domingo, 7 de junho de 2020

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Pencak Silat

Quem acompanha o átomo conhece essa história: em 2017, eu fiz um post sobre uma luta esportiva por mês, num esquema meio sem planejamento, resolvendo na hora sobre qual iria falar. Como o ano só tem 12 meses, duas sobre as quais eu gostaria de falar ficaram de fora, ganhando posts somente em 2019. Na ocasião, me deu uma curiosidade, e resolvi pesquisar se ainda existia alguma sobre a qual eu não tinha escrito, e acabei descobrindo uma da qual eu nunca tinha ouvido falar, mas achei muito interessante. Após algum tempo pensando se valia a pena falar sobre ela, cheguei a conclusão de que sim, e, portanto, hoje é dia de pencak silat no átomo!

Assim como o wushu, o pencak silat, ou somente silat, não é uma arte marcial, e sim um termo genérico usado para se referir a dezenas de artes marciais diferentes, no caso, aquelas que surgiram no arquipélago da Indonésia. E, também como ocorre com o wushu, o nome pencak silat (aí sim sempre completo, se pronuncia "pêntchac sílat") é usado para se referir a um esporte que combina elementos de várias dessas artes marciais, regulado pela Associação Internacional de Pencak Silat (PERSILAT, da sigla em indonésio).

Ninguém sabe como o silat surgiu, com as origens dos estilos de luta sendo explicadas através de várias lendas, uma delas ligada à história da própria Indonésia. Segundo essa lenda, a história da Indonésia começa quando o guerreiro Aji Saka chegou vindo da Índia, e, a pedido do povo local, derrotou o tirano Dewata Cengkar e tomou o trono, levando ao fim da civilização dármica e dando início a uma era de paz e prosperidade. Aji Saka era um soldado e espadachim, e criou seus próprios movimentos se baseando nos estilos de luta usados na Índia, dando origem a um novo estilo muito mais eficiente. Após chegar ao trono, ele teria ensinado esse estilo a seus subordinados, dando origem a uma nova arte marcial. Outra lenda diz que uma mulher chamada Rama Sukana observou uma luta entre um tigre e um falcão, e, copiando seus movimentos, conseguiu derrotar um grupo de homens bêbados que tentou atacá-la; ela teria então ensinado os movimentos a seu marido, um soldado, que os ensinou a seus colegas. Outra lenda diz que um homem viu uma lótus boiando no rio e tentou afundá-la com paus e pedras, mas ela sempre retornava para a superfície intacta, e impressionado com isso, criaria uma arte marcial na qual a delicadeza conseguiria suportar até mesmo os golpes mais pesados.

Lendas à parte, os primeiros registros do silat sendo ensinado de forma estruturada, ao invés de apenas praticado por indivíduos que criariam seus próprios movimentos, datam do século VI, da cidade de Minangkabau, na época capital de Sumatra. Minangkabau tinha um governo feudal, com cada feudo tendo seu próprio rei, e cada rei tendo guarda-costas chamados hulubalang. Os hulubalang não tinham salário fixo, e seu pagamento dependia de suas habilidades de combate, sendo o silat ensinado para que eles estivesse sempre no auge de suas habilidades.

Nos séculos seguintes, várias outras formas de silat passariam a ser ensinadas em diversas localidades da Indonésia, mas sempre a soldados. No século XIII, os governantes da Indonésia eram o povo Kediri, até que seu governante, Tunggul Ametung, foi morto por Ken Arok, um camponês que se apaixonou por sua esposa, tomou seu trono e iniciou a dinastia Rajasa. Arok foi sucedido no trono por Kertanegara Singhsari, que o derrotou, e, mais tarde, impediu a invasão dos mongóis comandados por Kublai Khan. Kublai Khan decidiria, então, comandar pessoalmente uma frota de mil juncos para derrotar Kertanagara e conquistar a Indonésia, mas, antes de chegar lá, Kertanagara foi morto pelos Kediri, que retomaram o poder. O genro de Kertanagara, Raden Wilaja, decidiria se aliar aos mongóis para derrotar os Kediri de uma vez por todas, e, para isso, usou um exército habilmente treinado no silat - tanto que, depois que os Kediri foram derrotados, Wijaya traiu Kublai Khan e expulsou também os mongóis, se tornando o único governante da Indonésia. Durante o reinado de Wijaya, ocorreria a Era de Ouro do silat, quando os ensinamentos das artes marciais alcançaram seu ápice - mesmo assim, elas era vistas como uma exclusividade das classes nobres e do exército, sendo vedado aos camponeses aprendê-las.

