Ainda assim, o post 600 se aproxima, e, não sei se eu já mencionei, mas, quando um post de número expressivo se aproxima, fico com vontade de falar sobre alguns assuntos que eu acho que estão "faltando". É algum problema psicológico. Para atendê-lo, hoje é dia de Fatal Fury no átomo!
Fatal Fury, cujo nome completo é Fatal Fury: King of Fighters, e o nome original em japonês é Garou Densetsu: Shukumei no Tatakai (algo como "a lenda dos lobos solitários: a batalha do destino") foi criado para ser o sucessor de Street Fighter. Não do famosíssimo Street Fighter 2 (que, a bem da verdade, teve uns mil jogos que tentaram ser seu sucessor), mas do primeirão, aquele no qual o jogador 1 sempre era o Ryu, o jogador 2 sempre era o Ken, e os demais oponentes eram sempre controlados pelo computador. Fatal Fury, aliás, foi criado por um dos criadores de Street Fighter, Takashi Nishiyama, vulgo Piston Takashi, que saiu da Capcom e acabou contratado pela SNK depois que decidiram não incluí-lo no desenvolvimento de Street Fighter 2 - que ficaria a cargo da equipe responsável por Final Fight. Na época, "jogos de luta" ainda não eram uma categoria bem estabelecida e famosa, de forma que a SNK estava, de certa forma, se arriscando ao contratá-lo e a investir em sua ideia. Ironicamente, o sucesso gigantesco de Street Fighter 2 abriria as portas para mais jogos de luta, a SNK decidiria fazer deles sua principal bandeira, e acabaria lucrando milhões com isso.
Além de mais lutadores selecionáveis, Street Fighter 2 tinha duas diferenças básicas em relação ao Street Fighter de Nishiyama. A principal era que, enquanto a ênfase do primeiro Street Fighter era no timing dos especiais - em outras palavras, acertar um especial na hora certa era mais importante que acertar um monte deles - a ênfase de Street Fighter 2 era nos combos - com uma sequência devastadora de golpes sendo mais valorizada que especiais cirúrgicos. Além disso, Nishiyama havia criado uma história, ainda que bem básica, para Street Fighter - Ryu, o protagonista, viaja o mundo visando se tornar o maior lutador de todos os tempos; Street Fighter 2, com oito personagens selecionáveis, até tentou ter uma história, dando um objetivo para cada um deles, mas, como cada um tinha seu próprio final, isso acabou sendo um problema, pois não havia como estabelecer qual daqueles finais era o "verdadeiro" - problema esse que algumas softhouses tentariam resolver "na marra", como a Midway, que decidiu que, no "final oficial" de Mortal Kombat, o vencedor do torneio era Liu Kang, sendo os outros seis finais "realidades alternativas".
Ao criar Fatal Fury, Nishiyama decidiu resgatar essas características, pondo mais ênfase na hora de se aplicar os especiais e criando uma história imutável, cujo final não dependesse de qual lutador venceu o torneio. Para isso, ele, evidentemente, não poderia colocar um monte de lutadores selecionáveis, mas colocar um só seria um retrocesso; Nishiyama resolveria esse problema colocando três, mas que seriam aliados, todos com o mesmo objetivo: os irmãos Terry e Andy Bogard e seu amigo Joe Higashi. Nunca entendi por que ele não fez logo três irmãos, mas tudo bem.
Terry e Andy são filhos de Jeff Bogard, investigador que, há dez anos, foi assassinado por Geese Howard, chefão do crime da cidade norte-americana de South Town. Uma vez por ano, Geese organiza em sua cidade um torneio chamado King of Fighters, do qual participam lutadores sujos de todas as partes do mundo, todos de olho em um gordo prêmio em dinheiro. Para vingar seu pai, Terry e Andy se inscrevem nessa edição do torneio, acompanhados de Joe, que decide ajudá-los.
