domingo, 2 de setembro de 2018

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Jumanji

Jumanji, de 1995, é um dos meus filmes preferidos. Eu o assisti no cinema, saí da sessão super empolgado, e, de lá pra cá, já devo ter visto umas quarenta vezes - inclusive, foi um dos pouquíssimos filmes que eu assisti no mesmo dia em que comprei o DVD. Apesar disso, graças a algum bloqueio mental, nunca me lembro de incluí-lo em nenhuma lista dos meus filmes preferidos. De fato, já estamos chegando ao post 800, e, até há alguns dias, nunca tinha tido a ideia de fazer um sobre ele. Hoje isso vai mudar, por culpa do filme novo, que eu não consegui assistir no cinema, mas assisti recentemente em DVD, e do qual gostei bastante também, embora ainda goste mais do antigo. Sem mais delongas, hoje é dia de Jumanji no átomo.


O protagonista de Jumanji é Alan Parish, que mora em uma pequena cidade do estado de New Hampshire, Estados Unidos, e cujo pai, Sam (Jonathan Hyde), é dono de uma fábrica de sapatos, principal fonte de renda da cidade. Em 1969, quando tinha 12 anos de idade, Alan (Adam Hann-Byrd) encontrou um estranho jogo de tabuleiro, chamado Jumanji, e convidou sua melhor amiga, Sarah Whittle (Laura Bell Bundy), para jogar com ele em sua casa, numa noite na qual seu pai e sua mãe (Patricia Clarkson, de Maze Runner) estariam fora, em um jantar. O jogo, porém, é encantado, e, após um acidente, Alan se vê aprisionado em um estranho mundo selvagem, incapaz de retornar à realidade até que alguém role um 5 ou 8 nos dados.

Como a única outra jogadora era Sarah, que, graças ao acidente, não pôde rolar os dados, passam-se 26 anos até que Alan tenha uma chance de ser libertado - o que acontece no ano de 1995, quando duas crianças órfãs, Peter (Bradley Pierce) e Judy Shepherd (Kirsten Dunst, que, alguns anos depois, seria a Mary Jane no primeiro filme do Homem-Aranha), se mudam com os tios para a antiga casa dos Parish, e encontram o jogo. Ao jogá-lo, eles causam mais confusão, como animais selvagens saindo do jogo e atacando a cidade, mas decidem prosseguir porque o manual diz que, quando alguém vencer, tudo retornará ao normal. Peter consegue o resultado necessário para libertar Alan (Robin Williams), agora um homem adulto, que passou esse tempo todo vivendo na selva, mas, para concluir o jogo, eles precisam da presença de Sarah (Bonnie Hunt), que, afinal, também tinha um peão no tabuleiro, mas que passou esse tempo todo fazendo análise para se convencer de que não viu o desaparecimento de Alan em decorrência do jogo.

O quarteto tenta, então, concluir o jogo, mas cada nova rolagem dos dados destrói ainda mais a cidade, libertando uma praga de mosquitos, macacos ladrões, um estouro de uma manada de rinocerontes, e até mesmo um leão faminto - mas o pior perigo trazido pelo jogo é Van Pelt (também Jonathan Hyde), um caçador que quer matar Alan a qualquer custo. Para tentar superar os perigos e concluir o jogo, o quarteto contará com a relutante ajuda de Carl Bentley (David Alan Grier), antigo empregado da fábrica de sapatos, agora trabalhando como policial.

Jumanji não é um roteiro original, e sim a adaptação de um livro infantil de mesmo nome, escrito pelo norte-americano Chris Van Allsburg e lançado em 1981. O livro, entretanto, é realmente um livro infantil, daqueles cujas figuras ocupam páginas inteiras e a história é contada em poucas linhas; além disso, seus dois únicos personagens são Judy e Peter, duas crianças que, durante uma tarde no parque, encontram um estranho jogo de tabuleiro chamado Jumanji, e, ao jogá-lo, descobrem que tudo o que é descrito nas casas nas quais seus peões caem a cada rolar dos dados realmente ocorre dentro da casa deles - até que terminam o jogo e tudo retorna ao normal, como se nada jamais tivesse acontecido.

Vale dizer que o nome "Jumanji" foi inventado por Van Allsburg, e não significa nada, sendo apenas uma palavra que soa como um nome africano; depois do lançamento do filme, Williams começaria a dizer em suas entrevistas que jumanji é uma palavra no idioma zulu que significa "muitos efeitos" (no sentido de efeitos especiais), e muita gente acreditaria, publicando a informação como se fosse verdade. Van Allsburg acharia isso engraçado, e passaria a confirmar a informação, hoje tida por muitos como verdadeira.

