Ano passado, entretanto, enquanto eu fazia a série sobre novelas, imaginei que pudesse fazer uma série sobre pilotos no mesmo estilo, com um por mês, e comecei até a separar sobre quais eu gostaria de falar. Já adianto que já desisti e não vai ser dessa vez que essa série se concretizará, mas, enquanto fazia a tal lista, acabei ficando com vontade de falar sobre um em particular, Mario Andretti, o qual não vi correr ao vivo (só na Fórmula Indy), mas que sempre admirei. Hoje, portanto, é mais um dia com um post sazonal sobre pilotos. Hoje é dia de Mario Andretti no átomo!
Mario Gabriele Andretti e seu irmão gêmeo Aldo nasceram em 28 de fevereiro de 1940, na então cidade de Montona, localizada na Ístria, que, na época, fazia parte da Itália, filhos do administrador de fazendas Alvise e da dona de casa Rina. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Ístria passou a ser parte da Iugoslávia - e a cidade onde Andretti nasceu, que hoje fica na Croácia, passou a se chamar Motovun - de forma que, em 1948, a família Andretti, assim como todos os italianos da Ístria, foi expulsa de lá, levando apenas o que conseguisse carregar e indo parar em um campo de refugiados na cidade italiana de Lucca, na Toscana. A família moraria no campo de refugiados durante sete anos, durante os quais um cunhado de Alvise que morava nos Estados Unidos arrumaria vistos para que eles também pudessem ir para lá. O plano de Alvise era trabalhar nos Estados Unidos durante cinco anos juntando bastante dinheiro para então voltar à Itália, mas não contava que a paixão de seus filhos determinaria que eles ficariam lá de vez.
Desde os dois anos de idade, Mario e Aldo subiam em tampas de panelas e fingiam estar dirigindo carros, imitando o barulho do motor. Aos cinco, seu brinquedo preferido era um carrinho de madeira, com o qual eles desciam as ladeiras de sua cidade natal. Quando estavam no campo de refugiados, os irmãos seriam contratados por uma garagem para estacionar os carros - mesmo ainda estando longe de completar 18 anos - e, nas palavras de Mario, na primeira vez que ele rodou uma chave e sentiu um carro ganhar vida em suas mãos, foi fisgado, e soube o que queria fazer pelo resto da vida. Quando Mario tinha 13 anos, seu pai conseguiu que ele pilotasse em uma corrida de Fórmula Júnior, na cidade de Ancona, na Itália, a qual ele infelizmente não conseguiu completar. Em 1954, ele convenceu o pai a levá-lo para assistir a Mille Miglia, tradicional corrida da época que passava por várias cidades italianas, na qual ele conseguiu ver de perto o bicampeão da Fórmula 1 Alberto Ascari, que venceria a prova naquele ano. Mais tarde, ele também convenceria o pai a levá-lo a Monza, para assistir ao Grande Prêmio da Itália, o qual Ascari disputou palmo a palmo com o argentino Juan Manuel Fangio, que seria o vencedor da corrida e campeão mundial daquele ano. Naquela prova, aos 14 anos, Mario Andretti decidiria que queria ser piloto de Fórmula 1.
Mas no ano seguinte, 1955, a família Andretti imigraria para os Estados Unidos, se estabelecendo na cidade de Nazareth, na Pensilvânia - onde ele e Aldo assistiriam a várias corridas no famoso oval de terra batida da cidade. Aos 19 anos, após terminar o colégio, Mario trabalhava como soldador, e conseguiu uma carteira de motorista falsa, que dizia que ele tinha 21, para que pudesse competir nas corridas amadoras da cidade. Os irmãos conseguiriam comprar um Hudson 1948, que modificaram por conta própria, e pagavam de seu próprio bolso a inscrição nas corridas, sem contar a seus pais o que estavam fazendo. Eles venceriam suas quatro primeiras provas, duas vitórias para cada, mas, na quinta, Aldo sofreu um acidente e se feriu gravemente, o que levou Mario a também abandonar. Ao descobrir que os irmãos estavam correndo, seus pais pensaram em proibi-los, mas Mario os convenceu de que aquela era a única coisa que queria fazer na vida. Nos dois anos seguintes, ele competiria em 46 provas, das quais venceria 21.
