domingo, 11 de setembro de 2022

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Olimpíadas (XXVIII)

Em 2006, eu fiz aqui uma série de posts sobre as Olimpíadas. Desde então, sempre que possível, eu a atualizo, normalmente depois de uma Olimpíada de Inverno, porque tem alguma coisa nas Olimpíadas de Inverno que me deixa com vontade de escrever sobre Olimpíadas. Como esse ano teve Olimpíada de Inverno, vocês já devem ter imaginado que o mais novo post da série olímpica é esse aqui. Hoje é dia, mais uma vez, de Olimpíadas no átomo!

Tóquio 2020

Tóquio seria escolhida sede das Olimpíadas de 2020 sete anos antes, em 2013, quando concorreria contra Madrid, na Espanha, e Istambul, na Turquia. Essa seria a terceira vez na qual a capital japonesa seria escolhida para sediar uma Olimpíada, mas a primeira, em 1940, acabaria cancelada por causa da Segunda Guerra Mundial. Os japoneses, portanto, estavam ansiosos para que sua principal cidade se tornasse a primeira cidade asiática a sediar duas edições das Olimpíadas, 56 anos após a primeira, em 1964.

No final de 2019, entretanto, algo inesperado aconteceria: um vírus letal se espalharia pelo mundo, levando a Organização Mundial da Saúde a decretar pandemia global e vários países europeus e asiáticos a fecharem suas fronteiras e adotarem medidas de lockdown, restringindo a mobilidade de seus cidadãos. Diante desse cenário, temeu-se que Tóquio, pela segunda vez na história, fosse ter uma Olimpíada cancelada - e isso faltando poucos meses para a data de abertura do evento, com todas as instalações esportivas que seriam usadas durante os Jogos já estando praticamente prontas. De início, o comitê organizador local (TOCOG) e o Comitê Olímpico Internacional mantiveram as datas previstas para o evento, e alegaram estar trabalhando para que ele pudesse ocorrer normalmente, mesmo em meio à pandemia. Conforme o tempo avançava, contudo, ficava claro que isso seria impossível, e alguns políticos até se aproveitaram para tentar levar as Olimpíadas para seus respectivos países, como Shaun Bailey, candidato a prefeito de Londres, e os deputados do estado norte-americano da Flórida. Em março de 2020, vários países, dentre eles Canadá e Austrália, começariam a anunciar que não enviariam seus atletas caso os Jogos ocorressem nas datas marcadas.

Em 24 de março de 2020, finalmente o TOCOG se renderia, e, após uma demorada reunião com o COI, anunciaria que as Olimpíadas, pela primeira vez em sua história, seriam adiadas para "uma data posterior a 2020, mas não depois do verão (no hemisfério norte, ou seja, entre junho e setembro) de 2021". Após o anúncio do adiamento, começariam as negociações, pois vários dos locais de competição já tinham contratos para serem transformados em outras coisas, ou usados para outros torneios, após a data original do término dos Jogos Olímpicos; até mesmo a Vila Olímpica seria convertida em apartamentos e entregue a cidadãos que os compraram para ajudar a financiar o empreendimento, alguns deles não concordando em ter de esperar um ano além do previsto para receber seus imóveis. Além disso, muitos eventos classificatórios já haviam sido realizados, mas outros tantos haviam sido cancelados justamente por causa da pandemia, e era preciso garantir uma forma de que nenhum dos atletas fosse prejudicado pela mudança - no futebol masculino, por exemplo, os atletas devem ter no máximo 23 anos completados em 1o de janeiro do ano da Olimpíada, mas, com o adiamento em um ano, a FIFA concordaria em elevar essa idade para 24.

O adiamento sequer foi ponto pacífico, e muitas autoridades pediram pelo cancelamento puro e simples, incluindo o ex-primeiro-ministro japonês Yoshiro Mori; em uma pesquisa realizada com a população japonesa em janeiro de 2021, a maioria dos entrevistados diria não concordar com a realização do evento, e ser favorável a seu cancelamento - jornais chegaram a noticiar que o governo japonês teria cancelado os Jogos unilateralmente, o que foi rapidamente desmentido. O TOCOG, principalmente por causa do dinheiro investido, e o COI, não querendo que os atletas perdessem um ciclo olímpico inteiro, se mantiveram firmes quanto à realização, com o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, declarando ter confiança nos organizadores japoneses de que eles contariam com a disciplina necessária para que as competições esportivas fossem realizadas seguindo rígidas normas sanitárias e de segurança. Conforme a nova data estipulada para o início dos Jogos se avizinhava, e o número de casos e mortes decrescia, principalmente devido ao avanço da vacinação, parecia ser realmente possível que tudo transcorresse mais ou menos dentro da normalidade.

É claro que medidas sanitárias tiveram de ser aplicadas, a mais lógica, porém mais controversa delas, sendo a proibição de público presente durante as competições - no início pensou-se em proibir apenas os estrangeiros, com os japoneses podendo comparecer desde que a lotação máxima de cada local de competição não excedesse 50% do total, mas, em 8 de julho, foi determinado que nenhum público poderia estar presente em eventos fechados, somente em eventos abertos como a maratona ou o triatlo. Milhares de pessoas que já haviam comprado ingressos tiveram de ser reembolsadas, e vários anunciantes e patrocinadores locais desistiram de seus contratos, já que não poderiam fazer ações junto ao público como planejado; o TOCOG não anunciaria o tamanho do prejuízo causado por esses dois fatos, mas declarou que, se os Jogos tivessem sido novamente adiados ou cancelados, o prejuízo teria sido muito maior, devido aos gastos com a manutenção dos locais de competição e à possível desistência de patrocinadores internacionais.

