sábado, 6 de abril de 2024

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Universo Cinematográfico Marvel (XI)

Hoje seguiremos com a série de posts sobre o MCU, finalmente encerrando o ano de 2021!

Eternos
Eternals
2021

Os Eternos são um grupo de super-heróis criado por Jack Kirby quando ele retornou à Marvel, na década de 1970, após passar alguns anos escrevendo e desenhando para a DC. Membros de uma raça de seres superpoderosos criada pelos Celestiais para defender a Terra dos Deviantes, raça aparentemente alienígena que vê todas as demais como ameaças, planejando destruir todos os que não forem Deviantes, os Eternos caminham dentre a humanidade há um milhão de anos, tendo dado origem a várias lendas de diversas mitologias. Em termos de popularidade nos quadrinhos, os Eternos não pareciam uma boa escolha para protagonistas de um filme, mas Feige, querendo aproveitar a Fase 4 para abordar o passado e as origens do MCU, achou que o tema de "alienígenas que influenciaram na história da humanidade" era apropriado, e decidiu investir no projeto.

Um mês após anunciar o filme, a Marvel partiria para escolher um diretor, sendo abordados Nicole Kassell, Travis Knight, Chloé Zhao, e a dupla Cristina Gallego e Ciro Guerra. Zhao, que em várias entrevistas se diria fã do MCU, e já não havia sido escolhida para dirigir Viúva Negra, trabalharia em conjunto com o produtor Nate Moore para criar uma apresentação de primeiro nível, que deixaria os executivos dos Marvel Studios temerosos de que, se não a contratassem de imediato, poderiam perdê-la para algum grande projeto de outro estúdio, e acabaria sendo contratada quinze dias depois, sem que muitos dos outros sequer tivessem a chance de se apresentar. Outro ponto que convenceria a Marvel a contratar Zhao seria que, por sugestão de Moore, vários dos personagens teriam seu gênero, etnia e sexualidade diferentes de suas versões dos quadrinhos - nos quais a equipe era em sua maioria branca e masculina - o que estava alinhado com o projeto de maior diversidade de elencos planejado pelos Marvel Studios.

Inicialmente, a Marvel contrataria os roteiristas Ryan e Kaz Firpo, que chegariam a escrever um rascunho; após ser contratada, Zhao pediria para que ela mesma escrevesse o roteiro, para que o filme fosse um reflexo de sua visão, e a Marvel permitiria, desde que ela usasse o rascunho que já havia sido feito pelos Firpo como ponto de partida. Faltando quatro meses para a data prevista para o início das filmagens, Zhao estaria com dificuldades para finalizar o roteiro, então a Marvel indicaria Patrick Burleigh, de sua escola de jovens roteiristas, que decidiria apenas ajudá-la a finalizar, sem interferir em seu processo de criação. No fim, Zhao, Burleigh e os dois Firpo seriam creditados como roteiristas.

O filme começa cerca de oito meses após os eventos de Ultimato, e, através de flashbacks, acompanha uma equipe de dez Eternos - Gemma Chan (que já havia interpretado a Minn-Erva de Capitã Marvel) como Sersi, Richard Madden (de Game of Thrones) como Ikaris, Kumail Nanjiani como Kingo, Lia McHugh como Sprite, Brian Tyree Henry como Phastos, Lauren Ridloff como Makkari, Barry Keoghan como Druig, Don Lee como Gilgamesh, Angelina Jolie como Thena, e Salma Hayek como Ajax - ao longo da história da humanidade, sempre guiando seus avanços e protegendo-a dos Deviantes. Na época atual, um ataque dos Deviantes não ocorre há cerca de 500 anos, o que fez com que os Eternos se espalhassem pelo mundo e passassem a viver vidas normais em meio aos humanos; o ressurgimento dos Deviantes fará com que eles tenham de voltar à ativa, e, de quebra, descubram um terrível segredo.

