domingo, 13 de junho de 2021

Escrito por em 13.6.21 com 0 comentários

Tiger

Como eu falei semana passada, faz um tempo já que eu assisto filmes indianos frequentemente, e não me canso de me surpreender com como eles são variados. Engana-se quem pensa que cinema indiano é feito só de filmes de romance com dancinhas; tem filmes de drama, comédia, épicos históricos (ambientados na época em que a Índia ainda não era colônia da Grã-Bretanha, ou no início da colonização), policiais, espionagem, ação, e até de terror - só ainda não assisti nenhum de ficção científica espacial, mas com certeza deve existir. Nenhum deles deixa nada a dever às produções com as quais estamos acostumados, com a maioria (não todos, porque isso é até estatisticamente improvável, mas a maioria) tendo bons roteiros, boas atuações, e, quando necessário, bons efeitos especiais - vale citar como curiosidade que uma lei indiana proíbe o uso de animais selvagens de verdade em filmagens, então, acreditem ou não, toda vez que aparece um tigre, elefante, falcão, ou até mesmo um peixe, ele é feito de computação gráfica, e os tigres, por exemplo, são tão absurdamente bem feitos que a gente até se esquece disso. Falando em tigres, o tema do post de hoje são dois filmes de ação que eu achei sensacionais, especialmente o segundo - que eu assisti primeiro, e, porque estava estranhando que os personagens já se conheciam, resolvi pesquisar e descobri que existia um anterior, que felizmente também tinha no catálogo do Prime Video. Hoje é dia da série Tiger no átomo!

Ah, sim, infelizmente eu vou ter que dar um spoiler quando eu falar dos filmes, porque é impossível fazer de outra forma. É um spoiler bem pequenininho e que não interfere em nada na experiência de assistir (se não me engano, no Prime Video está até na sinopse do filme), mas, se você é do tipo de pessoa que não gosta de nenhum spoiler, fique avisado.


Tiger é o codinome de Avinash Singh Rathore, agente da RAW, o equivalente indiano da CIA, que faria sua estreia no filme Ek Tha Tiger (algo como "era uma vez um tigre"). Após retornar de uma missão no Iraque, onde teve de executar um colega que desertou para o Paquistão, Tiger (Salman Khan) é repreendido pelo diretor da RAW, Shenoy (Girish Karnad), que nutre um profundo ódio pelo país vizinho, mas acredita que o agente exagera em suas missões, causando danos e mortes desnecessárias. Como punição, Shenoy envia Tiger para Dublin, na Irlanda, para acompanhar de perto o cientista indiano Anwar Kidwai (Roshan Seth), que leciona no Trinity College e é suspeito de compartilhar tecnologia com o Paquistão. Fingindo ser um pesquisador interessado no trabalho do cientista, Tiger tem ordens estritas de não se envolver em nenhum combate, apenas fazendo relatórios sobre o dia a dia do alvo e os entregando a seu contato, o também agente da RAW Gopi Arya (Ranvir Shorey).

Durante a missão, Tiger acaba se envolvendo com a secretária do cientista, Zoya Humaimi (Katrina Kaif), e, evidentemente, não consegue cumprir o combinado, se envolvendo em um tiroteio, uma perseguição e uma luta bem no meio da cidade; ao investigar, ele descobre que sua verdadeira identidade foi descoberta por um agente da ISI, o equivalente da CIA no Paquistão - e que esse agente é ninguém menos do que Zoya, que também estava disfarçada em uma missão. Sem escolha, ele tem de abortar a missão e voltar à Índia em observação, prestes a ser punido caso saia da linha mais uma vez.

Em um desses momentos que só ocorrem em filmes, porém, Tiger e Zoya se apaixonam, e, ao se reencontrarem durante uma cúpula das Nações Unidas em Istanbul, decidem ambos desertar e fugir para Cuba, onde tentam viver uma vida normal, esquecendo seu passado de agentes secretos. Tanto a Índia quanto o Paquistão, entretanto, os consideram graves riscos à segurança, devido à quantidade de informações confidenciais que eles conhecem, e à paranoia de que, a qualquer momento, um pode desertar para o lado do outro. Assim, RAW e ISI começam uma verdadeira caçada, liderada por Gopi e pelo chefe de Zoya, o Capitão Abrar (Gavie Chahal), cada um querendo encontrá-los antes do outro.

