segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Escrito por em 5.12.11 com 0 comentários

Clássicos Disney (IV)

Hoje veremos os três últimos package films produzidos pela Disney na década de 1940. Vamos a eles!

Como é Bom se Divertir
Fun and Fancy Free
1947


Assim como seus três antecessores, Como é Bom se Divertir é um package film, um filme composto de segmentos, ao invés de ter uma única história do início até o final. Diferentemente deles, porém, que possuíam muitos segmentos curtos, Como é Bom se Divertir possui apenas dois segmentos, com por volta de 35 minutos cada.

O primeiro segmento, Bongo, conta a história de um ursinho de mesmo nome, que vive em um circo, mas sonha escapar e ir viver na floresta. Ele consegue, mas, durante a jornada, terá de provar sua coragem. O segundo segmento, Mickey e o Pé de Feijão, é uma versão da história João e o Pé de Feijão, mas com Mickey, Pateta e Donald encontrando os feijões mágicos e subindo até o castelo do gigante Willie. Esse segundo segmento seria editado para passar na televisão, e se tornaria um dos mais famosos desenhos da Disney, inclusive fazendo com que Willie se tornasse um de seus mais famosos vilões. O segmento, entretanto, foi bastante criticado na época, por mostrar Mickey, Donald e Pateta extremamente famintos, cogitando comer uns aos outros antes de encontrar os feijões mágicos.

A história da produção de Como é Bom se Divertir começa com a produção de Fantasia, quando Disney teve a ideia de fazer o segmento do Aprendiz de Feiticeiro estrelando Mickey. Dois de seus animadores, Bill Cottrell and Thornton Hee, tiveram a ideia de colocar Mickey também no papel principal de João e o Pé de Feijão, escreveram um roteiro preliminar e o apresentaram a Disney, que o adorou, mas achou que colocar Mickey como astro de contos de fadas não era bem o que a audiência queria. Cottrell e Hee não desistiram, e insistiram até Disney dar a luz verde para o projeto, que começou a ser desenvolvido em maio de 1940.

A princípio, Mickey e o Pé de Feijão seria um longa metragem, assim como Bongo, cuja produção começou em 1941. Bongo era inspirado em um conto que Sinclair Lewis havia escrito para uma revista em 1930, e, como se passava em um circo, a intenção de Disney era fazer dele uma espécie de sequência de Dumbo, com a presença de personagens coadjuvantes deste, como a matriarca dos elefantes e os corvos sulistas. Com o ataque a Pearl Harbor e a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, entretanto, todos os projetos foram paralisados, para que seus animadores e equipamentos fossem utilizados em filmes de propaganda e motivacionais. Não somente Mickey e o Pé de Feijão e Bongo foram suspensos, mas também Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e O Vento nos Salgueiros.

Como vimos semana passada, enquanto seu estúdio estava bloqueado pela Guerra, Disney decidiu lançar package films, mais baratos e mais fáceis de se produzir. Após o lançamento de Música, Maestro!, Disney teria a ideia de pegar alguns desses projetos inacabados e lançá-los também sob a forma de um package film. De início, ele juntou Mickey e o Pé de Feijão e O Vento nos Salgueiros; depois, acrescentou também Bongo, e decidiu chamar o desenho de Three Fabulous Characters ("três personagens fabulosos"). Achando que o desenho estava muito comprido, ele retirou O Vento nos Salgueiros, e mudou o nome para Fun and Fancy Free (algo como "diversão e fantasia livres"), que, em português, virou Como é Bom se Divertir. Para apresentar os segmentos, Disney criou sequências com atores, com Dinah Shore narrando Bongo e Edgar Bergen fazendo uso de dois bonecos de ventríloquo para contar a história de Mickey e o Pé de Feijão para a atriz-mirim Luana Patten em sua festa de aniversário.

