segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Escrito por em 31.10.16 com 0 comentários

Clássicos Disney (XIX)

Semana passada, eu me dei conta de que já haviam sido lançados mais dois Kamen Riders desde que eu terminei a série, o que me motivou a escrever mais um post. Como costuma acontecer de vez em quando, tal fato me chamou a atenção para outra situação semelhante: já foram lançados mais três Clássicos Disney desde que eu escrevi o último post daquela série. Para aproveitar a oportunidade, portanto, vamos a eles!

Frozen: Uma Aventura Congelante
Frozen
2013

Assim como Enrolados (cujo nome em inglês é Tangled), para Frozen (que, em português, significa "congelados") a Disney optaria por um verbo no particípio como título; dessa vez, porém, a escolha pareceria mais acertada: Enrolados é claramente uma adaptação de Rapunzel, enquanto Frozen, embora tenha começado como uma adaptação de A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen, acabou se tornando algo completamente diferente.

Originalmente publicado em 1845, A Rainha da Neve é um dos mais aclamados contos de Andersen, assim como o mais longo - é dividido em sete partes, e tem mais que o dobro de páginas de A Pequena Sereia, o segundo da lista. Ele conta a história de dois amigos, o menino Kay e a menina Gerda, vizinhos em uma grande cidade. Há milênios, um troll criou um espelho mágico, capaz de distorcer a imagem de qualquer coisa que reflete, e de transformar pessoas boas em malignas caso elas se olhem nele. Ao tentar levá-lo para o Reino dos Céus, porém, ele o deixa cair, e o espelho se parte em um bilhão de pedaços, alguns menores que um grão de areia. Esses pedaços, entretanto, são tão perigosos quanto o próprio espelho, pois podem contaminar uma pessoa e torná-la maligna caso ela tenha contato com eles. É justamente o que acontece com Kay, que, durante um passeio em um dia de verão, entra em contato com alguns pedaços, que entram em seu coração e seus olhos. Se tornando maligno, Kay não quer saber mais de Gerda, foge de casa, e acaba encontrando a Rainha da Neve, feiticeira com o poder de controlar a neve e o gelo, que o leva para morar com ele em seu castelo. Os moradores da cidade acreditam que Kay se afogou no rio, último local em que foi visto, mas Gerda não se conforma, partindo para tentar encontrá-lo e reatar sua amizade.

Na década de 1930, a Disney tentaria adaptar A Rainha da Neve nada menos que três vezes, a primeira logo no início da década, quando Walt Disney pensaria em produzir uma série de desenhos adaptando as histórias de Andersen, ideia essa que jamais saiu do papel. Em 1937, após o sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões, a ideia voltaria à tona, dessa vez no formato de um package film, longa-metragem composto de diversos episódios, no caso um para cada uma das mais famosas histórias do autor, incluindo A Pequena Sereia, A Rainha da Neve, O Patinho Feio, A Polegarzinha e A Roupa Nova do Imperador, dentre outras. Devido a várias circunstâncias jamais explicadas satisfatoriamente, esse projeto também seria abandonado. Por fim, em 1940, Disney proporia ao produtor Samuel Goldwyn uma parceria no projeto de um filme sobre a vida de Andersen, que teria sequências filmadas, com atores interpretando o escritor, seus amigos e familiares em situações de seu dia a dia, intercaladas com sequências de animação inspiradas em suas mais famosas histórias. Nos termos dessa parceria, a produtora Samuel Goldwyn Productions ficaria responsável pela parte filmada, enquanto a Disney faria a parte animada, e ambos dividiriam o lucro. Goldwyn aceitaria e a produção teria início, mas, na Disney, a sequência de A Rainha da Neve se mostraria a mais problemática, não somente por ser a história mais longa, mas também por ser a mais sombria, o que fez com que os roteiristas tivessem grande dificuldade em adaptá-la para um filme apropriado para o público infantil. Com o envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o projeto seria abandonado, e um roteiro definitivo jamais seria escrito. Em 1952, Goldwyn aproveitaria o roteiro que já tinha e lançaria o filme Hans Christian Andersen, com Danny Kaye no papel do escritor e distribuído pela RKO; sem a participação da Disney, porém, as sequências dos contos de fadas em animação seriam substituídas por cenas de balé, nas quais os bailarinos interpretariam os personagens das histórias ao som de músicas clássicas. Na Disney, apesar de alguns roteiros já terem sido escritos, e até de algumas artes conceituais já terem sido produzidas, todo o projeto seria engavetado, e, durante anos, o estúdio jamais adaptaria uma história de Andersen.