Dirigido por Kabir Khan, Ek Tha Tiger estrearia simultaneamente em vários países em 15 de agosto (o Dia da Independência da Índia) de 2012, e seria um gigantesco sucesso de público: com orçamento de 75 crore (lembrando que um crore são dez milhões de rúpias), renderia 263 crore só na Índia, quebrando os recordes indianos de maior bilheteria no dia da estreia, maior bilheteria no fim de semana de estreia e maior bilheteria na primeira semana de exibição, além de se tornar o filme que mais rapidamente alcançou a marca de 100 crore na bilheteria (cinco dias), o filme de maior bilheteria na Índia em 2012, e o segundo filme de Bollywood de maior bilheteria em todos os tempos (atrás apenas da comédia dramática adolescente 3 Idiots, de 2009, que rendeu nada menos que 460 crore). Ek Tha Tiger também seria o filme de Bollywood a estrear no maior número de salas de cinema simultaneamente na Índia, com 3300 - recorde quebrado mais tarde no mesmo ano com a comédia policial Dabangg 2 ("o destemido 2"), também estrelada por Salman Khan, que estrearia em 3700 - e internacionalmente, com 550.

Fora da Índia, o filme também seria um sucesso; apesar de ter sua estreia proibida no Paquistão (segundo o governo, "pela forma como o povo paquistanês era retratado no filme", o que gerou protestos do diretor, já que não há uma única cena que ateste contra paquistaneses de qualquer forma), o filme renderia mais 57 crore internacionalmente, elevando o total para 320. Curiosamente, os dois países com o maio número de imigrantes indianos e paquistaneses, os Emirados Árabes Unidos e o Reino Unido, seriam respectivamente o segundo e o terceiro de maior bilheteria internacional, com o primeiro lugar ficando com os Estados Unidos, algo extremamente raro para um filme de Bollywood. Outros países de boa bilheteria foram Austrália, Nova Zelândia, Bangladesh e Japão, nesse último se tornando o filme de Bollywood de maior bilheteria da história e com estreia no maior número de salas de cinema, com 70.

A crítica ficaria dividida, com os principais elogios sendo feitos a Zoya, que, de "mocinha em perigo" se transforma numa protagonista forte e empoderada, e as principais reclamações se dirigindo ao estilo do filme, que, segundo os críticos, "não consegue se decidir entre ser um filme de espionagem e de romance". Ek Tha Tiger ganharia apenas um prêmio de destaque, o de Melhores Efeitos Especiais no IIFA Awards, a premiação da Academia de Cinema Internacional da Índia.

Ek Tha Tiger seria o primeiro filme do que ficaria conhecido como "YRF's Spy Universe", uma série de filmes de espionagem, cada um com personagens e histórias diferentes, mas todos ambientados no mesmo universo e produzidos pelo estúdio Yash Raj Films (daí o YRF), fundados por Yash Chopra, um dos maiores diretores e produtores de Bollywood, que faleceria pouco depois de sua estreia, em outubro de 2012. Kabir Khan escreveria o roteiro em 2010, partindo de uma ideia de Aditya Chopra, filho de Yash, e o ofereceria para aquele que é considerado o maior ator de Bollywood de todos os tempos, Shah Rukh Khan - para vocês terem uma ideia, seu filme mais famoso, Dilwale Dulhania La Jayenge ("quem tiver o maior coração fica com a noiva"), está em cartaz nos cinemas da Índia desde 1995, e, em datas festivas, entre 10 e 20 mil pessoas se aglomeram em frente à sua casa, apenas para vê-lo aparecer e dar um tchauzinho. Embora tenha se interessado, SRK, como é conhecido, não pôde aceitar devido a compromissos assumidos anteriormente; o diretor conseguiu convencer Yash e Aditya, que atuariam como produtores, a esperar, e, enquanto isso, refinou o roteiro com a ajuda de Neelesh Misra (com ambos sendo creditados como roteiristas).

