A Viagem foi uma das hoje chamadas "novelas espíritas"; aquelas nas quais, através de seus personagens, são discutidos os princípios do espiritismo conforme a filosofia de Allan Kardec, médico francês que viveu no século XIX e escreveu cinco livros considerados a fundação do espiritismo moderno, incluindo O Livro dos Espíritos. A novela abordava todos os aspectos do espiritismo, incluindo o preconceito sofrido pelos adeptos da doutrina, o ceticismo dos leigos, crendices populares, estudos científicos sobre o mundo espiritual, mediunidade, comunicação entre os vivos e os mortos, espíritos encarnados e desencarnados, obsessão e possessão espiritual; apesar disso, não o fazia de forma panfletária, buscando esclarecer, e não converter o público.
A trama gira em torno de dois irmãos de família rica, Diná (Christiane Torloni) e Alexandre (Guilherme Fontes), de um total de quatro, que também inclui Raul (Miguel Falabella) e Estela (Lucinha Lins), todos filhos de Dona Maroca (Yara Côrtes), viúva bondosa, meiga e capaz de tudo por eles. Diná é dona de uma locadora de vídeo, é extrovertida, inteligente e corajosa, muito ligada à família, e casada com o bem sucedido arquiteto Téo (Maurício Mattar), 12 anos mais jovem que ela, de quem sente intensos ciúmes, e com quem tem uma filha pré-adolescente, Patty (Viviane Ribeiro). Estela é mais fechada que a irmã, trabalha num escritório e faz artesanato, e cria sozinha uma filha adolescente, Bia (Fernanda Rodrigues), porque foi abandonada há muitos anos pelo marido, Ismael (Jonas Bloch), que, apesar disso, faz de tudo para conquistar a confiança da filha, de olho no dinheiro da família. Raul é um empresário de princípios éticos e morais extremamente rígidos, casado com Andrezza (Thaís de Campos), sócia de Diná na locadora, cujo maior sonho é ser mãe, e adorado pela sogra, Guiomar (Laura Cardoso), que mora em uma fazenda e o trata como se fosse seu próprio filho.
Mas quem coloca os eventos da trama em movimento é Alexandre, que é mau caráter, vingativo, rebelde e delinquente, e odeia ter que trabalhar. Alexandre é mimado por Diná, que não enxerga seus defeitos e sempre tenta protegê-lo, e vive em conflito com Raul e Téo, que não confiam nele. Um dia, para pagar uma dívida com um marginal, Alexandre decide roubar dinheiro do cofre da empresa onde trabalha; pego em flagrante, ele mata o tesoureiro da empresa, Valdomiro (Nilson Parente), e foge, mas é denunciado à polícia por Raul e Téo, e acaba preso. Após a prisão, ele é abandonado pela namorada, Lisa (Andreá Beltrão), cansada das confusões nas quais ele se mete. Lisa é uma moça trabalhadora e sofrida, única responsável pelo sustento de sua casa, já que o pai, Agenor (John Herbert), acha que todos os empregos disponíveis estão abaixo de sua capacidade e vive desempregado, e o irmão, Zeca (Irving São Paulo), é um músico romântico e sonhador que não consegue ganhar dinheiro.
A única que ainda acredita na recuperação de Alexandre é Diná, que decide que não poupará esforços para livrá-lo da cadeia, e tenta contratar o famoso advogado criminalista Otávio Jordão (Antonio Fagundes), homem que preza a honestidade acima de tudo, viúvo, pai de Tato (Felipe Martins), que considera o pai seu melhor amigo e tem como sonho seguir seus passos, e de Dudu (Daniel Ávila), que tem a mesma idade de Patty e adora colecionar as mais variadas coisas. Otávio, entretanto, era amigo de longa data de Valdomiro, e, mesmo com Diná implorando por misericórdia, não somente se recusa a defender o rapaz, como também decide que fará todo o possível para condená-lo.
