segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Escrito por em 21.11.16 com 0 comentários

Nick Fury

Dos dez primeiros super-heróis lançados pela Marvel - começando pelo Quarteto Fantástico, sem contar o Capitão América, Namor, o Tocha Humana original e outros "herdados" de suas antecessoras - eu já falei aqui no átomo sobre nove. Como o post 700 está chegando, e eu dou valor a marcas simbólicas, resolvi falar do que estava faltando antes disso. Hoje, portanto, é dia de Nick Fury no átomo!


Fury é hoje mais conhecido como o ex-diretor da S.H.I.E.L.D., a agência de espionagem oficial do Universo Marvel. O que muitos não sabem, entretanto, é que ele não foi criado originalmente para ser um espião, e sim para ser um soldado, protagonista de uma revista ambientada durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos que ficam sabendo dessa informação concluem que Fury é da mesma época que o Capitão América, e que sua "revista original", assim como a do Capitão, era publicada durante a Guerra. Isso, entretanto, também não é verdade: Fury é muito mais recente, tendo sido criado por Stan Lee e Jack Kirby apenas em 1963.

A primeira revista de Fury, aliás, seria criada graças a uma aposta entre Lee e o editor da Marvel na época, Martin Goodman. Goodman teria dito a Lee que a qualidade das histórias criadas por ele, como as do Quarteto Fantástico, Hulk, Homem-Aranha, Thor e Homem de Ferro, nem era boa, e que as revistas só vendiam porque ele insistia em colocar palavras como "fantástico", "espetacular", "incrível" e outras do tipo em seus títulos, que chamavam a atenção dos leitores e faziam com que eles quisessem comprá-las. Lee achou isso um disparate, e retrucou que ele e Kirby poderiam fazer uma revista de qualquer estilo, com qualquer título, que ela teria a mesma vendagem. Para provar, ele apostaria com Goodman que ele e Kirby escreveriam uma revista ambientada na Segunda Guerra Mundial - o estilo que tinha justamente a pior vendagem no início da década de 1960 - com o pior título que ele conseguisse inventar, sem nenhum adjetivo presente, e, se ela não tivesse a mesma vendagem das demais revistas da Marvel, ele cobriria os custos do lançamento de seu bolso. Não tendo nada a perder, Goodman, evidentemente, aceitou.

Kirby ficaria empolgadíssimo quando Lee lhe contasse sua ideia, porque, curiosamente, já estava há algum tempo querendo trabalhar em uma revista em quadrinhos de guerra. Veterano da Segunda Guerra Mundial, Kirby adorava desenhar histórias deste estilo, e sempre contribuía para as situações e para a aparência e comportamento dos personagens usando como base suas próprias experiências da época e as pessoas que conheceu enquanto serviu. No final da década de 1950, inclusive, Kirby teria abordado o também desenhista John Severin, e lhe proposto parceria em uma tira de jornal ambientada na Segunda Guerra Mundial, protagonizada por um sargento durão que estava sempre com um charuto na boca e comandava um esquadrão formado por párias e desajustados. Severin não se interessaria e a ideia de Kirby não iria para a frente, mas, evidentemente, quando Lee lhe contasse sobre a aposta, ele aproveitaria para usar todos os personagens que havia criado na época.

Assim, surgiria a revista Sgt. Fury and his Howling Commandos, cujo primeiro número seria lançado em maio de 1963. Segundo Lee, o título teria sido criado propositalmente para ser o mais longo de todas as revistas publicadas pela Marvel - tendo o dobro de palavras normalmente usadas nos demais - sem nenhum adjetivo de impacto, e ainda sendo meio ridículo: Sgt. Fury, evidentemente, se referia ao nome do líder do esquadrão, o Sargento Nicholas "Nick" Fury, mas, embora Fury seja um sobrenome que realmente existe na língua inglesa, esse nome ("sargento fúria") teria sido escolhido para brincar com o estereótipo de que todo sargento em histórias de guerra tem de ser brigão e irascível; já Howling Commandos (os "comandos barulhentos", traduzido no Brasil como "Comando Selvagem") seria uma brincadeira com o nome de um esquadrão que realmente existiu na Segunda Guerra, os Screaming Eagles ("águias que gritam"), do qual Lee adorava a sonoridade.