Sendo aliados, no modo para um jogador Terry, Andy e Joe jamais se enfrentam. Independentemente de qual dos três você escolher, você terá a opção de selecionar um de quatro oponentes: o punk Duck King, o mestre capoeirista Richard Meyer, o boxeador Michael Max ou o velhinho chinês Tung Fu Rue - que, após sofrer uma certa quantidade de dano, fica enorme e musculoso. Esses lutadores são enfrentados sempre na mesma ordem, começando pelo que você escolheu (Richard - Michael - Duck - Tung - Richard etc.). Após derrotar os quatro, você enfrentará mais quatro, em ordem fixa: o lutador de muay thai Hwa Jai, o lutador de luta livre mascarado Raiden, o atual campeão do torneio, Billy Kane, e, finalmente, Geese Howard.
Fatal Fury tinha o sistema normal dos jogos de luta da época (melhor de três rounds, apenas golpes comuns e especiais, sem barra de super), mas adicionou uma novidade que se tornaria a marca característica da série: dois planos de luta. Em cada cenário, os lutadores podiam se enfrentar no plano da frente, "mais próximo da tela", ou no de trás, mais distante, sendo que os golpes de um lutador só acertam o oponente se ambos estiverem no mesmo plano; nesse primeiro jogo, porém, o jogador só podia mudar de plano depois que o oponente o fizesse, embora não fosse obrigado a fazê-lo. Outra novidade curiosa é que, se um segundo jogador entrasse no jogo, ao invés de a luta atual ser interrompida, ambos podiam jogar contra o mesmo oponente, em uma desleal luta de dois contra um, sendo apenas a luta seguinte a de um contra o outro, e, a partir de então, o vencedor prosseguindo no torneio. Infelizmente, mesmo no modo versus os únicos lutadores disponíveis eram Terry, Andy e Joe, o que fazia com que as lutas entre dois jogadores só se tornassem mesmo interessantes devido a esse sistema de dois contra um. Finalmente, a cada duas lutas contra oponentes controlados pelo computador, o jogador tinha direito a uma fase bônus, na qual Terry, Andy ou Joe disputavam queda de braço contra uma máquina, devendo o jogador pressionar os botões rapidamente para vencê-la.
Fatal Fury seria lançado em 25 de novembro de 1991 - seis meses após Street Fighter 2 - e, talvez por ter menos lutadores à disposição do jogador que seu principal concorrente, não foi lá muito bem sucedido. Para tentar solucionar esse problema, as versões caseiras permitiriam que os demais personagens, além de Terry, Andy e Joe, fossem selecionados, mas de forma extremamente capenga: na versão Super Nintendo, apenas o segundo jogador podia escolhê-los, enquanto na versão Mega Drive foram removidos Hwa Jai e Billy Kane; além disso, apenas no modo versus os demais lutadores podiam ser selecionados, com o modo para um jogador contando apenas com os três de sempre - e a razão pela qual Hwa Jai e Billy Kane foram removidos da versão Mega Drive é que, nela, você enfrentava os dois lutadores que não tivesse escolhido no modo para um jogador.
Para não ficar para trás em relação a Street Fighter 2, a SNK decidiria simplesmente copiá-lo. Assim, Fatal Fury 2, lançado em dezembro de 1992, trazia um sistema de jogo idêntico ao de seu principal concorrente: oito lutadores à disposição do jogador e quatro chefes - lutadores que não podem ser selecionados, apenas enfrentados, e que o são depois que todos os demais já tiverem sido. No caso de Fatal Fury 2 (cujo nome original era Garou Densetsu 2: Aratanaru Tatakai, "uma nova batalha"), uma partida completa era composta de 12 lutas, com todos os oito lutadores à disposição do jogador sendo enfrentados antes dos quatro chefes, incluindo um "clone" do personagem que o jogador escolheu.