Alexandre de fato acaba condenado, e, não resistindo às provações pelas quais passa na cadeia, comete suicídio. Fim. Ou não, já que ele continua entre os vivos, como um espírito obsessor, disposto a se vingar daqueles que considera responsáveis por seu sofrimento. Influenciados pela presença maligna de Alexandre, Guiomar passa a odiar Raul e fazer de tudo para que Andrezza se separe dele, e Tato abandona os estudos e se torna um rebelde quase tão delinquente quanto Alexandre foi em vida; mas o maior alvo de sua vingança é Téo, que primeiro se divorcia de Diná por não aguentar mais seus ciúmes, mas começa um relacionamento logo com Lisa, a quem Alexandre, mesmo morto, ainda considera como sua, e, para separá-los, faz com que Téo tenha surtos de violência, dos quais não se lembra posteriormente, sempre que está junto à moça. Sem imaginar que o irmão está por trás de todas as dificuldades pelas quais está passando, Diná, surpreendentemente, após uma fase de ódio intenso por considerá-lo o responsável pelo suicídio do irmão, se apaixona por Otávio, e os dois formam um belo casal - sem saber que o irmão morto trama uma vingança ainda maior contra o advogado.
Outro personagem extremamente importante é o Dr. Alberto Rezende (Cláudio Cavalcanti), médico, médium, amigo de Maroca e apaixonado por Estela, que percebe que os problemas da família são obra do mal-orientado Alexandre, e decide realizar reuniões mediúnicas para tentar reencaminhar o espírito do jovem para o bem, o que se mostra bem mais difícil do que o esperado, devido ao grande ódio que o rapaz traz consigo. Alberto é o personagem que, para o público, explica a doutrina espírita, e, na trama, serve como ligação entre os personagens vivos e os mortos, pois é um dos dois únicos capazes de perceber a presença dos espíritos e se comunicar com eles.
Além de Alberto, outro personagem que consegue se comunicar com os espíritos é Tibério (Ary Fontoura), homem de meia idade reservado e tímido, que trabalha no escritório com Estela, e é tido como meio maluco por falar sozinho e ouvir vozes, mas que, na verdade, tem um amigo espírito que o aconselha e com quem vive conversando. Tibério mora numa pensão na mesma vila onde mora Lisa, de propriedade de Cininha (Nair Bello), solteirona supersticiosa e sempre de bem com a vida, que é apaixonada por ele, mas ele não percebe. Também valem ser citados o misterioso Igor (Jayme Periard), homem solitário que atua como protetor de Bia após identificar que o pai da moça não presta; e Carmem (Suzy Rêgo), moça lindíssima que trabalha na locadora de Diná, mas, com medo dos famosos ciúmes da patroa, usa roupas, maquiagens e acessórios, como óculos e aparelhos nos dentes, para fingir que é feia. Carmem é a melhor amiga de Lisa, e Igor é apaixonado pela falsa feia, mas não tem coragem de se declarar.
Outros personagens de destaque na novela são Fátima (Lolita Rodrigues), dona do salão de beleza onde Lisa trabalha; Julião (Gésio Amadeu), administrador da fazenda de Guiomar, que não faz nada sem consultar a mulher, Zulmira (Solange Couto); Antônio (Jorge Pontual), peão da fazenda que tem um interesse por Andrezza; Padilha (Renato Rabello), faz-tudo que trabalha na pensão de Cininha; Geraldão (Cláudio Mamberti), homem bonachão e sempre bem humorado que mora na pensão de Cininha e na verdade é um vigarista e vive de aplicar pequenos golpes; Vovó (Selma Salmir), idosa esclerosada que mora de favor na pensão; Naná (Keila Bueno), jovem interesseira que veio do interior que também mora na pensão, e acaba se tornando namorada primeiro de Zeca, depois de Tato; Sofia (Roberta Índio do Brasil), violinista tímida por quem Zeca é apaixonado, que foi morar na pensão fugindo da mãe, Salomé (Myrian Pérsia), por estar grávida de um ex-namorado, fato que esconde de todos; a fofoqueira Ednéa (Mara Manzan) e a falsa e invejosa Regina (Mara Carvalho), que trabalham no escritório com Estela e Tibério; Queiroz (Ricardo Petraglia), secretário de Otávio; Okida (Carlos Takeshi), jardineiro da casa de Otávio; Glória (Denise Del Vecchio), governanta da casa de Otávio, que secretamente é apaixonada pelo patrão, e cria seus filhos como se fossem dela; Caíto (Lúcio Mauro Filho), amigo de Tato da época em que ele era bonzinho; Johnny (Danton Mello), amigo de Tato depois que ele se torna delinquente; os amigos de Bia, Pedro Bala (Caio Junqueira), Guga (Thierry Figueira), Cris (Myrian Freeland) e Carol (Tathiane Manzan); a antiga babá de Patty, Maria (Cibelle Larrama), que continua trabalhando para a família mesmo após a menina ter crescido; Josefa (Tânia Scher), mãe de Téo, que não se conforma com o casamento do filho com uma mulher mais velha e tão ciumenta; e Mauro (Eduardo Galvão), ex-namorado de Carmem e sócio de Téo no escritório de arquitetura, que é apaixonado por Diná e se ressente do fato de que mais clientes procuram Téo do que ele. Participações especiais que merecem ser citadas foram Cláudio Corrêa e Castro como o advogado de defesa, Isaac Bardavid como o promotor, e Carlos Kroeber como o juiz no julgamento de Alexandre; Giovanna Gold como uma ex-namorada de Alexandre; Joana Limaverde como a namorada de Tato no início da novela; Paulo César Pereio como o bandido Coringa, que divide cela com Alexandre; e Toni Tornado como o criminoso Chefão, que manda na cadeia.
