domingo, 8 de novembro de 2020

Escrito por em 8.11.20 com 0 comentários

Clássicos Disney (XX)

Enquanto preparava as tabelas para colocar nos meus posts em série, percebi que já foram lançados mais três Clássicos Disney desde que eu escrevi meu último post sobre eles. É hora, portanto, de escrever mais um!

Moana
2016

Moana é a filha do chefe de sua tribo, que vive na ilha de Motonui, na Polinésia. Desde criança, ela sempre teve um grande desejo de singrar o oceano, mesmo sabendo que esse não é o costume de seu povo, que parece satisfeito em ter apenas sua ilha como seus domínios. Um dia, ela não resiste e rouba um barco, partindo para grandes aventuras.

Acontece que Moana não é só uma adolescente atrevida qualquer: no passado, os oceanos foram criados pela deusa Te Fiti, e os habitantes de Motonui eram seus protegidos. Um dia, o semideus Maui roubou o coração de Te Fiti, o que permitiu que a humanidade ganhasse o poder da criação, mas tornou os oceanos inseguros, e permitiu que o demônio Te Ka ameaçasse os domínios de Te Fiti. Milhares de anos se passaram, e Te Ka está mais perto do que nunca de destruir a humanidade; Moana foi a escolhida de Te Fiti para, retornando ao oceano, encontrar Maui e seu coração, devolvendo-o ao seu devido lugar e permitindo que a paz reine mais uma vez. O único problema é que o semideus é um chato convencido e exibido, e Moana terá muito trabalho para cumprir sua missão.

A história de Moana começaria a tomar forma em 2011, quando o diretor John Musker, de A Pequena Sereia e Aladdin, dentre outros, leu um livro sobre a mitologia polinésia, e ficou encantado com a riqueza de detalhes sobre os feitos heroicos de Maui. Intrigado por ter conhecido uma cultura tão rica e tão pouco divulgada no ocidente, ele achou que seria uma boa ideia produzir um longa de animação baseado na mitologia polinésia, e chamou Ron Clemens, seu habitual parceiro na direção de Clássicos Disney, para começar a trabalhar em um roteiro. Os dois apresentariam, ainda em 2011, a ideia a John Lasseter, então chefe do departamento de criação dos Estúdios Disney, que recomendaria que eles fizessem uma viagem para pesquisar mais elementos antes de começar a escrever o roteiro. Assim, em 2012, Musker e Clemens partiriam em uma viagem por Fiji, Samoa e Taiti, durante a qual conversaram com o povo local e aprenderam mais sobre sua cultura. Inicialmente, Musker havia pensado em fazer o filme centrado apenas em Maui, mas, durante essa viagem, concluiria que o melhor seria se a protagonista fosse uma adolescente, e Maui uma espécie de seu mentor.

Uma coisa que fascinou Musker e Clemens durante a viagem foi aprender que, apesar de as viagens exploratórias do povo polinésio serem anteriores até mesmo às dos europeus, tendo começado por volta do ano 300 a.C., um belo dia, sem nenhuma explicação, eles as abandonaram, e decidiram que iriam ficar restritos apenas a seu próprio território; essa "reclusão" durou cerca de mil anos, após os quais os polinésios voltariam a explorar os oceanos, sem maiores explicações. Os diretores adoraram o mistério por trás dessa história - até hoje não resolvido, sendo a teoria mais provável a de que mudanças climáticas interferiram com as correntes marítimas e ventos que os polinésios usavam para navegar, fazendo com que eles passassem a considerar a navegação perigosa - e decidiram que seu filme seria ambientado no fim desse período, inventando uma explicação tanto para a interrupção quanto para seu retorno. Motonui seria, evidentemente, uma ilha inventada, que reuniria características da antiguidade dos três países visitados por eles.

