sábado, 9 de março de 2024

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Shang-Chi

Semana passada, em mais um post da série sobre o Universo Cinematográfico Marvel, eu falei sobre o filme do Shang-Chi. Confesso que só conheci Shang-Chi através do card game OverPower, e nunca tinha lido uma história dele até a Editora Salvat lançar uma coleção de encadernados, cada um centrado em um herói Marvel, que vendia no jornaleiro e cujo volume dedicado a Shang-Chi foi um dos últimos, então não tenho como dizer se gosto ou não das aventuras do personagem, mas, escrevendo sobre o filme, eu concluí que ele seria um bom assunto para um post porque tem aquilo que eu acho essencial para me motivar a escrever um: uma boa história. Essa história já foi resumida em um parágrafo semana passada, mas agora ela será vista em mais detalhes. Hoje é dia de Shang-Chi no átomo!

Assim como o Punho de Ferro, Shang-Chi foi um personagem criado sob medida para pegar carona na "febre do kung fu", que assolou os Estados Unidos na década de 1970, durante a qual tudo o que tinha a ver com artes marciais em geral se tornava extremamente popular. A história de Shang-Chi começaria em 1973, não na Marvel, mas na DC, que na época já era controlada pela Warner, que produzia um dos maiores catalisadores dessa febre, o seriado Kung Fu, estrelado por David Carradine, que havia estreado no ano anterior. Na época, era comum que filmes e seriados de sucesso ganhassem versões em quadrinhos, de forma que o roteirista Steve Englehart e o desenhista Jim Starlin, que trabalhavam na DC, sugeriram uma versão em quadrinhos de Kung Fu - que, por já ser da Warner, não precisaria sequer ser licenciada. O editor da DC na época, Carmine Infantino, entretanto, achava que a febre do kung fu seria passageira, que logo ninguém mais iria querer saber de artes marciais, e que adaptar a série seria gastar dinheiro à toa, vetando o projeto.

Englehart e Starlin não sabiam, porém, que, no final de 1972, a Marvel, que publicava muito mais adaptações que a DC, já havia procurado o canal de TV ABC, que exibia Kung Fu, se dizendo interessada em publicar uma adaptação da série - que, no caso, foi vetada não pela ABC achar que o kung fu não tinha futuro, e sim porque quem produzia a série era a Warner, que não aceitou negociar a adaptação com a concorrente da DC. Não querendo perder o bonde do kung fu, a Marvel pesquisaria outros personagens relacionados ao tema, e acabaria negociando com o espólio do escritor Sax Rohmer os direitos para uma série em quadrinhos estrelada pelo personagem Fu Manchu.

Nascido Arthur Henry Ward em 15 de fevereiro de 1883 em Birmingham, Inglaterra, filho de irlandeses que trabalhavam no comércio, Sax Rohmer decidiria adotar esse pseudônimo ao começar a escrever profissionalmente, aos 20 anos, após tentar ser, sem sucesso, poeta, comediante e compositor de músicas para o teatro. Seus primeiros textos profissionais foram histórias de mistério publicadas em revistas, começando por The Mysterious Mummy, publicada em 1903 na Pearson's Weekly. Em 1911, ele escreveria a história The Zayat Kiss, publicada em outubro de 1912 na revista The Story-Teller, que seria a estreia de seu personagem mais famoso, Fu Manchu - que não era um herói, e sim o vilão da história. The Zayat Kiss seria tão bem-sucedida que Rohmer decidiria escrever oito outras histórias nas quais o antagonista era Fu Manchu, que, em 1913, seriam reunidas e editadas para formar o livro The Mystery of Dr. Fu-Manchu, no qual o detetive Sir Denis Nayland Smith, da Scotland Yard, nascido na Birmânia, e o cientista Dr. James Petrie descobrem que um grupo de britânicos com ligações com a Índia está marcado para morrer pela organização comandada por Fu Manchu, e tenta impedir seus assassinatos.

