Pausa. Aqui no Brasil, tanto o esporte quanto o objeto com o qual ele é praticado costumam ser chamados simplesmente de "skate". Embora não se possa dizer que isso está "errado", é preciso esclarecer que o nome original da prancha com rodinhas, em inglês, é skateboard, e o nome do esporte praticado com ela é skateboarding - assim como o snowboarding é o esporte praticado usando um snowboard. Muita gente nem sabe, mas skate, em inglês, não significa "skate", e sim "patim", o singular de "patins". Por sua vez, board significa "prancha", então skateboard é algo como a "prancha de patinar", tendo esse nome porque é uma prancha com rodinhas. Como eu sou só meio chato, eu prefiro chamar o esporte de skateboarding, mas não sou contra chamar a prancha de skate. Então será assim que procederei nesse post. Fim da pausa.
O skate não tem um "criador oficial", ou seja, ninguém sabe quem foi a primeira pessoa a decidir inventar um skate. Tradicionalmente, considera-se como local de surgimento do skate a cidade de Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos, onde, no início da década de 1950, um grupo de surfistas, procurando o que fazer quando o mar não estivesse em condições para surfe, prendeu rodinhas de patins em tábuas de madeira para praticar um novo esporte que decidiram chamar de "surfe de calçada"; esses surfistas, entretanto, não podem ser considerados os inventores do skate, já que há registros, inclusive em jornais da época, de grupos de jovens que teriam feito o mesmo, não só em Los Angeles como também em outras cidades, anos antes do surgimento do "surfe de calçada" - os registros mais antigos nesse sentido, inclusive, sequer são dos Estados Unidos, mas da França, sobre um grupo de adolescentes que pregou rodinhas de patins a madeira tirada de caixotes de frutas e usou sua invenção para se locomover pelas ruas do bairro de Montmartre, em Paris, em 1944.
Seja como for, a primeira fábrica de skates surgiria em Los Angeles, em 1960, criada por Bill Richards, que, até então, tinha uma loja de pranchas de surfe. O próprio Richards fabricava seus skates, conseguindo um contrato com a fabricante de patins The Chicago Roller Skate Company para que ela fabricasse rodinhas específicas para serem usadas com eles, ao invés de usar rodas de patins adaptadas como era feito até então. Richards fornecia seus skates principalmente para seus clientes surfistas, que os usavam nas ruas como se estivessem surfando - sempre descalços, com roupas de banho e tentando imitar as mesmas manobras que faziam nas ondas. Conforme a popularidade do esporte crescia, mais e mais fábricas seriam abertas por todo o sul da Califórnia, dentre elas a Jack's, a Kips', a Hobie, a Bing's e a Makaha. Essas fábricas ajudariam a popularizar os nomes skateboard e skateboarding, com o nome "surfe de calçada" sendo, felizmente, abandonado.
Em 1963, Larry Stevenson, fundador da Mahaka, organizaria uma exibição de skateboarding aberta ao público na escola Pier Avenue Junior High, em Hermosa Beach, Califórnia. A exibição foi um sucesso tão grande que vários dos skatistas que se apresentaram seriam convidados para gravar um quadro para o programa Surf's Up, exibido por uma rede de TV local e, evidentemente, dedicado ao surfe. O sucesso do programa, por sua vez, levaria ao lançamento da primeira revista totalmente dedicada ao skateboarding, a The Quarterly Skateboarder, lançada em 1964. No ano seguinte, ocorreria o primeiro Campeonato Nacional de Skateboarding, em Anaheim, Califórnia, transmitido pela rede de televisão ABC em seu programa Wide World of Sports. Uma das primeiras skatistas de destaque, Patti McGee, seria contratada pela Hobie para percorrer o país se apresentando e dando dicas de como fazer manobras seguras no skate. No final de 1965, o skate já era uma verdadeira febre, com a Mahaka tendo faturado mais de dez milhões de dólares em vendas desde sua fundação, e o esporte sendo apresentado em vários programas de televisão dos canais ABC, NBC e CBS.
Aí, de repente e sem aviso, tudo se acabou. Como o skateboarding crescia, principalmente, dentre os adolescentes, um grupo de pais que considerava o esporte perigoso e problemático - por "transformar seus filhos em arruaceiros" e "apresentá-los às drogas e às gangues", vejam só - começou a fazer uma campanha contra os skates, divulgada em várias publicações e programas de TV. Devido a essa campanha, várias lojas de brinquedos e de material esportivo pararam de vender skates, várias fábricas fecharam, e até mesmo a The Quarterly Skateboarder foi cancelada. Em 1966, o skateboarding já era visto como uma prática marginal, com apenas poucos adeptos, e sem perspectiva de crescimento no horizonte.
