domingo, 1 de outubro de 2023

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James Bond (V)

Há quinze anos, lá em 2008, eu fiz uma série de quatro posts sobre os filmes do 007, parando após algumas especulações sobre Quantum of Solace, que estava prestes a ser lançado. De lá pra cá, foram lançados mais três filmes, e, como Daniel Craig chegou ao fim de sua jornada como o agente secreto mais famoso do cinema, com o próximo filme tendo um novo ator no papel principal, me parece justo completar essa série também. Assim, hoje, é mais uma vez dia de James Bond no átomo!


Para começar esse post, porém, eu vou ter que andar um pouquinho para trás. Como nós vimos lá em 2008, após uma série de fracassos estrelados por Pierce Brosnan, a EON Productions, responsável pela adaptação dos livros do 007 para o cinema (sim, se você não sabe que os filmes do 007 são parcialmente baseados em livros, por favor leia os posts anteriores), decidiria não por uma sequência, e sim por um reboot, começando a história toda do zero, totalmente adaptada para o século XXI. Assim, Casino Royale, que estreou em novembro de 2006, primeiro da série com Daniel Craig no papel principal, ignoraria todos os 20 filmes anteriores, e mostraria um jovem James Bond, pouco tempo depois de conseguir sua licença para matar, em sua primeira missão internacional de grande importância, durante a qual conhece o agente da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright) e o grande amor de sua vida, Vesper Lynd (Eva Green).

O reboot também permitiria à EON fazer uma coisa que jamais havia acontecido em 45 anos de filmes do 007: os cinco filmes estrelados por Craig são sequenciais, com uma única história, e os eventos de cada um se refletindo nos seguintes. Até então, embora alguns elementos de filmes anteriores fossem citados ou mostrados nos filmes seguintes, a maioria deles se parecia com easter eggs ou fanservice, com cada filme sendo mais como uma história solta, com começo, meio e fim e sem nenhuma influência das anteriores ou sobre as seguintes. Isso funcionou relativamente bem durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, quando as séries de televisão também seguiam uma estrutura parecida, mas foi considerado pela MGM como um dos principais fatores para o fracasso dos filmes do fim da década de 1990, uma época na qual o público já estranhava a mudança de intérprete para Bond sem nenhuma explicação e o fato de que ele parecia não ter memórias de suas aventuras prévias. Os cinco filmes de Craig, portanto, são uma espécie de "série dentro da série", seguindo a estrutura de continuações que já é familiar ao público do cinema.

Com esse fator em mente, o filme seguinte, Quantum of Solace, seria uma continuação direta de Casino Royale, tanto que a pré-produção de ambos os filmes seria conjunta, e começaria já em 2005. Quantum of Solace é o título de um conto escrito por Ian Fleming, o criador do 007, em 1959, mas o filme não tem absolutamente nada a ver com o conto, sendo um roteiro totalmente original; no Brasil, o título desse conto já foi traduzido para O Quantum do Refrigério e para o quase pornográfico A Medida do Consolo, de forma que, sem uma tradução melhor, e sem querer mudar completamente o título, a Sony do Brasil optaria por deixá-lo quase no original, com o filme em nosso país se chamando 007 Quantum of Solace.

O filme começa pouquíssimo tempo após o final de Casino Royale, com Bond descobrindo através do Sr. White (Jesper Christensen) que uma organização criminosa chamada Quantum (talvez para dar um sentido ao nome do filme) possui agentes infiltrados no MI6, o serviço secreto britânico, um deles o guarda-costas de M (Judi Dench). Investigando esse guarda-costas após um atentado frustrado contra a vida de sua chefe, Bond acaba conhecendo a Bond Girl da vez, Camille Montes (a atriz ucraniana Olga Kurylenko), namorada do ambientalista Dominic Greene (Mathieu Amalric), que aparentemente faz parte da Quantum e secretamente está ajudando o General Medrano (Joaquín Cosío), exilado após tentar dar um golpe de estado em seu país natal, a Bolívia, a concretizar esse golpe e tomar o poder, com Greene, em troca, recebendo um terreno aparentemente sem valor no meio do deserto - para complicar ainda mais a situação, Medrano foi o responsável pela morte de toda a família de Camille, que busca vingança. Bond, então, decide viajar para a Bolívia, para descobrir qual seria o interesse de Greene nesse terreno, enquanto busca mais informações sobre a Quantum, seus infiltrados e seu propósito.

