domingo, 8 de outubro de 2023

Escrito por em 8.10.23 com 0 comentários

Manto & Adaga

Depois de escrever a série de posts sobre as Séries Marvel da Netflix, eu fiquei com vontade de escrever sobre Manto e Adaga, que também têm uma série até legalzinha, que eu não acharia ruim se fizesse parte do cânone do MCU. Como Manto e Adaga entram na categoria Super-Heróis, para a qual eu não escrevo um post faz um tempo, achei que seria uma forma de unir o útil ao agradável, falando tanto da série quanto de sua carreira nos quadrinhos. Hoje, portanto, é dia de Manto e Adaga no átomo!

Manto e Adaga foram criados pelo roteirista Bill Mantlo, que, na época, estava na revista Peter Parker, The Spectacular Spider-Man. Segundo Mantlo, ele teve a ideia para os personagens enquanto visitava Ellis Island, ilha sob jurisdição do governo federal localizada no estado de Nova Iorque que, de 1892 a 1954, foi o ponto de entrada para todos os imigrantes que quisessem morar nos Estados Unidos, e, depois de desativada, se transformou em um museu. Mantlo estava visitando o museu à noite, e, de repente, teve uma inspiração para criar os dois personagens, que já surgiram prontos em sua mente, com seus uniformes, poderes, motivações, medos e até sua origem. Ele anotou tudo em um caderninho, e, ao chegar na Marvel, sentou-se com o desenhista Ed Hannigan, que trabalhava com ele em Peter Parker, The Spectacular Spider-Man, para criar o visual dos personagens. Segundo Hannigan, Mantlo já tinha todas as ideias, apenas descrevendo como ele queria que Hannigan os desenhasse; as únicas contribuições do desenhista seriam que ambos usariam um amuleto idêntico, que Adaga seria bailarina, e que o uniforme da moça teria um decote em formato de adaga, considerado ousado para a época.

Mantlo e Hannigan também criariam juntos os nomes dos personagens, que, em inglês, são Cloak and Dagger, termo usado na literatura inglesa para se referir a histórias que envolvam mistério, intriga ou espionagem, inspirado na prática renascentista de esconder uma adaga com a capa antes de cometer um assassinato. No Brasil, o equivalente mais próximo seria "capa e espada", usado para histórias que envolvem espadachins ousados nos tempos antigos, sem nada de mistério ou espionagem - e que, em inglês, são chamadas de swashbuckling. Como talvez um herói chamado Capa fosse uma coisa meio esquisita, preferiram traduzir os nomes literalmente, para Manto e Adaga - o que criou a curiosa situação de um roteirista chamado Mantlo ter criado um personagem chamado Manto.

Manto, na verdade, se chama Tyrone Johnson, apelido Ty, e originalmente era um rapaz negro, de 17 anos, nascido em Boston, cuja família, pobre, se mudou para Nova Iorque em busca de uma vida melhor. Gago, tímido e com problemas de socialização, Ty fugiu de casa após seu melhor amigo ser baleado por um crime que não cometeu, se sentindo culpado por não ter conseguido chamar a atenção da polícia para o verdadeiro culpado por causa de sua gagueira. Já Adaga se chama Tandy Bowen, nasceu em Shaker Heights, Ohio, é de família riquíssima, branca, loira, dança balé clássico, e decidiu fugir de casa para Nova Iorque aos 16 anos porque sua mãe, uma supermodelo, só quer saber de festas e glamour, ignorando-a totalmente. Os dois se conhecem quando Tandy tem sua bolsa roubada e Ty a recupera, se tornando grandes amigos e fazendo um pacto de que um vai sempre proteger o outro.

Após algum tempo vivendo nas ruas e passando perrengue, Ty e Tandy conhecem Simon Marshall, químico que está tentando desenvolver uma nova droga sintética a mando do vilão Cabelo de Prata, chefe da organização criminosa Maggia. Sem que os dois saibam, Marshall testa sua droga em adolescentes fugitivos, com todos eles morrendo no processo. Por alguma razão, Ty e Tandy não somente não morrem ao receber as injeções de Marshall, como também conseguem fugir antes de serem entregues à Maggia. Enquanto estão nas ruas se escondendo dos criminosos, os dois manifestam superpoderes, que conseguem usar para derrotar um grupo de capangas enviados por Marshall. Depois disso, eles decidem adotar os nomes Manto e Adaga, e usar seus poderes para combater criminosos que ganhem dinheiro com o tráfico de drogas e para ajudar jovens fugitivos.