Nascido na China mas residente na Inglaterra, Fu Manchu tem por volta de 70 anos e é extremamente inteligente, possuindo três doutorados: um em filosofia pela Universidade de Edimburgo, um em direito pela Sorbonne, e um em medicina por Harvard. Infelizmente, ele decidiria usar esses talentos para o mal, criando um império criminoso que destrói todos aqueles que tentam enfrentá-lo e desafiando a Scotland Yard com seus intrincados crimes que nunca usavam armas de fogo ou explosivos, preferindo métodos como venenos, animais perigosos ou bactérias mortais. A descrição da aparência de Fu Manchu incluía robes coloridos, um pequeno chapéu preto, longos cabelos presos em um coque e um longo bigode logo apelidado de "bigode Fu Manchu", e durante muito tempo seria usada como o estereótipo para qualquer personagem chinês da ficção; o vilão também seria o molde para praticamente todos os gênios do crime e cientistas loucos das décadas seguintes, incluindo Ernst Stavro Blofeld, arqui-inimigo de James Bond, já que Fu Manchu era o líder da organização criminosa internacional Si-Fan, na qual a SPECTRE seria baseada.

The Mystery of Dr. Fu-Manchu seria um gigantesco sucesso, que levaria Rohmer a escrever uma trilogia, composta também por The Devil Doctor, de 1916 (The Return of Dr. Fu-Manchu nos Estados Unidos), e The Si-Fan Mysteries, de 1917 (The Hand of Fu-Manchu nos Estados Unidos, onde o primeiro livro se chamava The Insidious Dr. Fu-Manchu). Depois disso, Rohmer decidiria investir em histórias de outros personagens, como os detetives Paul Harley, Gaston Max, Red Kerry e Morris Klaw - esse último ligado ao ocultismo - abandonando Fu Manchu por um tempo. Na década de 1920, entretanto, Fu Manchu experimentaria um surto de popularidade quando The Mystery of Dr. Fu Manchu seria adaptado para um seriado de 15 episódios de 20 minutos cada, estrelado por Harry Agar Lyons, exibido nos cinemas em 1923, cujo sucesso levaria a outro seriado, de mais oito episódios, chamado The Further Mysteries of Dr. Fu Manchu, exibido nos cinemas em 1924, e ao primeiro filme de Hollywood com o personagem, The Mysterious Dr. Fu Manchu, de 1929, produzido pela Paramount e estrelado por Warner Oland, que era escocês, mas mais tarde ficaria famoso por interpretar outro personagem chinês, Charlie Chan.

Diante do sucesso nos cinemas, Rohmer decidiria escrever Daughter of Fu Manchu (a partir do qual, assim como havia sido feito no cinema, o nome do personagem passaria a ser escrito oficialmente sem hífen), publicado em 1931, no qual introduziria Fah Lo Suee, filha de Fu Manchu com uma espiã russa e líder de sua própria célula da Si-Fan. Retomando a série, Rohmer escreveria The Mask of Fu Manchu (1932), The Bride of Fu Manchu (1933), The Trail of Fu Manchu (1934), President Fu Manchu (1936), The Drums of Fu Manchu (1939), The Island of Fu Manchu (1941), Shadow of Fu Manchu (1948), Re-Enter Dr. Fu Manchu (1957) e Emperor Fu Manchu (1959), último publicado antes de sua morte, em 1 de junho de 1959; em 1973, seria publicado The Wrath of Fu Manchu, uma coletânea de três contos e uma novela originalmente publicados em revistas, fechando a série em 14 livros.

A publicação de The Wrath of Fu Manchu ocorreria devido a um segundo surto de popularidade do personagem, mais uma vez causado pelo cinema, graças à estreia de uma série de filmes produzidos por Harry Alan Towers, nos quais Christopher Lee interpretava Fu Manchu. Ao todo, seriam produzidos cinco filmes de grande sucesso entre 1965 e 1969, o primeiro muito aguardado por ser a primeira aparição do personagem nos cinemas desde o controverso A Máscara de Fu Manchu, de 1932, no qual o vilão foi interpretado por Boris Karloff, que acabaria sendo considerado racista e ofensivo pelo governo chinês. Exceto por O Diabólico Dr. Fu Manchu, filme de comédia de 1980 no qual Peter Sellers interpreta tanto Fu Manchu quanto Sir Denis Nayland Smith, os cinco filmes de Towers seriam a última aparição de Fu Manchu no cinema, e principais responsáveis pela Marvel decidir licenciar o personagem.

