domingo, 14 de maio de 2023

Escrito por em 14.5.23 com 0 comentários

Janelle Monáe

Eu conheci Janelle Monáe pelos filmes. Até sabia que ela era cantora, mas só conhecia uma música, e só me interessei em ouvir mais depois que a vi em Glass Onion. Essa semana eu estava pensando sobre isso e me deu vontade de falar sobre ela, então hoje é dia de Janelle Monáe no átomo!


Janelle Monáe Robinson nasceu em 1 de dezembro de 1985 nos Estados Unidos, mais especificamente em Kansas City, no Kansas - que não é a mesma Kansas City do time de futebol americano Kansas City Chiefs, que fica no Missouri. Seu pai era um caminhoneiro, e sua mãe era camareira de um hotel; eles se separariam quando Monáe ainda era um bebê, e sua mãe se casaria de novo com um carteiro, tendo uma segunda filha com ele.

A família da mãe de de Monáe pertencia à religião Batista, e a menina aprenderia a cantar na igreja, que frequentava todos os domingos. Desde criança ela desejaria se tornar uma cantora profissional, o que motivaria sua mãe a inscrevê-la no curso de artes dramáticas do Coterie Theater. Aos 12 anos, como parte de uma tarefa do curso, ela escreveria seu primeiro musical, baseado no álbum Journey Through "The Secret Life of Plants", de Stevie Wonder. Aos 13, ela compraria com seu próprio dinheiro, que havia ganhado com apresentações de canto, o álbum The Miseducation of Lauryn Hill, e estudaria suas músicas para apresentá-las no show de talentos do feriado do Juneteenth, celebrado em 19 de junho em homenagem à libertação dos escravos nos Estados Unidos, no qual ganharia o prêmio principal três anos seguidos.

Após terminar o Ensino Médio, Monáe ganharia uma bolsa para estudar na American Musical and Dramatic Academy, em Nova Iorque, sendo a única mulher negra matriculada em seu curso. Apesar de gostar da experiência, ela ficaria com medo de perder sua individualidade, já que todos os seus colegas cantavam como se houvesse um padrão a seguir, e, após um ano e meio, abandonaria o curso e se mudaria para Atlanta, se matriculando no curso de música do Perimeter College, na Universidade do Estado da Geórgia. Enquanto estudava, ela escrevia suas próprias canções e se apresentaria para seus colegas no campus durante os intervalos, e trabalharia como vendedora numa loja da Home Depot. Em 2003, ela conseguiria juntar dinheiro suficiente para pagar do próprio bolso a gravação de um álbum, que ela chamaria de The Audition, e venderia no estacionamento da Home Depot, guardando-os na mala de seu carro. Monáe acabaria ficando bastante famosa em Atlanta, e seria demitida após usar um computador do trabalho para responder um e-mail de um fã.

As músicas de Monáe chamariam a atenção do rapper Big Boi, que arrumaria para ela ser backing vocal nos álbuns Got Purp? Vol. 2 do Purple Ribbon All-Stars, de 2005, e Idlewild, do Outkast, de 2006. Nesse mesmo ano, Big Boi mostraria uma apresentação de Monáe ao rapper Sean Combs (também conhecido como Puffy Daddy ou P. Diddy), que ficaria extremamente encantado com sua voz, a forma como ela dançava e seu estilo de se vestir. Combs negociaria para Monáe um contrato com a gravadora Bad Boy Records, que ela assinaria ainda em 2006; na época, Monáe já tinha centenas de músicas compostas, de forma que Combs e Big Boi fizeram um plano para que a gravadora ajudasse Monáe a ficar conhecida aos poucos, ao invés de lançar um hit qualquer que a fizesse estourar da noite para o dia com risco de desaparecer rapidamente por não estar dentro do que era considerado moda na cena da música negra da época.

Dentro desse plano, Monáe decidiria pegar várias das músicas que já tinha prontas, acrescentar algumas novas, e criar um álbum conceitual, chamado Metropolis, inspirado no filme homônimo de 1927 dirigido por Fritz Lang. No álbum, ela interpretaria a androide Cindi Mayweather, no ano de 2179, que se apaixona por um humano e é condenada a ser desmontada, com as canções contando essa história em pequenas partes. Pelo projeto original, Metropolis seria composto de quatro partes, chamadas suites, e, para ouvir a história completa, além de comprar o álbum, os fãs teriam de baixar mp3 gratuitas no website de Monáe e faixas avulsas nos principais serviços de venda de música da época. Esses planos acabariam alterados pela Big Boy, entretanto, e o lançamento de estreia de Monáe acabaria sendo um EP (ou seja, teria menos faixas que um LP, um "álbum completo"), chamado Metropolis: Suite I (The Chase), lançado em 24 de agosto de 2007. Originalmente, o EP contaria com apenas 5 faixas, mas, um ano depois, em 2008, a Bad Boy lançaria uma edição especial, chamada Metropolis: The Chase Suite (Special Edition), com uma nova capa e duas novas faixas.