No início do século XVII, os colonizadores europeus chegariam à Indonésia, que seria controlada pela Holanda sob o nome de Índias Holandesas. Os holandeses conseguiriam controlar as principais cidades, mas não as pequenas aldeias e as estradas, e o silat começaria a ser ensinado ao povo em geral como uma forma de lutar contra os opressores estrangeiros. Novos estilos também surgiriam, e o silat passaria a ser associado ao patriotismo e ao nacionalismo, como uma legítima criação indonésia e resistência à imposição dos valores dos colonizadores. Após a partida dos holandeses, durante a Segunda Guerra Mundial, e a declaração de independência, em 1945, o governo da Indonésia passou a investir na promoção do silat como uma forma de união do país. Em 1948, seria fundada a Associação Indonésia de Pencak Silat (IPSI), que tinha a missão de catalogar e reunir todas as formas de silat existentes, para auxiliar em sua promoção e difusão. Durante anos, a IPSI resistiria à ideia da prática esportiva do pencak silat, considerando-o como uma filosofia de vida e de amor à pátria. A IPSI incluiria a prática do pencak silat no currículo das escolas indonésias, e, logo, clubes e associações de pencak silat começariam a surgir por todo o país, agregando cidadãos que quisessem aprender mais sobre suas técnicas e sua história.

Após a fundação da IPSI, o pencak silat se espalharia para os países vizinhos, levado por estrangeiros que vinham trabalhar na Indonésia e depois retornavam a seus países de origem, principalmente malaios e filipinos. Com isso, um grande número de torneios de pencak silat começariam a surgir, e a IPSI se veria obrigada a relaxar suas restrições quanto à prática esportiva do pencak silat, passando também a regulá-la. A primeira associação de pencak silat fundada fora da Indonésia seria a de Cingapura, em 1978; dois anos depois, em 1980, representantes da IPSI, da Federação de Pencak Silat de Cingapura, do Ministério do Esporte da Malásia e observadores do Brunei se reuniriam em Jacarta, capital da Indonésia, para fundar a PERSILAT, que ficaria responsável pela regulação e promoção do pencak silat esportivo em todo o planeta. Hoje, a PERSILAT já conta com 39 membros dos cinco continentes, mas os únicos membros das Américas são Estados Unidos, Canadá e Suriname - ou seja, o Brasil ainda não é membro da PERSILAT. A maior parte dos membros da PERSILAT são da Ásia, onde o esporte é mais desenvolvido; os países onde o pencak silat é mais praticado, além da Indonésia, são Vietnã, Tailândia, Malásia e Cingapura - fora da Ásia, talvez nada surpreendentemente, o país onde mais se pratica o pencak silat é a Holanda.

A IPSI reconhece nada menos que 150 estilos de silat (oficialmente chamados de escolas), se referindo a eles pelo nome da cidade ou região onde cada estilo foi primeiro documentado - onde se considera, portanto, que ele surgiu. Historiadores concordam, porém, que esses 150 estilos não são os únicos que existem, e que o número "verdadeiro" de estilos que já existiram durante a história da Indonésia pode passar de mil. As onze escolas mais tradicionais, aquelas consideradas como as formadoras do pencak silat, são Minangkabau, Riau, Java, Sunda, Betawi, Bali, Bugis-Makassar, Aceh, Batak, Maluku e Bajau. O pencak silat esportivo não é considerado uma escola, e agrega elementos principalmente dessas onze, com alguns novos sendo incorporados ou suprimidos em nome da lisura e da desportividade - não vale quebrar a traqueia do oponente, por exemplo.