Chan seria a última atriz testada para o papel de Sersi, que, mesmo sendo um "filme de equipe", é a protagonista da produção, e o papel com mais falas e mais cenas dentre todos os Eternos; após finalizar sua participação em Capitã Marvel, a atriz ouviria diretamente de Feige que "gostaria de aproveitá-la melhor em um futuro projeto", mas se surpreendeu com a rapidez com que retornou ao MCU. Phastos seria o primeiro super-herói gay do MCU, com Haaz Sleiman interpretando seu marido, Ben, e Esai Daniel Cross interpretando o filho do casal, Jack; e Makkari seria o primeiro super-herói surdo do cinema, se comunicando através da língua de sinais - Ridloff, sua intérprete, é surda na vida real. O elenco ainda conta com Bill Skarsgård como a voz do Deviante Kro; David Kaye como a voz do Celestial Arishem; Harish Patel como Karun, o mordomo de Kingo; e Kit Harington (também de Game of Thrones) como o namorado de Sersi, Dane Whitman, que, nos quadrinhos, é o herói Cavaleiro Negro. Na cena pós-créditos, Harry Styles aparece como o herói Starfox, Payton Oswalt faz a voz do troll Pip, e Mahershala Ali, não creditado, tem uma fala atribuída ao herói Blade, que ele interpretará em uma produção futura.

Zhao diria que a Marvel lhe daria liberdade total durante as filmagens, permitindo que a maioria das cenas fossem externas, algo raro no MCU, que ela usasse câmeras de qualquer tipo e e qualquer ângulo, e até mesmo que filmasse Eternos back to back como seu filme Nomadland, realizado de forma independente e que já estava em pré-produção quando ela foi contratada. As filmagens ocorreriam em Los Angeles, na Inglaterra e nas Ilhas Canárias, onde uma cena teve de ser interrompida e o elenco e equipe evacuados - incluindo Jolie e Madden - após ser descoberta bem no local de filmagens uma bomba da Segunda Guerra Mundial que não explodiu. As filmagens se concluíram em fevereiro de 2020, poucas semanas antes de começar a quarentena por causa da pandemia, e toda a pós-produção teve de ser feita de forma remota, incluindo os efeitos especiais, criados pelas empresas Scanline VFX, Industrial Light & Magic, Luma Pictures, RISE e Weta Digital. Algumas cenas tiveram de ser refilmadas em novembro de 2020, devido a Zhao não gostar da forma como elas se encaixaram no filme após a edição.

Após duas pré-estreias em outubro, Eternos estrearia em 3 de novembro de 2021, quase um ano depois da data para o qual estava originalmente marcado antes da pandemia; ele deveria ter sido o segundo filme da Fase 4, mas, quando a Marvel teve de alterar as datas por causa da pandemia, Zhao pediria para que ele fosse o terceiro, para que ela tivesse mais tempo para trabalhar na edição, com a qual ainda não estava totalmente satisfeita. Assim como Shang-Chi, Eternos ficaria 45 dias exclusivamente nos cinemas antes de ser oferecido no Premier Access do Disney+; ele seria o último filme do MCU a ser oferecido através desse serviço.

Com orçamento de 232,6 milhões de dólares, Eternos renderia quase 165 milhões nos Estados Unidos e pouco mais de 402 milhões no mundo inteiro; assim como Shang-Chi, ele teria sua exibição proibida na China, dessa vez por causa de uma delcaração que Zhao fez em 2013, quando disse que a China era um país onde havia "mentiras por toda parte". O filme também seria proibido na Arábia Saudita, Kuwait, Catar, Bahrein e Omã, devido à presença de um casal gay, e exibido editado, sem as cenas da família de Phastos, nos Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Líbano, Indonésia e Egito. A crítica ficaria dividida, considerando a história confusa e as atuações abaixo da média, mas elogiando o visual do filme e o fato de que ele tem "super-heróis que conversam ao invés de resolver tudo com os punhos". O filme receberia o Selo de Representação Autêntica da Ruderman Family Foundation pela forma como um personagem surdo foi representado, e o ReFrame Stamp, conferido a produções nas quais há igualdade de gênero em relação a tempo de tela e duração de falas.

De todos os filmes do MCU até agora, Eternos é o que parece mais deslocado: seus eventos parecem não ter sofrido influência de nada do que aconteceu nas produções anteriores, nem terem influenciado nenhuma das seguintes - uma das maiores reclamações do público, inclusive, é que um acontecimento de grande magnitude do filme sequer foi novamente citado até agora. O futuro dos Eternos no MCU também é nebuloso: havia boatos de que seria feita uma série para o Disney+, com cada episódio mostrando um dos Eternos em um ponto específico da história da humanidade, mas isso jamais foi confirmado, e um segundo filme, que seria o caminho natural, ainda não foi incluído nos planos futuros da Marvel. Também não se sabe se Sersi, Whitman ou Starfox estarão em um dos futuros filmes dos Vingadores - o que é especulado pelos fãs devido ao fato de que, nos quadrinhos, os três já fizeram parte da equipe.