Metropolis teria três músicas de trabalho, Violet Stars Happy Hunting!!!, Sincerely, Jane e Many Moons (que renderia a Monáe uma indicação ao Grammy de Melhor Performance Alternativa ou Urbana), e seria aclamado pela crítica, que elogiaria a voz, o som e a postura de Monáe, embora achasse as referências a androides, futurismo e ficção científica confusas. O público, infelizmente, não acompanharia a crítica, e o EP teria vendas moderadas, chegando à posição 115 do Top 200 da Billboard, mas ficando lá por apenas uma semana, e não obtendo certificação. A Bad Boy ainda arrumaria uma pequena turnê, chamada The Metropolis Tour, para ver se alavancava as vendas, e, em 2009, Monáe sairia em turnê abrindo shows para o No Doubt. Também em 2009, Monáe participaria de um episódio da série Stargate Universe, como ela mesma e interpretando Many Moons.

No ano seguinte, 2010, ela sairia em duas novas turnês abrindo para outros artistas, primeiro para Erykah Badu, depois para o Maroon 5. Também em 2010, a Bad Boy decidiria relançar The Audition em formato digital, com o nome de Metropolis: Point Zero; esse álbum jamais seria relançado em mídia física, e estima-se que hoje ainda existam menos de 500 cópias.

Após ver que a Bad Boy não permitiria que ela seguisse seu planejamento original, Monáe decidiria combinar a segunda e a terceira suites em um único álbum, para que ela pudesse finalmente lançar seu primeiro LP por uma gravadora. Com o nome de The ArchAndroid, o álbum seria lançado em 18 de maio de 2010, numa parceria entre a Bad Boy e o selo próprio de Monáe, Wondaland (que ela criaria para lançar The Audition) e seguiria a história de Cindi Mayweather, que, após sobreviver à desmontagem, se torna uma figura messiânica para os androides de Metrópolis, que usam seu exemplo para se rebelar contra seus escravizadores humanos. Monáe planejaria gravar um videoclipe para cada faixa, que, todos reunidos, formariam um longa-metragem, além de lançar uma graphic novel com a história completa de Cindi Mayweather até então, e começaria a escrever um musical da Broadway baseado no álbum; novamente, porém, essas ideias ficariam só no papel.

The ArchAndroid seria mais uma vez aclamado pela crítica, que o compararia a álbuns de David Bowie, Prince e Michael Jackson, e o consideraria uma importante obra do afrofuturismo. O álbum seria indicado ao Grammy de Melhor Álbum de R&B Contemporâneo (com Monáe se apresentando na cerimônia e sendo aplaudida de pé, embora tenha perdido o prêmio para Usher), renderia a Monáe um Vanguard Award, prêmio concedido pela Sociedade Norte-Americana de Compositores, Autores e Editores, e seria considerado um dos melhores de 2010 por todas as publicações especializadas em música, sendo o primeiro da lista, o melhor de todos, na maioria delas. As vendas seriam um pouco melhores, com o álbum chegando à posição 17 do Top 100 da Billboard, mas de novo o álbum falharia em conseguir certificação. The ArchAndroid também traria o primeiro hit da carreira de Monáe, Tightrope; além dessa, ele só teria mais uma música de trabalho, Cold War. Após o lançamento do álbum, Monáe sairia mais uma vez em uma curta turnê para promovê-lo.

Em 2011, Nate Ruess, vocalista da banda fun., convidaria Monáe para ser uma "vocalista convidada" no single We Are Young, lançado pela fun. em setembro daquele ano. A música chegaria ao topo da parada da Billboard - além do das paradas de sucessos de outros nove países - e o single venderia mais de dez milhões de cópias mundialmente, rendendo um Disco de Diamante nos Estados Unidos, além de render três indicações ao Grammy, de Mehor Performance Pop por uma Dupla ou Grupo, Gravação do Ano e Música do Ano - ganhando esse último, que seria o primeiro e único Grammy da carreira de Monáe. Após o lançamento do single, Monáe sairia em turnê com o fun., em uma das quatro turnês conjuntas que faria em 2011 - nas outras três, ela abriria para Bruno Mars, Katy Perry e se apresentaria ao lado de Amy Winehouse e Mayer Hawthorne. No final de 2011, Monáe se apresentaria na cerimônia do Prêmio Nobel, cantando Tightrope, Cold War e um cover de I Want You Back, do Jackson 5.