Servindo sob as ordens do Capitão Samuel "Happy Sam" Sawyer, o Comando Selvagem era baseado na Inglaterra, mas lutava em missões por toda a Europa. Além de Fury, o sargento durão que estava sempre com um charuto na boca e de mau humor, o esquadrão era composto por Timothy Aloysius Cadwallader "Dum Dum" Dugan, ex-homem forte de circo, que se alistou porque prefere lutar na Guerra a ter de conviver com a esposa e a sogra; Isadore "Izzy" Cohen, especialista em mecânica e primeiro herói dos quadrinhos declaradamente judeu; Gabriel "Gabe" Jones, primeiro soldado negro a fazer parte do mesmo esquadrão que soldados brancos em uma revista em quadrinhos sobre a Segunda Guerra Mundial; Dino Manelli, ator nascido na Itália que decidiu se alistar e lutar pelos Estados Unidos para "retribuir tudo o que o país lhe deu", e que atuava como intérprete do grupo, já que era fluente em italiano e alemão; Robert "Rebel" Ralston, ex-jóquei; e Jonathan "Junior" Juniper, o mais jovem da equipe. Na edição 8, de julho de 1964, eles ganhariam o reforço do britânico Percival "Pinky" Pinkerton, e na 27, de fevereiro de 1966, o alemão desertor Eric Koenig também se uniria à equipe.

Lee ganharia a aposta, já que Sgt. Fury and his Howling Commandos seria um grande sucesso desde seu primeiro número, atribuído, principalmente, à sua ousadia - tão grande que, na primeira edição, Gabe era branco, não por decisão da Marvel, mas porque a gráfica que imprimia as revistas simplesmente não acreditou que um esquadrão composto majoritariamente por brancos pudesse ter um integrante negro; foi preciso enviar um memorando junto com o pedido da segunda edição para reforçar que o personagem era negro e deveria ser impresso usando a cor correta (reimpressões posteriores da primeira edição teriam Gabe negro como era o desejado pela Marvel). Outro ato de grade ousadia ocorreu na edição 4, de novembro de 1963, quando Junior seria morto em combate, algo que simplesmente não acontecia com os heróis nas revistas da época - nem mesmo em revistas de guerra - o que deu à Marvel uma grande publicidade e aumentou ainda mais as vendas da revista; um crítico de jornal chegou a publicar que, após a morte de Junior, os leitores frequentemente se perguntavam quem poderia ser o próximo, o que removeu um dos pilares fundamentais dos quadrinhos, o de que você sabe que, não importa o que ocorrer ao o herói, ele se salvará no final.

Sgt. Fury and his Howling Commandos durou impressionantes 167 edições - algo que poucas revistas de super-heróis da época conseguiu, e que, com certeza, ninguém imaginava que uma revista de quadrinhos de guerra conseguiria - com a última sendo publicada somente em dezembro de 1981. Lee e Kirby fariam apenas as sete primeiras edições, sendo substituídos em seguida, respectivamente, por Roy Thomas e Dick Ayers. Thomas ficaria até a edição 44, sendo substituído a partir da 45 por Gary Friedrich, mas Ayers desenharia todas as edições a partir da 8, exceto pela 13 (que teve um breve retorno de Lee e Kirby), a 44 e a 45 (desenhadas por Severin), a 57 (por Tom Sutton) e a 92 (por Herb Trimpe). A revista teria ainda sete edições anuais, sendo que na Sgt. Fury and his Howling Commandos Special King Size Annual 1, de outubro de 1965, o esquadrão volta a se reunir anos depois para uma missão na Guerra da Coreia; na 2, de agosto de 1966, eles lutam nada menos que em meio às tropas que chegam na Normandia no Dia D; na 3, de agosto de 1967, eles são novamente reunidos para uma missão na Guerra do Vietnã; e na 4, de agosto de 1968, eles lutam na Batalha das Ardenas; sendo os três outros anuais compostos por reimpressões de histórias antigas.

Fury logo se tornaria um dos personagens mais queridos pelos leitores da Marvel e um dos preferidos de Lee, que, apesar disso, tinha um dilema: como suas histórias eram extremamente específicas, não somente ambientadas na Segunda Guerra, mas também com ele sendo um sargento do exército, era quase impossível fazer com que ele interagisse com os demais personagens da editora, para poder aproveitar sua popularidade em outros títulos - o máximo que ele havia conseguido foi fazer com que eles tivessem a ajuda do "Oficial de Serviços Estratégicos Redd Richards" (o futuro Senhor Fantástico) na edição 3, de setembro de 1963, e um encontro com o Capitão América na 13, de dezembro de 1964. Na época, porém, a Segunda Guerra Mundial não estava tão distante da "época atual" quanto hoje, de forma que era relativamente simples introduzir no Universo Marvel uma nova versão de Fury, o que Lee faria em Fantastic Four 21, de dezembro de 1963, na qual um Nick Fury vinte anos mais velho faz uma pequena participação, como um agente da CIA que pede a ajuda do Quarteto Fantástico para derrotar o Monge do Ódio. Vale dizer também que a principal marca registrada de Fury, o tapa-olho, não existia na época do Comando Selvagem, tendo sido adicionado por Kirby para a Fantastic Four 21, como que em uma justificativa de por que ele teria deixado o exército.