Gavião Arqueiro
Hawkeye
2021

Junto com Wanda, o Falcão e Loki, o Gavião Arqueiro seria um dos personagens escolhidos, lá em 2018, para estrelar uma série no Disney+. No caso dele, havia uma dificuldade, porém: ao contrário dos outros três personagens, que provavelmente não ganhariam jamais seus próprios filmes, havia um projeto para um filme solo do Gavião Arqueiro, o que faria com que seu intérprete, Jeremy Renner, assinasse um contrato para estrelá-lo. Após a definição de que o Gavião Arqueiro seria estrela de uma série, e não de um filme, Renner teria de ser convencido a mudar seu contrato, e o argumento usado para isso seria que, em uma série com de 6 a 8 episódios, o desenvolvimento da história e o tempo de tela do personagem seriam maiores que em um filme de duas horas - embora o argumento para que ele não mudasse, o de que os ganhos financeiros com o filme seriam maiores, também me parece muito bom. Seja como for, Renner acabaria convencido, e Gavião Arqueiro entraria em produção em abril de 2019.

Ainda em abril, Kevin Feige e a produtora Trinh Tran definiriam a históra da série, que mostraria Clint Barton, o Gavião Arqueiro dos Vingadores, passando seu manto para Kate Bishop, a nova Gaviã Arqueira dos quadrinhos - em inglês não havia o problema de gênero, já que ambos os personagens se chamavam Hawkeye - para poder passar mais tempo com sua família. Em setembro, Jonathan Igla seria contratado como showrunner, ficando responsável também por escrever o primeiro episódio e supervisionar a equipe de roteiristas, que contaria com Elisa Clement (que co-escreveria o último episódio com Igla), Katie Mathewson & Tanner Bean, Erin Cancino & Heather Quinn e Jenna Noel Frazier. Em março de 2020, ficaria definido que a série teria seis episódios, e que seria uma série limitada, sem segunda temporada. Em julho, Rhys Thomas seria contratado como diretor, mas, devido a outros compromissos pessoais, somente poderia dirigir três dos episódios, optando pelos dois primeiros e o último; para dirigir os três "do meio", a Marvel convidaria a dupla Bert & Bertie - nomes artísticos das inglesas Amber Templemore-Finlayson e Katie Ellwood.

Igla decidiria ambientar a série na época do Natal, e baseá-la nas histórias do Gavião Arqueiro escritas por Matt Fraction em 2012, usando elementos como o cachorro Lucky, os vilões vestidos com agasalhos de ginástica e o fato de que Barton está perdendo a audição após tantos anos de aventuras barulhentas. A série mostraria Barton ensinando Bishop a ser um "super-herói sem superpoderes", enquanto explora detalhes de seu passado, especialmente da época em que ele agiu com o codinome de Ronin, entre os eventos de Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato. Fraction serviria como consultor para a série, e planejaria fazer uma participação especial como um dos bandidos vestidos de agasalho de ginástica, mas teria de cancelar devido à pandemia.

Logo após Renner assinar contrato, Hailee Steinfeld seria convidada para interpretar Bishop, mas não poderia assinar devido a uma cláusula de seu contrato com a Apple TV+, para a qual ela fez a série Dickinson. A Marvel não sondaria outras atrizes nem faria testes, decidindo tentar resolver essa questão legal para poder contar com Steinfeld, que seria anunciada somente em dezembro de 2020. Também em dezembro, seria confirmada a presença na série de Yelena Belova, com Florence Pugh repetindo o papel que já havia interpretado em Viúva Negra; Belova a princípio não estaria na série, retornando apenas no filme dos Thunderbolts, mas Igla convenceria Feige de que Gavião Arqueiro era o lugar certo para que a personagem retornasse e encerrasse suas histórias pendentes antes de sua aparição em uma equipe; para que as cenas de Belova na série não destoassem das do filme, Thomas, Bert & Bertie e os roteiristas assistiriam a uma sessão privada de Viúva Negra, antes da estreia do filme. Durante uma reunião para decidir sobre a presença de Belova, Feige sugeriria incluir também o Rei do Crime, interpretado por Vincent D'Onofrio como na série do Demolidor da Netflix, que assim faria sua estreia oficial no MCU.