A primeira história de Andersen adaptada pela Disney seria A Pequena Sereia, lançado apenas em 1989, quase sessenta anos após o primeiro projeto. Além de ser a primeira história de Andersen, o filme de Ariel seria o primeiro conto de fadas adaptado pela Disney desde A Bela Adormecida, trinta anos antes, e o maior sucesso do estúdio em décadas, inaugurando um período que ficaria conhecido como Renascença Disney, no qual o estúdio voltaria a investir pesado nos desenhos de longa-metragem para os cinemas, que, nos anos anteriores, vinham sendo gradativamente relegados a segundo plano em prol de desenhos para a TV, parques temáticos e filmes.

Durante a Renascença Disney, evidentemente, A Rainha da Neve foi uma das histórias mais cotadas para se tornar um longa-metragem para o cinema - afinal, se a coisa começou com Andersen, era natural que seguisse com ele. O animador Glen Keane, que trabalhou em A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, seria posto à frente do projeto, mas a equipe de roteiristas encontraria exatamente as mesmas dificuldades daquela da década de 1940: a história era sombria e complexa demais para um filme infantil, era difícil transformar Kay e Gerda em personagens com os quais as crianças pudessem se relacionar, e a Rainha da Neve tinha um papel, apesar de instrumental, minúsculo, o que faria com que ela não se tornasse um vilão Disney memorável - no conto original, inclusive, quando Gerda chega no castelo a Rainha da Neve nem está lá, e ela salva Kay sem qualquer tipo de embate final. Após anos de tentativas, Keane abandonaria o projeto em 2002, e ele seria novamente engavetado.

O presidente da Disney na época, Michael Eisner, não queria que o projeto fosse abandonado de vez, e o ofereceria à Pixar, que então era um estúdio independente que tinha um contrato de distribuição com a Disney. A Pixar não aceitou, mas, em uma jogada do destino, em 2006 ela seria comprada pela Disney, e o diretor John Lasseter (de Toy Story e Carros) seria nomeado seu CCO (Chief Creative Officer), uma espécie de responsável pela parte criativa do estúdio, ao qual todos os diretores, diretores de arte e animadores são subordinados. Um dos primeiros atos de Lasseter foi trazer de volta o diretor Chris Buck, que, depois de dirigir Tarzan, em 1999, trocou a Disney pela Sony. Buck apresentou vários projetos a Lasseter, dentre eles uma adaptação de A Rainha da Neve com algumas mudanças, dentre elas a de que a principal relação da protagonista (chamada Anna, e não Gerda) era com a Rainha da Neve, e não com Kay, aumentando a participação da vilã e abrindo novas possibilidades para a história. Coincidentemente, quando a Disney apresentou o projeto de A Rainha da Neve à Pixar, Lasseter, que trabalhava lá, pôde ver a arte conceitual não somente do projeto da década de 1990, mas também a de 1940, ficando absolutamente encantado, o que fez com que ele aceitasse a proposta de Buck na hora. Com o título provisório de Anna e a Rainha da Neve, o desenho, que seria feito em animação tradicional - seguindo um planejamento estabelecido em 2010, segundo o qual a Disney alternaria Clássicos feitos em computação gráfica com feitos em animação tradicional, mas que, depois de Frozen, seria abandonado - entraria em pré-produção, previsto para estrear em 2010.

Ainda não seria dessa vez, porém, que A Rainha da Neve sairia do papel. 2010 chegaria e o roteiro ainda não estaria pronto, devido aos mesmos problemas de sempre: história sombria e complexa demais e personagens com os quais o público não conseguiria se relacionar. O projeto seria engavetado mais uma vez, mas, agora, apenas por cerca de um ano: após o sucesso de Enrolados, Lasseter decidiria fazer dele um filme em computação gráfica, com estreia prevista para 2013. Para evitar que o prazo fatal novamente chegasse sem que nada estivesse pronto, ele chamaria Buck e o produtor Peter del Vecho para reuniões semanais, que contariam também com a presença de outros profissionais envolvidos no projeto. Em uma dessas reuniões surgiria a ideia que mudaria a história do filme para sempre: ao abordar o problema de que o público não conseguia se identificar com os personagens, Lasseter opinaria que isso ocorria porque a Rainha da Neve era um "vilão Disney tradicional", e que a relação entre ela e Anna parecia forçada. Segundo ele, as ideias propostas por Buck eram divertidas e suaves, mas os personagens não combinavam com elas, sendo sérios e sombrios. Os membros da equipe, então, começariam a escrever várias ideias para solucionar esse problema, até que um deles - quem, exatamente, ninguém se lembra, de acordo com a versão oficial - daria uma solução simples: e se Anna e a Rainha da Neve fossem não amigas, mas irmãs?