O ocaso do skateboarding começaria a acabar no início da década de 1970, quando um dos principais skatistas da época, Frank Nasworthy, decidiria trabalhar na criação de um novo modelo de roda feito de poliuretano - até então, as rodas eram feitas de metal ou de pedra. As novas rodas criadas por Nasworthy seriam lançadas em 1972, por uma empresa criada por ele e batizada como Cadillac Wheels, e foram responsáveis por uma melhora tão grande na tração e na capacidade de manobra dos skates que rapidamente eles começaram a se tornar populares novamente. Diversos fabricantes aproveitariam para tentar outras novidades, como skates mais largos, mais estreitos, mais finos e até mesmo flexíveis; as duas principais modificações feitas na década de 1970 foram as hoje obrigatórias pontas curvas e um novo modelo de eixo, desenvolvido pela empresa Tracker Trucks em 1976. Um ano antes, em 1975, a The Quarterly Skateboarder voltaria a ser publicada, mas com o nome de apenas Skateboarder, o qual mantém até hoje.
Também em 1975, seria realizado o maior campeonato de skateboarding até então, o Del Mar National Championships, patrocinado pela Cadillac Wheels e pela loja Bahne Skateboards, que contou com mais de 500 participantes. O vencedor foi a futura lenda do esporte Russ Howell, mas o campeonato também se tornaria famoso por causa de uma equipe conhecida como Zephyr Team, composta de 12 skatistas, dentre eles Jay Adams, Tony Alva, Peggy Oki e Stacy Peralta. Em uma espécie de retorno às origens, o Zephyr Team introduziria manobras inspiradas nas dos maiores surfistas da época, e faria tanto sucesso que a Skateboarder decidiria fazer uma série de reportagens com o grupo, que se tornaria conhecida como The Dogtown Articles. Após essa série de reportagens, o grupo se tornaria conhecido como os Z-Boys, sendo hoje considerado uma das equipes mais influentes da história do skateboarding.
Em 1976, nas cidades de Port Orange, Flórida, e San Diego, Califórnia, seriam inaugurados os dois primeiros skate parks do mundo - locais próprios para a prática do skateboarding, com todos os elementos necessários para se praticarem todas as modalidades e se realizarem provas de campeonatos. Seu sucesso seria tão grande que outros 200 skate parks seriam inaugurados nos Estados Unidos somente entre 1976 e 1982. Conforme a popularidade do esporte crescia, também começariam a surgir vários campeonatos com prêmios em dinheiro, bem como um sistema para ranquear os skatistas considerados profissionais, de acordo com sua habilidade e competência.
Ainda em 1976, uma seca severa na Califórnia fez com que a maioria das piscinas ficasse completamente vazia, e um grupo de skatistas liderados por Ty Page, Bruce Logan, Bobby Piercy e Kevin Reed aproveitaria para criar novas manobras dentro dessas piscinas. Logo, piscinas "falsas" seriam colocadas nos skate parks, e o skateboarding entraria na década de 1980 com um grande aumento em seu número de praticantes, atraídos pela possibilidade de novas manobras. A década de 1980 também viu muitos skatistas profissionais se tornarem "empresários" do esporte, abrindo lojas, fábricas ou skate parks, o que contribuiu para um maior nível de profissionalismo, que se refletiu em segurança, qualidade e, principalmente, popularidade. Essa popularidade cresceu tanto durante a década de 1990 que um estudo feito em 2001 mostrou que, nos Estados Unidos, mais adolescentes andavam de skate do que jogavam beisebol - até então o esporte dominante entre a população de 12 a 18 anos.
Hoje, o skateboarding é considerado o esporte que mais cresce no mundo - e sua inclusão nas Olimpíadas com certeza é um reflexo desse crescimento, já que o COI deseja atrair mais jovens para a audiência dos Jogos Olímpicos. Mais do que um esporte, aliás, o skate hoje é considerado uma cultura e um modo de vida, com todo um jeito próprio de se vestir e se comportar. Skatistas famosos como Tony Alva, Tony Hawk, Christian Hosoi, Steve Caballero e o brasileiro Bob Burnquist são considerados verdadeiras lendas do esporte mundial, com milhares de jovens almejando seguir seus passos e recriar suas manobras. Apesar de tudo, entretanto, o skateboarding ainda sofre uma boa dose de preconceito, sendo considerado por muitos como perigoso, e por outros como pouco mais que um passatempo de desocupados.
