segunda-feira, 30 de abril de 2018

Escrito por em 30.4.18 com 1 comentário

The Sandman

Neil Gaiman é um de meus escritores favoritos. Como quase todo mundo da minha idade, eu o conheci não através de um livro, mas de The Sandman, uma revista em quadrinhos da qual Gaiman era criador e roteirista, publicada pela DC Comics entre 1989 e 1996, que, aqui no Brasil, foi lançada em meados da década de 1990, quando eu estava em plena adolescência. Confesso que, na época, eu não dava muita bola para The Sandman, preferindo histórias em quadrinhos de super-heróis, mas cheguei a ler várias edições, principalmente porque um dos meus melhores amigos e minha namorada da época ambos se amarravam - eu pegava emprestado deles para ler, inclusive, assim como pegava emprestado com essa namorada histórias de outra criação de Gaiman, Os Livros da Magia, da qual eu gostava bem mais. Ao longo dos anos, porém, eu fui conhecendo mais sobre as obras de Gaiman, lendo seus livros, até que resolvi reler The Sandman, e aí, talvez por já ter mais maturidade, talvez por já estar mais familiarizado com seu estilo, gostei bem mais. Essa semana, conversando com uma amiga sobre o personagem, achei que seria legal fazer um post sobre a revista. Ei-lo. Hoje é dia de The Sandman no átomo.


Antes de mais nada, cabe dizer que o nome do personagem não é "Sandman", The Sandman é somente o nome da revista. O personagem mais famoso dessa revista, o qual muita gente costuma chamar de "Sandman", se chama Sonho, mas é conhecido por uma infinidade de outros nomes, como Morfeu, Oneiros, Kai'ckul e até mesmo Devaneio (por uma razão que eu vou explicar depois). Sonho não é humano, nem deus, sequer um ser vivo, e sim a personificação do sonhar, sendo também membro de um grupo de entidades conhecidos como Perpétuos, todos irmãos entre si. A revista se chama The Sandman por dois motivos: o primeiro é que sandman, em inglês, é o "homem da areia", entidade folclórica que joga areia nos olhos das pessoas para que elas durmam - que pode ser visto em um famoso desenho animado do Pluto, e é referenciado na música Enter Sandman, do Metallica. O segundo motivo é que, inicialmente, a revista The Sandman criada por Gaiman era para ser o relançamento de outra revista chamada The Sandman, protagonizada por um personagem totalmente diferente.

Na Era de Ouro dos quadrinhos, lá pelas décadas de 1930 e 1940, a DC tinha vários personagens que demoraram a fazer a transição para a Era de Prata. Um desses personagens era conhecido como Sandman - esse sim se chamava Sandman - e era uma espécie de detetive que tinha sonhos premonitórios e usava como arma uma pistola de gás sonífero; seu uniforme consistia de terno, gravata, chapéu e uma máscara de gás, talvez para se proteger de sua própria arma. Criado por Gardner Fox e Bert Christman, seu nome verdadeiro era Wesley Dodds, e ele estrearia na Adventure Comics número 40, de julho de 1939. Em dezembro de 1940, ele se tornaria membro fundador da Sociedade da Justiça da América, e, em 1946, junto com vários outros heróis da Era de Ouro, sairia de cena, devido, principalmente, a baixas vendas. A DC tentaria introduzi-lo na Era de Prata vinte anos depois, na Justice League of America 46, de julho de 1966, mas, ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980, ele faria apenas aparições eventuais, sem jamais se firmar em um título ou uma equipe. Dodds só alcançaria o sucesso na década de 1990, mas retornaremos a essa história mais tarde.

