Por incrível que pareça, eu conheço umas cem pessoas que acham que o esporte "dos martelões e argolinhas" se chama críquete. Pois a todos esses cem, e a mais alguns que possam estar lendo esse post, aí vai uma revelação: esse esporte se chama croquê. Apesar de bastante exótico, o croquê ficou famoso aqui no Brasil garças aos desenhos do Pica-Pau, no qual ele tenta jogar e é atrapalhado por uma marmota. Quem não o conhece do Pica-Pau provavelmente o conhece de Alice no País das Maravilhas, onde a Rainha de Copas o joga com flamingos e ouriços no lugar das marretas e bolas, respectivamente. Agora, por que todo mundo acha que ele se chama críquete, aí eu não sei - até já cheguei a imaginar que ele tenha sido chamado de críquete no desenho do Pica-Pau, mas não sei se foi o caso. Críquete é um esporte totalmente diferente, até bastante parecido com o beisebol - que não descende dele, mas de outro chamado rounders - e que até já ganhou post aqui no átomo.
Pois bem, como eu estava mesmo procurando um assunto para essa semana, agradeci à ignorância alheia e decidi fazer um post sobre croquê. Assim, quando mais alguém se confundir, pelo menos eu posso indicar dois posts ao invés de um.
Apesar do que o nome possa dar a entender, o croquê não se originou na França, mas na Inglaterra (assim como o críquete, mas deixa isso pra lá para não aumentar a confusão). O documento mais antigo a fazer referência a este esporte é um conjunto de regras escrito em 1856 por Isaac Sprat. Na década de 1860, o croquê experimentaria um boom de popularidade, tomando a Inglaterra de assalto e se espalhando por suas colônias. Mas, apesar dessas referências, o esporte não foi inventado na segunda metade do século XVII; ele é antigo, muito antigo. Tão antigo que - adivinhem - ninguém sabe ao certo como ou onde surgiu. Se bem que existem duas teorias normalmente aceitas para suas origens.
A mais difundida dessas teorias diz que esportes similares já seriam disputados na França e Itália desde tempos remotos, e teriam sido introduzidos na Inglaterra entre 1660 e 1685, durante o reinado de Carlos II, que teria se tornado um aficcionado após jogá-lo na França. Na época, o esporte ficaria conhecido como "pall mall", uma corruptela das palavras palla e malleus, respectivamente "bola" e "martelo" em latim. Na época, o jogo era disputado em campos enormes, como os de golfe, com vários aros para a bola passar, e não em campos pequenos como os de hoje. Essa teoria possui dois problemas: primeiro, há registros de que esportes parecidos com o pall mall já eram disputados na própria Inglaterra desde pelo menos 1611, bem antes da coroação de Carlos II. Segundo, não explica por que o nome do esporte teria virado croquê.
A segunda teoria pelo menos tenta. Ela diz que o jogo não teria vindo da França, mas da Irlanda, onde originalmente era um passatempo disputado nas praias, chamado crookey. Por volta de 1850, o esporte teria chegado à vizinha Inglaterra, onde seu nome seria corrompido para croquet. O problema com essa teoria é que, na Irlanda, não há um único documento anterior a 1858 - depois, portanto, da publicação das regras de Sprat - que mencione o jogo.
Seja de onde ele tenha surgido, o fato é que o croquê passaria a maior parte da história restrito a aristocratas. Somente após Sprat registrar suas regras é que ele se popularizaria, ensejando a criação, em 1868, do All England Croquet Club, em Wimbledon, Inglaterra. Durante seus áureos tempos, o croquê se espalharia pela Europa e pelas colônias inglesas, se tornando o passatempo preferido de milhares de jovens. Infelizmente, essa popularidade não duraria nem dez anos: já na década de 1870, surgiria um novo esporte que concentraria as atenções dos britânicos, também mais tarde se espalhando pelo mundo inteiro e substituindo o croquê nos corações dos jovens. Esse esporte se chamava tênis.
