Raya and the Last Dragon
2021
Há 500 anos, Kumandra foi atacada por criaturas sem mente chamadas Druun, que transformam pessoas em pedra com um mero toque. Para detê-los, os dragões se uniram aos humanos, mas também acabaram transformados em pedra, exceto Sisu, que usou todo o seu poder para criar uma joia mágica que baniu os Druun para outra dimensão e reverteu a transformação em pedra dos humanos, mas não a dos dragões, o que fez com que Sisu se tornasse a última de sua espécie e decidisse viver em isolamento. Disputando a posse da joia mágica, os humanos se dividiram em cinco reinos, que, após anos de guerra, alcançaram uma paz tênue. Na época presente, entretanto, uma nova disputa faz com que a joia mágica se quebre em cinco pedaços, cada um ficando em posse de um representante de um dos reinos, mas, com a joia despedaçada, os Druun conseguem retornar, e ameaçam novamente transformar todos em pedra. A Princesa Raya, detentora de um dos fragmentos da joia, decide procurar Sisu para pedir que ela crie uma nova, mas, ao encontrar o dragão, descobre que será necessário que elas encontrem os quatro outros fragmentos da joia original; as duas, então, partem por uma jornada pelos reinos de Kumandra, tentando fazer com que os reinos finalmente entrem em acordo para expulsar mais uma vez os Druun.
Com roteiro de Qui Nguyen e Adele Lim, Raya e o Último Dragão é baseado em várias lendas do Sudeste Asiático, no qual Kumandra foi modelada. A produção do filme consultaria vários experts em cultura da região, para assegurar que houvesse uma representação cultural precisa e evitar estereótipos, e viajaria para Laos, Vietnã, Camboja, Tailândia, Malásia, Cingapura e Indonésia; impressionados com a diversidade de climas e culturas da região, a produção decidiria fazer cada um dos cinco reinos de Kumandra com um clima diferente, que se refletia nas características de sua população. O rio que separa os cinco reinos de Kumandra tem formato de dragão e foi inspirado no Mekong, mas a produção evitaria corresponder cada um dos reinos a um país específico, fazendo uma mistura das culturas da região - da mesma forma, a história do filme não corresponde a uma lenda específica, sendo uma espécie de grande apanhado de lendas e histórias folclóricas locais. A ideia original do filme seria de Bradley Raymond e Helen Kalafatic, que achavam que já estava na hora de a cultura do Sudeste Asiático ser representada em uma grande produção da Disney, e estavam cansados do fato de que, sempre que uma terra de fantasia de um desenho animado tinha inspiração asiática, era baseada na cultura chinesa ou japonesa.
A produção do filme começaria complicada: em outubro de 2018, a Disney anunciaria que Paul Briggs e Dean Wellins, que já haviam trabalhado em Frozen, Zootopia e Moana, fariam sua estreia como diretores, e, em agosto de 2019, Lim e John Ripa seriam anunciados como roteiristas, e Cassie Steele como a dubladora de Raya. Então, em agosto de 2020, a Disney mudaria tudo: Lim seria mantida como roteirista, mas acompanhada por Nguyan, enquanto Don Hall e Carlos López Estrada substituiriam Briggs e Wellins na direção - Wellins e Ripa acabariam creditados como "co-diretores", embora não se saiba com certeza qual tenha sido seu papel na produção. Briggs, Wellins, Ripa, Nguyen, Lim, Hall, Estrada e Kiel Murray seriam todos creditados pela história, "baseada em ideias de" Raymond e Kalafatic, mas apenas Nguyen e Lim receberiam crédito de roteiristas.