A série começa durante os eventos de Os Vingadores, quando uma Kate Bishop ainda criança vê de sua janela a batalha contra os Chitauri, é salva de um ataque dos alienígenas pelo Gavião Arqueiro, e decide ela mesma se tornar uma heroína que usa um arco e flechas como arma. Mais de uma década se passa, e, um ano após os eventos de Vingadores: Ultimato, se aproxima o primeiro Natal após o blip, o qual Barton, aposentado, decide passar com sua família em sua casa do interior. Enquanto ele está em Nova Iorque com os filhos, porém, alguns objetos pessoais seus, como a roupa e a espada que ele usava na época de Ronin e um relógio, são roubados, e ele decide tentar recuperá-los. Bishop acaba se envolvendo acidentalmente ao tentar impedir os ladrões, e, juntos, os dois Gaviões Arqueiros acabam tendo de enfrentar perigosos criminosos.

O elenco conta com Jeremy Renner como Clint Barton / Gavião Arqueiro; Hailee Steinfeld como Kate Bishop; Tony Dalton como Jack Duquesne, que nos quadrinhos é o vilão transformado em herói Espadachim, mas na série é o noivo da mãe de Bishop, e aparentemente está envolvido no roubo dos objetos de Barton; Fra Free como Kazimierz Kazimierczak, apelido Kazi, chefe dos criminosos que usam agasalhos de ginástica; Vera Farmiga como Eleanor Bishop, mãe de Katie; Alaqua Cox como Maya Lopez, moça nativo-americana, surda e amputada de uma perna, ás das artes marciais, que quer se vingar do Ronin por ele ter matado seu pai, sem saber que Barton é o Ronin; Florence Pugh como Yelena Belova / Viúva Negra; e Vincent D'Onofrio como Wilson Fisk / Rei do Crime. Outros personagens de destaque são Laura Barton (Linda Cardellini), esposa de Clint, e seus filhos, Cooper (Ben Sakamoto), Lila (Ava Russo) e Nathaniel (Cade Woodward); os criminosos de agasalho de ginástica Ivan (Aleks Paunovic), Tomas (Piotr Adamczyk) e Enrique (Carlos Navarro); os policiais Grills (Clayton English), Wendy (Adetinpo Thomas), Orville (Robert Walker-Branchaud) e Missy (Adelle Drahos); os Detetives Caudie (Ivan Mbakop) e Rivera (Franco Castan); Armand Duquesne III (Simon Callow), tio de Jack e amigo da família Bishop, e seu neto, Armand Duquesne VII (Jonathan Bergman). Em flashbacks, também aparecem os pais de Katie, Derek Bishop (Brian d'Arcy James), e de Maya, William Lopez (Zahn McClamon). O jornalista Pat Kiernan faz uma participação especial como ele mesmo.

As filmagens começariam em dezembro de 2020, para aproveitar a decoração de Natal, e ocorreriam principalmente na cidade de Nova Iorque, no Brooklyn e em Manhattan. Em fevereiro de 2021, as filmagens das cenas de estúdio começariam em Atlanta, com algumas cenas externas adicionais sendo filmadas no centro da cidade de Canton, Georgia. As filmagens se encerrariam em abril de 2021, mas algumas cenas teriam de ser regravadas, por questões de ritmo, com as refilmagens sendo feitas em estúdios em Toronto, no Canadá, em setembro de 2021. Os efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Industrial Light & Magic, Luma Pictures, Mr. X, Rise, Rising Sun Pictures e Weta Digital. Segundo estimativas da Disney, cada episódio custaria cerca de 25 milhões de dólares.

Gavião Arqueiro estrearia no Disney+ em 24 de novembro de 2021 com dois episódios, os demais estreando um por semana até 22 de dezembro, para um total de seis, com entre 42 e 62 minutos cada. O primeiro episódio teria uma pré-estreia em cinemas selecionados de Londres em 11 de novembro, e no El Captain Theatre, em Los Angeles, em 17 de novembro. A série seria extremamente elogiada, especialmente a química entre Renner e Steinfeld, e a ação mais "pé no chão", sem os ingredientes grandiosios, cósmicos ou espalhafatosos que marcam as produções do MCU. Alguns críticos a considerariam a melhor das séries do MCU no Disney+, e chamariam a atenção para o fato de que o Gavião Arqueiro não é um anti-herói torturado em busca de redenção, mas um herói aposentado que quer apenas resolver sua vida para poder ficar com sua família, o que também diferenciava a série das demais produções envolvendo super-heróis. A Disney não divulgou os números da audiência, mas declarou que a série foi um grande sucesso de público.