Outra medida controversa foi a não-obrigatoriedade de vacinação para os atletas, membros de delegações e voluntários, com o COI apenas recomendando que os atletas se vacinassem "caso as vacinas estivessem disponíveis", e alegando não poder exigir obrigatoriedade num momento em que muitos países sequer haviam começado a vacinação, principalmente os mais pobres. Os voluntários receberiam manuais de como se portar durante o evento, com medidas como evitar usar transporte público no caminho para os locais de competição e evitar tocar nos atletas durante os eventos; esses manuais seriam criticados por autoridades da saúde, que diriam que eles não seguiam critérios científicos. Um festival cultural chamado Nippon Festival, que seria realizado em paralelo à Olimpíada, e originalmente apresentaria números de dança, concertos musicais, ópera e um torneio de sumô, acabaria sendo realizado de forma virtual, transmitido pela internet.

Após o início das competições, a opinião pública lentamente mudaria, e uma nova pesquisa revelaria que a maioria dos entrevistados achou que as Olimpíadas foram bem conduzidas, os protocolos sanitários foram bem aplicados, e que manter a realização dos Jogos foi a decisão correta. O número de casos entre as delegações foi irrelevante, e nenhuma morte foi registrada; o número de casos dentre a população japonesa aumentaria drasticamente durante a realização dos Jogos, com o país vivendo seu recorde de casos em um único dia no dia seguinte ao da Cerimônia de Encerramento, mas as autoridades de saúde do país declarariam que isso não teve a ver com as Olimpíadas, e sim com a chegada ao Japão da Variante Delta, mais transmissível. No fim, os Jogos Olímpicos de 2020 foram considerados um grande sucesso pelo TOCOG, pelo COI e pelos meios de comunicação japoneses, e uma prova de que grandes eventos poderiam ser realizados durante a pandemia, desde que usando os protocolos sanitários adequados.

Vocês devem ter reparado que eu falei "Jogos Olímpicos de 2020" (e que coloquei "Tóquio 2020" lá no título dessa seção), mesmo eles tendo sido realizados em 2021. No dia em que foi anunciado o adiamento, o TOCOG e o COI anunciariam que, por razões de marketing, o nome do evento e toda a sua iconografia seriam mantidas, ou seja, mesmo tendo sido realizados em 2021, esses foram os Jogos Olímpicos de 2020, com todas as logomarcas ostentando Tóquio 2020. Com o adiamento, entretanto, essa seria a primeira edição das Olimpíadas a ser realizada em um ano ímpar, a primeira Olimpíada de Verão desde a de 1900 a não ser realizada em um ano bissexto, e a edição com o menor intervalo para a seguinte - já que a Olimpíada de Inverno de 2022 ocorreria menos de seis meses após seu encerramento.

Assim, os Jogos Olímpicos de 2020 seriam realizados entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021 - quase um ano exato após sua data de início originalmente marcada, 24 de julho de 2020. Ao todo, participaram 11.656 atletas, recorde para as Olimpíadas, representando 206 delegações - incluindo uma curiosamente chamada Comitê Olímpico Russo. Devido a um escândalo de manipulação de testes anti-doping pelo governo russo durante as Olimpíadas de Inverno de 2014, em Sochi, a Rússia perdeu o direito a participar de qualquer competição esportiva entre 9 de dezembro de 2019 e 31 de dezembro de 2022; os atletas russos que comprovassem jamais terem sido pegos em exames anti-doping, porém, poderiam participar normalmente, desde que não usassem a bandeira russa, o hino nacional russo, ou o nome Rússia - o piloto Nikita Mazepin, por exemplo, correu a temporada de 2021 da Fórmula 1 sob a bandeira da Federação Russa de Automobilismo. Seguindo essa regra, em 19 de fevereiro de 2021, o Comitê Olímpico Russo anunciaria que os atletas russos que se classificassem para as Olimpíadas competiriam usando seu nome (sob a sigla ROC, de Russian Olympic Committee), sua bandeira e um trecho do Concerto para Piano Número 1, de Tchaikovsky, sendo tocado no lugar do hino nacional russo em caso de medalha de ouro. Os Jogos de 2020 também veriam a segunda participação da Equipe Olímpica de Refugiados, composta por 29 atletas, de 10 países diferentes, que tiveram de deixá-los e buscar abrigo em outras nações devido à guerra, à fome ou à perseguição étnica, política ou religiosa. O único país que não enviaria atletas a Tóquio, alegando preocupação com a pandemia, seria a Coreia do Norte.

O revezamento da Tocha Olímpica também seria afetado pela pandemia. O Fogo Olímpico seria aceso na Grécia em 12 de março de 2020, chegando a Atenas no dia 19, quando seria entregue às autoridades japonesas. O plano original era começar o revezamento em solo japonês em 26 de março, mas o fogo teve de ser mantido aceso e seguro durante quase um ano, com o revezamento somente começando em 25 de março de 2021. A honra de acender a Pira Olímpica coube à tenista Naomi Osaka, com a última parte do revezamento, já dentro do Estádio Olímpico, começando com o judoca Tadahiro Nomura e a lutadora olímpica Saori Yoshida, que carregaram a tocha juntos, passando-a para um trio dos maiores jogadores de beisebol do Japão, Sadaharu Oh, Shigeo Nagashima e Hideki Matsui, então para Hiroki Ohashi e Junko Kitagawa, um médico e uma enfermeira que estavam na linha de frente contra a pandemia, para a maratonista cadeirante Wakako Tsuchida, e então para um grupo de estudantes de Fukushima, cidade devastada por um terremoto seguido de um tsunami em 2011, que a passariam a Osaka.