A transição de soldado do exército para agente secreto do governo não era nada forçado - aliás, acontece muito na vida real - e o "novo" Nick Fury seria tão bem recebido pelos leitores quanto o original. Assim, Lee aproveitaria a moda dos agentes secretos, que, liderados por James Bond, estavam invadindo os cinemas, a TV e a literatura, para transformar o próprio Fury em um agente secreto da época da Guerra Fria, com direito a traquitanas como canetas laser e carros voadores, uma organização paramilitar maligna devotada a conquistar o mundo (a Hidra) e até mesmo uma agência de proteção global cujo nome era um acrônimo, a S.H.I.E.L.D. - palavra que, em inglês, significa "escudo", mas que acabaria sendo a (forçada) sigla para Supreme Headquarters International Espionage Law-enforcement Division, a "divisão de aplicação da lei e espionagem do quartel-general supremo internacional" (adaptada em português para "superintendência humana de intervenção, espionagem, logística e dissuasão", vocês decidem qual é a pior).

Cabe um parêntese aqui para dizer que, em 1991, com o fim da Guerra Fria, o significado da sigla mudaria para Strategic Hazard Intervention Espionage Logistics Directorate, o "diretório para intervenção estratégica de riscos e logística de espionagem", e que os filmes para o cinema e as séries de TV da Marvel, a partir de Homem de Ferro, usam o significado Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division, "divisão nacional estratégica de intervenção, controle da lei e logística"; em ambos os casos, a adaptação para o português se manteve a mesma, mas, recentemente, tem sido usada também a "serviço hipersecreto de inteligência, execução da lei e defesa", mais semelhante ao usado nos filmes em inglês.

Enfim, com o nome de Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D., a "versão James Bond" de Nick Fury faria sua estreia na revista Strange Tales 135, de agosto de 1965, substituindo o Tocha Humana na publicação que dividia com o Doutor Estranho - aliás, é necessário dizer que, ao contrário do que muitos pensam, o Nick Fury da S.H.I.E.L.D. não substituiu o do exército, já que a Sgt. Fury and his Howling Commandos ainda seria publicada por muitos anos após sua estreia na Strange Tales; isso fez com que, durante um longo período, Fury fosse um dos poucos personagens dos quadrinhos a protagonizar duas revistas diferentes com cada uma mostrando uma época distinta da sua vida (sendo o exemplo mais famoso o do Super-Homem, que protagonizava algumas revistas ambientadas na "época atual" e pelo menos uma no passado, na qual aparecia mais jovem e com o nome de Superboy).

Fury, agora Coronel, seria não somente um agente qualquer seguindo ordens da S.H.I.E.L.D., mas sim o diretor da agência, sediada em um "aeroporta-aviões", que, como o nome sugere, é um porta-aviões voador, criado por Kirby. Dum Dum e Gabe foram reaproveitados das histórias anteriores e também se tornaram agentes da S.H.I.E.L.D. sob o comando de Fury, e novos personagens foram introduzidos, como o certinho e caxias Jasper Sitwell e a corajosa Sharon Carter, codinome Agente 13. Além de um grande contingente de agentes secretos, a S.H.I.E.L.D. ainda contava com androides de inteligência limitada, oficialmente chamados Modelos de Vida Artificial (MVA), usados principalmente para substituir os agentes mais graduados quando eles podiam ser alvo de atentados - o próprio Fury, mais de uma vez, seria "morto", apenas para depois todo mundo descobrir que se tratava de um MVA.