Ao inscrever a série para a premiação do Emmy, a Disney optaria pelas categorias de séries de comédia, devido ao tom leve dos episódios; o fato de ela não ter sido inscrita nas categorias reservadas a minisséries e séries limitadas levaria a especulações de que uma segunda temporada estava sendo planejada, o que seria desmentido por Igla. Gavião Arqueiro acabaria indicada apenas aos Emmys de Melhor Coordenação de Dublês pra uma Série de Comédia ou Programa de Variedades e Melhor Performance de Dublês, mas não ganharia nenhum dos dois prêmios.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Spider-Man: No Way Home
2021

Lá em 2017, quando Sony e Marvel Studios definiram os termos do acordo que permitiu a realização de Homem-Aranha: De Volta ao Lar e a inclusão do Homem-Aranha nos filmes do MCU, ficaria acertado que seriam feitos três filmes, produzidos pelos Marvel Studios e distribuídos pela Sony. Em relação à parte financeira, 100% do financiamento (ou seja, todo o dinheiro pago para fazer cada filme) seria de responsabilidade da Sony, que, em troca, receberia 95% do valor da bilheteria, com os Marvel Studios ficando com apenas 5%. E seria justamente essa parte que daria problema após a realização do segundo filme, Homem-Aranha: Longe de Casa, de 2019.

Uma cláusula do contrato assinado em 2017 previa que ele poderia ser terminado a qualquer momento, inclusive antes da realização de qualquer filme, por decisão unilateral - ou seja, bastava uma das partes, Marvel ou Sony, não querer mais, para que o contrato deixasse de valer. Ao mesmo tempo, também havia uma cláusula que previa que o contrato, se não fosse terminado dessa forma, valeria indefinidamente, sendo automaticamente renovado para um quarto filme após a estreia do terceiro, para um quinto após a estreia do quarto, e assim por diante. Assim, em agosto de 2019, Sony e Marvel se reuniriam para tratar não somente do terceiro filme, mas também do quarto, já que a série estava sendo um grande sucesso para ambos, e era preciso tratar de questões legais como a renovação dos contratos do diretor Jon Watts e do elenco principal, que, seguindo o padrão da Sony, eram assinados filme a filme, e não para múltiplos filmes como costumava fazer a Marvel.

Nessa reunião, a Disney se mostraria extremamente insatisfeita com a cláusula que previa apenas 5% da bilheteria para os Marvel Studios, alegando que os filmes só eram um sucesso por serem ambientados no MCU e que, após a estreia do Disney+, Feige estava sobrecarregado com tantas produções para a Fase 4, e exigiu que esse percentual fosse aumentado para de 25% a 50% da bilheteria. A Sony obviamente não concordou e, como não conseguiu convencer os executivos da Disney a aceitar menos de 25%, exerceu sua opção de encerrar o contrato unilateralmente, declarando que ainda faria um terceiro filme do Homem-Aranha dirigido por Watts, escrito por Chris McKenna e Erik Sommers e estrelado por Tom Holland, mas que esse seria ambientado não no MCU, e sim em seu Sony's Spider-Man Universe (SSU), do qual até então o único filme era Venom, mas para o qual já estavam previstos Venom: Tempo de Carnificina (que estrearia em 2021), Morbius (que estrearia em 2022) e Kraven, o Caçador (previsto para estrear esse ano).

Embora alguns fãs tenham comemorado, preferindo um filme do Homem-Aranha sem ligação com o MCU, a imensa maioria fez um grande estardalhaço, com a repercussão nas redes sociais sendo amplamente negativa. Mais que isso, o próprio Holland se declarou insatisfeito com a decisão, e decidiu conversar pessoalmente (em ocasiões separadas) com Tom Rothman, presidente da Sony, e Bob Iger, CEO da Disney, para tentar encontrar uma solução. O caldo entornaria de vez após uma declaração do CEO da Sony Pictures Entertainment, Tony Vinciquerra, de que Feige não era o único capaz de fazer um filme de sucesso e que a Sony era plenamente capaz de fazer um filme do Homem-Aranha no mesmo estilo dos do MCU, algo no qual (talvez por causa de Venom) os fãs não acreditaram. Após vários protestos na D23, a convenção anual da Disney (cujo nome remete a 1923, o ano de fundação da empresa), em setembro de 2019, Sony e Disney sentariam novamente para conversar, e chegariam a um novo acordo, segundo o qual tanto o financiamento quanto a bilheteria passariam a ser divididos: 75% para a Sony, 25% para os Marvel Studios. Iger declararia que Disney e Sony, ao negociar da primeira vez, haviam se esquecido das pessoas que realmente importam, os fãs, e agradeceria a todos que pressionaram para que o acordo fosse renovado.