Assim como todo esporte, o skateboarding precisava de uma federação internacional se quisesse garantir três elementos: que todos os seus praticantes pudessem competir sob as mesmas regras, que a essência do skateboarding fosse preservada e que o esporte se espalhasse pelo maior número possível de países. A fundação da primeira, porém, demorou um pouquinho: somente em 2004 seria criada a Federação Internacional de Skateboarding (ISF), e, assim mesmo, de uma forma nada tradicional: em 2000, começariam negociações para que o skateboarding fosse incluído nas Olimpíadas, e a forma mais fácil de isso acontecer seria se uma federação de um esporte já olímpico considerasse o skateboarding como uma de suas modalidades; a União Internacional de Ciclismo se mostrou disposta a começar a regular o skateboarding internacionalmente com esse propósito, e começou a se preparar nesse sentido. Entretanto, um grupo de skatistas profissionais liderados por Gary Ream, dono desde 1982 de um skate park em Aaronsburg, Pensilvânia, foi contra, dizendo que era um absurdo gente sem nenhuma experiência com a cultura, regras e personagens do skateboarding regulá-lo internacionalmente, e se reuniu para fundar sua própria federação internacional, cujos atletas filiados se comprometeram a boicotar quaisquer torneios internacionais organizados por outra entidade. Isso enterrou os planos da UCI, mas também adiou a estreia do skateboarding nas Olimpíadas.
Não me pergunte como o skateboarding sobreviveu durante cinquenta anos sem uma federação internacional porque eu não sei, mas parece que a fundação da ISF fez com que todo mundo atentasse para o fato de que ele ainda não tinha uma. Cinco anos depois, em 2009, as federações nacionais de Estados Unidos, Reino Unido e África do Sul decidiriam se unir e fundar a Federação Mundial de Skateboarding (WSF), que existe até hoje; no ano seguinte, foi a vez da Federação Internacional de Esportes sobre Rodas (FIRS), que já regulava a patinação, decidir que o skateboarding também é um "esporte sobre rodas", e resolver regulá-lo também. Tanto ISF quanto WSF e FIRS passaram a organizar campeonatos, publicar rankings de skatistas e clamar para si o direito de incluir o skateboarding nos Jogos Olímpicos. Nesse quesito, a FIRS levava vantagem: ela já era uma federação reconhecida pelo COI, enquanto WSF e ISF sequer cumpriam os requisitos para reconhecimento.
O COI, contudo, tinha uma opinião parecida com a de Ream: ao mesmo tempo em que via vantagem em incluir o skateboarding nas Olimpíadas através da FIRS, sabia que a experiência maior da federação era com a patinação, e temia que um campeonato de skateboarding organizado por ela não fosse tão interessante quanto um organizado por quem realmente tinha experiência com esse esporte. Assim, em 2014, o COI começou a conversar tanto com a FIRS quanto com a ISF; sabendo que não podia reconhecer a ISF por causa da ausência de requisitos, ele planejava que ambos os órgãos se fundissem, com o pessoal da ISF passando a integrar a FIRS. O acordo para a fusão sairia em 2016; desde então, a ISF deixaria de existir como federação internacional, mas existe ainda como o órgão da FIRS responsável por organizar todos os principais campeonatos internacionais de skateboarding do planeta, incluindo o dos Jogos Olímpicos. Para terminar essa história, só falta dizer que, seguindo uma tendência mundial das federações internacionais de mudar seu nome para "World e o nome do esporte" (como World Rugby, World Archery e World Sailing), após o acordo a FIRS mudaria de nome para World Skate - lembrando que skate em inglês significa "patim", então a mudança de nome não tem nada a ver com o skateboarding.