Como é Bom se Divertir estrearia em 27 de setembro de 1947, sendo bem recebido pelo público e pela crítica. Com o fim da Segunda Guerra e saída dos interventores militares dos Estúdios Disney, seu bom desempenho nas bilheterias trouxe o dinheiro de que Disney precisava para voltar a produzir longa metragens. Antes de seu longa seguinte, entretanto, Disney ainda decidiria se capitalizar com mais alguns package films.

Tempo de Melodia
Melody Time
1948


Em 1946, logo após a finalização de Música, Maestro!, Disney já começaria a produção de mais um package film dedicado à música. Mas, enquanto Fantasia era dedicado à música clássica e Música, Maestro! trazia também canções contemporâneas, o intuito de Disney era fazer com que esse novo desenho fosse integralmente dedicado à música popular e à folk music. Disney batizaria esse novo desenho como Tempo de Melodia.

Tempo de Melodia trazia, ao todo, sete segmentos. O primeiro deles, Era uma Vez no Inverno (Once Upon a Wintertime), trazia a atriz e cantora Frances Longford cantando a música de mesmo nome, enquanto um casal patinava no gelo, com direito a exibicionismo do rapaz, que quase o leva a um desfecho trágico. Era uma Vez no Inverno seria relançado como curta em 1954, e faria parte da coletânea Verry Merry Christmas Songs, mas com a música-título sendo substituída por Jingle Bells.

O segundo segmento, A Dança do Zangão (Bumble Boogie), trazia uma abelha como se tentasse escapar de um pesadelo, voando por um cenário surrealista, que se move e se dobra conforme o som da música. A música era uma versão em ritmo de jazz de uma composição que chegou a ser cogitada para fazer parte de Fantasia, O Voo da Abelha, de Nikolai Rimsky-Korsakov - também conhecida como a música que serviu de base para o tema do seriado O Besouro Verde. Em Tempo de Melodia, a música é interpretada por Freddy Martin e sua orquestra, com Jack Fina ao piano.

O terceiro segmento, Johnny Semente de Maçã (The Legend of Johnny Appleseed), conta a história de John Chapman, um personagem real do final do século XVIII, que viajava pelo meio-oeste dos Estados Unidos plantando macieiras - daí seu apelido. Esse segmento é narrado em forma de poema por Dennis Day, que faz a voz de todos os personagens, exceto do anjo, dublado por Dallas McKennon. Johnny Semente de Maçã também seria relançado como um curta, em 1955, com seu título reduzido para apenas Johnny Appleseed.

O quarto segmento, O Rebocador Apitinho (Little Toot), tem como protagonista um pequenino navio rebocador, que sonha ser como seu pai, Apitão (Big Toot no original), mas, infelizmente, não tem força para rebocar os outros barcos. O Rebocador Apitinho é baseado em uma história de Hardie Gramatky, e traz uma música cantada pelas Andrews Sisters, que já haviam cantando a música-tema de Johnny Fedora and Alice Blue Bonnet em Música, Maestro!. Já o quinto segmento, Árvores, traz mais um poema declamado, Trees, de Alfred Joyce Kilmer, na voz de Fred Waring and the Pennsylvanians, mostrando a passagem das estações do ano. No sexto segmento, A Culpa é do Samba (Blame it on the Samba), o Pato Donald e Zé Carioca seguem o Pássaro Folião em uma viagem ao mundo do samba, ao som de Apanhei-te, Cavaquinho, de Ernesto Nazareth, com letra em inglês cantada pelas Dinning Sisters, com Ethel Smith ao piano.

