Uma dessas revoluções ocorreu em 1992, quando a softhouse japonesa Capcom (mesma fabricante do Megaman) criou o jogo Street Fighter 2. Não foi o primeiro jogo de porrada inventado (até porque, como o próprio nome sugere, houve um "Street Fighter 1") mas foi o jogo que popularizou o estilo, proporcionou fama à SNK (a softhouse com mais jogos de porrada no currículo) e permitiu a criação de Mortal Kombat, como eu já disse em dois de meus posts pregressos.
A idéia de SF2 era muito simples. Irritantemente simples, para dizer a verdade. O jogador escolhia um personagem e, com ele, deveria enfrentar outros, até chegar em um chefe e vencer o jogo. Não havia fases nem nada, apenas um personagem contra o outro, até o fim. Para que não ficasse muito fácil, foram criados os "golpes especiais", acionados através de sequências de botões ("trás, baixo-frente, frente, soco"). Cada personagem tinha seus próprios golpes especiais, o que contribuía para definir suas personalidades. A única coisa em que os jogos de porrada costumam pecar é na história. Mas quase ninguém liga para esse detalhe, o importante é sair batendo nos outros.
O estilo de SF2 podia ser novo, e seu sucesso foi imenso, mas começou a cansar muito rápido. Para se manterem vivos e competitivos, os jogos de porrada tiveram que começar a inovar quase que imediatamente. Mortal Kombat criou os fatalities. Samurai Shodown introduziu armas. The King of Fighters 94 criou um sistema de times contra times, ao invés de lutadores individuais. Muitos jogos começaram a trazer a infame "barra de super", com a qual os especiais causariam muito mais dano, e até mesmo a muito mais infame "barra de cansaço", que impedia o lutador de bloquear se estivesse cheia. Mesmo com todos estes atrativos, os jogos de porrada ainda tinham uma dificuldade para angariar novos fãs: seus personagens eram, invariavelmente, novos. Não tinham apelo para quem não estivesse disposto a conhecê-los já na hora de jogar.
Foi a própria Capcom quem decidiu começar a mudar isso, já em 1994, primeiro com Darkstalkers, que trazia como lutadores monstros da literatura de horror, como o vampiro, o lobisomem, a múmia amaldiçoada e o monstro de Frankenstein. Neste mesmo ano, a Capcom fechou um contrato de exclusividade com a Marvel Comics, que a permitiria usar os personagens da editora em seus jogos. Foram lançados, então, dois jogos de porrada com personagens Marvel, X-Men: Children of the Atom, somente com personagens dos X-Men, e Marvel Superheroes, em 1995, com muitos dos principais heróis Marvel, incluindo o Homem-Aranha, Homem de Ferro, Hulk e Capitão América.
Mas a nova revolução dos jogos de porrada só ocorreria no ano seguinte, em 1996. Percebendo finalmente o grande filão que tinha nas mãos, já que a esta altura os personagens de Street Fighter já eram famosos ao ponto de atrair seu próprio público, a softhouse decidiu criar um jogo que atraísse tanto os fãs da Marvel quanto aos fãs de SF. E assim nasceu o jogo que, após este imenso intrólito, é o principal do tema do post de hoje: X-Men vs Street Fighter!
Sim, isso existe. Eu mesmo achei muito esquisito quando vi pela primeira vez, mas é um dos melhores jogos de luta já criados. XMSF não somente põe frente a frente os mutantes da Marvel com os lutadores da Capcom, mas ainda trouxe várias inovações que, como de costume, foram copiadas por vários jogos posteriores.
Para começar, XMSF é em dupla. Não, você não joga com um amigo (a menos que o esteja enfrentando), você escolhe dois lutadores para representá-lo. Diferentemente do que ocorre na série King of Fighters, onde os times são de três e você enfrenta um de cada vez, em XMSF você pode trocar de lutador livremente durante a luta, até que um de seus dois lutadores seja nocauteado. Quando os dois são nocauteados, a luta termina, sem Round 2, como era padrão nos jogos de porrada. XMSF não foi o primeiro jogo a usar esta fórmula, tendo-a imitado de Kizuna Encounter, um jogo da SNK lançado alguns meses antes. Neste último, porém, só era possível trocar de lutador em uma área específica da tela, e só bastava que um dos dois lutadores fosse nocauteado para se ganhar (ou perder) a luta.