Apesar de estar indo bem nos carros de turismo, o objetivo de Andretti era correr nos monopostos, e, para isso, de 1961 a 1963, ele correria nos chamados midget cars, pequenos carros com as rodas à mostra que se parecem um pouco com bugres, bastante populares nos Estados Unidos e na Austrália. Essas corridas eram amadoras, e não faziam parte de campeonatos, rendendo prêmios separadamente; ao todo, Andretti competiria em mais de cem provas em três anos, das quais venceria quase a metade, inclusive vencendo três provas diferentes em um mesmo dia, em 1963. No final de 1963, ele tentou se profissionalizar para disputar o campeonato de sprint cars (que são praticamente a mesma coisa dos midget cars, mas mais velozes e seguros) do United Racing Club, mas não conseguiu uma vaga para disputar a temporada completa, apenas um acordo para algumas provas. Quando já estava quase desistindo, ele receberia um convite para disputar o campeonato profissional de sprint cars de uma organização de ainda mais prestígio, o Automóvel Clube dos Estados Unidos (USAC). Antes da primeira prova, Andretti conseguiria sua naturalização, já começando sua carreira profissional como norte-americano.
Andretti venceria apenas uma prova no campeonato de sprint cars do USAC, mas seu bom desempenho nas corridas lhe renderia um prêmio ainda mais valioso: um convite da equipe Doug Stearly para disputar uma prova no Campeonato Nacional da USAC, o antecessor da Fórmula Indy. Nessa prova, a segunda da temporada, realizada em Trenton, Andretti largaria em 16o e chegaria em 11o, o que não impressionaria a equipe, que decidiria não continuar com ele nas duas provas seguintes - uma delas, as 500 Milhas de Indianápolis. Andretti, porém, fez seus contatos, e conseguiu uma vaga em outra equipe, a Lee S. Glessner, pela qual correria a tradicional prova no oval de terra batida de Langhorn, chegando em nono. Após essa corrida, ele seria procurado pela equipe Dean Van Lines, que decidiria apostar em seu talento, e pela qual ele correria as oito provas restantes, terminando a temporada com um pódio, um terceiro lugar em Milwaukee. No campeonato, ele terminaria em 11o dentre 46 pilotos, excelente posição para uma temporada de estreia e incompleta, que lhe renderia o prêmio de Estreante do Ano.
Andretti seguiria disputando os dois campeonatos da USAC em 1965. No de sprint cars, ele conseguiria apenas uma vitória, mas no Nacional, que disputaria completo pela Van Lines, teria um ano mágico, conseguindo um terceiro lugar após largar em quarto em sua primeira participação nas 500 Milhas de Indianápolis; sua primeira vitória, em Brownsburg; e mais seis segundos lugares e outros dois terceiros, o que lhe garantiria o título de campeão daquele ano. Em 1966, ele se tornaria bicampeão, vencendo metade das provas do calendário (8 de 16) e ainda conseguindo um segundo lugar, mas chegaria apenas em 18o nas 500 Milhas, onde largaria na pole position, após ter problemas mecânicos. Ainda em 1966, ele decidiria se arriscar na Nascar, fazendo uma corrida pela equipe Bondy Long, uma pela Owens e duas pela Smokey Yunick, incluindo as 500 Milhas de Daytona, que terminaria em 17o; seu melhor resultado seria 16o, logo em sua prova de estreia, em Riverside. E, além disso tudo, ele ainda correria o campeonato de sprint cars da USAC, onde venceria cinco provas e terminaria como vice-campeão, além da prova de Langhorn pela equipe Jim Robbins, as 24 Horas de Le Mans, dividindo um Ford com o belga Lucien Bianchi, e as 12 Horas de Sebring, dividindo uma Ferrari com o mexicano Pedro Rodrigues, abandonando essas três provas com problemas mecânicos.
Em 1967, cansado da maratona de provas, Andretti, decidiria correr apenas três provas na sprint cars, das quais venceria duas. Na Nascar, ele correria seis provas pela equipe Holman Moody, incluindo as 500 Milhas de Daytona, das quais se sagraria vencedor. No Nacional da USAC, ele mais uma vez correria pela Van Lines, vencendo oito de 21 provas e ainda conseguindo três segundos lugares e dois terceiros, mas, no campeonato, terminaria em segundo, 80 pontos atrás de A.J. Foyt, que teve apenas cinco vitórias (incluindo a das 500 Milhas), mas foi mais consistente nas demais provas. Nas 500 Milhas, aliás, Andretti mais uma vez largaria na pole position, mas teve de abandonar após 65 voltas quando uma das rodas de seu carro se soltou no meio da pista. Ainda em 1967, Andretti disputaria a tradicional prova de Pikes Peak pela equipe Bobby Unser, chegando em 14o; correria as 24 Horas de Le Mans, mais uma vez em parceria com Bianchi, se envolvendo em um grave acidente; e, dividindo um Ford com o neozelandês Bruce McLaren, seria campeão das 12 Horas de Sebring.
