sábado, 19 de maio de 2007

Escrito por em 19.5.07 com 0 comentários

Olimpíadas (XXII)

E vamos a mais um post olímpico!

Nagano 1998


26 anos depois, as Olimpíadas voltaram ao Japão, com a escolha de Nagano para sede dos Jogos de Inverno de 1998. A cidade japonesa, que recebe milhões de turistas por ano, visitantes do templo budista de Zenko-Ji, foi escolhida na reunião do COI de 1991, quando venceu a cidade italiana de Aosta, a espanhola Jaca, a sueca Östersund e a norte-americana Salt Lake City. O trunfo de Nagano era um plano para realizar Jogos ecologicamente corretos; todas as novas instalações seriam construídas de forma a privilegiar a natureza, todo o papel usado no evento era reciclado, e até mesmo as roupas dos fiscais, oficiais e voluntários eram feitas de materiais totalmente recicláveis. Além disso, a prefeitura de Nagano lançou um programa especial para estimular as crianças a assistir os Jogos Olímpicos, segundo o qual crianças matriculadas em escolas japonesas teriam 50% de desconto na compra dos ingressos.

Os Jogos de Inverno de 1998 foram realizados entre 7 e 22 de fevereiro, e contaram com a participação de 2.176 atletas, sendo 787 mulheres, que representaram 72 nações em 72 provas de 14 esportes: biatlo, bobsleding, combinado nórdico, curling, esqui alpino, esqui cross country, esqui estilo livre, hóquei no gelo, luge, patinação artística no gelo, patinação no gelo em velocidade, patinação no gelo em velocidade em pista curta, saltos com esqui e snowboarding (clique aqui para ver todas as provas do programa). Nagano teve um exagero de quatro mascotes, Sukki, Nokki, Lekki e Tsukki, quatro corujinhas conhecidas coletivamente como Snowlets. A honra de acender a pira coube a Midori Ito, patinadora artística medalhista de prata em 1992.

O curling, após participar da primeira edição dos Jogos de Inverno, e de fazer outras três participações como esporte de demonstração, finalmente foi reintegrado ao programa olímpico, nas versões masculina e feminina. Entre os homens, a Suíça levou a melhor, deixando o Canadá com a prata e a Noruega com o bronze; no feminino o Canadá conseguiu o ouro, com a Dinamarca em segundo e a Suécia em terceiro. O snowboarding, que se tornava cada vez mais popular, também passou a fazer parte do evento, com as modalidades halfpipe, onde o atleta recebe pontos por acrobacias, e o slalom gigante, onde deve-se descer uma montanha passando por pontos pré-determinados. O snowboarding também foi disputado nas versões masculina e feminina, e os medalhistas foram bastante variados, com medalhas de ouro para quatro países diferentes.

O hóquei no gelo também contou com duas novidades: pela primeira vez a versão feminina do esporte foi disputada em uma Olimpíada, com as norte-americanas chegando à medalha de ouro invictas, e derrotando as canadenses para clamá-la contra todos os prognósticos - em todas as finais em que os dois times se enfrentaram antes desta, o Canadá havia vencido. No masculino, pela primeira vez foi permitida a presença dos profissionais da NHL, a liga de hóquei no gelo dos Estados Unidos e Canadá, que inclusive interrompeu seu campeonato durante três semanas do mês de fevereiro, para permitir que os atletas viajassem e competissem. Diferentemente do que se esperava, porém, este fato não favoreceu os norte-americanos, que surpreendentemente venceram apenas um jogo no torneio, contra Belarus. A medalha de ouro ficou com um inspirado time da República Tcheca, que derrotou a Rússia na final. A tabela do campeonato masculino de hóquei no gelo de 1998 foi uma das mais criticadas de toda a história das Olimpíadas: a primeira fase era composta de dois grupos, dos quais apenas o primeiro de cada se classificaria para a segunda fase, onde se uniriam aos seis times melhores ranqueados pela Federação. Além das tradicionais críticas por oito times terem de lutar por duas vagas enquanto outros seis só esperavam - ainda mais quando estes dois times foram Belarus e Cazaquistão, enquanto times de maior tradição, como Alemanha e Eslováquia, foram eliminados - a segunda fase era praticamente inútil, já que todos os oito times que a disputavam se classificaram para as quartas de final. Apesar de todas as críticas, este formato ainda foi adotado nos Jogos de 2002, e apenas após mais uma saraivada de reclamações ele foi alterado para 2006.