Os poderes da dupla são, ao mesmo tempo, antagônicos e complementares. Manto tem o poder de acessar uma dimensão mística completamente formada por escuridão, podendo usá-la para se teletransportar - passando por dentro dessa dimensão para aparecer instantaneamente em outro local - ou para aprisionar oponentes, sendo imune aos efeitos da escuridão, que enlouquece aos poucos qualquer um que fique em contato com ela. Mais tarde, ele passa a poder usar os poderes dessa dimensão para descobrir os medos mais profundos das pessoas, compartilhando com elas visões e pesadelos. Embora não precise, ele usa uma enorme capa - desculpem, um enorme manto - que encontrou na rua para canalizar seus poderes, envolvendo a si mesmo ou a outros com o manto para colocá-los em contato com a escuridão. Com o tempo, Manto aprenderia a levar outras pessoas através da dimensão mística, principalmente Adaga, teletransportando-as junto com ele sem que elas sofressem seus efeitos. Originalmente, ele também tinha uma "fome" constante, que só era saciada quando ele absorvia novas vítimas para a escuridão ou quando absorvia a luz gerada por Adaga, mas, com o tempo, ele aprendeu a controlar esse lado negativo de seu poder.

O principal poder de Adaga é o de criar lâminas de luz sólida com suas mãos. Essas lâminas, que deram a ela seu nome, podem ser empunhadas ou arremessadas, são capazes de cortar ou perfurar qualquer material, e, ao atingir seres vivos, drenam sua energia vital. Canalizando seu poder, Adaga também consegue moldar sua luz em outros formatos, normalmente esferas e jatos de luz, que podem ser usadas para ofuscar ou para curar pessoas de aflições e vícios, inclusive de vícios em drogas. Mais tarde, ela aprenderia a usar sua luz para descobrir as esperanças e sonhos das pessoas em quem toca, inicialmente com o efeito colateral de roubar parte dessa esperança, deixando as pessoas cínicas e apáticas. Originalmente, Adaga também podia ficar "sobrecarregada", correndo o risco de explodir, se não liberasse seu poder regularmente - razão pela qual seu ato de "alimentar" Manto era uma espécie de simbiose - mas depois também aprendeu a se controlar. Adaga usa várias poses e movimentos do balé clássico quando está lutando, e, durante muito tempo, teve o uniforme mais sexy da Marvel, colado no corpo e com um decote até o umbigo - o que era até meio bizarro se a gente pensasse que ela tinha apenas 16 anos.

Manto e Adaga estreariam em Peter Parker, The Spectacular Spider-Man número 64, de março de 1982, se encontrando por acaso com o Homem-Aranha enquanto tentavam desmantelar a operação criminosa comandada por Marshall. Depois disso, eles enfrentariam diretamente o Cabelo de Prata, e ajudariam o Homem-Aranha a impedir que o Justiceiro matasse o Rei do Crime.

Após cerca de um ano sendo coadjuvantes na revista secundária do Homem-Aranha, os dois ganhariam uma minissérie chamada Cloak and Dagger, em quatro edições lançadas entre outubro de 1983 e janeiro de 1984, com roteiro de Mantlo e arte de Rick Leonardi, na qual eles eram caçados pela polícia após matar um traficante que viciava de propósito jovens fugitivos. A minissérie também apresentaria, finalmente, as origens da dupla, e introduziria dois importantes personagens coadjuvantes: o Padre Delgado, responsável por uma igreja que os dois usam como esconderijo e base de operações, e a policial Brigid O'Reilly, que mais tarde sofreria um acidente e desenvolveria uma segunda personalidade, se transformando na vilã Mayhem, principal inimiga da dupla.