Lee e Kirby mais uma vez foram os responsáveis pelas primeiras histórias de Fury, dessa vez ficando com o personagem até a edição 150; a partir da Strange Tales 151, o novato Jim Steranko, que havia acabado de chegar à Marvel, ficaria responsável por Fury, acumulando as funções de roteirista, desenhista e arte-finalista. Apesar do que muitos poderiam concluir, Steranko criou uma fase memorável das histórias de Fury - para muitos, de todos os heróis Marvel, e possivelmente da história dos quadrinhos. Sob seu comando, as histórias de Fury incluíram elementos de psicodelia, arte óptica e fotomontagem; os roteiros não deixavam nada a dever para um filme de Bond, com a presença de suspense, intriga e até mesmo sensualidade, por parte principalmente da Condessa Valentina de Fontaine, agente da S.H.I.E.L.D. e "Bond Girl" de Fury (Fury Girl?), sempre aparecendo em trajes sensuais e com penteados glamourosos típicos da época. Uma das maiores proezas de Steranko, aliás, talvez tenha sido colocar tudo o que inventava em conformidade com o determinado pelo Comics Code Authority, comitê que ditava o que podia ou não ser mostrado nos quadrinhos, e frequentemente implicava com armas de fogo e moças sensuais, mas, da forma como Steranko fazia, eles não tinham como alegar que seu código estava sendo desrespeitado.

Fury ficaria na Strange Tales até a edição 168, de maio de 1968; na época, seu sucesso era tanto que justificaria o lançamento de sua própria revista, a Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D., no mês seguinte. Steranko faria as três primeiras edições e mais a de número 5; diversos outros roteiristas e desenhistas, como Roy Thomas, Archie Goodwin, Frank Springer e Barry Windsor-Smith ficariam responsáveis pelas demais edições. A revista seria publicada até a edição 18, de março de 1971, mas as três últimas edições seriam republicações das histórias da época da Strange Tales; depois disso, devido a baixas vendas, seria cancelada, e Fury voltaria a protagonizar apenas a Sgt. Fury and his Howling Commandos.

Como agente da S.H.I.E.L.D., entretanto, Fury continuaria fazendo participações especiais em outras revistas da Marvel, principalmente na Fantastic Four e na Avengers. Conforme o tempo passava, muitos leitores questionavam como ele podia continuar com a mesma aparência (algo que, curiosamente, ninguém dizia, por exemplo, do Tony Stark), o que levou o roteirista Jim Starlin e o desenhista Howard Chaykin a criarem uma das mais famosas histórias de Fury, publicada na Marvel Spotlight 31, de dezembro de 1976; nela, é revelado que, na época da Segunda Guerra, Fury foi voluntário para ingerir um soro experimental conhecido como Fórmula do Infinito, que retarda seu envelhecimento.

Fury permaneceria restrito a participações especiais por mais de dez anos, até que, em 1988, a Marvel decidiria relançar a Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D.. Para sondar o mercado antes, ela lançaria uma minissérie em 6 edições, Nick Fury vs. S.H.I.E.L.D., entre junho e novembro de 1988, que contava as origens da S.H.I.E.L.D., como Fury foi recrutado, e sua carreira até chegar a diretor, com roteiro de Bob Harras e arte de Paul Neary. Como a minissérie teve boa vendagem, a nova Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D. seria lançada m setembro de 1989. Essa segunda versão da revista teria vida razoavelmente longa, durando 47 edições, a última lançada em maio de 1993, e tendo como principal saga The Deltite Affair, na qual a maior parte dos agentes da S.H.I.E.L.D. é substituída por MVAs, em uma tentativa da Hidra de tomar a agência.

Curiosamente, o editor da Marvel na época, Ralph Macchio (que não é o Daniel-san de Karate Kid, mas um homônimo), não ficou satisfeito com a história mostrada em Nick Fury vs. S.H.I.E.L.D., achando que a organização merecia uma origem melhor; diante disso, ele encomendaria uma nova história de origem ao roteirista Barry Dutter e ao desenhista Chris Ivy, que seria publicada em maio de 1994 na edição especial Fury, que revelava que os eventos de Nick Fury vs. S.H.I.E.L.D. eram memórias falsas implantadas pela Hidra, para distrair Fury de um plano com o qual tentavam ressuscitar seu antigo líder, o Barão von Strucker. Fury seria seguida de uma nova minissérie, Fury of S.H.I.E.L.D., em 4 edições lançadas entre abril e julho de 1995, escrita por Howard Chaikin e desenhada por Mark McKenna, "atualizando" Fury para a década de 1990 - ou seja, com músculos exagerados, violência sem sentido e mulheres gostosonas. Nada surpreendentemente, essa minissérie foi um fracasso de vendas.

