Seguindo a mesma lógica do post sobre esportes paralímpicos de inverno, esse post falará sobre esportes que atendam a três condições: primeiro, tem de ser um esporte que esteja no programa das paralimpíadas - até existem esportes paralímpicos que não estão nas paralimpíadas, mas esses costumam não ter uma única regra para todas as competições, o que tornaria escrever sobre eles um tanto confuso. A segunda condição é que tem de ser um esporte sobre o qual eu já falei previamente - afinal, para os novos, eu escreverei posts novos quando der vontade. A terceira, e mais óbvia de todas, é que não pode ser um esporte sobre cuja versão paralímpica eu já falei, para eu não ficar me repetindo. Após cruzar as referências, quatro esportes atenderam a esses três pré-requisitos, e é sobre esses quatro que falaremos hoje.
Começando pelo atletismo, talvez o mais básico dos esportes, cuja história se confunde com a do surgimento dos próprios esportes paralímpicos. Os esportes paralímpicos surgiriam logo após a Segunda Guerra Mundial, quando vários médicos começaram a estudar o uso do esporte como auxiliar na reabilitação de soldados que haviam perdido membros ou o movimento destes durante a Guerra. Um dos mais importantes desses médicos era o Dr. Ludwig Guttmann, considerado o pai dos esportes paralímpicos. Judeu, nascido na Alemanha, e tendo fugido para a Inglaterra pouco antes do início da Guerra, o Dr. Guttmann era considerado um dos maiores neurocirurgiões de seu país, o que lhe valeu um convite do governo britânico para que ele assumisse a direção do Centro Nacional de Traumas de Coluna do Hospital de Stoke Mandeville, pequena cidade do interior da Inglaterra. Lá, ele começaria a introduzir suas ideias do uso do esporte como forma de reabilitação, e o sucesso de seus métodos o motivaria a criar uma competição esportiva inteira, a qual ele chamaria de "Paraplegic Games", mas que ficaria conhecida como Jogos de Stoke Mandeville, para que pacientes de diversos hospitais que também usavam o esporte como reabilitação pudessem se confraternizar.
A primeira edição dos Jogos de Stoke Mandeville seria realizada em 1948, começando no mesmo dia das Olimpíadas daquele ano, que seriam realizadas em Londres. O evento seria um sucesso tão grande que passaria a ser realizado regularmente (existindo até hoje, disputado em cada ano ímpar com o nome de IWAS World Games, sendo a IWAS, sigla em inglês para "esportes internacionais para cadeira de rodas e amputados", uma organização internacional que organiza eventos esportivos para atletas amputados e cadeirantes), motivaria outros hospitais da Europa a incluir o esporte em seus tratamentos, e, mais tarde, levaria ao surgimento do IPC, o Comitê Paralímpico Internacional, dedicado à regulação, difusão e estímulo do esporte dentre pessoas com necessidades especiais. Após a fundação do IPC, o esporte praticado por atletas com necessidades especiais passaria a ser conhecido como "paralímpico", e esses atletas como "paratletas".
Aliás, cabe aqui um parêntese: no Brasil, durante muito tempo, foram usados os termos "para-olímpico" e "para-Olimpíadas"; acontece que o prefixo "para", em português, possui uma conotação de algo que não é bem o que é (um paramédico, por exemplo, age como médico, mas não é um, assim como um livro paradidático não é um livro didático, mas serve como um), o que levaria o IPC a fazer um pedido para que se mantivesse os termos mais semelhantes ao original em inglês (paralympic) e sem a possibilidade de se passar a ideia de que um "para-atleta" não é um atleta, embora se comporte como um.
Enfim, dentre os esportes adaptados pelo Dr. Guttmann para seus pacientes paratletas estavam o tiro com arco em cadeira de rodas - único esporte do programa da primeira edição dos Jogos de Stoke Mandeville - o netbol em cadeira de rodas - sobre o qual você pode ler mais no post sobre basquete e rugby em cadeira de rodas, e que entrou para o programa dos Jogos na segunda edição, em 1949 - e o atletismo em cadeira de rodas, que fez sua estreia na primeira edição dos Jogos de Stoke Mandeville a contar com a participação de atletas internacionais, em 1952 - a quinta edição no total, já que, na época, os Jogos eram anuais. No início, apenas atletas que usassem cadeiras de rodas podiam participar, e, mesmo assim, só eram realizadas as provas de arremessos, como as de disco e peso; somente na metade da década de 1960 é que começaram a ser disputadas as primeiras corridas em cadeiras de rodas, e somente na metade da década de 1970 é que se iniciaram as competições para atletas que usavam próteses, tinham paralisia cerebral ou deficiência visual.