Essa pequena mudança daria margem para várias outras, como, por exemplo, fazer com que a Rainha da Neve fosse não uma vilã per se, e sim uma personagem vista pelos outros como vilã, mas não por sua irmã, que tentaria ser fiel a ela independentemente da situação - ideia essa dada pelos compositores das músicas do desenho, o casal Robert Lopez e Kristen Anderson-Lopez. O amor fraternal também era pouco explorado nos Clássicos Disney, sendo a única exceção de destaque Lilo & Stitch. A equipe ficaria tão animada com o projeto depois dessa mudança que passaria a convidar outras funcionárias da Disney, sem qualquer relação com ele, para as reuniões, sendo o único pré-requisito para ser convidada o de que tivessem uma irmã, e expusessem na reunião como era seu relacionamento com ela. Uma dos roteiristas de Detona Ralph, Jennifer Lee, seria chamada para escrever o roteiro, que, finalmente, receberia a aprovação final. Lasseter ficaria tão satisfeito com o roteiro de Lee que a convidaria para ser co-diretora ao lado de Buck, o que faria com que ela se tornasse a primeira mulher a dirigir um Clássico Disney.

Frozen é ambientado no reino de Arendelle; as irmãs Anna (Kristen Bell) e Elsa (Idina Menzel) são suas princesas, filhas do Rei e da Rainha. Por algum motivo que ninguém explica, Elsa nasceu com o poder de criar e controlar neve e gelo, os quais usa para brincar com Anna; um dia, porém, ela quase mata Anna acidentalmente, e, após recorrer ao Rei dos Trolls (Ciarán Hinds, de Roma e Game of Thrones) para salvá-la, o Rei decide isolá-las, para evitar que Elsa machuque mais alguém. As irmãs crescem sem nenhum contato, com Elsa se tornando amargurada.

Um dia, o Rei e a Rainha morrem em uma viagem de navio, e Elsa, como filha mais velha, será coroada a nova Rainha de Arendelle. Durante a festa, Anna conhece o príncipe Hans (Santino Fontana), das Ilhas do Sul, e se apaixona. Anna diz a Elsa que ela e Hans vão se casar, e Elsa, contrária à união, se envolve em uma discussão com a irmã, durante a qual, acidentalmente, usa seus poderes. O Duque de Weselton (Alan Tudyk, de Firefly), que planeja transformar Arendelle em um polo turístico, declara que Elsa é um monstro, e conclama a população a persegui-la e prendê-la. Elsa foge para as montanhas, e Anna, querendo fazer as pazes com a irmã, vai atrás dela. Para encontrá-la, ela contará com a ajuda do geleiro Kristoff (Jonathan Groff, de Glee) e de sua fiel rena Sven, e, ao chegar ao castelo de Elsa, onde enfrentarão toda sorte de perigos, do animado boneco de neve Olaf (Josh Gad).

A decisão de mudar o nome do filme para Frozen seria de del Vecho, que achou que o título A Rainha da Neve já não cabia devido às alterações feitas; evidentemente, esse título foi muito comparado ao de Enrolados pela mídia norte-americana o que desagradou ao produtor, que sempre enfatizava em suas entrevistas que a mudança não representava um novo padrão nos títulos dos Clássicos Disney, e que um desenho não tinha nada a ver com o outro. Apesar de ter sido mantido em inglês na maior parte do mundo (incluindo no Brasil, onde ganhou um subtítulo para disfarçar), o título foi traduzido para o idioma local em alguns países, como Dinamarca, Noruega, Suécia; curiosamente, em alguns outros, como França, Alemanha e Japão, ele foi traduzido de A Rainha da Neve (La Reine des Neiges na França, por exemplo).

Kristen Bell, conhecida por ser a protagonista de Veronica Mars, mas também cantora de respeito, foi indicada para o papel de Anna por Lee, que, junto com os produtores, ouviu uma série de fitas que ela gravou na infância, interpretando canções de filmes da Disney como A Pequena Sereia e A Bela e a Fera. Já Idina Menzel, veterana da Broadway com papéis em Encantada e Glee, foi indicada para o papel de Elsa pelo diretor de elenco de Enrolados, Jamie Sparer Roberts; Menzel havia feito o teste para o papel de Rapunzel, e, apesar de não ter sido aprovada, impressionou Roberts, que gravou sua performance no celular, mostrando-a quando da indicação a Lasseter. Bell e Menzel armaram um plano infalível para ganhar seus papéis: antes do dia do teste, ambas foram convidadas para um jantar com Lasseter, Roberts, del Vecho, Buck, Lee, Lopez e Anderson-Lopez, durante o qual deveriam fazer uma leitura de parte do roteiro; após receber o convite, Bell telefonou para Menzel e combinou de ir até sua casa, estudar o roteiro e preparar uma surpresa - ao final da leitura, ambas cantaram, a capella (sem acompanhamento de uma banda), a canção Wind Beneath My Wings, escrita em 1982 por Jeff Silbar e Larry Henley. O dueto foi tão impressionante que Lasseter contratou as duas ali mesmo, sem necessidade de outros testes, argumentando que elas "cantaram como verdadeiras irmãs".