A ideia de transformar o livro em filme partiria do executivo Peter Guber (ultimamente bastante citado aqui no átomo, aliás), que, em 1993, convidaria Van Allsburg para um almoço durante o qual conversariam sobre a possibilidade de uma adaptação. Devido à natureza do livro, Van Allsburg pediria para que ele mesmo escrevesse o roteiro, expandindo a história e acrescentando mais personagens, inclusive adultos. Guber ofereceria o roteiro à Tristar Pictures, que diria só concordar em fazer o filme caso ele fosse protagonizado por Williams; o ator, entretanto, após ler a primeira versão do roteiro, acharia o filme fraco, e não se interessaria.

Guber, então, contrataria o diretor Joe Johnston (de Querida, Encolhi as Crianças), e pediria para que ele chamasse roteiristas de sua confiança para reescrever o roteiro de Van Allsburg. Ele chamaria Jonathan Heinsleigh (da série O Jovem Indiana Jones), Jim Strain (de Bingo: Esperto pra Cachorro) e o escritor de livros infantis Greg Taylor, que reescreveriam o roteiro três vezes, até que Van Allsburg o aprovasse e Williams concordasse em protagonizar o filme. Curiosamente, Johnston não concordaria com a escolha de Williams, pois o ator tinha o hábito de não seguir as falas dos roteiros e improvisar; ao assinar o contrato, porém, Williams tranquilizaria o diretor, dizendo a ele que entendia que o filme dependia de uma estrutura coesa para funcionar. De fato, Williams gravou todas as cenas aderindo fielmente ao roteiro, algo que era um fato raro; em algumas cenas nas quais ele contracenava com Hunt, porém, o diretor autorizou que, após a cena ser gravada, eles a gravassem de novo, dessa vez com Williams e Hunt improvisando - algumas das cenas com as improvisações acabariam sendo consideradas melhores que as do roteiro, e entrariam para a versão final do filme, mas ninguém jamais revelaria publicamente quais cenas seriam essas.

Um dos principais chamarizes de Jumanji seria os efeitos especiais, que combinariam fantoches (criados pela equipe de Jim Henson, criador dos Muppets), animatronics (criados pela empresa Amalgamated Dynamics) e efeitos de computação gráfica de última geração, fornecidos pela Industrial Light & Magic, empresa fundada por George Lucas. Os efeitos criados pela ILM eram os mais modernos possíveis com a tecnologia de então, e envolveram a criação de um novo software específico para cabelos e pelos, usado, principalmente, no leão, que ficou tão perfeito que muitos não acreditaram que ele fosse 100% digital, divulgando que a Tristar usou um leão de verdade para algumas cenas - todos os animais selvagens do filme, aliás, são "falsos", criados pela equipe de efeitos especiais. Outro dos softwares que a ILM criou especificamente para o filme, chamado iSculpt, permitiu criar expressões faciais realísticas para os animais, principalmente os macacos, e é usado até hoje em filmes que tenham criaturas geradas por computação gráfica. Os efeitos especiais seriam supervisionados por Stephen L. Price, que faleceria sete meses antes da estreia do filme, ganhando uma dedicatória durante os créditos finais.

Jumanji estrearia em 15 de dezembro de 1995. Tendo custado o valor obsceno para a época de 65 milhões de dólares, rendeu um pouco mais de 100 milhões apenas nos Estados Unidos, sendo considerado um grande sucesso de público; a crítica, porém, não foi conquistada, reclamando que o roteiro era fraco, que as atuações estavam pouco inspiradas, que o filme era apenas um desfile de situações caóticas sem ligação entre si, e até mesmo que o filme era muito diferente do livro. Curiosamente, graças ao sucesso junto ao público, o filme hoje passa a impressão de ter sido um sucesso também de crítica, principalmente por ter notas altas em agregadores de reviews online.

Como o filme fez grande sucesso dentre as crianças, Jumanji daria origem a uma série animada, produzida pela Columbia Tristar Television, que teria três temporadas, totalizando 40 episódios, exibidos entre 8 de setembro de 1996 e 11 de março de 1999. No desenho, que não conta com as vozes dos atores do filme, o jogo funciona de forma um pouco diferente: a cada rodada, cada jogador recebe um enigma e é então tragado para o mundo do jogo, onde tem que solucionar o enigma para ser devolvido ao mundo real; Alan está preso há 25 anos porque se esqueceu de ler seu enigma, então não tem a menor ideia do que deve fazer para voltar. A cada episódio, Judy e Peter são levados ao mundo do jogo e tentam ajudar Alan a voltar enquanto tentam solucionar seus próprios enigmas; Sarah não está presente no desenho, ou seja, o jogo conta com apenas três jogadores. Além dos animais e perigos selvagens, o desenho conta com vilões que tentam impedir o trio de deixar o mundo de jogo, como o caçador Van Pelt, o cientista louco Professor J.S. Ibsen e o pirata Ishmael Squint.