Finalmente, o sétimo segmento, Pecos Bill, conta a história do maior caubói que já pisou a face da Terra. Pecos Bill é, assim como Johnny Appleseeed, um personagem real, que viveu no Texas na época do Velho Oeste, mas seus feitos, imortalizados nos contos e livros escritos por Edward O'Reilly no início do século XX, foram bastante exagerados, assim como no desenho, que mostra como Bill se apaixonou por Slue-Foot Sue. O segmento é narrado por Roy Rogers, e traz em seu elenco Bob Nolan, Bobby Driscoll, Luana Patten e música dos Sons of the Pioneers. Pecos Bill foi alvo de controvérsia na época de seu lançamento em vídeo, pois todas as cenas em que ele aparecia acendendo um cigarro ou fumando foram removidas, e seu cigarro foi removido digitalmente de seus lábios em todas as outras. A única versão não-editada atualmente existente do desenho é o lançamento europeu em VHS, da década de 1990.

Tempo de Melodia seria lançado em 27 de maio de 1948, e, apesar de ter sido bem recebido pelo público e pela crítica, não teve boa bilheteria. Disney veria isso como um sinal de que o público não queria mais desenhos com segmentos inspirados em canções - o que o entristeceu, já que ele gostava, e pretendia fazer mais alguns.

As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo
The Adventures of Ichabod and Mr. Toad
1949


Com o fim da Segunda Guerra e com dinheiro em caixa, Disney decidiu voltar aos longa metragens. Filmar um longa de animação consumia muito tempo, porém, e ele ainda queria seguir com seu plano de lançar um novo desenho por ano. A solução seria pegar dois desenhos já praticamente finalizados, terminá-los, e lançar um novo package film de dois segmentos.

O primeiro desses segmentos, As Aventuras do Sr. Sapo (Adventures of Mr. Toad), já estava pronto desde 1947, mas era, até então, conhecido por outro nome, O Vento nos Salgueiros (The Wind in the Willows), mesmo nome do livro escrito por Kenneth Grahame do qual seria uma adaptação. A produção de O Vento nos Salgueiros começaria lá em 1938, quando Disney adquiriu os direitos do livro, pensando em fazer da história um novo longa para suceder Pinóquio. Seus roteiristas teriam, entretanto, vários problemas para adaptar o texto, o que resultaria em diversos adiamentos.

O principal problema encontrado pelos roteiristas estava no ritmo da história: se fossem usados no desenho todos os elementos do livro, esta acabaria lento e maçante. A solução foi cortar vários personagens, alterar alguns outros, inventar um novo vilão e centrar a história no Sr. Sapo, que se tornaria seu único protagonista. Após muitas discussões e experimentações, o roteiro finalmente ficaria pronto em 1941, mas aí surgiria um outro problema: a Segunda Guerra Mundial, que "congelaria" os animadores e recursos dos Estúdios Disney. Somente em 1945 a produção poderia ser retomada, e aí, acreditem ou não, a equipe se depararia com um terceiro problema.

Após os esboços iniciais, os animadores chegariam à conclusão de que o desenho ficaria com 45 minutos, no máximo, bem longe do esperado para um longa metragem. Disney, então, decidiria juntá-lo a Mickey e o Pé de Feijão e lançá-lo como um package film. Mais tarde, ele decidiria juntar também Bongo à dupla, e, achando que o desenho estava muito comprido, acabaria retirando O Vento nos Salgueiros.

Em 1948, quando Disney decidisse fazer um sexto e último package film, portanto, O Vento nos Salgueiros já estava pronto. Para que mais uma vez o desenho não ficasse comprido demais, eles optaram por editá-lo mais um pouco, e, achando que o desenho já tinha bem pouco a ver com o livro, Disney acabaria mudando seu nome para As Aventuras do Sr. Sapo.

O protagonista de As Aventuras do Sr. Sapo (narrado por Basil Rathbone) é J. Tadeu Sapo (Eric Blore), um tipo bonachão e despreocupado, que não liga muito para detalhes como dinheiro ou responsabilidade, preferindo viajar pelo país na companhia de seu cavalo, Cyril J. Proudbottom (Pat O'Malley), enquanto satisfaz várias de suas manias, apesar dos protestos de seus amigos Ratty (Claude Allister), Moley (Colin Campbell) e Angus McBadger (Campbell Grant), que tentam colocar um pouco de juízo em sua cabeça. Ao descobrir o automóvel, Sapo fica tão encantado que decide que terá um de qualquer jeito, e se meterá em várias confusões por causa disso, incluindo uma acusação de roubo feita pelo vilão Sr. Winky (Pat O'Malley) e sua gangue de fuinhas.

