questão de preço quanto de tamanho do dardo. Atualmente, a empunhadura serve unicamente para melhorar a pegada do jogador antes do arremesso, e, por isso, possui ranhuras que evitam que os dedos do jogador escorreguem.
O centro de gravidade do dardo, atualmente, é definido pelo formato do corpo, que pode ser de três tipos: cilindro, torpedo ou tonel. O corpo em formato de cilindro possui o mesmo diâmetro em toda a sua extensão, o que torna o dardo mais comprido em relação aos outros dois; diferentemente do que se possa imaginar, isso faz com que o centro de gravidade seja na parte de trás, bem próximo à cauda, e não na frente, onde fica a empunhadura - falando nisso, um dardo de corpo cilíndrico e empunhadura de latão é enorme quando comparado com os outros, mas possui aproximadamente o mesmo peso. Já o corpo em formato de tonel é mais largo no centro que nas extremidades; isso coloca o centro de gravidade na parte da frente, mas próximo ao centro, facilita a pegada na empunhadura, e faz com que esse tipo seja o mais fácil de arremessar. A maior parte dos dardos fabricados, entretanto, tem o corpo em formato de torpedo, largo perto da ponta e fino perto da cauda. O centro de gravidade em um dardo torpedo é próximo à ponta, e leva algum tempo até um jogador amador se acostumar com a forma como ele deve ser arremessado, mas, em compensação, esse tipo de corpo garante maior precisão nos arremessos. Atualmente, o corpo de um dardo é feito de plástico, de polímeros de nylon ou de metais como alumínio e titânio; as únicas diferenças são em relação ao peso e ao preço do dardo, com o material do corpo não influenciando tanto o dardo como o material da empunhadura.
A cauda tem como principal função criar arrasto e impedir que o dardo "vire uma cambalhota" durante o voo. Diferentemente de uma flecha, a cauda de um dardo possui quatro pontas que formam uma cruz, cada uma no formato de um trapézio. Atualmente as caudas são rígidas e feitas de plástico, de polímeros de nylon ou de folhas de prata, mas, assim como no caso do corpo, o material da cauda não afeta o comportamento do dardo. O tamanho da cauda depende do peso do dardo, com um dardo mais pesado necessitando de uma cauda maior; o tamanho da cauda, porém, deve ser cuidadosamente calculado pelo fabricante, pois uma cauda muito pequena ou grande demais pode tornar o dardo impossível de ser arremessado corretamente.
A forma correta de arremessar o dardo não é segurando-o pela ponta e jogando-o para que gire durante o voo, como se fosse uma faca do Rambo. O jogador deve segurar pela empunhadura, usando os dedos polegar, indicador e médio, e dobrar o cotovelo de forma que o dardo fique em posição paralela à sua cabeça; o movimento, portanto, é mais de impulsionar o dardo em direção ao alvo do que de arremessá-lo. Existem várias técnicas para arremessar corretamente o dardo, com cada jogador tendo suas preferidas; a única coisa que se deve levar em consideração é que, quanto maior o dardo, mais força e velocidade precisarão ser empregadas no arremesso, porque todo dardo começa a inclinar para a frente ou para trás após um determinado tempo de voo, sendo, que, quanto maior o dardo, menor esse tempo, o que deve ser compensado com o arremesso.
O jogo de dardos, atualmente, possui duas federações internacionais e um racha. Tudo começou com a Organização Britânica de Dardos (BDO), a federação nacional do Reino Unido. Fundada em 1973, a BDO foi a primeira organização a congregar jogadores profissionais de dardos, e a primeira a organizar torneios com prêmios em dinheiro, muitos deles televisionados graças a um acordo com a BBC, a rede de televisão estatal britânica. Pouco depois da BDO, outras federações nacionais começaram a surgir, e, antes que uma federação internacional qualquer a ameaçasse, a BDO chamou suas colegas e criou a Federação Mundial da Dardos (WDF). Para todos os efeitos, a WDF, fundada em 1976, e que hoje conta com 70 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil, é o órgão máximo no tocante à regulação do jogo e à organização de campeonatos internacionais; na prática, porém, os campeonatos de maior prestígio, inclusive internacionais, são organizados pela BDO, e a WDF não toma nenhuma decisão que desagrade a BDO, mesmo que essa seja a vontade de seus demais membros.
