Produzido pela Grow, Perfil é um jogo muito simples: seu tabuleiro tem 130 casas, todas idênticas, exceto por 15 marcadas com um ponto de interrogação. O jogo é para de 2 a 6 jogadores, cada um controlando um peão (nas tradicionais cores azul, amarelo, vermelho, verde, branco e preto) e tendo o objetivo de, saindo da primeira casa do tabuleiro (onde está escrito "início"), chegar até a última (onde está escrito "fim"). Para se locomover pelo tabuleiro, os jogadores terão de "adivinhar" sobre quem ou o que uma das 390 cartelas que acompanham o jogo está falando. As cartelas são divididas em quatro categorias: pessoa (qualquer ser humano vivo ou morto, real ou fictício, ou animais fictícios com personalidade, como Mickey Mouse), lugar (qualquer criação da natureza ou do homem que se constituir em uma referência geográfica, como uma cidade, parque, ponto turístico ou coisa do tipo), coisa (animais, objetos inanimados e conceitos intangíveis e abstratos) e ano (um ano no qual ocorreu um evento de destaque). Cada cartela possui um total de 20 informações sobre a pessoa, lugar, coisa ou ano em questão, que serão reveladas uma a uma a cada jogada.
No início do jogo, um dos jogadores será escolhido para ser o primeiro Mediador. O Mediador pega uma das cartelas da pilha, revela aos demais jogadores qual é a sua categoria, e coloca uma ficha amarela no tabuleiro sobre o nome da categoria em questão. Então, o jogador à esquerda do Mediador escolherá um número de 1 a 20, e será colocada uma ficha vermelha sobre o número escolhido em um painel presente também no tabuleiro. O Mediador lerá para o jogador a informação listada sob aquele número na cartela, e o jogador poderá dar um palpite sobre a resposta.
Caso o jogador erre o palpite, a vez passa para o jogador à sua esquerda, que também poderá escolher um número de 1 a 20 (que ainda não tenha sido escolhido, evidentemente), e todo o esquema se repete: é colocada uma ficha vermelha sobre o número escolhido, o Mediador lê a informação daquele número, e o jogador dá um palpite. Esse processo continua com os jogadores seguindo no sentido horário (pulando, evidentemente, o Mediador), até que um dos jogadores acerte, quando é computada a pontuação, e o jogador imediatamente à esquerda do Mediador passa a ser o novo Mediador. Esse processo continua até que um dos jogadores alcance a casa final, quando será declarado vencedor.
A pontuação é computada da seguinte forma: o jogador que acertou o palpite anda uma casa para cada pergunta que não foi usada, enquanto o Mediador anda uma casa para cada pergunta que foi usada. Assim, se um jogador acertar o palpite após 7 informações terem sido reveladas, ele anda 13 casas (que é o número de informações não reveladas, também equivalente ao número de fichas vermelhas fora do tabuleiro, para facilitar a contagem), enquanto o Mediador anda 7 casas (que é o número de informações reveladas e de fichas vermelhas no tabuleiro). Caso todas as 20 informações tenham sido reveladas, o último jogador ainda pode tentar um palpite, mas, mesmo que acerte, não andará nada (valendo a resposta apenas para a perplexidade geral dos demais jogadores), com o Mediador andando 20 casas; de qualquer forma, a última informação deve ser revelada normalmente, e, caso o último jogador erre seu palpite, o Mediador revelará qual era a resposta. Apenas para deixar registrado, caso um jogador acerte o palpite com a primeira informação, andará 19 casas e o Mediador andará 1, ou seja, o Mediador sempre anda. Também é importante deixar registrado que cada jogador só tem direito a um palpite a cada informação revelada, passando a vez se o errar.
Alguns números de cada cartela não possuem informações, e sim instruções. Os seis tipos de instrução possíveis são: avance x casas (o jogador avança o número de casas descrito na cartela, e depois pode dar seu palpite normalmente), volte x casas (o jogador retorna o número de casas descrito na cartela, e depois pode dar seu palpite normalmente), escolha um jogador para avançar x casas (o jogador escolhe um outro jogador, que evidentemente não pode ser ele mesmo, mas pode ser o Mediador, que avança o número de casas descrito na cartela, e depois pode dar seu palpite normalmente), escolha um jogador para voltar x casas (o jogador escolhe um outro jogador, que evidentemente não pode ser ele mesmo, mas pode ser o Mediador, que retorna o número de casas descrito na cartela, e depois pode dar seu palpite normalmente), perca sua vez (a vez passa para o jogador seguinte, com o que perdeu a vez não podendo dar seu palpite) e um palpite a qualquer hora (o jogador recebe uma ficha azul; a qualquer momento durante o jogo, ele pode jogar essa ficha no tabuleiro enquanto diz em voz alta seu palpite, sendo que, se acertar, ganhará a pontuação normalmente, e, se errar, não acontecerá nada, perdendo a ficha azul em ambos os casos).