Um dos maiores heróis de 1998 foi o norueguês Bjørn Dæhlie, o mais bem sucedido esquiador olímpico da história. Dæhlie, que já tinha cinco ouros e três pratas do esqui cross country no currículo, conseguiu em 1998 vencer os 10 km, os 50 km, e o revezamento 4 x 10 km, além de conseguir uma prata nos 15 km perseguição. No feminino, o maior destaque, embora com menos medalhas, foi a russa Larisa Lazutina, ouro nos 5 km, nos 10 km perseguição e no revezamento 4 x 5 km, prata nos 15 km e bronze nos 30 km. Ao voltar para a Rússia, Lazutina, que antes de 1998 só havia ganhado dois ouros, nos revezamentos 4 x 5 km de 1992 e 1994, foi agraciada pelo presidente Boris Yeltsin com o título de Heroína da Federação Russa. Lazutina foi uma das esquiadoras mais bem sucedidas da história do esporte, ganhando quatorze medalhas em mundiais, sendo onze ouros, entre 1987 e 2001. Sua carreira, porém, terminou de forma nada gloriosa em 2002, quando, após ganhar um ouro e duas pratas nos Jogos de Inverno, foi desclassificada e banida do esporte ao ser pega em um anti-doping que acusou uso da substância proibida darbepoetin.

Um dos momentos mais tensos dos Jogos foi a queda do esquiador austríaco Hermann Maier durante a prova de downhill do esqui alpino. Maier perdeu o contato com o solo a 120 km por hora, ficou três segundos e meio suspenso no ar, e se chocou contra o solo com violência. Mas ele não somente nada sofreu, como três dias depois já estava com esquis nos pés mais uma vez para competir no slalom super gigante, onde conseguiu nada menos que a medalha de ouro. E outros cinco dias depois ele ganhou seu segundo ouro, desta vez no slalom gigante, onde conseguiu quase um segundo de vantagem sobre o segundo colocado.

Na patinação em velocidade, o domínio foi da Holanda, que ganhou cinco dos dez ouros em disputa - dois deles com Gianni Romme, outros dois com Marianne Timmer, e um com Ids Postma - além de quatro pratas e dois bronzes, incluídas nestas medalhas o pódio inteiro dos 10.000 metros masculino. A Alemanha também fez um pódio inteiro, nos 3.000 metros feminino, além de mais um ouro e duas pratas. Na pista curta não houve um país de destaque, mas quatro: todas as medalhas foram conquistadas por atletas do Japão, China, Coréia do Sul e Canadá. A Alemanha levou os três ouros do luge, além de uma prata e um bronze. E os Estados Unidos quase conseguiram os quatro ouros do esqui estilo livre, perdendo apenas o da categoria moguls feminino, onde Donna Weinbrecht terminou em quarto lugar.

Dentre as mulheres, dois grandes destaques: no esqui alpino, a italiana Deborah Compagnoni, ouro no slalom super gigante em 1992 e no gigante em 1994, conquistou mais um ouro no slalom gigante, se tornando a primeira atleta do esqui alpino a conseguir três ouros em três Jogos seguidos, conseguindo ainda uma prata no slalom. E na patinação artística, a favoritíssima ao ouro era a norte-americana Michelle Kwan, de 17 anos, hoje considerada uma das maiores patinadoras de todos os tempos, mas que, na final, acabou surpreendida por outra norte-americana, Tara Lipinski, de apenas 15 anos, que a venceu por uma diferença ínfima, e se tornou a atleta mais jovem a ganhar um ouro individual em toda a história dos Jogos de Inverno.

O Japão não fez feio, ganhando no total cinco medalhas de ouro, uma prata e quatro bronzes. Destas dez medalhas, três foram graças ao mesmo atleta, o japonês de maior destaque em 1998, Kazuyoshi Funaki, dos saltos com esqui. A primeira medalha de Funaki foi uma prata na colina baixa, mas quatro dias depois ele ganharia um ouro na colina alta, com uma performance fantástica e inédita neste esporte, conseguindo a nota máxima de todos os cinco jurados. Funaki encerraria sua participação com mais um ouro, desta vez como parte do time japonês da prova por equipes, que, com uma exibição de gala, terminou a competição 35 pontos à frente da Alemanha medalhista de prata.