Como Dodds raramente dava as caras, na década de 1970 a DC autorizou Joe Simon e Jack Kirby, os criadores do Capitão América, a lançar um novo personagem chamado Sandman, que estrearia na revista The Sandman número 1, em janeiro de 1974. Segundo Simon, apesar de ter a aparência de um super-herói, incluindo máscara e capa, esse Sandman era o verdadeiro homem da areia das lendas, contando, inclusive, com a areia mágica que faz com que as pessoas durmam, e sua principal tarefa era proteger as crianças enquanto elas estavam dormindo, para que elas não fossem atacadas por monstros dos pesadelos. Inicialmente, The Sandman seria uma one shot, uma edição única com início, meio e fim, mas, em maio de 1975, a DC decidiria lançar uma série regular do personagem, com a numeração começando do 2, roteiros de Michael Fleisher e arte de Ernie Chua; bimestral, essa série, entretanto, não faria sucesso, e acabaria cancelada no número 6, em janeiro de 1976. Após o cancelamento, esse Sandman ainda faria um punhado de aparições em outras revistas, com destaque para The Best of DC 22, de março de 1982, na qual ele ajuda o Papai Noel a derrotar vilões insatisfeitos com os presentes que ganharam de Natal, e Wonder Woman 300, de fevereiro de 1983, na qual é revelado que Sandman não é o homem da areia, e sim um humano chamado Garrett Stanford, um professor de psicologia da Universidade da Califórnia que ficou preso na dimensão do Sonhar ao tentar salvar "um grande homem" (supostamente o Presidente dos Estados Unidos) de um monstro dos pesadelos, ganhando a habilidade de deixar o Sonhar durante uma hora por dia, para ajudar outras pessoas contra monstros semelhantes.

No final da década de 1980, Gaiman e o desenhista Dave McKean criaram uma one shot chamada Violent Cases, lançada em 1987 pela Tundra Comics, que chamou a atenção de Karen Berger, à época editora-chefe da DC. Na época, motivada pelo sucesso conseguido por Alan Moore à frente da revista do Monstro do Pântano, a DC estava procurando novos talentos para assumir alguns de seus personagens de menor sucesso lançados na década de 1970, de forma que Berger contratou a dupla para escrever uma minissérie protagonizada pela Orquídea Negra, super-heroína que havia estreado na Adventure Comics 428, em julho de 1973. Gaiman e McKean criariam uma minissérie em três edições, chamada Black Orchid, lançada entre dezembro de 1988 e fevereiro de 1989.

Ao escrever a minissérie, Gaiman planejava usar alguns personagens do Sandman de Simon e Kirby, como Bruto e Glob, dois pesadelos que ele comanda através de um apito mágico, e os irmãos Caim e Abel, que, após os eventos descritos na Bíblia, passaram a residir no Sonhar. Berger, entretanto, vetou, pois o roteirista Roy Thomas já os estava usando na revista Infinity Inc., e a DC não gostaria que os personagens tivessem duas versões conflitantes nas bancas ao mesmo tempo. Ironicamente, Infinity Inc. seria cancelada em junho de 1988, antes, portanto, do lançamento de Black Orchid; seu cancelamento e o sucesso da minissérie, porém, fariam com que Berger decidisse oferecer o Sandman a Gaiman, convidando-o a escrever uma nova série regular para o personagem. Segundo Gaiman, Berger lhe daria apenas uma condição: a DC queria um novo Sandman, de forma que ele poderia manter o nome, mas para todo o resto teria carta branca.

Gaiman aproveitaria ao máximo essa oportunidade, criando, para protagonista da revista, o personagem Sonho descrito há alguns parágrafos. O próprio Gaiman criaria a aparência do personagem, misturando a própria aparência que tinha por volta dos vinte anos de idade, inclusive com roupas semelhantes às que ele costumava usar na época, com a do cantor Robert Smith, da banda The Cure; segundo ele, essa imagem seria inspirada na primeira imagem que lhe veio à mente quando ouviu que tinha carta branca para redefinir o personagem: a de um homem jovem, extremamente pálido e extremamente magro, com longos e desgrenhados cabelos negros, nu e preso em uma pequena redoma de vidro, aguardando seus captores falecerem para então se libertar.

De fato, a revista The Sandman, cuja primeira edição seria lançada em 29 de novembro de 1988 (mas com data na capa de janeiro de 1989, por razões que só o mercado editorial norte-americano conhece), começaria com Sonho sendo capturado por um homem que realiza um ritual que visava, na verdade, capturar a Morte - também uma dos Perpétuos e irmã mais velha de Sonho - mas o capturou acidentalmente. Sem sua presença no Sonhar, várias coisas bizarras começam a acontecer ao redor do planeta. Paciente ou indiferente, não se sabe, Sonho aguarda até que seus captores morram, e, então, sem seu domínio sobre ele, se liberta. Ao retornar ao Sonhar, entretanto, ele descobre que não foi apenas na Terra que houve um desequilíbrio devido à sua ausência, e, em várias das primeiras edições, luta para restaurar a ordem em ambos os planos.