Pois bem, a Marvel havia comprado os direitos de adaptação de Fu Manchu, mas não tinha muito o que fazer com ele, já que ele era um supervilão que não combinava com seus super-heróis, e, ainda por cima, não lutava kung fu, que era o que a Marvel estava querendo. Após verem sua ideia recusada pela DC, contudo, Englehart e Starlin decidiriam conversar com Roy Thomas, seu amigo de quando trabalhavam na Marvel, e que, então, ocupava o cargo de editor, sobre a possibilidade de criarem um personagem que lutava kung fu, mesmo que não fosse baseado no de Carradine, para estrelar uma revista da Marvel. Thomas veria aí uma oportunidade, e perguntaria se Englehart e Starlin não gostariam de assumir a revista que adaptaria Fu Manchu, criando um herói que não desvendasse seus crimes através de investigação, e sim o confrontasse diretamente, lutando kung fu. Os dois aceitariam, e criariam o personagem Shang-Chi.

Originalmente, Shang-Chi era filho de Fu Manchu (e meio-irmão de Fah Lo Suee), nascido no interior da China e treinado desde a mais tenra infância para se tornar o maior artista marcial do mundo; seu pai raramente acompanhava esses treinamentos pessoalmente, porém, deixando o menino com vários tutores. O intuito de Fu Manchu era fazer do filho seu braço-direito e principal assassino, mas, após um encontro com o arqui-inimigo do pai, Sir Denis Nayland Smith, durante sua primeira missão (que era nada menos que matar o Dr. Petrie), Shang-Chi, que até então acreditava ser filho de um humanitário, descobre a verdade sobre a Si-Fan, decidindo fugir e passar a combater as atividades criminosas do pai, jurando acabar com seu império ao invés de assumi-lo.

Shang-Chi faria sua estreia na revista Special Marvel Edition número 15, de dezembro de 1973, que trazia o subtítulo The Hands of Shang-Chi, Master of Kung Fu. Uma das muitas revistas Marvel sem periodicidade definida (com uma nova edição indo às bancas basicamente toda vez que a Marvel tinha vontade) que traziam histórias de personagens sem títulos próprios na época, a Special Marvel Edition seria lançada em janeiro de 1971 com histórias do Thor, passando, na edição 5, de julho de 1972, a trazer histórias do Sargento Fury (as aventuras de Nick Fury durante a Segunda Guerra Mundial), que seria a estrela da revista até Shang-Chi assumir; as vendas das edições 15 e 16 seriam tão boas, porém, que, a partir da 17, de abril de 1974, mantendo a numeração, a Marvel mudaria o nome da revista para Master of Kung Fu, tornando-a bimestral - e as vendas continuariam tão boas que, a partir da 19, de agosto de 1974, a revista passaria a ser mensal. Um sucesso de público e crítica, Master of Kung Fu teria ao todo 109 edições, com a última sendo a 125, de junho de 1983, mais quatro edições especiais, chamadas Giant-Size Master of Kung Fu, lançadas entre setembro de 1974 e junho de 1975, e uma Master of Kung Fu Annual, de abril de 1976, na qual Shang-Chi fazia dupla com o Punho de Ferro.

Englehart e Starlin, porém, não acompanhariam sua criação; o desenhista seria substituído já na edição 17 por Paul Gulacy, que decidiria modelar a aparência de Shang-Chi na do então recém-falecido ator Bruce Lee, enquanto o roteirista seria substituído na edição 20 por Doug Moench, que, picaretamente, criaria o personagem Lu Sun, cuja aparência era modelada na de Carradine, e cuja história tinha mais do que uma coincidental semelhança com a do protagonista de Kung Fu, Kwai Chang Caine; percebendo o que Moench pretendia, e com medo de tomar um processo, Thomas pediria que Gulacy desenhasse um bigode em Lu Sun, e que Moench evitasse usar o personagem a menos que fosse "absolutamente necessário".

Além de continuar usando Fu Manchu, Nayland Smith, Fah Lo Suee e o Dr. Petrie, Moench também criaria outros personagens importantíssimos para as histórias de Shang-Chi, como seu irmão adotivo M'Nai, codinome Meia-Noite, enviado por Fu Manchu para matá-lo; os agentes do MI-6 Black Jack Tarr, que originalmente tem a missão de prender Shang-Chi, mas, após vários encontros, se convence de que ele está do lado do bem e o convida para se unir à organização, e Clive Reston, baseado no personagem Roper, de Operação Dragão; e o interesse amoroso de Shang-Chi, a também agente do MI-6 Leiko Wu, filha de um chinês com uma britânica. Mais adiante na série, Shang-Chi, Nayland Smith, Tarr, Reston, Wu e o Dr. Petrie decidiriam fundar uma agência de detetives chamada Freelance Restorations, sediada na Escócia.

