Eu não me considero exatamente um fã de James Bond, mas gosto bastante dos filmes, sendo que já assisti todos menos um - 007 contra GoldenEye, para quem estiver se perguntando, por nenhuma razão em especial exceto falta de oportunidade. O primeiro que eu assisti foi justamente o anterior a GoldenEye, 007 Permissão para Matar, que meu pai alugou quando eu tinha uns onze ou doze anos; quando eu descobri que existiam mais 15 filmes da série, fui tomado de uma curiosidade que só cessou depois que aluguei e assisti todos eles. Provavelmente foi por isso que eu nunca assisti GoldenEye, já que ele não existia nesta época, depois disso eu nunca mais aluguei um 007, eu não tinha TV por assinatura quando ele passou por lá, e nunca me interessei de ver um filme de Bond no cinema. Mas agora que eu tenho o DVD, a hora dele um dia chegará.
Mas chega de falar de mim. De todos os filmes que existem, desconsiderando eventuais produções independentes que ninguém conhece, 007 é o que tem o maior número de "continuações": no final deste ano, estréia a produção de número 22. Felizmente eles não são numerados, senão teríamos que conviver com um James Bond XXII ou algo do tipo. Em homenagem ao ano em que Bond alcançará os Dois Patinhos da Lagoa, eu preparei um singelo post aqui para o átomo, como vocês já devem ter percebido. Aliás, um não, quatro singelos posts, já que eu não estava a fim de falar de 22 filmes de uma vez só. Seguindo a tradição, eles serão intercalados com outros assuntos, para que os que odeiam 007 não sumam daqui um mês inteiro. Explicado isto, vamos começar a falar do agente secreto mais famoso do mundo, Bond, James Bond.
Aparentemente poucos sabem, mas Bond não foi criado especialmente para o cinema. Seu criador foi o escritor e jornalista inglês Ian Fleming, Comandante da Marinha Britânica durante a Segunda Guerra Mundial, que decidiu usar sua experiência de trabalho com inteligência militar para escrever romances de espionagem. Fleming criou Bond aos 44 anos, em janeiro de 1952, durante uma temporada em sua casa de praia na Jamaica, curiosamente batizada por ele com o nome de GoldenEye, em homenagem a uma operação militar de mesmo nome que visava vigiar e proteger Gibraltar, uma ilha pertencente ao Reino Unido localizada entre a Espanha e a África. Os que o conheceram dizem, inclusive, que Bond seria um alter ego do próprio Fleming, já que ambos teriam características físicas semelhantes e os mesmos gostos em se tratando de comida, roupas e mulheres. De fato, muitos pesquisadores já tentaram encontrar espiões reais ou fictícios que tivessem servido de inspiração para o 007, mas o próprio Fleming jamais confirmou qualquer fonte de inspiração que não fosse sua própria carreira militar. Até o nome do agente secreto parece não ter tido qualquer fonte relacionada à espionagem: segundo Fleming, ele buscava um nome comum, capaz de fazer com que um espião passasse despercebido no meio de outros cidadãos; enquanto procurava, Fleming, um apaixonado por ornitologia, viu sobre sua mesa em GoldenEye um livro escrito pelo ornitólogo James Bond - e pegou seu nome emprestado.
A estréia de Bond no mundo da literatura aconteceu um ano após sua criação, em 1953, com a publicação de Casino Royale pela editora Jonathan Cape. Até falecer em 1964, aos 56 anos, Fleming publicou doze livros do agente secreto, onze romances e um de contos. Postumamente, em 1965 foi lançado mais um romance, e em 1966 mais um livro de contos. Mais livros com aventuras de James Bond, escritos por outros autores, como Robert Markham, John Gardner e Raymond Benson, foram publicados ao longo dos anos, mas apenas os de Fleming acabaram adaptados para o cinema.