A World Skate reconhece seis modalidades do skateboarding - que, no meio esportivo, não são conhecidas como "modalidades", e sim como "estilos". O mais antigo dos estilos é o estilo livre, também conhecido como freestyle, flatland ou flatline, criado na década de 1960, e, durante um bom tempo, o único estilo que existia. Embora o estilo livre ainda seja considerado, por questão de tradição, um estilo válido tanto pela World Skate quanto pela WSF, seus últimos campeonatos profissionais internacionais foram realizados durante a década de 1990; desde então, suas manobras acabaram incorporadas a outro estilo que se mostrou mais popular, o street, e não havia razão para WSF e ISF, após fundadas, organizarem campeonatos internacionais - campeonatos profissionais nacionais e regionais, entretanto, ainda podem sem encontrados em alguns países, organizados por suas respectivas federações nacionais. Vale dizer que o estilo livre foi o responsável pelo surgimento da primeira "federação internacional" do skate, a Associação Mundial de Skateboarding Freestyle (WSFA), fundada por um grupo de skatistas norte-americanos no ano 2000. A WSFA existe até hoje, mas, apesar do nome, só organiza campeonatos nos Estados Unidos.
O estilo livre é o mais simples dos estilos: sob o som de música, o skatista tem um tempo-limite, determinado pela organização do evento, para apresentar uma determinada quantidade de movimentos, conhecidos como truques, que se dividem em obrigatórios (aqueles que todos os skatistas devem apresentar) e livres (aqueles de livre escolha dos skatistas, que podem acrescentá-los à sua rotina ou não). Cada truque vale uma determinada quantidade de pontos se executado corretamente, e cada skatista é avaliado por um painel de jurados, que confere os pontos que acreditam que cada truque merece; esses pontos são então somados para se determinar a nota de cada jurado, e as notas de todos os jurados são somadas para se determinar a nota do skatista naquela apresentação. Após uma ou mais apresentações, o skatista com a maior nota é declarado vencedor. A área de competição é apenas um trecho comprido de chão, que deve ser totalmente plano, sem qualquer elevação ou inclinação - por isso os nomes flatland ("chão plano") e flatline ("linha plana").
O skate usado no estilo livre é o "modelo padrão", aquele que pode ser encontrado em qualquer loja na qual skates sejam vendidos. A prancha é feita de madeira, e deve ter entre 71 e 84 cm de comprimento por entre 18 e 27 cm de largura. Todas as partes metálicas, como os eixos, são feitas de uma liga de alumínio, que garante maior resistência sem resultar em aumento significativo de peso. As rodas são feitas de poliuretano, e podem ser encontradas em vários tamanhos e graus de dureza. A dureza é medida com um instrumento chamado durômetro, e representada por uma letra de A a D (sendo que cada letra usa uma escala diferente para o durômetro, ficando a cargo do fabricante escolher a escala) seguida de um número de 75 a 100, sendo que, quanto maior o número, mais dura a roda - embora, curiosamente, a mais dura de todas seja a A101. Já o tamanho costuma ser dividido em pequeno (entre 48 e 54 mm de diâmetro), médio (entre 55 e 65 mm) e grande (entre 66 e 85 mm). O diâmetro interfere na velocidade - quanto maior a roda, mais veloz o skate - enquanto a dureza interfere na capacidade de manobra - rodas mais macias proporcionam mais aderência ao chão.
O segundo estilo a surgir foi o slalom, criado no final da década de 1960 como uma forma de os skatistas demonstrarem suas habilidades na condução do skate em velocidade; no início da década de 1970, começaram a surgir as primeiras competições de slalom com prêmios em dinheiro, e alguns skatistas da época, como Henry Hester, Bobby Piercy e John Hutson, fizeram fama competindo neste estilo. No final da década de 1970, entretanto, o slalom foi perdendo espaço, substituído na preferência dos skatistas pelos estilos mais recentes. Hoje ele ainda existe, mas não é um estilo muito popular, tanto que nem a World Skate nem a WSF organizam competições internacionais profissionais, ficando a organização de campeonatos como o Mundial a cargo da Associação Internacional de Skateboarding Slalom (ISSA), fundada em 2001.
O slalom usa o skate padrão, mas levemente modificado. Em primeiro lugar, para facilitar as manobras, ele deve ser o menor possível, com entre 71 e 75 cm de comprimento por entre 18 e 20 cm de largura; alguns skatistas, inclusive, preferem modelos cujas pontas, ao invés de serem levemente curvas para cima, são retas e "bicudas", como a ponta de uma prancha de surf. As rodas costumam ser grandes e macias, levemente inclinadas, e os eixos são próprios para o estilo, contando com materiais como fibra de carbono e núcleo de espuma. Um skate de slalom também costuma ser mais "bambo" que os demais, inclinando facilmente para a direita e a esquerda com o peso do skatista. Os equipamentos de proteção para o skatista incluem capacete do tipo aberto, cotoveleiras, joelheiras, caneleiras e calçados fechados; fora isso, o restante da vestimenta é de livre escolha do skatista.