Monáe começaria 2012 em turnê, abrindo para o Red Hot Chilli Peppers, então se apresentaria no Toronto Jazz Festival, no Canadá, no qual revelaria duas músicas de seu álbum seguinte, e seria convidada de dois festivais de jazz na Europa, o North Sea Jazz Festival, na Holanda, e o Montreux Jazz Festival, na Suíça. Embora suas músicas ainda não fossem grandes sucessos de massa, a crítica já estava completamente rendida, e Monáe começaria a se tornar uma celebridade, sendo escolhida porta-voz da linha de cosméticos CoverGirl, garota-propaganda da indústria de aparelhos de som Sonos, e se apresentando em um concerto em homenagem ao Presidente Barack Obama durante a convenção do Partido Democrata de 2012, em Charlotte, Carolina do Norte. Também em 2012, Monáe participaria da canção Do My Thing, da cantora Estelle.

O segundo álbum de Monáe se chamaria The Electric Lady, e seria lançado pela Bad Boy, em parceria com a Wondaland e a Atlantic Records, para um maior alcance nacional e internacional, em 6 de setembro de 2013. A essa altura, Monáe decidiria que Metropolis teria não quatro, mas sete suites, e que The Electric Lady corresponderia às suites quatro e cinco. Dessa vez, Cindi Mayweather faz uma viagem no tempo para voltar ao passado e libertar os cidadãos de Metrópolis do jugo da Grande Divisão, uma sociedade secreta que marginalizou o amor. O álbum é "menos temático" que o anterior, entretanto, com as músicas tendo sido consideradas mais comerciais, e contando com a participação de Erykah Badu (na faixa Q.U.E.E.N.), Prince (Givin' Em What They Love), Solange (Electric Lady), Miguel (Prime Time) e Esperanza Spalding (Dorothy Dandridge Eyes).

Suas músicas de trabalho seriam Q.U.E.E.N. - que Monáe diria ter composto após conversar com Badu sobre a opressão das minorias nos Estados Unidos, e faz referências ao preconceito contra a comunidade negra, imigrante e LGBTQIA+ - Dance Apocalyptic, Prime Time e Electric Lady. Mais uma vez, o álbum seria aclamado pela crítica, com todos os avaliadores dando notas próximas à máxima, embora não tenha sido indicado a nenhum Grammy. The Electric Lady estrearia na quinta posição da Billboard, caindo para a 33 na semana seguinte e então para a 47, se mantendo dentro do Top 50 por 3 semanas, mas mais uma vez não venderia o suficiente para conseguir certificação. O álbum, seguindo a tradição, seria acompanhado de uma curta turnê de lançamento, que Monáe emendaria em outra, conjunta com a artista neozelandesa Kimbra.

Ainda em 2013, Monáe se apresentaria ao lado de Chic em Londres, em um festival no Central Park cantando junto com um de seus ídolos, Stevie Wonder, e participaria da canção Visions of You, de Sérgio Mendes, além de ser convidada para apresentar o Saturday Night Live ao lado do ator Edward Norton. No ano seguinte, ela faria sua estreia no cinema, dublando a veterinária Dra. Monáe na animação Rio 2, contribuindo também para a trilha sonora do filme com a canção What Is Love. Também em 2014, Monáe seria uma das convidadas, ao lado de Aretha Franklin, Melissa Etheridge e outras, para um concerto na Casa Branca transmitido pela PBS, o canal de TV público dos Estados Unidos, com o nome de Women of Soul, em homenagem a mulheres artistas que "deixaram uma marca profunda e indelével na cultura norte-americana"; Monáe cantaria Tightrope e dois covers, Golfinger (de Shirley Bassey, tema do filme homônimo do 007, de 1964), e Proud Mary (de Tina Turner).

Em 2015, Monáe assinaria um acordo com a Epic Records para apoiar outros artistas da Wondaland, que, desde 2013, vinha contratando também jovens talentos da música negra. Para celebrar esse acordo, seria lançado mais um EP, chamado The Eephus, que contava com seis faixas; Monáe participa de uma delas, Yoga, um dueto com Jidenna, único artista a ter duas faixas solo no EP, com as demais sendo cantadas pelas duplas St. Beuty e Deep Cotton e por Roman GianArthur. O EP seria bem recebido pela crítica, e alcançaria a posição 22 na parada da Billboard.