A minissérie faria sucesso e a dupla ganharia sua própria revista, também chamada Cloak and Dagger, com numeração recomeçando do 1, lançada em julho de 1985. Infelizmente, essa série não faria tanto sucesso, e acabaria cancelada após apenas 11 edições bimestrais, a última de março de 1987. Mantlo ainda seria o roteirista, e Leonardi faria a arte até a sexta edição, sendo depois substituído por artistas convidados. Uma das principais críticas à revista seria a de que, apesar de seus grandes poderes, Manto e Adaga não enfrentavam supervilões, com todas as histórias focando na Guerra contra as Drogas e nos aspectos do vigilantismo. Enquanto a revista estava sendo publicada, Manto e Adaga se encontrariam com o Beyonder, como parte da saga Guerras Secretas II, e, em maio de 1988, eles seriam os astros de uma edição especial da Marvel Graphic Novel, com roteiro de Mantlo e arte de Terry Stroman, na qual combateriam um parasita saído da dimensão mística acessada por Manto, que se une a um assassino serial.

Após o fim de sua série regular, Manto e Adaga passariam a dividir com o Doutor Estranho uma nova Strange Tales, com numeração recomeçando do 1, que seria publicada mensalmente entre abril de 1987 e outubro de 1988, para um total de 19 edições. Inicialmente com roteiro e arte de Bret Blevins, mais mas tarde contando com interessantes roteiros de Terry Austin, essa nova revista mostraria a dupla contracenando mais com outros heróis Marvel, principalmente os Novos Mutantes e os Novos Guerreiros - duas equipes formadas por adolescentes - e com as crianças do Quarteto Futuro; eles também combateriam vilões de renome como o Doutor Destino, Mefisto e o Pesadelo. Também nessa revista, ocorreria a primeira aparição do Sr. Jip, criado por Austin e considerado o arqui-inimigo de Manto e Adaga, um feiticeiro ancestral que deseja roubar os poderes da dupla; segundo Austin, Jip seria uma tentativa de aumentar as vendas da série, já que, em sua opinião, os leitores já estavam cansados de verem os heróis enfrentando apenas bandidos comuns.

Ainda durante sua publicação na Strange Tales, Manto e Adaga descobririam que são mutantes, sendo essa a razão pela qual a droga sintética não os matou, ao invés disso fazendo com que seus poderes se manifestassem; esse fato é até hoje considerado controverso, com a maioria dos roteiristas da Marvel preferindo não misturar Manto e Adaga com outros personagens do universo dos X-Men - e seria retificado em 2010, quando Adaga seria submetida a "testes que comprovariam que ela não é mutante". Aproveitando esse tema, após o cancelamento da Strange Tales, os dois voltariam a ter uma revista própria, chamada The Mutant Misadventures of Cloak and Dagger, com roteiros de Austin e arte de Mike Vosburg - que, logo na primeira edição, para sacudir as coisas, decidiriam que Adaga perderia sua visão.

Austin também faria questão de que a dupla se envolvesse cada vez mais nos assuntos do Universo Marvel e combatesse cada vez mais supervilões, fazendo com que os poderes de Manto passassem temporariamente para a vilã Ecstasy, que tem de ser combatida por uma Adaga cega. Enquanto essa revista estava sendo publicada, a dupla se envolveria na saga Desafio Infinito, com Adaga sendo um dos personagens que desapareceriam quando Thanos estalasse os dedos, e Manto tentando aprisioná-lo em sua escuridão mas sendo rasgado em pedaços; ambos teriam suas vidas restauradas quando o vilão perdesse a posse das Joias do Infinito ao final da saga. As vendas de The Mutant Misadventures of Cloak and Dagger jamais seriam boas, mas começariam a despencar a partir da décima edição; na 13, Austin e Vosburg decidiriam sair, sendo substituídos a partir da 14 por Steve Gerber e Terry Kavanagh, que até tentariam dar um novo gás, mas não conseguiriam salvá-la do cancelamento, na edição 19.