O slalom é disputado em uma pista que o skatista deverá percorrer enquanto desvia de uma série de cones. Ele deve passar pelos cones por lados alternados, ou seja, um cone pela direita, o seguinte pela esquerda, o seguinte pela direta, e assim sucessivamente. Existem dois tipos de provas, a chamada single lane, na qual os skatistas competem um a um, e o vencedor é aquele que completar a pista no menor tempo, e a chamada dual lane, na qual os skatistas são pareados dois a dois e, a cada confronto, o vencedor avança e o perdedor é eliminado, até que só reste o campeão. Campeonatos de dual lane possuem sempre uma fase qualificatória disputada em single lane no primeiro dia, para que os skatistas sejam pareados de acordo com seus tempos - em todas as fases, o de melhor tempo na fase anterior enfrenta o de pior tempo, o de segundo melhor o de segundo pior, e assim sucessivamente. Pelas regras da ISSA, cada cone derrubado acrescenta 0,2 s ao tempo do skatista, e um skatista é desclassificado se derrubar 20% dos cones mais um, mas muitos torneios nacionais e regionais usam uma regra diferente, segundo a qual cada skatista tem direito a derrubar um número pré-determinado de cones sem qualquer penalidade, sendo desclassificado se derrubar mais cones do que isso.
A ISSA reconhece cinco disciplinas do slalom: straight parallel slalom (ou SPS), tight slalom, hybrid slalom (ou special slalom), giant slalom e super giant slalom (ou SuperG). A principal diferença entre elas está na distância entre os cones: para o SPS deve estar entre 1,8 e 2,1 m, para o tight slalom entre 1,7 e 2 m, para o hybrid slalom entre 2 e 3 m, para o giant slalom entre 3 e 5 m, e para o SuperG entre 5 e 15 m. Outra diferença é que o SPS e o tight slalom podem ser disputadas em pistas planas ou inclinadas, enquanto as outras três são obrigatoriamente disputadas em pistas inclinadas, com a pista do SuperG tendo curvas para a direita e esquerda, enquanto as dos demais são sempre linhas retas. Provas disputadas em pistas planas possuem, no início da pista, a no mínimo 4 m do primeiro cone, uma rampa, com entre 75 cm e 2 m de altura e inclinação de 45 graus, que os skatistas usarão para pegar velocidade no início da prova. Em todas as disciplinas os cones devem ter diâmetro da base entre 12 e 16 cm, altura entre 20 e 26 cm, serem feitos de plástico e ocos; a distância entre um cone e outro é medida de centro a centro. Campeonatos internacionais sempre usam 50 cones por prova, mas a ISSA permite que seja usado qualquer número entre 25 e 100 cones. A distância total da pista depende não só do número de cones usados, mas também da disciplina (uma prova de tight slalom com 25 cones a 1,7 m um do outro usará uma pista de 42,5 m, enquanto uma de SuperG com 100 cones a 15 m um do outro usará uma pista de 1,5 km).
O terceiro estilo a surgir foi o downhill, criado na década de 1970 nas montanhas da cidade de Signal Hill, Califórnia. Existem duas modalidades do downhill: atualmente, a mais popular é o street luge ("luge de rua"), também conhecido como land luge ("luge de chão") ou road luge ("luge de estrada"), no qual os skatistas usam um skate especial, e competem deitados nele de barriga para cima, como no luge, o esporte de inverno do qual pegou seu nome emprestado; já no speed run ("corrida de velocidade") é usado um skate comum, mas bem mais comprido que o normal, conhecido como longboard, e o skatista se posiciona de pé, podendo assumir posições como agachado ou curvado com as mãos para trás durante a descida, para reduzir o atrito e aumentar a velocidade.