Esse novo contrato também previa que personagens do MCU pudessem aparecer em filmes do SSU e vice-versa - o que permitiu que, por exemplo, o Abutre, interpretado por Michael Keaton, personagem de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, aparecesse na cena pós-créditos de Morbius. O próprio Homem-Aranha de Holland está incluído nesse pacote, embora ainda não esteja confirmada sua participação em nenhum dos filmes futuros do SSU. Mas o que importa para esse post é que essa previsão contratual deu uma ideia a McKenna e Sommers: em sua primeira versão do roteiro, o vilão seria Kraven, seguindo uma sugestão de Watts, mas, aproveitando o novo contrato e o fato de que as produções da Fase 4 lidam com a ideia de Multiverso, os dois decidiriam fazer com que os filmes anteriores do Homem-Aranha, aqueles estrelados por Tobey Maguire e Andrew Garfield, fossem mostrados como parte do Multiverso Marvel.

Inicialmente, a ideia de McKenna e Sommers era que os personagens dos filmes anteriores fizessem apenas participações especiais. Seu primeiro rascunho seguia uma história semelhante à de A Felicidade Não se Compra, de 1946, com Peter Parker desejando jamais ter se tornado o Homem-Aranha e tendo um vislumbre de um universo no qual ele nunca foi picado pela aranha radioativa; conforme trabalhavam na história, eles decidiriam fazer com que os personagens dos filmes de Maguire e Garfield se tornassem parte integrante dela, vindo parar no universo no qual é ambientado o MCU e tendo de ser devolvidos para seus universos de origem. Os roteiristas também aproveitariam essa ideia para manter uma característica dos dois filmes anteriores do Homem-Aranha no MCU: em cada um deles, o Homem-Aranha contracena brevemente com um personagem mais velho do MCU, que atua como uma espécie de mentor; no primeiro, com Tony Stark, no segundo, com Nick Fury. Como já estava definido que o filme seguinte dos Marvel Studios seria Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, a escolha óbvia foi Stephen Strange, que seria também o responsável pelo feitiço que traria os personagens dos outros universos para a história.

McKenna e Sommers escreveriam o roteiro sem nem saber se os atores que interpretaram os personagens originalmente aceitariam retornar, preferindo se preocupar com isso depois. Eles também escreveriam cenas para praticamente todos os personagens dos cinco filmes, incluindo Mary Jane, Gwen Stacy e as duas versões de Harry Osborn, mas, em dado momento, achando que estavam pegando mais peso do que aguentavam carregar, e querendo evitar que o filme se tornasse um grande amarrado de fan service, decidiriam usar apenas os vilões - em uma das versões do roteiro, nem mesmo Maguire e Garfield estariam no filme. Também houve um momento no qual os roteiristas decidiriam colocar um vilão inédito no filme, que seria o principal, com os demais apenas atacando o Homem-Aranha aleatoriamente, mas, quando Willem Dafoe assinou contrato para voltar a interpretar o Duende Verde, eles ficaram tão empolgados que decidiram que nenhum outro vilão conseguiria ser o principal com ele no filme.

Uma das dificuldades encontradas pelos roteristas seria que, originalmente, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa estrearia depois de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - versões preliminares do roteiro, inclusive, traziam America Chavez, que faria amizade com Peter Parker, usando seus poderes para acessar as dimensões dos vilões. Por causa da pandemia, as filmagens de ambos os filmes acabariam atrasando, e, quando retornaram, o do Homem-Aranha estava muito mais adiantado. Querendo aproveitar que, mesmo com a pandemia, poderia lançar um filme do Homem-Aranha a cada dois anos, a Sony marcaria a data de estreia para novembro de 2021; como a Marvel já estava com seu cronograma de cinema todo atrasado, e em novembro ainda seria a estreia de Eternos, McKenna e Sommers teriam de mudar várias cenas para que a continuidade do MCU não fosse alterada - já haviam sido filmadas cenas, por exemplo, nas quais o Doutor Estranho dizia já ter conhecimento do Multiverso, que tiveram de ser refilmadas.