Ambientado um ano após o torneio anterior, Fatal Fury 2 traz uma nova edição do torneio King of Fighters, agora organizado por um homem misterioso. Terry, Andy e Joe são convidados a retornar e defender sua honra, e decidem aceitar para descobrir quem estaria por trás do convite. A eles se unem o lutador de taekwondo Kim Kap Hwan; o executivo Cheng Sinzan, que deseja o dinheiro do prêmio para abrir um dojo; o idoso mestre de judô Jubei Yamada; o lutador de luta livre australiano Big Bear, que, depois, em um retcon passaria a ser Raiden, do primeiro jogo, sem a máscara; e a ninja sexy Mai Shiranui, primeira lutadora feminina de um jogo da SNK, que se tornaria uma das personagens mais icônicas da softhouse graças às suas roupas parcas e medidas fartas. Os quatro chefes eram Billy Kane; o lutador de boxe desonesto Axel Hawk; o toureiro Laurence Blood; e Wolfgang Krauser, nobre alemão que assumiu todos os negócios de Geese e deseja se vingar dos irmãos Bogard.
O sistema de dois planos foi modificado: agora, além de poder mudar de plano livremente, o jogador tinha um golpe que arremessava o oponente para o outro plano - útil em cenários nos quais o plano de trás contava com perigos, como uma cerca eletrificada. Outras novidades incluíam a corrida - o personagem se aproximava ou se afastava rapidamente do oponente se o direcional fosse pressionado duas vezes em sequência - a provocação - que não servia pra nada, mas irritava os jogadores oponentes - e o Desperation Move, especial superpoderoso que só podia ser usado quando o personagem tivesse um quarto ou menos de sua energia total. No geral, Fatal Fury 2 foi bastante bem sucedido, e, graças a ele, Fatal Fury se tornaria uma das principais franquias da SNK.
Em setembro de 1993, Fatal Fury 2 ganharia uma nova versão, chamada Fatal Fury Special (Garou Densetsu Special no Japão). A história era a mesma, mas agora Krauser era o chefe de Geese, e não seu substituto. Todos os doze personagens de Fatal Fury 2 agora podiam ser escolhidos pelo jogador, assim como três que retornavam do primeiro Fatal Fury, Tung Fu Rue, Duck King e Geese Howard. Após selecionar seu personagem, o jogador podia selecionar seu primeiro oponente, de uma lista que incluía os oito selecionáveis pelo jogador em Fatal Fury 2 mais Tung Fu Rue e Duck King; após derrotar esses dez, seriam enfrentados Billy, Axel, Laurence, Geese e Krauser, sempre nessa ordem - como o "clone" do jogador também sempre era enfrentado, não importava se você estava jogando com um dos cinco. Se o jogador vencesse todas as quinze lutas sem perder nenhum round, ainda teria direito a uma luta contra um "chefe secreto", Ryo Sakazaki, de Art of Fighting, outro jogo da SNK. A jogabilidade era a mesma de Fatal Fury 2, mas agora era mais fácil fazer combos, como em Street Fighter 2.
Vale citar rapidamente uma outra nova versão de Fatal Fury 2, lançada exclusivamente no Japão em 1994 para o Game Boy. Chamada Nettou Garou Densetsu 2 (sendo que nettou, bizarramente, significa "calor extremo"), ela trazia personagens na versão super deformed - aquela na qual eles se parecem com miniaturas atarracadas de si mesmos - e balões de diálogo ao invés das vozes digitalizadas, para economizar memória.
A continuação da saga viria apenas em março de 1995, quase três anos após Fatal Fury 2, com o lançamento de Fatal Fury 3: Road to the Final Victory (Garou Densetsu 3: Harukanaru Tatakai, "a batalha distante", em japonês). Com The King of Fighters se tornando uma série em separado - dizem os boatos que devido a pedidos dos fãs depois da inclusão de Ryo em Fatal Fury Special - a SNK decidiu dar um novo rumo à série, dissociando-a do torneio King of Fighters e criando histórias baseadas na rivalidade entre Terry e Geese. Na primeira dessas histórias, a de Fatal Fury 3, Geese está tentando obter três pergaminhos ancestrais que farão com que ele aprenda uma poderosíssima arte marcial, se tornando invencível, e Terry está disposto a detê-lo.