Wright também participa do filme como Leiter, enviado pela CIA porque o governo dos Estados Unidos fez um acordo com Greene, segundo o qual, com Medrano no poder, todos os direitos de exploração de petróleo encontrado em solo boliviano pertenceriam a empresas norte-americanas. No melhor estilo dos filmes de 007, o vilão também tem um capanga excêntrico e chamativo, Elvis (Anatole Taubman), um assassino meio incompetente que só faz parte da Quantum porque é primo de Greene; e uma garota bonita e de nome estranho que faz uma breve parceria com Bond, a agente Strawberry Fields (Gemma Arterton), que trabalha no consulado britânico na Bolívia. Apesar disso, Quantum of Solace faria um esforço para se distanciar de normas e conceitos estabelecidos na série original de Bond, como o vilão caricato ou a Bond Girl que é pouco mais que uma donzela em perigo - Camille tem seu próprio plano para assassinar Medrano e não se deixa seduzir por Bond facilmente, enquanto Greene se comporta praticamente como um empresário corrupto do mundo real. Também vale dizer que esse filme marca a primeira aparição do chefe de pessoal de M, Bill Tanner (Rory Kinnear), que também estaria presente nos três filmes seguintes.

A produção de Quantum of Solace seria conturbada e marcada por muitas desavenças, desde um protesto no Chile porque as cenas no deserto foram filmadas lá ao invés de na Bolívia, passando por uma reclamação do governo boliviano pela forma como o país seria retratado, até uma pequena revolta por Kurylenko interpretar uma boliviana - o que tentou ser apaziguado com o argumento de que a personagem é "descendente de russos e bolivianos"; no início, os produtores cogitaram escolher uma atriz latina, e consideraram até as brasileiras Juliana Paes e Fernanda Lima, mas optaram por Kurylenko por sua performance em Hitman. Durante a pré-produção, o diretor seria Roger Mitchell, de um Lugar Chamado Notting Hill, que já havia trabalhado com Craig em Amor para Sempre, mas desistiria por achar que o roteiro estava sendo reescrito muitas vezes, o que poderia ser um indicativo de que a versão final não teria qualidade; ele seria substituído por Marc Forster, que se diria surpreso por ter sido convidado, já que não era fã de Bond e sequer tinha assistido Casino Royale, mas aceitaria após ver que o reboot tinha "humanizado" o personagem, que já não era mais um superespião inabalável. Forster participaria de mais uma reescritura do roteiro, principalmente por não querer fazer um filme longo - segundo ele, um bom filme de espionagem deve ser "rápído como uma bala".

Segundo a lenda, a versão final do roteiro ficaria pronta duas horas antes de ser declarada a greve dos roteiristas de 2007. Embora isso tenha permitido que as filmagens começassem sem atrasos, também significou que nenhum roteirista podia estar presente no set, e que mudanças no roteiro durante as filmagens tinham de ser feitas por Forster ou até mesmo por Craig. Em entrevistas posteriores, Craig declararia ter odiado a experiência e não estar disposto a nunca mais fazer um filme dessa forma. Após o final da greve, um roteirista não creditado seria contratado para reescrever as cenas com as quais o diretor ainda não estava satisfeito, e algumas delas acabariam refilmadas.