A pré-produção duraria cinco anos, durante os quais Musker e Clemens contariam com a ajuda de experts na cultura do Pacífico Sul, para que tudo no filme fosse o mais realístico possível - eles rejeitariam, por exemplo, que nos primeiros esboços Maui era careca, argumentando que não era comum homens rasparem a cabeça na antiguidade, sendo normal que eles tivessem vastas cabeleiras. A primeira versão do roteiro acabaria sendo escrita não por Musker e Clemans, mas pelo diretor e roteirista Taika Waititi, nascido na Nova Zelândia e descendente do povo maori; a história seria tão alterada desde então que Waititi brincaria que a única coisa que restou de sua versão foi a primeira linha - durante as sucessivas revisões, Moana teria um monte de irmãos, sofreria discriminação da tribo por ser mulher, se lançaria ao mar para salvar seu pai, desaparecido durante um naufrágio, ou seria seu pai quem tinha o desejo de explorar o mar, e ela apenas o acompanharia, ficando sozinha após ele desaparecer em um naufrágio.

Musker e Clemens seriam responsáveis pelas maiores mudanças, mas a maior parte dos elementos-chave do filme, como a tônica do relacionamento entre Moana e Maui, seria criação dos irmãos Aaron e Jordan Kandell; e a avó de Moana seria uma criação de Pamela Ribon, para que ela tivesse uma ligação com seus antepassados e um estímulo para ir ao mar. Quando a produção começou de vez, a equipe de animação identificou vários pequenos trechos que precisariam de ajustes antes que as cenas fossem animadas; como Musker e Clemens já estavam sobrecarregados, trabalhando de segunda a sábado doze horas por dia para que o filme pudesse ser concluído no prazo, a Disney chamaria os diretores Don Hall e Chris Williams, de Operação Big Hero, para fazer esses ajustes. Mesmo depois dessa gente toda mexer no roteiro, a Disney optaria por creditar como único roteirista Jared Bush, responsável por escrever a versão final enviada para o setor de animação.

Moana seria o primeiro filme de Musker e Clemens feito por computação gráfica; no início da pré-produção, eles cogitariam fazê-lo em animação tradicional, mas desistiram após considerar que o oceano ficaria muito mais bonito e realístico se fosse feito em CG. Apenas uma parte do filme seria feita com animação tradicional, as histórias contadas pelas tatuagens de Maui, que ficariam a cargo de Eric Goldberg, pois as versões em computação gráfica não teriam a aparência que os diretores queriam. Moana seria produzido simultaneamente a Zootopia, no mesmo local e usando os mesmos softwares, mas com duas equipes diferentes; esse esforço simultâneo permitiu que dois Clássicos Disney fossem lançados no mesmo ano, algo que não acontecia desde 2000, com Dinossauro e A Nova Onda do Imperador. Como os Estúdios Disney em Burbank estavam sendo reformados, Moana e Zootopia tiveram de ser produzidos em um galpão em North Hollywood; seria a segunda experiência do tipo para Musker e Clemens, já que A Pequena Sereia também havia sido produzido em um galpão, em Glendale.

Musker e Clemens queriam que a maior parte do elenco fosse de ascendência polinésia, e realizaram testes com centenas de candidatas até escolher Auli'i Cravalho (é Cravalho mesmo, não foi erro de digitação meu) para o papel de Moana; então com 14 anos, Cravalho se saiu tão bem no teste que os diretores pediriam para que ela trabalhasse junto com a equipe de animação para que Moana tivesse seus maneirismos ao falar. Nascida no Havaí, Cravalho é descendente de nativos havaianos por parte de mãe, mas seu pai, nascido em Porto Rico, tem antepassados portugueses, irlandeses e chineses; antes de se tornar atriz, ela sonhava em ser cantora, sendo a estrela do Clube do Coral de sua escola, e, graças a isso, também interpretou todas as músicas que Moana canta no filme. Cravalho também dublaria Moana na versão em havaiano, na primeira vez em que um Clássico Disney seria dublado nesse idioma.

Para o papel de Maui, Musker e Clemens escolheriam Dwayne Johnson, também conhecido como The Rock, o nome mais famoso do elenco, e que é de ascendência samoana. A mãe de Moana ficaria com a atriz e cantora Nicole Scherzinger, que, assim como Cravalho, nasceu no Havaí e descende de nativos havaianos por parte de mãe. O pai de Moana seria interpretado por Temuera Morrison, a avó por Rachel House, e o caranguejo Tamatoa por Jermaine Clement, todos os três neozelandeses de ascendência maori - assim como Cravalho na versão em havaiano, os três reprisariam seu papéis na versão dublada em maori.

