O sonho do Brasil de sediar uma Olimpíada não é tão recente quanto se imagina: a primeira vez em que o Rio de Janeiro se candidatou a sede olímpica foi para os Jogos de 1936, embora, na ocasião, não tenha recebido um único voto sequer. Após uma pré-candidatura de Brasília a sede dos Jogos de 2000, desistindo antes de a votação começar, o Rio de Janeiro voltaria a ser candidato a sede para 2004, com uma campanha que incluiu criação de logotipo, venda de produtos com a marca e propagandas em rádio e TV, mas a cidade seria reprovada ainda durante a inspeção do COI, antes mesmo de se iniciar a votação. O mesmo aconteceria em 2012, na terceira vez em que o Rio de Janeiro se candidataria, mais uma vez sendo reprovado na inspeção do COI e não chegando à votação.
Após a derrota em 2012, o Comitê Olímpico Brasileiro decidiria ousar e apresentar uma nova candidatura, totalmente reformulada, já para a edição seguinte dos Jogos, em 2016. Deu certo - embora houve quem estranhasse o fato de uma cidade rejeitada antes mesmo da votação em uma edição vencer a votação na edição seguinte, suspeitando de compra de votos e corrupção no COI, o que nunca foi provado. Após quatro rodadas de votação, o Rio de Janeiro superaria a norte-americana Chicago, a japonesa Tóquio e a espanhola Madri para se tornar a primeira cidade brasileira a sediar uma Olimpíada.
O Comitê Organizador Local optaria por dividir as competições em quatro polos: Maracanã, Copacabana, Barra da Tijuca e Deodoro. A maior parte das instalações usadas ficaria na Barra, no moderno Parque Olímpico, que seria construído para o evento no local do antigo Autódromo Internacional Nelson Piquet, reaproveitando algumas das construções feitas para os Jogos Pan-Americanos de 2007, sediados também pelo Rio de Janeiro, e incluiria a Arena Carioca 1 (basquete), a Arena Carioca 2 (judô e luta olímpica), a Arena Carioca 3 (esgrima e taekwondo), a Arena do Futuro (handebol), a Arena Rio Olímpico (ginástica), o Parque Aquático Maria Lenk (saltos ornamentais, nado sincronizado e polo aquático), o Estádio Aquático Olímpico (natação e polo aquático), o Centro Olímpico de Tênis e um novo Velódromo, já que o do Pan não pôde ser aproveitado por não ter sido construído de acordo com as regras da União Ciclística Internacional. A promessa feita pelo governo era de que, após o fim das Olimpíadas, a Arena do Futuro seria desmontada e seus materiais reaproveitados em escolas públicas da cidade, a Arena Carioca 3 se transformaria ela mesma em uma escola pública, e o Estádio Aquático seria convertido em duas piscinas olímpicas para uso da população; a realidade, infelizmente, é que, desde o final de 2016, o Parque Olímpico se encontra fechado, à beira do abandono.
Dois dos esportes mais populares das Olimpíadas, entretanto, não seriam disputados no Parque Olímpico. O atletismo teria como casa o Estádio João Havelange (hoje rebatizado para Estádio Nílton Santos, mas mais conhecido por seu apelido, Engenhão, por se localizar no bairro do Engenho de Dentro), outra das instalações originalmente construídas para o Pan, enquanto o futebol não pôde deixar passar a chance de ter suas partidas na cidade disputadas no tradicional Estádio Mário Filho, mundialmente conhecido como Maracanã - que também foi palco das Cerimônias de Abertura e de Encerramento. Como já é tradicional nas Olimpíadas, o Rio de Janeiro, apesar de sede do evento, não seria a única sede do futebol, que, além de jogos no Maracanã e no Engenhão, teria partidas realizadas em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Manaus - todas em estádios construídos para a Copa do Mundo de Futebol, que seria realizada no Brasil dois anos antes das Olimpíadas, em 2014.
O Comitê Organizador e a Prefeitura do Rio de Janeiro também demonstrariam grande preocupação em tornar os jogos ecologicamente corretos: elementos como os pódios e placas de publicidade seriam 100% feitos de materiais recicláveis, e até mesmo as medalhas de prata e bronze, além das faixas usadas para pendurar todos os três tipos de medalhas nos pescoços dos atletas, contariam com materiais reciclados em sua composição. Uma das maiores tradições das Olimpíadas, a de os atletas receberem um pequeno buquê de flores junto com a medalha, seria quebrada no Rio de Janeiro, sob a alegação de que isso seria desperdício de recursos naturais, já que estudos demonstravam que quase a totalidade dos atletas descartavam as flores pouco após a cerimônia. A Pira Olímpica também seria bem menor que as das edições anteriores, usando um efeito de movimento para fazer parecer que suas chamas eram maiores do que na realidade, para economizar gás - embora a Prefeitura tenha decidido instalar uma segunda Pira na Candelária, em local aberto, para visitação e fotos, já que a original ficava dentro do Estádio do Maracanã, ao qual só se tinha acesso com ingressos, então, no fim das contas, as duas Piras juntas acabaram consumindo até mais gás, por exemplo, que a Pira de 2012, que era bem maior. Outros projetos ecológicos, como a despoluição da Baía de Guanabara, reformas no sistema de esgotos da cidade e o plantio de 24 milhões de árvores para compensar o impacto ambiental das obras realizadas para os Jogos, teriam resultados bem abaixo do esperado, por motivos financeiros ou por atrasos, o que também acabou impactando no projeto original.
