segunda-feira, 20 de julho de 2015

Escrito por em 20.7.15 com 0 comentários

Orientação

Existe um esporte chamado orientação, e eu provavelmente só sei disso porque ele faz parte do programa dos World Games. Isso porque, apesar de ser um esporte até bastante interessante, ele não é exatamente adequado para transmissões pela TV, o que faz com que ele não seja tão popular quanto poderia ser, até mesmo em países com grande número de praticantes. Eu mesmo jamais consegui ver uma competição de orientação, e tudo o que eu sei sobre esse esporte descobri lendo ao procurar coisas sobre os World Games.

Por que, então, eu resolveria fazer um post sobre ele? Bom, isso ainda tem a ver com aquele post sobre natação, que, aparentemente, não quer largar do meu pé. Quando fui fazer o post seguinte, sobre os esportes subaquáticos, acabei descobrindo que a CMAS também regula, ora vejam só, a orientação subaquática. Desde então, fiquei com vontade de escrever sobre orientação subaquática, mas, evidentemente, não teria cabimento eu fazer isso sem falar da orientação "comum". Por isso, peguem seus mapas, pois hoje é dia de orientação no átomo!

O objetivo em uma competição de orientação é que o atleta, partindo de um determinado ponto de partida, passe por um determinado número de postos de controle e chegue a um ponto de chegada. Quem fizer isso no menor tempo total, vence. Pode parecer fácil, mas, ao contrário de outras competições, como a maratona, os atletas não conhecem o percurso previamente - aliás, os atletas não conhecem o percurso e ponto final: na hora da largada, cada um deles recebe um mapa, e deve interpretá-lo para passar pelos postos de controle na ordem certa e no menor tempo possível. O esporte não se chama "orientação" à toa.

Competições de orientação, portanto, são disputadas em locais amplos, como parques, florestas e trilhas na mata. Cada percurso é único e montado em segredo pela organização para aquela competição, para evitar que os atletas passem informações a colegas. A exceção são os clubes de orientação, usados por atletas amadores e para treinamentos; estes costumam ter percursos fixos, normalmente três ou quatro em uma mesma área de competição, com diferentes níveis de dificuldade cada. Nesse caso, o atleta poderá escolher qual percurso irá seguir, devendo passar apenas pelos postos de controle daquele percurso, sendo desclassificado se passar por um posto de controle de outro. Desnecessário dizer, um atleta que tenha chegado à linha de chegada, mas tenha pulado algum posto de controle, também é desclassificado.

Os mapas recebidos pelos atletas são extremamente detalhados, com indicações claras de tudo o que há na área de competição. Os postos de controle, entretanto, não estão indicados no mapa, e sim em um cartão que os atletas também recebem no início da prova. Esse cartão indica em que local os postos de controle estarão dispostos (pedra, árvore etc.), a ordem na qual deverão ser visitados e a distância entre cada posto e o próximo (bem como entre o primeiro e a linha de partida e entre o último e a linha de chegada, essas duas indicadas no mapa). Para atletas amadores e iniciantes, as descrições são feitas com palavras, mas para atletas experientes, para permitir que o cartão seja menor, as descrições são feitas com símbolos, padronizados para todas as competições oficiais. O uso de símbolos padronizados, tanto nos cartões quanto nos mapas, também garante que todos os atletas possam competir em igualdade de condições, independentemente de sua língua materna ou de sua proficiência em língua estrangeira.

No percurso, cada posto de controle é marcado por uma bandeira, reconhecida como símbolo da orientação, de formato quadrado, dividida na diagonal, com a parte superior branca e a inferior laranja. Para fazer o controle efetivo de quais postos já foram visitados, é usado um segundo cartão, com áreas próprias que devem ser marcadas em cada posto de controle. Em competições oficiais, esses cartões são computadorizados, e devem ser inseridos em dispositivos presentes nos postos de controle, que registram não somente que o atleta passou por ali, mas também quanto tempo ele levou entre o posto anterior e aquele, e informam em tempo real à organização da prova o desempenho dos atletas. Em competições de menor porte, o método preferido de controle é o "cartão furado", com o cartão de controle tendo uma área específica para cada posto de controle, que deve ser perfurada usando um furador próprio presente no posto de controle. Nesse método, o atleta também pode anotar, a caneta, o tempo que levou entre um posto e outro.