Desde 1989, o atletismo paralímpico é regulado pelo próprio IPC (embora outras organizações e federações, como a já citada IWAS, também organizem campeonatos, alguns com regras ligeiramente diferentes das do IPC), que desenvolveu um sistema de classificação para que os atletas pudessem competir em igualdade de condições - afinal, colocar um cadeirante, um paralisado cerebral e um deficiente visual para disputar uma mesma prova não é lá muito justo. Esse sistema classifica cada atleta, através de uma avaliação médica, em uma categoria representada por uma letra e um número - como T11 ou F56. As letras dizem respeito apenas a se a prova que o atleta vai disputar é de pista (ou seja, corridas, letra T, de track, "pista" em inglês) ou de campo (os arremessos e saltos, letra F, de field, "campo" em inglês). Já os números dizem respeito ao tipo e grau de deficiência do atleta, com as dezenas se referindo ao tipo de deficiência e as unidades ao seu grau, sendo que, quanto menor o número, maior o grau de deficiência.
Os números de 11 a 13, portanto, são destinados aos deficientes visuais, sendo que os classificados como 11 são os totalmente cegos, os 12 conseguem distinguir vultos, e os 13 possuem deficiência visual moderada. Um atleta classificado como T11, portanto, é um deficiente visual total que vai competir em provas de pista - correr. Atletas da categoria 11 devem competir junto com um guia, que corre ao lado do atleta preso a seu braço esquerdo por uma pulseira com uma corda de 40 cm presa ao braço direito do guia. A função do guia é demonstrar ao atleta os limites de sua raia e a hora de fazer as curvas (por exemplo, em uma prova de 400 metros), e, portanto, ele deve correr paralelamente ou atrás do atleta, não podendo, jamais, correr à sua frente - para não representar a vantagem desleal de o guia estar "puxando" o atleta. Guias dos atletas que ganhem medalhas em uma competição oficial do IPC também têm direito a uma medalha da mesma cor - o guia de um medalhista de ouro, portanto, também ganha uma medalha de ouro. Na categoria 12, o uso do guia é opcional, com a maioria dos atletas optando por usá-lo, mas na categoria 13 os atletas devem correr sem guia. Não é incomum que atletas da categoria 12, se forem em número reduzido, participem da mesma prova que atletas da categoria 11 ou 13 - criando, por exemplo, a categoria T11-12 ou a T12-13.
Já os números de 51 a 58 são reservados para atletas que usem cadeira de rodas, sendo os 51 os que têm a menor mobilidade de braços e tronco e os 58 os que têm a maior. O motivo pelo qual o atleta usa uma cadeira de rodas - pólio, amputação, má-formação etc. - não influencia na determinação da categoria. As cadeiras de rodas usadas no atletismo são um modelo especial, meio parecido com um triciclo, com rodas inclinadas como as do basquete em cadeira de rodas e uma terceira roda, semelhante a uma roda de bicicleta, presa por uma haste frontal e bem comprida, para dar estabilidade.
Os números entre 41 e 48 são reservados aos amputados. Mais uma vez, os 41 são os biamputados das pernas, enquanto os 48 têm amputação de apenas um braço - quanto menor o número, maior a dificuldade que o atleta terá para correr. Atletas com má-formação dos braços também podem ser classificados nessas categorias. Entre o 31 e o 38 estão os paralisados cerebrais, com o mesmo sistema, quanto menor o número, menor a mobilidade. Dois números são reservados para atletas com deficiências que não se encaixem nas demais definições: o número 20 é destinado a atletas com deficiência intelectual, enquanto o número 40 é destinado a atletas com deficiências como nanismo e gigantismo.