Gaiman entregaria uma sinopse das oito primeiras edições a McKean, que criaria os esboços dos personagens e os apresentaria a Berger. Berger recomendaria o desenhista Sam Kieth para a série, ficando McKean a cargo apenas das capas - que se tornariam uma das principais marcas registradas da série, já que misturavam pintura, desenho e fotografia, e raramente tinham a presença de Sonho ou dos Perpétuos. Kieth desenharia apenas as cinco primeiras edições, sendo substituído por Mike Dringenberg. Nas edições seguintes, outros desenhistas, como Chris Bachalo, Jill Thompson, Shawn McManus, Marc Hempel, Mike Allred e Michael Zulli, assumiriam a arte; Gaiman, entretanto, seria o único roteirista até a derradeira edição, e todas as capas seriam criadas por McKean.

Aos poucos, Gaiman começaria também a introduzir os demais Perpétuos na revista, começando por Morte, que estreou na edição 8. Retratada como uma mulher de uns vinte anos, também de aparência gótica, com pela alva e desgrenhados cabelos negros, um ankh (o símbolo egípcio da vida após a morte) pendurado em um cordão no pescoço e maquiagem ao redor do olho direito que lembra o Olho de Hórus (o símbolo egípcio da saúde e proteção), quase sempre vestida de preto e frequentemente carregando um guarda-chuva, Morte logo se tornaria uma das mais populares personagens da série, principalmente porque, ao contrário do esperado, estava sempre feliz, era muito simpática, e sempre dava conselhos de valor tanto a Sonho quanto àqueles com quem se encontrava - normalmente no momento de sua morte, quando era seu papel levá-los ao seu domínio. Para criar a aparência de Morte, Dringenberg se basearia em uma amiga, Cinamon Hadley. Ao mostrar seu esboço da personagem para Gaiman, ele o aprovaria imediatamente, e, ao se encontrar pessoalmente com Hadley, ele se surpreenderia com como de fato ela era parecida com a personagem - até mesmo em sua personalidade.

O segundo Perpétuo a fazer sua estreia seria Desejo, na edição 10. Sendo a personificação do desejo, cada um a(o) vê de uma forma, mas sempre como uma mulher ou homem lindíssimos, dependendo do gosto pessoal do observador; na maior parte das vezes, Desejo é retratada como uma mulher andrógina, de cabelos curtos, lindo rosto e sempre (muito bem) vestida com roupas unissex, como terninhos - também é interessante notar que os demais Perpétuos se referem a ela como "irmã", e suas falas sempre a referenciam no feminino. Desejo tem uma irmã gêmea, Desespero, que também estreou na edição 10, retratada como uma mulher baixa, obesa, nua, de cabelos longos mas sempre presos e dentes afiados. Enquanto Desejo é uma bon vivant cruel e manipuladora, e gosta de manter uma rivalidade com Sonho, Desespero é introvertida e dada à automutilação, mas extremamente centrada e inteligente, e ama a todos os seus irmãos.

Apesar de ter sido citado rapidamente (em um único quadrinho) da edição 7, o irmão mais velho de todos, Destino, só estrearia propriamente na edição 21. Retratado como um homem cego, vestido com um longo manto com capuz e acorrentado a um enorme livro que contém tudo o que já foi, é e será, Destino é o único dos Perpétuos que não foi criação de Gaiman, tendo sido criado por Marv Wolfman e Bernie Wrightson para ser o narrador das histórias da revista Weird Mystery Tales, estreando na edição 1, de agosto de 1972, e aparecendo esporadicamente em outras publicações da DC nas décadas de 1970 e 1980. Gaiman se aproveitaria de sua carta branca para não somente incorporá-lo ao "Universo Sandman", mas também para torná-lo irmão dos demais Perpétuos.

Vale citar, aliás, que, embora os Perpétuos raramente façam aparições nas demais revistas da DC, Gaiman deixou bem claro desde o início que The Sandman é ambientado no Universo DC "normal", inclusive com personagens dos demais títulos aparecendo em edições da série, como o super-herói Ajax, o vilão Espantalho (ambos na edição 5) e a Moça-Elemental (na edição 20). Frequentemente, Sonho vai ao inferno, onde encontra diversos personagens infernais que estrearam em outras revistas da DC, como Lúcifer (cuja versão de Gaiman faria tanto sucesso que ganharia uma série própria) e o demônio Etrigan. Gaiman também faria laços estreitos entre The Sandman e outra revista da DC da época considerada "para adultos", Hellblazer, protagonizada por John Constantine - uma das mais importantes personagens de The Sandman, inclusive, era sua antepassada, Lady Johanna Constantine.