Mas a mudança mais surpreendente foi a de Steele por Kelly Marie Tran como a dubladora de Raya; Tran havia feito o teste e ouvido que não era ela que a equipe estava procurando, mas em janeiro de 2020 receberia um "telefonema suspeito" que já a deixaria acreditando que iria substituir Steele. Boatos diriam que a Disney preferiria Tran por ela ser mais famosa, devido à sua participação como Rose Tico em dois filmes de Star Wars, Os Últimos Jedi e A Ascensão Skywalker, mas o motivo oficial divulgado pelo estúdio foi que a voz e entonação de Tran combinavam mais com o que eles queriam para a personagem - aliás, o motivo oficial para toda a mudança de diretores e roteiristas foi que a Disney queria que Raya fosse solitária, sofrendo calada e tendo Sisu como única amiga, mas Briggs, Wellins e Ripa estavam fazendo dela praticamente uma versão feminina do Peter Quill de Guardiões da Galáxia, superconfiante apesar de pouco habilidosa e cheia de tiradas engraçadinhas.
Além de Tran como Raya, a equipe de dubladores conta com Awkwafina - anunciada junto com Steele, mas mantida - como Sisu; Gemma Chan como Namaari, princesa de um dos outros reinos e rival de Raya; Daniel Dae Kim como Benja, pai de Raya; Izaac Wang como o menino Boun, que perdeu sua família para os Druun e decide acompanhar Raya após conhecê-la; Benedict Wong como Tong, guerreiro que também perdeu sua família para os Druun e também decide acompanhar Raya; Sandra Oh como Virana, mãe de Namaari; Thalia Tran como Noi, menina órfã criada por seres mitológicos chamados ongis; e Alan Tudyk como Tuk Tuk, o mascote de Raya. Por causa da pandemia, todos tiveram que dublar suas falas de casa, recebendo apenas as cenas das quais seus personagens participavam; a Disney aproveitaria para fazer uma espécie de jogo e não revelar a cada um deles quem eram os outros dubladores do elenco, mas eles acabariam descobrindo sozinhos, segundo Kim, porque os personagens tinham características físicas semelhantes às dos atores.
As roupas de Raya seriam inspiradas em vestes tradicionais do Sudeste Asiático, enquanto Sisu e os demais dragões do filme seriam inspirados nos naga, criaturas mitológicas ligadas ao elemento água, que podem assumir a forma de uma grande serpente ou de um ser humano - Sisu tem a habilidade de assumir forma humana no filme, com os animadores mantendo algumas características de dragão, como os olhos, para que ela se tornasse facilmente reconhecível. Inicialmente, Sisu se recusaria a ajudar Raya de todas as formas, mas os roteiristas acharam que a história fluiria melhor se ela quisesse ajudar, mas sentisse que não pudesse. Os animadores primeiro desenvolveriam Raya e Sisu separadamente, mas, insatisfeitos com o resultado, decidiriam criar os dois personagens juntos, para que ambos se complementassem visual e tematicamente. Já Namaari seria criada para ser o oposto de Raya, uma personagem quase militar, que demonstrasse força e confiança em cada pose, com vestes retas e angulosas em tons sóbrios.
Mais de 800 animadores trabalhariam no filme, usando os programas Autodesk Maya, Houdini e Nuke. A equipe combinaria animação tradicional com computação gráfica, para criar uma sensação proposital de imperfeição, como se algo em Kumandra estivesse fora do lugar devido à quebra da joia. Um dos feitos mais impressionantes da equipe de animação seria criar uma nova técnica para renderizar roupas, através da qual as roupas são criadas dobrando pedaços enormes de tecido, ao invés de combinando peças em padrões pré-determinados. As diferenças climáticas e culturais entre os reinos de Kumandra, que vão do deserto à floresta tropical, também fariam novos usos de iluminação e combinação de cenários; para garantir mais diversidade à população, sem sacrificar as características culturais do povo de cada reino, seria usada uma nova técnica que recombinava partes de personagens seguindo um modelo criado anteriormente. Para não se perder quando estava criando a população de Kumandra, a equipe teve de inventar um programa que fazia uma espécie de censo, mostrando quantos personagens já estavam prontos em cada reino e quais eram suas características; esse programa também ajudaria a confirmar que todos os personagens de um determinado reino estavam consistentes com as características daquele reino, com todos os seus elementos tendo a aparência correta.