Atualmente, as provas disputadas no atletismo paralímpico são praticamente as mesmas do atletismo regular: 100 metros, 200 metros, 400 metros, 800 metros, 1.500 metros, 5.000 metros, revezamento 4 x 100 metros, revezamento 4 x 400 metros, salto em altura, salto em distância, salto triplo, arremesso de peso, lançamento de dardo, arremesso de disco, arremesso de bastão, pentatlo e maratona. Como já foi dito, os atletas não competem todos juntos, mas separados de acordo com sua classificação, o que faz com que o número de provas (e de medalhas distribuídas) em uma competição de atletismo paralímpico seja bem maior que o de uma competição de atletismo regular - por exemplo, enquanto nas Olimpíadas de 2012 foram disputadas 47 provas de atletismo, nas Paralimpíadas do mesmo ano foram disputadas 170, sendo 29 provas só dos 100 metros (nas categorias T11, T12, T13, T34, T35, T36, T37, T38, T42, T44, T46, T52, T53 e T54 masculino e feminino e T51 masculino). Por motivos de economia de tempo, a única prova na qual os atletas competem juntos é a maratona, embora, mesmo assim, eles recebam as medalhas em separado - na maratona masculina das Paralimpíadas de 2012, por exemplo, competiram juntos atletas das categorias T12, T46 e T54, com cada categoria tendo seus próprios medalhistas de ouro, prata e bronze, independente de sua classificação geral. Aliás, ao contrário do que muita gente imagina, nas maratonas os melhores atletas costumam ser os cadeirantes, que têm tempos muito melhores que os amputados e deficientes visuais. Nem todas as provas possuem uma versão para cada categoria - ninguém iria criar uma prova de salto em altura para cadeirantes, por exemplo, então não existem as categorias F51 a F58 no salto em altura. Finalmente, vale dizer que a falta ou número reduzido de atletas pode fazer com que uma determinada prova não seja disputada em um determinado evento - nas Paralimpíadas de 2012, como vocês podem ver acima, não tivemos provas dos 100 metros feminino categoria T51, por exemplo, assim como não houve nenhuma prova do pentatlo.
O pentatlo, falando nisso, merece um parágrafo só para ele: como vocês devem saber, o pentatlo é uma prova que reúne cinco outras provas, com os resultados de cada atleta em cada uma delas sendo convertido em pontos e somado, e o atleta que tiver mais pontos so final da quinta prova sendo declarado vencedor. Como o pentatlo reúne provas de pista e campo, ele não entra nem na categoria T nem na F, e sim na P, de pentatlo. Dependendo da deficiência dos atletas, as provas do pentatlo também são diferentes: para as categorias P11 a P13, as provas são 100 metros, salto em distância, lançamento de dardo, arremesso de disco e 1.500 metros; para as categorias P41 a P48 são 100 metros, salto em distância, arremesso de peso, arremesso de disco e 400 metros; e para as categorias P51 a P58 são 200 metros, arremesso de peso, lançamento de dardo, arremesso de disco e 1.500 metros. Não existem as categorias P20, de P31 a 38, nem P40.
Vale falar também sobre o arremesso de bastão, única prova do atletismo paralímpico que não tem equivalente nas competições oficiais internacionais do atletismo regular - embora algumas federações nacionais o incluam em suas competições. O bastão em questão é um objeto semelhante a um pino de boliche, com entre 35 e 39 cm de comprimento, feito de madeira com uma base de 39 mm de diâmetro feita de metal, e peso total de 397 g. Os competidores devem ficar dentro de um círculo de 2,5 m de diâmetro, segurar o bastão pela parte mais fina (com a base para cima) e arremessá-lo em direção ao campo, sendo que o arremesso é feito de baixo para cima, e com o atleta não de frente, mas meio de lado. Cada atleta tem direito a seis arremessos, e o campeão é quem conseguir a maior distância.
O atletismo faz parte do programa das Paralimpíadas desde a primeira edição do evento, em 1960, tanto no masculino quanto no feminino. O esporte também possui um Campeonato Mundial, organizado pelo IPC e disputado desde 1994 - a cada quatro anos até 2006, depois em 2011, e, desde então, previsto para a cada dois anos, sempre nos anos ímpares, com a última edição tendo sido a de 2013 e as de 2015 e 2017 já previstas.
Passemos do atletismo para o ciclismo. O ciclismo paralímpico começou a ser disputado no início da década de 1980, com a criação de bicicletas especialmente adaptadas. Em 1983, a CPISRA (Associação Internacional de Esportes e Recreação para Paralisados Cerebrais) decidiu passar a regular o esporte, mas suas competições só estavam abertas a paratletas que fossem paralisados cerebrais. Visando abrir as competições internacionais de alto nível a outros atletas com necessidades especiais, em 1990 a própria UCI (União Ciclística Internacional), que regula o ciclismo tradicional, decidiu passar a regular também o ciclismo paralímpico. Hoje, a CPISRA ainda organiza competições, mas as principais competições internacionais, como o Campeonato Mundial, são organizados pela UCI.