Fatal Fury 3 trazia dez personagens à disposição do jogador: a Terry, Andy, Joe, Geese e Mai se uniam o policial Hon-Fu, o monge Sokaku Mochizuki, a agente secreta Blue Mary, o capoeirista Bob Wilson e o kickboxer Franco Bash. Todos têm alguma relação com os pergaminhos, querendo encontrá-los, apreendê-los ou destruí-los (exceto Franco, que quer salvar seu filho sequestrado). O jogo traz um "subchefe", Ryuji Yamazaki, que enfrenta o jogador em uma luta de um único round após ele derrotar quatro oponentes e em uma luta normal (melhor de três rounds) após seis. Após derrotar todos esses onze personagens (incluindo seu clone), o jogador ainda terá de derrotar dois chefes, os irmãos gêmeos Jin Chonshu e Jin Chonrei (um de cada vez e nessa ordem), atuais detentores dos pergaminhos. Assim como no primeiro Fatal Fury, a ordem dos quatro primeiros oponentes podia ser escolhida, começando por Bob, Franco, Mary ou Joe.
Com gráficos e sons aprimorados, Fatal Fury 3 manteve a mesma jogabilidade de Fatal Fury 2, com apenas uma grande inovação: agora, ao invés de dois planos de luta, eram três - o plano do meio, no qual a luta se desenrolava normalmente, um mais à frente e um mais atrás. Os lutadores não podiam lutar nos planos da frente e de trás, entretanto, podendo apenas fugir para lá para escapar de algum golpe, retornar de lá atacando o oponente ou arremessar o oponente para lá em direção a algum perigo. O jogo fez um relativo sucesso, mas muitos fãs reclamaram do fato de o torneio King of Fighters ter sido retirado da história. No jogo seguinte, portanto, a SNK o traria de volta, em uma nova edição. Por algum motivo, porém, ao invés de chamar esse jogo seguinte de Fatal Fury 4, a SNK optaria por chamá-lo de Real Bout Fatal Fury (Real Bout Garou Densetsu em japonês; bout, em inglês, é uma palavra chique para luta, mais ou menos como "contenda" em português).
Lançado em dezembro de 1995, Real Bout Fatal Fury fazia o que Nishiyama não queria que os jogos de luta fizessem: mesmo com Fatal Fury 3 tendo um final diferente para cada lutador, havia um "final oficial", no qual Geese conseguia os pergaminhos. Para testar seu poder, ele decide organizar uma nova edição do torneio, fazendo questão de convidar seus desafetos Terry, Andy e Joe. Ao todo, 16 personagens estão à disposição do jogador: os 13 de Fatal Fury 3 (incluindo Yamazaki, Chonshu e Chonrei) mais Kim Kap Hwan, Duck King e Billy Kane. Yamazaki, Billy e Geese são sempre enfrentados por último, mesmo que o jogador esteja jogando com um deles.
Real Bout Fatal Fury trouxe, finalmente, a barra de super para a série, que possibilitava o uso de três tipos de golpes: com a barra na metade e da cor amarela, o jogador podia efetuar os Guard Cancels, contra-ataques que não gastavam barra. Uma vez que a barra ficasse totalmente cheia, ela começava a esvaziar sozinha, mas, enquanto não esvaziasse completamente, o jogador poderia usar o Super Especial, que a esvaziava instantaneamente, mas causava dano maciço se atingisse o adversário. Finalmente, com a barra esvaziando e menos de um quarto de sua energia restante, o jogador poderia usar o Super Especial sem gastar a barra, ou usar um Hidden Ability, um super ainda mais poderoso, gastando-a. Além da barra de super, Real Bout Fatal Fury trazia o ring out, que estava começando a se popularizar nos jogos de luta em 3D, como Virtua Fighter: quando estivesse perto do limite do cenário, o jogador poderia usar golpes pré-determinados (dependendo do cenário) para jogar o oponente para fora do mesmo, ganhando o round instantaneamente, independentemente de quanta energia o oponente ainda tivesse. O jogo também trazia de volta o sistema de dois planos original da série, com a luta podendo acontecer em qualquer um dos dois, e sem perigos no plano de trás.