Não é normal um esporte "substituir" outro, mas foi justamente isso que o tênis fez com o croquê. Se você achou curiosa a coincidência de que o All England Croquet Club também fica em Wimbledon, saiba que é porque isso não é coincidência, e nessa frase não deveria haver um "também": quando o tênis começou a se popularizar, o All England simplesmente transformou todos os seus campos de croquê em quadras de tênis, mudando seu nome para All England Lawn Tennis and Croquet Club, até hoje a sede do torneio de Wimbledon, um dos quatro Grands Slam do tênis e um dos torneios mais charmosos e famosos do mundo. O All England ainda tem um campo de croquê, mas ele não sedia competições oficiais, e serve apenas para uso de seus sócios. Assim como o All England, vários clubes de croquê pelo mundo se converteram em clubes de tênis, e o croquê, aos poucos, foi deixando de ser um esporte para se tornar apenas um passatempo.
Hoje, o croquê é bem pouco disputado, e a Federação Mundial de Croquê (WCF), fundada apenas em 1986, conta com somente 11 membros plenos, todos eles, à exceção de Itália e Japão, tendo alguma relação com a Inglaterra, único país no qual o esporte ainda pode ser considerado realmente popular. O Brasil não é membro da WCF - que, além dos 11 membros plenos, ainda conta com 6 membros associados e 12 "membros observadores", seja lá o que isso signifique - e por aqui o croquê só é mesmo conhecido de filmes e desenhos animados - embora um outro esporte bem parecido, como veremos adiante, seja até bastante popular.
Atualmente, duas variações do croquê são reguladas pela WCF, o Association Croquet e o Golf Croquet. Outras variações, como o Mondo Croquet, o eXtreme Croquet e o Bicycle Croquet possuem vários praticantes ao redor do mundo, mas não são reconhecidas pela WCF. O Association Croquet tem esse nome por ter sido originalmente regulada pela Croquet Association, órgão que assumiu a tutela do esporte no Reino Unido depois que o All England virou um clube de tênis. A Croquet Association é até hoje o órgão máximo do croquê na Inglaterra e no País de Gales, mas agora é afiliada à WCF, e as regras do Association Croquet são de responsabilidade de um comitê da WCF formado por membros da Croquet Association e das associações nacionais da Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos - considerados, junto à Inglaterra, os países mais fortes do croquê.
O Association Croquet é jogado em um campo retangular, gramado, de 25 por 32 metros. Nesse campos são dispostos seis arcos (wickets), feitos de ferro, com 30 cm de altura e 9,52 cm de abertura, por baixo dos quais a bola tem de passar. Os arcos possuem uma ordem correta para serem "vencidos", não podendo o jogador passar por eles na ordem que bem entender. Além dos arcos, o campo conta com um poste (pole), feito de madeira, listrado e colorido, com 3,81 cm de diâmetro e 45 cm de altura. Para entender a disposição dos aros e do poste, imagine o número cinco em um dado. O poste é a bolinha do meio, e os aros 1, 2, 3 e 4 são as bolinhas dos cantos. Os aros 5 e 6 ficam paralelos ao poste, na metade da distância entre ele e os demais aros.
Cada jogador joga utilizando uma marreta (mallet), normalmente feita de madeira, cujo cabo tem entre 76 e 96 cm de comprimento. A cabeça é cilíndrica, com 23,5 cm de comprimento e 6 cm de diâmetro. O peso total da marreta fica entre 910 g e 1,36 Kg. Finalmente, cada jogador joga não com uma, mas com duas bolas: um joga com a azul e a preta, enquanto outro joga com a vermelha e a amarela. As bolas possuem 9,2 cm de circunferência e devem pesar entre 446 e 460 g. Originalmente, as bolas também eram feitas de madeira, mas atualmente são feitas de resina. As quatro bolas de um mesmo conjunto devem ser praticamente idênticas, e, para compará-las, não é usada a circunferência ou o peso, mas sim sua capacidade de quicar: quando derrubadas de uma altura de 1,62 m sobre uma superfície lisa de concreto, cada bola deve quicar entre 76 e 114 cm, com tolerância máxima de 7,62 cm entre uma bola e outra.
No início de cada jogada, o jogador escolhe qual de suas duas bolas irá jogar, podendo jogar direto com a mesma ou alternando entre uma e outra, não importa. O objetivo é fazer com que ambas passem por todos os aros na seguinte ordem: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 2, 1, 4, 3, 6, 5 e então bata no poste. Uma vez que uma bola bata no poste, ela é removida do jogo, e o jogador continua só com a outra. O primeiro a remover ambas as suas bolas do jogo é o vencedor. Caso, após uma tacada, o jogador coloque a bola para fora do campo, ela será recolocada a 90 cm do ponto onde saiu, em qualquer posição que o jogador deseje.