A primeira aventura de Bond fora das páginas dos livros não ocorreu no cinema, mas na televisão: um dos episódios da série de TV Climax!, exibido em 1954, foi uma adaptação do enredo de Casino Royale. Animado com o resultado, Fleming procurou o diretor e produtor Alexander Korda para conversar sobre a possibilidade de adaptar um de seus livros, possivelmente Live and Let Die (o segundo da série, publicado em 1954) ou Moonraker (o terceiro, de 1955) para o cinema, mas Korda não demonstrou interesse. Apenas em 1959 Fleming conseguiu um acordo com o produtor Kevin McClory, segundo o qual ele escreveria um roteiro especialmente para um filme de Bond para o cinema, que seria dirigido por Alfred Hitchcock, com Richard Burton no papel do espião; infelizmente, tanto o diretor quanto o ator acabaram desistindo do filme por estarem envolvidos em outros projetos, o que levou à desistência do produtor. Fleming acabaria utilizando o que já tinha escrito do roteiro em um novo livro, Thunderball (o nono da série, de 1961).
Somente em 1961 o projeto de um filme de Bond começaria a realmente sair do papel, quando o produtor Albert Broccoli, que já havia tentado um contato com Fleming cinco anos antes, convenceu seu amigo mais endinheirado Harry Saltzman a comprar os direitos de adaptação para o cinema de todos os livros de Bond escritos por Fleming - infelizmente, porém, eles não conseguiriam os direitos de Casino Royale, devido a uma pequena confusão jurídica causada pelo fato dele ter sido exibido na TV. Com os direitos em mãos, Brocolli e Saltzman fundaram a produtora EON Productions, e decidiram começar ou por Thunderball ou por Dr. No (o sexto da série, de 1958). Os estúdios de Hollywood, porém, não quiseram saber de filmes de Bond, por considerá-los "de alto conteúdo sexual", "muito britânico", e outras desculpas típicas de estúdios de Hollywood. Somente em julho de 1961 a EON conseguiria um contrato com a United Artists, que a pagaria um milhão de dólares por uma adaptação de Dr. No. Como a EON era uma empresa iniciante, esse milhão era tudo do que eles dispunham para o orçamento do filme.
Após alguns meses de filmagem, Dr. No (que no Brasil ganhou um título bem mais longo, 007 contra o Satãnico Dr. No) estrearia nos cinemas do Reino Unido em 1962, e nos Estados Unidos um ano depois. Sob a direção de Terence Young, o papel de Bond caberia a Sean Connery, à época com 32 anos, mas que não foi a primeira opção nem do diretor, nem dos produtores, nem de Fleming: Young preferia Richard Johnson, que não pôde aceitar por já ter contrato com a MGM; Broccoli e Saltzman desejavam um ator bastante popular, e chegaram a convidar Cary Grant, descartado por ter o hábito de não aceitar fazer continuações; Fleming preferia David Niven, que não foi aprovado pela United Artists; e a EON chegou a fazer uma espécie de concurso, vencido pelo modelo Peter Anthony, que acabou considerado ainda cru para atuar após alguns testes. Após todos estes contratempos, Broccoli e Saltzman optaram por Connery, um ex-fisiculturista com 12 filmes no currículo, não tão famoso mas também não tão desconhecido, e que acabou sendo contratado para os cinco primeiros filmes da série.
Apesar de ser o primeiro filme, Dr. No traz um Bond já veterano, praticamente no auge de sua carreira, com permissão para matar (representada pelo 00 de seu código), enviado para as mais difíceis missões, e que nunca falha. Mulherengo e apreciador das boas coisas da vida, como roupas e relógios caros e martinis de vodca "batidos, não mexidos", Bond é um Comandante reservista da Marinha Britânica, membro da Ordem de São Miguel e São Jorge, que após a "aposentadoria" ingressou como agente do Serviço Secreto de Inteligência Britânico, também conhecido como MI6. Neste primeiro filme, ele é enviado para a Jamaica por seu chefe, conhecido apenas como "M" (Bernard Lee), para investigar o assassinato de outro agente britânico, e, auxiliado pelo agente da CIA Felix Leiter (Jack Lord), descobrir se este evento tem algo a ver com a recente sabotagem de testes de foguetes norte-americanos em Cabo Canaveral. Sua investigação o acaba levando ao recluso Dr. No (Joseph Wiseman), que, como dá nome ao filme, deve ser no mínimo o vilão, responsável pelo assassinato e pelas sabotagens. Além de cientista renegado, Dr. No é membro da organização terrorista SPECTRE (cujo nome vem da sigla "SPecial Executive for Counter-intelligence, Terrorism, Revenge and Extortion", algo como "Agência Especial de Contra-Informação, Terrorismo, Vingança e Extorsão"), uma organização criminosa que planeja dominar o mundo, mas não é ligada a nenhuma nação em particular, o que permitia que o filme fosse apolítico.