Falando nisso, Moana, originalmente, seria dublado em 45 idiomas, mas, após seu lançamento, a Disney optaria por acrescentar mais seis, para um total de 51. O primeiro desses seis novos idiomas seria o taitiano, na segunda vez em que um Clássico Disney ganharia uma versão dublada especialmente em homenagem à cultura que inspirou o filme - a primeira foi quando O Rei Leão, em 1995, ganhou uma versão dublada em zulu (a versão em chinês de Mulan não conta porque os Clássicos Disney já são normalmente dublados em chinês desde A Pequena Sereia). A versão em taitiano seria distribuída gratuitamente em escolas do Taiti, mas até hoje ainda não se encontra disponível para o comércio, o mesmo ocorrendo com a já citada versão em havaiano, lançada em 2018 e distribuída gratuitamente nas escolas do Havaí, mas não com a versão maori, lançada em 2017 e disponível para venda na Nova Zelândia e Austrália. Os outros três "idiomas extras", caso alguém esteja curioso, não têm nada a ver com a Polinésia, e foram albanês, bengali e tâmil - mas vale o registro de que também foi a primeira vez em que um Clássico Disney foi dublado para eles.

Enquanto as "versões polinésias" seriam bastante elogiadas por linguistas, professores e pelos falantes de seus idiomas em geral, as versões europeias seriam bastante criticadas, especialmente a francesa. A questão, no caso, é que a França possui uma forte presença na Polinésia, já que, até hoje, lugares como Taiti, Bora Bora, Nova Caledônia e as ilhas Walis e Futuna são considerados parte da França; diferentemente do que Musker e Clemens fizeram, entretanto, os Estúdios Disney da França não se preocuparam em procurar atores polinésios, chamando apenas franceses europeus para a dublagem, o que resultaria em muitos protestos, inclusive do ator Yves Malakai, que, junto com o músico Ken Carlter, assim com ele, nascido no Taiti, fez uma campanha por uma nova dublagem em francês com "sotaque polinésio", que incluía uma versão do trailer oficial do filme dublado apenas por atores da Polinésia Francesa, que foi considerada por muitos críticos como melhor que a dublagem oficial. A campanha não sensibilizou a Disney, porém, e, até hoje, a única versão em francês que existe é a dos dubladores europeus.

Outro ponto controverso foi que, em quase toda a Europa, o filme e a personagem seriam rebatizados para Vaiana, pois "Moana" já era uma marca registrada da perfumaria espanhola Casa Margot; embora não houvesse problemas jurídicos, exceto na Espanha, a Disney optaria por usar o nome Vaiana também em outros países onde o perfume Moana Bouquet fosse comercializado - vale citar como curiosidade que, como em espanhol o V tem som de B, o nome da personagem na Espanha é falado "Baiana". Na Itália, a personagem continuou se chamando Moana, mas o filme mudou de nome para Oceania - segundo boatos, por causa da famosa atriz pornô Moana Pozzi, já que a Disney não quis que o filme ficasse associado a ela. Apenas em dois países europeus tanto a personagem quanto o filme se chamariam Moana, na Rússia e na Turquia.

Moana estrearia nos cinemas em 23 de novembro de 2016; com orçamento não revelado, mas estimado entre 150 e 175 milhões de dólares, renderia 248,7 milhões nos Estados Unidos, e quase 691 milhões no mundo inteiro, se tornando o quarto Clássico Disney a superar os 600 milhões, após Frozen, Operação Big Hero e Zootopia. A crítica seria amplamente favorável, elogiando principalmente a beleza do filme e as atuações de Cravalho e Johnson. A canção How Far I'll Go, escrita por Lin-Manuel Miranda e interpretada por Cravalho, ganharia um Grammy de Melhor Canção Escrita para uma Mídia Visual e seria indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, perdendo para City of Stars, de La La Land; Moana também seria indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação, perdendo, ora vejam só, para Zootopia.