Além de servir para marcar a passagem dos atletas pelos postos de controle, o cartão de controle também serve para controlar os próprios atletas - isso porque as competições oficiais de orientação não possuem árbitros ou fiscais durante o percurso, então os cartões são usados para garantir que nenhum deles se perdeu no caminho. Dependendo da competição, há um tempo limite para que os atletas passem por cada posto de controle, com equipes de salvamento indo a seu encontro caso eles estourem esse tempo. Algumas competições já têm experimentado o uso de localizadores por GPS nos atletas, para que a organização sempre saiba onde todos eles estão durante a prova, podendo salvá-los em bem menos tempo caso ocorra algum imprevisto. Em competições que usam cartão furado, esse acompanhamento em tempo real não é possível, só sendo feita a conferência dos atletas após a linha de chegada: cada cartão de controle tem um canhoto separado do mesmo e entregue a um fiscal na hora da largada, e, quando o atleta chega, seu cartão é reunido ao seu canhoto para se ter certeza de que todos terminaram a prova; por isso, os atletas são orientados a se dirigir à linha de chegada e entregar seus cartões mesmo que tenham desistido da prova ou pulado algum posto de controle. Competições entre amadores podem ter fiscais "escondidos" próximos aos postos de controle, para anotar quais atletas já passaram por lá e alertar à organização caso algum esteja faltando.

É interessante registrar que os atletas da orientação não largam todos juntos, mas com um intervalo de no mínimo um minuto entre um e outro, o que é feito para evitar que um atleta "siga" o outro. Por causa disso é que o vencedor não será o atleta que cruzar a linha de chegada primeiro, e sim quem concluir o percurso no menor tempo total; para competições com acompanhamento eletrônico, isso é determinado facilmente, mas, nas competições de cartão furado, a cada atleta é atribuído um cronômetro da organização, que começa a contar quando ele larga, e é interrompido quando ele chega. Dependendo da competição, a ordem de largada dos atletas pode ser determinada por ranqueamento, sorteio, ou até mesmo por uma prova eliminatória prévia - com os atletas de melhor tempo se classificando para a final e largando em ordem inversa, com o melhor tempo largando por último.

Os atletas da orientação devem portar três equipamentos obrigatórios: uma bússola, que pode ser de pendurar no pescoço ou de prender no polegar; uma braçadeira com compartimento para levar o cartão de controle e o cartão de indicação dos postos de controle; e uma capa plástica transparente para levar o mapa. Um cronômetro é opcional, e qualquer equipamento que use GPS e permita que o atleta veja qual sua localização é expressamente proibido - o GPS que permite à organização ver onde estão os atletas não se enquadra nessa categoria porque os atletas não podem usá-lo em proveito próprio. Competições oficiais também exigem que os atletas usem calças compridas, para evitar que se machuquem na vegetação ou em pedras. Muitas fabricantes de material esportivo já fabricam, com materiais sintéticos, roupas leves e coloridas para uso próprio na orientação, apelidadas o-suits.

Existem, atualmente, seis tipos de provas de orientação. A mais simples, na qual o vencedor é quem conseguir passar por todos os postos de controle e chegar à linha de chegada em menos tempo, é conhecida como classic, long (de "longa distância") ou cross country. Cada atleta costuma levar entre 75 e 90 minutos para completar uma prova desse tipo. Visando agilizar as coisas, na década de 1980 foi criada uma nova prova, atualmente conhecida como middle (de "média distância"), com tempo médio de 30 minutos por atleta. Curiosamente, a diferença entre as provas classic e middle não está no número de postos de controle nem na distância entre eles, e sim no fato de que, nas provas classic, os postos de controle são dispostos de forma que, embora pareçam próximos no mapa, não há um caminho reto entre eles, se levando muito mais tempo para ir de um a outro que nas provas middle, onde os caminhos são menos tortuosos.