Em fevereiro de 2012, porém, Aditya disse que eles não poderiam mais esperar, e convenceu o diretor a substituir SRK por Salman Khan. Nascido Abdul Rashid Salim Salman Khan, em 27 de dezembro de 1965, em Indore, capital do estado indiano de Madhya Pradesh, Salman é o filho mais velho (de um total de cinco) do roteirista Salim Khan, e começou sua carreira em 1988, com um pequeno papel na comédia Biwi Ho To Aisi ("se você é uma esposa"), estrando no cinema de ação em 1995, com Karan Arjun; após sua carreira passar por altos e baixos na década de 2000, quando faria principalmente comédias, Salman voltaria aos filmes de ação com força total em 2010 com Dabangg, logo se tornando um dos maiores atores do cinema de ação indiano atual. Além de ator, ele também é apresentador de TV e fundador da Being Human Foundation, que arrecada fundos para a educação de jovens pobres do interior da Índia; nos últimos anos, porém, sua carreira tem sido marcada por controvérsias, após ele ter sido acusado e absolvido, em 2015, por homicídio culposo ao atropelar cinco pessoas com seu carro, e de ter sido condenado a cinco anos de prisão, em 2018, por caça ilegal de blackbuck, um antílope nativo da Índia ameaçado de extinção, estando no momento recorrendo em liberdade.

Para a protagonista feminina, Kabir Khan escolheria Katrina Kaif, por sua química com Salman Khan - os dois já haviam feito três filmes juntos, a comédia romântica Maine Pyaar Kyun Kiya? ("por que fui me apaixonar?", 2005), a comédia Partner (2007), e o drama de época Yuvvraaj ("o príncipe herdeiro", 2008), e em todos tinham sido muito elogiados como casal por público e crítica. Embora hoje ela também seja vista como uma das principais atrizes do cinema de ação indiano, Katrina só havia feito um antes desse, Race, de 2008; com corpo atlético e muita flexibilidade, adquirida após anos de aulas de dança, ela conquistaria seu lugar ao recusar dublês e fazer ela mesma todas as suas cenas de ação, algo extremamente prezado pelos diretores desse estilo, já que o filme fica mais realístico.

A história de Katrina, aliás, é bastante curiosa: nascida Katrina Turquotte, em 16 de julho de 1983, em Hong Kong, na época uma colônia britânica, ela era filha de Susanna Turquotte, advogada inglesa que teve outros sete filhos, e se separou pouco após o nascimento da última, quando Katrina tinha sete anos de idade, com seu pai indo morar nos Estados Unidos. Susanna se dedicava a várias causas sociais, o que fez com que Katrina fosse morar na China, Japão, França, Suíça, Polônia, Bélgica, Havaí e Londres, onde começou a trabalhar como modelo, aos 17 anos. Após três anos trabalhando em Londres, ela estava desfilando quando o diretor indiano Kaizad Gustad a convidou para um papel na comédia de humor negro Boom, de 2003, que acabaria sendo um gigantesco fracasso de crítica e público - e no qual teria de ser dublada, já que só falava inglês. Katrina, porém, decidiria continuar morando em Nova Délhi, a capital da Índia, onde aprenderia hindi e arranjaria diversos trabalhos como modelo; após mais um filme dublada, a comédia romântica Malliswari, de 2004 (falada em telugo), ela ganharia seu primeiro papel usando sua própria voz, ao lado de Salman Khan em Maine Pyaar Kyun Kiya?. Após alguns filmes que foram grandes sucessos de bilheteria, mas nos quais seria severamente criticada por não falar hindi direito, por atuar mal e por ser escalada sempre para o mesmo papel, ela começaria a construir uma sólida carreira, sendo indicada a três Filmfare Awards, sendo dois de Melhor Atriz, um por interpretar a esposa de um muçulmano suspeito de terrorismo em New York (2009), e um por protagonizar a comédia romântica Mere Brother Ki Dulhan ("meu irmão é a noiva", 2011); e um de Melhor Atriz Coadjuvante por interpretar uma alcoólatra em Zero (2018).