Normalmente, os jogadores se alternam nas tacadas, ou seja, primeiro o Jogador A bate na bola, depois o Jogador B, então o Jogador A de novo, e assim por diante. Mas, para apimentar o jogo, existe uma regra chamada roquê - não é erro de digitação, é sem o "c" mesmo: toda vez que uma bola acerta outra, o jogador que bateu nela ganha duas tacadas extras, e não importa se a bola na qual ela bateu era do adversário ou do próprio jogador. Cada bola pode servir para roquê apenas uma vez por jogada, ou seja, o máximo de roquês que um jogador pode fazer antes de ter de ceder a vez para o adversário é três, um com cada outra bola. Há uma exceção, porém: se após um roquê o jogador vencer um arco, o número de roquês zera, e ele passa a ter direito a mais três.
Uma vez que o jogador consiga o roquê, a primeira de suas duas tacadas adicionais se chama, assim como o jogo, croquê. Para fazer o croquê, ele pega a bola de onde quer que ela esteja e a coloca tocando a bola com a qual fez roquê, colocando o pé sobre ela antes de dar a tacada. Após o croquê, ele ainda tem direito a uma segunda tacada (a segunda adicional), com a qual poderá tentar fazer um novo roquê, ou, se não conseguir, passar a vez para o oponente depois dela. Além de para ganhar tacadas extras, o roquê também pode servir para jogar as bolas do adversário para longe, dificultando que ele consiga vencer os arcos em poucas tacadas.
O Association Croquet pode ser jogado em simples ou em duplas, sendo que no jogo de duplas os jogadores se alternam nas tacadas, podendo qualquer um dos dois usar qualquer uma das duas bolas da dupla. É um esporte misto, ou seja, tanto no jogo de simples quanto no de duplas, homens e mulheres jogam e são ranqueados juntos, sem diferenças de torneios masculinos e femininos - no jogo de duplas, aliás, as duplas podem ter um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres. Na Austrália e na Nova Zelândia, inclusive, o topo do ranking é todo feminino, com as mulheres se saindo muito melhor nos torneios nacionais do que os homens.
O torneio mais importante do Association Croquet é o Campeonato Mundial, disputado nas categorias simples e duplas, organizado pela WCF desde 1989, primeiro anualmente, hoje a cada dois anos, sempre nos anos ímpares. O segundo torneio em importância é o MacRobertson International Croquet Shield, disputado desde 1925 e batizado em homenagem ao asutraliano Sir Macpherson Robertson, grande entusiasta do croquê e inventor do torneio. O MacRobertson Shield é um torneio diferente: para começar, é disputado apenas por jogadores da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido - sendo que, nos demais torneios, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte competem separadamente. Além disso, o torneio é disputado por equipes de seis jogadores de cada país. Cada confronto é em melhor de 21 jogos, 12 de simples e 9 de duplas, sendo vencedora daquele confronto a equipe que vencer 11 ou mais deles, e campeã do torneio a que vencer mais confrontos. O torneio também não possui "sede", com os países mandando seus jogos em casa alternadamente, como na Copa Davis. Atualmente, o MacRobertson Shield é atualmente disputado a cada quatro anos, sendo que a próxima edição será em 2014. O maior vencedor é o Reino Unido, com 13 títulos, sendo os sete últimos seguidos. Austrália e Nova Zelândia venceram três vezes cada, e os Estados Unidos jamais conquistaram a competição.
A outra versão do croquê regulada pela WCF é o Golf Croquet, que ganhou esse nome porque usa o mesmo critério do golfe para apontar o vencedor: vence o jogo não aquele que completar o percurso primeiro, mas quem o fizer com menos tacadas. O Golf Croquet não tem roquê, embora os jogadores ainda possam usar suas bolas para empurrar as do aversário para longe - o que nem sempre é uma boa ideia, pois pode levar a sua para longe também. Os jogadores se alternam nas tacadas, embora um que vença um arco possa dar uma segunda tacada consecutiva. Além disso, as bolas também possuem uma ordem fixa para serem jogadas (azul, vermelha, preta, amarela), ou seja, se o Jogador A começou jogando com a azul e passou a vez, quando for sua vez de novo ele obrigatoriamente deverá jogar com a preta.
