segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Escrito por em 28.9.15 com 0 comentários

World Games (III)

E hoje teremos mais um post da série sobre os World Games, com mais dois eventos!

Londres 1985

O WGC considerou os primeiros World Games, realizados em Santa Clara, Estados Unidos, um grande sucesso. Já tendo tido sua primeira experiência com o evento, e sabendo quais pontos tinham de ser mantidos e quais melhorados, a entidade passou por uma grande reformulação, após a qual deixaria de ser uma subsecretaria da GAISF e passaria a ser um órgão em separado, sem qualquer relação com a GAISF ou o COI - mas ainda com direito a um representante em cada um deles - chamado International World Games Association, a "Associação Internacional dos Jogos Mundiais", ou IWGA. Com tudo nos eixos, começaria a escolha da sede para a segunda edição do evento, marcada para 1985.

Mas, como os World Games ainda eram desconhecidos de grande parte do público, a IWGA se viu com uma enorme dificuldade para encontrar candidatas. Praticamente todas as cidades abordadas declararam não ter interesse em sediar o evento, temerosas de ter de investir dinheiro em uma competição que, provavelmente, não teria o retorno financeiro esperado. Alugar outra sede, como havia sido feito em 1981, estava fora de cogitação, pois esse método já havia se mostrado mais dispendioso do que os cofres da IWGA conseguiam suportar. A salvação para 1985 acabaria vindo, mais uma vez, através do West Nally Group.

Recapitulando, como teve de alugar as instalações da Universidade de Santa Clara para os World Games de 1981, o WGC acabou gastando todo o dinheiro reservado para o evento antes do esperado. Para que o mesmo não tivesse de ser cancelado em meio às competições, o West Nally Group, empresa de marketing esportivo contratada para fazer a promoção dos primeiros World Games, ofereceria um acordo: eles forneceriam todo o dinheiro necessário, e, em troca, ficariam com os direitos de exploração comercial das edições seguintes dos World Games pelos próximos dez anos. Sem vislumbrar outra saída, o WGC aceitou.

Pois bem, acontece que, se a edição de 1985 fosse cancelada por falta de uma sede, provavelmente não existiriam "edições seguintes" dos World Games para que o West Nally Group pudesse explorar comercialmente. Para evitar que isso acontecesse, a empresa decidiria levar o evento para a cidade onde ficava sua sede: Londres, capital da Inglaterra.

Talvez porque estivesse tentando garantir o seu, o West Nally Group fez, de fato, um excelente trabalho. Para começar, conseguiu, nos mesmos moldes dos World Games de 1981, o aluguel dos dormitórios de uma universidade, a Royal Holloway College, para servir de alojamento para os atletas durante a duração das competições. Além disso, o grupo conseguiria um acordo com um canal de televisão, o Channel 4, que filmou todas as competições, transmitindo-as não somente para o Reino Unido, mas também para diversos outros países europeus. Infelizmente, porém, essa transmissão não seria ao vivo, com alguns eventos sendo transmitidos em VT e outros aparecendo incompletos apenas como parte de um programa no estilo "o melhor do dia".

Curiosamente, apesar disso, a promoção do evento, mais uma vez, foi ineficiente, e a maioria dos londrinos sequer sabia que estava ocorrendo um evento de grande porte em sua cidade. Mas, graças à promoção internacional, feita pelas federações nacionais dos esportes do programa, principalmente na Itália e na Alemanha Ocidental, um grande número de turistas compareceu a Londres para assistir as provas, que contaram sempre com bom público - apesar de uma chuva constante que atrapalhou várias das competições realizadas a céu aberto, especialmente as de cabo de guerra. Diferentemente do que ocorreu em 1981, devido a uma limitação de espaço físico nos dormitórios da Royal Holloway College, os atletas só puderam permanecer instalados durante o tempo em que estivessem competindo, o que fez com que muitos deles não pudessem assistir aos eventos de seus colegas; ainda assim, os atletas demonstraram seu apoio fazendo questão de prestigiar todos os eventos que puderam enquanto estiveram na cidade.