A direção de arte coube a Michael Giaimo, outro trazido de volta por Lasseter, que trabalhou em Pocahontas mas depois foi para a TV, onde trabalhou, dentre outras, na série Hi Hi Puffy AmiYumi. Giaimo e sua equipe viajaram para a Noruega para estudar as paisagens típicas de lá (vários locais reais, como a Fortaleza de Akershus, em Oslo, a Catedral de Nidaros, em Trondheim, e as docas de Bryggen, em Bergen, aparecem no desenho), enquanto a equipe responsável pelos efeitos especiais foi estudar o comportamento da neve no estado norte-americano do Wyoming, produzindo horas de filmagens nas quais corriam, pulavam e caíam na neve usando vários tipos de roupas diferentes, para tentar reproduzir os movimentos com exatidão na computação gráfica. Também como parte da preparação, uma rena de verdade foi levada para o estúdio, para a equipe estudar seus movimentos, e um professor do California Institute of Technology foi até a Disney dar uma palestra sobre como a neve e o gelo se formam, e por que cada floco de neve é único. Os engenheiros da Disney criariam um programa próprio, chamado Matterhorn especialmente para criar a neve, para que ela se comportasse exatamente da forma como acontece no mundo real.

Frozen seria lançado em 27 de novembro de 2013. Com orçamento de 150 milhões de dólares, renderia mais de 400 milhões apenas nos Estados Unidos, e mais de 1,2 bilhão de dólares em todo o planeta, se tornando o filme de animação mais bem sucedido de todos os tempos e o nono filme de maior bilheteria da história. Frozen seria o filme de maior bilheteria de 2013, desbancaria O Rei Leão (lançado quase vinte anos antes) como Clássico Disney de maior bilheteria, e se tornaria o mais bem sucedido filme, de animação ou não, produzido pela Disney em todos os tempos (sem contar com Star Wars: O Despertar da Força, produzido pela Lucasfilm, e Vingadores e Vingadores: Era de Ultron, produzidos pela Marvel Studios, ambas de propriedade da Disney, caso contrário, Frozen cai para quarto lugar). O filme também seria um sucesso de crítica, com todas sendo extremamente positivas e favoráveis, e alguns críticos chegando a preconizar que ele estava inaugurando uma segunda Renascença Disney. Frozen também seria indicado a dois Oscars, de Melhor Filme de Animação e de Melhor Canção Original (Let It Go), ganhando ambos.

Frozen foi tão bem sucedido que a Disney já planeja quebrar uma tradição e produzir um Frozen 2, que seria a primeira sequência de um Clássico Disney a ser também um Clássico Disney. Por enquanto, a data de estreia prevista é 2018, mas ainda não há detalhes sobre qual seria o enredo.

Operação Big Hero
Big Hero 6
2014


Em 2009, a Disney compraria a Marvel, em uma jogada que seria boa para ambas as partes: a Casa das Ideias vinha há anos lutando contra problemas financeiros, que quase a levaram à falência mais de uma vez, enquanto a Casa do Mickey vinha há anos tentando aumentar sua popularidade dentre os meninos - principalmente devido a suas Princesas, nos Estados Unidos a Disney é vista pela maior parte da população como produtora de entretenimento para meninas, com até mesmo os desenhos mais neutros, como Mickey e Donald, falhando em obter sucesso dentre os meninos. Comprar a dona de um grupo de super-heróis bem no momento em que seus filmes estavam batendo recordes de público, portanto, assegurava não somente a segurança financeira da Marvel, como também um enorme retorno e a construção de uma nova base de fãs para a Disney.

Após a aquisição, o presidente da Disney na época, Bob Iger, passaria a encorajar o uso de personagens Marvel por todas as divisões de entretenimento da Disney, para tentar criar uma ligação permanente entre os personagens de ambas as companhias. Em 2011, enquanto co-dirigia Winnie the Pooh, Don Hall estava pesquisando o banco de dados da Marvel, cogitando fazer uma adaptação de algum título da editora como seu próximo trabalho, quando encontrou uma revista chamada Big Hero 6, da qual nunca havia ouvido falar. Hall se interessou por essa revista principalmente por causa do título, que achou bem interessante para uma equipe de super-heróis, mas também se lembrou de algo que Iger havia dito: ao invés de focar em personagens como Homem-Aranha ou Capitão América, o ideal seria que as adaptações feitas pela Disney abordassem personagens menos conhecidos, pois isso daria às equipes maior liberdade para adequá-los a suas próprias ideias. Após finalizar Winnie the Pooh, Hall apresentou sua ideia a Lasseter, que a aprovou, e colocou o projeto em pré-produção.