Em janeiro de 1997, Real Bout Fatal Fury ganharia uma espécie de continuação, chamada Real Bout Fatal Fury Special (Real Bout Garou Densetsu Special no Japão). A história é um fiapo: no final de Real Bout Fatal Fury, Geese morre, e Krauser decide organizar uma nova edição do torneio para vingá-lo. Estão à disposição do jogador 19 personagens, sendo 15 de Real Bout Fatal Fury (só Geese, morto, ficou de fora) mais Tung Fu Rue, Cheng Sinzan, Laurence Blood e Wolfgang Krauser, que também sempre é o último chefe. Assim como em Fatal Fury Special, terminar o jogo sem perder nenhum round dava direito a enfrentar um chefe secreto, Nightmare Geese, uma versão demoníaca de Geese. Real Bout Fatal Fury Special seria o primeiro da série a trazer personagens secretos à disposição do jogador, embora todos eles fossem versões com golpes diferentes de outros personagens: Shadow Andy, EX Blue Mary, EX Billy Kane e EX Tung Fu Rue. O jogo não trouxe nenhuma novidade, tendo jogabilidade idêntica à de Real Bout Fatal Fury.
Real Bout Fatal Fury Special ganharia duas versões caseiras curiosas, ambas lançadas em 1998 e ambas lançadas exclusivamente no Japão. A primeira foi Nettou Real Bout Garou Densetsu Special, do Game Boy Color. Devido às limitações do console, apenas 12 personagens estavam presentes (Terry, Andy, Joe, Mai, Mary, Duck King, Kim, Chonrei, Billy, Yamazaki, Laurence e Krauser), sendo Krauser sempre o último chefe; dependendo do desempenho do jogador, porém, ele poderia ter de enfrentar dois chefes secretos: um era Nightmare Geese, o outro era Iori Yagami, da série King of Fighters.
A segunda foi Real Bout Garou Densetsu Special: Dominated Mind (assim com o subtítulo em inglês mesmo), para o Playstation. Nesse jogo, quem assumiu o controle de South Town após a morte de Geese foi um novo personagem, White, cuja aparência é inspirada na do personagem Alex DeLarge, de Laranja Mecânica. O subtítulo se deve ao fato de que White conseguiu controlar South Town dominando a mente de Billy Kane, que atua como seu guarda-costas. 21 personagens estão à disposição do jogador, incluindo os 19 de Real Bout Fatal Fury Special (exceto os secretos), Geese (que tem uma auréola em volta da cabeça para indicar que está morto) e um novo, Alfred, um jovem piloto que decide combater o crime na cidade inspirado na história de Terry e Andy. White é o último chefe, mas não pode ser selecionado. Dominated Mind trouxe novos golpes e supers para todos os personagens e um novo tipo de golpe, o Final Impact, que cancela um golpe do oponente mas gasta a barra de super; em compensação, não tinha o sistema de múltiplos planos, com todas as lutas ocorrendo em um único plano como nos demais jogos do estilo.
Em março de 1998 seria lançado mais um jogo da série, Real Bout Fatal Fury 2: The Newcomers (Real Bout Garou Densetsu 2: The Newcomers no Japão). Curiosamente, esse jogo não tinha qualquer história, sendo apenas mais uma edição do torneio King of Fighters, com a participação de vários lutadores da série mais alguns novos - a própria SNK, na divulgação do jogo, declararia que ele não fazia parte da continuidade da série, e que seus eventos não teriam nenhum impacto nos jogos futuros. Por que lançá-lo dessa forma, ao invés de tentar criar um mínimo enredo, eu juro que não sei.
Real Bout Fatal Fury 2 teria apenas dois planos de jogo, mas com o mesmo esquema de Fatal Fury 3, no qual o de trás só pode ser usado para fugir de ataques ou arremessar o oponente contra perigos, presentes em alguns dos cenários. De resto, a jogabilidade é igual à de Real Bout Fatal Fury Special. 22 personagens estão à disposição do jogador, os 19 de Real Bout Fatal Fury Special (mais uma vez, exceto os secretos), mais Geese e dois novos, a chinesa Li Xiangfei e o indígena norte-americano Rick Strowd. Billy, Laurence, Geese e Krauser são sempre os quatro últimos, nessa ordem, e Alfred, de Dominated Mind é um chefe secreto.