O Brasil mais uma vez foi aos Jogos de Inverno com uma delegação de um atleta só, desta vez Marcelo Apovian, considerado o melhor atleta do esqui alpino de todos os países sem neve permanente. Apovian, que já havia participado dos Jogos de Inverno de 1992, viajou graças ao Solidariedade Olímpica, após passar três meses treinando no Colorado, Estados Unidos, financiado pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Apovian disputou uma única prova, o slalom super gigante, e terminou em 37o lugar. Bem, como eu disse da última vez, pelo menos ele teve a honra de ser o porta-bandeira. Brincadeiras à parte, estas participações do Brasil, mesmo com um atleta só, na minha opinião não foram em vão: deram visibilidade aos esportes de inverno em nosso país, e motivaram muitos outros atletas a disputar esportes de inverno por aqui. Graças a estes atletas solitários, a delegação brasileira cresceria substancialmente nos Jogos seguintes.

Sydney 2000


A escolha da sede para os últimos Jogos Olímpicos do Século XX ocorreu na reunião do COI de 1993. Cinco foram as candidatas: Sydney, na Austrália; Pequim, capital da China; Manchester, na Grã-Bretanha; Berlim, capital da Alemanha; e Istanbul, na Turquia - Brasília, a capital brasileira, foi pré-candidata, mas acabou desistindo e retirando sua candidatura antes da votação. Até a última rodada de votações, parecia que os Jogos Olímpicos iriam finalmente aportar na China, que durante tanto tempo os ignorara - Pequim ganhou as três primeiras rodadas de votação sem grandes sustos. Na última rodada, porém, Sydney surpreendeu e conquistou o direito de sediar os Jogos de 2000 por uma pequena margem, 45 votos a 43.

E Sydney não fez feio ao organizar a segunda Olimpíada da Austrália, segunda do hemisfério sul. Com muito planejamento e um orçamento friamente calculado, conseguiram construir uma belíssima instalação para os Jogos, o Sydney Olympic Park. Localizado no subúrbio de Homebush Bay, o parque continha o Stadium Australia, maior Estádio Olímpico da história, com capacidade para 110 mil espectadores, palco das cerimônias de abertura e encerramento, do atletismo e da final do futebol; o Sydney Superdome, palco da ginástica artística, trampolim acrobático e basquete; um ultramoderno parque aquático, com uma piscina de última geração que inclusive evitava os movimentos de marola que costumavam atrapalhar os nadadores que estivessem competindo nas raias 1 e 8; um estádio de hóquei, um de beisebol, uma quadra de tênis e uma área para o tiro com arco. Todas as demais competições foram realizadas em instalações já existentes, e não houve qualquer tipo de feira paralela, vendas exacerbadas ou rígido esquema de segurança. Em Sydney, os esportes voltaram a ser o foco principal dos Jogos.

Os Jogos de 2000 aconteceram na época mais agradável da Austrália em relação ao clima, entre 15 de setembro e 1o de outubro - embora alguns jogos de futebol tenham sido disputados antes disso, para que a tabela ficasse mais folgada. Deles participaram 10.651 atletas, sendo 4.069 mulheres, que representaram nada menos que 199 nações. De todos os filiados ao COI, apenas o Afeganistão não pôde participar, afetado pela rígida política dos talibãs, que proibiam a prática de qualquer esporte. Em compensação, quatro atletas do Timor-Leste, mesmo sem ainda ter um comitê olímpico constituído, puderam competir como Participantes Independentes, sob a bandeira dos anéis olímpicos. Curiosa também foi a participação da Coréia do Norte e da Coréia do Sul, que competiram com delegações separadas, mas na Cerimônia de Abertura desfilaram juntas, sob o nome de Coréia, e sob uma bandeira branca que trazia um mapa das duas Coréias unidas, em azul claro. O programa olímpico contou com um recorde de exatamente 300 provas, em um total de 34 esportes: atletismo, badminton, basquete, beisebol, boxe, canoagem, ciclismo, equitação, esgrima, futebol, ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol, hóquei, judô, levantamento de peso, luta olímpica, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, polo aquático, remo, saltos ornamentais, softbol, taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia (clique aqui para ver todas as provas do programa). Sydney foi a primeira Olimpíada a ter três mascotes, três animais nativos da Austrália: o ornitorrinco Syd, batizado em homenagem à cidade; a cucaburra Olly, em homenagem às Olimpíadas; e a équidna Millie, em homenagem ao Milênio que se encerrava. Os três eram fofos e fizeram sucesso com os turistas, mas não alcançaram a popularidade dos mascotes do passado.