Mas a parte mais curiosa da históra de Katrina tem a ver com seu nome: ao ser escalada por Gustad, ela decidiria se registrar como atriz não como Katrina Turquotte, e sim como Katrina Kaif, alegando que esse era o sobrenome de seu pai, Mohammad Kaif, um empresário inglês descendente de indianos da Caxemira. Acontece que a certidão de nascimento de Katrina, assim como a de seus sete irmãos, não tem o nome do pai, apenas o da mãe, que os registrou como mãe solteira, tanto que eles usam o sobrenome dela (embora a mais nova de todos, que é modelo na Inglaterra, por causa do sucesso da irmã em Bollywood, tenha mudado seu nome legalmente para Isabelle Kaif, coisa que Katrina nunca fez, sendo seu Kaif apenas nome artístico). Esse fato faz com que muitas pessoas da indústria cinematográfica indiana questionem a legitimidade da ancestralidade de Katrina, com um de seus principais críticos sendo o produtor Ayesha Shroff, que a acusa publicamente de, se aproveitando de ter "feições levemente indianas", ter fabricado essa história e inventado que o pai era descendente de indianos apenas para ser vista como indiana, e não como inglesa. Segundo Shroff, ele estava presente quando Gustad convidou Katrina, e o pedido para que ela adotasse um nome artístico teria partido do diretor, que achava que Turquotte seria de pronúncia muito difícil para os indianos. Ela teria escolhido Katrina Kazi, o que o diretor e o produtor desaconselharam, porque Kazi é um sobrenome ligado à religião hinduísta, e poderia causar controvérsia; Katrina, então, veria numa televisão o jogador de críquete indiano Mohammad Kaif se preparando para rebater, diria que Katrina Kaif soava muito bem, e decidiria por esse nome - posteriormente inventando, portanto, que seu pai tinha o mesmo nome do jogador.

Katrina, evidentemente, sempre negou todas essas declarações, considerando-as perniciosas e acusando quem as profere de querer magoá-la propositalmente por ela ser uma atriz de sucesso em Bollywood mesmo sem ter nascido na Índia. Descendente de indianos ou não, Katrina, aos 37 anos, é hoje uma das atrizes mais bem pagas e famosas de Bollywood, e na Índia é considerada tão bonita que seu nome, incomum por lá, virou praticamente sinônimo de beleza, com expressões como "bonita como a Katrina" tendo se tornado comuns até mesmo em diálogos de produções que não contam com ela no elenco. Apesar da fama, ela mantém sua vida pessoal super reservada, com pouco se sabendo fora o que ela mesma diz em entrevistas - de vez em quando, inclusive, surgem boatos de que ela teria se casado em segredo, uma vez até com Salman Khan, sempre desmentidos por ela. Katrina também é uma das celebridades indianas que mais participa de projetos sociais, o principal deles o Relief Projects India, fundado por sua mãe, que visa resgatar meninas abandonadas e evitar o infanticídio - infelizmente, matar ou abandonar bebês quando nascem meninas ainda é uma prática comum no interior da Índia, pois, mesmo estando proibida por lei desde 1961, ainda é comum por lá a prática do dote, segundo a qual o pai da noiva tem de pagar um dinheiro à família do noivo quando o casamento é marcado, e por isso as famílias mais pobres preferem ter apenas filhos homens.