Ainda em 2015, Monáe participaria de músicas de Chic e do Duran Duran, e chamaria os artistas da Wondaland para gravar o single Hell You Talmbout, em protesto contra as vítimas negras da violência policial, fazendo um discurso emocionado sobre o tema no programa Today Show, da NBC. Em 2016, ela seria convidada pela Primeira-Dama Michelle Obama para gravar, junto com Kelly Clarkson, Zendaya e Missy Elliott, a música This Is for My Girls, cuja renda seria revertida para a ONG Let Girls Learn, que escolarizava meninas em países em desenvolvimento. 2016 também seria o ano da estreia oficial de Monáe como atriz, com suas participações em Moonlight: Sob a Luz do Luar, no qual ela interpretaria Teresa, namorada do narcotraficante Juan (Mahershala Ali), e Estrelas Além do Tempo, no qual ela interpretava Mary Jackson, uma das três matemáticas responsáveis pelos cálculos que levariam os primeiros voos tripulados da NASA ao espaço. Ambos os filmes seriam grandes sucessos de crítica, com Moonlight ganhando os Oscars de Melhor Filme (para o qual Estrelas Além do Tempo também foi indicado), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Ali), e as atuações de Monáe sendo bastante elogiadas.

Monáe também teria duas músicas na trilha sonora de Estrelas Além do Tempo, Isn't This the World e Jalapeño. Também em 2016, ela colocaria uma música, Hum Along and Dance, na trilha sonora da série Get Down, da Netflix, e participaria da música Venus Fly, da cantora Grimes. Em 2017, ela participaria de um episódio da série britânica de ficção científica Electric Dreams, baseada nas obras de Philip K. Dick.

O terceiro álbum de Monáe, Dirty Computer, seria lançado em 27 de abril de 2018, mais uma vez em uma parceria entre a Bad Boy, a Wondaland e a Atlantic; surpreendentemente, ele não seria parte da Saga Metrópolis, contando com canções independentes, mas ainda tendo temas futuristas. O album seria novamente aclamado pela crítica, com todas as publicações especializadas o considerando um dos melhores do ano, e três delas o considerando o melhor de todos. Suas músicas de trabalho seriam Make Me Feel, Django Jane, Pynk e I Like That; o álbum estrearia na sexta posição da Billboard, mas mais uma vez não conseguiria certificação. Dirty Computer seria indicado ao Grammy de Álbum do Ano, e Pynk seria indicada ao de Melhor Vídeo Musical; Monáe se apresentaria na cerimônia, cantando Pynk, Make Me Feel e Django Jane.

Junto com o lançamento de Dirty Computer, Monáe lançaria um curta-metragem inspirado na história do álbum, que seria indicado ao Hugo Award, o mais importante prêmio da ficção científica; e um média-metragem de 49 minutos, que seria exibido em cinemas selecionados e lançado em DVD e Blu-ray, ambos também chamados Dirty Computer. Dirigido por Andrew Donoho e Chuck Lightning, e contando com números musicais de cinco das faixas do álbum, o média-metragem traz Monáe como a androide Jane 57821, que tenta escapar de uma sociedade totalitária e homofóbica, contando também no elenco com Tessa Thompson, Jayson Aaron e Michele Hart. Após o lançamento do álbum e dos filmes, como de costume, Monáe sairia em uma curta turnê de promoção. Ela emendaria essa turnê com o Coachella de 2019, no qual dividiria o palco com Childish Gambino.

Ainda em 2018, ela estaria em Welcome to Marwen, de Robert Zemeckis, interpretando uma assistente social que faz amizade com o protagonista (Steve Carrell) enquanto ele está internado em uma clínica de reabilitação. Em 2019, ela faria dois trabalhos de dublagem, o da boneca Mandy, que sofre para ser popular, na animação Ugly Dolls, e o da cachorrinha Peg, na versão com atores de A Dama e o Vagabundo, e estaria em Harriet, filme sobre a vida da abolicionista Harriet Trubman, como a dona de uma pensão. Já em 2020, ela estaria em The Glorias, versão ficcional da vida da escritora Gloria Steinem, como uma ativista dos direitos das mulheres negras; estaria na segunda temporada da série Homecoming como uma mulher com amnésia; e seria a protagonista de A Escolhida, filme fantástico que se passa simultaneamente na época atual e na da escravidão.

Também em 2020, ela se apresentaria na cerimônia do Oscar, cantando ao lado de Billy Porter um pout porri sobre vários filmes lançados naquele ano. Em 2021, ela cantaria várias músicas na série animada We The People, da Netflix, e, em 2022, dublaria uma personagem em um episódio da série animada adulta Human Resources. Também em 2022, ela teria uma atuação aclamada pela crítica em Glass Onion, continuação do grande sucesso Entre Facas e Segredos, ambos protagonizados pelo detetive Benoit Blanc de Daniel Craig, e lançaria seu primeiro livro, The Memory Librarian and Other Stories of Dirty Computer, um romance de ficção científica baseado na história de Jane 57821.

As últimas aparições de Monáe foram como convidada nos programas RuPaul's Drag Race e RuPaul's Drag Race: Untucked. Seu próximo álbum, The Age of Pleasure, mais uma vez sem relação com a Saga Metrópolis, está com lançamento previsto para o próximo mês; duas músicas de trabalho já foram lançadas: Float e Lipstick Lover.

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