Os movimentos de animais, como os besouros que escalam uns aos outros, cardumes de peixes, e, principalmente, dos dragões, seriam feitos individualmente, ao invés de o grupo como um todo, como é comum em animações desse tipo. Devido à sua ligação com a água, os dragões teriam várias características desse elemento, como o fato de serem fluidos e translúcidos, e de deixarem pegadas quando andam no ar como se seus pés estivessem molhados. Outros truques também seriam usados para acentuar as características dos personagens, sendo usados planos largos, focos profundos e uma paleta de poucas cores para Raya, enquanto para Sisu eram usados planos distantes, foco próximo e uma paleta mais ampla.
A trilha sonora ficaria a cargo de James Newton Howard, um dos maiores compositores de Hollywood, e a principal canção do filme, Lead the Way, seria escrita e interpretada por Jhené Aiko. Essa canção teria uma versão gravada pelo cantor filipino KZ Tandingan, chamada Gabay, incluída na versão filipina do filme - aliás, Raya e o Último Dragão seria o primeiro Clássico Disney a ser dublado em filipino, o que foi muito comemorado pela equipe da Disney Filipinas.
Raya e o Último Dragão estava originalmente previsto para novembro de 2020, mas, por causa da pandemia, estreou em 5 de março de 2021, simultaneamente nos cinemas e no Premier Access, serviço do Disney+ pelo qual os assinantes poderiam pagar 29,99 dólares adicionais para assistir ao filme antes dos demais, que só passaram a ter acesso em 4 de junho, quando o filme seria adicionado ao catálogo do Disney+. Com orçamento de 100 milhões de dólares, rendeu 54,7 milhões nos Estados Unidos e 130,4 milhões quando somado o mundo inteiro, com a Disney atribuindo o aparente fracasso à pandemia, e não à qualidade do filme - de fato, no streaming, o filme seria o segundo mais assistido no planeta na primeira semana de junho, quando ficou disponível a todos os assinantes, perdendo apenas para Lucifer, da Netflix - mesmo quando estava disponível apenas com assinatura adicional, ele seria o quarto mais assistido do período. Surpreendentemente, os dois países nos quais o filme teve a maior bilheteria nos cinemas, depois dos Estados Unidos, foram China e Rússia.
A crítica seria extremamente positiva, elogiando a mistura de emoção, humor e política social do roteiro, e a atuação inspirada de Awkwafina. A animação seria considerada lindíssima, a história, rica, e a ambientação no Sudeste Asiático como uma bem-vinda novidade - alguns críticos do Sudeste Asiático, entretanto, reclamariam que o elenco é majoritariamente composto por descendentes de chineses e coreanos, e diriam que a Disney poderia ter feito um esforço para escalar dubladores verdadeiramente relacionados com a região. A personagem Raya também acabaria criticada por não ter nenhum traço verdadeiramente relacionado à cultura do Sudeste Asiático além de sua aparência física e por parecer deslocada em seu próprio mundo, especialmente se comparada a Moana, que foi considerada uma verdadeira representação de uma garota polinésia. O filme seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, mas perderia os dois para o que vamos ver a partir de agora.
2021
Em 2016, após concluírem Zootopia, os diretores Jared Bush e Byron Howard procurariam John Lasseter, na época chefe do departamento criativo da Disney Animation, e se diriam interessados em fazer um musical. Lasseter os colocaria em contato com Lin-Manuel Miranda, o principal compositor dos musicais da Disney, e os três começariam a conversar sobre qual seria o tema. Bush e Howard diriam que estavam cansados de fazer filmes nos quais dois personagens diferentes têm de aprender a trabalhar juntos - como Zootopia, o projeto seguinte de Bush, Moana, e o projeto da Disney então em desenvolvimento, Raya e o Último Dragão - e planejavam fazer algo novo; conversando com Miranda, eles descobririam que todos os três têm as chamadas "famílias estendidas" - nome usado nos Estados Unidos para se referir a famílias nas quais muitos parentes, como avós, tios e primos, moram juntos na mesma casa, algo que não é comum por lá, exceto em famílias de origem latina - e pensariam em fazer um musical sobre uma família estendida com poderes mágicos. Sendo as famílias estendidas um conceito relacionado às famílias latinas, Miranda sugeriria um musical latino, alegando que as músicas latinas seriam as mais apropriadas para capturar a complexidade das relações familiares. Bush e Howard também definiriam que o tema central do filme seria "como você vê e é visto pelas demais pessoas de sua família".