As medalhas seriam criadas através de um programa revolucionário de recolhimento e reaproveitamento de lixo eletrônico, com caixas de coleta sendo distribuídas por todo o país, disponíveis de abril de 2017 a março de 2019, quando a quantidade necessária de materiais foi obtida - todo o bronze, prata e ouro usados nas medalhas foi extraído de aparelhos eletrônicos como televisões, tablets e telefones celulares doados pelos cidadãos que participaram da campanha. Devido aos protocolos sanitários, a cerimônia de entrega das medalhas também foi diferente, com os próprios atletas pegando as medalhas das bandejas e colocando em volta de seus pescoços. O mascote, chamado Miraitowa, seria escolhido em um concurso, que contou com mais de dois mil mascotes inscritos, e no qual poderiam votar alunos das escolas do ensino fundamental japonês. Miraitowa, cujo nome é uma união das palavras mirai ("futuro") e towa ("eternidade"), é um ratinho branco com o mesmo padrão em azul marinho do logotipo dos Jogos, conhecido no Japão como ichimatsu moyo, e que foi muito popular em roupas e decoração de casas no final do Período Edo, entre 1603 e 1867.

O programa olímpico contaria com 339 provas de 41 esportes: atletismo, badminton, basquete, basquete 3x3, beisebol, boxe, canoagem, caratê, ciclismo, equitação, escalada esportiva, esgrima, futebol, ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, golfe, handebol, hóquei, judô, levantamento de peso, luta olímpica, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, polo aquático, remo, rugby, saltos ornamentais, skateboarding, softbol, surfe, taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia (clique aqui para ver todas as provas do programa). Além de novas provas para esportes que já faziam parte do programa, como o basquete 3x3, o BMX freestyle, e novas provas mistas no atletismo, natação e triatlo, dentre outras, o programa contaria com seis grandes novidades, presentes graças a uma mudança feita pelo COI: em sua reunião de dezembro de 2014, a entidade determinaria que, a partir da edição de 2020, o programa olímpico não seria mais "baseado em esportes", e sim "baseado em eventos"; na prática, isso quer dizer que cada edição deverá ter esportes "obrigatórios", como o atletismo e a natação, mas que esportes de pouco público ou interesse local podem ficar de fora, enquanto outros de maior relevância podem entrar. Até agora ninguém teve coragem de tirar nenhum, mas os japoneses escolheriam adicionar caratê, surfe, skateboarding, escalada esportiva, beisebol e softbol ao programa - esses esportes não precisam estar na edição seguinte, de 2024, tanto que já foi anunciado que caratê, beisebol e softbol não estarão, sendo substituídos por outros, que não precisam ser necessariamente três. A intenção do COI é promover mais esportes nas Olimpíadas sem criar um programa gigante, dando ênfase àqueles que tiverem o maior interesse do público e da organização.

O basquete 3x3, o surfe, o skateboarding e a escalada esportiva seriam incluídos como parte de uma estratégia do COI para tornar as Olimpíadas mais atraentes para os jovens, já que pesquisas demonstravam que o público dos Jogos vinha "envelhecendo", com as faixas etárias mais baixas preferindo assistir a eventos como os X-Games e os de eSports. Embora pouca gente saiba, o Japão atualmente é muito forte no surfe e no skateboarding, então não foi difícil convencer os organizadores de que esses deveriam ser dois dos esportes novos do programa. A inclusão dos dois também acabaria sendo benéfica para o Brasil, que tem muitos nomes de destaque e chances de medalhas em ambos os esportes; o melhor desempenho dos japoneses, entretanto, motivaria muitas reclamações por parte do público brasileiro, especialmente nas redes sociais, de que estaria ocorrendo favorecimento aos atletas da casa.

Após muita especulação sobre se para o surfe seria usada a piscina de ondas criada pelo surfista Kelly Slater, os organizadores optariam por realizar as provas no mar; como não há mar em Tóquio, elas tiveram de ocorrer na cidade de Chiba, a 40 km da capital. No masculino, o ouro ficaria com o brasileiro Ítalo Ferreira, que derrotaria na final o japonês Kanoa Igarashi; a semifinal entre Igarashi e outro brasileiro, o favorito Gabriel Medina, seria uma das que gerariam maior controvérsia no Brasil, já que muitos acharam que Medina surfou melhor, mas perdeu a vaga por ter enfrentado um japonês. Medina acabaria perdendo também a disputa da medalha de bronze, para o australiano Owen Wright. No feminino, o ouro ficaria com a norte-americana Carissa Moore, a prata com a sul-africana Bianca Buitendag, e o bronze com a japonesa Amuto Tsuzuki; as brasileiras Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima seriam eliminadas, respectivamente, nas oitavas de final, para Tsuzuki, e nas quartas de final, para Moore.

No skateboarding, disputado sob um sol de rachar no Parque de Esportes Urbanos de Ariake, o domínio foi total do Japão, que ganhou ouro no street masculino, ouro e bronze no street feminino, e ouro e prata no park feminino - sendo que a medalhista de bronze do park feminino, Sky Brown, também nasceu no Japão e é filha de mãe japonesa, mas compete pelo Reino Unido de seu pai. O Brasil ganharia três medalhas de prata, no park masculino com Pedro Barros, no street masculino com Kevin Hoefler, e no street feminino com Rayssa Leal. Rayssa, de apenas 13 anos, apelido Fadinha, era considerada a mascote da equipe brasileira, mas é também uma das atletas mais talentosas do circuito; ela começaria a andar de skate aos sete anos de idade, após ver na internet vídeos de outra skatista brasileira, Leticia Bufoni, e ganharia o apelido graças a um vídeo no qual aparecia andando de skate com uma saia de balé e asinhas de fada nas costas. A final do street feminino foi outra que gerou muitas acusações de favorecimento às atletas japonesas, que ganhariam notas muito mais altas que as favoritas, que incluíam as brasileiras Bufoni e Pâmela Rosa, que sequer se classificariam para a final, e a norte-americana Alexis Sablone, que terminaria em quarto; especialistas concordariam, entretanto, que as manobras apresentadas pelas japonesas e por Rayssa eram muito mais complexas que as das rivais. Vale dizer também que chamaria atenção a pouca idade das medalhistas no feminino: além de Rayssa e de Brown, a medalhista de ouro no street, Momiji Nishiya, e a de prata no park, Kokona Hiraki, também tinham apenas 13 anos, enquanto o bronze do street, Funa Nakayama, tinha 16, e o ouro do park, Sakura Yosozumi, tinha 18.