Escrita por Ivani Ribeiro, com colaboração de Solange Castro Neves, direção de Wolf Maya, Ignácio Coqueiro e Maurício Farias, com direção-geral de Maya, A Viagem foi exibida entre 11 de abril e 22 de outubro de 1994, com um total de 160 capítulos. A novela foi um remake da obra exibida pela TV Tupi entre 1 de outubro de 1975 e 27 de março de 1976, também de autoria de Ivani, com Eva Wilma como Diná, Ewerton de Castro como Alexandre, Tony Ramos como Téo, Adriano Reys como Raul, Irene Ravache como Estela, Rolando Boldrin como Alberto, e Altair Lima como o advogado César Jordão, que virou Otávio na nova versão, já que a novela anterior, Olho no Olho, já tinha um protagonista chamado César Zapata. Para escrever a versão original, Ivani se basearia não nos livros de Kardec, e sim nos ditados pelo espírito André Luiz ao médium Chico Xavier, especialmente Nosso Lar e E a Vida Continua. Ela chegaria a pensar em adaptar a história de um dos livros para a novela, mas o próprio Chico Xavier a aconselharia a criar uma trama própria. A autora também contaria com a consultoria de Herculano Pires, considerado um dos maiores estudiosos da doutrina kardecista.
A Viagem foi um dos maiores sucessos da faixa das sete, com média de 52 pontos de audiência; o sucesso da novela alavancou a venda de livros espíritas, com um aumento de até 50% nas vendas de acordo com dados coletados por editoras especializadas - alguns centros espíritas também declararam ter tido aumento em seu número de frequentadores devido ao sucesso da novela. Em entrevistas, Cláudio Cavalcanti declararia que receberia muitas cartas dos espectadores que perderam entes queridos ou se encontravam em momentos difíceis da vida, agradecendo as palavras de conforto e os ensinamentos que ele proferia na novela; quase todas essas cartas eram endereçadas não ao ator, e sim a seu personagem, Dr. Alberto.
A principal controvérsia causada pela novela não estava diretamente relacionada ao espiritismo: nas cenas que retratavam as colônias do pós-vida (o "céu") não havia pessoas negras, com todos os espíritos desencarnados sendo brancos; após muitas reclamações, a Globo convidaria dois atores negros, Antônio Pompeo e Léa Garcia, para interpretarem os espíritos Paulinho e Natália. Outros espíritos da novela seriam André (Lafayette Galvão), que recebe os recém-chegados às colônias, Carlota (Mylla Christie), Daniel (Kiko Mascarenhas), Samuel (Arehy Jr.), e Júlia (Rejane Goulart), a esposa de Otávio.