WiFi Ralph: Quebrando a Internet
Ralph Breaks the Internet
2018

Em 2012, pouco após a estreia de Detona Ralph, o diretor Rich Moore manifestou seu desejo de realizar uma sequência, que levaria Ralph e Vanellope para o mundo dos games online, e que gostaria de incluir Mario e Tron nela. As negociações com a Disney começariam ainda naquele ano, mas se arrastariam durante quase dois: somente em 2014 o compositor da trilha sonora de Detona Ralph, Henry Jackman, confirmaria em uma entrevista que o roteiro já estava sendo escrito, e somente em 2015 John C. Reilly, que faz a voz de Ralph, assinaria contrato para atuar também na sequência. A Disney só anunciaria a sequência oficialmente em 2016, quando também anunciaria o retorno de Moore, Reilly e do roteirista Phil Johnston, e revelaria que, no novo filme, Ralph deixaria os arcades para "quebrar a internet".

Duas versões do roteiro seriam descartadas antes de se chegar à versão final, incluindo uma na qual o vilão do filme é um antivírus que quer deletar Ralph. Desde o início, a equipe de produção se preocuparia com como iria relacionar a internet com algo do mundo real - como fizeram no primeiro filme, no qual o local onde os personagens dos games se encontram tem a aparência de uma estação de trem - e chegaria à conclusão de que a melhor forma seria mostrá-la como uma cidade, com diferentes prédios simbolizando diferentes sites, e bonequinhos que representavam as pessoas acessando a internet se movendo entre eles de acordo com quais sites essas pessoas visitavam. Em determinado momento, a internet era inclusive muito mais detalhada, mas veio uma ordem da Disney de que o filme não deveria ser sobre a internet, e sim sobre a amizade de Ralph e Vanellope, então eles tiveram que cortar alguns detalhes e simplificar outros.

No novo filme, o Sr. Litwak (Ed O'Neill) instala um roteador wi-fi no arcade, que abre o mundo da internet para seus frequentadores. Quando uma atitude impensada de Vanellope (Sarah Silverman) acaba danificando seu jogo Sugar Rush, ela e Ralph decidem usar o roteador para se aventurar pela internet e encontrar as peças que permitirão ao Sr. Litwak consertá-lo. Durante a viagem, eles passarão por uma jornada de crescimento e auto-conhecimento, durante a qual farão novos amigos: Shank (Gal Gadot), principal personagem do game de corrida online Slaughter Race, e Yesss (Taraji P. Henson), algoritmo que determina quais vídeos do site BuzzTube aparecerão para os usuários.

Várias marcas famosas da internet aparecem no filme, como eBay, Amazon, Twitter, IMDb e Google, mas a Disney não procuraria nenhuma delas nem receberia ofertas em dinheiro para que elas fossem incluídas, preferindo fazer "propaganda de graça" e contar com a boa vontade de cada uma para que elas não pedissem para ser retiradas, o que, de fato, não aconteceu; tirando a cena no eBay, entretanto, todas as cenas-chave envolvendo marcas usam marcas da própria Disney, e, sempre que possível, marcas inventadas - o site de buscas usado por Ralph e Vanellope, por exemplo, não é o Google, e sim o knowsmore.com (algo como "sabemais.com"). A equipe de produção também incluiria memes famosos da internet em algumas cenas, e faria questão de abordar temas considerados "pesados" como comentários maldosos, phishing (propagandas falsas nas quais a pessoa clica e tem seus dados roubados) e spam (mensagens não-solicitadas).