O revezamento da Tocha Olímpica, por determinação do COI, deveria ficar restrito à Grécia e ao país-sede, para evitar voltas ao mundo como as que ocorreram em 2004 e 2008; para 2016, porém, o presidente do COI, o alemão Thomas Bach - em sua primeira edição dos Jogos Olímpicos à frente do Comitê - abriria uma exceção: após sair da Grécia, a Tocha passaria pela Suíça, onde ficaria alguns dias exposta na sede do COI, no Museu Olímpico (ambos em Lausanne) e no Escritório das Nações Unidas em Genebra, antes de partir para o revezamento propriamente dito, que percorreria nada menos que 328 cidades brasileiras, incluindo a capital federal, Brasília, e as capitais dos outros 25 estados. Como de costume, a Tocha chegaria ao Maracanã no momento da Cerimônia de Abertura, entrando no estádio pelas mãos de Gustavo Kuerten, o Guga, tenista tricampeão do Aberto da França, em Roland Garros. Guga passaria a Tocha para Hortência Marcari, campeã mundial de basquete em 1994 e considerada por muitos como a maior jogadora de basquete da história do Brasil, que, por sua vez, a passaria a Vanderlei Cordeiro de Lima, maratonista que, nos Jogos Olímpicos de 2004, foi atacado durante a prova pelo ex-padre irlandês Cornelius Horan, mas, mesmo assim, concluiu a prova em terceiro lugar, ganhando uma Medalha de Bronze. Coube a Vanderlei a honra de acender a Pira, em uma homenagem mais que justa a seu espírito olímpico - após a cerimônia, chegou-se a noticiar que, na verdade, quem acenderia a Pira seria Pelé, tricampeão mundial de futebol e considerado por muitos como o maior jogador de futebol da história do planeta, que teria declinado do convite por motivos de saúde, mas essas notícias não foram confirmadas.
Os Jogos do Rio de Janeiro seriam realizados entre 5 e 21 de agosto de 2016 - o que fez com que essa fosse a primeira edição de uma Olimpíada de Verão integralmente disputada durante o inverno - e estabeleceriam um novo recorde no número de atletas participantes, nada menos que 11.238, representando 207 delegações. Dentre elas, uma grande novidade: pela primeira vez, competiu em uma Olimpíada o Time Olímpico de Refugiados, composto por dez atletas que tiveram de fugir de seus países de origem e buscar abrigo em outras nações devido à guerra, à fome ou à perseguição étnica, política ou religiosa. Esses atletas competiram não sob a bandeira de seu país de origem ou do país que os acolheu, mas sob a bandeira dos anéis olímpicos, principalmente para que não contassem para o limite de atletas por prova nem do país de origem, nem do que os acolheu. Faziam parte do Time Olímpico de Refugiados cinco atletas do Sudão do Sul (acolhidos pelo Quênia), um da Etiópia (acolhido por Luxemburgo), dois da República Democrática do Congo (acolhidos pelo Brasil) e dois da Síria (um acolhido pela Bélgica, um pela Alemanha).
É importante não confundir o Time Olímpico de Refugiados com a equipe dos Participantes Independentes, que, no Rio de Janeiro, fez sua quinta aparição (as outras foram em 1992, 2000, 2012 e nas Olimpíadas de Inverno de 2014), dessa vez sendo composto por nove atletas do Kuwait, cujo comitê olímpico estava suspenso por interferência governamental, que obtiveram autorização para competir sob a bandeira dos anéis olímpicos. Os Participantes Independentes ganhariam no Rio de Janeiro sua primeira Medalha de Ouro na história dos Jogos, com Fehaid Al-Deehani na fossa dublê masculina, além de uma medalha de bronze com Abdullah Al-Rashidi no skeet masculino, ambas provas do tiro; como não podia ser tocado o hino do Kuwait, no pódio de Al-Deehani foi tocado o hino olímpico.
Uma das principais delegações do Jogos por pouco não ficou de fora dessa edição: às vésperas das Olimpíadas, em dezembro de 2014, começaram a surgir indícios de que havia um grande esquema de doping, com participação do governo, dentre os atletas da Rússia. Quase um ano depois, em novembro de 2015, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) suspenderia a Rússia de todas as competições internacionais desse esporte, alegando não ser possível verificar se os atletas russos estavam competindo dopados ou não. Após denúncias de que houve um grande esquema governamental para acobertar doping que levaria a Rússia ao topo do quadro de medalhas das Olimpíadas de Inverno de 2014, realizadas em Sochi, naquele país, a Agência Mundial Anti-Doping (WADA) decidiria realizar vários testes e investigações para chegar ao fundo da questão, mas se veria impedida por membros do governo russo, que dificultariam as investigações de propósito e intimidariam os agentes da WADA. Diante disso, a WADA descredenciaria o laboratório russo responsável por testes anti-doping naquele país, e recomendaria ao COI que a Rússia fosse impedida de participar dos Jogos de 2016.
O COI, segundo muitos de forma política, optaria por não banir a Rússia, e sim deixar a decisão nas mãos de cada federação internacional separadamente. Com isso, atletas do levantamento de peso, não somente da Rússia, mas também do Azerbaijão, Romênia, Uzbequistão, Belarus, Moldova e Coreia do Norte, além da delegação inteira da Bulgária nesse esporte, seriam proibidos de competir no Rio de Janeiro pela Federação Internacional de Levantamento de Peso; e a Federação Internacional de Canoagem suspenderia as delegações completas de Romênia e Belarus. A IAAF seguiria com sua proibição, o que significou que nenhum atleta russo do atletismo pôde competir no Rio de Janeiro, nem mesmo a supercampeã Yelena Isinbayeva, que, assim, se viu impedida de participar de sua quarta Olimpíada. Isinbayeva chegou a sugerir que atletas que nunca tivessem testado positivo para doping na vida, como ela mesma, fossem liberados pela IAAF para participar, mas o órgão não aceitou seus argumentos. Apenas uma única atleta russa conseguiu competir no atletismo em 2016, Darya Klishina, do salto em distância, que recorreu à Corte Arbitral do Esporte alegando que morava nos Estados Unidos há 15 anos, e que sempre foi testada pelos laboratórios anti-doping norte-americanos, nunca pelos russos, e jamais testou positivo. No fim, a Rússia pôde participar dos Jogos, mas com um grande baque: dos 393 atletas classificados para as Olimpíadas, 111 seriam vetados por suas respectivas federações internacionais.