A natação seria responsável por certa controvérsia, já que, assim como nos Jogos de Pequim, em 2008, o COI aceitaria um pedido da rede de televisão norte-americana NBC para que as eliminatórias fossem disputadas à noite e as finais pela manhã - dessa forma, por causa do fuso-horário, as finais poderiam ser exibidas em horário nobre nos Estados Unidos. A decisão, porém, causaria muitas reclamações dos canais de TV japoneses, já que a natação é um dos esportes que tem maior audiência naquele país, e eles temiam perder parte dessa audiência com as finais sendo realizadas de manhã. Na falta de um Michael Phelps, os maiores destaques seriam os norte-americanos Caleb Dressel, com cinco medalhas de ouro, e Katie Ledecky, em sua terceira Olimpíada, ouro nos 800 m e nos 1.500 m livre, prata nos 400 m Livre e no revezamento 4 x 200 m Livre. Também chamaria atenção a equipe australiana feminina, que contava, dentre outras, com Ariarne Titmus, de 20 anos, ouro nos 200 m e nos 400 m e prata nos 800 m Livre; Kaylee McKeown, de 19 anos, ouro nos 100 m e 200 m Costas e no revezamento 4 x 100 m Medley; e Emma McKeon, que, em sua segunda Olimpíada, ganharia quatro ouros, incluindo os 50 m e os 100 m Livre e os revezamentos 4 x 100 m Livre e 4 x 100 m Medley, e três bronzes - com McKeon e McKeown, a Austrália também seria bronze no novo revezamento 4 x 100 m Medley misto, com o ouro ficando com o Reino Unido e a prata com a China.

O Brasil ganharia três medalhas na natação, todas conquistadas com muita dedicação e perseverança. Na piscina do Tokyo Aquatics Centre, Bruno Fratus, em sua terceira Olimpíada, após um quarto e um sexto lugar, seria medalha de bronze nos 50 m Livre, mesma cor da medalha de Fernando Scheffer, que bateria o recorde sul-americano dos 200 m Livre, prova na qual o Brasil não subia ao pódio desde Gustavo Borges em 1996. Já nas águas do Odaiba Marine Park, na Baía de Tóquio, onde também seria disputado o triatlo, Ana Marcela Cunha ganharia o ouro na maratona aquática de 10 km. Quatro vezes campeã mundial na distância de 25 km, nadando sua terceira Olimpíada (tendo estreado em 2008 mas optando por não competir em 2012 para se dedicar ao Circuito Mundial), e frustrada após um décimo lugar no Rio de Janeiro em 2016, onde era considerada favorita, Ana Marcela não deu chance para o azar, permanecendo dentre as primeiras colocadas desde a largada, e liderando praticamente toda a segunda metade da prova.

O atletismo, disputado no novíssimo Estádio Olímpico, construído no mesmo local que o original de 1964, derrubado para dar lugar a ele, não teria Usain Bolt, mas teria a jamaicana Elaine Thompson-Herah, que, assim como seu famoso compatriota, venceria os 100 m e os 200 m. Também no feminino, a holandesa Sifan Hassan, nascida na Etiópia, seria ouro nos 5.000 m e nos 10.000 m, e a norte-americana Athing Mu, de apenas 18 anos, filha de imigrantes sudaneses, seria ouro nos 800 m. No masculino, a maior surpresa seria a Itália, que conquistaria seu primeiro ouro nos 100 m com Marcell Jacobs, primeiro europeu a vencer essa prova desde o britânico Linford Christie em 1992 e primeiro atleta branco a vencê-la desde outro britânico, Alan Wells, em 1980; com Jacobs, os italianos também seriam ouro no revezamento 4 x 100 m, com os Estados Unidos se enrolando durante as passagens de bastão e sequer se classificando para a final. O Brasil ganharia duas medalhas de bronze no atletismo, com Alison dos Santos nos 400 m com barreiras, e Thiago Braz, medalhista de ouro em 2016, no salto com vara.

Devido ao grande calor que normalmente ocorre em Tóquio no final de julho, a organização decidiria, ainda em 2019, realizar as provas da maratona e da marcha atlética em outra cidade, Sapporo, ao norte do país e a mais de 1.000 km da capital; curiosamente, no dia da maratona, vencida pelos quenianos Eliud Kipchoge no masculino e Peres Jepchirchir no feminino, a diferença na temperatura entre Sapporo e Tóquio era de apenas um grau. E não podemos encerrar o atletismo sem falar da bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya, que, após não conseguir se classificar para a final dos 100 m, foi impedida de participar das eliminatórias dos 200 m pelo Comitê Olímpico de seu próprio país, que ordenou que ela retornasse à Bielorrússia imediatamente. Tsimanouskaya daria entrevistas dizendo que estava sofrendo uma punição por ter colocado nas redes sociais um vídeo no qual criticava as autoridades do atletismo bielorrusso, e que temia por sua vida caso tivesse de retornar; ela acabaria conseguindo asilo político na embaixada polonesa, e viajando para a Polônia, onde atualmente reside, após os Jogos.