No final de 1967, Al Dean, dono da Dean Van Lines, faleceu, e seus herdeiros não tinham interesse em manter a equipe. O mecânico-chefe da equipe, Clint Brawner, uma verdadeira lenda do automobilismo norte-americano, responsável por levar Andretti para a equipe, convenceu o piloto a conseguir um acordo de financiamento com a Firestone, e a equipe, ao invés de fechar as portas, foi renomeada Andretti Racing Enterprises. Na prática correndo por sua própria equipe em 1968, Andretti conseguiu, em 28 provas, quatro vitórias, 11 segundos lugares e um terceiro, terminando mais uma vez com o vice-campeonato, apenas 21 pontos, a menor margem na história do campeonato, atrás de Bobby Unser, que também corria por sua própria equipe. Nas 500 Milhas, ele largaria em quarto, mas abandonaria com problemas mecânicos após apenas duas voltas. Além do Nacional da USAC, da prova de Pikes Peak, que também disputaria por sua própria equipe, chegando em quarto, e da prova de Langhorn, que ele disputaria pela Leader Cars mas não completaria, Andretti em 1968 disputaria três provas da Nascar, correndo pela Holman Moody, uma delas as 24 Horas de Daytona, que terminou em 29o.
Em 1968, Andretti também faria sua estreia na Fórmula 1, sendo convidado por Colin Chapman, a quem conheceu durante as 500 Milhas de Indianápolis em 1965, para participar de duas corridas pela Lotus. A primeira seria o Grande Prêmio da Itália, em Monza, para o qual ele não conseguiu se classificar; a segunda foi o Grande Prêmio dos Estados Unidos, em Watkins Glen, para o qual ele conseguiu a pole position, mas que teve de abandonar após 32 voltas com problemas mecânicos.
No começo de 1969, Andretti venderia sua equipe para a famosa fabricante de produtos para automóveis STP, que manteria Brawner como mecânico-chefe, Andretti como primeiro piloto, e renomearia a equipe para STP Corporation. Andretti teria mais um ano mágico, conseguindo sua primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, após largar em segundo, e sua primeira vitória na prova de Pikes Peak, além de seu terceiro título na USAC, conquistado após nove vitórias, três segundos lugares e um terceiro em 24 provas; esse desempenho renderia ao piloto o prêmio de Atleta do Ano do canal de televisão ABC. Na Nascar, Andretti disputaria apenas uma prova, pela Holman Moody, em Riverside, e, pela Fórmula 1, correria pela Lotus na África do Sul, Alemanha e Estados Unidos, abandonando todas essas quatro provas.
Em 1970, Andretti convenceria a STP a investir também em uma equipe de Fórmula 1, usando chassis March e motores Ford. Correndo pela STP Corporation, ele participaria de cinco provas, das quais abandonaria quatro; em sua segunda prova, o GP da Espanha, entretanto, ele conseguiria seu primeiro pódio, um terceiro lugar. No Nacional da USAC, também correndo pela STP, ele não teria um bom desempenho se comparado as anos anteriores, conseguindo apenas uma vitória, três segundos lugares e terminando as 500 Milhas de Indianápolis em sexto, ficando na quinta colocação no campeonato. Em compensação, ele aceitaria um convite da Ferrari para voltar a disputar as 12 Horas de Sebring, dividindo o carro com dois pilotos italianos, Ignazio Giunti e Nino Vaccarella, conseguindo sua segunda vitória na prova.
O bom desempenho em Sebring renderia a Andretti um convite para correr pela Ferrari na Fórmula 1 em 1971. Ele participaria de sete das onze provas, sendo que não largaria no GP dos EUA e não se classificaria para o GP de Mônaco; logo em sua primeira prova pela equipe italiana, porém, o GP da África do Sul, segunda prova de Fórmula 1 que ele completava na vida, ele obteria sua primeira vitória. Das quatro outras provas, ele completaria duas, chegando em quarto na Grã-Bretanha e em 13o no Canadá, e terminando o campeonato na oitava colocação. No Nacional da USAC, em sua última temporada pela STP, que decidiria vender a equipe ao final do ano, ele não faria uma boa temporada, conseguindo apenas um pódio, um segundo lugar em Trenton, abandonando em Indianápolis após um acidente, e terminando o campeonato em nono. Em Sebring, ele correria mais uma vez pela Ferrari, dividindo o carro com o belga Jacky Ickx, mas abandonaria com problemas mecânicos.