Depois da fundação da PERSILAT, os estilos da Malásia, Brunei, Cingapura e Tailândia também passaram a ser considerados escolas, devido a diferenças em sua prática em relação às escolas da Indonésia - na Malásia, inclusive, a escola malaia é considerada um esporte em separado, chamado silat melayu, que, assim como o pencak silat na Indonésia, está fortemente ligado ao patriotismo e ao nacionalismo malaios. Assim como o de toda federação internacional, um dos objetivos da PERSILAT é incluir o pencak silat nas Olimpíadas, mas o esporte ainda está muito longe de ser reconhecido pelo COI; em dezembro de 2019, porém, o pencak silat e o silat melayu foram considerados Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO, o que pode ajudar em sua promoção e difusão.

O principal torneio do pencak silat no mundo é o Campeonato Mundial, disputado no masculino e no feminino, teoricamente, a cada dois anos desde 1982 - "teoricamente" porque algumas edições acabaram adiadas ou puladas e mais tarde realizadas em anos ímpares, o que fez com que tivessem sido disputadas apenas 18 edições do Mundial até hoje. Exceto pela terceira edição, disputada em 1986 em Viena, Áustria, e pela sexta, disputada em 1990 em Haia, Holanda, todas as outras edições foram disputadas na Indonésia (seis), Malásia (quatro), Tailândia e Cingapura (três cada). O país mais bem sucedido no Mundial, evidentemente, é a Indonésia, com 60 medalhas de ouro e 122 no total, mas o Vietnã não vem tão longe, com 40 ouros e 85 no total. A última edição foi considerada uma grande surpresa, pois, pela primeira vez na história, a Indonésia não terminou o Mundial com o maior número de medalhas de ouro, ficando em terceiro lugar, com Cingapura, que sediou o evento, conquistando sete ouros, o Vietnã seis e a Indonésia cinco.

O pencak silat conta com três disciplinas: bela-diri (autodefesa), seni (artística) e olahraga (combate). O pencak silat esportivo não utiliza o bela-diri, existindo competições apenas de seni e olahraga, mas não usando esses nomes: as competições de luta desportiva, onde dois praticantes do pencak silat (conhecidos como pesilats) trocam golpes buscando marcar pontos, se chama tanding, enquanto a parte artística, parecida com o taolu do wushu ou o kata do caratê, onde os pesilats executam movimentos próprios do pencak silat mediante um júri, pode se chamar tunggal (individual), ganda (duplas) ou regu (equipes), dependendo do número de pessoas se apresentando simultaneamente. Tanging, tunggal, ganda e regu são as quatro modalidades do pencak silat esportivo reconhecidas pela PERSILAT.

O uniforme do pencak silat se chama pakalan, palavra que significa, simplesmente, "roupa", e é composto por uma camisa de mangas compridas e calças compridas. A camisa é de enfiar pela cabeça e possui três botões próximos à gola, para ficar bem justa no pescoço quando fechados; a calça possui um elástico na cintura e um cordão interno que deve ser amarrado. Para competições de tanding e regu, o uniforme deve obrigatoriamente ser de cor preta, mas nas de tunggal e ganda pode ser de qualquer cor, inclusive com a calça podendo ser de cor diferente da camisa. Em competições de tanding também é usado um colete de proteção, feito de couro e acolchoado, também na cor preta, e uma faixa de tecido amarrada na altura do umbigo do pesilat, para auxiliar em sua identificação pelo público e pelos árbitros: um dos pesilats sempre usa faixa de cor vermelha, enquanto o outro sempre usa faixa de cor azul.