O mascote dessa edição seria Vinicius, cujo nome, em homenagem ao poeta, cantor e compositor Vinicius de Moraes, seria escolhido através de um concurso, que também escolheria o nome Tom, em homenagem ao cantor e compositor Tom Jobim, para o mascote das Paralimpíadas. Criado para representar toda a fauna brasileira, e que parecia uma mistura de gato, macaco e arara, com as cores da bandeira nacional, Vinicius seria um grande sucesso, principalmente por causa de seus fofíssimos bichinhos de pelúcia - em alguns esportes, como na luta olímpica, os bichinhos foram entregues aos técnicos para que eles os jogassem na direção do árbitro quando quisessem pedir desafio - e do bom humor dos voluntários que se vestiam como ele para animar a torcida, sempre com danças criativas que chamavam a atenção de todos.
O programa das Olimpíadas de 2016 contaria com 306 provas de 34 esportes: atletismo, badminton, basquete, boxe, canoagem, ciclismo, equitação, esgrima, futebol, ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, golfe, handebol, hóquei, judô, levantamento de peso, luta olímpica, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, polo aquático, remo, rugby, saltos ornamentais, taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia (clique aqui para ver todas as provas do programa). Ausente do programa desde 1924, o rugby retornaria não em sua versão tradicional, com 15 jogadores de cada lado, e sim com o rugby sevens, formato que conta com apenas sete jogadores de cada lado e no qual cada partida conta com apenas dois tempos de sete minutos cada (por isso o nome "sevens", que significa "setes" em inglês); esse formato permitiu que vários jogos fossem realizados em um único dia, condensando o torneio, diminuindo o número de instalações usadas (de fato, apenas uma, um estádio temporário construído em Deodoro) e permitindo que o número de atletas ainda se mantivesse dentro do aceitável (afinal, cada time tinha menos da metade de jogadores que teria se fosse o rugby union). Outro esporte que retornou depois de uma longa ausência, e põe longa nisso, foi o golfe, que havia aparecido no programa olímpico pela última vez, acreditem ou não, em 1904, mais de cem anos antes. Tanto o rugby quanto o golfe tiveram torneios masculinos e femininos, algo pouco provável de ocorrer na última vez em que estiveram nos Jogos.
O Brasil, com uma delegação de 465 atletas - a segunda maior, atrás apenas dos Estados Unidos, com 554 - estabeleceria uma meta ambiciosa: terminar os Jogos dentre os dez primeiros no quadro de medalhas. A meta não seria alcançada por pouco - o país terminaria na 13a posição - mas o Brasil bateria, em casa, tanto seu recorde de medalhas em uma única edição dos Jogos quanto o recorde de Medalhas de Ouro em uma única edição dos Jogos, terminando a competição com 7 ouros, 6 pratas e 6 bronzes, para um total de 19 medalhas (o recorde anterior era de 17 medalhas, em 2008 e 2012, e o de ouros era de 5, em 2004).
Uma das medalhas mais comemoradas do Brasil, sem dúvida, seria o ouro no futebol masculino, único título de expressão nesse esporte que o país ainda não havia conquistado - e com um tempero especial: a final, disputada no Maracanã, seria contra a Alemanha, que, dois anos antes, na Copa do Mundo, eliminou o Brasil, em casa, com um fragoroso 7 a 1. Tudo bem que o 7 a 1 não foi devolvido na final, que não eram os times principais (já que, nos times olímpicos, à exceção de três, os jogadores devem ter menos de 23 anos) e que a Medalha de Ouro foi decidida nos pênaltis, após empate de 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação - aliás, no último pênalti, perdido pelo jogador da Alemanha - mas, mesmo assim, pode-se dizer que essa Medalha de Ouro tirou um peso das costas do torcedor brasileiro. No futebol feminino, no mesmo Maracanã, a sorte não sorriria para o Brasil, que seria derrotado, também nos pênaltis, nas semifinais, pela Suécia; na disputa do Bronze, um time apático perderia para o Canadá e ficaria sem medalhas. O ouro no feminino ficaria, ora vejam só, com a Alemanha.
Muito mais emocionante que o ouro no futebol, entretanto, foi a Medalha de Ouro conquistada por Rafaela Silva na categoria até 57 kg do judô. Quatro anos antes, em Londres, Rafaela havia sido desclassificada por uso de golpe ilegal, e se tornado vítima de ataques racistas e misóginos. No Rio de Janeiro, competindo em casa, ela venceria categoricamente todos os seus oponentes, conquistando seu ouro sem que pairasse a menor sombra de dúvida sobre seu talento e determinação. Além do ouro de Rafaela, o Brasil conseguiria dois bronzes no judô, com Mayra Aguiar, categoria 78 kg, e Rafael Silva, o Baby, categoria acima de 100 kg.
O ouro mais inesperado de todos viria do atletismo, mais precisamente do salto com vara: o jovem Thiago Braz surpreenderia a todos os favoritos, inclusive o recordista olímpico, mundial e detentor da melhor marca do ano, o francês Renaud Lavillenie, e saltaria 6,03 m, novo recorde olímpico, para ficar com o ouro, deixando Lavillenie com a prata - posteriormente, Lavillenie, demonstrando falta de espírito olímpico, diria que só perdeu a prova porque a torcida brasileira era muito mal-educada e impedia sua concentração. Por outro lado, a maior esperança de medalhas do Brasil no salto com vara, Fabiana Murer, se recuperando de lesão, não saltaria nem a primeira marca, de 4,15 m, se despedindo da prova prematuramente.