Andretti se transferiria para a equipe Vel's Parnelli Jones Racing para disputar o Nacional da USAC em 1972, mas mais uma vez não faria uma boa temporada, conseguindo apenas dois pódios, um segundo lugar e um terceiro lugar, nas duas provas disputadas em Phoenix; ele ficaria em oitavo em Indianápolis, e terminaria o campeonato em 11o. Na Fórmula 1, ele faria mais uma temporada parcial pela Ferrari, correndo cinco das doze provas, ficando em quarto na África do Sul, sexto nos Estados Unidos, sétimo na Itália, abandonando as outras duas e terminando o campeonato em 12o. Em compensação, em 1972, Andretti conseguiria quatro vitórias em provas tradicionais de endurance, todas pilotando pela Ferrari e dividindo o carro com Ickx: os 1.000 km de Brands Hatch, as 6 Horas de Daytona, as 6 Horas de Watkins Glen e as 12 Horas de Sebring, onde conquistaria seu terceiro triunfo.
Até 1970, o Nacional da USAC tinha provas disputadas tanto em pistas de terra quanto pavimentadas; no final daquele ano, contudo, a entidade decidiria dividir o campeonato em dois, ficando o Nacional apenas com provas em pistas pavimentadas, e o National Dirt Car Championship com as provas em pistas de terra. Em 1971 e 1972, Andretti decidiria competir apenas nas pavimentadas, mas, em 1973 ele optaria por disputar ambos, inclusive correndo em ambos pela Parnelli. Nas pistas pavimentadas, ele conseguiria uma vitória em Trenton, dois segundos lugares, abandonaria Indianápolis com problemas mecânicos após apenas quatro voltas, e terminaria o campeonato mais uma vez em quinto; nas pistas de terra, ele conseguiria duas vitórias, em Springfield e Du Quoin, e terminaria com o vice-campeonato. Ainda em 1973, Andretti faria sua última participação nas 12 Horas de Sebring, mais uma vez na Ferrari ao lado de Ickx, mas abandonaria com problemas mecânicos.
Em 1974, ele mais uma vez competiria em ambos os campeonatos da USAC pela Parnelli; no de pistas pavimentadas, teria como melhor resultado um terceiro lugar em Phoenix, abandonaria em Indianápolis com problemas mecânicos após apenas duas voltas, e terminaria o campeonato em 15o, mas, no de pistas de terra, conseguiria três vitórias e conquistaria seu primeiro título. Ele também decidiria aceitar um convite da Parnelli para disputar o campeonato de Fórmula 5000, que também tinha todas as suas provas disputadas nos Estados Unidos; com três vitórias em sete provas, ele conseguiria o vice-campeonato, apenas oito pontos atrás do campeão Brian Redman. Ainda em 1974, Andretti conquistaria a vitória nos 1.000 km de Monza, dividindo um Alfa Romeo com o italiano Arturo Merzario.
Como não havia conseguido convites de nenhuma equipe para correr na Fórmula 1 nem em 1973, nem em 1974, Andretti convenceria a Parnelli a fazer o mesmo que a STP. A equipe Parnelli competiria na Fórmula 1 entre 1974 e 1976, sempre usando chassis próprios e motores Ford; problemas no desenvolvimento do carro, porém, fariam com que Andretti só pudesse estrear na penúltima corrida de 1974, o GP do Canadá, o qual terminou em sétimo, e fosse desclassificado da última, o GP dos Estados Unidos, por uma irregularidade na largada. Em compensação, 1975 seria o primeiro ano no qual Andretti faria uma temporada completa na Fórmula 1, completando 6 das 14 corridas e tendo como melhor resultado um quarto lugar no GP da Suécia, terminando o campeonato na 14a colocação. Sua participação na Fórmula 1 prejudicaria sua participação na USAC, fazendo com que ele disputasse apenas quatro provas no campeonato de pistas pavimentadas, uma delas as 500 Milhas de Indianápolis, que abandonaria após um acidente na volta 49; aliás, a única prova que ele concluiria seria a última, em Phoenix, na qual conseguiria um terceiro lugar, mas correndo não pela Parnelli, e sim pela Sugaripe Prune Racing Team, devido a uma exigência do patrocinador. Andretti também correria sua segunda e última temporada da Fórmula 5000 em 1975, pela Parnelli, conquistando quatro vitórias, mesmo número que Redman, que foi mais regular e somou 62 pontos a mais que ele, deixando-o com mais um vice-campeonato.