A Cerimônia de Abertura foi um grande show, com nada menos que quatro apresentações musicais, menos chata que a de Atlanta, mas igualmente longa. A tocha entrou no estádio pelas mãos de Herb Elliott, ouro nos 1.500 metros do atletismo de 1960. Então, em homenagem aos cem anos de participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, só passou pelas mãos de mulheres, todas medalhistas de ouro: Betty Cuthbert, Raelene Boyle, Dawn Fraser, Shirley Strickland, Shane Gould e Debbie Flintoff-King, que a entregou para Cathy Freeman, atleta de grande destaque e descendente de aborígenes, o povo indígena da Austrália. Freeman subiu em uma espécie de lago suspenso, e levou a tocha à água. O fogo sagrado então inflamou uma espécie de queimador, criando um círculo de fogo ao redor da atleta, que foi subindo até se encaixar no topo da pira, localizada a vários metros de altura, algo que já estava se tornando moda. Detalhe: dez dias depois, Freeman ganharia o ouro nos 400 metros livres, se tornando a primeira atleta a acender a pira e vencer uma prova em uma mesma edição das Olimpíadas.

Uma das delegações que saiu mais decepcionada de Sydney foi a do Brasil, composta de 205 atletas, sendo 94 mulheres. Por causa do excelente desempenho em Atlanta, e devido ao fato de que muitos atletas brasileiros estavam conseguindo boas posições em competições de destaque em seus esportes, grande parte da população imaginou que o Brasil quebraria todos os seus recordes de medalhas na Olimpíada do ano 2000. Não vou citar nomes porque não tenho como provar, mas me lembro bem que um jornal chegou a profetizar que o Brasil ganharia dez medalhas de ouro, incluindo as duas do futebol. O país realmente conseguiu uma boa quantidade de medalhas, doze, mas nenhuma foi de ouro. Além disso, muitos dos atletas que chegaram favoritíssimos à Austrália saíram de lá de mãos abanando, como o tenista Gustavo Kuerten, bicampeão do torneio de Roland Garros, e o cavaleiro Rodrigo Pessoa, tricampeão da Copa do Mundo de hipismo.

Bem, verdade seja dita, Rodrigo não saiu da Terra dos Cangurus de mãos abanando, mas com uma medalha de bronze conquistada na prova por equipes do Prêmio das Nações, montando Baloubet du Rouet e acompanhado de Luiz Felipe de Azevedo montando Ralph, Álvaro de Miranda Neto montando Aspen, e André Johannpeter montando Calei, mesmos cavaleiros que trouxeram o bronze em 1996, mas com cavalos diferentes. Mas tal prêmio não apagou a decepção da final do Prêmio das Nações individual, onde Rodrigo, transformado em última esperança de ouro para o Brasil, foi desclassificado após Baloubet du Rouet se recusar a pular um obstáculo três vezes. Kuerten, só para registrar, foi eliminado pelo russo Yevgeny Kafelnikov, que acabaria ficando com o ouro, por 2 sets a 0 nas quartas de final.

Outra decepção veio do vôlei de praia, onde a dupla número um do mundo, Adriana Behar e Shelda Bede, tentava repetir a conquista de Jaqueline Silva e Sandra Pires quatro anos antes. Adriana e Shelda chegaram à final favoritíssimas, mas acabaram surpreendidas pelas australianas Natalie Cook e Kerri Pottharst, que souberam se aproveitar do apoio da torcida. No pódio, a dupla brasileira quase chorou, como se não acreditando ter perdido a chance de medalha. Menos mal, Sandra Pires e Adriana Samuel conseguiram um bronze, garantindo dois lugares para o Brasil no pódio pela segunda vez seguida, só que um degrau abaixo. No masculino, José Marco Melo e Ricardo Santos também conseguiram uma prata, perdendo na final para os favoritos norte-americanos Dain Blanton e Eric Fonoimoana.