Para terminar, temos as casas marcadas com pontos de interrogação (?). Quando um jogador cai em uma dessas casas, ele tem direito a tentar uma cartela-bônus: o Mediador deve pegar uma nova cartela da pilha, e o jogador deverá escolher até cinco números. Ele só terá direito a um único palpite (e não cinco), que poderá ser feito a qualquer momento em que o Mediador terminar de ler uma informação. Caso o jogador erre o palpite, nada acontece, mas, caso ele acerte, andará uma quantidade de casas que depende de quantas informações usou: uma, 10 casas; duas, 8 casas; três, 6 casas; quatro, 4 casas; ou cinco, 2 casas. Caso saia uma instrução, ela será cumprida normalmente; caso seja a de perca sua vez, o jogador automaticamente perde o direito à cartela-bônus, sem andar nenhuma casa. O Mediador nunca anda nenhuma casa durante uma cartela-bônus, e jogadores que caiam na casa do ponto de interrogação em decorrência de uma instrução de andar ou voltar casas não têm direito a ela, apenas aqueles que caem na casa em decorrência de sua pontuação - exceto o Mediador, ou seja, se, após contabilizar seus pontos, o Mediador cair em uma casa com ponto de interrogação, não terá direito à cartela-bônus.
As regras oficiais de Perfil permitem, também, o jogo em duplas. Nesse caso, cada dupla usa um único peão, e pode confabular a cada dica antes de dar o palpite. Cada dupla deve ter um líder, que será o responsável por falar os palpites em voz alta (não sendo considerados palpites do outro membro da dupla), por ler as informações quando a dupla estiver atuando como Mediadora, e por guardar e usar as fichas azuis de um palpite a qualquer hora.
A primeira edição de Perfil foi lançada pela Grow em 1988. Assim como muitos outros jogos da empresa, não se trata de uma criação original, e sim da versão de outro jogo, no caso um chamado 20 Questions ("20 perguntas"), lançado em 1985 nos Estados Unidos pela pequena University Games. No mesmo ano de 1988 em que Perfil seria lançado, a University Games licenciaria seu jogo para a Milton Bradley, uma das principais fabricantes de jogos dos Estados Unidos, hoje parte da gigante Hasbro, mas com a condição de que a Milton Bradley só poderia lançar versões do jogo fora dos Estados Unidos. Assim, seriam lançadas versões na Alemanha (com o nome de Querdenker), França (com o nome de Indix), Holanda (com o nome de Quizt't), Noruega (com o nome de 20 Spørsmål), Áustria (a única com o nome de 20 Questions), Dinamarca, Espanha e Itália (essas três com o nome de Twenty Questions). Depois que a Milton Bradley foi absorvida pela Hasbro, muitas dessas "versões internacionais" passaram a ser fabricadas pela Hasbro, sendo uma notável exceção a Querdenker, que, desde 2011, é fabricada pela própria University Games. O 20 Questions norte-americano da University Games também existe até hoje, e está em sua terceira edição.
Eu sinceramente não consegui descobrir se a Grow obteve uma licença da University Games para fazer o Perfil, ou se resolveu copiar a ideia do jogo e tudo ficou por isso mesmo, mas o fato é que Perfil tem três diferenças em relação a 20 Questions: primeiro, Perfil traz peões comuns, daqueles encontrados em qualquer jogo de tabuleiro, enquanto em 20 Questions os peões são muito simpáticos, em formato de ponto de interrogação. Segundo, e mais importante, 20 Questions só tem três categorias, equivalentes a pessoa, lugar e coisa (cujos nomes são Who, Where e What, que, em inglês, significam, respectivamente, "quem", "onde" e "o quê"); a categoria ano, porém, não é exclusiva da versão brasileira, já que a versão norueguesa tem uma categoria chamada når ("quando"). Até onde eu consegui descobrir, entretanto, todas as outras versões internacionais só têm três categorias, e em todas elas são usados os pronomes equivalentes às da original (no Querdenker, por exemplo, as categorias são Wer, Wo e Was), exceto na Twenty Questions da Espanha, onde as categorias são persona, sítio e cosa.
Outra diferença é que, enquanto o 20 Questions está em sua terceira versão, Perfil já está na sexta, com uma versão lançada a cada seis anos: o Perfil original é de 1988, Perfil 2 é de 1994, Perfil 3 (o que eu tenho) é de 2000, Perfil 4 (aquele cuja foto ilustra esse post, escolhido porque foi a melhor que eu achei, em relação a poder ver todos os componentes do jogo) é de 2006, Perfil 5 é de 2012, e a versão mais recente, Perfil 6, é de 2018. Em relação às anteriores, cada nova versão tem uma caixa de cor e design diferente, um tabuleiro de aparência diferente (mas sempre com os mesmos elementos, ou seja, 130 casas, 15 delas com os pontos de interrogação, um placar de 20 números para marcar as informações que já foram reveladas, e um com as quatro categorias para que o Mediador marque a atual) e assuntos atualizados - afinal, muitas das pessoas relevantes em 1988 podem ser desconhecidas hoje, muitas coisas novas foram inventadas, e por aí vai. Eu sou totalmente a favor dessas atualizações para que o jogo seja sempre relevante, mas, em alguns casos, eu acabo é sendo prejudicado - por exemplo, eu não vi, mas me disseram que dentre as pessoas de Perfil 6 há youtubers, e, se for verdade, estou frito, pois não conheço bem nenhum.