Como não eram de origem latina, Bush e Howard - Miranda, apesar de nascido em Nova Iorque, descende de porto-riquenhos e mexicanos - decidiriam conversar com Juan Rendon e Natalie Osma, com quem trabalharam durante o documentário Imaginando Zootopia. Por um acaso, tanto Rendon quanto Osma eram descendentes de colombianos, e frequentemente inseriam nas conversas suas experiências pessoais com a cultura colombiana presente em suas famílias e sua relação com a cultura norte-americana na qual haviam sido criados. Bush, Howard e Miranda gostaram tanto dessas conversas que decidiriam ambientar o filme na Colômbia, contratando Rendon e Osma como consultores, junto com outros estudiosos da cultura colombiana. O trio também conversaria com psicólogos e psicoterapeutas especialistas em terapia familiar, e com vários empregados da Disney Animation, que forneceram pontos de vista valiosos sobre interações familiares.
Encanto - palavra que pode ser usada como sinônimo de "magia" em espanhol, e por isso foi escolhida para o título do filme - é ambientado no passado, em um pequeno vilarejo do interior da Colômbia, fundado e praticamente governado pela Família Madrigal, cujos membros têm poderes mágicos graças a um desejo feito por sua matriarca, Alma Madrigal (a atriz e apresentadora colombiana María Cecilia Botero), forçada a abandonar sua casa e se estabelecer em um vale remoto após uma guerra. For força desse desejo, a vela que alma carregava se tornou a fonte dos poderes da família, jamais se consumindo ou se apagando, e criando uma casa mágica, chamada Casita, onde vive toda a família. Originalmente, a família era composta apenas por Alma, que ficou viúva na guerra, e seus três filhos, Julieta (Angie Cepeda), que tem o poder de curar qualquer enfermidade ou cansaço com sua comida, Pepa (Carolina Gaitán), que tem o poder de controlar o clima, e Bruno (John Leguizamo), que tem o poder de prever o futuro, que o deixa atormentado e faz com que ele decida deixar o vilarejo e ir morar em local ignorado.
Pepa se casaria com Félix (Mauro Castillo), que acha graça em tudo e veio ao mundo para se divertir, e teria três filhos: Dolores (a cantora Adassa), de 21 anos, que tem super audição, sendo capaz de escutar os mínimos sons a grandes distâncias; Camilo (Rhenzy Feliz), de 15, que tem o poder de mudar de forma; e Antonio (Ravi Cabot-Conyers), de apenas 5 anos, que tem o poder de falar com os animais. Já Julieta se casaria com o atrapalhado Agustín (Wilmey Valderrama), e teria três filhas: a lindíssima Isabela (Diane Guerrero), de 21 anos, que tem o poder de fazer plantas e flores nascerem em qualquer lugar; a alta e atlética Luisa (Jessica Darrow), de 19 anos, que tem superforça e nunca fica cansada; e a protagonista do filme, Maribel Madrigal (Stephanie Beatriz), de 15 anos, cujo melhor adjetivo para definir é normal: por alguma razão que ninguém compreende, Maribel não tem nenhum poder, e alguns da família acham que nunca terá. Também merecem ser citados Mariano Guzmán (o cantor colombiano Maluma), vizinho dos Madrigal e noivo de Isabela; a mãe de Mariano, chamada apenas de Señora Guzman (Rose Portillo); e Osvaldo (Juan Castano), vendedor de porta em porta que leva suas mercadorias em uma carroça. O onipresente Alan Tudyk também está no filme, no papel do tucano Pico.
Apesar de não ter poderes, Maribel não é revoltada, aceitando seu papel na família e aguardando ansiosamente o dia em que finalmente os terá. Quando o filme começa, porém, há algo de errado com a magia da família, que parece estar falhando ou saindo do controle, colocando até mesmo a integridade da Casita em risco - e os moradores do vilarejo, mais do que acostumados a depender da magia dos Madrigal para tudo, se desesperam ao pensar como será a vida sem ela. Para tentar descobrir como salvar a magia da família antes que seja tarde demais, Maribel decide tentar encontrar seu tio Bruno, e parte rumo a uma grande aventura.