O judô seria disputado no Nippon Budokan, originalmente construído para as Olimpíadas de 1964 e um dos maiores templos do judô mundial. O Japão dominaria a competição, ganhando cinco dos sete ouros possíveis no masculino e quatro dos sete no feminino, mas perderia a final da nova prova de equipes mistas para a França; o Brasil ganharia dois bronzes, com Daniel Cargnin na categoria até 66 kg e Mayra Aguiar, que conquistaria sua terceira medalha olímpica seguida, na categoria até 78 kg. O caratê também seria disputado no Budokan, mas, diferentemente do judô, nele os japoneses decepcionariam, conquistando apenas um ouro e um bronze no masculino e uma prata no feminino. O boxe também seria disputado em um dos templos sagrados do esporte japonês, o Ryogoku Kokugikan, onde são realizadas competições de sumô; o Japão surpreenderia e ganharia um ouro e dois bronzes, e o Brasil ganharia uma medalha de cada cor: Hebert Conceição seria ouro na categoria até 75 kg, Beatriz Ferreira seria prata na categoria até 60 kg, e Abner Teixeira seria bronze na categoria até 91 kg.

Um dos grandes destaques do Brasil seria a ginasta Rebeca Andrade, ouro no salto e prata no individual geral, primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha olímpica. Nascida em Guarulhos, São Paulo, mas treinando no Rio de Janeiro, Rebeca, que tem sete irmãos e é filha de uma doméstica, chegou a cogitar abandonar a ginástica após uma lesão em 2015, mas sua mãe a incentivou a continuar competindo. E a maior surpresa do time brasileiro seriam as tenistas Laura Pigossi e Luisa Stefani, bronze no torneio de duplas; as duas não jogam o circuito mundial juntas, a princípio não estavam classificadas para os Jogos, e só pegaram a vaga por desistência de outras duplas - o gerente da Confederação Brasileira de Tênis as inscreveria seguindo um pressentimento. Uma semana antes do início do torneio olímpico, ao receber a notícia de que elas ficaram com a vaga, Luisa estava nos Estados Unidos, onde mora, e Laura estava no Cazaquistão, disputando outro torneio. Houve até um protesto de uma dupla da Geórgia, cujo ranking era melhor - Luisa era a número 23 no ranking mundial de duplas, e Laura a 190 - mas o técnico georgiano não havia feito a inscrição, acreditando que elas seriam chamadas em caso de desistência simplesmente por sua posição no ranking. Contra todos os prognósticos, a dupla recém-criada de Laura e Luisa, apenas no quarto torneio em que jogariam juntas, venceriam todas as adversárias - a confiança nelas era tão pouca que seus três primeiros jogos sequer foram televisionados - até cair na semifinal, diante das suíças Belinda Bencic e Viktorija Golubic, que terminariam com a medalha de prata; na disputa do bronze, as brasileiras derrotariam as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina de virada, garantindo uma medalha inédita para o país.

O futebol masculino brasileiro conquistaria seu segundo ouro seguido e segundo da sua história, o primeiro fora de casa; o feminino teria o recorde de Formiga, de 43 anos, que, em Tóquio, participaria de sua sétima Olimpíada, se tornando a única jogadora a estar em todas as participações do futebol feminino olímpico, mas seria eliminado, nas quartas de final, pelo Canadá. O vôlei de quadra masculino, em sua primeira participação sob o comando do medalhista de prata em 1984 Renan Dal Zotto, perderia nas semifinais para o Comitê Olímpico Russo e na disputa da medalha de bronze para a Argentina, ficando fora do pódio; o feminino atropelaria todas as adversárias, mas seria derrotada na final por uma atuação impecável dos Estados Unidos, terminando com a prata. O vôlei de praia brasileiro não subiria ao pódio, nem no masculino, nem no feminino, na primeira vez em que isso ocorreu desde que a modalidade foi acrescentada ao programa olímpico, em 1996; após a eliminação, o atleta Alison criticou a falta de investimento no esporte. E o basquete brasileiro, pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, ficaria totalmente de fora, não participando nem no masculino, nem no feminino, nem na quadra, nem no estreante 3x3 - falando em basquete, nesse esporte os Estados Unidos fizeram a festa, ganhando o ouro no masculino e no feminino na quadra e no feminino no 3x3.

As duas medalhas brasileiras que eu ainda não citei são ambas de ouro, e vieram com atletas que já haviam brilhado no Rio de Janeiro na Olimpíada anterior: Isaquias Queiroz, no C1 1.000 m da canoagem, que somou o primeiro ouro do Brasil nesse esporte às duas pratas e ao bronze que conquistou em 2016; e Martine Grael e Kahena Kunze, que repetiriam o ouro que ganharam quatro anos antes na classe 49erFX da vela. Ao todo, o Brasil enviaria a Tóquio 312 atletas, sendo 153 mulheres, na maior participação feminina proporcionalmente ao número de homens. Terminaria com a melhor campanha de sua história, igualando o recorde de 7 ouros e 6 pratas das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ganhando também 8 bronzes (no Rio foram 6, o recorde são 10, em Pequim, 2008), para um total recorde de 21, o que lhe garantiria o 12o lugar no quadro de medalhas, melhor posição do país na história olímpica.