Para as competições de tunggal e ganda, são usados também um kain samping, um saiote decorado vestido por cima da calça, e um ikat kepala, um adereço de cabeça feito de tecido e amarrado atrás, que pode ser de três modelos diferentes: um pontudo que se parece com um chapéu de bispo virado pra trás, um quadrado que se parece com um casquete militar, e um redondo que se parece com uma bandana de pirata. Tanto o kain samping quanto o ikat kepala podem ser de qualquer cor, podendo ser, inclusive, estampados. Finalmente, o uniforme do regu possui um cinto de tecido, sempre de cor branca, com 10 cm de largura e vários metros de comprimento, que é enrolado na cintura do pesilat e amarrado na lateral; esse cinto, curiosamente, também faz parte do uniforme oficial das outras três modalidades, mas jamais é usado em competições, sendo removido antes que sejam vestidos o colete de proteção ou o kain samping. Os árbitros usam o mesmo uniforme do regu, mas com camisa e calça brancas e cinto amarelo. 

A área de competição do pencak silat é um quadrado de 10 metros de lado, feito de material acolchoado, antiderrapante, mas que não permita que os competidores quiquem quando caiam no chão. Normalmente esse quadrado é de cor verde; seus cantos superior esquerdo e inferior direito possuem, respectivamente, um quadrado azul e um vermelho, reservados aos pesilats na modalidade tanding, enquanto os outros dois cantos possuem triângulos amarelos. Centralizados na área de competição temos dois círculos traçados com linhas de cor branca, de 5 cm de largura: o menor tem 3 m de diâmetro, e, no início de uma luta de tanding, os pesilats devem se posicionar um de frente para o outro, com seus dois pés tocando a linha desse círculo; o maior tem 8 m de diâmetro, e delimita a área válida de luta, com golpes aplicados fora desse círculo não valendo pontos. Competições de tunggal, ganda e regu podem usar toda a área de competição, não precisando respeitar os círculos.

Uma luta de tanding dura três rounds de dois minutos cada, com um minuto de descanso entre um round e outro. O objetivo de cada pesilat é marcar pontos utilizando os golpes válidos do pencak silat, mas com um detalhe interessante: para que o ponto seja validado, o pesilat tem de começar seu movimento adotando uma postura de ataque (sikap pasang), então realizar um padrão de movimento (pola langkah), aplicar o golpe e retornar à postura de ataque - em outras palavras, mesmo que o golpe seja válido e bem sucedido, se não for feita a postura de ataque ou o padrão de movimento, ele não vale pontos. Um pesilat pode tentar uma sequência de até quatro golpes seguidos após um mesmo padrão de movimento, mas nunca mais do que quatro, com a luta sendo interrompida pelo árbitro caso ele execute um quinto. Da mesma forma, os pesilats podem tentar se esquivar ou bloquear os golpes do oponente, inclusive ganhando pontos por esquivas ou bloqueios bem sucedidos, mas não pode realizar mais de quatro esquivas ou bloqueios antes de tentar realizar um ataque, sendo punido se o fizer.

Para que um golpe seja válido, além de cumprir as regras acima, ele deve acertar uma área que se chama togok, entre o pescoço e o umbigo do pesilat (por isso a faixa é amarrada na altura do umbigo, e por isso o colete de proteção), incluindo as laterais (costelas) e as costas. Golpes desferidos contra os braços e pernas não valem pontos, e golpes desferidos contra a cabeça, pescoço, ou contra a região entre o umbigo e as virilhas podem resultar em punição caso o árbitro interprete que foram intencionais ou que, mesmo acidentais, tiveram força suficiente para ferir o oponente.