Em 2018, Bush, Howard, Miranda, Rendon e Osma viajariam para a Colômbia, onde conversariam com arquitetos, chefs de cozinha e artesãos, para criar uma ambientação realística para o filme. Apesar de terem visitado cidades grandes como Bogotá e Cartagena, eles se sentiriam mais inspirados pelas pequenas cidades de Salento e Barichara, e decidiriam ambientar o filme em uma pequena cidade do interior. Bush também notaria que o terreno montanhoso da Colômbia fazia com que algumas cidades pequenas se desenvolvessem isoladas, ganhando "uma personalidade própria", e decidiria usar isso no filme. A guia Alejandra Espinosa Uribe, que acompanharia o quinteto, também acabaria contratada como consultora após dizer que o interior da Colômbia está repleto de locais permeados por magia, nos quais a população coexiste com ela sem questionar sua existência, o que Bush e Howard acharam que era perfeito para a história do filme; Uribe também acabaria servindo de modelo para Maribel Madrigal, que compartilhava com ela os cabelos encaracolados, os óculos de armações grandes e vários gestos que ela usava ao contar suas histórias.
Também é interessante dizer que a época na qual o filme é ambientado foi deixada intencionalmente vaga; inicialmente, Bush e Howard queriam fazê-lo na época atual, depois mudaram de ideia para a década de 1950, e, após visitar a Colômbia, decidiriam ambientá-lo no início do século XX, mas com elementos folclóricos e costumes que poderiam ser bem mais antigos. A mudança também serviria a um propósito no roteiro: entre outubro de 1899 e novembro de 1902, a Colômbia sofreria com a Guerra dos Mil Dias, durante a qual populações de cidades inteiras tiveram de fugir e se estabelecer em outros lugares, o que dava o motivo perfeito para a família Madrigal fundar uma nova cidade.
A Disney a princípio torceria o nariz para uma família tão grande, e Miranda chegaria a ouvir que era impossível fazer um filme com uma dúzia de protagonistas; ele escreveria o número inicial, que apresenta toda a família, especificamente para convencer os executivos da Disney de que era possível, e ele e os diretores se comprometeram a dar um arco de história para cada personagem, para que o filme não fosse uma aventura de Maribel com seus parentes como coadjuvantes. Bush planejava escrever o roteiro ele mesmo, mas, conforme a história ficava mais complexa, ele sentiu que precisava de alguém especializado em realismo fantástico, e chamou Charise Castro Smith, que, além disso, foi essencial para uma construção verossímil de Mirabel, que baseou em suas próprias experiências como uma adolescente latina numa família estendida. Como é comum nas mais recentes produções Disney, várias pessoas contribuiriam com ideias, e, apesar de apenas Bush e Smith serem creditados como roteiristas, a história seria creditada a Bush, Howard, Miranda, Smith, Jason Hand e Nancy Kruse.
A equipe de animação seria liderada por Renato dos Anjos e Kira Lehtomaki, que considerariam Encanto o filme mais difícil de suas carreiras, por terem que desenvolver completamente uma dúzia de personagens - em um filme normal, um máximo de três são completamente desenvolvidos, com os demais sendo feitos sob medida apenas para as cenas nos quais vão aparecer. Maribel foi considerada especialmente complexa, pois tinha de parecer ao mesmo tempo capaz e imperfeita, mas sem passar a impressão de ser desastrada. Coreógrafos colombianos e caribenhos seriam contratados para dar mais realismo aos números musicais, liderados por Jamal Sims, que decidiria usar um estilo musical diferente como característica de cada personagem, para refletir suas personalidades únicas. Um botânico colombiano, Felipe Zapata, também seria contratado, para aconselhar sobre quais plantas Isabela teria o poder de criar - pois só haveria sentido se ela criasse plantas que crescem naturalmente na região - e especialistas em moda colombiana seriam consultados para a criação das roupas leves, esvoaçantes e coloridas usadas pela família.