Um dos personagens de maior sucesso da novela foi o mascarado Adonay, interpretado por Breno Moroni. Sempre vestido de pierrô e usando uma máscara, ele se comunicava por mímicas, fazia truques de mágica e ajudava aos personagens do núcleo da vila onde morava Lisa. Adonay se tornaria amigo e confidente de Tibério, e escondia um passado misterioso, revelado já próximo ao final da trama: ele era o noivo de Carmem, mas, após um acidente no qual ficou terrivelmente desfigurado, decidiu fingir a própria morte e desaparecer; sem conseguir esquecer a amada, porém, ele decidiria se fantasiar para poder ficar sempre perto dela. A maior curiosidade sobre esse personagem é que, no início, ele seria apenas uma espécie de figurante, mas faria tanto sucesso com o público que Solange decidiria aumentar seu tempo no ar e criar uma história para ele. Originalmente, inclusive, ele não tinha nem nome, e iria se chamar Sombra, sendo alterado para Mascarado, nome pelo qual todos os personagens se referem a ele antes de descobrirem sua história, a pedido de Fausto Silva, pois, na época, o programa Domingão do Faustão já contava com um personagem chamado Sombra, num quadro no qual o ator Santiago Galassi imitava os movimentos das pessoas nas ruas, e o apresentador achou que o público poderia confundir os dois personagens (mesmo com Galassi não usando fantasia de pierrô). A ideia de o Mascarado se comunicar por mímica também surgiria por acaso, já que, com a máscara, a voz do ator ficava abafada e não era gravada direito, sendo impossível compreender o que ele falava. Depois que o passado de Adonay foi criado, Moroni passou a ficar ainda mais mascarado, pois, quando não estava usando a máscara de pierrô, tinha que usar uma máscara de látex que caracterizava o rosto desfigurado do personagem. Além de ator, Moroni era artista circense e tinha formação de dublê, realizando ele mesmo todos os truques e acrobacias do personagem; antes de A Viagem, seu principal papel na Globo havia sido na abertura da novela Champagne, de 1983. A primeira versão de A Viagem também teve um Mascarado, interpretado por Carlos Augusto Strazzer, mas que nunca teve sua história desenvolvida, e só fazia pequenas apresentações de mágica em alguns episódios.
Um dos motivos pelos quais a novela se tornaria conhecida foi o grande número de cenários utilizados em suas cenas: eram mais de duzentos ambientes, pertencentes a cerca de cinquenta cenários, divididos em quatro locais de gravação. A cidade cenográfica principal, que incluía a vila, foi construída em um terreno no bairro de Jacarepaguá; as gravações internas ocorreram nos estúdios da Herbert Richers, no bairro da Tijuca, sendo que muitos eram montados e desmontados frequentemente, pois o espaço era compartilhado com outras produções; as cenas ambientadas nas colônias do pós-vida (como dito anteriormente, popularmente conhecidas como o céu) seriam gravadas em um campo de golfe em Nogueira, distrito da cidade de Petrópolis, enquanto as cenas no Vale dos Suicidas (popularmente conhecido como o inferno) seriam gravadas em uma pedreira na cidade de Niterói, vizinha ao Rio de Janeiro - o que motivaria uma brincadeira de Miguel Falabella, durante uma entrevista, na qual declarou que, se seu personagem morresse, ele preferia ir para o inferno, pois era mais perto para gravar. Falando em Falabella, causou desconforto na Globo uma entrevista na qual ele reclamou que os escritores da novela não sabiam poupar o elenco, colocando os personagens para gravar em vários cenários diferentes no mesmo dia; os repórteres então perguntaram a Solange o que ela tinha a dizer, e ela respondeu que "tem artista que grava muito mais cenas do que ele e nunca reclamou". Além dos quatro locais de gravação principais, algumas cenas externas seriam gravadas em uma fazenda na cidade de Valença.
A Viagem também ficaria conhecida por ter um tempo de produção recorde, com seu primeiro capítulo indo ao ar apenas vinte dias após o início da produção; isso aconteceu porque, originalmente, após Olho no Olho, seria exibida Quatro por Quatro, do autor Carlos Lombardi, que teve um atraso na produção que levou a Globo a convidar Ivani para escrever o remake e adiar Quatro por Quatro para depois de A Viagem. Esse também foi o motivo pelo qual A Viagem teve apenas 160 capítulos, número considerado baixo para uma novela das sete. Segundo o diretor Wolf Maya, a produção curta deu certo porque a maioria dos cenários foi sendo introduzida no decorrer da novela, com apenas alguns poucos sendo usados desde o primeiro capítulo.
A abertura da novela trazia belas imagens de paisagens naturais que, através de um efeito de computação gráfica, se transformavam em imagens do pós-vida, enquanto os nomes do elenco e da equipe voavam pela tela. Foi considerada uma abertura simples, mas era muito bonita. A música de abertura, também chamada A Viagem, foi composta e gravada pela banda Roupa Nova especialmente para a novela, e se tornaria um de seus maiores sucessos.