Na década de 1990, seria criada uma prova ainda mais rápida, conhecida como sprint, na qual os atletas levam entre 12 e 15 minutos para chegar ao final. No sprint, as distâncias entre os postos de controle são mais curtas, mas os atletas devem fazer uma espécie de ziguezague entre eles. A modalidade sprint é a única que pode ser disputada em ambientes urbanos, como praças, usando elementos como estátuas, bancos e até lixeiras como postos de controle. Na década de 2000, seria criada também a prova ultrasprint, que se conclui entre 8 e 10 minutos, mas, ao invés de um ambiente natural com postos de controle, usa um labirinto especialmente criado pela organização do evento. Os atletas recebem um mapa do labirinto, e devem usar características do solo e das paredes para se orientar e achar a saída no menor tempo possível.

Existem também provas de revezamento, disputadas por equipes de três ou quatro atletas cada, dependendo do torneio. Diferentemente do que acontece nas demais provas, as equipes largam todas juntas, e não uma por vez; para evitar que uma equipe siga outra, são usados vários percursos e múltiplos postos de controle, com cada equipe devendo visitar determinados postos de controle em uma determinada ordem, e sem que duas equipes tenham de seguir um percurso igual. Os quatro membros da equipe fazem o percurso juntos, e o tempo da equipe é registrado apenas depois que todos os quatro passam pela linha de chegada.

Outro tipo de prova que vem se mostrando popular é a chamada score. Nessa prova, há um tempo-limite, e cada posto de controle possui uma pontuação, que depende da dificuldade do caminho para se chegar até ele e da distância dele em relação aos outros, sendo essas pontuações também registradas no cartão que indica onde estão os postos de controle. O objetivo de cada atleta é marcar a maior pontuação possível - visitando ou o maior número de postos de controle ou aqueles que conferem a maior pontuação individualmente - e então cruzar a linha de chegada antes de o tempo-limite estourar, recebendo uma penalidade na pontuação para cada minuto ou fração além do limite. Como nem todos os atletas visitarão os mesmos postos de controle na mesma ordem, todos largam juntos. Depois que todos tiverem chegado, o vencedor será o que tiver obtido a maior pontuação.

Não chega a ser considerado uma prova em separado, mas alguns torneios têm provas noturnas. Nessas provas, que podem durar horas, já que é mais difícil encontrar o caminho no escuro, os atletas devem usar uma faixa na testa que tem uma lâmpada de led, e os postos de controle não têm bandeiras, e sim marcadores de poucos centímetros de altura fixados no chão, pintados com uma tinta especial que brilha no escuro. Percursos de provas noturnas são feitos para que os atletas vão de um posto de controle ao outro rapidamente, mas percam um certo tempo tentando encontrar onde exatamente cada posto está. Assim como nas provas de revezamento, nas provas noturnas os atletas largam todos juntos, para que todos possam competir em iguais condições; assim como no revezamento, é usado o esquema de múltiplos percursos para que uns não sigam os outros, com cada atleta tendo seu próprio percurso a seguir.

O principal torneio internacional de orientação é o Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos de 1966 a 1978, então de 1979 a 2003, e anualmente desde então. Originalmente, o Mundial consistia apenas de quatro provas, long e revezamento, masculino e feminino. Atualmente, também são disputadas provas de middle masculino e feminino (desde 1991), sprint masculino e feminino (desde 2001) e uma nova prova de revezamento sprint misto (desde 2014), para um total de 9 provas. Esse revezamento sprint misto tem três diferenças em relação ao revezamento disputado desde 1966: a primeira, e mais óbvia, é que ele é disputado em um percurso de sprint, ao invés de no percurso do long; a segunda é que, como o nome indica, ele é disputado por equipes mistas, compostas de dois homens e duas mulheres cada; e a terceira é que suas equipes têm quatro atletas cada, enquanto as do outro revezamento têm três.