A ideia da Disney era enviar uma equipe de cerca de 50 animadores para trabalhar na Colômbia em março de 2020, mas esse plano teve de ser suspenso por causa da pandemia; a equipe de animação, composta por cerca de 800 pessoas, 108 delas animadores, acabaria tendo de trabalhar de casa, sendo orientados online pela equipe de consultores, em especial Uribe, que faria um tour em tempo real pela Colômbia por videoconferência através de seu celular, e a atriz Diane Guerrero, que pediria para que seus parentes na Colômbia enviassem fotos de suas refeições diárias.
Encanto teria duas pré-estreias, uma em Hollywood, em 3 de novembro de 2021, e uma em Bogotá vinte dias depois, antes de ser lançado oficialmente em 24 de novembro de 2021 - data para o qual estava previsto desde o início, sem necessidade de adiamento causado pela pandemia. O filme ficaria durante 30 dias exclusivamente em cartaz nos cinemas, estreando diretamente no catálogo do Disney+, sem Premier Access, em 24 de dezembro. Em 16 de fevereiro de 2022, devido ao grande sucesso no Disney+ e na cerimônia do Oscar, a Disney decidiria relançá-lo nos cinemas, onde ficaria em cartaz por mais 30 dias.
Encanto derrapou nas bilheterias - com orçamento não divulgado, mas estimado entre 120 e 150 milhões de dólares, renderia quase 100 milhões nos Estados Unidos e cerca de 256 milhões no mundo inteiro, sendo que a Disney calculava que o rendimento mundial deveria ser de 300 milhões para ele se pagar - mas acabaria sendo considerado um sucesso de público pela Disney, já que seria o segundo filme de animação mais assistido de 2021, atrás apenas de Sing 2, e o filme de animação mais assistido do mês de dezembro no streaming, mesmo faltando apenas uma semana para acabar o mês quando ele estreou. O álbum de sua trilha sonora alcançaria o topo da parada de mais vendidos, e a canção We Don't Talk About Bruno chegaria ao topo do Hot 100 da Billboard, o que faria de Encanto a primeira produção Disney a ter um álbum e uma música no topo das paradas simultaneamente.
A crítica aclamaria o filme, elogiando principalmente o humor do roteiro, a qualidade das canções e a beleza da animação; alguns críticos considerariam que o filme era um marco para a retratação da comunidade latina nos cinemas comparável a Amor, Sublime Amor. Encanto também seria elogiado por mostrar especificamente a cultura colombiana, e não um apanhado de culturas latinas como era comum em produções norte-americanas. O filme ganharia três Grammys (Melhor Trilha Sonora Compilada para Uma Mídia Visual, Melhor Trilha Sonora Instrumental para uma Mídia Visual, e Melhor Canção Escrita para uma Mídia Visual, por We Don't Talk About Bruno) e seria indicado a três Oscars e três Globos de Ouro, nas exatas mesmas categorias: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Canção Original (por Dos Oruguitas) e Melhor Filme de Animação - ganhando esse último nos dois prêmios.
Em janeiro de 2022, Bush e Smith se diriam interessados em transformar Encanto em uma série produzida para o Disney+, seja centrada em Maribel, seja com cada episódio centrado em um dos personagens - e Miranda se diria especialmente interessado em produzir uma série protagonizada por Dolores. No mês seguinte, o CEO da Disney à época, Bob Chapek, declararia durante uma videoconferência de prestação de contas aos acionistas que Encanto era "a mais nova franquia da Disney", dando a entender que outras produções usando os mesmos personagens estariam sendo avaliadas. Após quase dois anos, porém, nem a série, nem um segundo filme parecem estar próximos de entrar em pré-produção.