Embora fizesse participações eventuais em revistas como Marvel Team-Up e Marvel Two-in-One, a maior parte das histórias de Shang-Chi era separada do restante da continuidade do Universo Marvel, e trazia a Freelance Restorations em missões para tentar acabar com o império de crimes de Fu Manchu, normalmente entrando em ação após saber de algum plano do vilão; Fah Lo Suee, que era chefe de sua própria facção da Si-Fan, também planejava destronar o pai, mas para assumir seu lugar, sendo uma espécie de rival amistosa de Shang-Chi, ajudando-o em suas missões somente até o ponto que não atrapalharia seus próprios objetivos. Moench conseguiria a proeza de se manter roteirista até a edição 122, quando as vendas já estavam baixas e a febre do kung fu parecia ter passado; para encerrar a história, a Marvel chamaria Alan Zelenetz, que faria com que Shang-Chi matasse Fu Manchu, mas, consumido pelo remorso, se aposentasse de sua carreira de herói e fosse ser pescador no interior da China.

Enquanto Shang-Chi estava na crista da onda, ele ganharia uma segunda revista, The Deadly Hands of Kung Fu. Assim como a famosa The Savage Sword of Conan, The Deadly Hands of Kung Fu era uma revista "para adultos", em formato maior, em preto e branco, e trazendo, além das histórias em quadrinhos, matérias sobre artes marciais, resenhas de filmes e até mesmo uma seção de classificados, através da qual artistas marciais amadores podiam entrar em contato uns com os outros. Além das histórias de Shang-Chi todos os meses, The Deadly Hands of Kung Fu trazia, em edições alternadas, histórias do Punho de Ferro, do novo personagem Tigre Branco (criado para ela e mais tarde incorporado ao Universo Marvel), das Filhas do Dragão (Colleen Wing, das histórias do Punho de Ferro, e Misty Knight, das histórias de Luke Cage, agindo em dupla em histórias recheadas de sensualidade e artes marciais) e dos Filhos do Tigre (um grupo de artistas marciais que depois nunca mais deu as caras). Algumas histórias também foram criadas especialmente para uma única edição, a mais famosa sendo Sword Quest, que acompanhava um samurai no Japão Feudal, escrita e ilustrada por Sanho Kim, primeiro autor de mangá a ser publicado de forma regular nos Estados Unidos. Curiosamente, algumas dessas "histórias únicas" eram protagonizadas por Bruce Lee, com a da edição 26 trazendo uma biografia do ator em quadrinhos. Ao todo, The Deadly Hands of Kung Fu teve 33 edições publicadas entre abril de 1974 e fevereiro de 1977, mais uma edição anual, de junho de 1974.

Cinco anos após a aposentadoria de Shang-Chi, Moench procuraria a Marvel e se ofereceria para trazer de volta o personagem, em um contexto dissociado de Fu Manchu, de quem a Marvel já não tinha mais os direitos, e mais integrado ao Universo Marvel. Ao invés de lançar o personagem em uma nova revista, a Marvel dividiria a história de Moench, ilustrada por Dave Cockrum, em oito partes, e a colocaria nas oito primeiras edições, lançadas de setembro a dezembro de 1988, da Marvel Comics Presents, revista semanal que trazia entre seis e oito histórias curtas por edição, com a principal sendo do Wolverine. A história seria bem recebida, e a Marvel começaria a trabalhar em uma nova série de Shang-Chi, com roteiros de Moench e arte dos irmãos Dan e David Day; sucessivos atrasos na produção, porém, fariam com que a Marvel acabasse transformando essa nova série em uma edição especial de 80 páginas, lançada com o nome de The Return of Shang-Chi, Master of Kung Fu (apelidada Master of Kung Fu: Bleeding Black, o nome da história que ela trazia), em fevereiro de 1991. No ano seguinte, em outubro de 1992, seria a vez de Shang-Chi fazer dupla com o Cavaleiro da Lua em outra edição especial escrita por Moench, Moon Knight Special, com arte de Marie Severin.