Apesar de usar nomes e conceitos dos quadrinhos, a Disney planejava que sua versão de Big Hero 6 fosse a mais original possível, e, para isso, o chefe de história Paul Briggs leria apenas algumas edições da revista, para se familiarizar com os personagens, enquanto o roteirista, Robert L. Baird, não leria nenhuma. O desenho também seria produzido exclusivamente pela Disney, sem nenhum envolvimento da Marvel, exceto pela presença dos roteiristas de longa data Joe Quesada, na época editor da Marvel, e Jeph Loeb, na época responsável por seu braço televisivo, como consultores da equipe de produção. Também ficaria acertado desde o início que o desenho não seria ambientado no Universo Cinematográfico Marvel (onde são ambientados, por exemplo, os filmes dos Vingadores), e sim em seu próprio universo, totalmente independente.

A equipe de produção optaria por uma ambientação ao estilo Blade Runner, mesclando elementos ocidentais e orientais em um mesmo cenário; para isso, eles criariam a cidade de San Fransokyo, uma versão alternativa de San Francisco, na Califórnia, reconstruída após um gigantesco terremoto em 1906 por imigrantes japoneses, que a deixariam parecida com Tóquio. A escolha de San Francisco se daria principalmente por dois motivos: ela nunca havia sido usada pela Marvel em nenhum de seus filmes, e possuía elementos característicos suficientes - como os bondinhos e as casinhas coloridas conhecidas como painted ladies - para continuar sendo facilmente reconhecida mesmo após todas as modificações feitas na mistura com Tóquio. Tóqio, aliás, é onde a versão em quadrinhos de Big Hero 6 é ambientada, e mesclá-la com uma cidade norte-americana foi uma espécie de meio-termo encontrado pela produção para não modificar demais o material original.

Como de costume, a Disney criaria novos softwares especialmente para o desenho, dois deles apenas para dar mais vida a San Fransokyo: o chamado Denizen ("habitante") criaria 700 personagens genéricos, mas que se comportavam de forma totalmente independente uns dos outros, para povoar a cidade sem que os animadores precisassem construí-los um a um ou criar apenas alguns poucos e repeti-los, dando uma sensação maior de diversidade e realismo; enquanto o chamado Bonsai criaria mais de 250.000 árvores, mais uma vez com cada uma delas se comportando de forma independente, sem que todas precisassem ser feitas do zero. O principal programa criado para o desenho, porém, se chamava Hyperion, e seria usado para renderizá-lo (em uma explicação bem simplificada, fazê-lo ficar com cara de desenho ao invés de com cara de uma coisa qualquer feita no computador); o Hyperion era mais avançado que o principal programa de renderização da época, o RenderMan da Pixar, e oferecia novas possibilidades de uso de luz e sombras, como uma iluminação mais realística de objetos translúcidos, como o robô Baymax.

Baymax, aliás, seria o xodó da produção: nos quadrinhos, ele é um robô super avançado construído pelo adolescente-prodígio Hiro, programado para lutar diversas artes marciais, capaz de assumir várias formas intimidadoras, a principal delas a de um dragão humanoide, e que tem a mente do pai de Hiro; no desenho, ele é um robô superfofo inflável feito de vinil, criado pelo irmão de Hiro, Tadashi, para ajudar médicos e enfermeiras no trato diário com seus pacientes, e adaptado por Hiro, através de uma armadura de combate, para auxiliar a equipe em suas missões. Essa mudança radical partiria do próprio Hall, que queria que Baymax fosse "um robô jamais visto antes", e da artista Lisa Keene, que sugeriu que, diferentemente do robô dos quadrinhos, o Baymax do filme fosse algo que as pessoas sentissem vontade de abraçar. A opção por fazê-lo um robô inflável de vinil associado à área da saúde veio quando Hall e sua equipe visitaram o Instituto de Robótica da Universidade de Carnegie Mellon, na Pensilvânia, para tentar obter algumas ideias de como Baymax poderia ser; lá, eles foram apresentados a um projeto de um braço robótico projetado para auxiliar médicos durante cirurgias, envolto em uma camada de vinil inflado para evitar lesões caso ele se chocasse acidentalmente contra os profissionais envolvidos na cirurgia ou contra o próprio paciente.