Algo semelhante ocorreria no vôlei: todas as apostas quanto à Medalha de Ouro eram feitas no time feminino, atual bicampeão olímpico e um dos melhores times do mundo, mas que perderia nas quartas de final para uma China extremamente focada e talentosa, que acabaria chegando ao ouro. Já o vôlei masculino, passando por um momento de transição, e às vésperas da aposentadoria da seleção do técnico multicampeão Bernardinho, era visto como zebra, mesmo jogando em casa. O fato de o Brasil ter perdido para Estados Unidos e Itália na fase de grupos, e de ter perdido um set em cada um dos três jogos que ganhou, se classificando na bacia das almas em quarto lugar, não ajudou muito no panorama geral. A partir das quartas de final, porém, o Brasil foi ganhando volume de jogo, até chegar a uma final na qual derrotou a Itália com um indiscutível três sets a zero, conquistando mais uma medalha de ouro.
No outro vôlei, o de praia, o Brasil conseguiria um ouro e uma prata. O ouro viria no masculino, com Alison e Bruno Schmidt, e a prata no feminino, com Ágata e Bárbara. Na vela, classe 49er FX, Martine Grael e Kahena Kunze conseguiriam uma medalha de ouro emocionante, em uma disputa apertadíssima contra o barco da Nova Zelândia. E a sétima Medalha de Ouro do Brasil seria a primeira em um dos esportes mais populares das Olimpíadas, o boxe, no qual Robson Conceição, categoria leves, lutou com muito talento e concentração até alcançar o lugar mais alto do pódio.
Mesmo sem ouro, um atleta que merece destaque é Isaquias Queiroz, que ganhou nada menos que três medalhas, duas pratas e um bronze, na canoagem - o bronze no C1 200 m, uma das pratas no C1 1000 m, e a outra em dupla com Erlon Silva no C2 1000 m. Nascido em Ubaitaba, um município pobre do interior da Bahia, e sequestrado aos cinco anos de idade para ser vendido - sendo resgatado por sua própria mãe antes que a transação fosse concretizada - Isaquias ainda havia perdido um rim ao cair de uma árvore, e parte do dedo anelar esquerdo cortando um coco no alto de um coqueiro. Após descobrir a canoagem na adolescência, ele se tornaria o primeiro brasileiro a ganhar um ouro no Mundial de Canoagem, e seria destaque nas Olimpíadas não somente por seu desempenho, mas também por sua simpatia.
Na natação, a única medalha do Brasil foi um bronze de Poliana Okimoto na maratona aquática 10 km - na verdade, ela chegou em quarto, mas herdou a medalha porque a que chegou em segundo, a francesa Aurélie Muller, quase afogou a italiana Rachele Bruni, originalmente terceira, para bater sua mão primeiro, sendo desclassificada. No tiro, após quase cem anos, o Brasil voltou a ganhar uma medalha, prata com Felipe Wu na pistola de ar 10 m. Maicon Siqueira ganharia uma medalha inédita no taekwondo, um bronze. E as outras três medalhas do Brasil viriam da ginástica olímpica: Arthur Zanetti, ouro em Londres, seria prata nas argolas, e Diego Hypólito seria prata e Arthur Mariano bronze no solo.
Os Jogos de 2016 tiveram um recorde de 87 delegações ganhando pelo menos uma medalha cada, e um recorde de 59 delegações ganhando pelo menos uma medalha de ouro cada. Nada menos que dez delegações ganharam no Rio de Janeiro sua primeira medalha de ouro (outro recorde): os já citados Participantes Independentes e mais Kosovo, Fiji, Cingapura, Vietnã, Bahrein, Porto Rico, Jordânia, Tajiquistão e Costa do Marfim, sendo que, no caso de Kosovo, Fiji e Jordânia, foi a primeira medalha de qualquer cor - o estreante Kosovo já entraria em sua primeira Olimpíada com um ouro no judô feminino, categoria 52 kg, com Majlinda Kelmendi; a Jordânia, em sua décima participação, levaria um ouro no taekwondo masculino, com Ahmad Abu-Ghaush, categoria 68 kg; e Fiji, após outras 13 participações em branco, levaria o ouro no rugby masculino.
O que não foi novidade nenhuma foram os Estados Unidos terminando no topo do quadro de medalhas, pela quinta vez nas seis últimas Olimpíadas. Ainda o maior nome da delegação norte-americana, Michael Phelps, já próximo da aposentadoria, não seria tão arrebatador quanto nas edições anteriores, mas ainda assim levaria o ouro nos 200 m borboleta e nos 200 m medley, além de fazer parte da equipe que levou o ouro nos revezamentos 4 x 100 m e 4 x 200 m livre e 4 x 100 m medley, e de uma medalha de prata nos 100 m borboleta. A natação, aliás, seria o esporte que renderia mais ouros aos Estados Unidos: Ryan Murphy levaria dois, nos 100 m e nos 200 m costas; Anthony Erwin surpreenderia e ganharia os 50 m livre; o fenômeno Katie Ledecky, 19 anos, levaria três, nos 200 m, 400 m e 800 m livre; Maya DiRado (200 m costas), Lilly King (100 m costas) e Simone Manuel (100 m livre) levariam uma cada; e o revezamento feminino levaria o 4 x 100 m e o 4 x 200 m livre, para um total de 16. O atletismo viria em segundo com 13, incluindo os revezamentos 4 x 100 m e 4 x 400 m femininos e o 4 x 400 m masculino. Os norte-americanos também levariam o ouro no basquete masculino e feminino, no polo aquático feminino, no boxe feminino, categoria médios, com Claressa Shields, e no judô feminino, categoria 78 kg, com Kayla Harrison, dentre outros.
A maior revelação da delegação norte-americana foi a ginasta Simone Biles. Assim como Isaquias, ela teve uma infância difícil, com uma mãe alcoólatra e um pai que abandonou a família, e viu no esporte a chance de uma vida melhor. No Rio de Janeiro, ela ganharia nada menos que quatro ouros, no salto, no solo, nos exercícios combinados e nos exercícios combinados por equipes, se tornando a primeira ginasta norte-americana a conseguir tal feito, além de um bronze na trave de equilíbrio.