Quantum of Solace seria o único filme da série a trazer a famosa "sequência do revólver" no final do filme ao invés de no começo - segundo Forster, isso seria feito para simbolizar que a "história de origem" de Bond, iniciada no filme anterior, estava finalizada. A música da abertura, Another Way to Die, pela primeira vez seria um dueto, cantado por Alicia Keys e Jack White, escolhidos após os produtores cogitarem as cantoras Amy Winehouse, Beyoncé, Leona Lewis e Duffy. Mais uma vez, para que o filme tivesse o "estilo 007", seria usado o mínimo de efeitos de computação possível, com todas as principais cenas usando dublês - inclusive, após dois acidentes graves, um deles no qual um Aston Martin caiu dentro de um lago na Itália, começaram a correr rumores sobre uma "maldição", e que o filme não devia ser concluído. Os principais efeitos de computação seriam usados na cena do incêndio, para que o fogo e a fumaça parecessem estar mais próximos dos atores do que realmente estavam, e na perseguição de barcos.

Quantum of Solace estrearia no Reino Unido em 31 de outubro de 2008, e nos Estados Unidos em 14 de novembro. Com orçamento não revelado, mas estimado entre 200 e 230 milhões de dólares, renderia quase 590 milhões considerando a bilheteria global, e seria considerado pela Sony como um grande sucesso; ainda assim, a crítica consideraria o filme "decepcionante", e elegeria Greene "o pior vilão de Bond de todos os tempos". O filme é hoje considerado o mais fraco dos cinco de Craig, com o ator conjecturando que a greve dos roteiristas pode ter tido um papel nessa percepção, e que talvez tivesse sido melhor adiar a estreia para ter um roteirista presente durante as filmagens. Apesar das críticas negativas, como a bilheteria foi boa, e como Craig já tinha mesmo contrato para três filmes, a EON decidiria seguir em frente e começar a produção do próximo.

A intenção de Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, produtores da série, era que um filme estrelado por Craig estreasse a cada dois anos, como ocorreu durante a maior parte da carreira do 007; assim, a estreia do filme seguinte seria marcada para 2010. Entretanto, o roteiro, que originalmente seria escrito por Peter Morgan, sofreria uma série de atrasos, e esse ano chegaria sem que as filmagens tivessem começado; para piorar a situação, a MGM, responsável pela distribuição dos filmes da franquia, e que desde 2005 fazia parte de um consórcio do qual um dos donos era a Sony, em 2010 entraria com um pedido judicial de reorganização, uma espécie de falência prevista na lei dos Estados Unidos que, ao invés de dissolver a empresa, muda seu comando, que passaria para alguns de seus principais credores. Diante de todos esses problemas, a EON decidiria contratar novos roteiristas e adiar a estreia do filme para 2012, quando o primeiro filme de James Bond faria seu aniversário de 50 anos.

Chamado Skyfall (007 Operação Skyfall no Brasil, skyfall é a "queda do céu"), o vigésimo-terceiro filme da série seria dirigido por Sam Mendes, de Beleza Americana e Estrada para a Perdição, contratado pouco após a estreia de Quantum of Solace, quando Forster declararia não ter interesse em dirigir o filme seguinte. Durante a pré-produção, surgiriam boatos de que o filme se chamaria Carte Blanche, e seria uma adaptação de um romance do 007 escrito por Jeffery Deaver e publicado em 2011, se tornando, assim, o primeiro filme a não ser nem uma adaptação de um romance de Fleming, nem um roteiro original; Barbara Broccoli se apressaria a desmentir esses boatos, mas manteria o nome oficial do filme em segredo até novembro de 2011. O nome Skyfall não aparece em nenhum dos romances de Fleming, e foi criado pelos roteiristas do filme para "soar misterioso" e "cativar a imaginação do público"; ao contrário do que o título em português dá a entender, não há nenhuma operação no filme chamada Skyfall - embora haja um motivo para o filme ter esse nome, que eu não vou revelar porque é meio que um spoiler.