Além de Salman Khan e Katrina, Ek Tha Tiger chamaria atenção por ser a estreia em Bollywood de Gavie Chahal, que, até então, só havia feito cinema punjabi, e pela presença no elenco de Girish Karnad, que, além de ator, era diretor, dramaturgo e um dos principais nomes da literatura canaresa, idioma do sul da Índia falado principalmente no estado de Karnataka, cuja capital é Bangalore. Formado pela Universidade de Oxford, Karnad é considerado um dos principais responsáveis pelo surgimento do teatro moderno canarês na década de 1960; além disso, traduzia ele mesmo suas peças para o inglês, o que ajudaria a espalhar a cultura indiana em geral e canaresa em particular pelo mundo - muitas de suas peças acabariam sendo traduzidas para outros idiomas, e até hoje são encenadas no mundo inteiro. Em 1998, Karnad receberia o Jnanpith Award, maior prêmio da literatura indiana, conferido apenas a autores que escrevam em uma das línguas nativas da Índia; ao longo da carreira, ele também receberia nove National Film Awards (sendo quatro de Melhor Filme em Canarês e um cada de Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Curta, Melhor Curta com Questões Sociais e Melhor Filme com Questões Ecológicas), quatro Filmfare Awards South (três de Melhor Diretor e um de Melhor Ator), um Filmfare Awards (de Melhor Roteiro), e os títulos de Padma Shri e Padma Bhushan, duas das maiores honrarias conferidas a civis pelo governo indiano, por sua contribuição inestimável às artes do país.

Pouco após o lançamento do filme, Kabir Khan e Aditya Chopra seriam processados pelo roteirista Anand Panda, que alegaria que os dois plagiaram um roteiro que ele havia escrito em 2008 e oferecido a Aditya. A Associação dos Roteiristas da Índia alegaria ter uma cópia do roteiro de Panda, que seria entregue à justiça mas jamais divulgada ao público. O diretor e o produtor acabariam condenados por plágio, quebra criminal de confiança e violação de direitos autorais, mas recorreriam, e seriam absolvidos em segunda instância por falta de provas.

As filmagens ocorreriam em Dublin, na Turquia, na Tailândia e em Havana, o que fez com que Ek Tha Tiger se tornasse o primeiro filme indiano filmado em Cuba. As cenas no Iraque seriam filmadas na Turquia, próximas à fronteira com a Síria, e lá ocorreria o momento mais tenso das gravações, quando a equipe de filmagens foi confundida por militares turcos com guerrilheiros sírios, e mantida sob a mira de fuzis, deitados no chão, enquanto suas identidades eram confirmadas. Também estavam previstas filmagens em Hong Kong, mas, como a história não tem cenas em Hong Kong, para economizar, elas foram substituídas por filmagens em Nova Délhi.

A principal música do filme, Mashallah, composta por Walid Ali e seu irmão Sajid, com letra de Kausar Munir, e cantada por Ali e Shreya Ghoshal, lançada nas rádios em junho de 2012, seria um gigantesco sucesso na Índia, ficando quatro semanas no primeiro lugar das paradas de sucessos após a estreia do filme e no Top 10 durante todo o tempo em que ele esteve em cartaz. Ek Tha Tiger também ganharia uma minissérie em quadrinhos em duas edições lançadas pela editora indiana Yomics, que, por alguma razão, também trazia personagens da comédia romântica Hum Tum ("eu e você"), de 2004, também produzida pela YRF (e que, por causa disso, também é considerada parte do Spy Universe, mesmo não sendo um filme de espionagem, e sendo oito anos mais antiga que o filme de Tiger). A primeira edição seria lançada em julho de 2012, e serviria como uma "prequência" do filme, a segunda, lançada em novembro, no mesmo dia do lançamento de Ek Tha Tiger em DVD e Blu-ray, servia como epílogo; os quadrinhos seriam elogiados por sua arte, mas criticados por seus roteiros.

O grande sucesso de Ek Tha Tiger daria origem, evidentemente, a uma continuação: Tiger Zinda Hai (algo como "Tiger ainda vive"), lançado em 22 de dezembro de 2017, novamente trazendo Salman Khan, Katrina Kaif, Gavie Chahal e Girish Karnad, em seu último filme de Bollywood antes de falecer, em 10 de junho de 2019, aos 81 anos. Kabir Khan não aceitaria retornar à direção, sendo substituído por Ali Abbas Zafar, que também seria co-roteirista, mais uma vez ao lado de Neelesh Misra. Com a morte de Yash, Aditya Chopra seria o único produtor.