Apesar de todo o seu sucesso, durante muitos anos ninguém pensaria em fazer uma continuação para Jumanji, principalmente porque sua história é bem fechada. Em 2012, porém, a Sony, que havia comprado a Tristar, começaria oficialmente a procurar um roteirista e um diretor para um novo filme, que, segundo os executivos do estúdio, não seria uma continuação nem uma refilmagem, e sim uma "nova versão da história, coerente com os tempos atuais". Inicialmente, o plano era lançar esse novo filme em 2015, ano no qual se completariam vinte anos do lançamento do original, mas atrasos na produção e a morte de Williams acabariam adiando as filmagens - aliás, quando a Sony anunciou o início das filmagens, em agosto de 2015, uma das principais reclamações dos fãs foi justamente que havia apenas um ano que Williams havia morrido; em uma entrevista, Pierce declararia que o novo filme era desnecessário e "um insulto" à memória do ator.

Com o título de Jumanji: Bem-Vindo à Selva (Jumanji: Welcome to the Jungle), o novo filme teria direção de Jake Kasdan e roteiro de Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner. Apesar das declarações da Sony, ele é uma continuação direta de Jumanji, começando exatamente de onde o filme original terminou. Dessa vez, Jumanji não é um jogo de tabuleiro, e sim um cartucho de videogame - apesar de muitas descrições do filme dizerem que é "um cartucho de Super Nintendo", o videogame mostrado no filme é fictício, embora o cartucho em si, os controles e os gráficos do jogo realmente sejam muito semelhantes aos do Super Nintendo. Tudo começa quando o pai do adolescente Alex Vreeke (Mason Guccione) encontra o tabuleiro original de Jumanji, descartado ao final do filme anterior. Ele o dá de presente para Alex, que não se interessa; o jogo, então, para chamar sua atenção, se transforma em um cartucho de videogame, e, ao jogá-lo, assim como Adam Parish, Alex fica preso no mundo do jogo.

Vinte anos se passam, e somos apresentados a um grupo de quatro estudantes adolescentes: o nerd Spencer Gilpin (Alex Wolff), o jogador de futebol americano Anthony "Fridge" Johnson (Ser'Darius Blain), a tímida Martha Kaply (Morgan Turner) e a superpopular Bethany Walker (Madison Iseman). Os quatro se metem em confusão, e, como costuma acontecer nas escolas norte-americanas (pelo menos nos filmes), são mandados para a detenção, onde seu castigo será separar centenas de revistas acumuladas no porão da escola para reciclagem. Durante o serviço, Fridge encontra o antigo videogame de Alex, e ele e Spencer decidem jogar, convencendo as meninas a participar também. Após escolherem seus personagens, os quatro também são transportados para o mundo do jogo.


Diferentemente, do que ocorreu com Alan no primeiro filme, ao entrar no mundo do jogo, cada jogador se transforma no personagem que escolheu. Assim, o franzino Spencer se torna o musculoso explorador Smolder Bravestone (Dwayne Johnson, também conhecido como The Rock); o grandalhão Fridge se torna o baixinho e atrapalhado zoólogo Franklin "Mouse" Finbar (o comediante de stand up Kevin Hart); a tímida e atrapalhada Martha se torna a sensual arqueóloga Ruby Roundhouse (Karen Gillan, de Doctor Who e Guardiões da Galáxia); e a linda, vaidosa e popular Bethany se vê na pele do Professor Sheldon "Shelly" Oberon (Jack Black, de Escola de Rock), a quem ela escolheu por achar que Shelly era um nome de mulher. Os quatro são levados pelo guia Nigel Billingsley (Rhys Darby) ao início da primeira fase, e deverão cumprir várias missões em sequência para concluir o jogo e conseguir retornar para suas vidas reais, o que não será nada fácil, já que o mercenário Russel Van Pelt (Bobby Cannavale), vilão do jogo, fará de tudo para impedi-los. Em determinado momento, os quatro também encontram o aviador Jefferson "Seaplane" McDonough (Nick Jonas), personagem escolhido por Alex, que está preso no jogo há vinte anos.