Em 1995, com o sucesso dos filmes do diretor John Woo, o então editor da Marvel, Tom DeFalco, conversaria com Moench sobre a possibilidade de ele criar uma série na qual Shang-Chi resolvia seus problemas com tiros ao invés de com artes marciais. Moench não se sentiu atraído pela premissa, e DeFalco chamou o roteirista Dwayne McDuffie, que começou a trabalhar no roteiro da primeira edição. DeFalco deixaria a Marvel no final daquele ano, mas o projeto seguiria em andamento, capitaneado por Mark Gruenwald, que faleceria em 1996. Após o falecimento de Gruenwald, McDuffie seria comunicado de que o projeto seria engavetado.

A tentativa seguinte de trazer Shang-Chi de volta para o Universo Marvel viria com uma história em três partes nas edições 514, 515 e 516 da revista Journey Into Mystery, publicadas entre novembro de 1997 e janeiro de 1998, com roteiro de Ben Raab e arte de Brian Hagan, que trazia um Shang-Chi praticamente clone de Bruce Lee lutando contra criminosos nas ruas de Hong Kong. O intuito era que essa história desse origem a uma nova série do personagem, mas, como foi um fracasso, a série também seria cancelada. Não querendo desistir do personagem tão facilmente dessa vez, a Marvel decidiria colocá-lo como um dos personagens regulares da revista Marvel Knights, dedicada aos "heróis urbanos" da editora, como Demolidor, Punho de Ferro e Luke Cage, que teria 15 edições publicadas entre julho de 2000 e setembro de 2001.

No ano seguinte, se aproveitando de seu novo selo MAX, a Marvel apostaria em uma nova história aos moldes das apresentadas na The Deadly Hands of Kung Fu, cheia de violência e sensualidade, na qual Shang-Chi é chamado por Reston para ajudá-lo a encontrar um traficante conhecido apenas como Saint German, que teria sequestrado Wu. Com roteiro de Moench e arte de Gullacy, seria lançada uma minissérie novamente chamada Master of Kung Fu, com seis edições, entre novembro de 2002 e abril de 2003, que finalmente seria um sucesso, embora nem perto do obtido pela série original. Mais uma vez, o intuito era que uma nova série mensal de Shang-Chi a seguisse, mas problemas operacionais fizeram com que ela fosse sendo adiada indefinidamente; o retorno de Shang-Chi ocorreria apenas em outubro de 2006, durante os eventos da saga Guerra Civil, como parte da equipe Heróis de Aluguel, na segunda versão da revista Heroes for Hire, que teve 15 edições publicadas entre outubro de 2006 e dezembro de 2007. Em 2009, seria lançada uma edição especial chamada Shang-Chi: Master of Kung Fu, com quatro histórias protagonizadas pelo personagem em preto e branco e com a participação especial de Deadpool.

A reinserção definitiva de Shang-Chi no Universo Marvel começaria no ano seguinte, 2010, não com uma revista própria, mas quando Ed Brubaker colocou o personagem como um dos membros dos Vingadores Secretos, na revista Secret Avengers número 6, de dezembro daquele ano. Seria Brubaker o responsável pelo retcon que dissociaria Shang-Chi definitivamente de Fu Manchu, revelando que seu pai era na verdade o feiticeiro chinês Zheng Zu, que tinha mais de mil anos de idade e conhecia o segredo da imortalidade, líder da organização criminosa internacional Sociedade das Cinco Armas. Inicialmente, Zheng Zu, no início do século XX, tinha adotado a alcunha de Fu Manchu e usado o nome Si-Fan para manter suas verdadeiras operações em segredo, mas, em 2013, em um novo retcon que visava eliminar qualquer referência aos personagens de Rohmer, ficaria estabelecido que, no Universo Marvel, eram Zheng Zu e a Sociedade das Cinco Armas desde o início. Também em 2013, na revista The Fearless Defenders 8, de outubro, o roteirista Cullen Bunn traria de volta a meio-irmã de Shang-Chi, que, assim como Fah Lo Suee, era filha de seu pai com uma espiã russa, liderava uma célula da organização criminosa e queria derrotá-lo para assumir seu lugar, mas agora se chamava Zheng Bao Yu. Smith e Petrie não apareceriam mais após o retcon de 2010.

Também em 2013, Shang-Chi seria incorporado à equipe principal dos Vingadores, se tornando um dos astros da nova edição da revista Avengers lançada naquele ano. Em 2014, ele ganharia uma nova minissérie, em quatro edições lançadas entre julho e outubro, novamente com o nome de Deadly Hands of Kung Fu, com roteiro de Mike Benson e arte de Tan Eng Huat, que mais uma vez o fez parecido com Bruce Lee, na qual ele tem de desvendar o suposto assassinato de Wu. Em 2015, seria lançada uma nova minissérie chamada Master of Kung Fu, parte da saga Guerras Secretas, mais uma vez com quatro edições publicadas entre julho e outubro, com roteiro de W. Haden Blackman e arte de Dalbor Talajic, na qual Shang-Chi decide tentar derrubar o Imperador de K'un-Lun.