A história começa mais uma vez no Iraque, onde o líder do Estado Islâmico, Abu Usman (Sajjad Delafrooz) é levado às pressas para um hospital em Ikrit após ser ferido em um ataque dos Estados Unidos. Para garantir que ele tenha o melhor tratamento possível, e não seja capturado enquanto isso, seus homens evacuam o hospital, expulsando ou matando médicos e doentes, e fazendo como reféns 40 enfermeiras indianas e paquistanesas, que ficarão responsáveis por operar o hospital e tratar Usman. Os Estados Unidos acreditam que apenas os homens do Estado Islâmico estão no hospital e planejam bombardeá-lo, mas uma das enfermeiras indianas (Neha Hinge), usando um celular escondido, consegue avisar o embaixador da Índia em Bagdá (Ivan Rodrigues), que entra em contato com o Pentágono e consegue um prazo de sete dias para resgatar as reféns antes de o bombardeio começar. O RAW é acionado, e Shenoy conclui que apenas um homem pode conseguir concluir essa missão com sucesso: Tiger.

Tendo se passado oito anos após o final do primeiro filme, porém, Tiger e Zoya estão aposentados e morando na Áustria com seu filho, Júnior (Sartaaj Kakkar). Shenoy sabe disso, e, visitando-o, consegue convencer Tiger a voltar à ativa para mais essa missão. O agente, então, entra em contato com três antigos colegas seus - o hacker Rakesh (Kumud Mishra), o sniper Azaan (Paresh Pahula) e o especialista em explosivos Namit (Angad Bedi) - e cria um plano: os quatro se disfarçarão como trabalhadores em uma refinaria de petróleo na Síria, controlada pelo número dois do Estado Islâmico, Amir Baghdawi (Sal Yusuf), e forjarão um acidente, que fará com que eles tenham de ser internados no mesmo hospital onde Usman está internado, dando-os a chance de salvar as enfermeiras. O plano possui um grande obstáculo, porém: o capataz da refinaria, Firdauz (Paresh Rawal), apelido Tohbann ("a cobra"), homem mesquinho, ganancioso e simpatizante do Estado Islâmico, que desconfia do grupo de Tiger assim que eles chegam para trabalhar.

Além de Tohbaan, Tiger ainda terá de lidar com um grande obstáculo após sua missão já ter se iniciado: de propósito, Shenoy só informou a Tiger e ao governo da Índia que estavam sequestradas 25 enfermeiras indianas, omitindo a presença de 15 paquistanesas, que, se depender dele, podem morrer bombardeadas que não faz mal. O governo do Paquistão fica sabendo disso, entretanto, e manda o Capitão Abrar entrar em contato com Zoya, com ambos viajando ao Iraque em companhia de um terceiro agente do ISI, Javed (Danish Bhatt), com seu próprio plano de infiltração e resgate das enfermeiras. Tiger e Zoya, portanto, estarão mais uma vez competindo pelo mesmo objetivo, cada um representando sua agência - e seu país.

Tiger Zinda Hai foi inspirado em uma história real, a do sequestro de 46 enfermeiras indianas pelo Estado Islâmico em Mossul, no Iraque, em 2014, posteriormente libertadas pelos próprios terroristas sem nenhum dano. Esse seria o segundo filme a adaptar essa história, com o primeiro, o drama Take Off, também de 2017, possuindo uma abordagem mais realística; praticamente a única coisa do filme de Tiger em comum com a história real é o sequestro das enfermeiras, já que no caso verídico não houve tentativa de resgate nem bombardeio. É preciso registrar duas outras personagens importantes que eu não consegui encaixar no resumo acima, a chefe das enfermeiras, a indiana Poona (Anupriya Goenka), e a enfermeira paquistanesa Sana (Kashmira Irani).