Assim como o atletismo, o ciclismo adota uma classificação de números e letras para separar seus atletas por categorias; no ciclismo, entretanto, as letras é que refletem o tipo de deficiência do atleta, com os números indicando seu grau. A letra T, por exemplo, é a da categoria dos paralisados cerebrais, que competem usando um triciclo (por isso a letra T). A categoria T é subdividida em T1 e T2, sendo que os T1 possuem o equilíbrio mais prejudicado que os T2.
Cadeirantes e a maioria dos amputados das pernas competem na categoria H, na qual usam uma bicicleta especial chamada handcycle (por isso o H). Como esses atletas não possuem mobilidade nas pernas, a handcycle ("mãocicleta") tem seus pedais acionados pelas mãos, junto com o guidão - o que significa que o atleta tem de "pedalar" e controlar a direção da bicicleta com as mãos ao mesmo tempo, o que, graças ao sistema de pedais da handcycle, não é tão complicado quanto parece. Para maior estabilidade, a handcycle também é, na verdade, um triciclo, já que tem duas rodas atrás. A categoria H é subdividida em H1 (tetraplégicos com movimento dos braços prejudicado), H2 (tetraplégicos com bom movimento dos braços), H3 (paraplégicos com movimento dos braços prejudicado) e H4 (demais paraplégicos e amputados das pernas). Existem mais de dez tipos de handcycle, alguns próprios para atletas amputados, outros nos quais o atleta compete quase deitado; cada subcategoria possui pelo menos dois tipos dentre os quais cada atleta pode escolher.
A categoria C (de cycling) é reservada para atletas com amputações nos braços ou pernas (com uso de próteses) ou outras deficiências que os colocariam em desvantagem em uma competição contra atletas sem deficiência, mas que são capazes de utilizar uma bicicleta normal, sem qualquer tipo de adaptação. Esses atletas são avaliados por uma comissão médica e subdivididos da categoria C1 à C5, sendo que os C1 são os que possuem maior dificuldade para se equilibrar, pedalar e guiar a bicicleta.
Finalmente, temos a categoria B (de blind, "cego" em inglês), destinada aos deficientes visuais. Essa categoria não faz distinção dentre os vários níveis de deficiência visual, com os atletas competindo todos juntos. Atletas da categoria B usam uma bicicleta especial chamada tandem, de dois lugares; eles vão atrás, e um guia, que enxerga normalmente, vai na frente. Esse guia não pode ser um ciclista profissional - não pode ter participado de competições oficiais nos últimos dois anos - e pedala junto com o atleta, tendo, também, a função de guiar a bicicleta. Assim como no atletismo, se o atleta ganhar uma medalha, o guia ganha também. Em algumas competições, a categoria B é chamada de TCB (de Tandem Class Blind).
As categorias do ciclismo ainda têm uma segunda letra na frente, que determina se a categoria é masculina (M, de man, "homem") ou feminina (W, de woman, "mulher"). Um atleta da categoria MH2, portanto, é um atleta masculino, que usa handcycle e tem deficiência de grau 2. Também é possível juntar atletas de diferentes categorias em uma mesma prova se eles forem poucos, criando, por exemplo, a categoria WC1-3.
Alguns atletas contestam a classificação determinada pela UCI, alegando que ela não é precisa como a do atletismo, e que deixa alguns atletas em desvantagem - alguns atletas que poderiam competir na categoria C, por exemplo, são avaliados como categoria H, e acabam não competindo internacionalmente por não querer usar a handcycle. Para tentar diminuir essas discrepâncias, a UCI e o IPC formaram uma comissão mista em 2012, visando reformular as classificações e adotar um novo sistema já para a próxima edição das Paralimpíadas, em 2016.
Assim como o ciclismo regular, o ciclismo paralímpico possui provas tanto de pista quanto de estrada, sendo que as provas de estrada possuem duas características curiosas: primeiro, elas costumam ser disputadas em um autódromo ou local semelhante, e não nas ruas da cidade como no ciclismo regular; segundo, a distância de cada prova depende da categoria que está competindo - nas Paralimpíadas de 2012, por exemplo, a prova de estrada masculina categoria B teve 108 Km, enquanto a feminina teve 80 Km, a H1 masculina teve 48 Km, e por aí vai. Assim como no atletismo, são disputadas várias versões de uma mesma prova, uma para cada categoria, e cada uma valendo suas próprias medalhas - nas Paralimpíadas de 2012, por exemplo, foram disputadas treze provas de estrada (MB, MH1, MH2, MH3, MH4, MC1-3, MC4-5, WB, WH1-3, WH4, WC1-3, WC4-5 e T1-2 mista). Também é interessante registrar que atletas da categoria H nunca participam das provas de pista, apenas das de estrada.