Em 1995, ocorreria a saga Over the Edge, que teria histórias publicadas nas revistas Daredevil, Ghost Rider, The Incredible Hulk e Doctor Strange. A saga começaria na edição especial Double Edge: Alpha, na qual Frank Castle, o Justiceiro, é finalmente capturado pela S.H.I.E.L.D. (apesar de para os leitores ele ser um herói, a organização o considera um criminoso devido a seus atos) e levado para uma instalação de segurança máxima, na qual terá tratamentos de hipnose com o Dr. Samson para tentar mudar de vida. Um vilão chamado Spook, porém, interrompe uma dessas sessões, e, com Castle ainda hipnotizado, sugere que a ordem para matar sua família veio de Nick Fury. Castle, então passa a caçar Fury, e o mata na edição especial que encerra a saga, Double Edge: Omega. Fury passaria os três anos seguintes oficialmente morto, até que, na minissérie Fury / Agent 13, lançada em duas edições em junho e julho de 1998, é revelado que o Justiceiro, na verdade, "matou" um MVA, e Fury estava escondido este tempo todo, tentando encontrar Spook. Com a ajuda da Agente 13, ele derrota o vilão e é reintegrado ao Universo Marvel.

Fury também co-estrelaria duas edições especiais ao lado de Wolverine, Wolverine & Nick Fury: The Scorpio Connection, de janeiro de 1989, e Wolverine & Nick Fury: Scorpio Rising, de janeiro de 1994, nas quais os heróis investigavam o reaparecimento de um antigo vilão criado por Steranko. Em fevereiro de 1995, Fury viveria aventuras em duas edições especiais ao lado de dois outros heróis: Nick Fury / Black Widow: Death Duty, com a Viúva Negra, e Captain America / Nick Fury: Blood Truce, com o Capitão América. Ele voltaria a se reunir com o Capitão em Captain America / Nick Fury: The Otherworld War, de outubro de 2001, ambientado na época da Segunda Guerra Mundial.

Fury passaria os anos seguintes sem revista própria, mas com um papel essencial no Universo Marvel. Em 2004, na minissérie em cinco edições Guerra Secreta, ele reuniria Capitão América, Homem-Aranha, Demolidor, Wolverine, Luke Cage e Viúva Negra em uma equipe para invadir a Latvéria, que, sob o comando de Lucia von Bardas, planejava atacar os Estados Unidos. A missão seria bem sucedida, mas a Latvéria revidaria, o que faria com que o governo considerasse Fury responsável e o afastasse da direção da S.H.I.E.L.D., na qual ele seria substituído primeiro pela agente Maria Hill, depois por Tony Stark. Para não ser preso, ele desapareceria, se abrigando em uma base secreta da S.H.I.E.L.D. da qual apenas os agentes mais graduados tinham conhecimento.

Fury retornaria do exílio em 2008, durante a saga Invasão Secreta, na qual é revelado que Skrulls substituíram vários heróis Marvel durante anos sem que ninguém desconfiasse. Com a ajuda da ex-agente da S.H.I.E.L.D. Daisy Johnson, codinome Tremor (por ter o poder de causar terremotos), ele montaria uma equipe chamada Guerreiros Secretos, composta por Tremor; Yolanda "Yo-Yo" Rodriguez, codinome Estilingue, com o poder da supervelocidade; Sebastian Druid, codinome Druida, filho do Dr. Druida e com alguns poderes mágicos; J.T. James, codinome Infernal, sobrinho do Cavaleiro Fantasma e também com alguns poderes mágicos; Jerry Sledge, codinome Muralha, com o poder de aumentar de tamanho ganhando força e vigor equivalentes; e Alexander Aaron, codinome Phobos, de dez anos de idade, filho do deus Ares com uma humana, capaz de manipular o medo das pessoas. Essa equipe teria papel fundamental durante a Invasão Secreta, e depois ganharia sua própria revista, Secret Warriors, na qual, liderados por Fury e baseados em uma instalação supersecreta, realizavam missões principalmente contra antigos inimigos da S.H.I.E.L.D., como a Hidra e a IMA, além de ter importante participação nas sagas Reinado Sombrio e O Cerco. Com roteiros de Brian Michael Bendis e Jonathan Hickman e arte de Stefano Caselli e Ed McGuiness, dentre outros, a Secret Warriors duraria 28 edições, sendo publicada entre abril de 2009 e agosto de 2011.

Durante a saga Cicatrizes de Batalha, de 2012, é revelado que o agente da S.H.I.E.L.D. Marcus Johnson é, na verdade, filho de Fury. Johnson perde um olho durante os eventos da saga, e passa a usar um tapa-olho como o pai. Ao fim da saga, Fury decide se aposentar e deixar a S.H.I.E.L.D. de uma vez por todas; Johnson assume seu lugar, se tornando o novo diretor e passando a usar o nome de Nick Fury, Jr.