Em 1999, Real Bout Fatal Fury 2 ganharia uma versão para o Neo Geo Pocket Color, chamada Fatal Fury: 1st Contact (Garou Densetsu: First Contact no Japão). Essa versão tinha gráficos no estilo super deformed e apenas 11 personagens à disposição do jogador (Terry, Andy, Joe, Mai, Kim, Yamazaki, Rick, Xiangfei, Billy, Krauser e Geese), sendo Billy, Krauser e Geese sempre os três últimos, nessa ordem. Alfred é um chefe secreto, e, após derrotado, passa a também poder ser selecionado pelo jogador. Bizarramente, o jogo traz um personagem novo, Lao, que só pode ser selecionado no modo versus.
Ainda em 1999, a SNK decidiria lançar um reboot da série para sua placa Hyper Neo Geo 64, que visava substituir o Neo Geo e embarcar na onda de popularidade que os jogos com gráficos poligonais experimentavam na época. Chamado Fatal Fury: Wild Ambition (Garou Densetsu: Wild Ambition, aparentemente eles cansaram de inventar subtítulos em japonês), o jogo tinha gráficos e jogabilidade em 3D e a mesma história do primeiro Fatal Fury, mas com personagens diferentes.
Ao todo, dez personagens estão à disposição do jogador: Terry, Andy, Joe, Mai, Kim, Billy, Raiden, Yamazaki e dois novos, Toji Sakata, o antigo treinador de Geese, e Tsugumi Sendo, menina que sonha se tornar uma estrela da luta. Geese e Xiangfei são personagens secretos, que podem ser selecionados pelo jogador através de códigos. Uma partida é composta de oito lutas, sendo as duas últimas sempre contra Billy e Geese. Vencendo todas as lutas sem perder nenhum round, você ganha o direito de enfrentar Ryo, que nesse jogo atende pelo nome de Mr. Karate. Na versão Playstation, a única versão caseira desse título e única de qualquer título do Hyper Neo Geo 64, Geese e Xiangfei estão disponíveis desde o início, e os secretos são Mr. Karate e Duck King.
Sendo um jogo de luta 3D, Wild Ambition não tem múltiplos planos, mas permite que os personagens se movam livremente pelo cenário - os quatro botões do jogo, aliás, servem um para socos, um para chutes, um para um ataque forte que pode ser um soco ou chute, dependendo do personagem, e um para "girar o cenário", usado em conjunto com o direcional para cima ou para baixo. Uma das coisas mais curiosas do jogo é a barra de super, chamada Heat Bar. Ela começa cada luta 50% cheia, e enche mais conforme o jogador ataca ou provoca o oponente; se o jogador sofrer dano, porém, ela esvazia, e, se ficar completamente vazia, o personagem fica tonto e incapaz de defender. Se a barra estiver com menos de 50%, e o jogador conseguir ficar três segundos sem sofrer dano, ela volta para os 50% automaticamente, não importa em quanto estava antes. Uma vez que a barra esteja totalmente cheia, ela não esvazia sozinha, apenas se o jogador usar um Overdrive Power (basicamente, um super especial) ou um Heat Blow (um super especial que não pode ser bloqueado, mas só pode ser usado se a barra de energia estiver com menos de 25% - aliás, se a barra de energia estiver com menos de 25%, o jogador também pode usar um outro tipo de super, o Super Power Attack, livremente). Outra característica do jogo é que, se o personagem conseguir defender um ataque no exato momento em que ele iria acertar, não sofre dano e ainda joga o oponente longe.
O último jogo da série até agora foi Garou: Mark of the Wolves (Garou Densetsu: Mark of the Wolves no Japão; por que não traduziram de novo para Fatal Fury nos EUA, eu não sei), lançado em novembro de 1999. Ambientado dez anos após Real Bout Fatal Fury (que, segundo a SNK, foi o último jogo da série a fazer parte da cronologia oficial), Garou traz um elenco de personagens totalmente novo, com Terry sendo o único da série original.