Sendo o primeiro filme, Dr. No estabeleceu vários dos elementos que se tornariam tradicionais nos demais filmes de Bond, a começar pela seqüência de abertura, em que o agente é visto através do cano de um revólver, mas mata seu agressor antes de ser atingido, e pelos créditos iniciais animados, que nos apresentam o elenco enquanto toca a música-tema do filme, ambos criados por Maurice Binder - curiosamente, na "seqüência do revólver" de Dr. No, Bond não seria interpretado por Connery, mas pelo dublê Bob Simmons. Outro elemento introduzido em Dr. No que se perpetuaria pelo restante da série é a presença de uma "Bond Girl", uma mulher que acompanha Bond durante o filme, e com quem ele normalmente termina no final, mesmo que seu relacionamento só dure até o próximo episódio; em Dr. No, a Bond Girl é Honey Ryder, interpretada por Ursula Andress, e também é responsável por uma das seqüências mais antológicas do filme, quando sai das águas claras do Caribe vestindo um biquini branco. Dr. No também introduziu os vilões megalomaníacos e superconfiantes; a famosa frase "Bond, James Bond", com a qual o agente se apresenta; e, é claro, a música-tema de 007, hoje uma das melodias mais famosas do cinema, composta por Monty Norman e executada pela orquestra de John Barry - que mais de uma vez tentou provar na justiça que ele seria o verdadeiro autor do tema, mas sem sucesso.
Infelizmente, os livros de Fleming não eram muito populares em 1962, então muitos críticos torceram o nariz para o filme quando de seu lançamento. Conforme o tempo passava, porém, Dr. No se tornava mais e mais popular, principalmente devido à propaganda boca-a-boca, e, quando estreou nos Estados Unidos, recebeu críticas bem melhores. Ao todo, o filme rendeu 16 milhões de dólares nos Estados Unidos e 59 no mundo inteiro, sendo considerado um grande sucesso financeiro; mais do que isso, o sucesso de Bond motivaria uma onda de agentes secretos, com centenas de filmes, livros e séries de TV sobre o assunto pipocando durante toda a década de 1960 e início da de 1970. Com todo este bom desempenho, é lógico que estava acesa a luz verde para uma continuação, justamente como a EON queria.
Curiosamente, para a seqüência Broccoli e Saltzman escolheram From Russia with Love, justamente o livro lançado imediatamente antes de Dr. No, em 1957. Após algumas modificações, o filme, que no Brasil seria rebatizado para Moscou contra 007, acabou virando uma continuação direta, já que nele a SPECTRE planeja se vingar de Bond pela morte de Dr. No. A razão pela qual From Russia with Love foi escolhido para segundo filme foi quase um golpe de marketing, já que pouco antes o presidente dos EUA na época, John F. Kennedy, havia declarado à revista Life que este era um de seus dez livros preferidos. No livro, inclusive, a organização criminosa era a soviética SMERSH, mas os produtores optaram por substituí-la pela neutra SPECTRE para evitar conotações políticas em uma época tão conturbada.
Mais uma vez dirigido por Young e com Connery no papel de Bond, From Russia with Love custou 2 milhões de dólares, o dobro de seu antecessor, estreou nos cinemas do Reino Unido em 1963, e nos Estados Unidos um ano depois. Com uma recepção dos críticos extremamente favorável, rendeu 24 milhões de dólares nos Estados Unidos, e quase 79 milhões no mundo inteiro. De fato, o filme é bom mesmo, sendo considerado um dos melhores da série até hoje, e o favorito do próprio Sean Connery. Assim como Dr. No, ele também introduziu vários "costumes" da série, como uma música-tema interpretada por um artista de renome - no caso, Matt Monro, embora neste filme a versão dos créditos iniciais seja instrumental, com a versão cantada executada apenas nos créditos finais - e a frase "James Bond voltará" logo após o "The End". From Russia with Love também foi o primeiro filme em que Desmond Llewelyn interpretou Q, o "cientista maluco" responsável por criar os incríveis dispositivos de agente secreto utilizados por Bond, como relógios magnéticos e canetas explosivas; Llewelyn interpretaria o personagem em todos exceto dois dos filmes da série até falecer em 1999.