O Catar ganharia a primeira medalha de ouro de sua história de uma forma bastante curiosa: no salto em altura, o catari Mutaz Essa Barshim e o italiano Gianmarco Tamberi empataram na altura de 2,37 m, mesma alcançada por Maksim Nedasekau, da Bielorrúsia, que ficaria com a medalha de bronze por ter precisado de duas tentativas para ultrapassar a altura de 2,35 m, enquanto Barshim e Tamberi ultrapassaram todas as alturas na primeira tentativa. Pelas regras da World Athletics, a federação internacional de atletismo, quando todos os critérios de desempate são esgotados, os atletas empatados devem prosseguir tentando a altura seguinte - no caso, 2,39 m - até que um consiga ultrapassá-la e o outro não; ao invés disso, entretanto, os árbitros decidiriam encerrar a prova e entregar duas medalhas de ouro, deixando a prova sem medalhista de prata - essa última parte sendo praxe quando há empate pelo ouro. O engraçado foi que o árbitro de pista, a invés de comunicar isso aos atletas, perguntou se eles queriam continuar competindo ou se aceitavam cada um ganhar uma medalha de ouro - e aí, evidentemente, ambos concordaram que era melhor cada um ficar com um ouro. A história foi notícia no mundo inteiro, sempre sendo ressaltado que o esporte, mais que competição e superar seus próprios limites, é amizade e companheirismo, mas houve quem criticasse a decisão, alegando "traição aos ideais olímpicos", "desrespeito aos fundamentos do esporte" e outras expressões do tipo.

Outros dois países também ganhariam suas primeiras medalhas de ouro em 2020, ambos com atletas mulheres: Bermuda, que seria ouro no triatlo com Flora Duffy, e as Filipinas, ouro no levantamento de peso, categoria até 55 kg, com Hidilyn Diaz. Burkina Faso (no salto triplo do atletismo), Turcomenistão (também no levantamento de peso feminino) e San Marino (que ganharia logo três, duas no tiro e uma na luta livre) ganhariam em Tóquio suas primeiras medalhas olímpicas de qualquer cor. O topo do quadro de medalhas, porém, contaria com as mesmas figurinhas carimbadas de sempre, com os Estados Unidos liderando e a China em segundo - embora a diferença entre ambos tenha sido apenas de um ouro - seguida do anfitrião Japão, do Reino Unido, do Comitê Olímpico Russo e da Austrália. Ao todo, 93 delegações diferentes conquistariam pelo menos uma medalha, sendo que 65 conquistariam pelo menos um ouro, recorde na história das Olimpíadas.

Pequim 2022

Em 2015, Pequim, capital da China, ganharia a chance de se tornar a primeira cidade a sediar uma Olimpíada de Verão (2008) e uma de Inverno, ao derrotar Almaty, no Cazaquistão, pelo direito de sediar as Olimpíadas de Inverno de 2022. Como já vinha se tornando costume, a escolha não foi tranquila: Estocolmo, capital da Suécia, retiraria sua candidatura pouco após submetê-la, devido a um protesto da população, que alegava haver coisas mais importantes para o governo gastar dinheiro do que uma Olimpíada; Cracóvia, na Polônia, e Lviv, na Ucrânia, também desistiriam, alegando não conseguir parcerias com empresas privadas para cobrir os altos custos; e Oslo, capital da Noruega e favorita a sede, retiraria sua candidatura após a imprensa local acusar os delegados do COI de exigir tratamento luxuoso, que incluía uma faixa exclusiva no trânsito para seu uso e um jantar pago pela Família Real, durante suas visitas à cidade, o que revoltou a população e colocou a opinião pública contra o prefeito. Até mesmo a escolha de Pequim seria cercada de polêmica, já que a cidade não possui neve natural suficiente para a maioria das competições, que teriam de ocorrer em cidades vizinhas e recorrendo a neve artificial. Mas, entre a cidade chinesa e a cazaque, Pequim levou a melhor, e fechou um ciclo de três Olimpíadas seguidas no extremo oriente, após Pyeongchang em 2018 e Tóquio em 2020.

Um dos trunfos da candidatura de Pequim foi reutilizar as instalações originalmente usadas nas Olimpíadas de 2008: das que ficavam efetivamente na cidade, somente a Vila Olímpica e a pista de patinação em velocidade eram novas. As cerimônias de abertura e encerramento ocorreriam no Estádio Nacional, também conhecido como Ninho do Pássaro, palco das inesquecíveis vitórias de Usain Bolt; o curling seria disputado no Centro Nacional de Esportes Aquáticos, vulgo Cubo d'Água, palco das históricas medalhas de Michael Phelps, que seria reformado para que as pistas substituíssem as piscinas, e, durante as Olimpíadas de Inverno, ganharia o apelido de Cubo de Gelo; e o hóquei no gelo se dividiria entre o Estádio Nacional Indoor, apelidado O Leque, originalmente construído para a ginástica artística e o handebol, e a Wukesong Arena, em 2008 sede do basquete. A patinação artística e a patinação em velocidade em pista curta também seriam disputadas em uma instalação já existente em Pequim, o Capital Indoor Stadium, que em 2008 sediou o vôlei, mas que não foi construído para as Olimpíadas, existindo desde 1968.

No distrito de Shijingshan, 17 km a oeste da capital, seria construída a pista batizada de Big Air Shougang, próxima a um famoso parque de diversões e curiosamente à frente das torres de uma usina nuclear, o que tornou o local um dos preferidos dos atletas para tirar fotos; a Shougang é a primeira, e por enquanto única, pista de big air do planeta, e foi usada nas competições dessa modalidade do snwboarding e do esqui estilo livre. A construção da pista geraria muita controvérsia, pois Shijingshan é um distrito industrial distante das montanhas e onde não neva, o que fez com que ela tivesse de contar com um sistema de refrigeração super moderno e super caro para que pudesse estar em condições de competição. Em outro distrito, Yanqing, 90 km a norte de Pequim, seria construída a pista de trenó, usada para o luge, skeleton e bobsleding, permanente e a primeira da China. O esqui alpino também seria disputado em Yanqing, nas montanhas Xiaohaituo; em Yanqing neva, mas em quantidade considerada insuficiente para competição, o que fez com que lá também tivesse de ser usada muita neve artificial - além disso, devido à distância entre Pequim e Yanqing, lá teve de ser construída uma segunda Vila Olímpica, apenas para os atletas do esqui alpino e do trenó.