Além do Mundial, existe também a Copa do Mundo de Orientação, disputada tanto no masculino quanto no feminino a cada dois anos de 1986 a 2004, e anualmente desde então. A Copa do Mundo possui várias etapas em vários países (com o Mundial contando com uma das etapas), com o resultado de cada atleta em cada prova valendo pontos, que são somados para se determinar o campeão - aquele que tiver mais pontos ao final da última etapa. Atualmente, a Copa do Mundo conta com 13 etapas, disputadas em 8 países diferentes. As provas da Copa do Mundo são as mesmas do Mundial.

Como eu já mencionei, a orientação também faz parte do programa dos World Games, desde a edição de 2001, disputada em Akita, Japão. Atualmente, são disputadas nos World Games provas de middle, revezamento e sprint (com o sprint tendo estreado em 2009), tanto no masculino quanto no feminino, para um total de 6 provas. Nos World Games, diferentemente do que ocorre no Mundial, as equipes de revezamento possuem quatro membros cada.

A orientação foi criada na Suécia, no final do século XIX, e, originalmente, era usada como treino por militares. Aos poucos, esses mesmos militares começaram a competir quem fazia o percurso em menos tempo, e transformaram o treinamento em esporte. O primeiro registro de uma competição militar de orientação na Suécia data do ano 1886, e a primeira aberta a civis foi realizada em 1897. Seu nome vem de um termo sueco, orientering (do qual deriva seu nome em inglês, orienteering), que não significa "orientação" literalmente, e sim algo como "cruzar um terreno desconhecido usando um mapa".

Mesmo após o início da prática pelos civis, porém, a orientação permaneceu como um esporte pouco conhecido e pouco divulgado. Ela só começaria a ganhar popularidade na década de 1930, graças à invenção de bússolas menores e mais leves, e, portanto, mais fáceis de serem levadas pelos atletas. Em 1934, o esporte já havia sido levado por imigrantes suecos para a Finlândia, Suíça, Hungria e União Soviética. Pouco depois, com o início da Segunda Guerra Mundial, soldados suecos se encarregariam de ensiná-lo a seus colegas de outras nacionalidades, espalhando-o pela Europa e fazendo com que ele chegasse aos Estados Unidos e Austrália. Após a Guerra, vários países já tinham não só praticantes de orientação, mas também clubes e torneios.

Como costuma acontecer nesses casos, começaria a surgir, principalmente na Europa, uma preocupação de que o esporte pudesse ser deturpado, ou ganhar regras locais que o afastassem do original. Para tentar não só preservar a orientação como ela era disputada inicialmente, mas também garantir que ela continuasse sendo divulgada para cada vez mais países, em 1961 dez federações nacionais europeias (Suécia, Finlândia, Suíça, Hungria, Noruega, Dinamarca, Bulgária, Tchecoslováquia, Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental) se uniram e formaram a Federação Internacional de Orientação (IOF), que se tornaria o órgão máximo para a regulação desse esporte no mundo. Sediada na Finlândia, hoje a IOF já conta com 73 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil.

A IOF é uma das federações reconhecidas pelo Comitê Olímpico Internacional desde 1977, e luta desde 1996 para incluir a orientação nas Olimpíadas. Seu principal empecilho é que o esporte não é apropriado para a TV, já que normalmente é disputado em um local remoto, montar as câmeras provavelmente daria dicas aos atletas sobre onde estão os postos de controle, e uma prova pode durar um dia inteiro, já que os atletas largam separados e levam um longo tempo para concluir o percurso. A própria invenção do sprint visava tornar o esporte mais atraente para as Olimpíadas, já que esse tipo de prova pode ser realizado em um ambiente urbano, facilmente filmável, e com provas de curta duração. Mesmo assim, apesar de todos os esforços da IOF, o COI não parece muito disposto a incluir a orientação nas Olimpíadas tão cedo.