O street luge foi a primeira versão a surgir, em 1975, em um campeonato realizado em Signal Hill, no qual o vencedor seria aquele que alcançasse a maior velocidade durante a descida, independentemente do tempo que levasse para completar o percurso. Evidentemente, logo os skatistas perceberam que descer deitado gerava mais velocidade, devido ao menor atrito com o ar, e todo mundo começou a se deitar no skate, criando um novo esporte. Atualmente, além da World Skate, outras duas entidades organizam campeonatos internacionais profissionais de street luge, a Associação Internacional de Esportes de Gravidade (IGSA), fundada em 1994, mas que organiza competições de street luge desde 2001, e a Federação Internacional de Downhill (IDF), fundada em 2003; a WSF não organiza competições internacionais dessa modalidade.
Desde 1994, o street luge possui duas disciplinas, uma delas também conhecida como street luge, a outra chamada de classic luge, sendo que o classic luge surgiu porque os custos dos skates para a prática do street luge estavam se tornando cada vez mais elevados, suas velocidades cada vez maiores, e suas provas cada vez mais perigosas; o classic luge, então, foi criado para se tornar uma alternativa mais barata e mais segura para quem quisesse competir mas não quisesse se aventurar ou gastar uma fortuna. Hoje, um skate de street luge é feito de materiais resistentes como aço, alumínio e fibra de carbono, e os dos profissionais são feitos sob medida para seu corpo, diferentemente dos "modelos padrão" que podem ser encontrados em lojas. Curiosamente, as regras não determinam tamanho mínimo ou máximo para o skate, então ele é feito de forma a acomodar confortavelmente o corpo do skatista ao mesmo tempo em que garante o menor atrito e a máxima velocidade - ou seja, nem muito pequeno, nem muito grande em comparação com corpo do skatista. Mais curiosamente ainda, as regras também não estabelecem número mínimo ou máximo de rodas, embora todos usem quatro. Já um skate de classic luge é feito de madeira, alumínio e poliuretano, deve ter no máximo 1,24 m de comprimento e 30 cm de largura, e deve ter obrigatoriamente quatro rodas. Em ambas as disciplinas, é proibido o uso de freios mecânicos no skate, assim como a presença de qualquer parte que encubra o corpo do skatista ou dificulte sua frenagem. Também em ambas as disciplinas é obrigatório que o skate tenha um reforço extra na parte da frente e na de trás, e que os competidores usem capacete fechado, com apoio para o queixo e viseira, além de jaqueta, calça e luvas de couro ou kevlar, e de botas especiais que cubram todo o pé e os tornozelos. Finalmente, embora no street luge seja obrigatório competir deitado, no classic luge o skatista pode competir sentado se desejar. O recorde de velocidade obtido por um atleta do classic luge pertence ao norte-americano Frank Williams, que, em 2017, alcançou 150,42 km/h; já o do street luge pertence ao também norte-americano Mike McIntyre, que, em 2016, alcançou 164,12 km/h.
As primeiras competições de speed run surgiram em 1993, embora o esporte já fosse praticado por diversão desde a década de 1970. A invenção que permitiu o speed run competitivo foi um novo tipo de eixo criado naquele ano pela fabricante Sector 9, especializada em longboards, que deixou esse tipo de skate muito mais estável e mais fácil de manobrar em altas velocidades. Hoje, um longboard deve ter entre 84 cm e 1,5 m de comprimento, e entre 22,8 e 25,4 cm de largura, sendo feito de madeira e alumínio, com rodas de poliuretano com diâmetro entre 65 e 100 mm. Como as velocidades alcançadas são menores, os equipamentos de proteção obrigatórios são somente o capacete, que deve ser inteiro e com apoio para o queixo, mas pode ou não ter viseira, luvas especiais conhecidas como slide gloves, feitas de couro com um reforço de polímeros sintéticos nas palmas, cotoveleiras e joelheiras, embora todos os skatistas profissionais também usem jaqueta e calça de couro e protetores especiais para a coluna vertebral. O recorde de velocidade pertence ao britânico Peter Connolly, que, em 2017, alcançou 143,73 km/h. Campeonatos internacionais de speed run são organizados pela World Skate, pela WDF e pela IDF.