Falando em punições, elas podem ser aplicadas por violações leves ou graves. As violações graves incluem acertar o oponente nas áreas proibidas listadas acima, atingir deliberadamente as articulações do oponente, empurrar o oponente propositalmente para fora da área de luta, atacar o oponente quando a luta estiver parada, desrespeita o oponente ou os árbitros (xingando ou debochando, por exemplo), usar cabeçadas, e agarrar, morder, arranhar ou puxar o cabelo do oponente. Já as violações leves são não assumir a postura de ataque e realizar o padrão de movimento antes de desferir um golpe mais de duas vezes no mesmo round, sair deliberadamente ou não da área de luta mais de duas vezes no mesmo round, agarrar o oponente para evitar que ele acerte um golpe (clinch), atingir o oponente enquanto está deitado no chão, realizar mais de quatro defesas antes de tentar um ataque, falta de combatividade (ficar só enrolando ao invés de tentar atacar), e se comunicar com pessoas externas à luta, com gestos ou palavras, incluindo seu treinador. As violações leves são punidas com reprimendas, e as graves com advertências. Duas reprimendas no mesmo round se transformam em uma advertência, e três advertências na mesma luta resultam em desclassificação. Um pesilat também pode ser desclassificado automaticamente, sem que precise ter nenhuma advertência, por conduta antidesportiva - deliberadamente tentar ferir o oponente, por exemplo.

A pontuação é contada da seguinte forma: um ataque feito com as mãos que seja bem sucedido (ou seja, que não seja bloqueado, evitado ou desviado) vale 1 ponto, um ataque com os pés que seja bem sucedido vale 2 pontos, e fazer com que o oponente caia no chão como resultado de um golpe de queda vale 3 pontos. Caso um pesilat consiga bloquear, desviar ou evitar um golpe do oponente e em seguida emende um golpe bem sucedido seu (o que se chama contra-ataque), ele ganha um ponto extra - ou seja, bloquear, desviar ou evitar um ataque com as mãos e em seguida acertar um ataque com as mãos bem sucedido no oponente vale 2 pontos, fazer isso com um ataque com os pés vale 3 pontos, e fazer isso com uma queda vale 4 pontos. Ao fim da luta, quem tiver mais pontos vence; caso haja empate, o vencedor é quem teve menos punições, e, persistindo, quem ganhou mais pontos por contra-ataques. Se, mesmo assim o empate persistir, é disputado um quarto round no qual quem pontuar primeiro ganha, e, se mesmo assim continuar empatado, ganha o lutador mais leve - e, se os dois tiverem o mesmo peso, é feito um sorteio, porque aí também não há mais nada a ser feito.

É importante registrar que as pontuações por quedas são obtidas através de golpes próprios, com os quais o pesilat agarra o oponente e o projeta em direção ao solo, fazendo com que qualquer parte de seu corpo acima dos joelhos toque o chão - derrubar um oponente como consequência de um soco ou chute, por exemplo, não conta como queda. Uma vez que o pesilat tenha iniciado o golpe de queda, ele terá cinco segundos para derrubar o oponente, com o árbitro interrompendo a luta e podendo penalizá-lo por agarrar o oponente caso esse tempo se esgote. Para que a pontuação seja conferida, também é necessário que o pesilat que iniciou o golpe permaneça de pé e com a postura adequada. Para que uma queda valha como contra-ataque, o pesilat agarrado tem que agarrar o oponente e derrubá-lo antes que ele mesmo caia. É permitido ao pesilat que está sendo agarrado segurar a manga da camisa do que está agarrando, do punho até o ombro, para evitar cair ou para derrubá-lo junto, contando esse movimento como uma defesa.

O nocaute no pencak silat se chama vitória absoluta, e ocorre quando, após uma queda, um pesilat não consegue se levantar sozinho durante dez segundos, sendo a vitória automaticamente conferida ao que ainda está de pé. O árbitro também pode declarar vitória absoluta caso, imediatamente após sofrer um golpe, um dos pesilats fique tonto ou visivelmente prejudicado (por exemplo, incapaz de ficar de pé corretamente ou de realizar um padrão de movimento válido). Também pode ocorrer a vitória por superioridade técnica, que pode ser pedida por um dos próprios pesilats, que reconhece a superioridade do oponente e comunica ao árbitro sua decisão de desistir após ser marcada uma pontuação; pelo médico, que determina que um dos pesilats não tem condições de continuar; pelo técnico de um dos pesilats, que avalia que seu pesilat não tem chances de ganhar a luta, ou poderá se ferir se continuar lutando; ou pelo árbitro, que faz essa mesma avaliação em relação a um dos pesilats.