Nos quadrinhos, a equipe Big Hero 6 foi criada em 1998 pelo roteirista Steven T. Seagle e pelo artista Duncan Rouleau, à época à frente da revista da Tropa Alfa, para estrear como coadjuvante em Alpha Flight 17. A Marvel gostaria tanto da equipe que encomendaria uma minissérie em três partes, chamada Sunfire & Big Hero 6, escrita por Scott Lobdell e desenhada por Gus Vasquez. Curiosamente, devido a um problema de cronograma, a minissérie seria lançada antes da revista que seria a estreia da equipe - com a Sunfire & Big Hero 6 1 sendo lançada em setembro de 1998, enquanto a Alpha Flight 17 só seria lançada em dezembro. A equipe faria algumas participações esporádicas em outras revistas da Marvel, principalmente do Homem-Aranha e dos X-Men, até 2008, quando protagonizaria uma segunda minissérie, dessa vez em cinco edições e chamada apenas Big Hero 6, com roteiro de Chris Claremont e arte de David Nakayama; desde então, ficaria sumida.

Nos quadrinhos, a equipe é formada pelo governo japonês, que decide criar uma equipe de super-heróis subordinada a ele, que atuaria em missões sancionadas de defesa da pátria. O líder da equipe é Kenuichio Harada, conhecido como Samurai de Prata, antigo e famoso vilão da Marvel criado em 1974 por Steve Gerber e Bob Brown, mas que, no final da década de 1990, havia se tornado um herói. Junto com o Samurai de Prata, o governo seleciona a agente secreta Aiko Miyazaki, codinome Honey Lemon, criadora da Power Purse, bolsa que, usando nanotecnologia, pode carregar muito mais objetos do que caberiam normalmente em seu interior, e Leiko Tanaka, codinome GoGo Tomago, criminosa com o poder de transformar seu corpo em uma bola explosiva de energia, que teve sua pena anulada em troca de servir na equipe. O adolescente Hiro Takachiho, prodígio da ciência e criador do robô Baymax, também é selecionado, mas recusa o convite, decidindo se envolver apenas depois que sua mãe é sequestrada pelo vilão Everwraith, uma entidade criada pela energia de todos os mortos no bombardeio de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a luta contra Everwraith, a equipe recebe a ajuda de Shiro Yoshida, o mutante Solaris, ex-membro dos X-Men com o poder de voar, disparar chamas solares, imune à radiação e capaz de enxergar infravermelho, instrumental para a derrota do vilão.

Juntos, os seis seriam a primeira formação da equipe Big Hero 6, que, nos anos seguintes, deixaria de contar com Solaris e o Samurai de Prata (sendo que, após sua saída, Hiro passa a ser o líder da equipe), substituídos, respectivamente, por Leyu Yoshida, codinome Chama Solar, irmã de Solaris com os mesmos poderes, e pelo Samurai de Ébano, na verdade Kiochi Keishicho, policial de Tóquio assassinado pelo Samurai de Prata quando este ainda era um vilão, e que fez um pacto com Amatsu-Mikaboshi, deus do mal japonês, que permitiu que ele voltasse à vida preso dentro de uma versão negra da armadura do Samurai de Prata e portando uma katana demoníaca, com a missão de matá-lo, mas que, após ser salvo por ele, muda de ideia. Na minissérie de 2008, Chama Solar e o Samurai de Ébano são substituídos por Wasabi-no-Ginger, chefe de cozinha japonês de nome verdadeiro desconhecido com o poder de criar lâminas de energia com o pensamento e que usa várias facas diferentes como armas, e por Fred, adolescente norte-americano de sobrenome desconhecido, que tem o poder de se transformar em um lagarto gigante parecido com o Godzilla.

No desenho, evidentemente, a história da equipe é bastante diferente, embora seus nomes de guerra e algumas características de seus poderes tenham sido mantidas. O protagonista é Hiro Hamada (Ryan Potter), menino de 14 anos gênio da ciência, cujo maior sonho é trabalhar ao lado de seu irmão mais velho, Tadashi (Daniel Henney), no Instituto de Tecnologia de San Fransokyo, presidido pelo mundialmente famoso cientista Professor Robert Callaghan (James Cromwell). A maior invenção de Hiro são os microbôs, pequeninos robôs capazes de se combinar para criar qualquer estrutura, controlados através de uma tiara que os transmite ordens mentais do usuário; Hiro mostra os microbôs para o Professor Callaghan, que fica maravilhado e o convida para trabalhar no Instituto, mas sua alegria dura pouco: após a apresentação de Hiro, um misterioso incêndio destrói o local, vitimando Tadashi e o cientista. Deprimido, Hiro encontra consolo em Baymax (Scott Adsit), robô criado por Tadashi, que passa a ser seu melhor amigo.