Os World Games de 1985 seriam realizados entre 25 de julho e 4 de agosto, e contariam com a presença de 1.550 atletas de 42 nações, incluindo o Brasil, que enviou apenas sua equipe de punhobol masculino, que terminou a competição em quarto lugar. O programa contou com 134 provas de 22 esportes: boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, ginástica de trampolim, hóquei sobre patins, netbol, patinação artística, patinação em velocidade, pesca esportiva, powerlifting, punhobol, raquetebol, salvamento, sambô, softbol, taekwondo e tiro com arco (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Assim como havia feito com a FINA em 1981, para 1985 a IWGA fez um acordo com a FIM, a Federação Internacional de Motociclismo. Apesar de ser filiada ao COI, devido a um artigo da Carta Olímpica que diz que nenhum esporte olímpico pode ser motorizado, a FIM sequer pode pedir a inclusão do motociclismo nas Olimpíadas; a IWGA a convidou para se filiar a ela, mas a FIM não aceitou, aceitando, porém, incluir duas modalidades do motociclismo como esportes convidados para aquela edição dos World Games: o motocross, aquela modalidade na qual as motos são leves e competem em uma pista de terra cheia de rampas e saltos; e o speedway, disputado por motos sem marchas nem freios em uma pista oval do tamanho de uma pista de atletismo.

Ao invés de realizar as competições nas instalações esportivas da universidade, como em 1981, o West Nally Group optaria por alugar três das mais importantes instalações esportivas de Londres. A cerimônia de abertura, por exemplo, aconteceria na belíssima Wembley Arena, localizada ao lado do Estádio de Wembley, e que já havia sido utilizada nas Olimpíadas de 1948, quando sediou o boxe, a natação, os saltos ornamentais e o polo aquático - em 2012, ela voltaria a ser usada em uma Olimpíada, desta vez sediando o badminton e a ginástica rítmica. Em 1985, além da abertura, a Wembley Arena sediaria as competições de caratê, corfebol, fisiculturismo, ginástica, hóquei sobre patins, netbol, patinação artística, sambô e taekwondo. As competições de boules, cabo de guerra, finswimming, motociclismo, patinação em velocidade, powerlifting, salvamento e softbol ocorreriam no complexo esportivo Crystal Palace National Sports Centre. Já o tiro com arco e o punhobol seriam realizados no Copthall Stadium - hoje conhecido como Allianz Park e sede de um dos mais importantes times de rugby da Inglaterra, os Saracens. As demais competições esportivas seriam espalhadas pela cidade, com, inclusive, algumas, como a pesca esportiva, recebendo críticas da própria IWGA devido à distância de seus locais de competição em relação aos três principais.

Para conseguir fundos suficientes para alugar essas instalações de renome, o West Nally Group recorreria a um patrocinador, o japonês Ryoichi Sasakawa, fanático por esportes e presidente da Nipponzaidan, empresa construtora de navios de grande porte. Anualmente, a Nipponzaidan realizava uma corrida de barcos cuja renda era integralmente revertida para associações filantrópicas, da qual o West Nally Group também cuidava da área de marketing esportivo. Sasakawa concordaria em investir uma enorme quantidade de dinheiro nos World Games de 1985 sem pedir nada em troca; como agradecimento, a IWGA permitiria que ele criasse frases motivacionais (ao estilo de "o importante é competir"), que seriam cunhadas no verso das medalhas do evento, substituindo os pictogramas presentes na edição anterior. Sasakawa ficaria tão satisfeito com a experiência que, em 1991, fundaria a Sasakawa Sports Foundation, fundação mantida com o dinheiro da Nipponzaidan dedicada a promover a prática esportiva dentre jovens do mundo inteiro.

O primeiro lugar do quadro de medalhas dessa edição ficaria com a Itália, graças, principalmente, a seus atletas do salvamento - competição disputada por salva-vidas, que simula situações de perigo nas quais eles devem realizar resgates ou efetuar procedimentos: Roberto Bonnani conseguiria quatro ouros e um bronze; Angela Cantaneli conquistaria dois ouros, uma prata e um bronze; Monica Negro teria dois ouros e uma prata; Mauro Bertolini ficaria com um ouro e uma prata; e as equipes masculina e feminina ainda conseguiriam os dois ouros dos revezamentos - no total, a Itália ganharia 11 dos 12 ouros em disputa, só não conquistando o ouro feminino dos 100 metros carregando manequim com nadadeiras, conquistado por Concepción Escatlar, da Espanha.