No final da década de 1990, muitos jogadores filiados à BDO estavam insatisfeitos com o que consideravam inabilidade do órgão em reverter uma queda acentuada na cobertura televisiva do esporte. Sem conseguir convencer a BDO a tomar providências que aumentassem o interesse das redes de televisão em transmitir jogos de dardos, esse grupo, que incluía todos os campeões mundiais ainda em atividade na época, decidiu, em 1993, se desfiliar da WDF e criar sua própria federação internacional, o Conselho Mundial de Dardos (WDC). Como vingança, a BDO instituiu um banimento, que não só barrava a inscrição de jogadores filiados ao WDC em torneios da BDO, mas impedia qualquer jogador filiado à BDO de enfrentar jogadores filiados ao WDC, mesmo em amistosos; no ano seguinte, a BDO usaria de sua influência para que a WDF instituísse um banimento semelhante, impedindo os jogadores do WDC de participar de quaisquer jogos contra atletas filiados à WDF.
O WDC entraria na justiça, e, em 1997, seria emitida uma decisão que forçaria um acordo entre as partes. Pelos termos do acordo, a BDO reconheceria a existência do WDC, e asseguraria a qualquer de seus filiados liberdade para se filiar ao WDC se esse fosse seu desejo; em troca, o WDC reconheceria a WDF como única federação internacional de dardos, e mudaria seu nome para Corporação dos Jogadores Profissionais de Dardos (PDC). Na prática, entretanto, a PDC continua atuando como uma federação internacional, organizando seus próprios torneios e aplicando suas próprias modificações às regras - em torneios de duplas da PDC, por exemplo, o número a ser zerado é 1001, e não 501. A única diferença da PDC para uma federação internacional "de verdade" é que ela não tem federações nacionais como membros, e sim os próprios jogadores, que, apesar de não serem formalmente impedidos de fazer isso, não são filiados também às federações nacionais que compõem a WDF - o que os impede, portanto, de participar dos campeonatos organizados pela WDF. Em termos de jogadores, aliás, a PDC ganha de lavada, já que todos os principais nomes do esporte são filiados à PDC, e não à WDF, incluindo o inglês Phil Taylor, 16 vezes campeão mundial e considerado o melhor jogador de dardos do mundo.
Duas federações internacionais significa, evidentemente, dois Campeonatos Mundiais de Dardos. O mais antigo é organizado pela BDO anualmente desde 1978 no masculino e desde 2001 no feminino; o maior campeão no masculino é o holandês Raymond van Barneveld, com quatro títulos (1998, 1999, 2003 e 2005), que hoje é filiado à PDC; e no feminino é a inglesa Trina Gulliver, com dez, sendo sete seguidos entre 2001 e 2007, e o último conquistado em 2016. O Mundial da PDC é disputado anualmente desde 1994, mas apenas no masculino; o maior campeão é o inglês Phil Taylor, com 14 títulos, o último conquistado em 2013 - Taylor já havia sido campeão pela BDO em 1990 e 1992, para um total de 16. A PDC organizou um Mundial feminino em 2010, vencido pela norte-americana Stacy Broomberg, mas, como quase não há mulheres filiadas à PDC, desistiu após apenas essa edição.
Também existem duas versões da Copa do Mundo, uma organizada pela WDF, outra pela PDC. A versão da PDC, mais uma vez, é disputada apenas no masculino, anualmente desde 2010, e é uma competição exclusivamente de duplas. Já a Copa do Mundo da WDF é disputada a cada dois anos desde 1977 no masculino e 1983 no feminino, e conta com quatro competições para cada modalidade: a de simples (no máximo quatro competidores de cada país), a de duplas (duas por país), a de equipes (de quatro integrantes cada, uma equipe por país) e a overall (que não é uma competição em si; os resultados de todos os competidores de um mesmo país nas simples, duplas e equipes são somados para se determinar o país vencedor no overall). Falando nisso, nos dardos, assim como em muitos outros esportes, Inglaterra, País de Gales e Escócia competem separadamente, e não juntos como Grã-Bretanha.