Voltando aos perpétuos, a seguinte a estrear seria a mais nova de todos, Delirium, também na edição 21. Retratada como uma menina de cabelos multicoloridos e um olho de cada cor, vestida sempre com peças que não combinam entre si, e tão exótica que nem sua sombra corresponde à sua forma, Delirium alterna momentos de lucidez com de loucura absoluta, de repente começa a falar sobre algum assunto aleatório e se esquece do que estava falando, e, apesar de sua aparência inocente, em um rompante pode cometer atos de crueldade até piores que os de Desejo. Há muito tempo, ninguém se lembra quanto, Delirium se chamava Deleite e não era louca, mas jamais foi revelado na série por que a mudança ocorreu. Para criar a aparência e a personalidade de Delirium, Gaiman se inspiraria na poeta Kathy Acker e na desenhista Jill Thompson, que, aliás, desenharia as edições 40 a 49 de The Sandman, que incluíam o arco de história Vidas Breves, do qual Delirium era uma das protagonistas. Por causa da amizade de Gaiman com a cantora Tori Amos, muita gente acha que ele teria se inspirado nela para criar Delirium, mas a primeira aparição de Delirium em The Sandman ocorreria meses antes de Gaiman e Tori se conhecerem.

O último dos sete Perpétuos passaria várias edições sendo chamado apenas de "irmão", e pouco se falava sobre quem ele seria; somente em uma edição especial lançada em novembro de 1991 ele faria sua primeira aparição, mas somente na edição 41, de setembro de 1992, seria revelado quem ele é e por que estava sumido. Trata-se de Destruição, retratado como um homem enorme e musculoso de cabelos vermelhos; como o restante dos Perpétuos, sua personalidade não corresponde nem à sua aparência, nem ao que se espera de seu nome, e Destruição é doce, meigo, altruísta, conciliador e extremamente bem-humorado, não sendo raro que ele apareça gargalhando. Responsável por encerrar ciclos para que novos comecem, um dia ele ficou preocupado que a humanidade pudesse vir a destruir a si mesma e a tudo o que existe, e, não querendo tomar parte nisso, decidiu deixar sua missão de lado e viajar para ver o mundo. Cada um dos irmãos tem uma opinião diferente sobre essa atitude.


Não sei se vocês repararam, mas os nomes de quase todos os Perpétuos começam com a letra D. Em inglês, todos começam com D mesmo: Dream, Death, Desire, Despair, Destiny, Delirium e Destruction, na ordem em que os apresentei aqui. Em português, normalmente ninguém se preocupa muito com Sonho e Morte não terem nomes com D, mas às vezes, principalmente quando alguém vai falar os nomes de todos no mesmo balão, os tradutores quiseram manter a característica - e aí, resolveram chamar Sonho de Devaneio, e Morte de Desencarnação. Eu acho ambos os nomes meio ridículos, mas fazer o quê.

O sucesso de The Sandman faria com que a DC criasse um selo apenas para revistas voltadas para o público adulto, chamado Vertigo. Embora hoje The Sandman esteja tão associado ao Vertigo que muita gente ache que a série faz parte do selo desde o primeiro número, na verdade o Vertigo só foi criado em 1993, e a primeira edição de The Sandman com o selo foi a 47, de março daquele ano. Outras séries em andamento, como Hellblazer, Animal Man, Swamp Thing (do Monstro do Pântano) e Doom Patrol (da Patrulha do Destino) também receberiam o selo em suas edições de março de 1993. A primeira série regular a receber o selo Vertigo desde sua primeira edição seria Kid Eternity, de maio de 1993.

A primeira publicação nova a receber o selo Vertigo, entretanto, seria uma minissérie, um spin-off de The Sandman protagonizado por Morte, chamado Death: The High Cost of Living. Em três edições, lançadas entre março e maio de 1993, a minissérie mostra Morte vivendo como humana, algo que ela faz durante um dia a cada século. Escrita por Gaiman e ilustrada por Bachalo, a minissérie ficaria famosa por trazer, em suas capas, Tori Amos, em fotos alteradas pela arte de McKean. Três anos depois, Morte ganharia uma nova minissérie, Death: The Time of Your Life, também em três edições, lançadas entre abril e junho de 1996, novamente com roteiro de Gaiman e arte de Bachalo.