Seja no street luge, no classic luge ou no speed run, existem quatro tipos de provas de downhill. O primeiro é a prova de eliminação, na qual os skatistas são agrupados em baterias de 2, 4 ou 6 skatistas de cada vez, e, em cada uma delas, um número pré-determinado de skatistas que cruzar primeiro a linha de chegada (normalmente o primeiro ou os dois primeiros) se classifica para a fase seguinte, enquanto os demais são eliminados. Pode ocorrer de, após todas as baterias de uma fase, também se classificarem alguns por tempo, para completar as baterias seguintes, ou que os "perdedores" não sejam eliminados, mas tenham de disputar uma repescagem, em um sistema conhecido como "eliminação dupla". Seja como for, sucessivas fases são disputadas até que só reste uma quantidade de skatistas necessária para disputar uma última bateria, a final, na qual o primeiro a cruzar a linha de chegada será o vencedor. O segundo tipo é parecido, e se chama prova dos pontos; a única diferença é que, nas baterias, os skatistas são arrumados de forma que todos disputem pelo menos uma bateria contra todos os demais (ou seja, se forem 20 skatistas, ele deve disputar uma bateria contra cada um dos outros 19). Ao invés de serem eliminados, os skatistas ganham pontos de acordo com sua colocação em cada bateria. Depois que todos tiverem se enfrentado, aqueles com mais pontos avançam para uma bateria final, na qual o vencedor será o campeão.
O terceiro tipo de prova é a contra o relógio, na qual cada skatista desce o percurso sozinho, tendo seu tempo anotado. Após uma ou mais tentativas para cada um, aquele que tiver cumprido o percurso em menos tempo será o vencedor. E o quarto e último tipo é o mais simples, a largada em massa, no qual todos os skatistas inscritos largam juntos e descem o percurso ao mesmo tempo, com aquele que cruzar a linha de chegada em primeiro lugar sendo o campeão. Seja qual for o tipo de prova, competições de downhill são sempre realizadas em estradas de montanhas - pois o skatista deve se locomover apenas com a força da gravidade, por isso se diz que ele está "descendo" o percurso, e por isso o nome downhill, "descer a montanha" em inglês - e o percurso costuma ter entre 1 e 5 km de extensão, contando com várias curvas no caminho.
Os dois estilos seguintes surgiram quase que simultaneamente, durante a seca braba que assolou a Califórnia em 1976. O primeiro deles foi o bowl (palavra que significa "tigela" em inglês), criado quando os skatistas decidiram usar piscinas vazias para andar de skate no fundo e nas paredes. O bowl é disputado em um local também chamado bowl, que, originalmente, era apenas uma "piscina falsa" (ou seja, construída sem a menor intenção de que um dia fossem enchê-la com água), mas que hoje são verdadeiras obras de engenharia, cheios de seções côncavas e convexas e com paredes tendo inclinações em vários ângulos diferentes. O bowl usa um skate do modelo padrão, o mesmo tipo do estilo livre. Os skatistas devem usar obrigatoriamente caneleiras, joelheiras, cotoveleiras, calçados fechados e capacetes do tipo aberto, sendo o restante de sua vestimenta de sua livre escolha.
Em uma competição de de bowl, os skatistas entram no bowl um por um, e cada um tem 40 segundos para apresentar o maior número possível de manobras. Cada manobra é julgada por um painel de seis juízes, que confere uma nota de 0 a 100 ao skatista, levando em conta critérios como dificuldade da manobra apresentada, variedade na escolha de seções do bowl, fluidez entre uma manobra e outra, estética da manobra e, principalmente, perfeição na execução da manobra. As seis notas são então somadas para se determinar a nota final do skatista naquela apresentação; dependendo do etapa do campeonato, cada skatista terá direito a três ou quatro apresentações, com as notas de todas elas somadas para se determinar sua nota final naquela etapa. Campeonatos organizados pela World Skate sempre possuem três etapas: a qualificatória, da qual participam todos os skatistas inscritos; a semifinal, da qual participam os 22 melhores da qualificatória; e a final, da qual participam os oitos melhores da semifinal.
O segundo estilo a surgir nas piscinas da Califórnia foi o vert (de "vertical"). O vert é disputado em uma área chamada vert ramp, que é bastante semelhante ao half-pipe usado no esqui e no snowboarding - half-pipe significa "meio cano", e um half-pipe é justamente isso, uma pista ligeiramente em formato de U, como se fosse um cano enorme cortado no sentido transversal. Feita de madeira e ferro, a vert ramp de skateboarding tem um fundo plano com entre 4 e 5 m de comprimento; de cada lado desse fundo há um quarto de círculo de 4,394 m de raio e aproximadamente 7 m de comprimento, seguido de uma parede vertical com entre 15 e 61 cm de altura. É justamente essa parede que diferencia uma vert ramp de um half-pipe, pois, graças a ela, o skatista é jogado diretamente para cima ao sair da vert ramp em velocidade, sendo mais fácil retornar apenas com a força da gravidade. Uma vert ramp tem entre 3,4 e 4,3 m de altura, sendo mais baixa que um half-pipe de esportes de inverno (que tem cerca de 7 m de altura).