Todos os outros eventos seriam sediados em um local mais longe ainda, a cidade de Zhangjiakou, na província de Hebei, a 220 km de Pequim - que também teve de contar com sua própria Vila Olímpica, para um total de três. Pelo menos em Zhangjiakou neva satisfatoriamente, tanto que, após o anúncio da escolha de Pequim como sede, o governo chinês construiu lá o primeiro resort de esqui da China, que recebe mais de dois milhões de turistas por ano. O Centro Nacional de Biatlo e o Centro Nacional de Esqui Cross-Country foram construídos para serem permanentes e servirem de local de treinamento para as equipes chinesas, mas a pista de saltos com esqui e as instalações do esqui estilo livre e snowboarding eram temporárias, e foram desmontadas durante esse verão (no hemisfério norte, ou seja, há poucas semanas).

As Olimpíadas de Inverno de 2022 seriam realizadas entre 4 e 20 de fevereiro, coincidindo com as comemorações do Ano Novo Chinês. Participariam 2871 atletas de 91 países, competindo no número recorde de 109 provas de 15 esportes: biatlo, bobsleding, combinado nórdico, curling, esqui alpino, esqui cross country, esqui estilo livre, hóquei no gelo, luge, patinação artística no gelo, patinação no gelo em velocidade, patinação no gelo em velocidade em pista curta, saltos com esqui, skeleton e snowboarding (clique aqui para ver todas as provas do programa). O mascote seria o panda Bing Dwen Dwen, vestido com uma roupa de astronauta feita de gelo, escolhido através de um concurso que contou com a participação de 35 designers chineses residentes em diferentes países.

A cerimônia de abertura contaria com uma grande surpresa: durante o desfile das delegações, as placas que trazia o nome de cada uma, em inglês e chinês, eram em formato de floco de neve e iluminadas por LEDs. Conforme as delegações foram entrando, elas iam sendo montadas no meio do palco no centro do estádio, para formar um floco de neve gigante. Quando a Tocha Olímpica entrou no estádio, começou seu desfile pelas mãos de Zhao Weichang, patinador que foi porta-bandeira na abertura as Olimpíadas de Inverno de 1980, passou por outros quatro atletas, cada um mais jovem que o anterior, até chegar às mãos dos esquiadores Dinigeer Yilamujiang e Zhao Jiawen, que competiriam em 2022. Ao invés de acender uma pira, os dois simplesmente encaixaram a tocha que carregavam no centro do floco de neve gigante formado pelos nomes das delegações participantes, que se elevou até o alto do estádio, ficando aquela tocha acesa durante todo o período dos Jogos.

O Brasil enviaria um total de dez atletas, sendo 6 homens e 4 mulheres. O destaque seria Nicole Silveira, do skeleton, que conquistaria a melhor colocação do país num esporte de gelo, 13a, e a melhor posição de um atleta da América Latina em um esporte de trenó. Sabrina Cass se tornaria a primeira brasileira a participar do esqui estilo livre, mas não se classificaria para a final. Michel Macedo estaria no slalom do esqui alpino, mas também não chegaria à final, e, no bobsleding, o trenó de duplas, com Edson Bindilatti e Edson Martins, ficaria em 29o, enquanto o de quatro ocupantes, com os dois Edsons mais Erick Jerônimo e Rafael Souza, seria o 20o. No esqui cross-country, Manex Silva disputaria todas as quatro provas individuais, tendo como melhor resultado a 58a posição nos 50 km, e Jaqueline Mourão, em sua quinta Olimpíada de Inverno e oitava no total (competiu no mountain biking em 2004, 2008 e 2020), disputaria as provas do sprint, dos 10 km clássico e do revezamento, fazendo dupla com Eduarda Ribera, que também estaria no sprint e nos 10 km, e substituiria Bruna Moura, que se classificou mas não pôde viajar a Pequim por ter sofrido um acidente de carro na Itália, onde treinava, a uma semana da Cerimônia de Abertura.

A Rússia, ainda sob o efeito da punição pelo escândalo de doping em Sochi, competiria mais uma vez sob o nome e a bandeira do Comitê Olímpico Russo, ouvindo um trecho de uma composição de Tchaikovsky ao conquistar uma medalha de ouro - o que ocorreu seis vezes, metade delas com Alexander Bolshunov no esqui cross-country, nos 30 km, 50 km e revezamento. Os maiores destaques russos viriam da patinação artística, na qual Anna Shcherbakova, de 17 anos, seria ouro no individual feminino, e ainda contribuiria para o ouro por equipes; Alexandra Trusova, de 16, seria prata no individual feminino, Nikita Katsalapov e Victoria Sinitsina prata na dança no gelo, e, nas duplas mistas, os russos só não conquistariam o ouro, ficando a prata com Vladimir Morozov e Evgenia Tarasova e o bronze com Aleksandr Galliamov e Anastasia Mishina.

O topo do quadro de medalhas ficaria com a Noruega, que quebraria o recorde de maior número de ouros em uma única edição das Olimpíadas de Inverno, com 16; o destaque negativo ficaria com o Canadá, que, com apenas quatro ouros, ficaria fora do Top 10 pela primeira vez desde 1988. A China anfitriã tinha planos ambiciosos de terminar na primeira posição do quadro de medalhas, mas acabaria em terceiro, com 9 medalhas de ouro, 4 de prata e 2 de bronze - ainda assim, a melhor participação da China em Olimpíadas de Inverno, maior número de ouros de um país asiático em uma só edição, e, ponto de honra, à frente dos Estados Unidos, que viriam em quarto com um ouro a menos. Para alguns, a culpada foi Eileen Gu, filha de mãe chinesa com pai norte-americano e nascida nos Estados Unidos, que, no esqui estilo livre, seria ouro no big air e no halfpipe e prata no slopestyle. A participação de Gu, de apenas 18 anos, que nunca morou na China e até 2019 competia pelos Estados Unidos, gerou grande controvérsia na imprensa norte-americana, e até mesmo algumas acusações de que houve fraude no processo para que ela pudesse competir pela China.