Ao todo, The Sandman teria 75 edições publicadas entre janeiro de 1989 e março de 1996, mais um especial, The Sandman: The Song of Orpheus, de novembro de 1991, que trazia a história de amor e tragédia entre Orfeu e Eurídice - sendo que, no Universo DC, Orfeu é filho de Sonho, então a história conta com coadjuvantes especiais e com um final ao estilo Gaiman. Graças a um acordo com a DC, Gaiman garantiria que ele seria o único roteirista de The Sandman, de forma que, quando ele achou por bem deixar a série, a editora não pôde contratar outro para colocar em seu lugar, tendo de permitir que ele a encerrasse. Ao longo da década de 1990, Sonho e os demais Perpétuos também apareceriam em histórias escritas por Gaiman publicadas em várias edições das revistas Vertigo Preview e Vertigo: Winter's Edge.

Gaiman também seria co-autor, junto com Matt Wagner, de Sandman Midnight Theatre, edição especial lançada em setembro de 1995, ambientada na época em que Sonho era prisioneiro na Terra, na qual Dodds viaja à Inglaterra para investigar um crime, e acaba chegando até a casa onde Sonho estava aprisionado. Essa edição era considerada um crossover entre The Sandman e Sandman Mystery Theatre, uma das séries mais aclamadas do selo Vertigo, que teve 70 edições lançadas entre abril de 1993 e fevereiro de 1999, e era protagonizada por Dodds.

Em 1999, Gaiman escreveria um romance ambientado no Universo Sandman, mas no qual Sonho pouco aparece, chamado The Sandman: The Dream Hunters. Nele, um espírito de raposa e um tanuki (espécie de guaxinim japonês, a "roupa de guaxinim" do Mario, aliás, é uma roupa de tanuki) apostam que, se um dos dois conseguir tirar um monge budista de dentro de um templo, aquele que o conseguisse passaria a ser o dono do templo. No posfácio, Gaiman diz que o romance seria uma adaptação de uma antiga lenda japonesa, mas, em 2001, confessaria ter ele mesmo inventado a história. Lançado pela DC pelo selo Vertigo, em 2009, em comemoração aos dez anos de seu lançamento, o romance seria transformado em uma minissérie em quadrinhos também lançado pelo Vertigo, com arte de P. Craig Russell, em quatro edições, lançadas entre janeiro e abril; no Brasil, essa minissérie ficaria conhecida como Sandman: Caçadores de Sonhos.

Em janeiro de 2002, a DC lançaria uma edição especial com um nome enorme, 9-11: The World’s Finest Comic Book Writers and Artists Tell Stories to Remember, com histórias de mais de duzentos roteiristas e desenhistas (incluindo até mesmo Stan Lee) que tinham a ver, real ou filosoficamente, com os atentados terroristas do 11 de Setembro de 2001. Gaiman contribuiria com uma história protagonizada (talvez muito apropriadamente) por Morte e Destruição, que conversam com um garotinho durante um passeio de roda gigante.

Em 2003, para comemorar os dez anos do selo Vertigo, Gaiman escreveria The Sandman: Endless Nights, uma edição especial lançada em setembro daquele ano com sete histórias, cada uma protagonizada por um dos Perpétuos e ilustrada por um artista diferente: Glenn Fabry, Milo Manara, Miguelanxo Prado, Frank Quitely, P. Craig Russell, Bill Sienkiewicz e Barron Storey. No Brasil, esse especial recebeu o nome de Sandman: Noites Sem Fim, o que, na verdade, é uma escorregada na tradução, já que Endless (que, de fato, significa "sem fim"), é, em inglês, o nome dos Perpétuos, de forma que o trocadilho se perdeu - mas poderia ter se mantido se o título fosse "Noites Perpétuas".

Além da série regular, do especial de Orfeu, das histórias publicadas em 9-11, Vertigo Preview e Vertigo: Winter's Edge, das duas minisséries da Morte e de The Dream Hunters, Gaiman só escreveria, até hoje, mais uma história dos Perpétuos, a minissérie The Sandman: Overture (no Brasil conhecida como Sandman: Prelúdio). Com arte de J.H. Williams III, e planejada para ser lançada em comemoração aos 25 anos do lançamento de The Sandman, a minissérie em seis edições, que originalmente seria bimestral, sofreria vários problemas de edição e distribuição, e acabaria sendo lançada entre dezembro de 2013 e novembro de 2015. Overture é ambientado antes de The Sandman número 1, e mostra um evento cósmico que enfraqueceu Sonho, permitindo que ele fosse capturado.