Outros torneios de prestígio são o World Masters, organizado pela BDO e disputado anualmente desde 1974 no masculino e 1982 no feminino, que tem a característica de ser disputado em melhor de três sets, e não de cinco; e o Darts Masters, organizado pela WDF anualmente desde 1995, tanto no masculino quanto no feminino, e, ao invés de ter jogos eliminatórios desde o início, possui uma primeira fase na qual os competidores são divididos em grupos. O Mundial da BDO, o torneio de simples da Copa do Mundo da WDF, o World Masters e o Darts Masters formam o Grand Slam dos Dardos, sendo considerados os quatro torneios mais importantes do ano. BDO, WDF e PDC também realizam, anualmente, vários outros torneios de menor importância, em um esquema parecido com o do tênis: na BDO eles são divididos em Categoria A+, Categoria A, Categoria B, Categoria C e Categoria D; na WDF em Categoria 1, Categoria 2 e Categoria 3; e na PDC são divididos, dos de maior prestígio para os de menor, em PDC Pro Tour, PDC World Series e PDC Masters.
O maior objetivo da WDF é incluir o jogo de dardos nas Olimpíadas; para isso, entretanto, eles ainda têm de dar o primeiro passo, que é fazer com que o jogo de dardos se torne um esporte reconhecido pelo COI. Para ajudar nesse objetivo, a WDF é membro fundadora da AIMS, uma espécie de confederação das federações internacionais dos esportes que ainda não são reconhecidos pelo COI, que conta também, por exemplo, com as federações internacionais de punhobol, lacrosse, kickboxing, savate, sepak takraw, corrida de trenó canino e soft tênis. O objetivo dessas federações é provar que seus esportes cumprem os ideais do olimpismo, visando seu reconhecimento pelo COI e sua futura inclusão nos Jogos Olímpicos; o grande poder da BDO e o fato de que os principais jogadores pertencem à PDC, entretanto, são grandes entraves às pretensões olímpicas da WDF.
Assim como ocorre com os jogos de baralho, ao longo dos anos foram sendo criados diversos outros jogos de dardos, que dependem apenas de um alvo e dardos para serem jogados; nenhum desses é considerado oficial pelas federações internacionais, sendo vistos apenas como passatempos. Dentre eles podemos citar o round the clock, na qual o objetivo é acertar as seções radiais em sentido horário; o 20 a 1, na qual o objetivo é acertar as seções radiais na ordem numérica decrescente, com um 21o e último lançamento acertando na mosca; a halve it, na qual, antes do jogo, é determinado um número de pontos que os jogadores têm de fazer a cada turno, com seu total acumulado sendo cortado pela metade quando eles não conseguem obtê-lo, e o primeiro a alcançar um determinado valor sendo o vencedor; e a shanghai, na qual, no primeiro turno, os jogadores só podem acertar a seção 1, no segundo a 2 e assim sucessivamente, com os pontos por duplos e triplos contando normalmente, e o vencedor sendo aquele que obtiver o maior número de pontos após um determinado número de turnos, normalmente 7 - ou aquele que primeiro conseguir um "shanghai", que consiste em acertar, no mesmo turno, um dos dardos no simples, um no duplo e um no triplo da seção daquele turno, em qualquer ordem.