Jumanji: Bem-Vindo à Selva estrearia em 20 de dezembro de 2017. Assim como o primeiro filme, seria um grande sucesso de público - com orçamento de 110 milhões de dólares, renderia 404 milhões nos Estados Unidos, e quase um bilhão no mundo inteiro, se tornando o filme de maior bilheteria da Sony nos Estados Unidos (ultrapassando Homem-Aranha) e fechando o ano como o quarto filme de maior bilheteria de 2017 (atrás de Star Wars: Os Últimos Jedi, A Bela e a Fera e Mulher Maravilha, mas à frente de apostas como Homem-Aranha: De Volta ao Lar, Guardiões da Galáxia Vol. 2 e Liga da Justiça). A crítica ficou dividida, com alguns críticos elogiando as atuações e considerando o filme "uma grata surpresa", enquanto outros o consideraram desnecessário, entediante e uma prova de que o "canibalismo" de Hollywood (no sentido de que não há mais filmes originais, só reboots, sequências e adaptações) atingiu seu ápice.

Apesar de o filme ter um final fechado, Johnson, Black e Jonas, em entrevistas, falaram sobre a possibilidade de uma sequência (chamada, informalmente, de "Jumanji 3"), e Gillan chegou a declarar que o roteiro previa um final alternativo, que tornaria clara a possibilidade da sequência. A Sony não confirma nem nega, mas boatos dão conta de que Kasdan já teria assinado para dirigir, com Rosenberg e Pinkner escrevendo o roteiro, e com Johnson, Black, Hart e Gillan já tendo assinado para repetir seus papeis; caso isso seja verdade, a data de lançamento prevista é 13 de dezembro de 2019.

Antes de finalizar, vale falar um pouquinho sobre Zathura: Uma Aventura Espacial (Zathura: A Space Adventure), que estreou em 11 de novembro de 2005, e é considerado o "sucessor espiritual" de Jumanji, com sua campanha de marketing tendo usado frases como "uma nova aventura no mundo de Jumanji" - embora os eventos de Jumanji não sejam citados em momento algum do filme. Assim como Jumanji, Zathura é inspirado em um livro infantil de Van Allsburg, no qual, mais uma vez, dois irmãos encontram um jogo de tabuleiro que afeta suas vidas a cada jogada - mas as semelhanças com Jumanji param por aí.

Em Zathura os irmãos Walter (Josh Hutcherson, de Jogos Vorazes) e Danny (Jonah Bobo) são deixados em casa, sob os cuidados de sua irmã mais velha, Lisa (Kristen Stewart, a Bella de Crepúsculo), por seu pai, o Sr. Budwing (Tim Robbins, de Um Sonho de Liberdade), que precisa ir a uma reunião de negócios. Danny encontra no porão um antigo jogo de tabuleiro chamado Zathura, de temática espacial, e convence Walter a jogar com ele enquanto Lisa está dormindo trancada no quarto. Quando o jogo começa, a casa dos Budwing sai voando pelo espaço, e, a cada nova casa alcançada pelos peões dos irmãos, um perigoso evento ocorre, como uma chuva de meteoros, uma invasão alienígena, um robô assassino ou um astronauta clandestino (Dex Shepard). A única saída para os irmãos, que não se dão bem, é trabalhar em conjunto para evitar os perigos e chegar ao final do jogo, quando, assim como em Jumanji, tudo voltará ao normal.

Zathura foi dirigido por Jon Favreau (de Homem de Ferro), que preferiu usar efeitos especiais à moda antiga, com modelos, maquiagem e animatronics, ao invés de efeitos de computação gráfica, não somente para que o filme ficasse com um aspecto mais realístico, mas para que os jovens atores se sentissem mais envolvidos com as cenas. Os efeitos ficariam a cargo de Stan Winston, uma lenda dos efeitos especiais, exceto os poucos de computação gráfica - como o buraco negro e a chuva de meteoros - que seriam criados pela Sony Pictures Imageworks. Diferentemente do que ocorreu com Jumanji, o filme foi um sucesso de crítica, sendo considerado inovativo e divertido, mas um grande fracasso de público - com orçamento de 65 milhões de dólares, rendeu menos de 30 nos Estados Unidos, e um pouco mais de 64 quando considerado o mundo inteiro, ou seja, nem se for considerado o rendimento total ele se pagou. Na avaliação da Sony, a conexão com Jumanji acabou sendo um tiro no pé - de fato, em um grupo de avaliação conduzido pelo estúdio, um dos entrevistados definiu o filme como "Jumanji no espaço e sem Robin Williams".

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