Assim como ocorre com outras lutas desportivas, no tanding do pencak silat existem categorias de peso, para assegurar maior justiça nas competições. Atualmente, a PERSILAT estabelece 11 categorias de peso no masculino e 7 no feminino. Para ambos os gêneros, existem as categorias até 50 kg, até 55 kg, até 60 kg, até 65 kg, até 70 kg e até 75 kg; no masculino, existem também as categorias até 80 kg, até 85 kg, até 90 kg, até 95 kg e acima de 95 kg; no feminino, existe também a categoria acima de 75 kg. As competições de tunggal, ganda e regu são divididas em masculinas (putra) e femininas (putri), não existindo duplas ou equipes mistas, mas não têm categorias de peso.

Numa competição de tunggal, os pesilats se apresentam um a um, e cada um tem três minutos para apresentar uma rotina, que combina diversos movimentos obrigatórios, selecionados antes de a competição começar. A apresentação não possui música, mas o pesilat pode emitir sons, como gritos, desde que não o faça excessivamente - o que pode resultar em perda de pontos. Cada apresentação é avaliada por um painel de cinco jurados, e cada jurado confere duas notas, uma por precisão e uma por firmeza. No quesito precisão, cada pesilat começa com 100 pontos, e vai tendo pontos subtraídos conforme falha na precisão dos movimentos e na fluidez com que passa de um movimento para outro; no quesito firmeza, cada pesilat começa com zero ponto, e ganha pontos de acordo com a firmeza de seus movimentos, o ritmo de sua apresentação, a emoção que transmite com seus movimentos e o vigor com que os realiza, até um máximo de 60 pontos - o intuito do quesito firmeza é conferir mais pontos a uma apresentação vibrante e interessante para o público do que para uma na qual o pesilat só entrou na área de competição e fez tudo certinho. Os pesilats também podem receber penalidades por realizar uma apresentação curta demais ou comprida demais (com tolerância de cinco segundos a menos ou a mais do que os três minutos), por sair da área de competição, ou por deixar a arma ou o ikat kepala cair; um pesilat também pode ser desclassificado caso realize movimentos inválidos, deixe de realizar algum movimento obrigatório ou use a arma errada.

Ao final da apresentação, as dez notas são somadas, e então as penalidades, se houver, são subtraídas, para se determinar a nota final de cada pesilat; ao final de todas as apresentações, o pesilat com a maior nota final é declarado vencedor. Pelas regras da PERSILAT, caso haja mais de sete pesilats competindo, é necessário dividi-los em grupos, com os melhores de cada grupo avançando para a fase seguinte, até que haja apenas um número de finalistas entre 3 e 7, que disputarão o título. Se houver empate para determinar o vencedor, o desempate será pelo número de penalizações (quem tem menos ganha), então pela nota de firmeza (quem teve a maior ganha), então o que chegou mais perto dos três minutos de apresentação, e, se não houver outro jeito, sorteio.

Cada apresentação possui duas partes, uma desarmada e uma armada. As armas ficam sobre uma mesa próxima à área de competição, e, assim que termina todos os movimentos da parte desarmada, o pesilat deve pegar a arma com fluidez e começar os movimentos da parte armada - quanto tempo exatamente ele gastará com cada parte, depende dele. Pelas regras da PERSILAT, cada pesilat pode escolher dentre três armas: o golok é uma espécie de faca grande, cuja lâmina é e mais pesada no centro, o parang é uma espada com cabo curvo e lâmina fina e comprida, e o tongkat ou galah é um bastão feito de ratã, que é a fibra de uma palmeira do sudeste asiático também muito usada para fazer cadeiras. O golok e o parang devem ter entre 30 e 40 cm de comprimento, sem incluir o cabo, e lâmina cega para não ferir acidentalmente o pesilat; seus movimentos obrigatórios são os mesmos. Já o tongkat deve ter entre 1,5 e 1,8 m de comprimento, entre 2,5 e 3 cm de diâmetro, e tem movimentos obrigatórios próprios.