Também existem variações que usam alvos diferentes do tradicional. A mais famosa delas é a fives, que surgiu em Londres quase simultaneamente ao jogo oficial, e que usa um alvo com apenas 12 seções radiais, com a ordem da pontuação sendo 20, 5, 15, 10, 20, 5, 15, 10, 20, 5, 15 e 10 - daí o nome fives, já que todas as pontuações são múltiplas de cinco (que, em inglês, caso alguém não saiba, é five); por causa disso, o jogo começa com 505 pontos, e não com 501, e, como as subseções são bem maiores, os jogadores se posicionam a 2,7 m do centro do alvo. Outro exemplo é o dart golf ou dolf, que usa um tabuleiro que imita um campo de golfe, com subseções irregulares com áreas de diversos valores - acertar no buraco vale mais que acertar no green, que vale mais que acertar no fair, enquanto acertar no rough, na areia ou na água não vale nada. O dart golf foi inventado na Inglaterra em 1932 pelo fabricante de brinquedos Harrison Johnston, já teve tabuleiros fabricados pela Nodor, e hoje tem sua própria federação internacional, chamada Federação Mundial de Dolf (WDFF).
Outra variação curiosa é a chamada dardos americanos, criada na Pensilvânia, Estados Unidos, que usa um alvo completamente diferente, feito de madeira de tília e com apenas quatro seções concêntricas: a mosca, com 30 mm de diâmetro; o círculo da pontuação simples, com 292 mm; o círculo dos duplos, de 324 mm; e o círculo dos triplos, de 340 mm. A mosca e o círculo dos duplos são vermelhos, o círculo dos simples e o dos triplos são brancos, e há uma área inválida de cor azul que completa os 451 mm; todo o alvo fica dentro de um quadrado branco, no qual estão escritas, também em azul, as pontuações das seções radiais, que são idênticas às do jogo tradicional. O alvo também fica mais baixo (1,60 m) e mais próximo da linha de arremesso (2,21 m). Vários jogos diferentes podem ser jogados com os dardos americanos, sendo o mais famoso o baseball darts, no qual os turnos se chamam innings ("entradas"), e os jogadores se revezam até que tenham sido disputadas nove entradas (com cada jogador lançando três dardos a cada entrada), sendo vencedor o que tiver mais pontos ao final da nona entrada, e sendo disputadas entradas extras caso o jogo esteja empatado. Ao contrário do que o nome possa dar a entender, os dardos americanos não são mais populares nos Estados Unidos que os tradicionais - na verdade, não há nem comparação, com o número de praticantes do jogo tradicional sendo esmagadoramente maior. Os dardos americanos também não possuem uma federação internacional, mas o jogo de baseball darts possui uma federação nacional, a Associação Americana de Baseball Darts (ABDA).
Ao longo dos anos, também foram sendo lançados outros tipos de conjuntos de alvos e dardos, a maioria visando maior segurança para que crianças pudessem jogar. Os mais facilmente encontrados são os magnéticos, que podem consistir de um alvo de metal e dardos com pontas chatas e magnéticas, ou o contrário, um alvo magnetizado, normalmente fino e possível de ser enrolado, como um imã de geladeira, com dardos de pontas chatas e metálicas. Também são muito famosos o alvo de plástico duro, que possui centenas de reentrâncias nas quais os dardos, de pontas arredondadas, se encaixam, e o alvo de velcro, no qual os dardos grudam ao invés de penetrar. Isso sem falar dos menos ortodoxos, como os dardos com ventosas, arremessados contra um alvo de plástico, e o alvo inflável, no qual os dardos grudam com um adesivo que possuem em suas pontas.
Muitos torneios também já utilizam o alvo eletrônico, criado na década de 1970. Feita de plástico, sua superfície conta com centenas de furos, nos quais os dardos, cujas pontas também são de plástico, penetram quando arremessados. Por detrás da superfície do alvo há uma placa de metal eletrificada, e, quando a ponta do dardo, após passar pelo furo, a atinge, interrompe a corrente naquele ponto, registrando a pontuação. Os alvos eletrônicos modernos são computadorizados, e podem ser programados para uma infinidade de jogos diferentes, fornecendo o placar e outras informações em tempo real; uma diferença importante em relação ao alvo tradicional é que, como a pontuação é contada assim que a corrente é interrompida, mesmo que o dardo caia depois, a pontuação continua valendo. BDO, WDF e PDC possuem grande relutância em usar o alvo eletrônico em seus principais torneios, preferindo o tradicional de sisal.