No atletismo, o destaque não poderia ter sido outro: Usain Bolt. Em sua terceira Olimpíada, o jamaicano mais uma vez mostrou estar no topo do mundo, e conquistou mais três medalhas de ouro para sua coleção, nos 100 m, 200 m e revezamento 4 x 100 m. No feminino, a também jamaicana Elaine Thompson quase repetiu a proeza, levando o ouro nos 100 m e nos 200 m, mas a prata no revezamento 4 x 100 m. Outros destaques no atletismo foram o britânico Mo Farah, ouro nos 5.000 m e 10.000 m; o sul-africano Wayde van Niekerk, que, sem estar dentre os favoritos, surpreendeu e levou o ouro dos 400 m, quebrando um recorde mundial que o norte-americano Michael Johnson havia estabelecido em 1999; e a belga Nafissatou Thiam, que, também sem estar dentre as favoritas, abiscoitou o ouro do heptatlo.
Já na natação, tirando os norte-americanos, o maior destaque foi a húngara Katinka Hosszú, ouro nos 100 m costas, 200 m medley e 400 m medley, esse último com recorde mundial, além de prata nos 200 m costas. A sueca Sarah Sjöström quebraria o recorde mundial e levaria o ouro nos 100 m borboleta, além de ficar com a prata nos 200 m livre e o bronze nos 100 m livre - nos 100 m livre, aliás, ocorreria um raro empate na medalha de ouro, com a norte-americana Simone Manuel e a canadense Penny Oleksiak, de apenas 16 anos, fazendo o exato mesmo tempo e ganhando um ouro cada uma. Algo semelhante ocorreria nos 100 m borboleta masculino: o ouro ficaria com Joseph Schooling, de Cingapura, a primeira medalha de ouro de seu país, enquanto o norte-americano Michael Phelps, o sul-africano Chad le Clos e o húngaro László Cseh fizeram o exato mesmo tempo e ganharam uma prata cada um.
No retorno do golfe, o ouro no masculino ficaria com o britânico Justin Rose, e o do feminino com a sul-coreana Inbee Park. No rugby, além do já citado ouro masculino de Fiji, teríamos uma final feminina bem tradicional entre Austrália e Nova Zelândia, com o ouro ficando com as australianas. No tênis, o ouro masculino seria do britânico Andy Murray, que fez a final contra o argentino Juan Martin del Potro; no feminino, Monica Puig, de Porto Rico, ganharia a primeira medalha de ouro da história de seu país; nas duplas masculinas, ouro para a Espanha, com Marc López e Rafael Nadal; nas duplas femininas, para a Rússia, com Ekaterina Makarova e Elena Vesnina, que derrotariam as suíças Timea Bacsinszky e Martina Hingis na final; e, nas duplas mistas, uma final entre duas duplas dos Estados Unidos, mas com a dupla favorita, composta por Venus Williams e Rajeev Ram, ficando com a prata, e o ouro indo para Bethanie Mattek-Sands e Jack Sock - as irmãs Williams, aliás, nas duplas femininas, perderiam logo em seu jogo de estreia, para as tchecas Lucie Safárová e Barbora Strycová, que terminariam o torneio com o bronze.
Dentre os momentos inusitados, podemos citar a lutadora Risako Kawai, que, ao ganhar o ouro na luta livre feminina, categoria 63 kg, decidiu comemorar derrubando seu próprio treinador com um golpe surpresa - o Japão, vale citar, dominou a luta livre feminina, ganhando quatro dos seis ouros em disputa e ainda uma prata. No revezamento 4 x 100 m masculino do atletismo, o time dos Estados Unidos, favorito ao ouro, seria desclassificado por deixar o bastão cair em uma das passagens; em compensação, nos 100 m com barreiras feminino, os Estados Unidos seriam ouro, prata e bronze, com Brianna Rollins, Nia Ali e Kristi Castlin, respectivamente. No triatlo masculino, o ouro ficaria com Alistair Brownlee, do Reino Unido, e a prata com seu irmão, Jonathan Brownlee. E, para ganhar a medalha de ouro nos 400 m feminino do atletismo, Shaunae Miller, de Bahamas, até então lado a lado com a norte-americana Allyson Felix, se jogou no chão próxima à linha de chegada - na entrevista após a prova, ela diria que não foi planejado, e que suas pernas não aguentaram; de qualquer forma, funcionou, pois ela ganhou por sete centésimos de segundo.
Ninguém pode dizer que Pyeongchang não é uma cidade persistente: após se candidatar duas vezes e perder, em 2010 para Vancouver, em 2014 para Sochi, a cidade decidiria se candidatar pela terceira vez seguida - na primeira vez em que alguma cidade tentou isso - e acabaria recompensada. A pequena cidade na Coreia do Sul derrotaria a gigantesca Munique, na Alemanha, que tentava se tornar a primeira cidade a sediar uma Olimpíada de Verão e uma de Inverno, e a pequenina Annecy, na França, para se tornar a terceira cidade asiática a sediar uma Olimpíada de Inverno, depois das japonesas Sapporo, em 1972, e Nagano, em 1998. Na época ainda não se sabia, mas Pyeongchang inauguraria uma trinca de Olimpíadas no extremo oriente: depois dela, teremos as Olimpíadas de 2020 em Tóquio, Japão, e as Olimpíadas de Inverno de 2022 em Pequim, China - que, aí sim, se tornará a primeira cidade a sediar uma Olimpíada de Verão e uma de Inverno.