Os dois atletas com mais medalhas de ouro em 1981 aumentaram ainda mais seu plantel: o norte-americano Steve Rajeff, da pesca, ganhou mais dois ouros e duas pratas; já Jurgen Kolenda, da Alemanha Ocidental, ganharia mais seis medalhas de ouro no finswimming (50 m AP, 100 m IM, 100 m SF, 200 m SF, 400 m SF e os revezamentos 4 x 100 m SF e 4 x 200 m SF), se tornando o atleta com o maior número de medalhas de ouro nos World Games até hoje, com 10. No feminino, a mais bem sucedida atleta do finswimming foi Eva Fabo, da Hungria, que terminou com dois ouros (200 m SF e 400 m SF), uma prata (800 m SF) e um bronze (100 m SF). Também merece destaque o francês Patrice Martin, do esqui aquático, que havia sido ouro em 1981 na modalidade truques; em 1985, Martin repetiu a medalha, e ainda somou um bronze na modalidade slalom à sua coleção.

Os esportes coletivos tiveram a estreia do punhobol (disputado até hoje, nos World Games, apenas no masculino), cujo ouro ficou com a Alemanha Ocidental, a prata com a Áustria e o bronze com a Suíça, com o Brasil terminando em quarto lugar; do corfebol (cujo torneio é misto), no qual o ouro ficou com a Holanda, a prata com a Bélgica e o bronze com os Estados Unidos; e do netbol (disputado apenas no feminino), cuja final foi uma repetição daquela ocorrida na Copa do Mundo desse esporte dois anos antes, mas com o resultado invertido, com o ouro ficando com a Nova Zelândia, a prata com a Austrália e o bronze com a Jamaica. No hóquei sobre patins, o ouro ficaria com a Itália, a prata com os Estados Unidos e o bronze com Portugal; enquanto no softbol o ouro ficaria com os Estados Unidos, a prata com Taiwan e o bronze com a Holanda. Merece menção também o torneio de boules, no qual foi disputada apenas uma competição, a do pétanque em trios, na qual o ouro foi conquistado pela França, a prata ficou com a Itália e o bronze com Mônaco, país que jamais ganhou uma medalha nas Olimpíadas.

O Reino Unido anfitrião teve uma campanha razoável, terminando na sexta posição do quadro de medalhas com 11 ouros, 11 pratas e 21 bronzes - bem distante da Itália, que terminou com 27 ouros, 29 pratas e 22 bronzes, mas à frente de França, Coreia do Sul e Japão, que haviam se destacado na edição anterior. A maior parte das medalhas de ouro do Reino Unido vieram das lutas, com o caratê rendendo 5 ouros, 1 prata e 3 bronzes; o sambô rendendo 1 ouro, 1 prata e 5 bronzes; e o taekwondo rendendo 5 bronzes. No powerlifting, categoria pesados, o Reino Unido faria o pódio inteiro, com Tony Stevens levando o ouro, Dave Caldwell a prata e John Neighbour o bronze. Os quatro ouros restantes viriam dois da ginástica, ambos com Andrea Holmes, o primeiro no trampolim sincronizado feminino, em parceria com Perry Thomas, e o segundo no tumbling individual feminino; e dois do esqui aquático, na modalidade slalom masculino, com John Battleday (que também ganharia uma prata na modalidade truques), e na modalidade saltos feminino, com Karen Morse (que também ganharia um bronze no slalom).

No geral, a segunda edição dos World Games foi bastante elogiada pelos atletas, pelas federações, e pelo público que acompanhou as competições. Mas, como a IWGA descobriria pouco depois, ainda havia muito a ser feito.

Karlsruhe 1989

Tendo talvez o futebol como única exceção, as Olimpíadas são vistas pelos atletas que delas participam como a mais importante competição de seus esportes, mais até do que seus respectivos Campeonatos Mundiais. No final da década de 1980, isso já começava a acontecer com os World Games, com os atletas do finswimming, do caratê e da patinação, dentre outros, aguardando ansiosamente pela próxima edição do evento, e os torneios classificatórios se mostrando bastante disputados.

Em relação às sedes, porém, esse paralelo ainda não era verídico: enquanto várias cidades até hoje praticamente se estapeiam querendo a oportunidade de sediar uma Olimpíada, a IWGA tinha extrema dificuldade em conseguir candidatas a sede dos World Games. Absolutamente nenhuma, por exemplo, se candidatou a sede dos World Games de 1989 dentro do prazo estabelecido pela IWGA. Como cancelar o evento era impensável, a IWGA recorreria novamente ao West Nally Group para tentar conseguir uma solução.