Mas o filme também tem um enredo: seguindo um plano do gênio enxadrista tchecoslovaco Kronsteen (Vladek Sheybal), a SPECTRE planeja roubar uma máquina decodificadora dos soviéticos, colocar a culpa nos britânicos, vendê-la novamente a eles, e ainda se vingar de Bond pela morte do Dr. No. A execução da missão ficará a cargo da soviética Rosa Klebb (Lotte Lenya), ex-membro da SMERSH, escolhida pelo líder da SPECTRE em pessoa (que era tão secreto que até nos créditos o nome do ator que o interpretava, Anthony Dawson, apareceu simplesmente como "?"), auxiliada pelo assassino Grant (Robert Shaw), que tem a missão de nada menos do que matar Bond. Este, sem saber que sua vida corre perigo (ou sabendo, já que teoricamente a vida de agentes secretos sempre corre perigo) é enviado por M ao encontro de Tatiana Romanova (Daniela Bianchi), a Bond Girl da vez, funcionária da embaixada soviética em Istanbul. Tatiana é enganada por Klebb, que finge estar confiando a ela uma missão preparada pelo governo, segundo a qual ela deve fingir ser uma desertora desejando entregar a decodificadora, sob a condição de que o 007 em pessoa venha buscá-las e levá-las para Londres.
O sucesso do segundo filme levou naturalmente ao terceiro; desta vez, o livro escolhido para ser adaptado foi Goldfinger, o que havia sido lançado imediatamente após Dr. No, em 1959. Com orçamento de 3 milhões de dólares - o mesmo que seus dois antecessores somados - Goldfinger (007 contra Goldfinger no Brasil) foi o primeiro filme de Bond a estrear no Reino Unido e nos Estados Unidos no mesmo ano (1964), embora com um intervalo de três meses, o primeiro a ganhar um Oscar, de Melhores Efeitos Sonoros (hoje chamado Melhor Edição de Som) e o primeiro a ser considerado um blockbuster, se pagando com a bilheteria de duas semanas, rendendo 51 milhões de dólares nos Estados Unidos, e 125 milhões no mundo inteiro. Curiosamente, durante as filmagens Connery exigiu um aumento de salário, e as negociações só se concluíram quando ele aceitou uma oferta da EON de que ele receberia 5% da renda de todos os filmes de Bond nos quais atuasse - o que talvez prova que esta renda fabulosa era inesperada. Young também teve uma discussão sobre remuneração com a EON, mas não conseguiu chegar a um acordo, e acabou desistindo de dirigir o filme, sendo substituído por Guy Hamilton. Fleming, infelizmente, não viveu para ver a estréia, falecendo de ataque cardíaco um mês antes de Goldfinger ir aos cinemas.
Goldfinger teve sua música-tema cantada por Shirley Bassey, uma das maiores popstars da época, e traz dois dos personagens mais conhecidos dos fãs, o capanga Oddjob (Harold Sakata), com seu chapéu com aba de aço capaz de decapitar uma estátua de mármore, e a Bond Girl com o nome de maior duplo sentido de todos os tempos, Pussy Galore (Honor Blackman), que além de tudo era piloto de avião e aliada do vilão Alric Goldfinger (Gert Fröbe, que era alemão e não falava inglês, tendo de ser dublado por Michael Collins); além do retorno do agente da CIA Felix Leiter, desta vez interpretado por Cec Linder. O filme traz ainda a antológica cena da mulher "transformada em ouro" - na verdade, coberta com ouro para morrer sufocada, em vingança de Goldfinger por sua traição ao se deixar seduzir por Bond - talvez uma das cenas mais famosas da série. Durante as filmagens, a atriz Shirley Eaton quase teve o mesmo destino de sua personagem, já que a tinta com a qual foi pintada era muito rija, e ela não conseguia respirar, pois seu tórax não se expandia. A solução para que ela não morresse foi não pintar seu tórax, e colocá-la de bruços na cama onde a personagem seria encontrada morta.