O segundo segmento, A Lenda de Sleepy Hollow (The Legend of Sleepy Hollow), é baseado no conto de mesmo nome, mais conhecido como "a história do Cavaleiro sem Cabeça", escrito por Washington Irving. Seu protagonista, Ichabod Crane (dublado por Bing Crosby, que também narra a história), acaba de chegar à cidade de Sleepy Hollow, onde será professor. Seu jeito atrapalhado faz com que ele seja alvo de travessuras do valentão Brom Bones (também dublado por Crosby), mas conquista o coração da bela Katrina van Tassel, filha do fazendeiro mais rico da região. Bones, que também é apaixonado por Katrina, para assustar Ichabod, lhe conta a história do Cavaleiro sem Cabeça, que, segundo ele, assombra a cidade. Na noite de Halloween, Ichabod e seu cavalo estão voltando para casa quando ouvem sons estranhos. Sob o efeito da história, imaginam se tratar do Cavaleiro. Será mesmo?

Diferentemente de O Vento nos Salgueiros, a versão de Disney para A Lenda de Sleepy Hollow é extremamente fiel ao conto, chegando a reproduzir algumas de suas falas. Sua produção começou no final de 1946, também com o intuito de que ele fosse lançado como um longa metragem, o primeiro da Disney depois dos package films. Mais uma vez, entretanto, os esboços mostraram que o desenho não passaria de 45 minutos, e, a menos que eles inventassem mais elementos para a história, não seria possível lançá-lo como um longa. Para não descartar o projeto, após retirar O Vento nos Salgueiros de Como é Bom se Divertir, Disney decidiu juntá-lo a A Lenda de Sleepy Hollow em um novo package film, que recebeu o título provisório de As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo. Após a conclusão de A Lenda de Sleepy Hollow e, consequentemente, do package film, a equipe decidiu deixar o título, ao qual já havia se afeiçoado.

As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo estrearia nos cinemas em 5 de outubro de 1949, sendo bem recebido pela crítica e gerando uma boa bilheteria. A Lenda de Sleepy Hollow foi especialmente elogiado, sendo até hoje considerado um dos melhores curtas da Disney, especialmente por conseguir ser assustador e manter uma atmosfera de terror ao mesmo tempo em que é um desenho adequado a crianças de todas as idades.

Na década de 1950, As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo seria desmembrado, e seus dois segmentos seriam lançados como curtas, com o segmento do Sr. Sapo finalmente sendo lançado como O Vento nos Salgueiros, seu nome original. Em 1978, O Vento nos Salgueiros seria editado novamente, perdendo mais três cenas e sendo rebatizado para As Aventuras Malucas do Sr. Sapo (The Madcap Adventures of Mr. Toad), sendo, então, exibido nos cinemas antes do filme Hot Lead and Cold Feet. Na década de 1980, As Aventuras Malucas do Sr. Sapo e A Lenda de Sleepy Hollow passariam diversas vezes na televisão, principalmente no programa Disneylândia. Somente em 1999, quando do lançamento de As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo em VHS é que os dois desenhos seriam novamente reunidos, formatados na versão original exibida nos cinemas. Curiosamente, hoje, não somente As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo está disponível em DVD, como também os "curtas" O Vento nos Salgueiros e A Lenda de Sleepy Hollow, como parte das coleções Walt Disney Animation Collection: Curtas Clássicos e Fábulas Disney, respectivamente.

Série Clássicos Disney

•Como é bom se divertir
•Tempo de Melodia
•As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo

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