O ciclismo faz parte das Paralimpíadas desde 1984, tanto no masculino quanto no feminino. Atualmente, as provas de estrada disputadas nas Paralimpíadas são a prova de estrada individual (masculino e feminino para as categorias B, H e C, misto para a categoria T), a prova contra o relógio (mesma coisa) e o revezamento (misto, categoria H); na pista, são disputados 1Km contra o relógio (masculino para as categorias B e C, feminino para a B), 500 metros contra o relógio (feminino, categoria C), perseguição individual (masculino e feminino, categorias B e C) e sprint (masculino para a categoria B, misto para a categoria C). A UCI também organiza o Campeonato Mundial de Para-Ciclismo, disputado em 2006, 2007, 2009, 2011, 2012 e 2014, com a promessa de que agora será a cada dois anos; o Mundial, por enquanto, só conta com provas de pista, não tendo previsão de inclusão de provas de estrada.
O terceiro esporte que veremos hoje é o vôlei sentado, cujo nome oficial é esse mesmo. O vôlei sentado é a evolução de um outro esporte, chamado sitzball, criado na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial como recreação para soldados hospitalizados que tivessem perdido as pernas ou o movimento das mesmas durante a Guerra. O sitzball chegaria a países vizinhos, como Holanda e Dinamarca, mas não faria muito sucesso, pois os praticantes consideravam que seu exercício era mínimo ao praticá-lo. Buscando resolver esse problema, na Holanda, um grupo de ex-jogadores de vôlei decidiria mesclar as regras do sitzball com as do vôlei, e criaria o vôlei sentado, cuja primeira partida oficial seria disputada em 1956.
O vôlei sentado é regulado pela World ParaVolley, originalmente criada em 1951 como uma secretaria da IWAS (que, na época, se chamava ISOD, Organização Internacional de Esportes para Deficientes) para regular uma modalidade de vôlei voltada para atletas amputados que conseguissem jogar de pé usando próteses - modalidade essa que existe até hoje, ainda é regulada pela World ParaVolley, e tem o nome oficial de vôlei de pé. A World ParaVolley passaria a regular o vôlei sentado em 1978, em 1980 dexaria de ser uma secretaria para se tornar uma organização associada à IWAS (com o nome de Organização Mundial de Vôlei para Deficientes, ou WOVD), e em 1992 se separaria de vez da IWAS, se tornando uma federação internacional independente. Vale citar que, além do vôlei sentado e do vôlei de pé de quadra, a World ParaVolley também regula o vôlei sentado e o vôlei de pé de praia.
A World ParaVolley permite a participação, no vôlei sentado, de atletas cadeirantes, amputados, com má-formação, paralisados cerebrais e que tenham sido vítimas de derrame e lesões cerebrais; todos os atletas, porém, devem ter uma deficiência que afete as pernas, não sendo apto para competir, por exemplo, um atleta que seja amputado de um braço, mas não tenha deficiência nas pernas. Uma equipe de médicos avalia cada atleta e o enquadra em uma de três categorias: deficiente (D), deficiência mínima (MD) ou perfeitamente capaz (AB, do inglês able bodied). Somente atletas classificados como D ou MD podem participar de competições oficiais internacionais da World ParaVolley, embora alguns torneios nacionais e competições que não sejam organizadas pela World ParaVolley permitam a participação de um atleta AB por time - podendo ser até um atleta sem qualquer deficiência, mas que deve jogar sentado e seguindo as regras do esporte como todos os demais. Cada time deve ter no mínimo um atleta de cada classificação (D e MD) em quadra.
A quadra do vôlei sentado é menor que a do vôlei regular (e que a do vôlei de pé), com 10 metros de comprimento por 6 de largura, com uma linha de ataque a 2 metros de cada linha de fundo. A rede, que divide a quadra ao meio, tem 1,15 metro de altura para os homens e 1,05 metro para as mulheres. As regras são as mesmas do vôlei regular, com três diferenças: primeiro, todos os atletas devem jogar sentados; segundo, eles podem "tirar o bumbum do chão" para se locomover pela quadra, mas devem ter pelo menos um dos lados das nádegas em contato com o solo toda vez que tocarem na bola; terceiro, é permitido usar um bloqueio para bloquear um saque. Outra diferença é que as jogadas do tipo "mão de ferro" - nas quais um atleta de cada lado põe as mãos na bola simultaneamente, visando empurrá-la para o lado adversário - são permitidas, mas, como os atletas estarão sentados - o que permite que a jogada demore bem mais que no vôlei regular, onde eles estarão no ar - o juiz pode, se considerar que a bola está presa por muito tempo, interromper a jogada e mandar voltar o ponto.