E agora, o motivo pelo qual eu estou escrevendo hoje sobre dardos: se você leu o post sobre motonáutica, sabe que, com ele, eu terminei de falar sobre todos os esportes que algum dia já fizeram parte do programa olímpico. Depois de escrevê-lo, eu resolvi ver os programas das Paralimpíadas passadas, para ver sobre quais esportes que algum dia já fizeram parte deles eu ainda não tinha falado, e descobri que só faltava um. Esse esporte se chamava "dartchery", e, segundo sua descrição, era "uma mistura de dardos e tiro com arco". Como o tiro com arco faz parte das Paralimpíadas desde 1960, o que foi que eu pensei? Que era uma competição de dardos, mas usando o alvo e as regras para pontuação do tiro com arco. Diante disso, resolvi escrever um post sobre dardos, ao fim do qual eu falaria sobre o tal dartchery.
Hoje, entretanto, ao pesquisar mais dados sobre o dartchery, eu encontrei, no site do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), um vídeo sobre as Paralimpíadas de 1964, no qual, durante uns três segundos, aparece a tal competição de dartchery - e, com isso, descobri que era justamente o contrário do que eu imaginava (ou seja, um torneio de tiro com arco usando o alvo dos dardos), o que, na minha opinião, nem faz muito sentido, pois o lógico seria considerá-lo não como um esporte em separado, e sim como uma prova do tiro com arco, até porque, nas primeiras Paralimpíadas, o que não faltava eram provas bizarras de tiro com arco. Mas enfim, gostei muito de escrever esse post, acabou sendo um assunto interessante, e, já que falta falar de dartchery para encerrar os esportes do programa paralímpico, vamos falar de uma vez.
Criado pelo IPC, que o regulou no período em que fez parte das Paralimpíadas, e tendo caído no ostracismo após ser removido do programa paralímpico, o dartchery, como foi dito, era a mistura do jogo de dardos com uma competição de tiro com arco. Disputado apenas por cadeirantes, ele usavas as mesmas regras de uma competição de target archery outdoor com arco recurvo, com a diferença sendo a de que, ao invés de usar o alvo próprio para esse tipo de competição, o dartchery usava um alvo com divisões e pontuação idênticas a um alvo do jogo de dardos - ou seja, com as mesmas seções concêntricas e radiais e os mesmos valores em pontos para cada subseção, sendo a única diferença a de que, ao invés de ser feito de sisal, ele era pintado em um papel preso a um cavalete, justamente como um alvo de tiro com arco. Não consegui encontrar informações sobre a qual distância do alvo ficavam os competidores, mas em uma competição de tiro com arco paralímpico "normal" essa distância é de 70 m. Também não consegui descobrir nada sobre as regras, mas imagino que, como era usado um alvo de dardos, também deviam ser usadas as regras dos dardos, com os competidores começando de 501 pontos e tendo que chegar a zero.
O dartchery fez parte de seis edições das Paralimpíadas, entre 1960 e 1980. Em todas elas, foi disputada a competição de duplas mistas, e, entre 1972 e 1980, também foram disputadas competições de duplas masculinas e duplas femininas. Na primeira edição, em 1960, havia apenas três duplas, e todas elas se enfrentaram, ficando o ouro com uma dupla do Estados Unidos, que venceu suas duas partidas, a prata com outra dupla dos Estados Unidos, que venceu uma partida e perdeu outra, e o bronze com a dupla da frança, que perdeu ambas. A partir de 1964, a competição passou a ter o formato tradicional, com as duplas sendo pareadas, as vencedoras avançando e as perdedoras sendo eliminadas; em 1964 e 1968, curiosamente, não houve disputa pela medalha de bronze, com as duas duplas eliminadas nas semifinais recebendo uma medalha de bronze cada. Não se sabe por que o IPC teria desistido do dartchery após 1980, já que essa edição teve um número recorde de duplas inscritas em todas as suas três competições. Seja como for, sem o apoio do IPC, o dartchery parou de ser disputado, e hoje, até onde eu consegui descobrir, já não é mais praticado em lugar algum.
Excelente!
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