A partir de 1975, Andretti decidiria priorizar a Fórmula 1. Para a primeira corrida de 1976, o GP do Brasil, ele conseguiria um lugar na Lotus, para substituir o britânico Bob Evans, mas se envolveria em um acidente com seu colega de equipe, o sueco Ronnie Peterson, logo após a largada. Nas duas corridas seguintes, na África do Sul, onde terminou em sexto, e no GP dos Estados Unidos Oeste, que abandonou, ele correria mais uma vez pela Parenelli, e, então, a Lotus decidiria contratá-lo para o lugar de Evans para o restante da temporada. Andretti obteria uma vitória no Japão e dois terceiros lugares, na Holanda e Canadá, e terminaria o campeonato na sexta posição. Na USAC, ele se transferiria para a equipe Penske, e planejava disputar apenas Indianápolis, onde terminaria em oitavo, mas acabaria aceitando convites da equipe para correr em Pocono, onde seria quinto, no Texas, onde seria quarto, e em Phoenix, onde seria terceiro, terminando o campeonato em nono.
Em 1977, Andretti faria sua primeira temporada completa pela Lotus, e justificaria a confiança da equipe vencendo quatro das 17 provas, nos Estados Unidos Oeste, Espanha, França e Itália, além de um segundo lugar nos Estados Unidos, o que lhe garantiria a terceira posição do campeonato. Na USAC, ele disputaria sete provas pela Penske, abandonando Indianápolis após 47 voltas com problemas mecânicos e tendo como melhor resultado um segundo lugar em Pocono, terminando o campeonato em sétimo. Em 1978, ano do último Campeonato Nacional da USAC, Andretti, ainda na Penske, correria oito provas, terminando Indianápolis em 12o, conseguindo uma vitória em Trenton, e fechando o campeonato na 17a posição.
Mas o maior triunfo de Andretti ocorreria em 1978 na Fórmula 1: mais uma vez correndo a temporada completa pela Lotus, ele conseguiria seis vitórias, na Argentina (corrida de abertura da temporada), Bélgica, Espanha, França, Alemanha e Holanda, além de um segundo lugar no GP dos Estados Unidos Oeste. Aos 38 anos, Mario Andretti finalmente realizava seu sonho de infância, se tornando Campeão Mundial de Fórmula 1. Infelizmente, justamente no GP da Itália, onde Andretti confirmaria seu título, Peterson, seu colega de equipe e vice-campeão daquele ano, sofreria um gravíssimo acidente e viria a falecer no mesmo dia no hospital.
Andretti sempre foi conhecido como um mestre do acerto do carro; seu título teve sua contribuição direta, ao usar sua experiência nas corridas em ovais para trabalhar no efeito solo, que tornava o carro da Lotus superior a todos os demais - de fato, era para ele ter conquistado o título já em 1977, pois teve mais vitórias que qualquer outro piloto, mas, devido a resultados ruins e abandonos nas demais provas, o título acabou ficando com o austríaco Niki Lauda, da Ferrari, bem mais regular, que conquistaria 11 pódios, um quarto e um quinto lugar, e se sagraria campeão mesmo sem correr as duas últimas provas por estar insatisfeito com a equipe. O título de Andretti em 1978 seria o último da Lotus, que, mesmo vindo a contar com pilotos como Nigel Mansell, Ayrton Senna e Nelson Piquet, jamais conseguiria novamente construir um carro campeão.