O futebol masculino também fez feio, muito feio. O técnico Vanderlei Luxemburgo decidiu abrir mão dos três jogadores acima dos 23 anos, e apostar na categoria de jovens talentos como Ronaldinho Gaúcho e Alex. Infelizmente, o Brasil decepcionou, vencendo a Eslováquia por 3 a 1 na estréia, mas perdendo para a África do Sul pelo mesmo placar no jogo seguinte. Em seguida, derrotou o Japão por 1 a 0, mas acabou derrotado nas quartas de final por Camarões, futuro medalhista de ouro, por 2 a 1, mais uma vez no gol de ouro, após o tempo normal terminar empatado em 1 a 1, isso porque Ronaldinho marcou um gol aos 45 do segundo tempo. O futebol feminino teve uma campanha um pouco melhor, derrotando a Suécia por 2 a 0, perdendo da Alemanha por 2 a 1, derrotando a Austrália pelo mesmo placar, e então perdendo nas semifinais para os Estados Unidos por 1 a 0, e encerrando sua participação em quarto lugar após perder novamente para a Alemanha, desta vez por 2 a 0.

O basquete masculino sequer conseguiu se classificar para os Jogos. O feminino, apesar de não contar mais com Hortência, Paula e Marta, fez bonito, e conseguiu uma medalha de bronze, após perder nas semifinais para a Austrália e derrotar a Coréia do Sul na disputa da medalha. Um bronze também foi a medalha trazida pelo vôlei feminino, que mais uma vez perdeu para Cuba nas semifinais, mas desta vez derrotou os Estados Unidos na disputa da medalha. O vôlei masculino por um momento aparentou que iria conseguir uma bela classificação, perdendo apenas um set, para a Espanha, na primeira fase, mas acabou surpreendentemente derrotado pela Argentina por 3 sets a 1 nas quartas de final, terminando o torneio em sexto lugar.

Na natação, apenas Rogério Romero, nos 200 metros peito, e a equipe do revezamento 4 x 100 metros livre, composta de Fernando Scherer, Edvaldo Valério, Carlos Jayme e Gustavo Borges, conseguiram chegar às finais. Rogério terminou em sétimo, mas o revezamento conseguiu uma excelente medalha de bronze, ficando atrás apenas da Austrália e dos Estados Unidos. O revezamento 4 x 100 metros do atletismo, formado por Claudinei Quirino, Vicente Lima, Edson Ribeiro e André Domingos, também conseguiu um resultado fantástico, medalha de prata, menos de 30 centésimos de segundo atrás dos Estados Unidos. Claudinei ainda foi sexto lugar nos 200 metros, Sanderlei Parrela terminou em quarto os 400 metros, e Eronildes Araújo foi quinto nos 400 metros com barreiras.

As demais medalhas do Brasil vieram da vela, onde Torben Grael e Marcelo Ferreira conseguiram um bronze na classe Star, e Robert Scheidt, outro cotado para o ouro, terminou com a prata da classe Laser, dois pontos atrás de seu maior rival, o britânico Ben Ainsle; e do judô, onde Tiago Camilo, na categoria leves, e Carlos Honorato, na categoria médios, foram medalhistas de prata, perdendo na final, respectivamente, para o italiano Giuseppe Maddaloni e para o holandês Mark Huizinga.