Além da orientação "tradicional" (apelidada, em inglês, de foot orieteering ou Foot-O), a IOF também regula outras três variações. A que vem ganhando mais popularidade atualmente é a orientação com esquis (Ski-O). O princípio do esporte é o mesmo: cada atleta deve visitar os postos de controle na ordem correta, marcando seu cartão de controle em cada um deles, e então cruzar a linha de chegada. Os atletas largam separadamente, e aquele que concluir o percurso no menor tempo será o vencedor. A orientação com esquis é disputada em provas de long, middle e sprint, além de no revezamento.

A principal diferença da orientação com esquis para a orientação tradicional - além do uso de esquis e da presença de neve e gelo - é que a área de competição possui várias trilhas, em diferentes condições - algumas mais fáceis, outras mais difíceis, algumas com mais neve, algumas com menos, algumas até com gelo. Essas trilhas são todas marcadas no mapa, com indicações de suas características e até de sua largura. Embora o atleta não seja livre para adotar qualquer caminho que quiser para chegar a um posto de controle - já que seria impossível esquiar em alguns tipos de terreno - ele pode optar por qualquer uma das trilhas, sendo essa decisão fundamental para se fazer um bom tempo.

Em relação ao estilo de esqui, a orientação com esquis usa o mesmo equipamento e as mesmas técnicas do esqui cross-country. O mapa é diferente daquele usado na orientação tradicional: além da indicação das trilhas, ele tem também a localização dos postos de controle, numerados na ordem - o que dispensa o uso do cartão de indicação. Também é equipamento obrigatório um acessório parecido com uma prancheta amarrada em um colete, que faz com que o mapa fique perpendicular à barriga do atleta - para que ele possa consultá-lo a qualquer momento sem ter de tirar as mãos dos bastões. A bússola também pode ser presa a esse equipamento, no alto do mapa, mas alguns atletas preferem usá-la no pulso, como um relógio.

O principal torneio da orientação com esquis é o Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos desde 1975. Assim como no Mundial de Orientação, a primeira edição só tinha provas de long e revezamento, masculino e feminino, com o middle masculino e feminino tendo sido incluído em 1988 (entre 1980 e 2004 o Mundial foi disputado nos anos pares, mas, em 2005, voltou a ser disputado nos anos ímpares), o sprint masculino e feminino em 2002, e o revezamento sprint misto em 2011. Assim como no Mundial de Orientação, as equipes do revezamento misto têm quatro atletas cada, e as do outro têm três.

A IOF também vem tentando incluir a orientação com esquis no programa das Olimpíadas de Inverno, e até convenceu o COI a colocar em votação se o esporte seria incluído no programa de 2014. As chances da orientação com esqui são maiores que as da tradicional porque pode ser usado o mesmo percurso do esqui cross-country ou do biatlo, mas, nesse caso, a resistência do COI vem do fato de que todos os principais atletas desse esporte são da Suécia, Noruega ou Finlândia. A proposta para inclusão em 2014 foi rejeitada, mas a IOF já conseguiu convencer o COI a votar novamente para 2018; para tentar melhorar seu argumento, a IOF já conseguiu garantir presença de pelo menos um atleta de cada um de seus 35 membros que disputam a orientação com esquis (Brasil não incluído) no próximo Mundial.

