domingo, 27 de janeiro de 2019

Escrito por em 27.1.19 com 0 comentários

Luke Cage

Quando eu fiz o post sobre Jessica Jones, falei bastante sobre Luke Cage, seu atual marido nos quadrinhos. Cage, porém, é um personagem muito mais antigo do que Jessica, e, embora eu confesse que não achasse muita graça nele quando mais jovem, de uns tempos pra cá tenho o achado um personagem bastante interessante. Diante disso, depois de falar nele no já citado post de Jessica Jones, acabei ficando com vontade de fazer um só pra ele. Que é esse de hoje, pois hoje é dia de Luke Cage no átomo!

Antes de começarmos, uma curiosidade que não tem muito a ver com a história do personagem, mas vale a pena: o ator Nicolas Cage, cujo nome verdadeiro é Nicolas Coppola (não por acaso, já que ele é sobrinho do diretor Francis Ford Coppola), escolheu esse nome artístico porque Luke Cage era um de seus personagens preferidos na infância. Como ele tem um filho chamado John, isso faz com que seu filho teoricamente seja Johnny Cage, mas isso já é outra história.

Cage foi uma co-criação dos roteiristas Archie Goodwin e Roy Thomas com os desenhistas John Romita e George Tuska. No início dos anos 1970, estavam na moda nos Estados Unidos os filmes apelidados de blaxploitation, nos quais a maior parte do elenco era formada por atores negros, e os temas quase sempre envolviam a violência nas periferias das grandes cidades, usualmente contando com um anti-herói, que podia ser um detetive particular casca-grossa, um ex-presidiário redimido, ou qualquer personagem nesse estilo, invariavelmente negro. Voltados para o público negro, que, na época, principalmente por questões financeiras, iam pouco ao cinema, esses filmes logo se tornariam grandes sucessos, e muitos se tornariam cult nos anos seguintes (como os estrelados por Pam Grier, hoje considerada uma das maiores estrelas do gênero). Sempre antenada com o mercado à sua volta, a Marvel evidentemente iria querer um super-herói envolvido com o clima blaxploitation, e, sabendo disso, Thomas e Goodwin se puseram a pensar em um, com Romita desenhando a primeira versão do personagem.

Depois de criado, Cage se tornaria o primeiro super-herói afro-americano a estrelar sua própria revista (assim como o primeiro a dar nome a uma revista), com o lançamento da Luke Cage, Hero for Hire (algo como "herói de aluguel") número 1, em junho de 1972, com roteiro de Goodwin e arte de Tuska, que, pelas regras da indústria dos quadrinhos, se tornaria também seu co-criador. Essa edição pouco fazia além de apresentar o personagem e mostrar sua origem, mas, talvez devido ao sucesso do blaxploitation, se tornou ela também um grande sucesso de vendas, garantindo ao novo herói uma série longeva.

Cage, na verdade, se chamava Carl Lucas, nascido e criado no Harlem, na cidade de Nova Iorque, e, quando adolescente, fez parte de uma gangue, os Rivais. Um dia, ele se cansaria dessa vida, buscando melhorar, mas seu melhor amigo, convencido de que Lucas teria sido responsável por sua namorada ter terminado com ele - quando, na verdade, ela estava com medo porque, ao contrário de Lucas, ele estava se envolvendo com crimes cada vez mais violentos - decidiu se vingar, escondendo heroína no apartamento de Lucas e fazendo uma ligação anônima para a polícia. Lucas seria preso e condenado a vinte anos de prisão.

Revoltado, Lucas se tornaria um homem violento, frequentemente arrumando confusão na cadeia, o que faria com que ele fosse transferido para uma instalação de segurança máxima - o que só pioraria as coisas, já que lá ele encontraria um carcereiro racista disposto a fazer de sua vida um inferno. Nessa mesma prisão, entretanto, estavam sendo conduzidos experimentos secretos com presos, visando estimular a regeneração celular humana para curar várias doenças e retardar o envelhecimento, sendo que presos que se tornassem voluntários para o projeto ganhariam pontos de bônus para obter a liberdade condicional. Como sua condicional já havia sido rejeitada devido ao seu temperamento, Lucas decidiria ser o primeiro voluntário para o projeto.