Outro ponto de diferença são os "super especiais". XMSF tem uma barra de super, com 3 níveis. Alguns especiais gastam um nível desta barra, e são tão poderosos quanto exagerados. Ryu, por exemplo, pode lançar um Hadouken (aquela bola de magia) de sua altura, e contínua como um raio laser. Wolverine avança na direção do oponente cortando quase 50 vezes com suas garras. A graça do jogo, afinal. Melhor que um super especial, só mesmo um especial duplo, que gasta dois níveis da barra de super, e faz com que os dois lutadores ataquem com um super especial ao mesmo tempo. Coitado de quem for atingido.
A história é irrelevante, algo envolvendo Apocalipse querendo capturar os Street Fighters. Por que eles e os X-Men lutam entre si, ninguém sabe. Pelo lado dos X-Men você pode escolher Ciclope, Wolverine, Vampira, Tempestade, Gambit, Dente de Sabre, Magneto e o Fanático. Pelo lado dos Street Fighters temos Ryu, Ken, Chun Li, Charlie, Cammy, Zangief, Dhalsim, M.Bison e Akuma. Após derrotar seis duplas, você enfrenta Apocalipse, e deverá escolher bem quem irá aplicar o último golpe, pois este deverá enfrentar seu outro lutador e vencê-lo, se você quiser ver o final. Nada dá mais raiva do que vencer Apocalipse e perder para seu próprio parceiro.
O sucesso de XMSF abriu as portas (e os olhos da Capcom) para continuações, e uma nova série acabou por ser criada. Ela sim é o tema do post de hoje, a série Marvel vs Capcom. O segundo jogo desta série seria lançado em 1997, um ano depois de XMSF. Desta vez a Capcom queria envolver mais heróis Marvel na briga, mas esbarrou em um problema de copyright: na época, estava acontecendo nos EUA a série Heróis Renascem, na qual vários personagens eram reformulados. Para tanto, a Marvel havia cedido os direitos de alguns heróis, temporariamente, para os desenhistas Jim lee e Rob Liefeld, responsáveis pelo projeto. O notório encrenqueiro Liefeld, por incrível que pareça, não criou objeções, mas Jim Lee proibiu que os heróis nos quais estivesse trabalhando aparecessem no jogo, o que fez com que o Homem de Ferro, praticamente garantido no jogo, ficasse de fora. Como o cronograma estava atrasado, a Capcom decidiu usar alguns heróis de Marvel Superheroes, o jogo anterior, mesmo que estes não fossem tão famosos.
De qualquer forma, em 1997 chegou aos arcades Marvel Superheroes vs Street Fighter, o suvessor de XMSF. MSSF ainda trazia o sistema de duplas e super especiais, mas tinha uma novidade: através de um comando, e gastando um nível da barra de super, o jogador poderia ficar com seus dois personagens na tela simultaneamente por um curto período de tempo.
Apesar de todos os esforços, este é considerado o mais fraco dos jogos da série, talvez por conter alguns personagens esquisitos e deixar outros mais famosos de fora. O time da Marvel tem Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, Wolverine, Ciclope, Ômega Vermelho, Coração Negro e Shuma Gorath. Pelo lado dos Street Fighters respondem Ryu, Ken, Chun Li, Zangief, Dhalsim, Sakura, Akuma, Dan e M.Bison. Existem seis personagens secretos picaretas: Mefisto (Coração Negro pintado de vermelho), US Agent (Capitão América pintado de preto), um Homem-Aranha prateado, Evil Sakura (que está mais para Sakura Bronzeada), Mega Zangief (um Zangief zumbi) e Shadow (o Charlie do jogo anterior, só que todo preto). Desta vez temos dois chefes, Apocalipse e Cyber Akuma, mas não há o confronto final entre os parceiros.
Uma coisa interessante sobre MSSF é que, na versão japonesa, foi colocado um personagem para substituir o Homem de Ferro: Norimaro, um japonês baixinho, caricato, e que aparentemente estava fazendo turismo quando foi envolvido na briga. É uma pena que não o mantiveram na versão americana, já que seus especiais são engraçadíssimos.
Mesmo com MSSF não tendo feito tanto sucesso, a Capcom decidiu dar constinuidade à série, e desta vez acertou em cheio ao lançar, em 1998, Marvel vs Capcom. Desta vez não eram apenas os Street Fighters "do lado de lá", mas sim vários personagens de diversos jogos da Capcom, o que tornou o jogo muito mais divertido. Pelo lado da Marvel temos Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, Wolverine, Gambit, Venom e War Machine (que é praticamente o Homem de Ferro pintado de preto). Pelo lado da Capcom figuram Ryu, Chun Li, Zangief, Megaman, Capitão Comando, Morrigan (a súcubo de Darkstalkers), Strider Hiryuu e Jin Saotome (do jogo Cyberbots).