Apesar de pequena, Pyeongchang conta com um dos mais famosos resorts de esqui da Coreia do Sul, o Alpensia Sports Park, no qual seriam realizadas as competições de esqui alpino, esqui cross-country, saltos com esqui, combinado nórdico, biatlo e snowboarding. Dentro dos limites do Alpensia, seriam construídos a Vila Olímpica, o Estádio Olímpico - em forma de pentágono, para simbolizar os cinco anéis olímpicos - e uma pista de trenó para as competições de bobsleding, luge e skeleton; o Estádio Olímpico, usado apenas para as Cerimônias de Abertura e Encerramento, após o fim dos Jogos seria desmontado e seus componentes reaproveitados em outras instalações esportivas do país, mas a pista de trenó será permanente, se tornando a primeira desse tipo na Coreia do Sul e a apenas a segunda em toda a Ásia - a outra fica em Nagano, e foi construída para as Olimpíadas de Inverno de 1998; para quem não sabe, a manutenção de uma pista permanente é caríssima, então é normal que elas sejam temporárias, sendo desmontadas após o final da competição a que se destinam. As competições do esqui estilo livre a algumas provas do snowboarding ocorreriam em outro resort, o Bogwang Phoenix Park, também em Pyeongchang, e algumas do esqui alpino seriam realizadas no Jeongseon Alpine Centre, na cidade vizinha de Jeongseon. Já as instalações do hóquei no gelo, curling e patinação, por opção do Comitê Organizador Local, não seriam construídas em Pyeongchang, e sim na cidade vizinha de Gangneung, uma cidade costeira e turística, que ganharia um moderno Parque Olímpico para ser adicionado às suas atrações.
Uma das principais preocupações da comunidade internacional quanto à realização de uma Olimpíada de Inverno em Pyeongchang era a crescente tensão no relacionamento entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos - localizada ao norte da Coreia do Sul, Pyeongchang fica relativamente próxima à fronteira, e poderia ser um alvo de um ataque norte-coreano. Surpreendentemente, entretanto, o governo norte-coreano se mostrou bastante favorável não somente à realização dos Jogos em seu vizinho, mas também a uma maior integração entre as duas Coreias durante a competição. Acordos foram firmados não somente para que ambas as delegações coreanas desfilassem juntas na Cerimônia de Abertura, da mesma forma que ocorreu nas Olimpíadas de 2000, em Sydney, sob uma bandeira branca com o mapa das duas Coreias, unidas, em azul claro, mas também para que o time feminino de hóquei no gelo fosse uma equipe mista, composta por atletas tanto da Coreia do Sul quanto da Coreia do Norte, e competindo sob essa mesma bandeira - não sei se chegaram a combinar qual hino tocaria em caso de Medalha de Ouro, mas, como isso era extremamente improvável, talvez não.
A integração entre as Coreias seria responsável por dois momentos emocionantes na Cerimônia de Abertura: o primeiro, o desfile da delegação conjunta; o segundo, uma das passagens da Tocha. Como de costume, o revezamento começaria na Grécia e depois seguiria para a Coreia do Sul, onde visitaria 80 cidades antes de entrar no Estádio Olímpico. Lá, a golfista Inbee Park, medalha de ouro no golfe feminino em 2016, a passaria não para uma, mas para duas atletas: a sul-coreana Park Jong-Ah e a norte-coreana Chung Su-Hyon, ambas da recém-formada equipe de hóquei no gelo. As duas subiriam ovacionadas a escada que levava à Pira, e, por um momento, alguns até imaginaram que seriam elas a acendê-la, mas elas a passariam a Yuna Kim, uma verdadeira lenda da patinação artística. Kim realmente merecia acender a Pira Olímpica, mas foram Park e Chung que roubaram a cena.
Os Jogos de Pyeongchang seriam realizados entre 9 e 25 de fevereiro de 2018, e contariam com 102 provas de 15 esportes: biatlo, bobsleding, combinado nórdico, curling, esqui alpino, esqui cross country, esqui estilo livre, hóquei no gelo, luge, patinação artística no gelo, patinação no gelo em velocidade, patinação no gelo em velocidade em pista curta, saltos com esqui, skeleton e snowboarding (clique aqui para ver todas as provas do programa). Visando atrair mais público, principalmente o público jovem, o COI incluiria quatro modalidades novas em relação a 2014: a prova do big air no snowboarding, a de largada em massa na patinação de velocidade, um torneio de equipes mistas no esqui alpino e o torneio de duplas mistas do curling. Ao todo, participariam 2.922 atletas de 92 delegações, incluindo seis estreantes: Equador, Eritreia, Nigéria, Cingapura, Malásia e Kosovo. Assim como em 1988, em Seul, o mascote dos Jogos de Pyeongchang seria um tigre, mas dessa vez um tigre branco, chamado Soohorang.
Após o escândalo de doping governamental da Rússia nas Olimpíadas de Inverno de 2014, o COI decidiu seguir a recomendação da WADA e suspender a delegação inteira do país para 2018. A suspensão, porém, teve uma brecha: atletas que conseguissem provar estar "limpos", por jamais terem testado positivo em um antidoping e passarem por um rigoroso controle estabelecido pelo COI poderiam competir normalmente, mas sem representar a Rússia; esses atletas fariam parte de uma delegação conhecida como Atletas Olímpicos da Rússia, que, assim como os Participantes Independentes (que não estariam presentes nessa edição) competiria sob a bandeira dos anéis olímpicos, e ouviriam o hino olímpico caso ganhassem alguma medalha de ouro. Ao todo, a delegação dos Atletas Olímpicos da Rússia contaria com 168 atletas, que ganhariam duas medalhas de ouro (o time masculino de hóquei no gelo e Alina Zagitova na patinação artística individual feminina), seis de prata e nove de bronze; o controle do COI, porém, se mostraria não tão rigoroso assim, já que, originalmente, eram dez medalhas de bronze, mas Alexander Krushelnitskiy, das duplas mistas do curling, testaria positivo para uma substância proibida, o que custaria a medalha que ele havia ganhado junto com sua esposa Anastasia Bryzgalova - que testou negativo. Outra atleta russa, Nadezhda Sergeeva, do bobsleding, também testou positivo, mas, como o trenó pilotado por ela acabou a prova em 12o lugar, isso não influenciou o quadro de medalhas.