Outra das variações é a orientação em mountain biking (MTB-O), semelhante à orientação com esquis: o mapa possui indicações de trilhas que podem ser escolhidas pelos atletas e dos postos de controle na ordem que devem ser visitados. Os mapas também costumam ser menores que os da orientação e da orientação com esquis, e menos detalhados; as trilhas são indicadas por nível de dificuldade (fácil, médio, difícil e impossível, ou seja, não é uma trilha válida, embora possa parecer ser uma) e obstáculos que precisem que o atleta desmonte e os vença a pé são claramente identificados. Cada atleta deve usar uma bicicleta própria para mountain biking, um capacete de ciclismo e uma bússola, que costuma ficar presa ao pulso. O mapa fica sobre um suporte próprio no meio do guidão, que permite que ele seja consultado facilmente durante a prova; esse suporte também possui uma base giratória, para o atleta virá-lo se desejar. O Campeonato Mundial de Orientação em Mountain Biking é disputado anualmente desde 2002, no princípio apenas com provas de long, sprint e revezamento (com equipes de três atletas cada) masculinas e femininas, com as provas de middle masculino e feminino tendo sido incluídas em 2004.

Finalmente, temos a orientação em trilha (Trail-O). Desenvolvida inicialmente para ser a "orientação paralímpica", a orientação em trilha é hoje também disputada por atletas sem qualquer deficiência, muitas vezes junto aos paratletas - isso porque, graças às suas características, qualquer atleta, não importa a deficiência (exceto deficientes visuais, já que os mapas e cartões devem ser lidos e os postos de controle visualizados) pode disputar suas provas em igualdade de condições com os demais.

Na orientação em trilha, cada atleta possui um mapa como o da orientação tradicional, mas no qual estão marcados os locais dos postos de controle. Ele também recebe um cartão de descrição dos postos, que, através de símbolos ou frases, indica onde está cada posto. A principal diferença é que todo o percurso segue uma trilha pré-estabelecida que deve ser seguida pelos atletas, sendo desclassificados atletas que saiam dessa trilha. Os postos de controle podem ser avistados à distância, e não há como um atleta deixar de passar por um deles - a menos que saia da trilha.

Qual a dificuldade, então? Bem, cada local marcado no mapa como posto de controle possui não somente um, mas múltiplos (às vezes até cinco) postos de controle, cada um deles em um local diferente - um em uma árvore, outro em uma pedra etc. O atleta, então, deve interpretar corretamente o cartão de indicação, para descobrir qual é o posto de controle "correto" - aquele realmente descrito no cartão. Se ele colocar seu cartão de controle no posto de controle correto, ganhará um ponto; se colocar no errado, não ganhará nada. Para aumentar a dificuldade, alguns postos de controle marcados no mapa são "falsos" - ou seja, não há descrição daquele posto no cartão de indicação. Se for esse o caso, todos os postos de controle naquele lugar serão falsos, e colocar o cartão em um deles resultará na perda de um ponto. Para piorar ainda mais, antes de cada posto de controle há uma linha traçada na trilha - mas não no mapa - apelidada de "ponto de decisão": enquanto não passar do ponto de decisão, o atleta pode gastar o tempo que quiser para descobrir qual posto de controle é o verdadeiro, mas, se passar da linha, deverá escolher um posto imediatamente, ou será desclassificado. Cada ponto de decisão conta com um fiscal, que serve não somente para desclassificar quem não decidir, mas também para ajudar o atleta a chegar até o posto de controle ou colocar seu cartão nele, caso ele precise de assistência.

Existem dois tipos de competição na orientação em trilha, a por pontos (apelidada PreO, de "orientação em precisão") e a por tempo (apelidada TempO, sério). Na competição por pontos, são levados em conta apenas os pontos marcados por cada atleta, com o tempo total que ele levou para cruzar a linha de chegada só sendo usado como critério de desempate caso dois ou mais atletas terminem com a mesma pontuação. Já na competição por tempo, é o competidor com o menor tempo final quem se sagra vencedor, com uma penalidade de 30 segundos sendo adicionada a esse tempo para cada resposta incorreta.