Acidentalmente, Hiro e Baymax descobrem que os microbôs estão sendo produzidos em massa, e, investigando o caso, são atacados por um misterioso homem mascarado. O principal suspeito é Alistair Krei (Alan Tudyk, a essa altura já um dublador Disney recorrente de primeiro time), presidente da Krei Tech, e que está sempre mais interessado no lucro que a tecnologia pode lhe oferecer do que na diferença que ela pode fazer na vida das pessoas. Hiro e Baymax não podem enfrentar Krei e os microbôs sozinhos, porém, e ele decide recorrer aos amigos de Tadashi no Instituto, que, usando seus apelidos como codinomes e suas principais habilidades como "superpoderes", formam a equipe Big Hero 6. Além de Hiro e de Baymax, devidamente equipado com uma armadura de batalha, a equipe é formada por Honey Lemon (Génesis Rodriguez), prodígio da química armada com diversas esferas, cada uma contendo um composto químico ativado por sua quebra, de gás sonífero a adesivo instantâneo; Wasabi (Damon Wayans, Jr.), aficcionado por lasers, que usa uma armadura projetada por Hiro capaz de criar duas lâminas laser que saem de seus punhos; GoGo (Jamie Chung), viciada em adrenalina e especialista em eletromagnética, usando pequenos discos magnéticos sob os pés para deslizar como se usando patins e que podem ser arremessados como arma; e Fred (T.J. Miller), nerd, cosplayer, milionário e financiador da equipe, que usa uma fantasia de monstro capaz de dar supersaltos e cuspir fogo.

Operação Big Hero estreou em Tóquio, em 23 de outubro de 2014, e foi um grande sucesso: com orçamento de 165 milhões de dólares, rendeu 222 milhões nos Estados Unidos, e mais de 650 milhões no mundo inteiro, se tornando o filme mais bem sucedido de 2014 e o terceiro Clássico Disney mais bem sucedido, atrás de Frozen e O Rei Leão. Todas as críticas que recebeu foram extremamente positivas, principalmente em relação à aparência e personalidade de Baymax, e às relações interpessoais entre os personagens. Operação Big Hero também ganharia o Oscar de Melhor Filme de Animação, na primeira vez em que dois Clássicos Disney seguidos levariam o prêmio.

Uma sequência de Operação Big Hero está nos planos da Disney, mas ainda sem data prevista para o início da produção; o que já está em estágio avançado de produção é uma série, que estreará no canal Disney XD em janeiro de 2017. Contando com o mesmo elenco de dubladores do filme, a série mostra o dia a dia de Hiro e seus amigos enquanto estudam no Instituto, devendo lidar eventualmente com vilões que usam a ciência para cometer crimes. Diferentemente do Clássico, entretanto, a série de Operação Big Hero é feita em animação tradicional, e não em computação gráfica.

Zootopia
2016

Em 2011, Byron Howard, co-diretor de Bolt - Supercão e de Enrolados, procuraria Lasseter, e revelaria ter vontade de criar um filme ao estilo do Robin Hood da Disney, no qual todos os personagens são animais antropomórficos. Evidentemente, a Disney já havia feito dezenas de filmes com animais antropomórficos, mas, segundo Howard, Robin Hood tinha uma diferença em relação aos demais: era o único no qual o mundo parecia ter sido construído pelos animais, diferentemente de simplesmente colocar animais com características humanas vivendo em um mundo construído por humanos - como ocorre, por exemplo, em O Galinho Chicken Little. O plano de Howard era fazer um filme ambientado em nossa época atual, mas como se os animais tivessem sido a espécie inteligente dominante desde sempre, com elementos como cidades e veículos sendo adequados à sua fisiologia, e não à nossa. Lasseter gostou tanto da ideia que, segundo ele mesmo, ergueu Howard no ar como se ele fosse o pequeno Simba.

Originalmente, o projeto de Howard seria um filme de espionagem, ao estilo James Bond, protagonizado por um coelho chamado Jack Savage. Durante as reuniões da equipe criativa, porém, chegou-se à conclusão que o filme seria melhor se fosse ao estilo bud cop, os famosos filmes norte-americanos nos quais uma dupla de policiais, com características antagônicas um do outro, tem de aprender a conviver com suas diferenças enquanto soluciona algum crime complexo. O personagem principal, então, talvez por influência de Robin Hood, passaria a ser uma raposa (ou melhor, "um raposo", já que era macho), e o coelho (ou melhor, a coelha, já que decidiram que ela seria fêmea) passaria a ser sua parceira - afinal, poucas duplas são mais antagônicas na natureza que uma raposa e um coelho.

O desenho entraria em produção com essas características, mas, em novembro de 2014, sofreria mais uma mudança importantíssima: a reversão de papéis. Por alguma razão, o filme "não estava funcionando", pois, aos olhos de Howard, a raposa, devido à sua personalidade, não era um protagonista adequado para apresentar a cidade e o mistério aos espectadores, que poderiam não ser cativados pela dupla nesse caso. A solução adotada pelo diretor foi, aparentemente, a mais simples possível: a coelha passaria a ser a protagonista, e a raposa seria "rebaixada" a sua parceira. "Aparentemente" a mais simples porque uma mudança dessas significaria ter que refazer quase todo o filme a menos de um ano da data de estreia prevista - que teve de ser adiada. Mas valeu a pena.