O Golf Croquet também pode ser jogado em simples ou em duplas, embora o Campeonato Mundial, atualmente, só seja disputado em simples - antigamente, além do Campeonato Mundial de Duplas, havia também o Mundial por Equipes, mas hoje ambas as competições foram descontinuadas. O Golf Croquet tem competições separadas para homens e mulheres, com um Campeonato Mundial Masculino disputado desde 1996 e um Campeonato Mundial Feminino desde 2005, atualmente ambos disputados a cada dois anos e sempre nos anos pares. O Golf Croquet é dominado por jogadores do Egito, onde o esporte é muito popular - embora, curiosamente, o campeão mundial masculino atual seja da Irlanda e a campeã feminina da Austrália, quebrando a sequência de títulos dos egípcios que vinha desde a criação dos torneios em ambas as modalidades.
Existem, ainda, duas variações do croquê que, apesar de não serem reguladas pela WCF, são reconhecidas pela Federação como "variações oficiais" do esporte. A primeira é o American Six Wicket, versão mais praticada hoje nos Estados Unidos e Canadá, regulada pela United States Croquet Association. Essa versão é praticamente idêntica ao Association Croquet, mas com algumas diferenças fundamentais, como uma ordem específica para se jogar as bolas (a mesma do Golf Croquet, azul, vermelha, preta, amarela), o fato de que uma bola não pode ser usada novamente para roquê enquanto ela mesma não vencer um arco, e o de que uma bola que sai retorna a jogo a 23 cm do ponto onde saiu, e não a 90 cm.
A segunda é o Nine Wicket, que tem esse nome por usar nove arcos ao invés de seis - e dois postes ao invés de um. O campo do Nine Wicket é bem maior que o das outras versões, com 15,25 por 30,5 metros, e os nove arcos formam dois losangos no campo: os postes ficam espaçados 22 metros um do outro; o arco 1 a 2 m do poste 1; o arco 2 a 2 m do arco 1; o arco 4 a 6,7 m do arco 2; o arco 6 a 6,7 m do arco 4; o arco 7 a 2m do arco 6 e a 2m do poste 2, todos esses postes e arcos formando uma linha imaginária. Os arcos 3 e 5 ficam 30 cm à direita dessa linha, enquanto os arcos 8 e 9 ficam 30 cm à esquerda. Os arcos 3 e 9 ficam a 4,25 m do arco 1, enquanto os arcos 5 e 8 ficam a 4,25 m do arco 7. Mais uma vez, o objetivo é vencer todos os arcos, na seguinte ordem: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, acertar o primeiro poste, 7, 6, 8, 4, 9, 2, 1 e acertar o segundo poste. Existem duas versões, a de uma bola por jogador e a de duas bolas por jogador, mas, em ambas, o vencedor será o que conseguir fazer o trajeto primeiro com todas as suas bolas. Assim como no Association Croquet, os jogadores se alternam nas tacadas, mas ganham tacadas extras por roquês. O Nine Wicket é considerado a versão mais popular do croquê, e a mais jogada como passatempo recreativo.
O croquê já foi esporte olímpico, em 1900 em Paris, onde foi disputado justamente na versão Nine Wicket. Participaram da competição sete homens e três mulheres, todos franceses e competindo juntos, sem distinção de masculino ou feminino, em três torneios: simples com uma bola, simples com duas bolas e duplas cada um com sua bola.
Na Olimpíada seguinte, em 1904, em Saint Louis, Estados Unidos, foi a vez de outra variação do croquê fazer parte do programa, o roque. O roque era uma variação muito popular nos Estados Unidos no início do século XX, mas que depois foi deixando de ser praticada, e hoje já não existe mais. Diferentemente do croquê, ele era jogado em uma superfície de saibro, o que fazia com que a bola fosse mais veloz e imprevisível que a superfície de grama. Além disso, as marretas possuíam uma ponta de borracha em uma das extremidades da cabeça, que podia ser usada para aplicar efeito na bola como na sinuca. O roque era jogado com dez arcos, na mesma disposição do Nine Wicket, mas com dois arcos no centro ao invés de apenas o arco 4, e com os arcos laterais (3, 5, 8 e 9) só podendo ser vencidos com uma tacada de croquê ou com a segunda adicional após um roquê. Cada jogador usava duas bolas, mas um jogava com a azul e a vermelha, e o outro com a preta e a branca; assim como no Golf Croquet e no American Six Wicket, as bolas tinham ordem (vermelha, branca, azul, preta). Finalmente, assim como no beisebol, o roque era disputado em entradas (innings), dez ao todo. Ao final de cada entrada, se somavam os pontos de cada jogador e partia-se para a entrada seguinte. O vencedor seria o jogador com mais pontos ao final da décima entrada, sendo que o jogo poderia terminar empatado caso ambos chegassem ao final com o mesmo número de pontos, sendo disputada uma entrada extra caso fosse preciso o desempate. Em 1904 foi disputada apenas uma competição de roque, a de simples masculinas, e apenas quatro jogadores dos Estados Unidos competiram.