Depois disso, Manto e Adaga passariam anos sendo coadjuvantes em outras revistas da Marvel, principalmente nas do Homem-Aranha, sendo personagens importantes durante a saga Carnificina Total. Ainda nos anos 1990, eles teriam algumas histórias solo publicadas na série de antologia Marvel Comics Presents. No início dos anos 2000, eles apareceriam nas revistas do selo Marvel Knights, com Adaga sendo parte da equipe montada pelo Demolidor, e Manto, enlouquecido pela fome, sendo um antagonista. Após Manto voltar a ter o controle de suas ações, eles apareceriam na revista Runaways, contracenando com os Fugitivos. Durante a saga Guerra Civil, eles seriam vistos como parte da equipe montada pelo Capitão América, sendo caçados por serem contra o registro dos super-heróis. Depois disso, eles partiriam para combater traficantes na Colômbia, até serem convidados por Norman Osborn para fazer parte de sua equipe de X-Men do Mal. Emma Frost os convenceria a entrar para os X-Men do Bem, e, após algumas aventuras com a equipe, eles decidiriam retornar para Nova Iorque e voltarem a ser uma dupla de combatentes do crime.

Uma nova revista Cloak and Dagger seria lançada somente em 2010. Inicialmente prevista para ser uma minissérie em cinco edições, lançada em 2008, ela acabaria condensada e sendo lançada como uma edição única - conhecida nos EUA como one-shot. Na época, já estava estabelecido que Ty e Tandy, além de serem uma dupla de combatentes do crime, eram um casal, e nessa edição especial a vida dos dois vira de cabeça para baixo quando ele comete um ato de infidelidade. Também foi nessa edição que ocorreu o retcon, com o Dr. Nemesis confirmando que nenhum dos dois é mutante, tendo seus poderes sido criados puramente pela droga sintética.

Durante a saga Ilha das Aranhas, o vilão Sr. Negativo inverteria os poderes da dupla, fazendo com que Manto tivesse acesso a uma dimensão de luz e Adaga criasse lâminas de escuridão; os dois participariam de todo o arco da saga, ganhando, também, uma minissérie, Cloak & Dagger: Spider-Island, com três edições publicadas nos três últimos meses de 2011. Eles só voltariam a ter seus poderes originais após a segunda saga Guerras Secretas, de 2015, quando decidiriam se estabelecer em Hong Kong, combatendo o crime por lá. A mais recente revista da dupla, de novo chamada Cloak and Dagger, seria lançada como uma minissérie em seis partes em 2018, inicialmente lançada exclusivamente em formato digital, mas depois condensada e lançada em três edições impressas, em setembro, outubro e novembro daquele ano. E as mais recentes aventuras da dupla os colocariam viajando pelo tempo como parte da equipe Vingadores Selvagens, combatendo o robô Ultron.

Mas, como eu disse lá na introdução, a razão que me levou a escrever esse post foi a série de TV, que abordaremos a partir de agora. O desenvolvimento da série começaria em 2011, quando o canal de TV ABC, de propriedade da Disney, recomendaria o roteirista Joe Pokaski para trabalhar na então recém-fundada Marvel Television, visando o desenvolvimento de novas séries para o canal. Na época, Jeph Loeb, o presidente da Marvel Television, estava estudando projetos de séries do Hulk, de Jessica Jones, da heroína Harpia e da dupla Manto e Adaga, oferecendo essa última a Pokaski, que adoraria a ideia por considerar que, em todas as séries de adolescentes superpoderosos, como Buffy: A Caça-Vampiros e Smallville, o herói nunca tinha ninguém com quem dividir os fardos de seus poderes, e, no caso de Manto e Adaga, um poderia contar com o outro para dividir suas preocupações.

Pokaski escreveria um roteiro que, segundo ele mesmo, ficaria numa gaveta qualquer da ABC durante cinco anos, com somente em 2016 a executiva Karey Burke, ligada não ao canal aberto da ABC, mas ao Freeeform, canal a cabo voltado para programação dedicada a jovens e adolescentes, descobrindo-o e decidindo dar luz verde ao projeto; naquele ano, o canal estava passando por uma grande reformulação - inclusive com mudança de nome, pois até então se chamava ABC Family - e a intenção de Burke era que Manto & Adaga fosse um de seus carros-chefe - segundo ela, a série era perfeita porque os quadrinhos dos personagens já se enquadravam no estilo próprio do Freeform, sendo os dois protagonistas adolescentes e melhores amigos. Pokaski seria contratado para ser o showrunner da série, produzida pela Marvel Television, ABC Signature Studios e Wandering Rocks Productions.