Uma competição de ganda é idêntica a uma competição de tunggal, com a diferença de que os pesilats se apresentam dois a dois, e devem executar uma luta coreografada. Os movimentos são livres, mas devem representar golpes válidos do pencak silat - incluindo as posturas de ataque e padrões de movimento. Cada jurado confere três notas, por firmeza (mesma regra do tunggal), sincronia e harmonia. A nota de sincronia inclui a riqueza e variedade dos movimentos utilizados, a perícia de cada pesilat no uso da arma, e a lógica na combinação dos movimentos (se cada defesa foi adequada para cada ataque, por exemplo), e pode chegar a 100 pontos; já a nota de harmonia avalia a harmonia entre os pesilats e a harmonia entre os movimentos, e pode chegar a 60 pontos.

A apresentação do ganda usa armas, mas apenas um dos pesilats pode estar armado de cada vez. Existem golpes próprios para desarmar o oponente, e, se a arma cair em decorrência de um deles, não é considerado violação. Ambos os pesilats podem compartilhar a mesma arma, com um tomando do outro, ou cada um ter a sua, mas os movimentos para pegar e devolver a arma para a mesa devem ser fluidos, e ambas as armas devem ser do mesmo tipo. Além do golok, do parang e do tongkat, no ganda podem ser usados a keris ou kris, uma adaga de dois gumes de lâmina irregular, e a trisula ou chabang, arma que é popularmente conhecida no ocidente como sai, a preferida da Elektra da Marvel e do Rafael das Tartarugas Ninja. Ambos devem ser cegos e ter comprimento entre 30 e 40 cm, sem incluir o cabo; os movimentos da keris são os mesmos do golok, mas os da trisula são próprios - o pesilat usa, inclusive, duas trisula, uma em cada mão.

Essas cinco são as únicas armas reguladas pela PERSILAT, mas não as únicas armas tradicionais do pencak silat; competições regionais e nacionais, principalmente as da IPSI, podem permitir o uso das seguintes armas: toya, um bastão de madeira ou metal do mesmo tamanho e com os mesmos movimentos do tongkat; tombak ou lembing, uma lança de bambu com pelos de cavalo amarrados próximos à lâmina; pisau, uma faca de lâmina curta, de no máximo 15 cm de comprimento; sabit ou celurit, uma pequena foice, de cabo curto de madeira e lâmina curva; pedang, uma espada enorme, de quase 90 cm de comprimento, de lâmina reta e único gume; klewang, uma espada com pelos amarrados no cabo e uma lâmina de 40 cm que é muito mais larga na ponta do que próximo ao cabo; selendang, um véu de seda que pode ser usado como chicote ou para imobilizar os braços e pernas do oponente; e o kerambit, uma faca curta que parece uma garra, cujo cabo tem uma abertura em círculo para que o pesilat encaixe o dedo indicador. O kerambit é considerado a mais tradicional das armas da Indonésia, e é a arma mais usada em apresentações de ganda da IPSI; no passado, competições da PERSILAT também permitiam seu uso, mas ele é considerado perigoso, mesmo cego, e acabou proibido, sob protestos da IPSI, que quer seu retorno.

Finalmente, temos a competição de regu, que não é uma "luta em grupo", e sim um "tunggal sincronizado". As regras são as mesmas do tunggal, mas os movimentos são realizados por equipes de três pesilats cada, de forma sincronizada, como se um estivesse espelhando os movimentos dos outros. Os jurados dão notas por precisão (como no tunggal) e por solidez, que avalia a harmonia e sincronicidade entre os membros da equipe, o vigor e a firmeza dos movimentos, o ritmo da apresentação e a fluidez na transição de um movimento para outro, e pode valer até 60 pontos. Uma equipe pode ser punida, ou até mesmo desclassificada, por falta grave de sincronia entre os membros da equipe, se um dos membros fizer um movimento diferente dos outros dois, ou se um deixar de fazer um movimento que os outros dois fizeram. Todos os movimentos no regu são obrigatórios, selecionados antes da competição, e todos são feitos desarmados.

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