Uma das cenas mais famosas do filme, na qual Ralph e Vanellope encontram as Princesas Disney, seria ideia da roteirista Pamela Ribon, que, durante uma sessão de troca de ideias em 2014, diria que Vanellope é "a perfeita definição de uma Princesa Disney", pois tem todos os elementos que caracterizam esse tipo de personagem. Quando Johnston começou a escrever o roteiro da sequência, Ribon o procurou e sugeriu a cena, que seria tanto uma propaganda do site ohmydisney.com, onde o encontro acontece no filme, quanto uma espécie de auto-sátira, já que o filme faria graça com as características das Princesas. A cena daria muito trabalho para a equipe de animação, que teria que encontrar um estilo unificado para todas as Princesas - já que, em seus filmes originais, elas foram desenhadas usando várias técnicas de animação diferentes - e ainda deduzir qual seria a altura de cada uma em relação às outras - Aurora é mais alta, Mulan é mais baixinha. Ao todo, 14 Princesas aparecem na cena, as 12 oficiais mais as duas irmãs de Frozen: Branca de Neve (Branca de Neve e os Sete Anões, voz de Pamela Ribon), Cinderela (Cinderela, voz de Jennifer Hale), Aurora (A Bela Adormecida, voz de Kate Higgins), Ariel (A Pequena Sereia, voz de Jodi Benson), Bela (A Bela e a Fera, voz de Paige O'Hara), Jasmine (Aladdin, voz de Linda Larkin), Pocahontas (Pocahontas, voz de Irene Bedard), Mulan (Mulan, voz de Ming-Na Wen), Tiana (A Princesa e o Sapo, voz de Anika Noni Rose), Rapunzel (Enrolados, voz de Mandy Moore), Mérida (Valente, da Pixar, voz de Kelly Macdonald), Anna (Frozen, voz de Kristen Bell), Elsa (Frozen, voz de Idina Menzel) e Moana (Moana, voz de Auli'i Cravalho), além de Rajah, o tigre de estimação de Jasmine; Meeko, o guaxinim amigo de Pocahontas; os ratinhos e passarinhos que ajudam Cinderela; e do Príncipe Nareen, transformado em sapo (e confindido com Frogger, do jogo de mesmo nome, por Ralph). Todas as princesas têm as mesmas dubladoras de seus filmes originais, exceto por Cinderela e Aurora, dubladas por suas atuais dubladoras oficiais, e por Branca de Neve, dublada por Ribon (pois Adriana Caselotti, dubladora original de Branca de Neve, e Ilene Woods, dubladora original de Cinderela, já são falecidas, e Mary Costa, dubladora original de Aurora, está com 90 anos e aposentada); essa seria, inclusive, a primeira vez em que Macdonald dublaria Mérida depois de Valente.

Outros personagens que participam do filme com seus dubladores originais são C3-PO (Anthony Daniels), Eeyore (Brad Garett) e Sonic (Roger Craig Smith, que dublava o personagem na série animada). Tim Robbins e Vin Diesel fazem as vozes de Buzz Lightyer e Groot, respectivamente, mas foram usadas falas retiradas de Toy Story e Guardiões da Galáxia Vol. 2 ao invés de os atores gravarem novas. Os youtubbers Colleen Ballinger, Dani Fernandez e Tiffany Herrera, e a banda Imagine Dragons fazem participações especiais, assim como Stan Lee, que aparece em uma cena falando com o Homem de Ferro. Jane Lynch e Jack McBrayer repetem seus papéis de Calhoun e Felix, Jr. do primeiro filme, e Alan Tudyk, que no primeiro filme dublou o Rei, faz a voz do mecanismo de busca Knowsmore. Também merecem ser citados Bill Hader como J.P. Spamley e Alfred Molina como Double Dan, personagens que habitam a deep web e lidam com atividades escusas.

Com tanta gente em cena, WiFi Ralph se tornaria o Clássico Disney com o maior número de personagens, com 474 modelos individuais de personagem e 6.752 personagens no total (a diferença ocorre porque alguns, como os Stormtroopers, contam como um personagem individual, mas cada um de seu grupo conta como um personagem para o total). Ao melhor estilo Marvel, o filme também contaria com duas surpresas após o final, uma cena pós-créditos criada após a finalização do filme - e que fez com que Reilly, que já estava de férias com a família, tivesse que ir até um estúdio em Nova Iorque gravar suas falas - e uma cena "intercréditos" que faz uma sátira ao fato de alguns filmes conterem cenas nos trailers que não estão presentes na versão final - motivada pelo fato de que a equipe de animação realmente preparou uma cena que fez muito sucesso no trailer, mas depois, devido a algumas alterações de última hora no roteiro, ficou sem lugar durante o filme.