O Campeonato Mundial de Orientação em Trilha é disputado anualmente desde 2004, mas, antes disso, teve duas edições, em 1999 e 2003, com o nome de Copa do Mundo de Orientação em Trilha. Atualmente, no Mundial, são diputadas tanto provas de PreO quanto de TempO, mas ambas mistas, com homens e mulheres competindo juntos; paratletas competem apenas na PreO, e em uma prova separada (chamada "classe paralímpica", enquanto a outra é a "classe aberta"). A IOF está em conversação com o Comitê Paralímpico Internacional para incluir a orientação em trilha nas Paralimpíadas, mas, por enquanto, parece que isso não ocorrerá tão cedo.

As variações da IOF não são as únicas que existem, havendo também algumas curiosas como a orientação a canoa, disputada em lagos e represas, com os postos de controle podendo ser visitados em qualquer ordem, e sendo vencedor quem visitar todos e cruzar a linha de chegada em menos tempo; a orientação a cavalo, praticamente idêntica à tradicional, mas onde os atletas competem montados; a orientação automobilística, semelhante a um rali, na qual um atleta dirige e o outro lê o mapa, passa as instruções e insere o cartão nos postos de controle; e uma chamada rogaining, cujo nome deriva de seus criadores, os irmãos australianos Rod, Gail e Neil Phillips. Competições de rogaining sempre usam o método score, são disputadas por equipes de entre 2 a 5 competidores cada, e têm provas que duram no mínimo 3 e no máximo 24 horas. O rogaining é regulado pela Federação Internacional de Rogaining (IRF), fundada em 1989 e que conta com 23 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil; é bastante popular (talvez até mais que a orientação) na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Rússia; e tem até um Campeonato Mundial, disputado em intervalos irregulares desde 1992 (anualmente desde 2012).

Mas, dessas variações não-IOF, a que nos interessa é a orientação subaquática, oitavo dos dez esportes regulados pela Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS) que veremos aqui no átomo. Criada na década de 1950 na União Soviética como treinamento para mergulhadores, a orientação subaquática tem por objetivo que o mergulhador siga um determinado trajeto sob a água, se guiando com a ajuda de um mapa e uma bússola, sendo o vencedor aquele que completar o tal trajeto em menos tempo.

O equipamento para um atleta da orientação subaquática inclui máscara de mergulho, uma mononadadeira, um sistema de pesos que auxilie ao atleta permanecer submerso, uma boia colorida presa à cintura do atleta por um cabo, que serve para informar aos organizadores em que posição ele se encontra, e um equipamento parecido com um foguete que deve ser carregado com os braços esticados e contém o cilindro de ar (que deve conter apenas ar atmosférico, sem qualquer mistura rica em oxigênio), a bússola, um contador de distância percorrida e um suporte onde será encaixado o mapa - que é feito de material impermeável. Cronômetro, teodolito e taqueômetro são equipamentos opcionais. Não é permitido o uso de nenhum equipamento de localização, como GPS, sonar, corda-guia ou qualquer equipamento de comunicação subaquática. As provas são normalmente realizadas em águas abertas, que devem ter no mínimo 3 metros de profundidade e 1 metro de visibilidade, com corrente máxima de 4 metros por minuto.

Existem ao todo sete provas da orientação subaquática, quatro individuais e três em equipe. As provas individuais têm todas o mesmo princípio, e usam quatro tipos de boia, cada uma com uma cor própria: a de largada (laranja), a de chegada (verde), as boias de checagem (vermelhas) e as boias de orientação (amarelas). Essas boias são dispostas para formar um percurso, que não é de conhecimento prévio dos atletas. O objetivo de cada atleta é partir da largada, passar pelas boias em uma ordem pré-determinada e alcançar a boia de chegada. Caso uma boia seja de checagem, ele deve apenas contorná-la, mas, se for uma boia de orientação, ele deve tocar nela e sacudi-la antes de se dirigir para a próxima - cada boia tem outra boia amarrada a ela e que fica na superfície, então a sacudida é para informar à organização que aquela boia foi alcançada. Os atletas fazem o percurso um de cada vez, podendo, a critério da organização, o seguinte começar enquanto o anterior ainda está competindo, para agilizar a prova. O tempo que os atletas levam para alcançar cada boia, bem como o que levam para alcançar a chegada, é convertido em pontos. O vencedor será o atleta com mais pontos ao final do evento.