Além de manter as características dos anteriores (duplas, super especiais, comando para jogar com ambos simultaneamente), MVC ainda introduziu mais uma novidade, os Helpers. Através de um comando, um personagem Marvel/Capcom que ficou de fora do jogo entra na tela, dá porrada no adversário e vai embora. Seu Helper é escolhido aleatoriamente pela máquina antes de cada luta, e cada Helper tem um número limitado de usos. Os Helpers da Capcom são Unknown Soldier (do jogo Forgotten Worlds), Anita (de Darkstalkers), Lou (Chariot), Michelle Heart (Wings of Ales), Arthur (Ghouls n' Ghosts), Saki (Nigiirochou no Kiseki), Ton-Fu (Strider), Devilot (Cyberbots) e Pure and Fur (mascotes da Capcom). Pelo lado da Marvel temos Ciclope, Homem de Gelo, Psylocke, Thor, Tempestade, Jubileu, Fanático, Vampira, Colossus, Magneto e US Agent.
MVC também tem seus especiais picaretas: um Venom vermelho, um Hulk laranja, um War Machine dourado, Lilith (Morrigan de cor diferente), Shadow Lady (Chun Li toda preta) e Roll (a única realmente nova). Por incrível que pareça, também existem dois Helpers secretos, Shadow e um Sentinela, acionáveis através de truques. O último chefe é Onslaught (conhecido por alguns como Massacre, graças à tradução da Editora Abril), que deve ser derrotado duas vezes, uma em tamanho normal e uma gigante. Na minha opinião, MVC é o mais divertido jogo da série.
Mas a série não acabou com ele. Em 2000, a Capcom decidiu lançar Marvel vs Capcom 2, desta vez para uma placa diferente, a Naomi (os outros três eram para CPS-2), o que permitiu mais memória e gráficos melhores. MVC2 não tem mais Helpers nem o comando para lutar dois ao mesmo tempo, mas ainda temos os super especiais, e uma novidade: ao invés de duplas, a luta é em trios, e você pode trocar seu lutador por qualquer componente do trio que esteja de fora durante a luta. Além do especial duplo, agora existe um terrível especial triplo, que gasta três níveis de super. Aliás, agora a barra de super tem 5 níveis. Através de um comando, você pode chamar um dos parceiros que está de fora para dar um golpe e sair, como se fosse um Helper, e existe um golpe que obriga o oponente a trocar de lutador.
Apesar de mais bonito, MVC2 é mais complicado de se jogar. Além disso, alguns lutadores só são liberados através de tempo de jogo (ou seja, nos fliperamas brasileiros, que desligam as máquinas regularmente, não eram liberados nunca) e o último chefe, Abyss, que tem três formas, é um pé no saco. Se você conseguir liberar todos os lutadores, ficará com 56 no total. Por causa disso, o final de todos eles é idêntico, pois era muito mais fácil fazer um só final do que 56. Por tudo isso, MVC2 não é tão divertido quanto seu antecessor, mas ainda assim é um jogo interessante. Infelizmente, foi o que eu joguei menos (só quatro vezes, para dizer a verdade).
Já que eu dei a lista dos lutadores dos outros jogos, darei a deste também. Desde o início, pela Marvel, temos Homem-Aranha, Wolverine, Gambit, Capitão América, Hulk, Venom, Dr. Destino, Cable, Homem de Gelo, Ciclope, Medula, Fanático, Shuma Gorath e Magneto. Pela Capcom temos Ryu, Akuma, Zangief, Capitão Comando, Morrigan, Strider Hiryuu, Jin Saotome, Amingo (Jojo's Bizarre Adventure), Anakaris (Darkstalkers), B.B.Hood (Darkstalkers), Guile, Hayato (Star Gladiators), Ruby Heart e Sonson. Os "liberáveis" da Marvel são Thanos, War Machine, Coração Negro, Colossus, Homem de Ferro, Ômega Vermelho, Psylocke, Vampira, Dentes de Sabre, Tempestade, Sentinela, Samurai de Prata, Espiral e um Wolverine sem adamantium (apelidado por mim de Albert). Pela Capcom, os "liberáveis" são Tronn Bone (Megaman Legends), Servbot (Megaman Legends), Megaman, Roll, Cammy, Charlie, Dan, Dhalsim, Jill Valentine (Resident Evil), Ken, Chun Li, Felicia (Darkstalkers), Sakura e M.Bison.