No enredo, Bond enfrenta o milionário Goldfinger, totalmente obcecado por ouro, que planeja explodir uma "bomba suja" (uma bomba comum que carrega material atômico, causando contaminação por radiação ao invés de uma explosão nuclear) dentro do Fort Knox, o famoso depósito de ouro dos Estados Unidos, para que o ouro norte-americano seja inutilizado e as reservas do próprio Goldfinger passem a ser as mais valiosas da Terra. Apesar de uma boa parte do filme ser ambientada nos Estados Unidos, Connery não viajou para lá durante as filmagens, fazendo todas as suas cenas na Inglaterra. Além disso, a EON não obteve permissão para filmar dentro do Fort Knox, então tiveram de construir todo o interior do prédio em um estúdio, e de acordo com a própria imaginação da equipe, já que ninguém fazia a menor idéia de como seria o interior do Fort Knox. Surpreendentemente, o resultado final ficou tão convincente que o diretor do Fort Knox escreveu uma carta aos produtores parabenizando-os por sua criatividade. A United Artists também recebeu muitas cartas, mas de norte-americanos irados com o fato de "permitirem que uma equipe de filmagem britãnica entrasse no Fort Knox".
Depois de Goldfinger, finalmente chegou a vez de Thunderball, aquele que deveria ter sido o primeiro filme de Bond, mas acabou virando o nono livro da série. Devido a este incidente, praticamente assim que a EON anunciou que iria filmá-lo, Kevin McClory e Jack Whittingham reclamaram seus direitos. Na verdade, ambos já lutavam na justiça desde 1961, o ano da publicação de Thunderball, alegando que eram co-autores do roteiro que daria origem ao livro - e, subseqüentemente, ao filme da EON - tendo Fleming publicado-o sem o devido crédito. Após um primeiro julgamento, ficou determinado que McClory possuía direitos sobre o enredo e alguns dos personagens. Como Goldfinger havia sido um tremendo sucesso, Broccoli e Saltzman temiam que McClory usasse estes direitos para lançar um "007 paralelo" e ganhar algum dinheiro na onda do original. Como eles não estavam dispostos a enfrentar uma nova batalha judicial, procuraram McClory e Whittingham, e ficou acertado que a dupla receberia uma parcela dos lucros com a produção, além de ser creditada no filme como autores do roteiro original. Embora isto tenha resolvido as coisas em 1964, não encerrou a questão, e disputas na justiça britânica quanto aos direitos autorais do livro persistem até hoje.
Connery interpretou Bond pela quarta vez, mas já começava a se irritar com a intrusão de jornalistas em sua vida pessoal causada pela popularidade do papel. Hamilton foi convidado para repetir a direção, mas recusou alegando estar "criativamente esgotado" após Goldfinger; Young, que na época das filmagens de Dr. No expressara interesse em dirigir uma adaptação de Thunderball, foi convidado para reassumir o posto, e aceitou. A música-tema ficaria a cargo de outro popstar da década de 60, Tom Jones. Para o papel da Bond Girl Domino Derval, a EON chegou a cogitar nomes como Julie Christie, Raquel Welch e Faye Dunaway, mas, na impossibilidade destas, acabou optando pela Miss França Claudine Auger - o que curiosamente levou a uma mudança de nome e nacionalidade da personagem, que no livro é italiana e se chama Dominetta Palazzi. O papel do vilão Emilio Largo, segundo em comando da SPECTRE, ficaria com o italiano Adolfo Celi, que também acabaria tendo de ser dublado, desta vez por Robert Rietty. E Felix Leiter retornaria pela terceira vez interpretado pelo terceiro ator diferente, Rik Van Nutter.
Thunderball (que no Brasil virou 007 contra a Chantagem Atômica) seria o 007 mais caro até então, custando 5,6 milhões de dólares; em compensação, seria também o mais rentável, com 63 milhões nos Estados Unidos - rendendo mais em seu primeiro fim de semana que os três anteriores somados - e 141 milhões no mundo todo. O filme, aliás, foi o primeiro 007 a estrear nos Estados Unidos antes de no Reino Unido, com as estréias separadas por oito dias em dezembro de 1965, e o segundo a ganhar um Oscar, de Melhores Efeitos Especiais.