A mais simples das provas individuais é o percurso em M. Nela, três boias de checagem formam, com a da largada e a de chegada, um M, em um percurso, que, usando somente linhas retas, tem 590 metros de extensão. Já no percurso de cinco pontos, quatro boias de orientação formam, com a de largada e a de chegada, um percurso irregular, diferente para cada competição, que deve ter, obrigatoriamente, 650 metros se só forem usadas linhas retas. No percurso em estrela, cinco boias de checagem e cinco de orientação formam o desenho de uma estrela, em um percurso de 600 metros, contando com a distância da primeira boia para a de largada e da última para a de chegada. Por fim, a corrida paralela é a única diferente, pois tem dois percursos de 200 metros cada, cada um com uma boia de checagem e uma de orientação, além da de largada e da de chegada. Na corrida paralela, os atletas competem dois a dois, com os vencedores avançando e os perdedores sendo eliminados. O objetivo, portanto, é partir da largada, contornar a boia de checagem, sacudir a boia de orientação e alcançar a boia de chegada antes do oponente.

A primeira das provas em equipe é o revezamento, que é simplesmente uma prova de percurso em M, percurso dos cinco pontos ou percurso em estrela, mas disputada por equipes de três atletas cada. Os atletas competem um de cada vez, e suas pontuações são somadas para se determinar a pontuação da equipe. A segunda é chamada monk competition, e é similar ao percurso dos cinco pontos: quatro boias de orientação formam um percurso irregular e diferente a cada competição, de 650 metros. Equipes de dois atletas cada devem começar da boia de largada, visitar essas boias na ordem, e ir até a boia de chegada. Cronômetros, teodolitos e taqueômetros são proibidos, mas a dupla pode usar uma única boia ligada às suas cinturas - o que faz com que um dos membros da dupla também fique ligado ao outro por um cabo. Uma prova da monk competition tem um tempo máximo de 18 minutos, com as duplas perdendo pontos por cada minuto ou fração a mais.

Já na chamada team event, equipes de quatro competidores cada fazem um percurso no qual eles começam separados, mas vão se encontrando ao longo da prova, e devem chegar à linha de chegada todos juntos para que o resultado da equipe seja considerado válido. Curiosamente, o team event possui duas opções de trajeto, o chamado Trajeto A, usado quando a visibilidade da água é menor que três metros, e o chamado Trajeto B, usado quando a visibilidade é maior que isso. O Trajeto A tem quatro boias de largada, três de orientação, e uma de chegada, dispostas em um desenho semelhante ao de uma balança; cada atleta começa de sua própria boia de largada, se encontrarão dois a dois na boia de orientação mais próxima, e se encontrarão todos na boia de orientação seguinte, rumando, então, para a chegada. O Trajeto B tem apenas duas boias de largada, mas conta também com seis boias de checagem. Dois atletas saem de cada largada, se dirigindo cada um para uma boia de checagem, e se encontrando novamente na primeira boia de orientação. Toda a equipe se encontra na segunda boia de orientação, e, no meio do caminho para a chegada, deve contornar duas outras boias de checagem, fazendo um desenho parecido com um N. Em ambos os trajetos, o tempo de cada atleta é contado separadamente, convertido em pontos, e então esses pontos são somados para se determinar a pontuação total da equipe, sendo vencedora aquela que tiver a maior pontuação total ao final.

A principal competição da orientação subaquática é o Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos desde 1989, e que conta com provas masculinas e femininas de cada modalidade, exceto do revezamento, para um total de 12 provas. A CMAS planeja incluir a orientação subaquática em seus CMAS games, já o tendo feito em 2013 e planejando voltar a fazê-lo nesse ano de 2015.

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