Fury retornaria durante a saga Pecado Original, de 2014, na qual uma equipe composta por Pantera Negra, Emma Frost, Dr. Estranho e o Justiceiro está investigando a morte do Vigia, o ser místico que observa todos os acontecimentos do Universo Marvel. Eles acabam encontrando um Fury extremamente envelhecido, que lhes revela que o efeito da Fórmula do Infinito finalmente está passando, o que fará com que ele envelheça rapidamente até alcançar a idade que realmente teria se não a tivesse tomado. Ele é salvo de morrer de velhice justamente porque confessa que matou o Vigia, segundo ele, em legítima defesa, e como punição, é transformado no substituto do Vigia, condenado a passar o resto da eternidade na Lua, apenas observando, sem jamais poder interferir.

Para terminar, vale citar uma grande curiosidade da história de Fury: até o ano passado, a Marvel tinha um selo chamado Ultimate, que publicava histórias de diversos de seus heróis ocorridas em um universo paralelo, no qual eles ganharam seus poderes e começaram suas carreiras não na década de 1960, mas em 2000, ano no qual o selo foi lançado. O Universo Ultimate, como ficou conhecido, tinha versões alternativas do Homem-Aranha, do Quarteto Fantástico, dos X-Men e dos Vingadores, que, nesse Universo, se chamavam Supremos (The Ultimates no original em inglês). Compostos por Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hulk, Gigante, Vespa, Gavião Arqueiro e Viúva Negra, os Supremos foram reunidos pelo General Nick Fury da S.H.I.E.L.D. para ser a última linha de defesa da Terra contra ameaças que somente super-heróis poderiam deter - em sua primeira missão, por exemplo, eles impedem uma invasão dos alienígenas Chitauri.

Cada personagem no Universo Ultimate possui diferenças, tanto de aparência quanto de personalidade, em relação aos "originais" do Universo Marvel - Tony Stark, por exemplo, possui um tumor inoperável no cérebro, e sua armadura tem uma espécie de fluido viscoso dentro que facilita a comunicação entre seu corpo e os sistemas eletrônicos. A diferença do Nick Fury do Universo Ultimate para o original é que o do Ultimate é negro. Aliás, negro, careca e extremamente parecido com o ator norte-americano Samuel L. Jackson. Ao contrário do que muitos pensam, isso não foi feito porque Jackson interpreta Fury nos filmes para o cinema da Marvel, já que o personagem surgiu em 2001, e o primeiro filme com a participação de Fury, Homem de Ferro, é de 2008; a semelhança, entretanto, foi mesmo proposital, e criada pelo artista Bryan Hitch, fã de Jackson, com permissão dos roteiristas Mark Millar (responsável pela revista The Ultimates) e Brian Michael Bendis (criador e mentor do Universo Ultimate) - vale citar, aliás, que, em sua primeira aparição, na revista Ultimate Marvel Team-Up 5, de agosto de 2001, com roteiro de Bendis e arte de Mike Allred, Fury já era negro (o que foi definido por Bendis), mas tinha cabelo e não se parecia tanto com Jackson; somente na The Ultimates 1, de fevereiro de 2002, com roteiro de Millar e arte de Hitch, é que ele se tornaria sósia do ator.

Pois bem, havendo um Nick Fury nos quadrinhos que era a sua cara, Jackson era a escolha óbvia para interpretar o personagem no cinema, e, ao contrário do que acontece nesses casos (ou seja, os fãs mais puristas reclamam sem parar, vide por exemplo a escolha de Michael B. Jordan para interpretar o Tocha Humana), sua versão do personagem foi extremamente bem recebida - tanto que, quando ficou definido que a linha Ultimate seria cancelada, a Marvel passou a procurar uma saída para que o Fury original também se parecesse com Jackson. Como era meio tarde para fazer com que ele se tornasse negro e torcer para ninguém reparar, a saída foi introduzir um novo Nick Fury no Universo Marvel.

E esse novo Nick Fury é, adivinhem, Marcus Johnson, que também é negro, careca, e, desde 2014, se parece com Samuel L. Jackson. Como ele mudou seu nome para Nick Fury, Jr., a Marvel agora tem um Fury parecido com Jackson também no Universo Marvel original. E depois dizem que já não existe criatividade nos quadrinhos.

0 Comentários:

Postar um comentário