Embora o croquê seja praticamente desconhecido no Brasil - e, aparentemente, quem o conhece acha que seu nome é críquete - um outro esporte bem parecido é bastante popular por aqui, o gatebol. O gatebol (que se pronuncia "gueitebol") foi inventado no Japão, em 1947, por Suzuki Kazunobu, que trabalhava em uma serralheria na ilha de Hokkaido. Na época, uma severa escassez de borracha fez com que a produção japonesa de material esportivo fosse diminuída, o que, por sua vez, fez com que as crianças da ilha não tivessem como praticar esportes por falta de bolas. Dentre os itens produzidos pela serralheria na qual Kazunobu trabalhava, porém, estavam marretas e bolas de croquê. Ele, então, teria decidido adaptar as regras do esporte para que esse fosse praticado pelas crianças, inventando o gatebol.
Rapidamente, o gatebol se tornou popular não só entre as crianças, mas também entre as mulheres e idosos, por ser desafiador, estratégico, e não exigir demais da parte física dos competidores. Em 1962, um grupo de aficcionados decidiria fundar a Kumamoto Gateball Association, na cidade de mesmo nome, para codificar o esporte e ajudar a promovê-lo em todo o Japão, o que aconteceria a partir de 1976, quando o gatebol fez parte do programa de um evento multiesportivo realizado na cidade. Professores de educação física se encarregariam de levar o esporte para outros cantos do país, e imigrantes e militares japoneses o espalhariam pelo mundo. Em 1984, representantes de vários clubes japoneses de gatebol se uniriam para fundar a Japanese Gateball Union, que, já no ano seguinte, se uniria às associações nacionais da China, Coreia do Sul, Brasil, Estados Unidos e Taiwan para fundar a World Gateball Union (WGU), órgão máximo do esporte e responsável por suas regras e torneios internacionais. Hoje, a WGU conta com apenas 15 membros - incluindo o Brasil, membro fundador - e vê como maior obstáculo à popularização do gatebol a resistência dos países europeus, mais acostumados com o croquê, em praticá-lo.
O gatebol é disputado em um campo de entre 15 e 20 metros de largura por entre 20 e 25 metros de comprimento, desde que não seja quadrado (20x20). O campo pode ser de qualquer superfície lisa no qual a bola corra sem impedimentos, como grama, terra, saibro ou até mesmo concreto. Bem no centro do campo é plantado um poste, o goal pole, um cilindro de 2 cm de diâmetro e 20 cm de altura, de qualquer cor que o torne facilmente identificável pelos jogadores. Ao redor do goal pole ficam três arcos, aqui chamados gates ("portais"), dos quais o jogo tira seu nome. Cada arco possui 19 cm de altura e uma abertura de 22 cm, por onde as bolas devem passar. O centro do arco número 1 deve ficar a 2 m da linha lateral direita e a 4 m da linha de fundo traseira do campo; o centro do arco número 2 fica a 2 m da linha de fundo dianteira e a 8 m da linha lateral esquerda; o centro do arco número 3 fica a 2 m da linha de fundo traseira e alinhado com o goal pole - ou seja, o arco 1 é virado para um lado, enquanto os arcos 2 e 3 são virados para outro. Na frente do arco 1, fora do campo, fica uma área de 2 por 1 m, a área de início.