Tentando não gastar tanto dinheiro quanto nas edições anteriores, o West Nally Group decidiu procurar uma cidade parceira, que, nos moldes do que ocorria com as Olimpíadas, assumisse os custos da organização, ficando apenas detalhes como a confecção das medalhas e a expedição dos convites por conta da IWGA. Para que isso fosse possível, era preciso que a cidade estivesse localizada em um país no qual os esportes dos World Games eram populares, para que a presença do público justificasse o investimento. Até hoje, o país no qual os World Games têm a maior popularidade é a Alemanha, onde eles verdadeiramente são tratados como segundo torneio multiesportivo internacional em importância apenas atrás das Olimpíadas - mais ou menos como ocorre aqui no Brasil com os Jogos Panamericanos. Na época isso já era verdade, de forma que o West Nally Group se pôs a conversar com o Comitê Olímpico da Alemanha Ocidental sobre a possibilidade de os World Games de 1989 serem realizados lá. A negociação resultou em sucesso, mas, curiosamente, não foram grandes cidades como Munique ou Hamburgo que se ofereceram como sede, e sim a pequena Karlsruhe, de 300 mil habitantes.

Segunda maior cidade, atrás de Stuttgart, do estado de Baden-Württemberg, no sudoeste da Alemanha, próxima à fronteira com a França, Karlsruhe - cujo nome significa "descanso de Karl" - foi fundada em 1715 pelo Conde Karl Wilhelm, e cresceu em torno do palácio no qual o Conde residia, o Karlsruher Schloss. Sede, desde o final da Segunda Guerra Mundial, das duas mais elevadas instâncias dos tribunais alemães, a Bundesverfassungsgericht e a Bundesgerichtshof - equivalentes aos nossos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, respectivamente - e com uma população fanática por esportes, a cidade se esmerou em realizar os melhores World Games já vistos até então, o que fez com que os atletas se sentissem como se realmente estivessem em uma Olimpíada.

Pela primeira vez, por exemplo, os World Games teriam uma campanha de marketing verdadeiramente eficiente, criada pelo West Nally Group mas bancada pela prefeitura de Karlsruhe, que consistia não somente de pôsteres espalhados pela cidade, mas também de anúncios em TV veiculados por toda a Alemanha Ocidental. O canal RTL, que havia começado a operar em 1988, ficou responsável pelo televisionamento das competições - transmitidas ao vivo não somente para a Alemanha Ocidental, mas também para Áustria, Suíça, Luxemburgo e Holanda - e por fazer várias reportagens sobre os World Games, exibidas em todo o país antes de o evento começar. A população também ficou bastante empolgada com o evento, garantindo bom público em todas as competições, além de um clima contagiante de torcida que tomou conta da cidade no período.

Uma das maiores provas do envolvimento da cidade com o evento foi uma competição realizada nas escolas, na qual os alunos poderiam criar seus próprios pôsteres para os World Games, com os melhores sendo impressos e espalhados pelos locais de competição. O poster oficial do evento, considerado até hoje um dos mais bonitos dos World Games, seria criado por Hans Borchert, que começou sua carreira como jornalista esportivo antes de se dedicar ao design gráfico. Os World Games de 1989 também seriam os primeiros a apresentar um mascote, um pavão - animal escolhido porque o mapa da cidade de Karlsruhe lembra a cauda de um pavão, com largas avenidas partindo do Karlsruher Schloss em direção aos limites da cidade. O pavão não era um mascote ao estilo dos olímpicos, já que não existia na forma de bicho de pelúcia nem de gente fantasiada, mas estava presente em vários materiais associados ao evento, como o programa das competições; ele também não tinha nome, mas acabou apelidado pelos turistas de Fidelitas, graças à faixa com essa palavra que trazia no peito - fidelitas, em latim, significa "lealdade", e estava no peito do pavão porque é o lema da cidade de Karlsruhe, presente, nas mesmas cores, em seu brasão.