Do elenco dos filmes anteriores, retornam apenas Craig como Bond, Dench como M e Kinnear como Tanner; por outro lado, três outros agentes do MI6 de interesse estreiam no reboot nesse filme: a Bond Girl da vez é ninguém menos que Eve Moneypenny (Naomie Harris), que na série original era a secretária de M, mas aqui é uma agente de campo do MI6, com direito a tiro, porrada e bomba; Q (Ben Whinshaw), o responsável pelas traquitanas que Bond usa em suas missões, retorna em uma versão mais jovem e moderna, conectado à internet e meio geek; e Gareth Mallory (Ralph Fiennes) é um ex-tenente das forças especiais que, ao final do filme, se tornará o novo M, em um encontro entre a série nova e a antiga - o escritório do novo M, da porta à mesa, é praticamente uma réplica do escritório original dos filmes da década de 1960, inclusive com Moneypenny sendo designada para ser sua assistente.

O enredo do filme envolve uma série de ataques cibernéticos, incluindo vazamento de dados sensíveis, orquestrada contra o MI6 por Raoul Silva (Javier Bardem), ex-agente do próprio MI6 que culpa M por ter sido capturado e torturado, e agora busca vingança - uma série de decisões questionáveis de M durante a investigação do caso levam o governo a interpretar que ela estaria também levando para o lado pessoal e a recomendar seu afastamento, com Bond se tornando seu único aliado e único disposto a seguir no encalço de Silva. Silva possui dois aliados, a femme fatale Sévérine (Bérénice Marlohe), uma espécie de "anti-Bond Girl" e o mercenário Patrice (Ola Rapace, ex-marido da hoje bem mais famosa Noomi Rapace, que tem esse sobrenome por causa dele). Albert Finney, um dos mais populares atores britânicos, faz uma participação especial como Kincaid, que tem uma ligação com a infância de Bond; de início, os produtores pensaram em chamar Sean Connery, como uma espécie de homenagem pelo 50o aniversário do primeiro filme, mas depois tiveram medo de que sua presença em outro papel que não o de Bond fosse malvisto pelo público, com Mendes sugerindo Finney - segundo Mendes, aliás, também foi dele a ideia de trazer Moneypenny e Q de volta, e de ter um vilão "histriônico, ao estilo dos da série original", ao invés dos sérios e sisudos dos dois filmes anteriores.

De forma pouco usual para um filme do 007, a maioria das filmagens ocorreria na Inglaterra, com apenas algumas poucas cenas sendo filmadas na Turquia e África do Sul; a equipe de produção pensaria em filmar na Índia, mas, devido à demora para obtenção das permissões, acabaria desistindo, e filmaria na China, mas sem a presença de nenhum dos atores do elenco principal, que faria em estúdios na Inglaterra suas cenas ambientadas na China. Até mesmo a ilha onde fica o quartel-general de Silva, inspirada na ilha japonesa de Hashima, e que no filme fica nos arredores de Macau, seria basicamente criada por computação gráfica, com todas as cenas lá ambientadas sendo filmadas na Inglaterra. Embora as cenas de ação ainda usassem principalmente efeitos à moda antiga, Skyfall teria muito mais efeitos de computação gráfica que seus dois predecessores.

Skyfall estrearia no Reino Unido em 26 de outubro de 2012, e duas semanas depois nos Estados Unidos; seria o primeiro filme estrelado por Craig a trazer a famosa "sequência do revólver" logo no início, ao estilo dos 20 primeiros filmes. A música-tema, escrita, composta e gravada pela cantora Adele, também se chamaria Skyfall, e seria a primeira música-tema de um filme do 007 a ganhar o Grammy de Melhor Canção Escrita pra uma Mídia Visual e o Oscar de Melhor Canção Original - sendo a quarta indicada ao Oscar, depois de Live and Let Die, Nobody Does It Better e For Your Eyes Only, todas de filmes estrelados por Roger Moore - o que faria com que Skyfall se tornasse o primeiro filme do 007 desde Goldfinger a ganhar um Oscar - e o primeiro da história a ganhar dois, já que levaria também o de Melhor Edição de Som. Skyfall também seria o primeiro 007 a passar da casa do bilhão, rendendo 1,109 bilhão de dólares quando somadas as bilheterias do mundo todo, se tornando o segundo filme mais rentável de 2012, atrás apenas de Os Vingadores, e, até então, o filme de maior bilheteria da história da Sony e da MGM. A crítica também seria bastante positiva, considerando-o um dos melhores filmes da série.