Em 2017, a revista Master of Kung Fu original ganharia uma edição 126, escrita pelo lutador de MMA CM Punk e ilustrada por Talajic. A intenção seria lançar, no ano seguinte, uma nova revista continuando a numeração, mas sucessivos atrasos, incluindo o causado pela Pandemia, fariam com que a nova revista fosse lançada apenas em novembro de 2020, com numeração recomeçando do 1 e, pela primeira vez, com o título Shang-Chi. Com roteiro do descendente de chineses Gene Luen Yang e arte de Dike Ruan e Philip Tan, a nova série acabaria sendo uma minissérie em cinco edições, a última lançada em março de 2021, e trazia Shang-Chi aceitando ocupar o lugar de seu falecido pai na Sociedade das Cinco Armas e tendo de lidar com vários fantasmas de seu passado. Ela seria seguida por um especial, chamado The Legend of Shang-Chi, com roteiro de Alyssa Wong e arte de Andie Tong, lançado em abril de 2021.

A minissérie seria um sucesso, e Yang e Ruan seriam mantidos para uma nova série regular chamada Shang-Chi, que continuava sua história, lançada em julho de 2021. Por decisões editoriais, essa nova série teria apenas 12 edições, a última de julho de 2022, sendo substituída em setembro de 2022 por Shang-Chi and the Ten Rings, ainda com roteiro de Yang, mas com arte de Marcus To. Mais uma vez continuando a história de onde ela havia parado, Shang-Chi and the Ten Rings acabaria tendo apenas seis edições, a última de fevereiro de 2023. Para que a história não ficasse sem conclusão, no mês seguinte seria lançada uma edição especial com roteiro de Yang e arte de Michael Yg, chamada Shang-Chi: Master of the Ten Rings. Atualmente, Shang-Chi faz parte da equipe dos Thunderbolts, com sua presença sendo justificada pelos roteiristas Collin Kelly e Jackson Lanzing pelo "passado de espionagem" do personagem em sua revista original.

Tradicionalmente, Shang-Chi nunca teve superpoderes; toda sua habilidade vem de seu intenso treinamento, que o transformou no maior artista marcial do mundo - a coisa mais próxima que ele tem de um superpoder é que, graças a seu domínio completo sobre o chi, ele consegue realizar breves proezas sobre-humanas, que incluem sentir o chi de outros seres vivos para identificar oponentes invisíveis ou mascarados psionicamente. Quanto mais Shang-Chi era integrado ao Universo Marvel, entretanto, mais ele precisaria de verdadeiros superpoderes, já que nem sempre era possível vencer um supervilão no braço; os dois métodos preferidos dos roteiristas eram dar a ele algum superpoder temporário, com a devida explicação - como durante a saga Ilha das Aranhas, na qual, assim como toda a população de Nova Iorque, ele ganhou os poderes do Homem-Aranha - ou fazer com que ele usasse armas místicas ou de tecnologia extremamente avançada, como um par de manoplas e nunchakus criados por Tony Stark, que canalizavam seu chi e ampliavam sua força, que ele usou enquanto fez parte da equipe dos Vingadores.

Recentemente, porém, de forma compreensível, o Shang-Chi dos quadrinhos vem ficando cada vez mais parecido com o do filme, tendo descoberto, por exemplo, que sua mãe, Jiang Li, é nativa do reino místico de Ta-Lo (criado por Mark Gruenwald, Ralph Macchio e Keith Pollard para uma história do Thor de 1980), o que lhe garante um elo psíquico com todos os seus parentes, vivos ou mortos, que permite que ele sempre saiba sua localização ou se eles estão em perigo. Em Shang-Chi and the Ten Rings, Shang-Chi também obteve o controle dos Dez Anéis, que lhe conferem força, velocidade, vigor e resistência sobre-humanos, além de permitirem que ele voe, e poderem ser controlados telepaticamente, podendo mudar de tamanho para serem usados como plataformas, projéteis, ou até mesmo para prender seus oponentes.

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