A cerimônia de abertura ocorreria no ginásio Europahalle, e contaria com a presença de 6.000 espectadores. Seria a primeira cerimônia de abertura dos World Games presidida por um Chefe de Estado, o Presidente da Alemanha Ocidental, Richard von Weizsäcker, além de contar com um discurso de Juan Antonio Samaranch, presidente do Comitê Olímpico Internacional, que exaltou a importância dos World Games para o desenvolvimento internacional do esporte, além de declarar oficialmente a patronagem do COI para o evento - apesar de contar com representantes no COI desde sua incepção, somente em 1987 a IWGA foi reconhecida como entidade reguladora do esporte pelo mesmo, e a patronagem significava que o COI aprovava os World Games e daria seu apoio para que continuassem a ser um evento de alto nível.

Os World Games de 1989 seriam realizados entre 20 e 30 de julho, contando com a presença de 1.965 atletas de 50 nações, que disputariam 112 provas de 19 esportes: boliche, boules, cabo de guerra, caratê, ciclismo, corfebol, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, ginástica de trampolim, hóquei sobre patins, netbol, patinação artística, patinação em velocidade, powerlifting, punhobol, salvamento, taekwondo e tiro com arco. O programa também contou com dois esportes convidados, o aikidô e o frisbee (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Os World Games de 1989 seriam a primeira edição na qual o esporte convidado seria escolhido pela organização local, e não pela IWGA. Devido à grande popularidade na Alemanha, na época, de um esporte chamado disc golf, que consiste em realizar um trajeto pré-determinado com um frisbee usando o menor número de arremessos possível (assim como o objetivo no golfe é acertar os buracos com o menor número de tacadas possível, daí o nome), a organização pediria autorização à IWGA para negociar a inclusão de um torneio de disc golf com a WFDF (federação cujo nome traduzido, em português, soa meio estranho, Federação Mundial de Disco Voador), responsável por regular todos os esportes que usam frisbees (que, aliás, é um nome registrado, assim como band-aid e gillette; o nome verdadeiro do objeto é mesmo disco voador). A IWGA não somente gostaria da ideia como também negociaria a filiação da WFDF, que passaria a ser membro da IWGA em 2000. Vale também citar como curiosidade que, por causa do nome do esporte (disc golf), muitas fontes citam, erroneamente, que o esporte convidado de 1989 teria sido o minigolfe, aquele no qual a bolinha passa por obstáculos como rampas, castelinhos e moinhos em miniatura para poder chegar aos buracos.

Se vocês estavam prestando atenção, primeiro eu disse que o programa contou com dois esportes convidados, depois falei de um só, e usando "esporte convidado" no singular. Isso porque, a rigor, o aikidô não foi um esporte convidado, já que a IAF, a Federação Internacional de Aikidô, é membro da IWGA desde sua fundação. Acontece, porém, que o aikidô jamais pode ser incluído no programa oficial dos World Games (nem de qualquer outra competição esportiva) por causa de um detalhe curioso, mas muito louvável: o criador do aikidô, Morihei Ueshiba, proibiu expressamente que essa arte marcial fosse utilizada dessa forma. Segundo ele, o aikidô é uma técnica de autodefesa, e deve ser praticado para fortalecer o corpo e a mente, não para se produzir um vencedor e um perdedor. Em consonância com os ensinamentos do O-sensei ("grande professor"), como Ueshiba é chamado pelos praticantes do aikidô, a IAF não permite a inclusão de sua arte marcial em torneios, nem organiza seus próprios torneios: todo "torneio" de aikidô consiste apenas de demonstrações das técnicas, nas quais os dois lutadores agem em conjunto para realizar os movimentos, sem que um tente sobrepujar o outro. Como, sem que haja um vencedor, não se pode distribuir medalhas, a IWGA decidiria que, todas as vezes que o aikidô fizesse parte do programa dos World Games, seria como "esporte convidado".

Como Karlsruhe é uma cidade pequena, todos os locais de competição eram bem próximos, o que facilitou a vida do público e dos atletas. As principais competições ocorreriam no Europahalle, no Wildparkstadion - estádio de futebol pertencente ao Karlsruher SC - e no Turmberg, belo parque construído sobre a principal colina da cidade, que conta, dentre outras instalações, com uma piscina olímpica e um salão de eventos. Sem um local propício para a competição de pesca, ela ficaria de fora do programa, o que impediria Steve Rajeff de tentar um novo ouro. Com a ausência também de Jurgen Kolenda, já aposentado, coube ao francês Patrice Martin, do esqui aquático, a honra de ser o único atleta a ganhar medalhas de ouro nas três primeiras edições dos World Games - e dessa vez ele ganharia logo duas, nas modalidades slalom e truques. Outra atleta a repetir seu sucesso seria a britânica Andrea Holmes, mais uma vez ouro no trampolim sincronizado feminino, dessa vez em parceria com Sacha Halford.