Em 2013, Mendes diria em entrevistas não ter interesse em dirigir também o filme seguinte, o que levaria a EON a convidar o dinamarquês Nicolas Winding Refn, que recusaria. Mas, enquanto a EON procurava por outro diretor, Mendes leria o primeiro rascunho do roteiro, ficaria empolgado com as possibilidades que ele trazia para o futuro da franquia, e decidiria voltar atrás, se tornando o primeiro a dirigir dois filmes seguidos do 007 desde John Glen (que dirigiu cinco, entre For Your Eyes Only, de 1981, e Licence to Kill, de 1989).

Um dos motivos que convenceriam Mendes a seguir na direção seria que, após ele trazer de volta Moneypenny, Q e o M original, a EON decidiria trazer de volta também Ernst Stavro Blofeld e a SPECTRE. Como quem acompanhou essa série de posts sabe, a última vez que vimos a organização criminosa internacional e o arqui-inimigo de Bond em um filme oficial foi em Diamonds Are Forever, de 1971; isso porque, dez anos antes, em 1961, quando o livro Thunderball foi lançado, o produtor Kevin McClory entraria na justiça, alegando ter sido ele, e não Fleming, o criador de Blofeld e da SPECTRE. Quando a EON decidisse adaptar Thunderball, em 1965, O caso seria resolvido com um acordo fora dos tribunais, segundo o qual a EON teria os direitos durante dez anos, ao fim dos quais McClory não teve interesse em renovar, pois planejava fazer seu próprio filme do 007 - lançado em 1983 com o nome de Never Say Never Again. Depois disso, McClory e a EON ficariam "de mal", e nunca mais negociariam. Somente após o falecimento de McClory, em 2006, a MGM começaria a negociar com seus herdeiros a compra dos direitos sobre os personagens e organizações criados por ele, finalmente os obtendo justamente em 2013, quando começaria a produção do vigésimo-quarto filme.

Chamado simplesmente Spectre (007 contra Spectre no Brasil - após a MGM comprar os direitos, o nome da organização deixaria de ser uma sigla), o filme traria Bond descobrindo acidentalmente a existência de uma organização criminosa internacional que tem como símbolo um polvo, comandada pelo misterioso Franz Oberhauser (Christoph Waltz). Suspenso por M após agir sem autorização, e às turras com o chefe de uma nova organização de segurança britânica, que fundiu o MI5 e o MI6 e quer acabar com o programa 00, a quem decide chamar de C (Andrew Scott), Bond decide ir ao funeral de um assassino ligado à organização, durante o qual salva a viúva (Monica Bellucci) e descobre que o Sr. White está morrendo e tem uma filha, a psiquiatra Madeleine Swann (Léa Seydoux), Bond girl da vez e alvo de um dos assassinos da organização, conhecido como Sr. Hinx (Dave Bautista). Enquanto salva a vida se Madeleine, Bond se apaixona por ela, e Q descobre que Le Chiffre, Dominic Greene e Raoul Silva todos tinham ligação com a organização, que Madeleine revela se chamar Spectre. Cabe a Bond, então, descobrir qual seria o grande plano da organização, precisando, para isso, encontrar Oberhauser - que, desculpem o spoiler, é ninguém menos que Blofeld.

Spectre
estrearia no Reino Unido em 26 de Outubro de 2015, e nos Estados Unidos em 6 de novembro. Com bilheteria mundial de 880,7 milhões de dólares, seria o sexto filme mais rentável do ano e o segundo mais rentável de Bond, atrás apenas de Skyfall. Com a presença da Spectre liberada, o filme teve que fazer uma pequena retcon nos dois primeiros com Craig, transformando a Quantum de uma organização criminosa independente em um braço da Spectre - por isso o retorno de Mr. White, e por isso a revelação de que os vilões dos dois primeiros filmes também tinham ligações com a Spectre, com Silva também entrando nos quadros da organização para uma maior sensação de continuidade. Spectre também seria o primeiro filme desde Casino Royale a usar elementos das obras de Fleming, com Blofeld sendo filho de Hannes Oberhauser, personagem que, nos livros, foi tutor de Bond em sua adolescência. Além de Craig, retornariam a seus papéis Fiennes, Harris, Whishaw, Kinnear, Christensen e Dench, em sua última aparição como M, exatos 20 anos após sua estreia em GoldenEye.