O vôlei faria sua estreia nas Paralimpíadas na edição de 1976, com competições de vôlei sentado e vôlei de pé masculinas, sendo que o torneio de vôlei sentado contou como esporte de demonstração; somente na edição seguinte, em 1980, o vôlei sentado masculino passaria a ser oficialmente parte do programa. O vôlei de pé masculino ainda faria parte do programa até 2000, e o vôlei sentado feminino faria sua estreia na edição seguinte, em 2004. Além das Paralimpíadas, o vôlei sentado tem seu próprio Campeonato Mundial, disputado pela primeira vez no masculino em 1979, aí em intervalos irregulares de 1983 a 1990, e, desde então, a cada quatro anos, com o feminino passando a ser disputado em 1994. Os países mais bem sucedidos no vôlei sentado são Irã (com cinco ouros nas Paralimpíadas e seis no Mundial, todos no masculino), Holanda (três ouros Paralímpicos e dois do Mundial no masculino, quatro ouros no Mundial feminino), China (todos os três ouros Paralímpicos e dois do Mundial no feminino) e Bósnia-Herzegovina (dois ouros Paralímpicos e três do Mundial no masculino). Juntos, esses quatro países ganharam todos os ouros em disputa até hoje nas Paralimpíadas e no Mundial.
O quarto esporte de hoje é o tênis de mesa. Regulado pela ITTF, a Federação Internacional de Tênis de Mesa, o tênis de mesa paralímpico - oficialmente chamado de paratênis de mesa - é um dos mais antigos esportes paralímpicos, com torneios sendo disputados desde 1946. E uma de suas características mais interessantes é que as regras do tênis de mesa paralímpico são absolutamente idênticas às do tênis de mesa regular, com apenas algumas alterações quanto ao saque e ao uso dos braços para cadeirantes e uma recomendação da ITTF para que os árbitros não sejam muito rigorosos quanto a irregularidades de saque para os demais atletas.
Assim como nos demais esportes paralímpicos, os atletas do tênis de mesa são divididos em categorias, de acordo com o tipo e grau de sua deficiência. As categorias do tênis de mesa paralímpico são representadas por números de 1 a 11. Nas categorias de 1 a 5 competem os cadeirantes, como paraplégicos, tetraplégicos, biamputados e outros que não tenham condições de disputar a partida de pé; como de costume, quanto mais baixo o número, maior o grau de deficiência, com os atletas da categoria 1 sendo tetraplégicos com pouca mobilidade dos braços, e os da categoria 5 atletas com perfeito funcionamento dos braços e tronco, mas pouca ou nenhuma mobilidade nas pernas. As categorias de 6 a 10 são destinadas a atletas com qualquer outro tipo de deficiência física, como amputados, paralisados cerebrais, atletas com má-formação e outros que consigam jogar de pé. Amputados das pernas devem usar próteses, enquanto amputados dos braços podem usar um equipamento especial para ajudar a "segurar" a raquete. A categoria 11 é destinada aos deficientes intelectuais.
O tênis de mesa faz parte do programa das Paralimpíadas desde a primeira edição, em 1960. Atualmente, assim como nas Olimpíadas, são disputadas competições masculinas e femininas de simples e de equipes, embora outros torneios também tenham competições de duplas. Como de costume, cada categoria tem sua própria competição, com atletas de categorias próximas podendo ser agrupados em uma mesma categoria em caso de baixo número de participantes. Além das Paralimpíadas, o tênis de mesa possui um Campeonato Mundial, disputado pela primeira vez em 1990, e então a cada quatro anos desde 1998.
Eu sei que disse que ia falar sobre quatro esportes, mas, antes de terminar de vez, vou incluir um quinto rapidinho, a sinuca. A sinuca paralímpica não faz mais parte do programa das Paralimpíadas, mas já fez, entre 1960 e 1988. Regulada pela IWAS, ela usa as mesmas regras da sinuca tradicional, mas é disputada em uma mesa mais baixa, por atletas cadeirantes.
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