Após ser campeão, Andretti continuaria na Lotus, mas o carro de 1979 se mostraria tão cheio de problemas que eles optariam por usar o carro de 1978 com modificações; a essa altura, contudo, os avanços no efeito solo trazidos pelo norte-americano para a equipe inglesa já estavam sendo usadas por todas as outras equipes, e o resultado foi que a Lotus, de melhor carro do grid, passou a ser um dos piores: nem Andretti, nem seu novo companheiro de equipe, o argentino Carlos Reutemann, conseguiriam nenhuma vitória, e, pior ainda, Andretti, cujo melhor resultado foi um terceiro lugar na Espanha, abandonaria nove das 15 provas, terminando o campeonato apenas em 12o lugar. Em 1980 ainda na Lotus, o calvário continuaria, com Andretti abandonando nove das 14 provas, tendo como melhor resultado um sexto lugar no GP dos Estados Unidos, e terminando o campeonato em vigésimo.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Nacional da USAC, em 1979, se transformaria na CART IndyCar World Series, conhecida aqui no Brasil como Fórmula Indy. Andretti tentaria um contrato com a Penske para correr as 500 Milhas de Indianápolis, mas as negociações não renderiam frutos; ele obteria, porém, um convite para correr as provas de Ontário e Michigan, chegando em terceiro na primeira e sequer largando na segunda com problemas mecânicos. Em 1980, Andretti disputaria quatro provas da Indy pela Penske, obtendo uma vitória em Michigan, um segundo lugar em Phoenix e abandonando em Pocono e nas 500 Milhas, após um estouro de motor na volta 71.
Em 1981, na Fórmula 1, Andretti decidiria trocar a Lotus pela Alfa Romeo, mas não teria melhor sorte, abandonando oito das 15 provas e tendo como melhor resultado um quarto lugar no GP dos Estados Unidos Oeste, terminando o campeonato na 17a posição. Andretti não gostava do estilo dos carros de Fórmula 1 da época, segundo ele muito duros e com o piloto tendo de apertar botões durante toda a prova, sem ser necessária qualquer delicadeza, totalmente diferente da tocada suave da década de 1970 com a qual ele havia se acostumado nos Estados Unidos. Ele já estava pensando em abandonar a Fórmula 1 e se dedicar integralmente à Indy, mas decidiu aceitar um convite da Williams para substituir Reutemann, que se demitiu às vésperas do GP dos Estados Unidos Oeste de 1982; ele se envolveria em um acidente e abandonaria na volta 19. Ainda em 1982, Andretti receberia um convite da Ferrari para substituir o francês Didier Pironi, que havia sofrido um grave acidente; no GP da Itália, Andretti faria a pole position e obteria seu último pódio na categoria, chegando em terceiro lugar, mas na última prova da temporada, o GP de Las Vegas, ele abandonaria com problemas mecânicos após 26 voltas. Aos 42 anos, essa seria a última corrida de Andretti na Fórmula 1; após conquistar seu título, ele não conseguiria a vitória em nenhuma prova que disputou na categoria.
Enquanto isso, na Fórmula Indy, ele se transferiria, no início de 1981, para a equipe Patrick, pela qual correria sete das onze provas, conseguindo dois segundos lugares e dois terceiros, e terminando o campeonato em 11o; nas 500 Milhas de Indianápolis, que em 1981 e 1982 não fizeram parte do calendário da Indy, ele largaria da posição 32, mas, após uma corrida primorosa, chegaria em segundo, apenas oito segundos atrás de seu conhecido rival Bobby Unser, que corria pela Penske. No dia seguinte, Unser seria penalizado em uma volta por ultrapassar sob bandeira amarela, e Andretti foi declarado campeão; a Penske recorreria, porém, e quatro meses depois, a penalização de Unser seria convertida em uma multa, sendo mantida sua vitória. Como Andretti jamais conseguiu conquistar as 500 Milhas após seu triunfo em 1969, depois desse caso de 1981 a imprensa norte-americana começou a se referir à "maldição dos Andretti" toda vez que ele não conseguia a vitória - maldição que depois se estendeu para os demais membros de sua família que disputavam a prova sem sucesso, sendo citada até hoje.
Em 1982, Andretti faria a temporada completa pela Patrick, conseguindo quatro segundos lugares e dois terceiros, terminando o campeonato na terceira posição, seu melhor resultado desde o título de 1969; nas 500 Milhas, por outro lado, ele largaria em quarto, mas se envolveria em um acidente ainda durante a volta de apresentação, provocado pelo novato Kevin Coogan, da Penske, e sequer pôde largar. O evento ficaria conhecido como "Coogan Crash", e renderia duras críticas de Andretti ao piloto nas entrevistas subsequentes. Curiosamente, o vencedor das 500 Milhas de 1982 foi o colega de Andretti na Patrick, Gordon Johncock, que largou em quinto, do seu lado (nas 500 Milhas as filas são de três carros cada) e saiu ileso do acidente - em mais uma demonstração do efeito da maldição dos Andretti.