Depois de MVC2, o contrato da Capcom com a Marvel acabou, e a série VS foi interrompida. Os personagens da Capcom ainda enfrentaram os da SNK em três jogos, Capcom vs SNK, Capcom vs SNK 2 e SVC Chaos: SNK vs Capcom. Estes jogos, porém, são muito mais parecidos com uma mistura de Street Fighter Alpha e King of Fighters do que com os quatro VS anteriores, portanto eles não são oficialmente parte da série. Recentemente foi lançado Capcom Fighting Evolution, que tem lutas em dupla, mas todos os personagens são da Capcom, o que também o desqualifica (aliás, a SNK também está preparando um parecido, Neo-Geo Battle Coliseum). Em fase de produção está Sammy vs Capcom, que também não deve vir a integrar a série VS. O novo contrato da Marvel é com a Electronic Arts, que malandramente já anunciou um Marvel vs EA. Pessoalmente, eu não acho que vá ficar tão legal quanto os anteriores. Tudo tem uma época, e aparentemente essa já passou.
O Norimaro pode ser selecionado; usando um código de "Game Shark", procure lá no Google por: "Play as Norimaro" ou: "Fight as Norimaro".
ResponderExcluirUns dizem ele ter sido removido por a Marvel não querer que pensassem ele ser um novo super-herói da companhia, outros que foi por ele ser patético e ridículo demais mesmo, outros que a Capcom EUA não quis por ele ser homenagem a um programador da versão original mas, ele realmente faz falta...
A falta dele é tão sentida quanto a da Anita em Marvel Super Heroes (continuação de X-Men: Children of the Atom); igualmente limada pela Capcom EUA...
Outra coisa interessante: nas versões japonesas, se você zerar uma vez, pode da próxima selecionar 2 vezes a mesma personagem (é engraçado pensar numa dupla com idênticos lutadores) e, quando acabar a luta, pode apertar "Start" e recomeçá-la sem continue; tendo você vencido ou não (mas deve-se apertar antes do computador informar quem venceu afinal).
Agora, o X-Men vs. Street Fighter tem poucos modos de luta, não podemos selecionar nível fácil, médio ou difícil, é o jogo em que é mais difícil matar o Apocalipse e outros defeitos mais mas, é o que tem os melhores finais mesmos, o único que conta 99 segundos por cada "round" e não por cada luta inteira, tem os melhores cenários e outras qualidades mais ainda.
O MSH vs. Street Fighter é mais foda mesmo pela apelação do Cyber-Akuma; embora seja bem menos complicado derrotar o Cyber-Akuma em comparação ao anterior.
O Marvel vs. Capcom é o primeiro a ter um grupo mais seleto e variado de lutadores dos 2 lados, tem os "Helpers" e é o mais fácil de acessar as opções secretas e zerar o jogo mas, poderia ter um reforço um pouco maior e melhor do lado da Marvel, poderia ser também bem mais simples de liberar os lutadores secretos e poderia ter mais uns "Helpers" pela Capcom mas, acabou sendo consagrado de toda a sorte.
O Marvel vs. Capcom 2 tem fundos em 3D, muitíssimas personagens e o sistema de lutas em trios mas, dá um baita trabalhão liberar todos os lutadores secretos, só há um final embora eu entenda 56 serem muita coisa e o Abyss é bem pior do que o Apocalipse e o Massacre Juntos mas, é um ótimo jogo mesmo; sem dúvidas!
Pena a Capcom EUA ter tirado a opção de jogar "online": eles fazem total questão de tornar os jogos bem inferiores em relação às versões japonesas...
O Marvel vs. Capcom 3 sai no ano que vem; prometendo ser o melhor de toda a série.
A propósito: personagem é uma palavra feminina: vem de "persona" que é pessoa em espanhol, italiano e latim e, palavras acabadas em "agem" são comumente femininas; pode crer?
Bem, até mais!
Sávio, você já fez esse comentário sobre a palavra "personagem" no post do SNK vs Capcom, e eu vou escrever aqui a mesma resposta que escrevi lá:
ResponderExcluirA palavra "personagem" só é feminina em Portugal. No Brasil, ela tem dois gêneros, sendo determinada se masculina ou feminina pelo artigo, como também acontece, por exemplo, com "atleta". Pode ver no dicionário.
Abraços!