Com direção de Moore e Johnston, e roteiro de Johnston e Ribon, WiFi Ralph estrearia em 5 de novembro de 2018, se tornando apenas a segunda sequência de um Clássico Disney a ser ela mesma um Clássico Disney - a primeira foi Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus; Winnie the Pooh não conta porque não foi uma sequência, e sim um reboot. Com orçamento de 175 milhões de dólares, rendeu 201 milhões apenas nos Estados Unidos (sendo 3,8 milhões apenas no primeiro dia, um recorde para um filme que estreou no feriado de Ação de Graças, o que fez com que seu rendimento no primeiro fim de semana fosse de 18,5 milhões) e 529 milhões no mundo inteiro; a crítica também o receberia muito bem, considerando-o uma evolução em relação ao primeiro, e salientando o desenvolvimento da relação entre Ralph e Vanellope. WiFi Ralph seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, mas perderia ambos para Homem-Aranha no Aranhaverso.

Frozen 2
2019

Até 2019, Frozen era não só o mais bem sucedido dos Clássicos Disney, mas também o mais rentável filme de animação de todos os tempos (sendo ultrapassado, naquele ano, pela versão nova de O Rei Leão). Uma questão, porém, incomodava a muitos fãs (mas não a mim, gostaria de deixar claro): por que a Elza tinha poderes? Ela nasceu assim? Foi amaldiçoada? Foi mordida por um floco de neve radioativo? Diante dessa questão (e também devido ao grande sucesso do filme), desde 2014 a Disney seria questionada sobre uma sequência. De início, a posição oficial era que uma sequência não estava nos planos, e que o foco seria na adaptação de Frozen para um musical da Broadway, que estrearia em 2017. Bob Iger, presidente da Disney na época, diria em entrevistas que não forçaria ninguém a escrever uma sequência, pois o resultado jamais sairia bom, e que deixaria que as coisas acontecessem naturalmente.

Em junho de 2014, porém, John Lasseter, chefe da equipe criativa, procuraria Chris Buck e Jennifer Lee, diretores de Frozen, e lhes diria que a Disney estava pronta para dar todo o apoio que eles necessitassem para fazer uma sequência, "se fosse isso que seus corações quisessem". Buck e Lee já haviam começado a trabalhar em outra história, mas, ao dirigir o curta Frozen: Febre Congelante, lançado em 2015, perceberiam que ainda tinham vontade de trabalhar com os personagens de Frozen, e se reuniriam com o produtor Peter Del Vecho, que, durante uma palestra, havia sido bombardeado por perguntas dos fãs sobre elementos do primeiro filme, para discutir a possibilidade de um segundo. Buck e Lee já tinham uma ideia bem clara de como queriam que esse segundo filme terminasse, e se empenhariam para que tudo se encaixasse da melhor forma possível para obter esse final; Buck, Lee, Marc E. Smith e os compositores Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez trabalhariam no roteiro, com a versão final ficando a cargo de Lee, que seria a única creditada como roteirista.

Nessa segunda aventura, Elsa (Idina Menzel) começa a ouvir uma voz misteriosa (dublada pela cantora norueguesa Aurora), e, seguindo a orientação do chefe dos trolls, Pabbie (Ciarán Hinds), parte em uma jornada pela Floresta Encantada, em companhia de sua irmã Anna (Kristen Bell), do boneco de neve Olaf (Josh Gad), do namorado de Anna, Kristoff (Jonathan Groff), e da rena Sven. Na floresta, Elsa e Anna descobrirão detalhes nunca revelados sobre o acidente que vitimou seus pais, o Rei Agnarr (Alfred Molina) e a Rainha Iduna (Evan Rachel Wood); encontrarão uma tropa de soldados que estão perdidos na floresta há 30 anos, liderados por Mattias (Sterling K. Brown); travarão contato com criaturas místicas, como os gigantes de pedra; e entrarão em conflito com a tribo Nortaldra, liderada por Yelena (Martha Plimpton), e da qual fazem parte os irmãos Honeymaren (Rachel Matthews) e Ryder (Jason Ritter), que compartilha com Kristoff o amor pelas renas. Mas o mais importante é que, durante sua jornada, Elsa descobrirá mais sobre seus poderes, inclusive sobre sua origem. Também fazem parte do elenco Jeremy Sisto como Runeard, o avô de Anna e Elsa, e Alan Tudyk como vários personagens secundários.