O Brasil se faria presente com nove atletas, sendo seis homens e três mulheres - as veteranas Jaqueline Mourão, do esqui cross country, em nada menos que sua sexta Olimpíada, e Isabel Clark, do snowboarding, em sua quarta participação; e a quase novata Isadora Williams, da patinação artística, competindo pela segunda vez nos Jogos. Após sua primeira apresentação no torneio individual feminino, com a qual se tornou a primeira atleta sul-americana a chegar a uma final olímpica da patinação artística, Isadora passou a ser a principal esperança do Brasil em conseguir que um atleta do país fique dentre os oito primeiros em uma prova - a melhor posição já alcançada por um brasileiro nas Olimpíadas de Inverno foi um nono lugar obtido por Isabel no snowboard cross em 2006 - mas uma queda na apresentação da final acabou com suas chances. Além de Isadora, o principal destaque do Brasil foi o bobsleding, no qual o país participou pela primeira vez com um trenó de duplas, terminando em 27o, e competiu pela primeira vez no trenó de quatro ocupantes com um trenó próprio - até então, competia com um alugado ou emprestado por outra delegação - terminando na 23a posição.
O maior destaque dos Jogos de 2018 seria a norueguesa Marit Bjørgen, que, antes de a competição começar, já era a atleta feminina com o maior número de medalhas em uma Olimpíadas de Inverno. Em 2018, aos 37 anos e em sua quinta Olimpíada, a atleta do esqui cross country ganharia um bronze no sprint por esquipes e o ouro nos 30 km, levando seu número total de medalhas para 15, superando o compatriota Ole Einar Bjørndalen, que tem 13, e se tornando a maior medalhista da história das Olimpíadas de Inverno. O ouro de Bjørgen nos 30 km também ajudaria a Noruega a conquistar outro recorde, o de 39 medalhas em uma mesma edição das Olimpíadas de Inverno, superando as 37 que os Estados Unidos haviam obtido em Vancouver, 2010.
Outro atleta com um recorde de respeito seria o japonês Noriaki Kasai, dos saltos com esqui, que, em Pyeongchang, aos 45 anos, participaria de nada menos que sua oitava Olimpíada - sua primeira participação foi em Lillehammer, em 1994, aos 22 anos. Já o holandês Sven Kramer, ouro nos 5.000 m da patinação em velocidade, se tornaria o primeiro atleta na história a ganhar a mesma prova em três edições das Olimpíadas de Inverno, com as outras duas tendo sido conquistadas em 2010 e 2014. Sua compatriota Ireen Wüst, também da patinação em velocidade, iria ainda mais longe, se tornando a primeira atleta a conquistar medalhas de ouro em quatro edições seguidas das Olimpíadas de Inverno: a seus ouros nos 3.000 m em Turim 2006, 1.500 m em Vancouver 2010, e 3.000 m e perseguição por equipes em Sochi 2014, ela adicionaria o dos 1.500 m em Pyeongchang - onde também seria prata nos 3.000 m e na perseguição por equipes. A Holanda, aliás, dominaria a patinação em velocidade, conquistando nada menos que a metade dos ouros em disputa - 7 dos 14 - além quatro pratas e cinco bronzes - incluindo um pódio completo na prova feminina dos 3.000 m, com Carlijn Achtereekte, Ireen Wüst e Antoinette de Jong - terminando com dez medalhas a mais que o segundo colocado Japão nesse esporte.
Teríamos em 2018 duas atletas polivalentes: a holandesa Jorien ter Mors se tornaria a primeira atleta a ganhar medalhas em provas de dois esportes diferentes em uma mesma edição das Olimpíadas de Inverno, após conquistar o ouro nos 1.000 m da patinação em velocidade e o bronze no revezamento 3.000 m da patinação em velocidade em pista curta. Quatro dias depois, a tcheca Ester Ledecká roubaria para si os holofotes ao se tornar a primeira atleta a conquistar Medalhas de Ouro em dois esportes diferentes em uma mesma Olimpíada de Inverno, no slalom gigante paralelo do snowboarding e no slalom super gigante do esqui alpino - detalhe: com esquis emprestados pela norte-americana Mikaela Shiffrin, e por um centésimo de segundo sobre a segunda colocada, a austríaca Anna Veith. Ledecká surpreenderia a todos ao aparecer para a entrevista coletiva após a prova de óculos escuros - segundo ela, porque não imaginava que iria ganhar, então não havia se maquiado antes da prova.
No bobsleding, a Alemanha conquistaria as três medalhas de ouro, no trenó de dois e no de quatro lugares masculino e no trenó de dois lugares feminino; nas provas masculinas, porém, ocorreriam acontecimentos inusitados: na prova do trenó de quatro lugares, haveria um empate pela prata, com o segundo trenó da Alemanha e o trenó da Coreia do Sul fazendo exatamente o mesmo tempo e ganhando uma prata cada um. Já na prova do trenó de dois lugares, o empate seria pela medalha de ouro, com os trenós da Alemanha e do Canadá fazendo o exato mesmo tempo e ganhando um ouro cada um. O domínio alemão também se faria no luge, onde o país ganharia três dos quatro ouros em disputa, no individual feminino, nas duplas masculinas e na prova do revezamento, com o ouro do individual masculino ficando com o austríaco David Gleirscher.
No curling, teríamos surpresas tanto no torneio masculino quanto no feminino. No masculino, os Estados Unidos ganhariam a primeira medalha de ouro de sua história nesse esporte ao derrotar a favorita Suécia na final, ficando a Suíça com o bronze. Já no feminino, o ouro não foi surpresa nenhuma, ficando com a Suécia, mas o restante do pódio sim: a prata ficaria com a Coreia do Sul, que chegaria pela primeira vez em sua história a uma final de um torneio internacional, e o bronze ficaria com o Japão, que derrotaria a Grã-Bretanha capitaneada por Eve Muirhead, considerada uma das maiores jogadoras de curling do planeta. Na estreia do torneio de duplas mistas, o ouro iria para o Canadá, a prata para a Suíça, e o bronze para a Noruega - que originalmente havia perdido a disputa dessa medalha para os Atletas Olímpicos da Rússia, posteriormente desclassificados por doping.