O filme é uma continuação direta de Homem-Aranha: Longe de Casa, no fim do qual (SPOILER) Mystério revela publicamente que Peter Parker é o Homem-Aranha. Peter vê sua vida virar de cabeça para baixo após a revelação, principalmente porque ele e seus amigos estão no último ano do colégio, e nenhuma universidade decide aceitá-los por ele ser o super-herói. Desesperado, ele procura o Doutor Estranho para que ele faça um feitiço e todos esqueçam que ele é o Homem-Aranha, mas atrapalha o feiticeiro em um momento crítico, e o feitiço acaba fazendo algo bem diferente, trazendo para o universo onde o MCU é ambientado pessoas de outros universos, que Peter, então, deve encontrar e enviar de volta, antes que todo o tecido do espaço-tempo se rompa e destrua o Multiverso.

O elenco conta com Tom Holland como Peter Parker / Homem-Aranha; Zendaya como MJ; Benedict Cumberbatch como Stephen Strange / Doutor Estranho; Jacob Batalon como Ned Leeds; Jon Favreau como Happy Hogan; Jamie Foxx como Max Dillon / Electro; Willem Dafoe como Norman Osborn / Duende Verde; Alfred Molina como Otto Octavius / Doutor Octopus; Rhys Ifans como Curtis Connors / Lagarto; Thomas Haden Church como Flint Marko / Homem-Areia; Benedict Wong como Wong; Tony Revolori como Flash Thompson; J.K. Simmons como J. Jonah Jameson; Marisa Tomei como May Parker; Andrew Garfield como Peter Parker / Homem-Aranha; e Tobey Maguire como Peter Parker / Homem-Aranha. Também aparecem no filme Angourie Rice como Betty Brant; Hannibal Buress como o Treinador Wilson; Martin Starr como Roger Harrington; J.B. Smoove como Julius Dell; Paula Newsome como a responsável pelo setor de admissão do MIT; Mary Rivera como a avó de Ned; e Gary Weeks e Arian Moayed como os agentes do Departamento de Controle de Danos Foster e Cleary. Charlie Cox gravaria uma participação especial de uma única cena como o advogado Matt Murdock, e Tom Hardy estaria na cena intercréditos como Eddie Brock / Venom. Harry Holland, irmão de Tom, gravou uma participação especial como um ladrão, mas sua cena acabou sendo removida da versão final do filme, assim como uma cena que trazia Lexi Rabe como Morgan Stark.

As filmagens começariam em outubro de 2020 em Nova Iorque, mas apenas para cenários, sem a presença do elenco; as filmagens com elenco começariam duas semanas depois, mas em Atlanta, dois dias após Holland encerrar as filmagens de Uncharted. Cumberbatch começaria a filmar em novembro, e combinaria as filmagens com as de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Por causa das restrições impostas pela pandemia, a Sony montaria uma verdadeira operação de guerra, com atores e equipe tendo o mínimo contato físico possível, e luzes por todo o set indicando quando os atores deveriam pôr suas máscaras; muitos dos efeitos que poderiam ser obtidos com maquiagem acabariam sendo feitos com efeitos especiais na pós-produção, também para diminuir o contato entre atores e equipe de produção. Rhys Ifans preferiu não viajar para filmar nos Estados Unidos, fornecendo apenas sua voz para dublar o Lagarto; a única cena em que o Dr. Connors não está transformado foi reaproveitada de O Espetacular Homem-Aranha. A pandemia trouxe, porém, uma vantagem: as equipes de reportagem não tiveram amplo acesso às filmagens, o que fez com que a Sony conseguisse esconder a presença de Maguire e Garfield no filme - em um dia no qual jornalistas estavam presentes, eles chegaram ao set cobertos por lençóis.