Com orçamento final não revelado, mas estimado entre 250 e 275 milhões de dólares - um hacker que invadiu os e-mails da Sony divulgou a insatisfação da empresa com o fato de que o orçamento se aproximava dos 300 milhões - Spectre foi um dos filmes mais caros da história do cinema. Após fimar Skyfall inteiramente com câmeras digitais e não ficar satisfeito com o resultado, Mendes decidiria usar também câmeras Kodak 35 mm para algumas cenas, o que encareceria o filme. As filmagens ocorreriam no Reino Unido, Marrocos, México, Áustria e em Roma, onde protestos de moradores locais contra filmagens de cenas de perseguição e contra mostrar para o mundo pixações e lixo nas ruas romanas levariam à mudança ou cancelamento de várias cenas. As cenas no México também deram problema, pois envolviam uma procissão do Dia dos Mortos, que teve que ser criada do zero, fechando uma praça e grande parte de seu entorno. Boatos correram de que o roteiro do filme teria sido alterado a pedido do Governo Mexicano, que oficialmente negou ter exigido ser retratado positivamente para liberar as filmagens.

Para a música-tema seria escolhida a banda Radiohead, que, ao invés de compor uma canção nova, enviaria à produção Man of War, gravada na década de 1990 mas jamais lançada. Quando os produtores reclamaram que essa música não poderia concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original, eles gravaram uma chamada Spectre, que foi rejeitada pelos produtores por ser muito melancólica - e, segundo boatos, porque os produtores acharam que eles tinham feito de má vontade. Após "desconvidar" o Radiohead, os produtores convidariam o cantor Sam Smith, que pediria para que a palavra Spectre não estivesse nem no título, nem na letra da música, gravando Writing's on the Wall, que, apesar de uma recepção morna por parte da crítica, seria a primeira música-tema de um filme do 007 a alcançar o primeiro lugar da parada de sucessos britânica, além de conseguir um segundo Oscar de Melhor Canção Original consecutivo.

O roteiro do 25o filme de Bond começaria a ser escrito já em 2016. Após Mendes anunciar que preferiria trabalhar em outros projetos, Christopher Nolan seria convidado, mas recusaria; Dennis Villeneuve chegaria a ser anunciado, mas desistiria em dezembro de 2017, para filmar Duna. Em fevereiro de 2018, Danny Boyle aceitaria dirigir, mas com a condição de que o roteiro que vinha sido escrito até então fosse descartado, e um novo fosse escrito por John Hodge; Boyle queria que o filme fosse ambientado na Rússia e explorasse o passado de Bond, algo com o que Broccoli e Wilson não concordavam. Felizmente para eles, Boyle e Hodge se desentenderiam em agosto daquele ano, e ambos se demitiriam; Cary Joji Fukunaga seria comfirmado como diretor no mês seguinte, se tornando o primeiro norte-americano a dirigir um filme oficial do 007. O filme entraria oficialmente em produção em abril de 2019, com filmagens na Noruega e Jamaica, que tiveram de ser interrompidas após Craig torcer o tornozelo e precisar de uma pequena cirurgia.

Junto com o anúncio do início da produção, seria anunciado o título do filme, No Time to Die (007 Sem Tempo Para Morrer, no Brasil); o título seria muito criticado, mas Barbara Broccoli alegaria ser um legítimo título ao estilo dos de Fleming, que cria expectativa mas só faz sentido após o fim da história. Desde o início, Craig, então já com 51 anos, deixaria claro que esse seria seu último filme como Bond, recusando uma proposta de 100 milhões de dólares para fazer mais dois; com isso, Broccoli pediria aos roteiristas para que amarassem todas as pontas soltas dos demais filmes e fizessem desse um verdadeiro último capítulo, para que, ao invés de o seguinte simplesmente substituir o intérprete de Bond, conte uma nova história.