No hóquei no gelo feminino, o "time das Coreias" de fato não conseguiu ir muito longe, perdendo seus três jogos na fase de grupos - mas anotando um gol, contra o Japão, marcado por Randi Griffin, que é filha de uma sul-coreana com um norte-americano, e nasceu nos Estados Unidos. Estados Unidos que, aliás, surpreenderiam, derrotando o Canadá na final, algo que não ocorria desde 1998, em Nagano - talvez provando que o gelo da Ásia faça bem para as norte-americanas. No masculino, graças a um posicionamento da NHL (a liga norte-americana de hóquei no gelo, talvez o mais forte campeonato desse esporte no mundo), que proibiu os atletas que têm contrato com seus times de disputar as Olimpíadas de Inverno, alegando que, se eles se contundissem, a NHL é que sairia prejudicada, os Estados Unidos não passariam nem da fase de grupos, na qual teriam uma vitória e duas derrotas, terminando em terceiro em seu grupo. O Canadá, também bastante prejudicado, seria derrotado nas semifinais, e ficaria com a medalha de bronze. Com a maioria de seus jogadores atuando na KHL, a liga russa, para alguns a segunda mais forte do planeta depois da NHL, os Atletas Olímpicos da Rússia estreariam com derrota para a Eslováquia, mas depois não tomariam conhecimento de seus oponentes até chegarem à final contra uma surpreendente Alemanha, ganhando o ouro na prorrogação.
No snowboarding, tivemos momentos inusitados, dentre os quais podemos citar o austríaco Markus Schairer, do snowboard cross, que, na final, sofreu uma queda que fraturou sua quinta vértebra, mas conseguiu se levantar e terminar a prova em quarto lugar, se tornando, talvez, o primeiro atleta a concluir uma prova olímpica depois de quebrar o pescoço. Já o norte-americano Red Gerard, de apenas 17 anos, acordou atrasado no dia da final, perdeu sua jaqueta no meio do caminho para a prova, falou um palavrão ao vivo ao ser entrevistado para a TV de seu país, e, depois disso tudo, ganhou a primeira medalha de ouro dos Estados Unidos em 2018, na prova do slopestyle. Na prova do halfpipe, outro norte-americano, Shaun White, um dos maiores nomes do esporte, medalha de ouro em 2006 e 2010, mas que ficou fora do pódio em 2014, teve uma atuação impecável para ganhar o terceiro ouro de sua carreira.
Falando em halfpipe, uma das personagens mais controversas de 2018 seria Elizabeth Swaney, do esqui estilo livre. Nascida nos Estados Unidos, onde viveu sua vida inteira, Swaney tinha o sonho de participar de uma Olimpíada, e chegou a praticar remo na Universidade, sem, jamais, entretanto, conseguir resultados expressivos. Após se formar, ela decidiria tentar as Olimpíadas de Inverno, e tentaria praticar bobsleding, sendo sempre desencorajada por ser pequena e leve demais para esse esporte. Swaney então passaria para o skeleton, mas, sabendo que provavelmente jamais conseguiria derrotar as principais atletas norte-americanas, ela decidiria competir pela Venezuela, país no qual nasceu sua mãe. Como também não conseguir se classificar para uma Olimpíada de Inverno no skeleton pela Venezuela, ela passaria para o esqui cross country, que tinha um sistema de classificação mais simples - mas, sem obter nenhum resultado expressivo, também não conseguiu.
Swaney, então, descobriu uma espécie de porta dos fundos para o sonho olímpico: para se classificar no esqui estilo livre, um atleta precisa estar dentre os 30 primeiros no ranking de sua modalidade no ano anterior ao da Olimpíada de Inverno, e ter somado no mínimo 50.000 pontos - atribuídos de acordo com sua classificação em torneios internacionais - ao longo de sua carreira. Para que não haja muitos atletas de um mesmo país na mesma competição, há uma "cota" de 26 atletas por país, sendo no máximo 14 no masculino e 14 no feminino, somando todas as modalidades do esqui estilo livre. Swaney escolheria o halfpipe, modalidade que ainda tem poucas competidoras no feminino, e começaria, em 2013, a competir pela Hungria, país de onde vieram seus avós maternos. Ela conseguiria os 50.000 pontos competindo apenas em torneios com poucos participantes - chegou a competir em um, na China, com apenas 15 - o que garantia que ela, se não caísse, conseguisse uma boa colocação. Com essa estratégia, na data-limite para a seleção olímpica, ela estava na 34a posição - mas havia mais atletas dos Estados Unidos que as permitidas pela cota, e ela era a única "húngara", ou seja, após os cortes, Swaney, aos 33 anos, finalmente estava classificada para uma Olimpíada.
Acontece, porém, que ela não é uma esquiadora de halfpipe profissional - de fato, ela sabe fazer apenas as manobras mais básicas, somente o suficiente para ter ganhado os pontos na classificação. Assim, no dia da qualificatória em Pyeongchang, ela apenas desfilou pela pista, subindo e descendo sem realizar manobra nenhuma, ganhando a nota mínima possível e terminando em último lugar. Sua participação deu origem a um debate, no qual um grupo passou a defender que sua estratégia foi anti-ética, que somente aos melhores atletas poderia ser permitido participar de uma Olimpíada, e que sua classificação tirou o lugar de um atleta "verdadeiro". Seja como for, Swaney teve seus 15 minutos de fama, com sua história sendo contada por vários meios de comunicação, e ela tendo garantido várias entrevistas após a prova - em uma delas, inclusive, se disse chateada por não ter se classificado para a final olímpica.
Série Olimpíadas |
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Rio de Janeiro 2016 |
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