Pokaski, que decidiria trabalhar majoritariamente com roteiristas negros e mulheres, e classificaria a série como "uma história de amor entre super-heróis", mudaria várias coisas em relação aos quadrinhos, a começar pela origem dos heróis: ao invés de fugirem de casa durante a adolescência e serem inoculados com uma droga sintética, Ty e Tandy, quando crianças, estavam por acaso próximos a um acidente com uma plataforma de petróleo da multinacional Roxxon, que, nos quadrinhos Marvel, é tipo uma "empresa do mal", sempre envolvida em pesquisas e experimentos ilegais para aumentar seus lucros; um desses experimentos leva à explosão da plataforma, com Ty e Tandy sendo pegos na onda de choque, e vindo a manifestar seus poderes após se reencontrarem anos depois e entrarem em contato físico um com o outro. Outra diferença é que, na série, Ty é de uma família de classe média alta, estuda em um colégio particular e é um astro do basquete, mas carrega a mágoa de ter presenciado o assassinato do irmão, confundido com um bandido, sem que ninguém acredite em seu relato de que o assassino é um policial. Já Tandy é filha do engenheiro responsável pela plataforma, que morre devido ao acidente; sua mãe, então, se torna alcóolatra, a família perde tudo, e ela passa a se valer de sua beleza para seduzir rapazes e cometer pequenos roubos, morando em uma igreja abandonada. Os dois se conhecem quando Tandy tenta roubar Ty, e seus poderes farão com que eles passem a se encontrar várias vezes enquanto Ty investiga a morte do irmão e Tandy tenta limpar o nome do pai, a quem a Roxxon culpa pela explosão. Assim como nos quadrinhos, Tandy é bailarina clássica, mas teve de abandonar suas aulas após sua família perder tudo.

Outra mudança importante é que, enquanto os quadrinhos são ambientados em Nova Iorque, a série é ambientada em Nova Orleans - uma decisão de Loeb, que achou que Nova Iorque já tinha super-heróis demais. Pokaski adoraria a ideia, e aproveitaria para ligar os poderes da dupla às crenças e costumes locais, como o vodu - Ty e Tandy seriam uma espécie de "par espiritual", com um desses aparecendo sempre que a cidade está em grande perigo, sendo esse perigo, dessa vez, representado pela Roxxon. Ty e Tandy têm cerca de 16 anos cada quando a primeira temporada começa, mas jamais usam os nomes "Manto e Adaga" na série,  e não são um casal - na verdade, no início eles se odeiam, e têm de percorrer um longo caminho até ficarem amigos, quem dirá melhores amigos; além disso, cada um tem seu próprio par, o de Tandy sendo o trambiqueiro Liam, que a ajuda a aplicar seus golpes, e o de Ty sendo Evita, que é de sua turma no colégio, líder de torcida, guia turística para as atrações de Nova Orléans, e sobrinha de uma sacerdotisa vodu que ajuda Ty e Tandy a descobrirem mais sobre seus poderes e sua missão.

A pré-produção da série seria arrastada, principalmente por dificuldades na escolha do elenco. A maioria dos candidatos aos papéis de Ty e Tandy ou pareciam velhos demais para serem adolescentes (nos Estados Unidos, como no Brasil, é comum atores que interpretam adolescentes terem mais de 18 anos, para evitar questões legais), ou não tinham nenhuma química quando faziam o teste juntos. Somente em janeiro de 2017, faltando três dias para o marcado para começarem as filmagens, é que seriam escolhidos Olivia Holt, atriz que já havia participado de várias produções do Disney Channel, inclusive como dubladora, para o papel de Tandy, e Aubrey Joseph, que até então tinha feito apenas pequenas participações em filmes e episódios de séries, para o de Ty. Ambos tinham na época 19 anos (ela sendo uns dois meses mais velha que ele), e, por acaso, já que não se conheciam previamente, chegaram para o teste juntos, fazendo primeiro a cena "de casal" antes de suas cenas individuais, impressionando a equipe com sua química.