O vilão da vez é Lyutsifer Safin (Rami Malek), especialista em venenos que cria uma toxina capaz de matar somente quem tem um DNA específico, que deseja se vingar da Spectre porque toda sua família foi morta pelo Sr. White. Bond, que está aposentado e vivendo no Caribe, se envolve na história a pedido de Leiter, que pede ajuda para investigar o sequestro de um cientista envolvido em um projeto secreto, Valdo Obruchev (David Dencik), que teria sido levado para Cuba. Craig, Waltz, Seydoux (primeira Bond girl a estar em dois filmes), Fiennes, Harris, Whishaw, Kinnear e Wright (primeiro ator a interpretar Leiter três vezes) repetem seus papéis dos filmes anteriores; outros personagens de destaque são Logan Ash (Billy Magnussen), parceiro de Leiter na investigação; Primo (Dali Benssalah), capanga de Safin que tem um olho biônico; a agente da CIA de codinome Paloma (Ana de Armas), parceira de Bond em Cuba; e a nova agente 007 (Lashana Lynch), que substituiu Bond no MI6.

Após Craig se recuperar, as filmagens seriam retomadas, ocorrendo na Inglaterra, Itália, Cuba e Ilhas Faroes; No Time to Die seria o primeiro 007 filmado em IMAX, e o que teria o maior número de efeitos especiais gerados por computação gráfica, com quatro empresas, incluindo a Industrial Light & Magic, trabalhando na pós-produção. A música-tema ficaria a cargo de Billie Eilish, mais jovem artista, com 18 anos, ao gravar uma, e seria a terceira consecutiva a conquistar o Oscar de Melhor Canção Original, e segunda a ganhar o Grammy de Melhor Canção Escrita pra uma Mídia Visual. A música We Have All the Time in the World, de Louis Armstrong, originalmente da trilha de On Her Majesty's Secret Service, toca nos créditos finais do filme.

Quando começou a pandemia, No Time to Die estava em pós-produção; mesmo assim, sua estreia seria atrasada em mais de um ano, somente ocorrendo em 28 de setembro de 2021 no Reino Unido e em 8 de outubro nos Estados Unidos; esse seria o primeiro filme do 007 a ser distribuído nos cinemas pela Universal (exceto nos Estados Unidos, onde foi distribuído pela United Artists), que fez uma oferta melhor para a MGM quando a obrigatoriedade de distribuição pela Sony expirou em 2015. Com orçamento estimado em 301 milhões de dólares, que faz com que ele seja um dos filmes mais caros da história e de longe o 007 mais caro de todos, renderia 774,2 milhões ao somar as bilheterias do mundo inteiro, se tornando o quarto filme mais rentável do ano, mas, ainda assim, dando prejuízo para a MGM - que estimou que precisaria de pelo menos 800 milhões para cobrir todos os custos de produção e divulgação. A crítica seria extremamente positiva, apesar de achar o filme longo demais e a atmosfera sombria demais.

Com o fim da carreira de Craig como 007, já começaram as especulações sobre o futuro da franquia. Como é pouco provável que nunca mais façam nenhum, resta saber quem será o próximo ator a assumir o manto de James Bond; o preferido dos fãs é Idris Elba, que é britânico e seria o primeiro Bond negro, mas, sendo apenas três anos mais novo que Craig (Elba atualmente está com 52, Craig com 55), parece ser uma escolha pouco provável. A lista de prováveis candidatos é eclética e inclui Henry Cavill (que chegou a ser cogitado para Casino Royale), Aaron Taylor-Johnson, Harry Styles, Will Poulter, Tom Hardy, Richard Madden, Taron Egerton, Dev Patel, Theo James e até mesmo Robert Pattinson. Seja quem for, quando ele tiver feito uns cinco filmes, eu retomo essa série.

James Bond

Daniel Craig

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