Ainda em 1982, Andretti se inscreveria para participar das 24 Horas de Le Mans, prova que havia disputado pela última vez em 1967. Pilotando pela equipe Grand Touring Cars Inc., ele dividiria o carro, um Mirage M-12 com motor Ford Cosworth, com seu filho, Michael Andretti, na época com 19 anos, e que faria sua estreia como profissional na Fórmula Indy no ano seguinte. Infelizmente, o carro de Mario e Michael, que se classificou em nono, foi desclassificado 80 minutos antes da largada, sob alegação de usar uma peça irregular - mesmo tendo passado em todas as inspeções e verificações até então. Mario e Michael voltariam a competir em Le Mans no ano seguinte, dessa vez pela equipe Kremer e dividindo um Porsche com o francês Philippe Alliot, com o trio chegando em terceiro lugar, obtendo um pódio na primeira vez em que Andretti conseguiu completar a prova.
Em 1983, Andretti se transferiria para a equipe Newman/Haas, pela qual correria na Fórmula Indy até o fim de sua carreira. Em seu primeiro ano pela nova equipe, ele conseguiria duas vitórias, três segundos lugares e um terceiro, e terminaria o campeonato, pela segunda vez seguida, na terceira posição; nas 500 Milhas, mais um abandono, após um acidente na volta 81. No ano seguinte, 1984, ele dominaria o campeonato, obtendo seis vitórias e dois segundos lugares, que lhe proporcionariam seu primeiro e único título da Indy, aos 44 anos; nas 500 Milhas, a maldição continuava forte, com Andretti tendo de abandonar na volta 153 após se chocar com o carro do mexicano Josele Garza na saída de um pit stop. A maldição quase seria quebrada em 1985, quando, mais uma vez, Andretti terminaria as 500 Milhas em segundo lugar, após liderar mais da metade da prova; ele perderia o título para Danny Sullivan, que, faltando pouco mais de 80 voltas para o final, o ultrapassaria em uma manobra arriscadíssima na qual seu carro faria um giro de 360 graus na pista e por pouco não tiraria ambos da corrida. Andretti conseguiria retomar a ponta em seguida, mas seria novamente ultrapassado por Sullivan, dessa vez de forma limpa, vinte voltas depois.
O restante da década de 1980, para Andretti, seria bom, mas não fantástico. Em 1985, além do segundo lugar nas 500 Milhas, ele conseguiria três vitórias e um terceiro lugar; em 1986, teria duas vitórias e dois terceiros lugares, mas abandonaria mais uma vez as 500 Milhas, com problemas mecânicos após 19 voltas - nesses dois anos, ele terminaria o campeonato na quinta posição. Em 1987, novo problema mecânico e abandono faltando apenas 20 voltas para o final das 500 Milhas; no campeonato, ele teria duas vitórias, um segundo lugar, e terminaria em sexto. Em 1988, duas vitórias, dois segundos lugares, três terceiros, mais uma quinta colocação no campeonato, e mais um abandono nas 500 Milhas, com problemas elétricos na volta 118; também em 1988, Andretti voltaria a competir nas 24 Horas de Le Mans, correndo pela equipe principal da Porsche e dividindo o carro com seu filho Michael e com seu sobrinho John Andretti, filho de Aldo, chegando na sexta posição. Em 1989, ele não teria nenhuma vitória, conseguindo dois segundos lugares e dois terceiros e terminando o campeonato em sexto, mas, nas 500 Milhas, conseguiria completar a prova na quarta posição.
Já com 50 anos de idade, Andretti passaria, então, por uma seca de vitórias. Em 1990, seriam dois segundos lugares e dois terceiros, e, em 1991, um segundo e três terceiros; em ambos esses anos ele abandonaria as 500 Milhas com problemas de motor, em 1991 faltando apenas 13 voltas para a bandeirada, e em ambos ele terminaria o campeonato em sétimo lugar. Em 1991, Andretti também participaria das 24 Horas de Daytona, dividindo um Porsche com seus dois filhos, Michael e Jeff. O carro do "Clã Andretti", como seria apelidado pela imprensa, completaria a prova em quinto lugar.