Lucas, então, seria mergulhado em um banho eletroquímico dentro de uma máquina especial, mas, durante um momento, o cientista responsável pelo projeto se ausentaria, e o carcereiro que perseguia Lucas decidiria mexer nos controles, visando aleijá-lo ou até matá-lo. Sua ação acabaria fazendo exatamente o efeito oposto, conferindo a Lucas força sobre-humana, uma pele praticamente impenetrável e a capacidade de se curar rapidamente de quaisquer ferimentos. O processo, entretanto, seria absurdamente dolorido, e, após arrebentar a máquina para escapar, Lucas, num acesso de fúria, atacaria o carcereiro. Acreditando tê-lo matado e sabendo que jamais conseguiria sua condicional se isso tivesse ocorrido, ele decidiria usar sua nova força para fugir da prisão. Voltando ao Harlem, ele mudaria de nome para Luke (pet name, ou "diminutivo", de Lucas, em inglês) Cage (palavra que significa "jaula" ou "cela", mas é um sobrenome que realmente existe nos países de língua inglesa) e usar seus novos poderes para ganhar dinheiro.

Quando eu era criança, um dia eu perguntei ao meu pai por que os super-heróis têm tantos inimigos - o Homem-Aranha, por exemplo, é um só, mas tem uma lista imensa de vilões - e ele me respondeu que, quando uma pessoa tem um poder, é muito mais tentador ser mau do que ser bom, o que, pelo menos pra mim, foi uma explicação extremamente satisfatória. Contrariando as expectativas, contudo, Cage não decidiria usar seus poderes para ganhar dinheiro assaltando bancos ou cometendo outros tipos de crimes, e sim fazendo o bem, se tornando o primeiro Herói de Aluguel da história - isso mesmo, por um preço módico, qualquer um poderia contratá-lo para realizar qualquer ato de heroísmo. Isso acabou se mostrando uma decisão acertada, pois, graças a seus atos heroicos, quando Cage foi descoberto pelo sistema prisional, ganhou sua condicional, e, graças aos amigos que fez como herói, conseguiu provar sua inocência, se livrando de todas as acusações - e, obviamente, de cumprir o resto da pena.

Mas isso só aconteceria anos depois do lançamento de sua revista; até lá, Cage viveria muitas aventuras. Para manter o clima blaxploitation, a maioria dos vilões não tinha superpoderes (apesar de terem uniformes coloridos e nomes estilosos como Fantasma, Stiletto e Mariah Negra), atuando como traficantes, cafetões, corrompedores de policiais e chefes de gangues violentas; na maioria das vezes, Cage os enfrentava após ser contratado, mas, em algumas edições, combatia o vilão porque simplesmente não gostava que algum malfeitor se metesse com a sua vizinhança. A revista seguiria com o nome de Luke Cage, Hero for Hire até a edição 16, de dezembro de 1973; depois disso, ela pularia um mês, e retornaria como Luke Cage, Power Man em fevereiro de 1974 - com a numeração continuando do número 17. A principal razão para a mudança seria que Cage passaria a se comportar mais como um super-herói, combatendo o mal por puro altruísmo, com o aspecto de que ele poderia ser contratado sendo deixado de lado. Ao fazê-lo, ele passaria a usar o codinome Power Man, que, aqui no Brasil, seria traduzido como Poderoso, mas raramente usado, com todos os personagens continuando a chamá-lo na maior parte do tempo de Luke Cage mesmo.

No final dos anos 1970, a onda do blaxploitation passaria, e pouquíssimos filmes nesse estilo ainda seriam produzidos. Essa queda na popularidade também ocorreria na revista de Cage, que passaria por uma reformulação gradual: primeiro, em agosto de 1977, na edição 46, ela se tornaria bimestral; depois, em dezembro de 1977, na edição 48, o nome da revista seria mudado para apenas Power Man, e então, em abril de 1978, na edição 50, seria feita a mudança que devolveria a popularidade a Cage.

As duas primeiras e últimas edições de Power Man (a 48 e a 49) traziam uma história na qual Cage primeiro enfrentaria, depois faria dupla para enfrentar um inimigo em comum, com outro herói da Marvel que estava passando pelo mesmo problema que ele, o Punho de Ferro. Assim como Cage, o Punho de Ferro havia sido criado para pegar carona no sucesso de uma moda do cinema, os filmes de kung fu, e, assim como Cage, como no final da década de 1970 os filmes de kung fu já não faziam sucesso, a revista Iron Fist, estrelada pelo Punho de Ferro, teria uma queda acentuada nas vendas, sendo cancelada em setembro de 1977. As duas edições da Power Man na qual os heróis apareciam juntos, porém, foram um grande sucesso de vendas, o que levou a Marvel à decisão de transformar os dois em uma dupla permanente. Assim, em abril de 1978, a Power Man mudaria de nome para Power Man and Iron Fist, com a numeração sendo mantida, ou seja, o primeiro número da "nova" revista seria o 50 - seria nessa edição, inclusive, que Cage finalmente seria inocentado de todas as acusações.