O filme seria um dos mais caros da história do cinema indiano, com um orçamento estimado em 210 crore, sendo 70 crore apenas para impostos, publicidade e marketing, a maior soma já gasta por um estúdio de Bollywood nesses três quesitos. As filmagens ocorreriam em Abu Dhabi, Marrocos, Áustria e Grécia, com as cenas de estúdio sendo filmadas em Mumbai. Uma das maiores surpresas do filme seria a presença no elenco de Sajjad Delafrooz, que é iraniano, e fazia apenas seu segundo filme em Bollywood, após outro de ação, Baby, de 2015. A trilha sonora contava com uma música do astro paquistanês Atif Aslam, em uma tentativa de evitar que o filme fosse mais uma vez proibido no Paquistão - no que não obteve sucesso, com o governo paquistanês mais uma vez proibindo sua estreia sob a alegação de que a imagem do Paquistão era depreciada no filme.

Assim como Ek Tha Tiger, Tiger Zinda Hai estrearia em 3300 salas de cinema na Índia; em Mumbai, o partido político Maharashtra Navnirman Sena lideraria um protesto pedindo para que os cinemas da cidade dessem preferência para exibir filmes maratas que estreariam na mesma época, como os dramas Deva e Ek Atrangi ("o introvertido"), ao invés de mais um filme de ação de Bollywood, mas não obteve sucesso, com os cinemas apostando que o filme de Tiger renderia mais. De fato, Tiger Zinda Hai estabeleceria um novo recorde de bilheteria para um dia de estreia que não fosse um feriado, ficando também com a segunda maior bilheteria da história para um segundo dia (atrás apenas de Bahubali 2, também de 2017), e quebrando o recorde de maior bilheteria para um terceiro dia, o que lhe garantiria também o recorde de maior bilheteria de um filme de Bollywood no primeiro fim de semana, que mantém até hoje, assim como o recorde de filme que levou menos dias para alcançar 100 crore na bilheteria, já tendo 154 crore ao final do quarto dia. Internacionalmente, a maior bilheteria seria mais uma vez a dos Estados Unidos, seguida pela do Reino Unido e a dos Emirados Árabes Unidos. No total, Tiger Zinda Hai renderia 435 crore na Índia e 129 internacionalmente, para um total de 564 crore.

A crítica seria muito mais favorável ao segundo filme que ao primeiro, elogiando principalmente Katrina, que mais uma vez fez todas as suas cenas de ação, e, segundo alguns críticos parecia "uma verdadeira atleta"; Salman, aos 52 anos, também seria elogiado por sua forma física e seu comprometimento com o papel - apesar de ter sido o centro de uma nova controvérsia ao, durante as filmagens de um número de dança, ao reclamar que não acertava a coreografia, ter comparado suas próprias habilidades às de um "bhangi tentando participar de um concurso de dança" (sendo os bhangi um grupo étnico da Índia historicamente considerado da casta mais baixa de todas, a dos dalits ou "intocáveis"), o que arrancou gargalhadas da atriz Shilpa Shetty e resultou em um processo contra ambos movido pela Comunidade Valmiki, organização que reúne vários grupos étnicos indianos alvo de preconceito social. O filme ganharia três importantes prêmios do cinema indiano, mas todos em categorias técnicas: o Filmfare Award de Melhor Sequência de Ação, e os IIFA Awards de Melhor Fotografia e Melhor Edição de Som.

Em 2018, Aditya anunciaria que estava produzindo um terceiro filme da série, com o título provisório de Tiger 3. Após problemas com o roteiro, com a pré-produção e com a pandemia global, que fizeram com que sua data prevista de estreia de 2020 tivesse de ser adiada para 29 de abril de 2022, as filmagens começariam em março de 2021 nos estúdios da YRF em Mumbai, estando previstas externas em Abu Dhabi, Istanbul e na Austrália. Até agora nada se sabe sobre a história, mas Salman e Katrina estão mais uma vez confirmados como Tiger e Zoya, e Emraan Hashmi, considerado "um dos atores menos convencionais da Índia" e famoso por suas ousadas cenas de ação, foi reportado pela imprensa, embora não confirmado pelo estúdio, como intérprete do vilão. A direção está a cargo de Maneesh Sharma, o roteiro será de Aditya e Shridhar Raghavan, e o orçamento previsto é de 250 crore, o que, se confirmado, fará com que Tiger 3 seja o filme mais caro da história da Índia.

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