Em 1992, na Indy, seu único pódio seria um segundo lugar em Laguna Seca, mais uma vez ele abandonaria as 500 Milhas, dessa vez após um acidente no qual quebraria seis dedos dos pés e que faria com que ele ficasse fora da corrida seguinte, em Detroit, mas, graças a seus demais resultados, terminaria o campeonato em sexto. Em 1993, Andretti conseguiria a última vitória de sua carreira, em Phoenix, além de um segundo lugar e um terceiro, e de completar as 500 Milhas em quinto, na mesma volta do líder, após largar em segundo, liderar 72 voltas, e de receber uma punição na volta 134 por entrar nos pits enquanto eles estavam fechados; no campeonato, novo sexto lugar. Em 1994, ele conseguiria apenas um pódio, um terceiro lugar em Surfer's Paradise, na Austrália, e mais uma vez abandonaria as 500 Milhas, com problemas mecânicos após apenas 23 voltas, terminando o campeonato em 14o. No final da temporada, aos 54 anos, Andretti decidiria se aposentar da Indy.
Após se aposentar da Indy, Andretti, acreditando que tinha chances de vencer a prova, decidiria aceitar um convite da equipe francesa Courage Compétition, e assinar um contrato para competir nas 24 Horas de Le Mans, atuando também como consultor técnico da equipe, durante três temporadas. Na primeira delas, em 1995, dividindo o carro, um Porsche, com os franceses Bob Wollek e Éric Hélary, ele quase conseguiria seu objetivo, chegando em segundo; em entrevistas posteriores, Andretti criticaria a equipe, dizendo que eles deixaram de ganhar a prova por serem mal organizados e confusos. No ano seguinte, 1996, Andretti dividiria o carro com o holandês Jan Lammers e o britânico Derek Warwick, mas não faria uma boa prova, terminando em 13o. Em 1997, dividindo o carro com seu filho Michael e com o francês Olivier Gruillard, Andretti abandonaria com problemas mecânicos. Pouco animado com a equipe, ele decidiria não renovar contrato, mas ainda participaria mais uma vez da prova três anos depois, em 2000, aos 60 anos, dessa vez pilotando um protótipo para a equipe Panoz, dividindo o carro com o australiano David Brabham, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Jack Brabham, e com o dinamarquês Jan Magnussen; o trio completaria a prova na 15a posição. Também em 2000, Andretti seria eleito Piloto do Século pela Associated Press.
A última participação de Andretti como piloto em um evento oficial de automobilismo ocorreria em 2003. Naquele ano, seu filho Michael já era dono de uma equipe, a Andretti Green Racing, que competia na IRL, sucessora da Fórmula Indy, e um de seus pilotos era o brasileiro Tony Kanaan, que, na prova de Motegi, no Japão, havia quebrado o braço. A equipe esperava que Kanaan pudesse competir nas 500 Milhas de Indianápolis, mas acreditava que não seria possível que ele participasse da classificação - que, nas 500 Milhas, ocorre ao longo do mês, e não no mesmo fim de semana que a corrida. Como em Indianápolis quem se classifica é o carro, e não o piloto, a equipe decidiria inscrever Andretti, então com 63 anos, para que ele classificasse o carro, com Kanaan pilotando no dia da corrida. Durante um treino livre, porém, o carro pilotado por Andretti passou por cima de destroços, levantou voo e se chocou contra o muro em um acidente espetacular. Andretti sofreu apenas um corte no queixo, e, como Kanaan se mostrou capaz de participar da classificação - obtendo, inclusive, o segundo lugar - os planos para que Andretti o substituísse foram abandonados.
Atualmente, Andretti está com 80 anos, prestes a completar 81, e totalmente aposentado do automobilismo - após encerrar a carreira definitivamente, ele ainda passou a agir nos bastidores, mas já há algum tempo se dedica apenas a curtir sua merecida aposentadoria. Além de um dos maiores pilotos da história, Andretti é conhecido como o Patriarca do Clã Andretti, que inclui, além de seus dois filhos, Michael, que competiu na Indy entre 1983 e 2007, ganhando o título em 1991, e teve uma apagada passagem pela Fórmula 1 sendo companheiro de Ayrton Senna na McLaren e conquistando um terceiro lugar no GP da Itália em 1993, e Jeff, que competiu na Indy entre 1990 e 1994, sem resultados expressivos; seus sobrinhos, filhos de Aldo, John, que competiu na Indy entre 1987 e 2011, na Nascar entre 1993 e 2010, foi campeão das 24 Horas de Daytona em 1989, e infelizmente faleceu em janeiro de 2020 de câncer no cólon, e Adam, que estreou nas categorias de acesso da Nascar em 2016; e seu neto, Marco, filho de Michael, que estrou na Indy em 2006, mas ainda não obteve resultados expressivos.
0 Comentários:
Postar um comentário