Além da música do Roupa Nova, a trilha sonora nacional da novela trazia sucessos como Esqueça, de Fábio Jr., Mais uma de Amor, da Blitz, e Quando Chove, de Patrícia Marx; mas as músicas de maior destaque estavam na trilha internacional, que trazia, dentre outras, I'm Your Puppet, de Elton John e Paul Young, Linger, dos Cranberries, I'll Stand By You, dos Pretenders, Another Sad Love Song, de Toni Braxton, I Miss You, de Haddaway, e, principalmente, Crazy, de Julio Iglesias. O álbum da trilha sonora internacional de A Viagem venderia mais de 600 mil cópias, rendendo à gravadora Som Livre um Disco de Diamante triplo; a pedido do público, o álbum seria relançado em 2006, durante a segunda reprise da novela.
Falando nisso, A Viagem foi reprisada duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo, a primeira entre 28 de abril e 12 de setembro de 1997, com exatos 100 capítulos, a segunda entre 13 de fevereiro e 21 de julho de 2006, com 113 capítulos; também seria reexibida, na íntegra, no Canal Viva, entre 14 de julho de 2014 e 23 de janeiro de 2015.
A Viagem foi a última novela escrita por Ivani Ribeiro, que, devido a complicações por diabetes, estava extremamente debilitada quando a novela foi ao ar, com extrema dificuldade para enxergar; Solange tinha de ler os roteiros para ela, e então as duas discutiam os rumos da trama, que eram escritos por Solange e lidos novamente, para que Ivani fizesse alterações. Ivani faleceria menos de um ano após o final da novela, em 17 de julho de 1995, aos 74 anos, de insuficiência renal; ela deixaria uma sinopse pronta, com o nome de Caminho dos Ventos, que seria desenvolvida por Solange e se tornaria a novela Quem é Você?, exibida em 1996 na faixa das seis.
Um dos personagens de maior sucesso da novela foi o mascarado Adonay, interpretado por Breno Moroni. Sempre vestido de pierrô e usando uma máscara, ele se comunicava por mímicas, fazia truques de mágica e ajudava aos personagens do núcleo da vila onde morava Lisa. Adonay se tornaria amigo e confidente de Tibério, e escondia um passado misterioso, revelado já próximo ao final da trama: ele era o noivo de Carmem, mas, após um acidente no qual ficou terrivelmente desfigurado, decidiu fingir a própria morte e desaparecer; sem conseguir esquecer a amada, porém, ele decidiria se fantasiar para poder ficar sempre perto dela. A maior curiosidade sobre esse personagem é que, no início, ele seria apenas uma espécie de figurante, mas faria tanto sucesso com o público que Solange decidiria aumentar seu tempo no ar e criar uma história para ele. Originalmente, inclusive, ele não tinha nem nome, e iria se chamar Sombra, sendo alterado para Mascarado, nome pelo qual todos os personagens se referem a ele antes de descobrirem sua história, a pedido de Fausto Silva, pois, na época, o programa Domingão do Faustão já contava com um personagem chamado Sombra, num quadro no qual o ator Santiago Galassi imitava os movimentos das pessoas nas ruas, e o apresentador achou que o público poderia confundir os dois personagens (mesmo com Galassi não usando fantasia de pierrô). A ideia de o Mascarado se comunicar por mímica também surgiria por acaso, já que, com a máscara, a voz do ator ficava abafada e não era gravada direito, sendo impossível compreender o que ele falava. Depois que o passado de Adonay foi criado, Moroni passou a ficar ainda mais mascarado, pois, quando não estava usando a máscara de pierrô, tinha que usar uma máscara de látex que caracterizava o rosto desfigurado do personagem. Além de ator, Moroni era artista circense e tinha formação de dublê, realizando ele mesmo todos os truques e acrobacias do personagem; antes de A Viagem, seu principal papel na Globo havia sido na abertura da novela Champagne, de 1983. A primeira versão de A Viagem também teve um Mascarado, interpretado por Carlos Augusto Strazzer, mas que nunca teve sua história desenvolvida, e só fazia pequenas apresentações de mágica em alguns episódios.