Para dar maior veracidade aos cenários e criaturas místicas do filme, a equipe de produção teria contato com uma equipe de estudiosos da cultura do povo sámi - também conhecidos em português como lapões - um povo indígena que vive no norte da Noruega, Suécia, Finlândia e na península de Kola, na Rússia. A Disney firmaria um acordo com o Conselho Sámi Transnacional, órgão que protege os interesses do povo sámi, para que todos os elementos do filme respeitassem a cultura sámi, e nenhum fosse mostrado como estereotipado. As principais criaturas místicas a aparecer no filme são os nøkk, cuja aparência líquida e fluida deu muito trabalho à equipe de animação, que se baseou no oceano de Moana para começar seu trabalho; oito meses de produção foram necessários apenas para criar e modelar os nøkk. Vale citar também que o chefe da equipe de animação, Wayne Unten, queria que Elsa usasse seus poderes como no primeiro filme, como se eles fossem parte de sua personalidade, com movimentos leves como os de uma dança; no início do processo de criação da personagem, ele chamaria todos os animadores responsáveis pelas cenas de Elsa, mostraria a eles várias cenas do super-herói Gelado, de Os Incríveis, e diria que aquilo era exatamente o contrário do que ele estava querendo.

Para criar os nøkk os animadores conseguiriam usar os softwares já existentes, mas, para o espírito do vento Gale, teve de ser inventado um novo, chamado Swoop, que exigiu a cooperação entre quatro equipes de animação diferentes para que fosse obtido o efeito desejado. Os gigantes de pedra também exigiriam um intenso trabalho para que realmente se parecessem com pedras que se moviam, e não com seres que tinham pele com aparência de pedra; pequenas pedras caem de suas articulações quando eles se movem, e a equipe teve de ter cuidado para que elas não distraíssem o público. Apesar disso, as equipes de animação do filme se superariam no uso dos softwares disponíveis, ao ponto de que alguns elementos ficariam tão realísticos que não combinariam com os personagens que tinham de interagir com eles, tendo de ser "piorados" de propósito. Uma das principais dificuldades dos animadores seria quanto a aparência de Olaf, que ou ficava falsa demais ou realística demais; para chegar a um meio-termo, eles pediriam para que os diretores concordassem que ele estava sob efeito dos poderes de Elsa, parecendo sempre estar ligeiramente congelado.

Após a primeira exibição para as plateias de teste, o filme teve de ser significativamente alterado, pois os avaliadores concluiriam que, apesar de os adultos terem gostado do filme, as crianças tiveram muita dificuldade para entender a história. Uma equipe de animadores teria de trabalhar durante mais dois meses para modificar diversas cenas, incluindo mais humor e esclarecendo alguns pontos da trama; ao todo 61 novas cenas seriam criadas e 35 modificadas, mas a Disney não divulgaria quantas seriam cortadas da versão final do filme - sabe-se que a versão final tem muio mais cenas do personagem Bruni, a salamandra de fogo, do que a primeira versão; que a recapitulação que Olaf faz do primeiro filme foi criada apenas para a versão final, para substituir um diálogo considerado "interminável" e "muito adulto" pelas plateias de teste; e que uma cena extremamente elaborada e trabalhosa envolvendo Olaf ficaria de fora da versão final.

Assim como Moana e O Rei Leão, Frozen 2 ganharia uma dublagem oficial em homenagem à cultura do filme - no caso, evidentemente, em sámi. A dublagem em sámi seria supervisionada pelo Instituto Internacional de Cinema Sámi, que, curiosamente, em 2014 fez um pedido à Disney para que Frozen ganhasse uma versão dublada em sámi, que foi negado. Ao todo, Frozen 2 teria dublagens oficiais em 46 idiomas, quatro a mais que Frozen, incluindo, pela primeira vez para um Clássico Disney, uma versão em telugu.