No esqui estilo livre masculino, o maior destaque seria o norte-americano Alex Hall, que, no slopestyle, surpreenderia os jurados ao começar um salto de 1080 graus girando para um lado e, na metade do movimento, começar a girar para o outro, efetivamente fazendo 900 graus em cada direção. O japonês Ayumu Hirano levaria o ouro do halfpipe do snowboarding também com muita ousadia, ao conseguir realizar pela primeira vez em uma competição oficial a dificílima manobra do triple cork - e pela segunda também, já que ele fez uma em cada descida que tinha direito. O irmão de Ayumu, Kaishu Hirano, também no halfpipe, quebraria um recorde ao alcançar a altura de 22 m durante um salto. E, na estreia da competição de equipes mistas do esqui estilo livre, Chistopher Lillis, dos Estados Unidos, garantiria o ouro para seu país ao realizar uma manobra com cinco piruetas e três giros, chamada quintuple twisting triple.

Nos esportes de trenó, o destaque seriam os alemães, que ganhariam simplesmente nove dos dez ouros possíveis. No luge, a Alemanha ganharia todas as medalhas de ouro, no individual masculino, individual feminino, duplas mistas e revezamento, além da prata no individual feminino e nas duplas mistas; a Áustria teria de se contentar com duas pratas, no individual masculino e revezamento, e um bronze nas duplas mistas. No skeleton, eles seriam ouro e prata no masculino (com o bronze indo para a China) e ouro no feminino (com a prata ficando com a surpreendente Jaclyn Narracott, primeira medalha da história da Austrália no trenó, e o bronze com a Holanda). No bobsleding masculino de dois lugares, os alemães fariam o pódio completo, e, no masculino de quatro lugares e no feminino de dois lugares, seriam ouro e prata - somente na estreia do trenó feminino individual, o monobob, é que as alemãs ficariam fora do pódio, com ouro e prata indo para os Estados Unidos (que também seria bronze no feminino de dois lugares) e o bronze indo para o Canadá (que também seria bronze no masculino de quatro lugares). Essas medalhas todas contribuiriam para que a Alemanha terminasse em segundo lugar no quadro.

Devido a uma necessidade de adiar jogos de seu campeonato por causa da pandemia, a NHL, principal liga de hóquei no gelo do mundo, vetou a participação de jogadores que tivessem contrato com seus times, para que eles não ficassem desfalcados, o que causou grande impacto no torneio olímpico. Sem seus principais jogadores, nem Estados Unidos nem Canadá chegariam às semifinais, com a Finlândia ganhando o ouro pela primeira vez ao derrotar o Comitê Olímpico Russo na final, e a Eslováquia ganhando uma inédita medalha de bronze - a Suécia completaria os semifinalistas. No feminino, sem laços com a NHL, nenhuma surpresa, e a final, pela sexta vez em sete Olimpíadas, seria entre Canadá e Estados Unidos, com as canadenses ganhando seu quinto ouro - a Finlândia repetiria seu bronze de 2018, dessa vez derrotando a Suíça.

No curling, a maior surpresa foi a Itália, país sem nenhuma tradição nesse esporte, mas que será a sede da próxima edição das Olimpíadas de Inverno, que conquistaria o ouro nas duplas mistas, deixando os favoritos Noruega e Suécia com a prata e o bronze, respectivamente. No feminino, a escocesa Eve Muirhead, em sua quarta Olimpíada, finalmente conseguiria sua tão sonhada medalha de ouro, quando o Reino Unido que capitaneava derrotou, na final, um surpreendente Japão - o bronze ficaria, mais uma vez, com a Suécia. No masculino, a equipe favorita era a dos Estados Unidos, que acabaria fora do pódio, ficando o ouro com a Suécia, a prata com o Reino Unido e o bronze com o Canadá.

Assim como as Olimpíadas de 2020, as Olimpíadas de Inverno de 2022 seriam impactadas pela pandemia, principalmente porque a China foi um dos países a adotar as restrições mais severas para controle da doença. O protocolo do COI seria o mesmo utilizado em 2021, com a diferença de que foi criada uma "bolha" para os atletas, que só poderiam se locomover dentro dela, e somente poderiam viajar de um local de competição ao outro, enquanto o protocolo estivesse em vigor. Os esportes contaram com público presente, mas apenas residentes da cidade onde a competição estava sendo realizada podiam comparecer, somente por convite, sem que houvesse venda de ingressos, e somente em Pequim e Zhangjiakou, com todos os eventos em Yanqing ocorrendo com portões fechados. Pelo menos dois atletas de peso foram proibidos de participar por terem testado positivo, mesmo assintomáticos, a esquiadora austríaca Marita Kramer, líder do ranking mundial, e o skeletonista russo Nikita Tregubov, medalha de prata em 2018.

No fim, em termos de controle da doença, o evento foi considerado um grande sucesso, sem nenhum caso grave ter sido registrado. Há quem duvide dessa informação, entretanto, por causa do hábito do governo chinês de, digamos, alterar números a seu favor. Um dos exemplos foi a divulgação do orçamento: segundo os números oficiais, as Olimpíadas de Inverno de 2022 custaram 3,9 bilhões de dólares, menos de um décimo do custo das Olimpíadas de 2008, que custaram 43 bilhões; pessoas envolvidas na organização, porém, estimam que o custo verdadeiro foi dez vezes maior, em torno de 38 bilhões.

Série Olimpíadas

Tóquio 2020
Pequim 2022

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