Strange World
2022
A terra de Avalônia é cercada por montanhas intransponíveis, que fazem com que seus moradores desconheçam o que há além da cidade, mas bravos exploradores, como a família Clade, se aventuram para tentar encontrar uma passagem pelas montanhas e desbravar as terras além. Um dia, o explorador mais famoso de Avalônia, Jaeger Clade (Dennis Quaid), está liderando uma expedição que conta também com seu filho adolescente, Searcher (Jake Gyllenhaal), e aparentemente encontra um caminho através das montanhas. No caminho, entretanto, Searcher descobre uma nova fonte de energia, uma planta que ele decide chamar de Pando, e ele e o resto da expedição decidem retornar a Avalônia levando a descoberta; Jaeger, irritado, decide seguir em frente, e nunca mais é visto.
Anos se passam, e o Pando se mostra uma descoberta revolucionária, que muda a vida dos cidadãos de Avalônia para sempre, com Searcher se tornando um rico fazendeiro da planta que descobriu, casado com Meridian (Gabrielle Union) e pai do menino Ethan (Jaboukie Young-White). Um dia, entretanto, ele recebe a visita de Callisto Mal (Lucy Liu), presidente de Avalônia e antiga companheira de expedições de seu pai, que o recruta para uma missão: pouca gente sabe, mas as Pando estão perdendo seu poder, o que ameaça toda a estrutura de Avalônia, já completamente dependente da planta; a equipe de Callisto descobre que todas as raízes de todas as Pando são conectadas, e seguem um trajeto comum até o centro do planeta, com a presidente assumindo a missão de segui-las e descobrir a causa do enfraquecimento da planta, e recrutando Searcher por ele ser o maior especialista em Pando. Os demais membros da expedição serão a Capitã Pulk (Adelina Anthony), o piloto Duffle (Alan Tudyk, uma referência a seu personagem na série Firefly), e o nerd Caspian (Karan Soni).
Searcher concorda em acompanhar a expedição, e acidentalmente, acaba levando junto Meridian, Ethan e o cachorro da família, Legend. A família Clade, então, se vê em um mundo desconhecido, povoado por criaturas bizarras, onde fará amizade com uma delas, apelidada de Splat, descobrirá o destino de Jaeger, e se verá diante de uma verdade jamais imaginada sobre as Pando e Avalônia.
Don Hall teria a ideia para Mundo Estranho enquanto trabalhava em Moana, discutindo-a com seu colega Chris Williams - que acabaria não participando do projeto por decidir deixar a Disney para escrever e dirigir a animação da Netflix A Fera do Mar. Hall e Williams teriam como inspiração as revistas pulp do início do século XX, o livro Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, e filmes como Caçadores da Arca Perdida, Viagem Fantástica e King Kong; Hall também queria que a história fosse centrada em uma família e tivesse contornos ecológicos. Apesar de terem desenvolvido uma sinopse, Hall e Williams não escreveriam um roteiro nem apresentariam a ideia à Disney, até Hall ser escolhido para co-dirigir Raya e o Último Dragão, quando compartilharia suas ideias com o roteirista Qui Nguyen, que as adoraria e escreveria uma versão preliminar do roteiro, que os dois apresentariam à Disney. Os executivos do estúdio achariam que o filme tinha tudo para ser um sucesso, e dariam a luz verde logo após a conclusão da produção de Raya e o Último Dragão, confirmando Hall como diretor e Nguyen como roteirista.
Para criar o "mundo estranho", a equipe de produção conversaria com paleontólogos, climatologistas, biólogos e até mesmo fazendeiros; a ideia era criar um ambiente considerado totalmente diferente do que identificamos como um planeta, mas ainda assim reconhecível como um. Até mesmo as cores foram pensadas para causar estranheza: enquanto Avalônia é retratada em tons de marrom, cinza e verde, com um clima "agradável e nostálgico", o "mundo estranho" abusa de cores como vermelho, roxo e magenta, como se nada ali fosse natural. O personagem Splat, que se afeiçoa a Ethan, não fala, o que fez com que os animadores tivessem de criar para ele um manual de comunicação não-verbal, semelhante ao do tapete mágico de Aladdin, para que seus gestos e maneirismos fossem sempre adequados a cada situação - e sempre os mesmos, sem parecerem aleatórios. O filme combina animação 3D por computação gráfica, supervisionada por Randy Haycock, com animação tradicional, supervisionada por Eric Goldberg e Mark Henn, todos veteranos da Disney.