Um dos motivos pelos quais a novela se tornaria conhecida foi o grande número de cenários utilizados em suas cenas: eram mais de duzentos ambientes, pertencentes a cerca de cinquenta cenários, divididos em quatro locais de gravação. A cidade cenográfica principal, que incluía a vila, foi construída em um terreno no bairro de Jacarepaguá; as gravações internas ocorreram nos estúdios da Herbert Richers, no bairro da Tijuca, sendo que muitos eram montados e desmontados frequentemente, pois o espaço era compartilhado com outras produções; as cenas ambientadas nas colônias do pós-vida (como dito anteriormente, popularmente conhecidas como o céu) seriam gravadas em um campo de golfe em Nogueira, distrito da cidade de Petrópolis, enquanto as cenas no Vale dos Suicidas (popularmente conhecido como o inferno) seriam gravadas em uma pedreira na cidade de Niterói, vizinha ao Rio de Janeiro - o que motivaria uma brincadeira de Miguel Falabella, durante uma entrevista, na qual declarou que, se seu personagem morresse, ele preferia ir para o inferno, pois era mais perto para gravar. Falando em Falabella, causou desconforto na Globo uma entrevista na qual ele reclamou que os escritores da novela não sabiam poupar o elenco, colocando os personagens para gravar em vários cenários diferentes no mesmo dia; os repórteres então perguntaram a Solange o que ela tinha a dizer, e ela respondeu que "tem artista que grava muito mais cenas do que ele e nunca reclamou". Além dos quatro locais de gravação principais, algumas cenas externas seriam gravadas em uma fazenda na cidade de Valença.
A Viagem também ficaria conhecida por ter um tempo de produção recorde, com seu primeiro capítulo indo ao ar apenas vinte dias após o início da produção; isso aconteceu porque, originalmente, após Olho no Olho, seria exibida Quatro por Quatro, do autor Carlos Lombardi, que teve um atraso na produção que levou a Globo a convidar Ivani para escrever o remake e adiar Quatro por Quatro para depois de A Viagem. Esse também foi o motivo pelo qual A Viagem teve apenas 160 capítulos, número considerado baixo para uma novela das sete. Segundo o diretor Wolf Maya, a produção curta deu certo porque a maioria dos cenários foi sendo introduzida no decorrer da novela, com apenas alguns poucos sendo usados desde o primeiro capítulo.
A abertura da novela trazia belas imagens de paisagens naturais que, através de um efeito de computação gráfica, se transformavam em imagens do pós-vida, enquanto os nomes do elenco e da equipe voavam pela tela. Foi considerada uma abertura simples, mas era muito bonita. A música de abertura, também chamada A Viagem, foi composta e gravada pela banda Roupa Nova especialmente para a novela, e se tornaria um de seus maiores sucessos.
Além da música do Roupa Nova, a trilha sonora nacional da novela trazia sucessos como Esqueça, de Fábio Jr., Mais uma de Amor, da Blitz, e Quando Chove, de Patrícia Marx; mas as músicas de maior destaque estavam na trilha internacional, que trazia, dentre outras, I'm Your Puppet, de Elton John e Paul Young, Linger, dos Cranberries, I'll Stand By You, dos Pretenders, Another Sad Love Song, de Toni Braxton, I Miss You, de Haddaway, e, principalmente, Crazy, de Julio Iglesias. O álbum da trilha sonora internacional de A Viagem venderia mais de 600 mil cópias, rendendo à gravadora Som Livre um Disco de Diamante triplo; a pedido do público, o álbum seria relançado em 2006, durante a segunda reprise da novela.
Falando nisso, A Viagem foi reprisada duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo, a primeira entre 28 de abril e 12 de setembro de 1997, com exatos 100 capítulos, a segunda entre 13 de fevereiro e 21 de julho de 2006, com 113 capítulos; também seria reexibida, na íntegra, no Canal Viva, entre 14 de julho de 2014 e 23 de janeiro de 2015.
A Viagem foi a última novela escrita por Ivani Ribeiro, que, devido a complicações por diabetes, estava extremamente debilitada quando a novela foi ao ar, com extrema dificuldade para enxergar; Solange tinha de ler os roteiros para ela, e então as duas discutiam os rumos da trama, que eram escritos por Solange e lidos novamente, para que Ivani fizesse alterações. Ivani faleceria menos de um ano após o final da novela, em 17 de julho de 1995, aos 74 anos, de insuficiência renal; ela deixaria uma sinopse pronta, com o nome de Caminho dos Ventos, que seria desenvolvida por Solange e se tornaria a novela Quem é Você?, exibida em 1996 na faixa das seis.
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