Uma competição de vert é bastante parecida com uma de bowl: os skatistas entram na vert ramp um por um, têm 40 segundos cada para apresentar as manobras, são julgados por um painel de seis jurados, as notas dos jurados são somadas para se determinar a nota daquela apresentação, as notas de cada apresentação (3 ou 4) são somadas para determinar a nota da etapa, e os melhores de uma etapa passam para a etapa seguinte, até que os melhores disputem a final e o melhor de todos seja o campeão. A diferença entre o vert e o bowl é que as manobras do vert só podem ser feitas enquanto o skatista está no ar, ou seja, ele usa a vert ramp para pegar velocidade e, quando sai dela, antes de voltar, faz uma manobra. Normalmente, um skatista consegue realizar entre 4 e 6 manobras durante cada apresentação. Alguns campeonatos (como os X-Games) conferem pontos extras a cada skatista de acordo com a altura que eles alcançam a sair da vert ramp para executar as manobras.
Na década de 1990, seria criado um novo tipo de estrutura para a prática do vert, hoje conhecido como megarrampa - nome que, acreditem ou não, é registrado pela empresa norte-americana MegaRamp. Quem inventou a megarrampa não foi um skatista, mas um atleta do BMX, o norte-americano Mat Hoffman, em 1991; quem teve a ideia de trazê-la para o skate foi o também norte-americano Danny Way, em 2002. Uma megarrampa consiste de uma rampa enorme, com 12 m ou mais de comprimento (sendo que a maior do mundo pertence ao skatista brasileiro Bob Burnquist, e tem 59 m de comprimento), seguida por uma seção plana de aproximadamente 7,5 m de comprimento, que termina em um quarto de círculo de 5 m de raio e aproximadamente 8 m de comprimento. O skatista usa a rampa e a seção plana para tomar velocidade e o quarto de círculo para levantar voo e transpor uma segunda seção de 7,5 m de comprimento, para aterrissar em "metade de uma vert ramp", com aproximadamente 5,4 m de altura. Depois disso tudo, ao sair da vert ramp, ele faz uma manobra e retorna. Pontos são conferidos pela velocidade obtida na rampa, pelo comprimento do salto, pela altura ao sair da vert ramp, e, lógico, pela manobra realizada.
A World Skate organiza campeonatos de bowl e vert (mas não de megarrampa), agrupando ambos sob o nome park. Seu principal campeonato nesse estilo é o Campeonato Mundial de Skateboarding Park, realizado anualmente desde 2016. O park será um dos dois eventos das Olimpíadas de 2020, contando com competições masculinas e femininas de bowl. A WSF também organiza competições de bowl e de vert (mas não de megarrampa), usando os nomes separados dos estilos. Competições de megarrampa são organizadas por empresa privadas, a principal delas sendo a MegaRamp.
O estilo mais recente é o street, que surgiu nas ruas de Los Angeles na década de 1980, quando skatistas decidiram adicionar a suas exibições de estilo livre elementos encontrados nas ruas, como rampas, corrimãos, caixas de correio etc. Hoje, o street é disputado em uma seção do skate park que contém diversos desses elementos, conhecidos como obstáculos. Uma competição de street é igualzinha a uma de bowl: os skatistas entram na área de competição um por um, têm 40 segundos cada para apresentar as manobras, são julgados por um painel de seis jurados, as notas dos jurados são somadas para se determinar a nota daquela apresentação, as notas de cada apresentação (3 ou 4) são somadas para determinar a nota da etapa, e os melhores de uma etapa passam para a etapa seguinte, até que os melhores disputem a final e o melhor de todos seja o campeão. O tipo de skate e os equipamentos de proteção também são os mesmos.
Tanto a World Skate quanto a WSF organizam campeonatos de street, que será o outro dos dois estilos presentes nas Olimpíadas de 2020, com uma prova masculina e uma feminina. O campeonato mais importante de street da World Skate é o Campeonato Mundial de Skateboarding Street, realizado anualmente desde 2014.
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