O gatebol - que também é um esporte misto, com homens e mulheres jogando juntos - é disputado por duas equipes de cinco jogadores cada, que usam marretas semelhantes às do croquê: seu cabo deve ter no mínimo 50 cm, sem comprimento máximo, e a cabeça, cilíndrica, deve ter entre 18 e 24 cm de comprimento e entre 3,5 e 5 cm de diâmetro. A marreta, aqui chamada taco, pode ser feita de madeira, alumínio, ou outro material leve e resistente. As bolas são feitas de resina, com 7,5 cm de diâmetro e 230 g de peso. Ao todo, o gatebol usa dez bolas, numeradas de 1 a 10 com um número de no mínimo 5 cm; as bolas ímpares são sempre na cor vermelha com números brancos, enquanto as bolas pares são sempre na cor branca com números vermelhos.
As duas equipes, também, devem ser a vermelha e a branca, embora não seja obrigatório que elas usem uniformes nessas cores. Cada jogador joga com uma única bola do início até o fim do jogo, e deve ter em seu uniforme o número dessa bola - a equipe vermelha, portanto, tem os jogadores (e as bolas) 1, 3, 5, 7 e 9, enquanto a branca fica com os 2, 4, 6, 8 e 10. Um dos jogadores de cada equipe deve ser apontado como capitão, e terá deveres especiais durante a partida, como escolher, após um sorteio no início, se seu time começará jogando. Cada time tem direito também a até três reservas - sendo que um jogador substituído não pode mais voltar - e a um técnico, devendo um dos jogadores acumular a função de técnico se o time não o tiver.
Os jogadores se alternam nas tacadas, e jogam sempre na ordem das bolas - o jogador 1 sempre começa, seguido do 2, então o 3, e assim por diante. Todos os jogadores começam com suas bolas na área de início, e, a partir daí, o objetivo é fazer com que elas passem pelos arcos na ordem (1, 2 e 3) e então batam no goal pole. Cada bola que passa por um arco dá 1 ponto àquela equipe, e cada bola que bate no goal pole dá 2 pontos, removendo seu jogador da partida. A princípio, cada jogador só dá uma tacada e passa a vez, ganhando mais uma tacada consecutiva caso sua bola passe por um arco ou toque uma outra bola qualquer dentro do campo, de sua equipe ou adversária. Nesse caso, ele terá direito a fazer um croquê, que aqui se chama spark. Uma equipe que remove seus jogadores do campo, portanto, não somente faz muitos pontos como diminui a probabilidade de o oponente ganhar tacadas extras.
Uma partida de gatebol dura 30 minutos, sendo declarada vencedora a equipe com mais pontos ao final desse tempo. Existem duas exceções: caso o tempo se esgote durante a vez de um jogador da mesma equipe que começou o jogo, o jogador seguinte da outra equipe também terá direito a jogar; e, se a qualquer momento uma equipe conseguir 25 pontos - removendo todos os seus jogadores do jogo - o jogo acaba imediatamente, e essa equipe é declarada vencedora. Caso o jogo esteja empatado ao final dos 30 minutos, a equipe vencedora será a que teve mais jogadores removidos; persistindo o empate, será a que teve mais jogadores vencendo o arco 3, e então o arco 2. Persistindo o empate, ocorre uma espécie de "disputa de pênaltis", com todos os jogadores tentando vencer o arco 1 com uma só tacada, sendo vencedora a equipe que conseguir mais vezes.
O gatebol jamais participou das Olimpíadas, mas esteve presente como esporte convidado nos World Games de 2001, em Akita, Japão, disputado por equipes de Japão, China, Coreia do Sul, Estados Unidos e Taiwan, com vitória dos donos da casa. O campeonato mais importante do gatebol é o Campeonato Mundial, disputado a cada quatro anos desde 1986. Uma particularidade do Mundial é que cada país pode mandar qualquer número de equipes - a última edição, em 2010, teve nada menos que 92 equipes participantes, sendo 15 do Brasil. Eu infelizmente não encontrei informações sobre os resultados das equipes brasileiras nos Mundiais, mas acredito que as japonesas tenham vencido todos.
Faço parte desse montante que confundia! Obrigada pela elucidação a respeito, mas preciso dizer que sim, no desenho dizia críquete e em filmes também. Talvez seja culpa de uma má tradução ou má interpretação.
ResponderExcluirObrigada!
Realmente eu não lembro, mas é bem provável que tenha sido sim culpa de quem traduziu. Abraços!
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