No enredo, Bond é mais uma vez enviado para o Caribe, desta vez para as Bahamas, onde enfrentará mais uma vez a SPECTRE, que desta vez roubou duas ogivas nuclares da OTAN e exige um resgate de 100 milhões de libras em diamantes para não usá-las contra cidades dos Estados Unidos e Inglaterra. Para frustar este plano malévolo, Bond terá de confrontar Largo, escapar das tentativas de assassinato da femme fatale Fiona Volpe (Luciana Paluzzi) e ainda lidar com os capangas da SPECTRE no fundo do Mar do Caribe, em uma seqüência subaquática caríssima e complicadíssima de ser filmada, mas que é o ponto alto do filme.
Enquanto o quinto filme de James Bond, que sucederia Thunderball, entrava em produção, Broccoli e Saltzman foram procurados pelo produtor Charles K. Feldman, que havia conseguido os direitos de adaptação de Casino Royale, o único dos livros de Fleming não incluído no pacote adquirido pela EON. A idéia de Feldman era fazer de Casino Royale o quinto filme da série, co-produzindo-o com a EON. Broccoli e Saltzman, porém, tinham outros planos, e não aceitaram a oferta. Como Feldman já tinha os direitos, ele decidiu fazer o filme assim mesmo, mas, como achava que não conseguiria competir com os filmes "oficiais", resolveu transformá-lo em uma comédia satírica. O enredo é apenas levemente inspirado no livro, já que traz um 007 aposentado, interpretado por David Niven, e que sai da aposentadoria para investigar a morte de diversos agentes britânicos. Para confundir seus oponentes, ele pede para que seis outras pessoas - homens e mulheres, dentre eles personagens interpretados por Peter Sellers e Ursula Andress, e até uma filha de Bond com Mata Hari - também se identifiquem como James Bond. Como se isso já não fosse suficientemente confuso, Bond ainda morre no final. O filme custou uma exorbitância de 12 milhões de dólares, mas, talvez por pegar carona no sucesso dos 007 verdadeiros, já que estreou em 1967, e 1966 não teve a estréia de nenhum filme da EON, rendeu 41 milhões ao redor do mundo. Embora tenha feito um certo sucesso na época, atualmente este Casino Royale costuma ser considerado ruim, e, evidentemente, não é levado em conta pelos fãs da série.
O quinto filme da série 007 só estrearia nos cinemas dois meses depois de Casino Royale, em junho de 1967, com um dia de diferença entre as estréias do Reino Unido e dos Estados Unidos. You Only Live Twice (no Brasil, Com 007 Só Se Vive Duas Vezes) era uma adaptação do décimo-segundo livro da série, último publicado antes da morte de Fleming. Desta vez, Bond seria enviado ao Japão para investigar o desaparecimento de uma espaçonave norte-americana. Como era a época da Guerra Fria, os Estados Unidos imediatamente colocaram a culpa na União Soviética, o que poderia levar a um conflito de proporções catastróficas. Trabalhando em conjunto com o agente do serviço secreto japonês Tigre Tanaka (Tetsuro Tamba), sua assistente Aki (Akiko Wakabayashi, de King Kong vs Godzilla e Ultra Q) e com a Bond Girl Kissy Suzuki (Mie Hama), Bond acaba descobrindo, nada surpreendentemente, que na verdade era tudo um plano da SPECTRE, que planejava colocar as duas maiores potências do mundo uma contra a outra, roubando espaçonaves soviéticas para colocar a culpa nos Estados Unidos e vice-versa, para emergir como potência dominante após o conflito. Neste filme, Bond finalmente se vê cara-a-cara com o líder da SPECTRE, o megalomaníaco Ernst Stavro Blofeld (Donald Pleasence).
Diferentemente de outros filmes da série, You Only Live Twice é quase todo ambientado em um único país, o Japão, e por isso também foi quase todo filmado lá, com enormes multidões de curiosos acompanhando cada cena. Toda a base da SPECTRE, porém, foi construída em estúdio na Inglaterra, e ficou tão gigantesca que podia ser vista a cinco quilômetros de distância, atraindo mais uma multidão de curiosos. Ao todo, o filme custou 9 milhões e meio de dólares, mas rendeu 43 milhões nos Estados Unidos e 111 no mundo inteiro. A música-tema foi cantada por Nancy Sinatra, e a direção ficou a cargo de Lewis Gilbert.
O contrato de Sean Connery acabaria logo após as filmagens de You Only Live Twice. E aí? Ele renovou? Ele saiu? Estas e outras perguntas serão respondidas em breve, quando tivermos a segunda parte deste post. Até lá!
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