Previsto para estrear no final de 2015, Zootopia (lançado, no Reino Unido, onde esse nome já era registrado, como Zootropolis, nome que acabaria adotado por tabela na maioria dos países da Europa, Oriente Médio e África, incluindo Portugal) acabaria estreando apenas em março de 2016, para fazer um sucesso gigantesco: com orçamento de 150 milhões de dólares, renderia mais de 340 milhões apenas nos Estados Unidos, e mais de um bilhão no mundo inteiro, se tornando o segundo Clássico Disney mais rentável de todos os tempos, atrás apenas de Frozen; até agora, ele é também o segundo filme mais bem sucedido de 2016, atrás apenas de Capitão América: Guerra Civil. A crítica também foi extremamente positiva, e, desde já, Zootopia é o favorito ao Oscar de Melhor Filme de Animação no ano que vem.

Zootopia é o nome da cidade onde o filme é ambientado. Recém-chegada a ela, vinda de uma pequena cidade do interior, a jovem Judy Hopps (Ginnifer Goodwin, a Branca de Neve de Once Upon a Time) realiza seu sonho de se tornar a primeira coelha a integrar a Força Policial de Zootopia. Para sua decepção, porém, o chefe de polícia, Bogo (Idris Elba, de Círculo de Fogo), não acredita em seu potencial, e a coloca como guarda de trânsito. Em seu primeiro dia de trabalho, ela conhece o trambiqueiro Nick Wilde (Jason Bateman, de Arrested Development), raposa que vive de pequenos golpes.

Ao ver a doninha Duke Weaselton (Alan Tudyk, de novo) cometendo um crime, Judy deixa seu posto para prendê-lo, mas o Chefe Bogo decide puni-la por insubordinação. Bem na hora em que Judy vai receber sua sentença, o Prefeito de Zootopia, o leão Leodore Lionheart (J.K. Simmons, o J. Jonah Jameson de Homem-Aranha), exige que o desaparecimento misterioso de vários habitantes da cidade seja investigado. Bogo acha que o caso não tem solução, e para punir Judy, dá a ela dois dias para solucioná-lo, ou ela será demitida. Como não conhece a cidade direito, ela acaba recorrendo à ajuda de Nick, que, relutantemente - e após uma certa chantagem - passa a ser seu parceiro na investigação.

Para que o filme fosse o mais realístico possível, a equipe de produção visitou um santuário animal no Quênia, fez repetidas visitas ao zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, e praticamente morou dentro do Animal Kingdom, parque temático da Disney na Flórida, tudo para observar o comportamento dos animais e tomar notas sobre sua aparência e coloração. Os animadores chegaram a estudar peles e pelos de vários tipos de animais sob microscópio e com diferentes tipos de iluminação, para que a pelagem dos personagens fosse a mais real possível quando reproduzida em computação gráfica. Já para criar uma cidade que abrigasse com sucesso animais de tamanhos e formatos diferentes, foram consultados especialistas em mobilidade urbana, acostumados a fazer projetos de acessibilidade para deficientes. Ao contrário de Robin Hood, que tem crocodilos e cobras, a equipe de produção de Zootopia optaria por povoar a cidade apenas com mamíferos, ou correria o risco de a complexidade alcançar um patamar que impossibilitaria um resultado satisfatório - ainda assim, mais de 800 formas de mamíferos diferentes seriam criadas pelo Denizen para povoar a cidade de Zootopia.

Além de usar o Denizen, o Bonsai e o Hyperion, de Operação Big Hero, a equipe de Zootopia recorreria ao Nitro, criado para Detona Ralph para deixar os personagens com aspecto de videogame, mas aqui usado para controlar a forma como o pelo dos animais se comportava - até então, toda vez que se desejava um animal peludo realístico, como em Bolt, a única opção era programar os movimentos do pelo a cada cena, mas o Nitro podia fazer isso de forma automática. Todo o tempo no qual a equipe passou estudando animais na natureza e pelos no microscópio foi usado para criar o programa iGroom, que tinha como única função controlar a consistência, iluminação e formato dos pelos dos animais do filme - e que foi o principal responsável pelo realismo do pelo arrepiado de Benjamin Clawhauser (Nate Torrence), um guepardo obeso que trabalha como despachante na delegacia.

Para terminar, vale citar que Zootopia conta com a participação de Shakira no papel da gazela Gazelle, pop star do mundo animal, responsável por um dos melhores momentos do filme - e que, além de na versão original, Shakira também dubla a personagem na versão em espanhol do desenho.

Série Clássicos Disney

•Frozen
•Operação Big Hero
•Zootopia

0 Comentários:

Postar um comentário