Inicialmente, a família Clade não teria um cachorro; o animal de estimação foi ideia do animador Burny Mattinson, outro veterano, que começou a trabalhar na Disney em 1953 - Mundo Estranho seria o último trabalho de Mattinson lançado durante sua vida, já que ele faleceria em 2023, aos 87 anos, mas após ter concluído seu trabalho em Wish: O Poder dos Desejos, o Clássico Disney seguinte. Enquanto fazia seu trabalho, Mattinson comentaria, como quem não quer nada, que uma família de fazendeiros com certeza teria um cachorro, e Hall gostaria da ideia, criando Legend. Legend não tem uma raça específica, lembrando um pouco um Old English Sheepdog, e tem apenas três pernas, toque que Hall achou que contribuiria para sua personalidade - e para mostrar que um cachorro deficiente é tão bom quanto um com todas as patas.
Mundo Estranho traria um casal interracial - Searcher é branco, Meridian é negra - e o primeiro personagem abertamente LGBTQIA+ em um Clássico Disney - Ethan, que é apaixonado por um colega de escola, Diazo (Jonathan Melo). Como de costume, isso foi elogiado pela crítica e considerado um marco pela comunidade, mas causou problemas para a Disney em 20 países, espalhados pelo Oriente Médio, África e Sul Asiático. O filme também não seria lançado na Rússia (segundo a Disney, em protesto contra a invasão da Ucrânia, mas é meio que sabido que não seria de qualquer forma, devido à "lei anti-gay" existente naquele país) na China (sem maiores explicações, embora o mais provável é que também tenha sido pelo personagem LGBTQIA+) e na França (por uma disputa entre a Disney e o sindicato do cinema francês, que não quis aceitar as datas de exibição propostas pelo estúdio; na França, o filme estrearia direto no Disney+).
Mundo Estranho também seria o primeiro filme a trazer a vinheta comemorativa do centésimo aniversário da Disney, com uma nova versão do castelo que é o símbolo do estúdio e um novo arranjo para When You Wish Upon a Star, mesmo o centenário ocorrendo apenas em 2023 e o filme tendo estreado em 23 de novembro de 2022. Curiosamente, Mundo Estranho seria considerado um dos maiores fracassos do cinema de todos os tempos - com orçamento não divulgado, mas estimado entre 135 e 180 milhões de dólares, renderia apenas 73,6 milhões somando o mundo inteiro, 38 milhões nos Estados Unidos - mas se sairia muito bem no streaming, sendo o programa mais assistido do Disney+, onde estreou em 23 de dezembro de 2022, durante 19 dias seguidos, e o oitavo programa mais assistido do mês de dezembro nos Estados Unidos considerando todos os serviços.
A crítica ficaria dividida, elogiando a mensagem ecológica, o visual arrojado do filme a as interpretações do elenco principal, mas criticando a história, considerada "muito básica", e os personagens, considerados mal-desenvolvidos. Mundo Estranho seria o primeiro Clássico Disney desde A Familia do Futuro, de 2007, a não ser indicado a nenhum Oscar, também não sendo indicado a nenhum Globo de Ouro.
Muitos analistas atribuiriam o fracasso do filme nos cinemas a ele ter estreado no mesmo dia que Glass Onion: Um Mistério Knives Out e apenas uma semana depois de Pantera Negra: Wakanda para Sempre, numa época em que a audiência dos cinemas ainda não havia voltado totalmente ao normal após a pandemia; a Disney, oficialmente, culparia a campanha de marketing, considerada muito pobre em relação aos demais Clássicos, e que não deixava claro sobre o que se tratava o filme, o que causou desinteresse do público - sobraria até mesmo para Bob Chapek, que havia decidido lançar três filmes seguidos da Pixar, Soul, Luca e Red: Crescer é uma Fera, diretamente no Disney+, o que, na avaliação dos executivos do estúdio, fez com que a maior parte do público preferisse esperar a estreia de Mundo Estranho no streaming ao invés de ir aos cinemas.
Série Clássicos Disney |
||
---|---|---|
•Raya e o Último Dragão |
0 Comentários:
Postar um comentário