A primeira temporada da série, filmada integralmente em Nova Orleans, teria 10 episódios, exibidos entre 7 de junho e 2 de agosto de 2018. Enquanto acompanha Ty e Tandy descobrindo e aprendendo a controlar seus poderes, se tornando amigos e crescendo como pessoas, a temporada traz três histórias principais: Tandy parte em uma busca pelo verdadeiro motivo que levou à explosão da plataforma; Ty tenta encontrar o policial que assassinou seu irmão, para provar que não estava maluco e fazer justiça; e a dupla descobre acidentalmente que a Roxxon está envolvida na exploração ilegal de um bolsão um gás perigosíssimo, que teria sido o responsável por lhes dar seus poderes e pela destruição da plataforma, e pode destruir toda a cidade se o processo não for interrompido.

Além de Olivia Holt como Tandy Bowen e Aubrey Joseph como Tyrone Johnson, o elenco principal contaria com Miles Mussenden e Gloria Reuben como Otis e Adina Johnson, pais de Ty; Andrea Roth como Melissa Bowen, a mãe de Tandy; J.D. Evermore como James Connors, policial do departamento de narcóticos de Nova Orleans, responsável por matar o irmão de Ty, envolvido em várias falcatruas, mas por alguma razão protegido por seus superiores; Carl Lundstedt como Liam Walsh, parceiro de crimes de Tandy; Jaime Zevallos como Francis Delgado, padre que trabalha como conselheiro pedagógico na escola de Ty, tem um passado sombrio e está em busca de redenção; e Emma Lahana como Brigid O'Reilly, detetive de polícia transferida de Nova Iorque e uma das poucas pessoas que decidem acreditar que Ty e Tandy trombaram com algo de errado e ajudá-los.

Os personagens recorrentes incluem Peter Scarborough (Wayne Péré), chefe do setor de gerenciamento de risco da Roxxon; Evita Fusilier (Noëlle Renée Bercy), interesse amoroso de Ty; Nathan Bowen (Andy Dylan), o falecido pai de Tandy; Billy Johnson (Marqus Clae), o falecido irmão de Ty; Duane Porter (Dalon J. Holland), amigo de Billy que era de família pobre mas conseguiu subir na vida; Kenneth Fuchs (Lane Miller), colega e interesse amoroso de Brigid; Choo Choo Broussard (Gralen Banks), melhor amigo do pai de Ty, que faz parte de um grupo que confecciona fantasias e desfila no mardi gras, o carnaval de Nova Orleans, através de quem Ty consegue o manto que usa para ajudar a controlar seus poderes; Chantelle Fusilier (Angela Davis), tia de Evita e sacerdotisa vodu; Greg Pressfield (Gary Weeks), advogado namorado da mãe de Tandy, que estuda o caso da plataforma para saber se ela tem direito a uma indenização; e Mina Hess (Ally Maki), filha de Ivan Hess (Tim Kang), cientista amigo do pai de Tandy e único sobrevivente do acidente da plataforma, que pode ajudar a dupla a entender o que realmente aconteceu. Rachel Ryals e Maceo Smedley III interpretam, respectivamente, Tandy e Ty quando eram crianças.

Fã dos quadrinhos Marvel, Pokaski tentaria fazer a série o mais integrada ao restante do MCU possível, e chegaria a conversar com Loeb sobre a possibilidade de fazer referências aos eventos de Vingadores: Guerra Infinita na série, o que lhe foi negado. Segundo ele, há pelo menos uma dúzia de referências ao MCU na primeira temporada que foram aprovadas pela Marvel, e mais alguns easter eggs que ele incluiu sem pedir pra ninguém. Dentre as referências mais facilmente identificáveis estão o fato de que a dimensão sombria acessada por Ty é a mesma já mostrada em Agents of S.H.I.E.L.D. e na segunda temporada de Agente Carter; Scarborough citando nominalmente Tony Stark e Danny Rand como exemplos de grandes industriais; e uma cena na qual Brigid diz estar acostumada com super-heróis após ter sido policial no Harlem, e que vai pedir à sua "amiga Misty" para fazer uma visita a seus colegas policiais de Nova Orleans, em uma clara referência a Misty Knight, personagem de Simone Missick em Luke Cage. Pokaski tinha esperanças de que Misty poderia fazer uma participação especial na segunda temporada de Manto & Adaga, e até pediria para que Cheo Hodari Coker, showrunner de Luke Cage, fizesse uma referência cruzada nessa série, com alguns policiais, em um dos episódios da segunda temporada de Luke Cage, comentando sobre a transferência da Detetive O'Reilly para Nova Orleans.