Raramente uma dupla de heróis foi tão diferente: Cage, como vimos, era negro, nascido pobre no Harlem, ganhou seus poderes na prisão, e sempre tentava resolver tudo de forma prática; Danny Rand, a identidade secreta do Punho de Ferro, era louro de olhos azuis, nasceu em família rica, ganhou seus poderes treinando kung fu em uma cidade mística, e tinha uma visão mais sofisticada do mundo. Apesar disso tudo, os dois personagens funcionaram extremamente bem juntos e a série foi um sucesso, de certa forma, inesperado - justiça seja feita, em grande parte devido ao talento dos roteiristas escolhidos, Chris Claremont, que havia assumido a Luke Cage, Power Man na edição 47; Mary Jo Duffy, que assumiu a Power Man and Iron Fist na edição 56, após duas edições escritas por Ed Hannigan, e ficou até a 84; e Dennis O'Neil, que ficou da 85 à 121. Ao todo, a Power Man and Iron Fist teria 76 edições, até ser cancelada em setembro de 1986, na edição 125.

Vale citar que, além de Cage e Rand, duas coadjuvantes memoráveis compunham o elenco da revista: Misty Knight, detetive particular negra que, assim como Cage, parecia saída diretamente de um filme blaxploitation, contando, inclusive, com um penteado afro (na época conhecido aqui no Brasil como black power) e cujo maior trunfo era um braço biônico construído por ninguém menos que Tony Stark, que lhe conferia força ampliada, capacidade de emitir pulsos eletromagnéticos, e permitia que ela se comunicasse com equipamentos eletrônicos; e Colleen Wing, interesse amoroso de Rand, mas ela mesma uma artista marcial competente, filha de pai norte-americano com mãe japonesa, criada no Japão por seu avô materno e extremamente habilidosa no uso da espada. Assim como Cage e Rand, as duas formavam uma dupla, que, nesse caso, tinha nome, as Filhas do Dragão. Nenhuma das duas estrearia na Power Man and Iron Fist - Colleen estrearia na Marvel Premiere 19, de novembro de 1974, criada pelo roteirista Doug Moench e pelo desenhista Larry Hama, e Misty duas edições depois, na Marvel Premiere 21, de março de 1975, criada pelo roteirista Tony Isabella e pelo desenhista Arvell Jones, ambas como coadjuvantes em histórias do Punho de Ferro (que protagonizou a Marvel Premiere da edição 15 à 25) - mas seria na Power Man and Iron Fist que ambas as personagens seriam desenvolvidas e ficariam famosas.

Por maior que fosse o carisma dos personagens, em 1986 eles já estavam bastante datados, e a Power Man and Iron Fist acabou sendo cancelada devido a baixas vendas. Cage passaria quase seis anos sem dar as caras no Universo Marvel, até que o editor Tom De Falco decidiria atualizá-lo para os anos 1990: com roteiros de Marcus Mclaurin e arte de Dwayne Turner, em abril de 1992 seria lançada Cage, a nova revista estrelada pelo herói, com numeração começando do 1. Com um novo corte de cabelo e um novo uniforme, que incluía uma jaqueta de couro, Cage decidiria se mudar para Chicago e voltar a atuar como herói de aluguel, abandonando o codinome Poderoso e fazendo um acordo com um jornal da cidade, que poderia publicar com exclusividade notícias sobre suas aventuras, e com um detetive de polícia, a quem ajudaria na resolução de casos espinhosos. Cage arrumaria briga com um mafioso local, atuaria ao lado do Justiceiro e até cairia na porrada com o Hulk, mas a revista não seria bem-sucedida, sendo cancelada em novembro de 1993, após apenas 20 edições.

Enquanto figurava em sua própria revista, Cage também teve uma história em seis partes publicadas na Marvel Comics Presents, entre as edições 131 e 136, de junho a setembro de 1993 - seria nessa mesma revista, inclusive, a única aparição de Cage entre o cancelamento da Power Man and Iron Fist e o lançamento da Cage, em uma história curta publicada na edição 82, de agosto de 1991.