Após a morte de Geese, Terry descobriu que seu desafeto tinha um filho pequeno, chamado Rock, que já era órfão de mãe. Com pena do menino, que não tinha culpa de o pai ser um criminoso, ele decide adotá-lo. Dez anos se passam, e a cidade de South Town prospera, livre do crime. Um dia, porém, um misterioso lutador convida Terry e Rock para o torneio King of Fighters Maximum Mayhem, que contará com lutadores de rua de todo o planeta. Curiosos quanto a quem seria o organizador, ambos decidem aceitar o convite e participar.
Garou traz 12 personagens à disposição do jogador. Além de Rock Howard, cujos golpes são uma mistura dos de Terry com os de Geese, e de Terry Bogard, que tem golpes totalmente novos, mas parecidos com os antigos, temos Kim Dong Hwan e Kim Jae Hoon, os filhos de Kim Kap Hwan; o policial Kevin Rian, amigo de Rock que quer vingar a morte de seu parceiro, assassinado por Freeman, assassino serial que também é convidado para o torneio; Bonne Jenet, uma pirata que procura um tesouro escondido em South Town; o lutador Gato, que se considera o mais forte do mundo, e está sempre à procura de lutadores mais fortes para enfrentar; sua irmã mais nova, Hotaru Futaba, que pensa que o irmão é um bobo e é seu dever protegê-lo; o ninja Hokutomaru, treinado por Andy; o carateca Khushnood Butt (que se chama Marco Rodriguez na versão japonesa, mas foi renomeado porque o lutador real Ricco Rodriguez ameaçou processar a SNK alegando que o personagem era inspirado nele, por isso eles inventaram um nome novo tão criativo), treinado por Ryo e com golpes parecidos com os dele; e o lutador de luta livre mascarado Tizoc (que, na versão japonesa, se chama Griffon Mask).
Após escolher seu lutador e vencer os demais, você enfrenta Grant, que posa de organizador do torneio, mas, na verdade, é apenas o guarda-costas do verdadeiro organizador, Kain R. Heinlein, último chefe do jogo e irmão da mãe de Rock, que quer reconstruir o império do crime de Geese com Rock a seu lado. Para enfrentar Kain e ver o final do personagem que escolheu, porém, o jogador tem de conseguir um ranking AAA (após cada luta ele recebe uma avaliação, sendo ranqueado como D, C, B, A, AA ou AAA) em todas as lutas, da primeira até a última. Se não conseguir, o último chefe será Grant, e o final exibido será um final genérico.
Garou não conta com a principal característica da série, os múltiplos planos, mas introduziu duas novidades elogiadas pelos jogadores: a Tactical Offense Position, uma marcação na barra de energia que, uma vez que sua energia chegue a ela, permite que o lutador use golpes novos, recupere um pouco da energia perdida ou aumente o dano de seus ataques normais; e o Just Defend, sistema com o qual, se o lutador defender um golpe no último momento, recupera um pouco de energia e pode contra-atacar sem que o oponente tenha chance de defender. O jogo também seria bastante elogiado por levar a capacidade do Neo Geo ao limite, com gráficos e animações que muitos não consideravam possíveis nesse sistema.
Garou foi um grande sucesso, tanto que, em 2000, a SNK já anunciou que estava trabalhando em uma continuação. Os sucessivos problemas financeiros e resstruturações da empresa, porém, acabaram a adiando. Em 2005, a continuação foi novamente anunciada, dessa vez não para o Neo Geo, que já nem existia mais, mas para um dos consoles de última geração da época, informação que foi confirmada em 2006. Em 2008, entretanto, a SNK veio a público declarar que não havia demanda que justificasse o lançamento dessa continuação, embora eles ainda planejassem fazê-la. Até agora, nada.
Após a reestruturação, parece que a única franquia na qual a SNK realmente está disposta a investir é King of Fighters. E, como também temos personagens de Fatal Fury por lá, um novo jogo da série parece cada vez menos provável.
0 Comentários:
Postar um comentário