Em uma das entrevistas, Holland diria que a posição da produção era "todos ou nenhum", ou seja, se algum dos atores originais não aceitasse repetir seu personagem, o filme não seria produzido - na verdade a gente sabe que não é bem assim, e que provavelmente só cortariam aquele personagem. Felizmente, não somente todos acabaram aceitando como também se mostraram empolgados em poder repetir seus papéis, especialmente Dafoe e Molina - que, em uma entrevista, declarou ter ficado extremamente surpreso ao ser procurado, já que estava quase vinte anos mais velho do que quando interpretou o Dr. Octopus pela primeira vez. Houve rumores de que Jamie Foxx só havia aceitado voltar a interpretar Electro se o vilão tivesse um visual diferente dos filmes anteriores, mas a mudança de visual foi opção da Marvel. Maguire e Garfield só começariam a filmar suas cenas em 2021, já que só apareceriam na parte final do filme; mesmo com todos os esforços da Sony, a presença dos dois no filme seria vazada e começaria a ser noticiada por várias publicações - o que levaria Holland a dar uma entrevista negando que os dois estavam no filme.

O filme seria a produção para o cinema do MCU com o maior número de efeitos especiais, e nada menos que 13 empresas trabalhariam neles: Cinesite, Clear Angle Studios, Crafty Apes, Digital Domain, Folks VFX, Framestore, Luma Pictures, Monsters Aliens Robots Zombies, Mr. X, Perception, Secret Lab, Sony Pictures Imageworks e SSVFX. Por opção de Watts, o filme não teria cena pós-créditos, e os Marvel Studios aproveitariam para, em seu lugar, exibir o trailer de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, até então inédito. A cena intercréditos seria encomendada pela Sony para tentar integrar o MCU ao SSU, e mostrava Eddie Brock no MCU, conversando com um barman; ela seria o complemento de outra cena, que mostrava Brock chegando ao MCU, também dirigida por Watts e filmada junto com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, mas que seria a cena pós-créditos de Venom: Tempo de Carnificina, que estreou dois meses antes. Segundo a produtora Amy Pascal, da Sony, houve negociações para que Venom participasse da batalha final de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, mas Watts seria contra.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa teria uma pré-estreia em Los Angeles em 13 de dezembro de 2021, estrearia no Reino Unido e Irlanda dia 15, e teria estreia nacional nos Estados Unidos dia 17, em 4.325 salas, um recorde para o período da pandemia. O filme receberia autorização do governo chinês para estrear lá, o que faria com que ele fosse o primeiro desde Viúva Negra a fazê-lo, mas até hoje não estreou - com a Sony alegando que um dos motivos seria que a China exige que todas as cenas mostrando a Estátua da Liberdade sejam removidas, o que é impossível. Em 31 de agosto de 2022, estrearia em cinemas selecionados uma versão estendida chamada The More Fun Stuff Version, para comemorar os 60 anos do Homem-Aranha nos quadrinhos e 20 anos do personagem no cinema; essa versão teria 13 minutos a mais, que incluíam a cena com Harry Holland, uma segunda cena com Matt Murdock e uma cena pós-créditos mostrando um mundo sem Peter Parker.

A Sony optaria por não divulgar o orçamento do filme, que seria calculado na casa de 200 milhões de dólares; sem contar com a versão estendida, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa renderia 814,1 milhões somente nos Estados Unidos e 1,922 bilhão ao somar o mundo inteiro - mesmo sem a China - o suficiente para fazer dele o filme mais rentável de 2021, o sétimo mais rentável da história, o terceiro mais rentável nos Estados Unidos e Canadá, o mais rentável do Homem-Aranha e o mais rentável da história da Sony. Ele também seria o terceiro filme a alcançar a casa de 1 bilhão mais rápido, o segundo de maior bilheteria no dia da estreia (atrás apenas de Vingadores: Ultimato) e o de maior bilheteria no fim de semana de estreia para um filme lançado em dezembro, e a More Fun Stuff Version seria o recordista de bilheteria no fim de semana de estreia para um relançamento. Após divulgar os números finais, a Sony usaria o filme como argumento contra os que achavam que o cinema deixaria de existir depois da pandemia, sendo definitivamente substituído pelo streaming.

A crítica também seria extremamente positiva, elogiando principalmente o roteiro, com pitadas de humor e cenas emotivas, e a capacidade de unir personagens de filmes diferentes sem ficar parecendo uma colcha de retalhos em nome do fanservice. A performance de Dafoe seria exaltada, e as de Molina e Foxx bastante elogiadas - o que teve um sabor especial para Foxx, extremamente criticado quando fez O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro. A química entre Holland, Zendaya e Batallon também seria destaque. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa seria indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Especiais junto com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, mas ambos perderiam para Duna.

Série Universo Cinematográfico Marvel

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