A Itália terminaria o evento mais uma vez com a primeira posição do quadro de medalhas, e, mais uma vez, graças principalmente aos seus atletas do salvamento: Pietro Voltan seria o maior medalhista dessa edição, com cinco ouros (dois deles conseguidos nos revezamentos), uma prata e dois bronzes, seguido de Cristina Bernardini, que ganharia quatro ouros (dois deles nos revezamentos) e duas pratas. Seu colega Marcelo Saporiti ficaria com dois ouros (dos revezamentos), duas pratas e dois bronzes, e Mauro Bertolini, em sua segunda participação, ganharia três ouros (dois deles nos revezamentos) e um bronze. A Itália também levaria os três ouros da patinação artística, com Sandro Guerra no individual masculino, Rafaella Del Vinaccio no individual feminino e Alberto Borsarini e Claudia Rinaldi nas duplas. No total, a Itália ganharia 22 ouros, 15 pratas e 14 bronzes.

A Alemanha Ocidental anfitriã terminaria em segundo lugar, com 18 ouros, 13 pratas e 27 bronzes. Merecem destaque as medalhas do ciclismo, com o ciclismo artístico rendendo três ouros (com Harry Bodmer no masculino, Heike Marklein no feminino, e Andreas e Sascha Weil nas duplas masculinas) e um bronze (Hildegard Wahl e Martina Heimpel nas duplas femininas); e o ciclobol um ouro (Jürgen e Werner King no masculino). Sem Kolenda, o finswimming se limitou a duas pratas (nos revezamentos 4 x 100 m e 4 x 200 m SF masculinos) e dois bronzes (50 m AP masculino, com Dierk Kraft, e 200 m SF masculino, com Christian Molenaar). A Alemanha Ocidental também repetiria o ouro do punhobol, e ainda ganharia o bronze do corfebol.

Os World Games de 1989 também teriam a primeira e última participação da União Soviética, que terminaria no terceiro lugar do quadro de medalhas, com 15 ouros, 13 pratas e 8 bronzes, todas as medalhas conquistadas nas piscinas: no finswimming, os maiores destaques seriam Sergei Akhapov e Tatiana Melnikova, cada um com quatro ouros (dois deles nos revezamentos) e um bronze, seguidos de Larissa Butenko, com quatro ouros (dois deles nos revezamentos); Konstatin Koudriaev, com três ouros (dois nos revezamentos) e duas pratas; e Oleg Ananyev, três ouros (dois nos revezamentos) e uma prata. As demais medalhas da União Soviética vieram do salvamento, no qual os mais bem sucedidos foram Elena Govojilova, dois ouros (um deles no revezamento) e quatro pratas; e Natalia Gusovskaya, dois ouros (um no revezamento), duas pratas e um bronze.

O Brasil, mais uma vez, enviaria apenas a seleção de punhobol, mas dessa vez retornaria com um bom resultado, uma prata, a primeira medalha do país nos World Games. Quem completou o pódio do punhobol foi a Áustria, medalha de bronze. No corfebol, além do bronze da Alemanha Ocidental, tivemos mais um ouro da Holanda e mais uma prata da Bélgica. No netbol, mais uma vez a Nova Zelândia conquistou o ouro e mais uma vez a Austrália ganhou a prata, mas dessa vez o Reino Unido terminou com o bronze. E, no hóquei sobre patins, um pódio latino, com ouro para Portugal, prata para a Espanha e bronze para a Itália.

No final, Karlsruhe cumpriu a promessa, e entregou os melhores World Games realizados até então. E, pela primeira vez na história do evento - que, nessa edição, não sei se vocês repararam, teve um monte de primeiras vezes - a próxima sede também já estava escolhida, com o West Nally Group tendo conseguido convencer a cidade de Haia, na Holanda, a aceitar o desafio. Quando o prefeito de Karlsruhe entregou a bandeira dos World Games ao prefeito de Haia, na cerimônia de encerramento, entretanto, ninguém poderia imaginar o que estava por vir. Mas isso é assunto para o próximo post da série!

Série World Games

Londres 1985
Karlsruhe 1989

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