Manto & Adaga seria uma das séries mais assistidas do Freeform, e seu episódio de estreia teria a segunda maior audiência da história do canal, atrás apenas do episódio final de Pretty Little Liars. Isso faria com que uma segunda temporada fosse encomendada, com mais 10 episódios, exibidos entre 4 de abril e 30 de maio de 2019. Na segunda temporada, os papéis de Ty e Tandy se invertem, com ela decidindo morar com a mãe, retomar suas aulas de balé e dar um jeito em sua vida, enquanto ele, se sentindo uma ameaça para os pais, decide ir morar na igreja abandonada e treinar o uso de seus poderes. A segunda temporada encerra a história de Connors e do assassinato de Billy (já que a primeira encerraria apenas a de Nathan Bowen e a explosão da plataforma), tenta encerrar a história do Padre Delgado, e traz Brigid se transformando em Mayhem - que não é uma vilã, mas é mais violenta e está disposta a cruzar qualquer linha para alcançar seus objetivos. O principal arco da segunda temporada, entretanto, é que, ao frequentar um grupo de ajuda para viciados junto com a mãe, Tandy acaba descobrindo acidentalmente um esquema que sequestra jovens que têm problemas com suas famílias, que desaparecem e nunca mais são vistas - e, no centro de tudo, está André Deschaine, músico que, no mesmo dia em que Ty e Tandy ganharam seus poderes, obteve a capacidade de se alimentar do desespero alheio.

Do elenco principal, retornam apenas Holt, Joseph, Reuben, Roth, Evermore e Lahana; nos episódios em que Mussenden e Zevallos aparecem, eles são creditados como "atores especialmente convidados", e Liam passaria a ser um personagem recorrente. Ryals e Smedley voltam a interpretar Tandy e Ty crianças, enquanto Deschaine é interpretado por Brooklyn McLinn. Os personagens recorrentes que retornam são Mina, Evita e Chantelle, com Nathan, Billy e Fuchs fazendo algumas participações especiais. Os novos personagens recorrentes incluem Lia Dewan (Dilshad Vadsaria), conselheira do grupo do qual Tandy participa com sua mãe; Mikayla Bell (Cecilia Leal), moça que faz parte do grupo e desaparece, o que leva Tandy a descobrir o esquema; Solomon (Joshua J. Williams), jovem membro de uma gangue criminosa que Ty tenta tirar do mundo do crime; e o Barão Samedi (Justin Samms), figura famosa do vodu que Ty e Tandy encontram dentro da escuridão do manto. A participação de Misty Knight não se concretizaria, mas Pokaski colocaria em um dos episódios uma nova referência às Séries Marvel da Netflix, com Ty entregando a Solomon um jornal no qual há uma reportagem sobre Luke Cage escrita por Karen Page, enquanto comenta sobre os poderes e motivações do herói.

A segunda temporada não conseguiria manter a mesma audiência da primeira, e seria considerada pela crítica como muito inferior, o que faria com que a ABC não encomendasse uma terceira. Pokaski diria que, quando ocorreu o cancelamento, ele já havia escrito a sinopse de quase 100 episódios, e que sua esperança era a de que a ABC o deixasse fazer pelo menos cinco temporadas, tendo planos de levar Ty e Tandy para outra cidade, como Nova Iorque ou Los Angeles, na qual a terceira seria ambientada. Após o cancelamento por parte da ABC, Pokaski ainda tentaria salvar a série levando-a para outro canal ou serviço de streaming; com essa finalidade, Loeb conseguiria negociar a inclusão de Ty e Tandy em dois episódios da terceira temporada de Fugitivos, do serviço de streaming Hulu, que estrearam em 13 de dezembro de 2019. A própria série dos Fugitivos seria cancelada, porém, e, com o início da pandemia, nenhum outro canal se interessou por assumir Manto & Adaga. Atualmente, não há qualquer informação sobre se a Marvel tem planos de utilizar os personagens no MCU, seja interpretados por Holt e Joseph ou não.

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