Após o cancelamento da Cage, Cage ficaria mais quatro anos sem dar as caras, até retornar com seu visual original dos anos 1970 em uma nova série: ao lado de Punho de Ferro, Cavaleiro Negro, Hércules, Hulk e Tigre Branco, ele formaria a equipe Heróis de Aluguel, contratada para resgatar um grupo de cientistas, mas que permaneceria unida aceitando novas missões depois disso. A equipe estrelaria a revista Heroes for Hire, lançada em julho de 1997, mas que não faria sucesso, sendo cancelada após 19 edições, em janeiro de 1999.

No início dos anos 2000, Cage teria seu visual mais uma vez reformulado para os novos tempos, passando a adotar a cabeça raspada e o cavanhaque que hoje já lhe são característicos; além disso, ele abandonaria de vez o uniforme, passando a usar apenas roupas comuns. Com esse novo visual, Cage seria coadjuvante na série Alias, publicada entre novembro de 2001 e janeiro de 2004, na qual teria um caso com Jessica Jones, que resultaria na filha do casal, Danielle. Jessica inauguraria o selo MAX, de histórias destinadas a adultos, com palavrões nos diálogos e altos níveis de violência e sensualidade, e Cage embarcaria nessa onda com a minissérie Cage, com cinco edições lançadas entre abril e agosto de 2002, nas quais ele investiga duas gangues que brigam pela propriedade de um terreno no Harlem. Seu relacionamento com Jessica faria com que ele também se tornasse coadjuvante na série seguinte da moça, The Pulse, publicada entre janeiro de 2005 e abril de 2007. Os dois se casariam na edição especial New Avengers Annual 1, de junho de 2006.

Antes disso, entretanto, ele ganharia cada vez mais destaque no Universo Marvel, fazendo parte da equipe reunida por Nick Fury para invadir a Latvéria na minissérie Guerra Secreta, em cinco edições publicadas entre abril de 2004 e dezembro de 2005; depois, seria um dos principais personagens da equipe dos Novos Vingadores, cuja revista, The New Avengers, teria uma primeira série publicada entre janeiro de 2005 e junho de 2010, com 64 edições, e uma segunda, publicada entre agosto de 2010 e janeiro de 2013, com 34 edições. Como parte dos Vingadores, Cage teria papel de destaque nas sagas Dinastia M, de 2005, Guerra Civil, de 2006/2007, e Invasão Secreta, de 2008. Em 2010, ele também ganharia uma minissérie, The New Avengers: Luke Cage, com três edições publicadas entre junho e agosto, na qual retornava à sua antiga vizinhança no Harlem e a seus dias de herói de aluguel.

Ainda em 2010, Cage receberia um convite do governo para ser o novo líder da equipe dos Thunderbolts, passando a protagonizar também a revista Thunderbolts entre a edição 144, de julho de 2010, e a 168, de março de 2012. Em 2013, ele fundaria uma nova equipe, os Poderosos Vingadores, com a primeira edição da Mighty Avengers sendo lançada em novembro daquele ano. A revista teria 14 edições, a última lançada em novembro de 2014, após a qual seria reformulada e relançada como Captain America and the Mighty Avengers, em janeiro de 2015, com numeração recomeçando do 1. Essa revista teria apenas 9 edições, a última lançada em agosto de 2015, e faria parte da onda de cancelamentos e reformulações ocorridos em virtude da segunda saga Guerras Secretas.

Após as Guerras Secretas, Cage seria coadjuvante em Jessica Jones, entre dezembro de 2016 e maio de 2018, parte da equipe dos Defensores ao lado de Jessica, do Demolidor e do Punho de Ferro, na nova revista The Defenders, entre agosto de 2017 e abril de 2018, e ganharia duas revistas novas: uma nova Power Man and Iron Fist, com numeração recomeçando do 1, lançada entre abril de 2016 e junho de 2017, com 15 edições, e a Luke Cage, com 10 edições publicadas entre julho de 2017 e abril de 2018. Após a edição 5, a Marvel decidiu ajustar a numeração de várias de suas revistas, e Luke Cage entrou na onda, passando a considerar todas as edições de Luke Cage, Hero for Hire, Luke Cage, Power Man, Power Man, Cage e das duas Power Man and Iron Fist, o que fez com que as cinco últimas edições fossem numeradas da 166 à 170.

Desde meados do ano passado, Cage vêm fazendo apenas participações em diversas revistas de outros personagens, como a do Demolidor e as dos Vingadores, mas parece ser questão de tempo até ele ganhar uma nova revista própria - afinal, parece que ele consolidou de vez sua posição dentre os principais heróis da Marvel.

0 Comentários:

Postar um comentário