Aparentemente, o maior carrasco do Brasil nos Jogos foi justamente a Austrália dona da casa, e o maior destaque da Austrália veio das piscinas: o nadador Ian Thorpe, apelidado Torpedo, apenas 17 anos, três ouros e duas pratas. Thorpe, que nadava com uma curiosa roupa que cobria todo o seu corpo, à exceção de cabeça, mãos e pés, subiu ao lugar mais alto do pódio nos 400 metros livre, onde quebrou o recorde mundial, nos revezamentos 4 x 100 metros livre e 4 x 200 metros livre, e chegou em segundo lugar nos 200 metros livre e no revezamento 4 x 100 metros medley. A moderna piscina de Sydney, aliás, parecia ter sido moldada para grandes proezas, e viu muitas delas durante a competição: nos 50 metros livre, por exemplo, a prova mais rápida do esporte, ocorreu um inédito empate na primeira colocação entre os norte-americanos Gary Hall, Jr. e Anthony Ervin, que bateram na borda da piscina no exato mesmo centésimo de segundo. Outro norte-americano, Lenny Krayzelburg, venceu os 100 e os 200 metros costas, e ainda conseguiu um terceiro ouro no revezamento 4 x 100 metros medley. O holandês Pieter van den Hoogenband fez a festa nas distâncias curtas, ouro nos 100 e nos 200 metros livre, e bronze nos 50, atrás apenas dos campeões empatados. No nado de peito, o campeão foi o italiano Domenico Fioravanti, tanto nos 100 quanto nos 200 metros.

No feminino, a holandesa Inge de Bruijn venceu os 100 metros borboleta, os 100 e os 200 metros livre. Curiosamente, a norte-americana Dara Torres foi bronze nestas três provas, sendo que nos 200 metros livre empatou com sua compatriota Jenny Thompson, e a sueca Therese Alshammar conseguiu a prata nos 100 e nos 200 metros livre. Outras três nadadoras, a norte-americana Brooke Bennett, a romena Diana Mocanu e a ucraniana Yana Klochkova, saíram das piscinas com dois ouros no pescoço, nos 400 e 800 metros livre, 100 e 200 metros costas e 200 e 400 metros medley, respectivamente, sendo que Klochkova ainda conseguiu uma prata nos 800 metros livre. E os Estados Unidos fizeram a festa dos revezamentos, conseguindo o ouro no 4 x 100 livre, 4 x 200 livre e 4 x 100 medley.

No atletismo, Michael Johnson, que encerrou sua carreira após os Jogos, ganhou dois novos ouros, nos 400 metros e no revezamento 4 x 400 metros. Haile Gebre Selassie, usando a sua já conhecida tática, repetiu o ouro dos 10.000 metros, deixando o queniano Paul Tergat mais uma vez com a prata. Nos 100 metros, o norte-americano recordista mundial Maurice Greene ficou com o ouro, seguido de Ato Boldon, de Trinidad e Tobago, e do surpreendente Obadele Thompson, representando Barbados. Também merece destaque o polonês Robert Korzeniowski, primeiro homem a vencer a marcha de 20 km e a de 50 km em uma mesma edição dos Jogos - e ainda por cima a dos 50 km foi sua segunda medalha de ouro no evento, já que ele também a havia vencido em 1996. No feminino, a moçambicana Maria Mutola se redimiu do erro de 1996 ao vencer o ouro dos 800 metros, e Susanthika Jayasinghe entrou para a história do Sri Lanka ao se tornar a primeira mulher daquele país a ganhar uma medalha, um bronze nos 200 metros.

Apesar de toda a popularidade de Cathy Freeman, a musa do atletismo foi a norte-americana Marion Jones, filha de um afro-americano com uma belizenha. Aos 25 anos, Jones declarara antes dos Jogos que seu objetivo era sair de Sydney com cinco ouros no pescoço. Conseguiu três, os dos 100 metros, 200 metros, e revezamento 4 x 400 metros; suas outras duas medalhas acabaram sendo de bronze, no salto em distância e no revezamento 4 x 100 metros, onde a equipe norte-americana seria surpreendida pelas Bahamas, que ficaram com o ouro, e pela Jamaica, que levou a prata. Depois dos Jogos, Jones começou a ser bombardeada com acusações de doping, e não conseguiu mais repetir seus bons resultados; em 2004 ela só competiria no salto em distância, onde terminou em quinto, e no revezamento 4 x 100 metros, onde um erro seu na passagem do bastão causaria a desclassificação da equipe dos Estados Unidos. Alguns anos depois, Jones acabaria de fato flagrada em um exame anti-doping, admitiria ter competido em Sydney dopada, e perderia todas as suas medalhas olímpicas.