A DC manteria a promessa e não lançaria nenhuma história dos Perpétuos sem roteiros de Gaiman (com três exceções que veremos em breve), mas, para capitalizar sobre o sucesso de The Sandman, investiria em vários spin-offs: Destiny: A Chronicle of Deaths Foretold, minissérie protagonizada por Destino, lançada em três edições entre abril e julho de 1996, com roteiro de Alisa Kwitney e arte de Kent Williams, Michael Zulli, Scott Hampton e Rebecca Guay; The Dreaming, série regular ambientada no Sonhar e protagonizada por diversos personagens coadjuvantes de The Sandman, que teve 60 edições publicadas entre junho de 1996 e maio de 2001; Sandman Presents: Petrefax, minissérie em quatro edições publicadas entre março e junho de 2000, com roteiro de Mike Carey e arte de Steve Leialoha, protagonizada por um personagem que Gaiman criou para The Sandman 55; Lucifer, série regular de 75 edições e um especial, publicadas entre junho de 2000 e agosto de 2006; e House of Mystery, série de antologia (com histórias com começo, meio e fim a cada edição) com 42 edições e dois especiais de Halloween, publicadas entre julho de 2008 e outubro de 2011, que na primeira edição teve uma história estrelada por Caim e Abel no Sonhar, e a partir daí passou a ter outras histórias nem tão relacionadas com o Universo Sandman.

Vale fazer uns dois parágrafos em separado para The Dead Boy Detectives: originalmente, eram dois fantasmas de meninos que protagonizaram uma história em The Sandman 25, solucionando um mistério relacionado à escola em que estudavam; segundo Gaiman, sua intenção ao criar os personagens era subverter os dois tipos de literatura infanto-juvenil mais populares do Reino Unido, as histórias de detetives adolescentes e as ambientadas em colégios internos. No final de 1993, a DC decidiria fazer um grande crossover, uma história cujas partes seriam contadas em edições especiais das revistas do selo Vertigo; crossovers eram comuns na Marvel, na DC e em outras editoras de super-heróis desde a década de 1980, mas, no selo Vertigo, esse seria o primeiro e único. Gaiman seria convidado para escrever a história de abertura do crossover, e decidiria usar os Dead Boy Detectives nela; essa edição seria lançada em dezembro de 1993, com arte de Bachalo e o nome de The Children's Crusade, mesmo do crossover, e o número 1. A história prosseguiria pelas revistas Black Orchid Annual 1, Animal Man Annual 1, Swamp Thing Annual 7, Doom Patrol Annual 2, Arcana Annual 1, (cada uma com roteiro e arte dos responsáveis pelos respectivos títulos mensais) e concluiria na The Children's Crusade 2, de janeiro de 1994, com roteiro de Kwitney e arte de Peter Snejbjerg.

Depois desse crossover, os Dead Boy Detectives ainda retornariam mais três vezes: na minissérie Sandman Presents: The Dead Boy Detectives, em quatro edições lançadas entre agosto e novembro de 2001, com roteiro de Ed Brubaker e arte de Bryan Talbot; The Dead Boy Detectives, edição especial em estilo mangá escrita e desenhada por Jill Thompson, que contava com a participação especial de Morte e foi lançada em fevereiro de 2005; e Dead Boy Detectives, série regular em 12 edições lançadas entre março de 2014 e fevereiro de 2015, com roteiro de Toby Litt e arte de Mark Buckingham.

Para terminar, falta falar sobre as três exceções: com a autorização de Gaiman, Jill Thompson escreveria e desenharia três edições especiais protagonizadas pelos Perpétuos (além de incluir Morte em The Dead Boy Detectives); uma delas era Death: At Death's Door, em estilo mangá e protagonizada por Morte, que seria lançada em maio de 2003, mas são as outras duas que merecem destaque: The Little Endless Storybook (no Brasil, Os Pequenos Perpétuos) é protagonizado por versões infantis dos sete Perpétuos, e, em seu enredo, Delirium sumiu e cabe ao cachorro de Destruição, Barnabas, encontrá-la. A inspiração de Thompson para esse especial viria da primeira história que ela desenhou para The Sandman, na edição 40, na qual Abel conta uma história (que pode ou não ser verdadeira) da época em que Sonho e Morte eram crianças. The Little Endless Storybook seria lançado em junho de 2001; em maio de 2011, para comemorar os dez anos de seu lançamento, Thompson escreveria e desenharia uma segunda edição protagonizada pelos Pequenos Perpétuos, Delirium's Party (A Festa da Delirium), na qual Delirium organiza uma festa para que Desespero deixe de ser tão triste.

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