Além das seis edições "principais", ao longo dos anos Perfil ganhou algumas "edições especiais". A mais famosa delas é Perfil Júnior, que já teve duas edições, a primeira (Perfil Júnior 1) de 2000, a segunda (Perfil Júnior 2) de 2005. As principais diferenças das "versões júnior" são que o tabuleiro tem menos casas (62), há menos cartelas (216) e as quatro categorias são pessoa/personagem, coisa, lugar e animal; além disso, os assuntos são voltados para o público infantil, com as pessoas, os lugares e as coisas sendo de maior interesse e conhecimento das crianças. Existe uma versão especial de Perfil Júnior chamada Perfil Disney (que eu não consegui descobrir em que ano foi lançada), na qual são cinco categorias (personagem, animal, lugar, coisa e filme), e todos os assuntos são relacionados ao Universo Disney. Outra versão especial, essa do jogo "adulto", é Perfil Esportes, lançado em 2016 por ocasião das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Nessa versão, as categorias são atleta, lugar, coisa e ano, sendo que todos os lugares, coisas e anos têm a ver com esportes. O tabuleiro imita uma pista de atletismo e há 200 cartelas, mas, fora isso, o jogo é idêntico à versão original.
Para finalizar esse post, vale dizer que o 20 Questions foi uma tentativa da University Games de criar um jogo de tabuleiro baseado em uma das mais populares brincadeiras de crianças dos Estados Unidos, também chamada 20 Questions. Essa brincadeira foi criada no século XIX, e não usa nenhum tipo de objeto, nem mesmo papel e caneta, apenas a imaginação dos jogadores. As regras são as seguintes: a cada rodada, um dos jogadores será escolhido como "respondedor", e escolherá um tema, que pode ser uma pessoa, lugar, coisa ou animal. Os demais jogadores, então, terão turnos para fazer perguntas, que o respondedor deverá responder com "sim" ou "não" (por exemplo: "é maior que uma caixa de sapatos?"). Após receber a resposta, cada jogador pode fazer um palpite sobre o tema; se ele acertar, passa a ser o novo respondedor. O máximo de perguntas que podem ser feitas é vinte (por isso o nome do jogo), somando-se as perguntas feitas por todos os jogadores. Caso todas as vinte perguntas sejam usadas e nenhum jogador adivinhe qual era o tema, o respondedor o revela, e continua sendo o respondedor pela próxima rodada.
Pois bem, a intenção da University Games era criar um jogo de tabuleiro que reproduzisse a mecânica dessa brincadeira, mas acabou fazendo tudo diferente: ninguém faz pergunta nenhuma, apenas escolhe números, e recebe informações completas sobre o tema ao invés de apenas respostas "sim" ou "não". Eu até li em algum lugar enquanto pesquisava para fazer esse post que o nome do jogo está errado, e tinha que ser 20 Answers ("20 respostas").
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ResponderExcluirOlá! Se, ao final de uma derradeira rodada, tanto o mediador q leu a pergunta como o participante q acertou avançarem casas suficientes pra q seus peões cheguem no final, quem será o ganhador? O q chegou com mais pontos (mediador avança 6 e estava a duas de ganhar contra o jogador q avança 14 e estava a 4 de ganhar: mediador chegou e sobrou 4 alem das necessarias pra chegar, enquanto o jogador q acertou chegou ao fim e sobrou 10 alem das necessarias pra ganhar)? O q computa primeiro a sua pontuação e, portanto, mexe o peão primeiro (nesse caso, quem contabiliza seus pontos primeiros é o mediador ou o jogador q acertou a última pergunta?)?
ResponderExcluirNao estou achando essa resposta em nenhum lugar e se ela nao existe a quantidade de empates será imensa em jogos minimamente disputados...
Grato pela resposta!
Olá
ExcluirNunca aconteceu comigo, mas, como o manual não diz se alguém anda primeiro ou como é feito o desempate, acho que termina empatado mesmo.
Mas, como não tem como os dois andarem ao mesmo tempo (normalmente o jogador anda primeiro, depois o mediador), pode ser que o grupo decida que a vitória é de quem andou primeiro.
Execelente post parabéns pela pequisa feita que me ajudou muito pra saber a história Inicial do jogo que só encontrei aqui.
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