No nado sincronizado, a Rússia levou o ouro e o Japão a prata tanto na categoria duetos quanto nas equipes. No tênis feminino, a norte-americana Venus Williams levou as duas medalhas de ouro, a das duplas em parceria com sua irmã Serena. No basquete, o Dream Team norte-americano conseguiu o ouro mais uma vez, mas mais uma vez com uma campanha invicta e irregular ao mesmo tempo, cujo "ponto baixo" foi a semifinal diante da Lituânia, onde os norte-americanos venceram apenas por 85 a 83, sendo que os lituanos arremessaram uma bola de três pontos nos últimos segundos que quase tirou o Dream Team da final. Em compensação, o feminino foi campeão sem sustos, e os Estados Unidos também conseguiram as medalhas de ouro do beisebol e do softbol, esta última de forma sensacional, perdendo para China, Austrália e Japão na primeira fase, mas vencendo os três nas quartas de final, semifinais e final, respectivamente.

Muitos esportes fizeram sua estréia em Sydney, como o taekwondo, a ginástica de trampolim, o triatlo, os saltos sincronizados dos saltos ornamentais, e as modalidades femininas do levantamento de peso e do pentatlo moderno. Em dois deles tivemos medalhas inéditas: a primeira medalha do Vietnã, com Hieu Ngan Tran na categoria médios feminina do taekwondo, e o primeiro ouro da Colômbia, no levantamento de peso, com Maria Isabel Urrutia na categoria pesados. Os saltos ornamentais foram dominados pela China, com Fu Mingxia ganhando seu quarto ouro, segundo no trampolim, e ainda garantindo uma prata no trampolim sincronizado, junto com Guo Jingjing, medalhista de prata também no individual; e Li Na foi prata na plataforma e ouro na plataforma sincronizada, em dupla com Sang Xue. No masculino, Xiong Ni foi ouro no trampolim e no trampolim sincronizado, junto com Xiao Hailiang; na plataforma, Tian Lang foi ouro e Hu Jia prata, e os dois juntos foram prata na plataforma sincronizada.

Dois atletas entraram para a história de seus esportes em Sydney. O primeiro foi o britânico Steve Redgrave, que conseguiu seu quinto ouro seguido no remo: em 1984 ele venceu no coxed four; em 1988, 1992 e 1996 no coxless pairs, e em 2000 no coxless four, além de ter ganho um bronze em 1988 no coxed pairs. Redgrave é o único atleta do remo a conseguir tal proeza, e é considerado o maior atleta olímpico da história da Grã-Bretanha. Mas proeza ainda maior conseguiu a alemã Birgit Fischer, que na canoagem ganhou seu sétimo ouro, sendo o sexto seguido, sendo que o primeiro ela havia ganhado em 1980, e ainda tendo três pratas no currículo. Fischer foi ouro no caiaque individual 500 metros em 1980 e 1992, no caiaque duplo 500 metros em 1988 e 2000, no caiaque quádruplo 500 metros em 1988, 1996 e 2000, e prata no caiaque individual 500 metros em 1988, no caiaque quádruplo 500 metros em 1992, e no caiaque duplo 500 metros em 1996. Fischer é a única atleta da história a ganhar duas medalhas de ouro com vinte anos de diferença entre elas, continua competindo, e em 2004 aumentou ainda mais seu plantel, ganhando seu oitavo ouro no caiaque quádruplo 500 metros, e sua quarta prata no caiaque duplo 500 metros.

Os Jogos terminaram com uma cerimônia de muita música, incluindo apresentações de Midnight Oil, Kylie Minogue e Savage Garden, após a qual o presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, declarou terem sido os Jogos de Sydney os melhores de todos os tempos. Seriam, porém, os últimos sob sua presidência. A partir de então, o COI seria presidido pelo belga Jacques Rogge. A principal preocupação de Rogge é com o gigantismo dos Jogos, e para contê-lo, ele tomou duas medidas: limitar o número de atletas a 10.000, e remover do programa os esportes que não tenham público. Eu, particularmente, acho que Olimpíadas tinham de ter todos os esportes. Mas eu não mando nada.

Série Olimpíadas

Nagano 1998
Sydney 2000

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