Frozen 2 seria lançado em 7 de novembro de 2019; com orçamento não revelado, mas estimado em 150 milhões de dólares, renderia 477,4 milhões apenas nos Estados Unidos, sendo 42,2 milhões apenas no primeiro dia, e ficando em primeiro lugar na bilheteria durante suas quatro primeiras semanas, até ser destronado por Jumanji: Próxima Fase. Somando as bilheterias do mundo inteiro, Frozen 2 faria 358,5 milhões no primeiro fim de semana, recorde para um filme de animação, e 1,450 bilhão no total, ultrapassando Frozen e ficando atrás apenas do já citado O Rei Leão de 2019, que renderia 1,658 bilhão, na lista dos filmes de animação de melhor bilheteria de todos os tempos. A crítica também receberia o filme extremamente bem, considerando-o pior que o primeiro, mas excelente por seus próprios méritos; ele seria indicado a apenas um Oscar, de Melhor Canção Original por Into the Unknown, o qual perderia para (I'm Gonna) Love Me Again, de Rocketman.

Bônus!!!!!

Esse é o primeiro post da série no qual eu falei sobre as versões dos desenhos dubladas em outros idiomas (culpa da Moana), e, ao pesquisar sobre o assunto, descobri coisas interessantes (bom, na verdade algumas eu já sabia, mas ainda não tinha falado aqui) que decidi compartilhar com vocês.

Desde 1988, todas as produções Disney - para cinema e TV, e não somente os desenhos, mas os filmes também - são dubladas, em todo o planeta, pela própria Disney. Em outras palavras, tudo da Disney que é lançado no Brasil dublado em português, por exemplo, desde 1988 é dublado pela Disney Brasil, nunca acontecendo de um outro estúdio (como, por exemplo, a Herbert Richers, que dublou algumas produções anteriores a 1988) ser contratado pela Disney para fazer as dublagens. Além disso, desde 1988, quem coordena todas as dublagens Disney em todo o mundo é uma empresa chamada Disney Character Voices International (DCVI), que estabelece rígidos padrões de qualidade, para que todas as dublagens sejam pelo menos do mesmo nível que as originais norte-americanas. É a DCVI que determina em quais idiomas cada produção será dublada, com alguns idiomas fazendo parte de uma "lista fixa", e outros sendo adicionados caso a caso.

Em relação aos Clássicos Disney, que é o que interessa para essa série, o primeiro a ganhar dublagens em idiomas estrangeiros, supervisionadas pelo próprio Walt Disney, foi justamente o primeiro de todos, Branca de Neve e os Sete Anões, que, além da versão original em inglês, teve dublagens em dez idiomas: português brasileiro, alemão, dinamarquês, espanhol latino-americano, francês europeu, holandês, italiano, polonês, sueco e tcheco. Esses onze (contando com o inglês) se uniriam a outros nove para formar uma lista fixa de vinte, para os quais todos os Clássicos Disney seriam dublados de Pinóquio a Bernardo e Bianca: árabe, eslovaco, finlandês, grego, húngaro, japonês, norueguês, persa e turco. Com a revolução islâmica de 1979, a Disney parou de lançar filmes no Irã e o persa saiu da lista, mas os Clássicos entre O Cão e a Raposa e Oliver e Sua Turma ainda foram dublados nos demais 19 da lista.

Com a criação da DCVI, outros 14 idiomas foram adicionados à lista, para dublar os filmes entre A Pequena Sereia e A Nova Onda do Imperador, para um total de 33: cantonês, catalão, coreano, espanhol europeu, flamengo, francês canadense, guoyu, hebraico, islandês, mandarim, português europeu, romeno, russo e tailandês. Em 2000, mais dez seriam adicionados à lista fixa, que ficaria, de Atlantis a Frozen 2, com 43: búlgaro, cazaque, croata, esloveno, estoniano, letão, lituano, sérvio, ucraniano e vietnamita.

Além dos 43 da lista fixa, desde 2000 a DCVI tem autorizado dublagens em dez outros idiomas, avaliados caso a caso, dependendo da procura que a Disney acredita que cada Clássico terá nos cinemas de cada país: albanês, bengali, galego, hindi, indonésio, malaio, marata, tâmil, telugu e urdu. Finalmente, como vimos hoje, alguns Clássicos ganharam dublagens em idiomas específicos, em homenagem às culturas neles retratadas, e que provavelmente não voltarão a dublar outros Clássicos (exceto, sei lá, em caso de sequências): zulu (O Rei Leão), havaiano, maori, taitiano (Moana) e sámi (Frozen 2).

Série Clássicos Disney

•Moana
•WiFi Ralph
•Frozen 2

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